Coleção

PERSPECTIVAS DO HOMEM Celso Furtado

Vollln'le 92
Série Economia
Dlrecão de MOACYR FéLIX

Análise do ''Modelo" Brasileiro

3 • Edição

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'civilização
brasileira
·dro estrutural. A partir do momento em que o captamos,
o comportamento das variáveis endógenas deve encontrar
explicação no sistema e nas leis que presidem as relações
deste com suas fronteiras Internas e externas . lf: a partir
deste ponto que a anãllse económica adquire maior pre-
cisão, dando-nos os instrumentos com que identificar ten-
dências e descortinar o horizonte de opções com que ·se
confrontam os agentes responsáveis pelas decisões mais.
significatlvEiS. A história é" feita pelos homens, mas estes i
I
não escolhem nem o lugar nem o dia em que nasceJ:.ll, e ·
só raramente aquele onde atuam. ·
Agradeço aos meus alunos da Universidade Panthéori~
Sorbonne o estimulo, que lhes devo, de um franco e per-
manente confronto de Idéias sobre os temas de que trata
o presente volume. Análise do "Modelo" Brasileiro
Paris, março de 1972
C.F.

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I
I

4
 0 QUADRO EsTRUTtmAL MAIS Ál\iPLO

O Brasil constitui, presenteme~te, um caso de eleição

para o estudo do subdesenvolvimento . O setor moderno de
suas manufaturas, muito provavelmepte, é o mais diver-
sificado e mais amplo parque Industrial do chamado Ter-
qeiro Mun:dq, ao mesmo tempo que sua agricultura, fonte·
de emprego de metade da população, apresenta ba!xissi-
mos lndlces de produtividaçle. O Estado tem ampla parti-
. c!pação nas decisões económicas e constitui, de longe, a
fonte principal do· processo de acumulação; mas,· como a
tecnologia que se utiliza é .importada em sua quase tota-
. !idade, a capit;üização nos .setores mais dinâmicos da eco-
nomia: faz-se principalmente em beneficio dos .grupos es-
trangeiros que detêm o controle dessa tecnologia. O prin-
cipal problema com que se defronta o pais é o de gerar

\.

f~ntes de emprego para sua numerosa e crescente popula-
çao, grande parte da qual vegeta em setores urbanos mar-
ginalizadOs ou na agricultura de subsistência. Entretanto,
como a tecnologia - variável que define a constelação
de bens ·a produzir e condiciona a seleção de processos
produtivos - escapa ao centro interno controlador das
decisões económicas, a intensificação da capitalização não
s!gnifica necessariamente criação de empregos. Significa
sun, quase necessariamente, maior concentração da .renda
ou seja; um aumento mais que proporcional da produçã~
de bens supérfluos1 . . uma pequena subárea. Conw~m esta subácea, c:ujo con·
A experiência brasileira põe em evidência a necessi-
dade de estudos aprofundados do processo de industrial!- ·
zação nas ~ondi~ões do subdesenvolvimento. A tese, que
prevaleceu uned1atametne após ·a guerra, de que a Indus-
trialização constitui razão suficiente para a absorção do
subdesenvolvimento, está certamente desaeredltada. Con-
tudo, a discussão em torno desse problema tem assumido
natureza principalmente Ideológica. A preocupação tem
sido mais condenar ou justificar o que af está do que com~
preender por que e como se chegou até aí. Ora, esse es-
f?rç? de C_?mpreensão é indispensável, se se pretende dis-
cernir opçoes, tanto as havidas e perdidas no passado como
as. que continuam válidas no presente. • nificou elevação de. produtividade, Isto é, maior !lflcác!a
Nunca é demais lembrar que a história do subdesen-
. .volvimento está intimamente ligada à da revolução indus-
' A anâllse e.conômica convencional Ignora o ca~celto de
1
. que esta última foi uma conseqüência, mas tev!! conside·
bens .suip6rfluoa, Qlle pressupõe a · definição de um bem-estar so-
cial distinto da ,soma das satlsfaçOes Individuais. Nilo sendo
posslvel adicionat ·. satlsfaçOes pesroais, porquanto nlio é possl-
vel quantlficâ-la.s, !OS economistas utilizam o mi!todo falacioso
de confundir o nlvel da renda nacional, Isto é, o montante ·do
custo dos fatores, expresso na contabilidade das unidades pro-
dutivas, com o nivel do bem-estar social. Desta forma, uma
dada quantidade de recursos tem o mesmo valor social qual·
quer que se.la o seu destino: financiar o desperdlclo dos Ôclosos·
ou satisfazer as necessidades bâsicas de alimentação e sa(ide
da ·população. Este critério é tlio arbitrârio como qualquer ou-
tro, pois não existe possibilidade de defhllr com rigor lógico
a p.;~rtlr de dados microeconômicos, uma função de bem-estar
social.. Nest~, como em muitos outros campos da anâllse eco·
nômica, o l,'lgor da apresentação formal serve para ocultar 0
fundo do problema, que é de opção entre valores substantivos.
8
..
··•·.
trial. Percebe-se facilmente essà ligação se se tiver· eni
conta que o que chamamos de revolução indust;ial ·assu, ..
'i,.
mlu desde ·o inicio duas. formas: a) transformaçao de téc·
nicas produtivas, Inicialmente nas manufaturas e nos_. ~·
meios de transporte, e b) modificação nos padrões de con- .
sumo. As duas formas eram correlatas, constituindo um
só processo; mas, enquanto os padrõe~. de _consumo;s~ •'·
transformavam em uma área com ramif1caçoes em rapl·
da expansão em todos os continentes, as técnicas produti-
vas somente se transformavam de forma significativa em
torno se define no correr do século XIX, os aturus pafses ·
· desenvolvidos. O subdeSenvolvimento apresenta-se, assim,
•
desde
-
o inicioJ como uma transformação
- • -·. . -.
nos • padrões de
consumo (mesmo que tal transformação afete apenas uma
minoria da população da área em questão) sem que con-
comitantemente se modifiquem as técnicas de produção.
Evidentemente não se trata de quaisquer modificações
nos padrões de' consumo, e sim, de modificações q\le pres-
, supõem uma elevação de produtividade. ·
· Uma outra forma de de\;crever o pr~ce~so a que ~os
estamos referindo é a seguinte: a revoluçao mdustri~ Sl~·
na utilização dos recursos numa ampla área, que te~d~r1a.
a abranger todo o planeta. Esse aumento de ·produtiv1da-...
de teve duas origens básicas: a aceleração _do ~rog;e~o:·
tecnológico e a ampliação do mercado. ·Nao ha·dUVJda
.•'·
rável efeito multiplicador. O que nos interess~~; assinalar
é que em amplas áreas· o aumento de produtividade teve
como. origem quase única a ampliação ~o m~~cado. Des-
tarte a renda que permitiu elevar e diversificar os pa-
drõe~ de consumo decorria essencialmepte de vantagens
comparativas em tra!!Sações internacionais e apenas secun-
dariamente de transformação nas formas de produzir'.
• Como o progresso tecnológico penetrou, .desde o Inicio,
nos meios de transporte, seria lnexato afirmar que .o aumento
de produtividade dos paises da perüeria do capitalismo decorreu I
apenas de vantagens comparativas. ,Ocorre, entretanto, que o
capital Investido nos novos meiós de transporte (ao qual se
9
, Como a elevação de produtividade económica se ma-
nifestava em um e outro casos e os padrões de consumo
pel? .menos no que respeita a uma parcela da População:
se Iam homogeneizando, não parecia sem fundamento a
tese da doutrina liberai segundo a quai os frutos da revo-
lução industriai se repartiam entre todos. Contudo sob a
superfície pr~v~ecia 9 fato fundamentai de que ~ pro-
gresso tecnologico estava sendo assiir.Uado de forma ex-
tremamente desiguai. Quando se tem em conta que é o
progresso tecnológicO que comanda a acumulação de ca-
pital. e que é o aumento da dotação de capital por pessoa
ocupada que permite a transformação das formas de pro-·
duçao, logo se compreende que o verdadeiro desenvolvi-
mento ocorria apenas nas áreas em processo de industria-
lização. A elevação de produtividade e a modificaÇão nas
formas de consumo, sem assimilação concomitante de pro-
gresso tecnológico, nos processos produtivos constituia
em .reaiigade o _ponto _ge_Partida da form~ão dàs estrutu-
ras subdesenvolvidas. Se se admite, nuriia 6tica mais arh- ·
pia, que o progresso tecnológico assume duas formas bá-
sicas.- transformação dos processos produtivos (o que
per~mte .e~eva; a dotação de capital por pessoa .ocupada)
e diversificaçao dos bens e serviços finais - cabe afir-
- tinua a avançar rapidamente. Para acompanhar esse
m~r _q~~ o subdesenvolvimento decorre da assimilação
PriOritária da segunda dessas formas. Não se trata de
uma preferência arbitrária, e sim de .uma conseqüência.
da forma de inserção no sistema de divisão internacional
~o trabalho que surgiu com a revolução industriai. A
característica essencial das estruturas subdesenvolvidas
estaria, assim,_ nessa desigual assimilaç1!9 das duas fol::.
incorpora a nova tecnologia) continuou por multo tempo in-
tegrando as economias em que eram produzidos os novos equi-
pamentos. Tudo se passava como se o novo sistema de trans-
portes que se Instalava em escala mundial, Inclusive as es-
tradas de ferro, fosse parte Integrante das economias Impor-
tadoras de matérias-primas e nao <los pa!ses que produziam
!!Stas para ~portaçlio. O mesmo se pode cUzer com respeito à
mdústrla mmelra, localizada em função das jazidas, mas Inte-
grada ':las econo\')ias que controlavam o capital e a técnica e
consum1am os mmerais.
10
mas básicas de progresso tecnológico•. Uma vez estabe-
lecida a discrepância, uma série de fatores tornou extre-
mamente difícil sua.. eliminação subseqüente. .
A hiStória do subdesenvolvimento consiste, fundamen- .
taimente no desdobramento desse modelo de economia em. ·
que o p;ogresso tecnológico serviu muito mais para mo-
dernizar os hábitos de consumo do que para transt;ormar·
os processos produtivos. A part~r. do J:nome':lt? ~m. que en-
trou em declinio o sistema tradiciOnal de divisao· !llterna:
cionai do "trabalho - ou seja, quàndo a demanda mterna-
cional de produtos primários passou a crescer com rela-
tiva lentidão - ou, no caso de certas regiões, os re~ursos.
naturais de fácil utilização foram plenamente utili~dos
- os países subdesenvolvidos tiveram de tomar o cammho
da industrialização. Ora, esse caminho, como meio _de su-
perar o subdesenvolvimento, vem-se revelando partic~­
mente difícil. A verdade é que o processo de moderntza-
ção, isto é, a assim~~ção do progresso tecnológico nos pa-
dr.ões de consumo· Ja alcançou elevado nível - pelo me-
nos no que respeibt a uma minoria da população - e con-
avanço a industrialização deve ap<?i:u--se e!D intensa ca-
pitalização o que não se compatibiliza facilmente com o
nível médi~ de renda de um país/sub~esenvolyido. Aso-
lução que se tem encontrado, consiste, na prática, em rea-
lizar a industrialização em benefici? de. uma l';linoria d:'l
população, o que, salvo casos excepciOnais,_ restrmge as d~­
mensões do mercado, com reflexos negativos na produti-
vidade industrial.
Na fase de industrialização, a característica funda-
mentai das estruturas subdesenvolvidas está em que o ní-
vel tecnológico correspondente aos padrões de consumo,
isto é ao nível de modernização, restringe a difusão do
prog~sso tecnológico, isto é, sua generalização ao con-
junto das atividades produtivas. Desta forma, jâ não se
trata- como ocorreu na fase dos aumentos de.pPOdUti·
vidade decorrentes de vantagens comparativas - de atra-
· • Nos pa!ses exportadores de produtos minerais o setor ex·
portador deve ser considerado como não Integrado pelo lado da
produção, na fase que estamos considerando. Veja-se nota 2.
11
 s~ técn<?lógico nas formas produtivas, relativamente ao m-
. vei ·de 'fhódernizaç/fo. Na nova 'fase o progresso tecnoló-
gico penetra simultaneamente nas duas faixas .. Mas quan-
to mais rápida a penetração, no qUe respeita à diversifica-
ção do consumo e introdução de novos produtos, mais len-
ta ·é a· difusão no que concerne às formas produtivas. Na
· linguagem dos sociólogos latino-americanos, mais. excZu-
liente é o desenvolvimento. Para aclarar o problema, su-
ponhamos que, por um ato arbitrário, se decida, num pais
subdesenvolvido, interditar a inovação técnica: tratar-se-ia
de aumentar a produção de bens e serviços já conhecidos,
por métodos também já conhecidos. Se se simplifica o
problema, cabe admitir que a dotação de capiÍ/11 por pes-
soa ocupada no setor onde já penetrou a técnica moderna
permanecerá estãvel'. Sendo ass.im, basta que. o estoque
de capital ccl!sça mais intensamente que a população ·para
que a tecnologia mais avançada se propague ao conjunto.
do sistema éconômir.o . Ao cabo de certo tempo. o coniun-
to do sistema teria alcançado a nomogeneldade técnica
aue caracteriza a_s economias desenvolvidas•. Supo-
nhamos agora que haja progresso tecnoJogico 1 mas que
este se limite aos métodos produtivos (aumento de eficiên-
~ia na utilização dos recursos); é de admitir que o pro-
cesso de acumulação tenda a acelerar-se. A rapidez com
que se absorverá o-subdesenvolvimento (isto é, com que
se avançará na homogeneização técnica) .-será iriten-
• Para facilitar a exposição deixamos de considerar os pro-
blemas que poderiam surgir do lado da composição da demanda.
Cabe assinalar que, sendo a demanda de manufaturas de elas-
tiç!<:)ade -·renda superfór a 1, e sendo a qiitação de cap1fal por
trabalhador no setor manufatureiro superior à meaia esta ul·
t!ma não poderia deixar de aumentar. ' do ca !tal Isto é que a dotação de capital. por trabalhador pos-
' O conceito de ·homogeneidade técnica é d!flc!l de pre-
cisar, mas sua significação niai é facumeute perceptiveJ, par-
ticularmente quando se comparam distintos setores de at!vidade
como as manufaturas, a agricultura, a indíistria de construção,
os transportes, etc. As economias desenvolvidas caracterizam-
·se po:r. Um gràu relativamente avançado d!Í homogeneidade
técnica_, __ mas também porque. ocupam nosição d~ vanguard!LlJQ ·
progresso tecnoJOg!co com respelfii ·11: ativtaades que desempe-
nham papel dinâmico, tais como a produção de bens de capital
e a produção ~ara a exportação.
12
slficada ou não, dependendo da orientação do progresso
tecnológico• . . .
Consideremos agora o caso de uma economia dese~­
volvida. A hipótese de progresso técnico sem introdpç~o
de novos produtos provocaria, neste caso, uma tende!lCJ.!I
à uniformização crescente das formas de consumo. Com .
efeito, se aumentam proporcionalmente todas as remune·
rações de fatores, a poupança dos grupos de altas rendas .
teria de aumentar (não havendo possibilidade de diver-
sificar o consumo de bens) o que r~quereri!!. ~a ~c~}er~-
. ~o, da a~ulaç~o' . ;Ex;çl_uida ~- )?,!P.ótese. d.eJnS!lfJC~en.cm .
·ae demanda efetiva, a taxa media de sãlár10 tenderia a
· aumentar, reduzindo as disparidades das formas de con·
sumo. A permanente introdução. d~ no~os produtos ~ n~­
vas formas de consumo é con~1çao -mne qua '1'1.0?" para
a preservação das formas sociais que caracter1~am o
sistema capitalista. A unifOJ;mi~ade, me~o aproximada,
das formas de consumo retiraria toda eficácia ao ~om­
plexo sistema qe incentivos que põe. em ·marcha os div~r­
sos agentes responsáveis pelo dinamismo dessa economia.
Se nos países desenvolvidos, o fluxo de novos pro·
dutos ~ o complexo de inovações tecnológicas que ?S
acompanham são essenciais ao funcionamento da economia
capitalista 'no âmbito mundial tais fatores operam no_se1:1·
tido de pr~servar as relações de dominação .~ depend~ncllil
que caracterizam a atual e_conomia internacional. Tmha·
se como assentado que 'a rigidez estrutural imposta às eco-
nomias.eXPortadoras de matérias-primas pelo sist.e~a in·
ternacional de divisão do trabalho era a causa bas1ca da
- e A menos que se admita a ficção teórica de maleabilidade ·
sa se~ arb!trar!ámente ~stabelE!cida, a orientação_ do progresso
técnico determinará ·o grau' de absorção de mao-de-o~r!' por,
unidade de investimento. Pode ocorrer que _uma. intensificação
umula ão ao. acarretar renovação maiS rápida de certos
~~u~"ament;s, ~e traduza em absorçã? mais lenta de mão-de-obra
no setor em que já penetrou a técmca moderna. .
' Também é coriceb!Vel que os grupos de alt~s ren!las au·
mentem fortemente a demanda de serviços (tunsmo mterno,
serviços pessoais, etc. ) , que não podem .ser considerados. como
produtos novos. Neste caso, ·a taxa ~édia, d~ salário tena que
aumentar, o que levaria a conseqüências Similares.
13
 situação de dependência a u esta
economias. Como coro~0q
lização traria consi 0 · •
a'fum vam condenadas~
. ava-se que a industria.
lação do progresso tecnológica. Contudo, quando procura-
mos identificar as .causas tlesses fenômenos, logo perce-
sões económicas Nga·o stpnea. crestã~ente._ .autonomia de deci- bemos que se trata menos de anomalias que de processos
que um sistema .industrialVIa
é en .o oo · m sUf"lCJente
· clareza . adaptativos a condições estruturais bem definidas da eco-
~u~ção e não um circuito feum processo em perman~te nomia capitalista internacional. Num dos casos essas con-
save1s por essas mutações • cha~o · Se os fa.tores respon- diÇões es4Uturais são .dadas pelos mercados int61"11(1Cidnais;
o controle des~es fatores sao ex genos .ao Sistema;. basta no outro, decorrem do controle do progresso teCllológico
· J;ruturais de dependência ~ara que s~ cnem condições es- e do poder financeiro exercido pelas grandes empresas ln-
q~e prevaleciam no sistema ~:~ !llaal 1s destr~~ _do. que as tem~cionais. &sas condições estruturais operam, por um
cionai do trabalho. Como . Cion . e diVI_sl!o mterna- lado, no sentido de concentrar recursos em áreas prioritá-
s~s subdesenvolvidos nasc~:a:~temas mdus_tl'l!lls. dos· pai- rias, por outro no de homogeneizar os padrões· de c<lnsU·
ço.es e passaram em se id Para 8Ubstttutr lmporta- ~·- mo em escala mundial. Da ação convergente desses dois
miniat~ra, 0 fl~o -de :!o:- p~:~duzir, ainda que em
senvolvidas, a.s novas formas de d s ~ ~conom1as de-
processos resulta que a difusão do progresso tecnológico .
na periferia do mundo capitalista seja extremamente de-
se consolidar ependencia surgiram e sigual e relativamente lenta. Viste;~ .deste ângulo mais fun-
filiais das ~ sem encontz:ar maio.res resistências. AS damental o subdesenvolvimento apresenta-~e como uma si-
ao nascer, de ume~óe:P:sas .ll!ternaCJonais já di5Pililha!U, tuação de dependência estrutural, que se traduz por um
lizar com eficiência : s;~~~~~o._qu~ as. capacitava a rea- horizonte estreito de opÇões na formulação de objetivos
beneficiavam diretame.nte d~s ~ ta e_ Importa~, e se
1 0
próprios .e numa reduzida capao;:idade de articulação das
rendo na casa matriz Na m d"d u çoes que Iam ocor- decisões económicas tomadas em função desses objetivos.
reproduzir, com um interva.r: ~ a ;::n
fluxo de produtos em erman e mpo decrescente, o
que se pretendeu
ra nas economias dese~volvi~te diversif~cação que jor- \.
quase condição necessária da e!· !I:- de~endéncia tornou-se PERsPECTIVA HisTÓRICA
eficiência, significando neste ICiencm · Po;r outro lado,
inovação de produto · caso ~star na vanguarda da A históril;l econ6mica do Brasil neste século, enfeixa
absorção do subdese~v~lvunll!odeltos, Implica em retardar a uma das mais ricas experiências de Industrialização em
. en o.
Se 0 bservamos em conJ·u t
.
senvol:vimento _ 0 ex °. d · .
· n os OIS .tipos de subde-
condiÇões de subdel!envolvimento. Abordaremos essa ex-
periência a partir das hipóteses que vimos de formular so-
iJ?-dustrializado, que mf':n~~~ d~~rodutos primários e 0
bll!ados em distintas pro or -e a se apresentam com- ..'
' I bre o quadro estrutural do sistema capitalista e a forma
por que nele se cria e difunde o progresso teCilológico .
dOis casos se manifestampaM~~..- constatamos que nos Uma visão global do subdesenvolvimento é indispensável,
__ ·~u ....ÜUJ' na forma de assimi-.
se· pretendemos Identificar o que é relevante e especifico
8
A _penetração do progre880 u...:.:. 00 . no caso brasileirO. ·
a destrUição de fonte d• acamta, vla de re
outras de importànci! sTr:u~~te~o aue°
.""""
não SãO SUbStitufdas ~
de um1.1 parcela crescente da ' an origem à marginalizaglfo r Asslnaliunos ~terlormente que a-fase de rápldl!o ex-
pansão das exportações de produtos primários, por Indu-
I
pacidade produtiva e a rãpidrgJ:Y!:J~eisubdeutruza:çAo de ca- ção ·da revolução Industrial, se caracterizava por uma mo-
~~e!lta os custos sociais de uma Indústria a __ ,:~ulpamentos ' dernização das formas de consumo (ainda que de uma
nCia de grupos Internacionais. org~,_da à conve-
~ automóveis, que se observa enÍ :ãtfultlpllcfdade de fAbricas . minoria) sem relli correspondência na evolução tecnoló-
..... a, são apenas alguns exemplos de os paises da .América La- . gica. dos processos produtivos. Não significa isso, entre·
S8a8 anomaliaB. tanto, que inexistisse totalmente a industrialização, A ver-
14 f.

.1-•
•'
 dade é que,' quase sem excecão, um fluxo Importante de
exportações de produtos primários engendrou certas ati-
vidàdes complementares de tipo industriai,· que vão desde
o trataménto superficial exigido por, produtos como o café ·
e O !!lgodão até processamentos multo avançados como· Os
requeridos pelo açúcar, a carne e as sementes oleagino-
sa~. Tais Indústrias, assim como um ~lstema moderno de
transportes, Implicam num serviço de manutenção que
pod~ dar origem a Importantes instalações mecânicas --ou
simplesmente a oficinas artesanais mecânicas onde se for•
ma uma mão-de-obra especiallzadà. Esse tipo de indus-
. ·trlallzação pode ser Insignificante em pequenos paisee, mas
alcança dimensões consideráveis quando a economia ex-
. portadora é de grande vulto. Trata-se, aqui, de uma in~
dustriallzação diretamente complementar das atividades
de exportação, que se expànde ou contrai em função des-
tas e -que dificilmente chega a desempenhar um papel au- ·
tÓ'!I071W. Existe, porém, uma outra faixa de atividades· in·
d~triais que surgem nessa mesma fase: são manufaturas
complementares das ~portações ou induzidas 'pelos. gastos
dos consumidores: li: o caso das indústrias de embalagem,
de montagem, de terminação, que permitem consideráveis
economias de transporte e seguro, bem çomo a a'daptação
de certos produtos a condições especificas locais. Também
é o caso das indústrias de confecção, cinde a àtividade ar-
tesanal pode ~r. competitiva;: Jias de materiais de cons-
trução, que regebem um granãe Impulso com a urbaniza-
ção; e, enfim, de outras indústrias e!I). que as ecoil.oinias
de· escala não são significativas, como a têxtil. Esse con7
junto de liidústrias desenvolveu-se de forma significativa
no Brasil, já no último quartel do século passado,· graças
à dimensão relativamente grande· do mercado interno, à
abundância de matérias-primas locais e a medidas prote-
clonistas casuais ou voluntárias• .
· • Sobre os ensaios de medidas proteclonistas nesse periodo
veja-se Nicia Vilela Luz, A- Luta pela Indilst'l'ializa:ção no .BraoiÍ ·
(São Paulo, _1961). As medidas casuais eram reflexo .da lnsta-
billdadl) C!'mbial. A depreciação externa do mil·reis,· ·ocorrida
·entre_ a Proclamação da· República e _a -administração Murtlnho,
teve o mesmo efeito que· uma elevação- pondetâvel ela tarifa
.aduaneira. · PP• 194 e. 226.
16
As duas faixas de industrializaçãO que vi~os. ~e ~
ferir conjugaram-se, no Brasil, em ~a dim;ez;;!lo .lllgnJ!I·
cativa, produzindo-se certa autononu!l da~ mtCl!ltiYas m~
dustriais com rellP.eito ao elemento dmãm1co prmCI!;!~ pa
economia, que eram as exportações de produtos prlm~r1os.
Essa autonomia se acentuava nas fases de depres~ao_ do
comércio exterior. Contudo, a expansão da econom1a con-
tinuava a depender fUndamentalmente. do aumento das ex·.
portações e da capacidade de importar'•. . • . ·
o estudo dessa primeira fase de industrlahzaçao te~?
Importância particular, se se pretende captar a especlf1"
.cidade da classe Industrial brasileira,. Os grupos _ind~­
trlals mais importantes, até hoje surgidos no pa1s, sao ori-
ginários dessa época. Caberia falar, neste caso, de um
núcleo de burgue.&ia n.acional9 Grande parte do debate .em.
torno da natureza do capitalismo ·brasileiro tem com?
a
ponto de partida uma resposta essa g11;estão. !'~il: ev1- ·
tar certo tipo de COI!fusão, convém_exphC!t~.o s1~if1ca~o
do paradigma ,europ~u , ,_A burguesia europeia pre-existia
à.revolução lndus~i~e o seu cárã:te.f namonahsta s~ ha:__
via formado na época do mercantiliS!llO. Neste caso, as
indústrias foram iuna :cri~ da bur~esia no seu esforc
ço para continuar a expansão das antigas manutaturas ·
I!: bem sabido que a concorrência nos mercadps dé certos·
produtos manufaturadoB desde cedo se exacerbou na E;~:
ropa e que certos paises, como a In~!iterra, de~de o se· ·
culo XIII vinham ·esboÇimdo uma politica protec1o~lsta~'.
A doutrina liberal, tão bem form?~a~~ pelos 7lá~s~cos }~­
gleses é únia ideologia com um s1gnifif::ado h1stor1co per-
feitariknte definido: serviu à Inglaterra para consohdar
as vantagens que o salto tecnológico do último quartel do
século XVTII lhe proporcionara. Mas, po:_ toda parte ?nde
jã existia uma burguesia nacional, a reaça? no plano ~deo­
lógico não se faz tardar. A politic<t industrial de Hamilton,
•• A capacidade de importar reflete con)untamen!e o volu-
me fisico das exportações e OS te~os do :mtercãmbiO, isto é,
· a relação entre preços de exportaçao e ~e Importaçã~. n .
Veja-se a respeito W, J. Ashley, An Introduction tot EIT.
11
glish EccmOm.ic History and Theory (Londres, 1893), par e •
.
17

brilhantemente formulada rios prnnelros anos do século
XIX, e persistentemente seguida nos Estados Unidos cons-
titui ex~plo de uma atitude comum a outros pais~s. Se
alguns pa1ses europeus adotaram a doutrina liberal flZe· .
ram-~o já muito avançado o século, quando se cons'idera-
vam mdustrialmente consolidados, );iodendo assim usá-la
con~a conco:ren!es mais frll;cos'•. Desta forma, o processo
de mdustria!iz.açao tomou pe, de uma maneira geral,. onde
quer que, na epoca mercantilista, se cristalizara uma bur-
guesia nacional.
. As observações feitas n~' parágrafo anterior são um
s1mples traço que pretende indicar a direção de um com·
plexo processo. A revolução industrial surge como uma
mu~ção no ~pio processo de ascensão da burguesia eu-
ropeia. Nas areas em que esta se havia consolidado e de·
finido interes&eB nacionais, medrou com êxito maior ou
~e~~r o p:ocesso de in~ustrjalizaç§,o. Este ponto da de:-
. f!ll!çao de mteresses naciOnais é importante. Não era su-
ficiente :'- :presença de ati';idades mercantis, que em toda
parte ex1sbam em graus diversos. Os interesses nacionais
definiam-se quando a atividade mercantil se apoiava em
manufaturas locais, que podiam ser ameaçadas por con·
c~rrentes externos ou que eram utilizadas para a exporta•·
çao. l!i e~a combinação de atividades manufatureiras pré-
mdustrials (baseadas na organização corporativa ou no
trabalh~ li'l!1'e), com atividades mercantis que enfrentam a
con~o~c1a externa, que define o perfil das burguesias -
nacwna~. . ·
· . Nas áreas em 9-ue, em razão do Eacto C9Ionial, a ati·
Vldade manufature1ra permaneceu atrofiada ou· somente
surgiu quando .não punha em risco o aprovisionador ex-
t:rno, não teve praticamente início o processo de forma-
çao de uma burguesia nacional18 • As atividades· manufa·
. 12 A~ leis de llberallzaç!io do comérCio Inglês advogadas por
C9bden, mclusive a deiTOgac!io do Ato de Navegaç!io s!io da se-
gunda metade dos anos 40 do século passado· n,; França a
llberallzaçiio, Imposta por Napole!io m em 186Ó será de curta
duração. ' e não nacionaL
13 O. fato de que, no Brasil, as atividades comerciais ligadas
ao exterjor hajam permanecido·· em mll.os ·de portugueses (e de
casas Inglesas) mesmo. depois da independência, retardou a for-
18
tureira8 que surgem no Brasil, na se~da me~de do século
XIX são complementares do .comerc1o extenor: d'!s ~x­
portações ou das·importações. Via de re~a essas m~~­
trias são de iniciativa de pessoas que adqu1rem eXPerlen-
cia no comércio de importações e percebem qu': o vo~ume
de negócios poderia ser aumentado se se combm~ mte·
Iigentemente . atividades industriai~ internas e 1mporta·
ções semi-acabadas. Co,!llo na ~a10r pa~ .dos caso~ o
mercado se amplia e o valor das ~mportaçoes se mantém,
as iniciati vas que envolviam aqui~iç_?es de equipamentos
eram apoiadas de fora, A contribu1çao ?e t;ap1ta1s ~str'!ll·
geiros para o financiamento dessas P,r1me1rall industnas
foi sabidamente, considerável".
' Assim a classe industrial que se forma no Brasil atua
num quad~o estrutural próprio que deve ser levado em
conta se se pretende compreender o seu comp01;tamen~;
·I l.
AssiJ:l1ilã-la a uma burg'UBSia nacional constitui simplifl·
· cação que contribui mais para ocultar do qu': para revelar
a realidade. Seus interesses estão, de m~e1ra ~eral, po·
sitivaniente' vinculados ao comércio exteriOr,. Sao as e~­
portações qúe criam o mercado interi!o e perm1tem a.aqu1·
sição de equipamentos no exte~ior. a ~om.preço; por outro
lado, só excepcionalmente as. m~ustr1as l~a1s concorrem
com as importações das qua1s sao em mUitos casos. c?m·
plementares. Isso não significa qúe ·inex!stissem co1!tllto_s
no plano subjetivo. Inúmeras pessoas infl~~nt~s, parti·
cularmente altos func:ionários, tinham c~ns~1enc1a. de que
à indústria deveria caber inn papel ma1s . ~mportan~e no: ·
desenvolvimento· do país e que para esse .f1m o Brasll de·
veria segUir uma politica protecionista como oa Estruios
mação dé uma burguesia urbana do tipo da que 'surgiu em
Buenos Aires à sombra do contrabando e da Jlberallzacão ~·
mitida pelos Bourbons a partir dos anos 70 do ·séCUlo~
Essa· burguesia surgida do comércio exterior e sem vln a,_.
com atividades manufaturelras locais (na .Argentina ~esteve
em conflito com as atlvidades manufaturelro-artesanais as PJ?"
·vlnclas do Interior) apresentou sempre um perfil cosmopo a
.. v~r a respeito os Interessantes dados apresentados por
warren D.ean, em The Industriali.ntion .. of S4o Paulo: l88tJ..l946
(The Urúverslty of Texas Press,1969.).
19

, U,nido&._Trata-se, entretanto, de tomada de posição subjeti- .
· VIsta, nao vinculada diretamente à. ~ltu!lção da maioria da
·.classe lnCIUstrla!" . CompreenCie-se, ·pOrtanto;. que, ao en"
trar em crise a economia de exportação tradicional, a elas-·
se ~dustrlal não se manifeste como uma força realmente ·
Jllltonoma, capaz de oferecer ao pais uma clara op,;; 0 de
rumos••. · ,....
V ARGAS E A CoNSOLIDAÇÃO DO PODER Cli:NTRAL
• Cabe ~s~belecer uma clara diferença entre a insta-
~açao de at1v1dades industriais complementares do comér-
~~o exterior, que p~r seu carâter ancilar pouca influência
veram na formaçao de uma mentalidade industrial. ·é a
substitutiva ~e impo~ções, na qual_~senta ·o verdadeiro
P:ocesso !'fa md~~lahzação brasileira, A crise. do comér-
CIO :xter1or trad1c1onal, que se anunciava desde. começos
~~~ecTJ!o e assume características dramáticas a partir de
. , pos em marcha, ~a sét'je· de processos que conver-
giram .no .sentido de abrrr () caminho à ·industrialização.
Em prrme1ro lugar cabe referir a crise do Estado nacional
que; se ~poiava tradicionalmente num equil!brio de··força~
r~glonrus. -'\ d~slocação da oligarquia cafeeira, que exer-
Cia hegemoma mc?n~este, c_riou condições para (e ao mes-
mo tempo tornou md1spensavel) o revigoramento do poder
central. Deslocada a forca estabilizadora que representa-
vam os inte;esses do café - tratluzida no eixo São Pauib-
Minas Gera1s - criou-se um vazio de poder que poderia
transformar as contendas políticas entre grupos regionais
eT um processo recorrente de guerras dvis. o café já
nao ~g1a o presidente da República, mas não surgira no
•• :S: interessante observar que, na região de São Paulo
fnd: é ~aaflorlmo dinamismo do grupo Industria!; a ideologia des:
es 18ma . com a dos grupos ligados à tra<ljção exportadora.
AB condições c~ladas pela crise· de 192~ ·e a· prolongada
depregsão que a se~m (os preços do café' •6.· se recuperariam
no P. •·guerra) penmtir~m acelerar o Pl'9Cesso de Industriali-
zação, que ganhou consideravelmente em autonomia A
dução local expandiu-se para ·preencher o vazio de oferta ~~:
. 20
·--
pais nenhuma: outra forca suficientemente articUla~ ·para
fàiê-lo. Bàsta: ter em conta· as disparidades que exlstenl
entre o! estados, as desigualdades ~e graus de desenvolvi-
mento entre regiões e a diversidade dos interesses eco• •
nômicos dos grupos· regionais dominantes, para perceber
que a· estabilidade . do. poder central pre_ssupõe. a hege~o­
nia de uma região ou de um grupo de. mteresses. Assrm,
a crise do café seria também a crise do poder central e a
abertura de um processo· de transformação do.Estado na·
clonal. Como sempre ocorre nessas fases de transição, o
autoritarismo se apresenta e legitima como uma opcão à
anarquià, isto é, à ausência de todci poder esj:ãvel. Coube
li Vargas estabelecer uma aliança entre a classe politica
tradicional (ou pelo· menos uma Parte sig~~ificativa desta)
e as forcas armadas, o que permitiu que se instaurasse .o
Estado· novo com uni minimo.. de modificações na estru-
tura tradicional de poder. Na verdade, a opeão á Vaz:gas ·
xado PelO eolapso da capacidade de Importar, tanto mais q\'e
em certos setores, como o têxtil, ez:.a gran~e a margem de ca·
pacidade ociosa. Em muitos casl)s as própnas empresas ligadas
às ,Importações (lncluslv~ filiais de emptesas est:angelras) pro-
curaram f01ites alternativas de abastecimento, ligando-se a lnl·
clatlvas de produção local. Desta forma, tratou-se menos de
proteção contra. o concorrente externo do que de próteção cria·
da pela desorganização desse concorrente, à semelhança do ocor·
rido durante as duas ·guerras .."Não há dúvida de que o· campo
de Iniciativa dos grupos nacionais ganhou em varle!lade e pro·
fundidade devendo em certos casos enfrentar forte contra-ofen-
siva dos interesses Importadores no Imediato pós-guerra. Mas
n!lo é menos verdade que Inúmeros grupos estrangeiros com
Interesses no pais lançaram-se com Igual entusiasmo na lndus·
. trlallzação. 'A concorrência entre grupos nacionais e estrangei-
ros se fez para ocupar. posições num· terreno em rápida expan·
são que· era o das oportunidades Industriais. Caso ilustrativo
; é C: da Indústria do cimento, que conheceu extraordinária ex-
.palll!ãO nos anos 30. A iniciativa na~onal, apoiada no Instituto
de Pesquisas Tecnológicas de . São Paulo, avançou rapidamente
no setor. Mas os grupos estrangeiros, que hwriam tomado pé
no setor antes de 1929, n!lo ficaram atrás, pois chegaram ao
extremo de desmontar e transplantar para o pais uma usina
completa de recente Instalação. Assim, nessa fase decisiva, a
industrialização brasileira resulta de uma· amálgama de Inicia·
tivas de grupos nacionais e estrangeiros. A divisão de áreas,
que· se desenha com nitidez nos anos 50, faz.se principalmente
em fwição do ·acesso ·ao fluxo de Inovações tecnológicas e do
poder financeiro .
!1
 não era a riiuzrquia p · ta . .
. do as fo ' ois es . coexistiu com Vargas quan- essê período que o Estac:Io nacional 'emerge como um fatox::
cularam rças que o levaram ao poder em 1930 se desarti
' sem que surgisse ·· - - importante no sistema económico brasileiro. A politica 'di!.;
• ças capaz de servir de uma con~ugaçao de novas for- câmbio, tradicionalmente subordinada aos .interesses do
der centrai A opçã ponto de apoiO ao exercício do po- serviço da divida externa, transforma-se em poderoso ins-
ditadura m"mtar oVque se configurava em 1937 era uma trumento de fomento à formação de capital. Evolução
.evita, conse · J e argas surge como o homem que a nã!l menos significativa ocorre no plano fiscal: sob múl-.
pel que de ;:;t~ ~:~~ervlheartp~ra r:;dclasse politica ·urij pa- tiplas formas a politica fiscal passa a ser a principal ala-
ena SI o. negado" ,
A consolidação do pod .tr · vanca dos investimentos. Através de uma politica de m-
1930 e se confirma em 1937er cen ai, _que se esboça em vestimentos diretos que se vai definindo progressivamen-
decisões com considerável ~~~ta.o ;l>aiS_de_ ~centro de te, o Estado dota o pais de importantes complexos. indus~
IJOS económicos tradicionais C nomia VIs-a-yts· dos gru- triais nos ~etores da mineração, do petróleo, da geração ' ·
ras entre estados e tomam · ae~ as barreiras aduanei- e transmissão de energia elétrica, da siderurgia e da qui-
sando a unificar 0 mercado-s~ n;uitasal out~as .medidas.vi- . mica básica.
distintos - . acion e a mstitucionaliiar Devemos ter em mente esse quadro de fundo no .es-
lizados c~~P~~;f~sn~z:;I~~s,. q~ assim poderiam ser uti- tudo da industrialização brasileira . Seria UJll equivoco
~~fs~~ ~~ frupos ~ternac~~~ai~.:~~J:=!~ ~!a~~ imaginar que esta derivou o seu impulso principal da ação
do Estado. O ímpulso principal originou-se nas próprias
duzída .. bma ~:~~~ad do prus, fOI consi!J:eravelmente re- forças económicas, como decorrência das tensões criadas
claraménte definida e : ~:!J~s Jee':.s?s ~!-aturais foi . . '' pela crise do comqreio exterior, Na verdade, a ação. do
passou a ser preocupação prior'tár' do Edústr:ias de base Estado foi em grande parte uma .resposta a essas tensões,
dde que não traduzia a hegemon~a:
e nenhum grupo de interess
J:
nenh=~o. ~~lo fato
regiao nem
mas o resultado fmal favoreceu o processo de industria-
. lização . ~.. crise do comércio exterioF criou indiretamen-
~~1 =é razã~r do vazio cri~do~elo ~e~i~e d:~~Ie~~~;
- . v argas usufruiU de uma · d
exercer o poder que nenhum
d"
tro m epen encia, para
te, para as atividades ligadas ao mercado interno, uma·
situação privilegiada. A redução da capacidade de impor-
tar obrigou as indústrias comple~entares das importações
conhecera antes 1:: graf'OQ • ou _governante do pais a economizar ou substituir insumos importados. O alto
· ,...., a evo1uçao ocorrida durante custo ou a inexistência de peças importadas acicatou o
11
engenho de ·mecânicos e engenheiros locais19 • Tudo isso
A habilidade de Va · · · é perfeitam~te evidente. Houve, entretanto, mais do que
dirigentes da classe pollt!c~g~s s~~~~~~ em ·afastar os velhos
vistss mais fãceis de manobrar e · os por elementos arri- isso. A crise do comércio exterior afetou gravemente as
com as estruturas politicas tradlc!~~~ ·:eno~ compl;'Ometidos fontes tracllcionais de financiamento do Estado, obrigan-
guma forma fac!1itsda pelo levante · ssa refa foi de al- do este a escapar pelos incertos caillintios da inflação.
1932 e pelo comportamento caudllhes~n:ladFl de São Paulo em 0!-'a, a inflação significava maior .rentabilidade para as
Rio. Grande do Sul. o golpe de mestre e ores da ~ha no
qUBJmar os seus poderosos allados da dl!!,Yargallsticonsistiu em indústrias ligadas ·ao mercado. interno, ou seja, uma pro- ·
Gerais. · -~~ao po ca de Minas teção adicional contra as importações, cujos preços relati-
18
Uma série de InstituiçÕes · t ' vos se ·elevavam em conseqüência da depreciação da moe-
~~utinia~ e «defenden os intere~!!':1~sa~~~o~!am ~miadas para da nacional.· 1:: a este processo, pelo qual um mercado
ona s. café, ·açúcar cacau pinh b econ cos tra·
~· a medlaçllo dos grupos pollt!c~s ~a~h~, ietcia Desta for- .. ·\

ando-se o poder central de· form il!re o a . stada, v!n, •• A este respliito 111erece especial referência e. aolo do IPT
econômicos de dlstintss áreas do pa~. ta com os interesses de Silo Paulo, principalmente no que respeita à indl'iatria me,
talúrg!ca.
2:8
:88
 prBeo:iatente e em crise de. abastecimento de suas fontes
externas tradicionais, incentiva a expansão da indústria
loc.~, que se chama Usualmente de substituição de impor-
taçoes. Trata-se menos de concorrer com as importações
que de aumentar uma oferta que sofreu contração. Pelo
menos assim ocorreu na primeira fase, quando a capaci·
d~de de Importar permanecia deprimida. Na fase subse-
qUente a dinâmica da substituição de importações é algo
distinta: ela permite que a oferta global de produtos ma-
nUfaturados cresça mais rapidamente que a importaÇão
des~es produtos. A substituição abre espaço para a impor-
taçao de produtos novos e para o pagamento dos equipa-
me~tos cada vez mais complexos requeridos para a pro-
duçao dos produtos que se substituem. Portanto . é na
P_:õpria natureza !ifuitativl!,· do processo de indush-ializa-
. çao que. s~ deve buscar a raiz última do mecanismo da
·SUbStltUiçaO .
0 FINANCIAMENTO DA lNDUSTRIAUzAÇÃo
. -!'- análls~ da industrialização brasileira põe e~ evi-
denCia que, nao obstante a orientação desta derivar-se fun·
d~entaimente do processo de substituição de· importa-
çaes, I! captação de recursos dependeu fundamentalmente
da açao d;o Esta?o. Este, além de ampliar as bases da
estrutura mdustr~al, ~olocou à disposição do setor privado
uma massa cons1deravel de recursos financeiros. Veja-
mos alguns detalhes. Na primeira metade dos anos 50
ocorreu uma melhora substanciai nos termos do intercâm- ·
bio, graças principalmente à recuperação do preço inter-
n_acio~al do c~~ e aos efeitos da guerra da Coréia. Essa
s1tuaçao . permitiu que a taxa de câmbio se mantivesse
estâvel enquanto os preços internos subiam firmemente .
. Ao assegurax: câmbio de ~orma pr~vilegiada aos importa-
dores de eqwpamentos e msumos mdustriais em ·geral · o
~ovt;rno restringia a capacidade· de importação de b~
fm:us de. co~~. A elevação conseqüente dos preços re-
lativos di!stes últimos, no mercado interno, estimulava a
sua substituição por produtos locais. Os recursós para o:fi-
nanciamento das indústrias substituidoras de importações
eram, assim, retirados ao setor exportadqr, mediante ta"
xas diferenciais de câmbio, e ao conjunto da população,
em. corlseqüência da elevação dos preças relativos dos·J;leps
cuja:" oferta estava sendo restringida. Assim, dtirailte_essa .
. fase, os exportadores nordestinos (para citar o caso da
região onde na época eram quase nulos os investimentos
industriais) recebe~:am multo menos cruzeiros pe~os. dó-
lares gerados pelas suas vendas no exterior, do que eram
pagos pelos importadores de bens destinados · ao mesmo
Nordeste, a fim de que grandes firzna!l estrangeiras, como
as qué instalaram a indústria automobillstiCa, recebes-
sem subsidio cambial para formar o seu capital. Essa si-
tuação prolongou-se pela segunda metade dos anos 50,
quando os termos do intercâmbio se degradavam.
Outro exemplo ilustrativo. O Banco Nacional do De-
senvolvimento .Econômico, cujos recursos eram retirados
compulsoriamente de pessoas físicas con~buintes do Im- .
posto de Renda, emprestou à gran~e ind~a_massa co!l- ·
sid!!rável de recursos que, em razao da inflaçao, assumiu.
a forma de doações de capital. As empresas, com seus
ativos assim ampliados, podiam voltar-se para· os ban-
cos comerciais (principalmente o Banco dd Brasil) e as-
segurar-se linhas· de crédito com juros negativos, alimen-
tadas pelo mecanismo do redesconto, que funcionava corno
alavanca primária do. processo inflacionário. Desta for-
ma, a captação dos recursos reais que está na base da
rápida acumulação realizada, a partir da última grande
guerra, no setor industriai, foi também um processo de
concentração da propriedade em beneficio de reduzido
. grupo social e 'de empresas estrangeiras••. Contudo, será
equivoco imaginar .que essa concentração · tivesse C9!p.O
contrapartida a pauperização das massas. A pauper!Za~
ção existiu apenas em certos setores exportadores, que
foram levados ao limite da resistência e se transformaram
· •• A transferência de reeursos, realizando-se em beno!ticló ·
da· eapitallzaçl!.o no setor em que era mais intensa a penetração
do progresso tecnolõj:!co, tinha outros efeitos secundários sobre
o processo de acumulação. No texto referimo-nos apenas ao .
esforço lnlclál, feito por um grupo em beneficio de o~~o. .
 finahnenteem gravi:isos. De uma maneira geral a con-
centrl_lção assumia a forma de um processo dhtãmico:
mantinha-se a taxa de salário real e os incrementos de
produtividade engendrados pelas melhoras dos termos de
inte~cãrnbio e pela penetração do progresso técnico, .eco-
nomias_de escala, etc., alimentavam o processo de con-
centraçao. · desses bens mediante quantidade muito maior de ~ap1tal
Não se tratou apenas de impedir mediante ·a infla-
ção, q~e. os salários se beneficiassem dos .incrementos de
produtiVIdade. No gu~ respeita à classe média, convém
ter em conta, tambem, a redução drástica e permanente
do valor real de seus ativos monetários e financeiros e a
ester~~ação de s.ua poupança. _Tudo leva a crer.que a clas-
se med1a (aproxrmadamente o decil superior da distribui-
ção_ da r~nda, ex~!uido o 1 por cento mais rico da popu-
l~çao) d1spunha Jade uma capacidade de poupança apre-
Ciavel, d.a qu~ .al?enas uma fração era encaminhada para
o. setor 1mob~1~no. O grosso dessa poupança pàssava ·ao
s1stema bancar10 sob a forma de. depósitos a taxas de ju-
ros negativas, ou se esterilizava para o proprietário sob · ·
a forma de moeda estrangeira ou de titulas financeiros
que ne~h~a renda real produziam. Demais, a fuga con-
tra a liqurdez a\llllentava a propensão a consumir, o que
se traduzia numa curva de demanda de bens de consumo
. duráveis menos elástica em fuhção do prece', dàndo ori-
gem a uma renda de produtor adicional. O sobrepreco co-
brado pelos produtores de bens duráveis, em razão dessa
fuga diante da liquidez, da mesma forma· que o. sobrepreço
engendrado pela escassez resultante da interdição de im-
portações quando era insuficiente a oferta interna, são
da .mesma natureza que o sobrepreço imposto pelo mono-
pohsta em face de uma curva de demanda inelástica.
• ,Contudo, seria erróneo fazer da inflação a causa pri-
marra do processo de concentração da renda• que vem
acompanhando- a industrialização brasileira. Deve-se sem-
pre ter em conta que o comportamento dos salários da
grande massa da população incorporada ao setor moder-
no. (onde prevalece a proteção da legislação social) está
determ~ado por fatores _estruturais. Esse fato, ligado à
aceleraçao da acumulaçao, responde pela mais intensa
concentração observada no periodo que estamos consid~-
!6
-rando. Para ver mais a fundo neste problema,. a;dmita·
mos num esquema simplificado, que o pais adqurr~sse no
exte~ior bens manufaturados de tecn.()logia. c?mplexa (ma·
terial de transporte, equipamentos[in?ustrraJS, .~-durá·
veis de consumo) pagando-os com ·cafe; a substltu~ des·
sas -importações significaria obter. a mesma quantidl_lde
e muito menor de mão-de-obra e recursos naturros. Se
os pagamentos ao fator capital são feitos em b~neficio de
uma ínfima minoria, a modificaÇão da estrutura produ·
tiva terá de ser acompanhada de· concentração da rend~,
porquanto a maior pro~u!ividade da r:não-de-~bra nao
acarreta dadas as condiçoes estruturais refer1das, a';l·
mento s~nsívcl na remuneração do trabalho. Se bem seJa
certo que a taxa de salários será maior no setor manufa-
tureiro do que na produção de café, ::'- massa total de sa-
lários será neste segundo caso superiOr.
0 CAPITALISMO INDUSTRIAL BRASILEIRO
No. caso especial de capitalismo que estamos conside·
rando não se forma o vinculo causal entre aumento de
I produtividade (engendrado pela elevação da dotação de ca-
pital por trabalhador e pelo progresso té~ni~o) e a eleva·
ção da taxa de salário que parece constiturr a engrena·
gem básica da economia capitalista industrial moderna·
A razão é simples: a poupança per capita é, no Brasil,
de oito a doze vezes menor que nos países criadores da
'i tecnologia que está sendo absorvida; como os mesmos pa·
drões técnicos tendem a ser adotados, a dotação _?e capita!
por trabalhaqor no setor ind~strial moderno nao podera
ser muito distinta; ·sendo ass1m, a parte da forç~ de tra·
·. balho afetada pelo progresso técnico será necessariamente
pequena. Inexistem, portanto, as condições que em ou·,
tras partes levaram à formação das press~es sociais que
réspondem pela elevação da taxa de salário. Dai que !1
economia se haja fragmentado em mercados com redUJl·
da comunicação: de um lado está a massa da populaçao,
.cujo poder de compra médio permanece praticamente es-
'.

tagn~do; de outro está. a minoria privilegiada com altos
padroes de consl!Ino! em râplda diversificação . Esse tipo
de estrutura é comum a outros palses subdesenvolvidos em
fase de industrialização relativamente avariçàda, mas pro-
vavelmente em nenhuma parte apresenta caracteristicas
tão acentuadas como no Brasil. l!l neste sentido que se
pode afirmar que este pais-constitui um campo de eleição
para o estudo do subdesenvolvimento.
Para evitar confusão em torno do que é essencial
convém assinalar que não hã evidência de correlação ne~
gatlva entre o grau de concentração da renda e o nivel
da prodl;ltividade industrial. Admitamos que a taxa de sa-
lârio seJa a mesma (para igual nivel .de preparação téc·
nl~a) e que a dotação .de capital por trabalhador (direta
e mdireta) também seJa a mesma nas indústrias de bens
de consumo corrente (que trabalham principalmente para
a massa popular) e nas indústrias de bens de consumo du~
râveis (que trabalham principalmente para a minoria de
altas rendas); bastarâ que o progresso técnico 'tendente
~ econo!llizar recursos .raros .e as economias de escala se-
Jam mais acentuados no segundo grupo de indústrias para
que a concentração da renda acarrete (após ajustamentos·
na estrutura industrial) elevação da produtividade média.
Se os efeitos do progresso técnico e das economias de es-
cala forem os mesmos nos dois grupos de indústrias a \
concentração da renda terâ reflexos apenas na comp~si­
ção da demanda final. A menos que as modificações des" ·
ta última acarrete~ sub-utilização de recursos produtivos
(o que poderia. ser fenômeno de curto ou i:nédio prazo),..
para o economista que mede a _produção pelo custo dos
fatores, a produtividade média permanecerâ sem altera-
Iç~o21 • Ainda mais do que de concentração, o problema é da
\forma que venha a assumir essa concentração".
11
Deixamos de lado, por nlio atetar dlretamente o ponto
que nos Interessa, que é a .relaçlio entre aumento da concentra·
çllo e Incremento da produtividade Industrial, os possivels efei·
tos da concentração na formação do potencial" de ·acumulaçlio,
•• Veremos mais adiante que foi modificando a forma da
dustrlal da economia ·brasileira no perlodo recente.
o
concentraçlio da renda que se conseguiu redinamizar setor ln·
28
.. ,~·
Pode-se admitir como hipótese passivei de comprova-
ção que, se a renda se concentra dentro do próprio grupo
de população com acesso aos bens durâveis, Isto é, se o
crescimento do consumo deve apoiar-se principalmente
na diversificação deste, os Investimentos requeridos ten-
derão a ser maiores do que seria o caso se o aumento do
consumo decorresse de maior uniformização dos produtos
consumidos pelo referido grupo de popUlação. Por exem-
plo: se o aumento do consumo resUlta do crescimento mais
que proporcional da demanda de ,!lUtom~veis de alto pre!l?•·
os investimentos requeridos serao maiOres do que seria
o caso se aumentasse a demanda de automóveis de tipo·
standard jâ produzidos em série. Tal hipótese somente
poderia ser comprovada com referência a situações pre-
cisas, como a que vimos de cit:=tr, porquanJ;o é ~dmissiv~J
que o serviço prestado por doiS automóveis seJa aproxi·
mativamente. o mesmo. As ambigüidades se apresentam
desde que ~e trate de produtos novos, isto é, desti~ados_ a
satisfazer uma necessidade, real ou provocada, até então
não satisfeita.
Vejamos se é possivel abordar o problema de outro
ângulo. Pode-se admitir como evidente que, num pais
em que o nível de renda 'f.JSI' capita é de 3 . 090 dólareS~
um incremento de 5 por cento no nivel de vida da po-
pUlação requer investimentos superiores, por consumidor,
do que Igual incremento relativo ao consumo em· outro
páis cUjo nível de renda pgr capita seja de 300 dólares.
Se, como primeira aproximação, se utiliza a mesma re-
lação produto"capital, chega-se à conclusão que em ter-
mos absolutos o investimento por com;umidor é dez vezes
maior no país rico. Não hâ dúvida de que parte• desse
maior investimento traduz um consumo quantitativamen·
te maior (mais alimentos, mais vestimenta, etc,), mas
não é menos certo que parte ainda mais significativa re-
flete a enorme diversidade dos produtos que consome a
popUlação rica mesmo na satisfação de necessidades el~­
rnentares com~ a· alimentação e o vestuário. O desenvol·
vimento, tal qual se apresenta nos paises de ele_vado ni~el
de vida consiste em um complexo processo de mtroduçao
de novds produtos (via de regra somente acessiveis a uma
minoria, na fase micial) e de difusão maior ou menor do
29
 Uso desses produtos. Pode-se admitir como hipótese a com-
provação que o investimento por unidade de produção s_(!ja
:maior na fase de introdução do· produto (quando ele é
·consumido apenas pela minoria rica) do que na fase de
'<lifusão de seu consumo. Estamos assim de volta ao ter-
:t>eno firme das economias de escala (ou dos custos médios
decrescentes) , caracteristica básica da economia industrial
moderna. Na medida em que inexistam modificações sig-
nifiCativas no perfil de distribuição da renda", é de ad-
. mitir que os dois processos - introdução dE! novos produ"
tos e difusão do uso de certos produtos já conhecidos -
oc·orrerão paralelamente. Mas se, por . uma razão qual-
quer, o processo de difusão viesse a perder intensidade (o
que deveria ter como contrapartida uma concentração da
renda), cabe deduzir que o crescimento do produto passa-
ria a requerer um maior esforço relativo de investimento.
Ora, a insuficiência do processo de difusão é uma carac-
terística básica da economia industrial brasileira.
Simplificando: a estrutura industrial brasileira teve
de adaptar-se, desde o início, a um perfil de demanda ca-
racterizado por um desnível considerável entre os padrões
de consumo da massa e os de uma pequena minoria; em
razão da oferta totalmente elástica de mão-de-obra, os
incrementos de produtividade engendrados pelo progresso
·técnico e pelas economias de escala puseram em funcio-
- . d no Brasil, tende a situações de
importaçoes, lmtanta ;:paramos com outras economias in-
~~~=oq~~~til~~ lima tecnologia· similar· as
Em um pBis de baixo nível de renda per cap!ta,d mer
de grande populaçao, • a mmon· ·a deuerendas altas poecono-
se obtenham es
suficientemente nume~os': p:ace~s bens duráveis. Mas
mias de esc~ na pro u~~da vez que 0 desenvolvimento
não se pode Ignorar q~e, • da renda (e do consumo), ·a.
se realíze com_ co_ncen .•a~~ecidas se fará mais lenta-
difusão d~ técnicas. Ja - de sub-ótimo a que nos refe-
11!-ente, crlandfo-se a t:X~kode ver o problema é a seguin-
rimos. Uma orma da minoria de altas ren-
te: na medida em que 0 consllll!o do onsumo dos grupos
'das deve aco~J?anhar a evoluça'? es I~!Uito mais ricos -
de rendas med~as e altas de pms · - dominante das !ir-
processo que. é f3;cil~~~troà~~~s'J! novos produtos e na
0
mas internac10na1s limitados recursos disponí-
dh;eção da_ propt~ganndtõ~ tend:rão a ser absorvidos na d!-
vels para mves Jme .da · · em prejw-
versíficação do consumo :a~:~~ =~~~~eqüência, a
zo do referido processo · · d pos de ai-
tas rendas terá como contraparbda a ::=fca
aceleração do crescimento do c'?nsumo os g;u do subde-:

.senvolvimento, ~a .m~dida r::m~u~ee grup~s significativos

dispari-
namento um mecanismo adicional de concentração da ren- dade entre _os mvels e ~o Desta forma a concentração · ·
dda popdaulaçadeote:: i~~a que deveria assumir a tuin-
da; como o poder. de compra realinente em expansão era
o dos grupos de altas rendas, o desenvolvimento tendeu
a assumir a forma de introdução de novos produtos e di- da trializaça"
ren o assim como a t end.enCla · a que se acen e
us ' - t'tui em boa medida uma conse-
versificação do consumo; a concentração da renda, ao en-. essa concentraçao cons 1 bal do processo de desen-
quência do controle exte~ J\~ caso de um efeito d{J
0
torpecer o processo de difusão em benefício do de diversi- 1
ficação, tende a repercutir negativamente na taxa de cres- volvimento. Trata-se, nes da "orma co:no atualmente o
cimento. Pode-se, portanto, afirmar, mesmo se pos res- dependência que decorre L' •

tringimos ao ãmbito estreito da análise económica, que progresso tecnológico se propaga do centro para a peri-
o modelo de industrialização baseado em substituição de feria do mundo capitalista. .

0
o decllnio considerável da taxa d~r:~c~e;!io~~
produção indJst~ali ~j_e sel~~~e~~n seguramente ligado
9
que se esestruten~ur:is do ti~o das' que vimos de considerar.
" Referimo-nos a alterações a longo prazo. A curto prazo
essas modificações existem e constituem um fator de dinainlza.
ção da economia capitalista. Veja-se. a respeito Celso Furtado, a causas d - de manufaturas popu-
Teoriapp.
1971), 119·123. do Desenvolvimento, 4• edição (São Paulo,
e PoUtioa 0 ~ento cresciment~o~~d~~v~f'~ capacidade ociosa nas
lares e. a ma~ge!l\almente
indústrlas prme1p dependentes do mercado . res-
30
31

tringldo (em condições de forte pressão Inflacionária) são
sintomas de desajustamentos mais que conjunturais. Con-
tudo, a magnitude das discrepâncias que se manifestam
nas taxas de crescimento,! quarido comparamos os perio.
dos 1956-61 e 1961-67, indica que não somente fatores es-
truturais estiveram em. jogo. Estes definem tendências a
médio e longo prazos, delimitando o campo de ação de ou-
tras variâveis responsâveis por movimentos conjunturais .
. Tudo Indica que o setor público teve nesse período res-
ponsabilidade fundamental, tanto na redução do nível .de
emprego, quanto no aumento da pressão Inflacionária. O
ponto de partida desse processo parece estar na reforma
cambial de 1961, a qual provocou fundo desequilíbrio, que
somente. será eliminado anos depois, mediante progressi-
vas reformas fiscais. O salto para alcançar a «Verdade
c~bial», da~o pelo Presidente Quadros sem as precau-
çoes. nece~sár1as, acarretou um desequilíbrio no esquema
de fmanc1amento do setor público cujas conseqüênCias
·não foram percebidas na época. N~ triênio 1958-1960 o
saldo dqs ágios havia representado para o governo fede~al
uma fonte de n;cursos tão importante quanto o Imposto
de Renda, ou seJa, cerca de um terço da renda tributária .
.da União. Sua. eliminação provocou, .em 1961, uma queda
em termos rea1s de 15 por cento na receita da União (tri-
butária mais saldo de âgios). Em 1964 a União ainda não
havia recuperado o nível de· receita (não consideradas as
autarquias) de 1960. Essa situação forçou o governo' fe·
deral a reduzir os investimentos públicos (entre 1960 e
1963 a participação dos investimentos do governo no in-
vestimento t~tal decli?ou de 27,1 para 23,3 por cento)
e a apelar amda maiS para a inflação. Com efeito o
deficit do setor público (despesa total menos receita dor-
rente), que entre 1956-60 representara em média 0,7" por
cen~o do Produto Interior Bruto, subira a 4 por cento no
penodo 1961-64. A isso devem-se·adicionar as dificulda-
des que o governo enfrentou para obter financiamentos
externos, na fase· final desse periodo. Esses fatores não
podem ser ignorados na explicação da conjuntura que se
forma a partir de 1961, e que é em grande PaXte respon-
sável pelo colapso do crescimento da produção industrial
cuja taxa média anual declina de 11 por cento, em 1956-61;
L________ .. :_·u F~~~~~~~GFJ8'' ~'
para zero no periodo 1962·65. Contudo, a lentidão da re- ,
cuperação que somente se manifestou com plenitude quan· '
do foram 'introduzidas modificações de não peque'!-a mop·
ta que referiremos mais adiante, comprova a af1rma!;,llo '·
anterior de que estava em curso uma mudança de tenden·
elas de raizes estruturais .
A AsCENslO DO GRUPO lNDUSTIÜAL
. '
No inicio dos anos 60, o Brasil transformara-se ·em
um pais industrializado, ainda que permanecesse notori~­
mente subdesenvolvido . A oferta de pro!lutos 11?-dustri~1s
finais e de seus insumos principais de origem mdustr1al
originava-se em nove décimas partes na p~oduç~o ~~ern_a, ·
e o próprio processo de formação de cap1tal fiXO Ja n.ao
dependia da importação de equipame'!-tos em f~rma mu~to
distinta do que ocorre em outros palSeS cons1derad?s m·
dustrializados. Não havia dúvida que, passados tres .de-
cênios do colapso do café, este encontrara o s':.u ~ubstltu­
to: estruturara-se um grupo de interesses ~co~om1cos que,
em razão de vinculações em todo o terr1tór10 do pais e
articulações no exterior, podia pretender um papel hege·
môhico no poder central, Ainda que altamente ~oncen·
trado na região de São Paulo, o complexo industrlll;l tem.
interesses diretos em todo o terr!tór~o nacion~, seJa em
razão de implantação de instalaçoes mdustriats, s~ja por
causa de fontes de matérias-primas, ou ainda de vmcul~­
ções a mercados que abastece. Sua aparente ?escentr~l­
zação -. existem mais de cem .mil. estabelecmentos m~
dustriais no país - encobre um elevado g;au de ~s~tu- ·
ração em âmbito local .e. naci!'Iial. Um. numero. 11m1tado
~' .. de grupos (umas poucas "dezenas) ~:x:ercem .efe~1vo poder
sobre o conjunto, pois asseguram direta ou md~retamente
0
mercado a milhares de empresas .subcontratistas. e de-
têm· a iniciativa dos projetos importantes e do d1ãlogo
' com os poderes públicos, .
Fato de não pequena significação,. qu~ ma:c~ este de-
( cênio, foi a ascensão do grupo industrial a pos1çao de ele·
ss

mento hegemónico do sistema nacional de poder. Duran-
te um quarto d~ século, a ~artlr do colapso do café, 0 po-
der central apoiou-se na aliança, sob a liderança de Var-
I Não deixa de ter interesse especular sobre as dife-
gas; d~ classe política (conglomerado de elementos repre- ·
sentativos de mteresses loc.ais e sociais) com as Forças
Arm.:'ldas, _que no Brasil tradicionalmente são um partido
político. ~rm g~. O equilibrio dessa aliança fez-se cada
vez mais precariO na medida em que Vargas (e ainda mais
seu su~e~sor ~ulart) procurou ganhar maior autonomia
de decisao apoiando-se nas massas desprivilegiadas... o
pro_c~sso aberto em 1964 levaria à deslocação da classe
· política (rel~ga~do-se a. s~gundo ou terceiro planos os in-
teresses :egionai~ e sociais q~e ·ela bem ou mal represen-
tav~) e a ascensa~ do grupo mdustrial com sua flamante
equipe de tecnocratas.
· As diferenças entre ci complexo industrial, tal qual
se apresenta nos an9s. 60, e as antigas indústrias comple-
. mentares do setor exportador, são demasiado evidente
.para qu~ nelas .insistanios. Já não pode haver dúvida de
que o sist~a mdu.:strial constitui hoje a espinha dorsal
da economia do pais. Se bem que as exportações conti- ·
nuem a esta~ formadas essencialmente de produtos agrí-
colas, a agricultura para operar depende fundamental-
~en~ de ins~os e !p-eios de transporte criados pela in-
dustri~ .. Esta e o pn~cipal fator determinante do nivel
das atiVIdades no terciano e a base dos impostos que ar-
r~e!ida o governo. Em síntese: a atividade industrial ·con-
diciona ? comp?~:nto global da economia e os investi-
mentos mdus!X~ais sao o canal por onde penetra o pro-
~sso ~ecnologiCo. :É portanto natural que as· atividades
fm~ceiras, antes organizadas em função do comércio ex-
teriO~, _passem a gravitar em tomo das atividades in-
dustriais ..
· •• A urbanização, que se Intensificou com a Industrialização
facil!t~~· o .contato de lideres politicas com as massas, Criando ~
P?SSlbil,ldade de uma fonte de poder Independente das bases tra-
dlCionrus. O periodo compreendido entre 1930 e 1964 está mar·
cado pela ascensão paralela do grupo Industrial e do poder cpo·
PUJ!sta>. Que os milltares ~jam arbitrado em favor do pri·
melrO compreende-se facilmente, ·pois a hegemonia do gru ln·
dustrlal representava a opção centralizadora e autoritária, po
.,
renças e similitudes existentes entre esse grupo industrial
e as burguesias nacionais que desempenharam papel fun-
damental na formação e desenvolvimento do capitalismo
industrial europeu. A1l diferenças são significativas e colit-.
provam a especificidade do capitalismo mdustrial que se
desenvolve no Brasil. Em primeiro lugar cabe assinalar a
composição heteróclita do grupo mdustrial brasileiro, no
qual se destacam, à primeira vista, três subgrupos per-
feitaménte definidos: um setor privado nacional formado
pelos. dirigentes de limitado número .de grandes. firmas
que sobrevivem com maior ou menor grau de autonomia
·e de um número considerável de pequenos empresá:i'ios;··
um poderoso setor privado estrcmgeiro, constituído de di- .
rigentes alienigenas e nacionais de filiais ou empresas
subsidiárias de consórcios internacionais; um outro setor
de importãncia crescente formado de quadros superiores
de empresas públicas, quase sempre originários da admi-
nistração civil ou militar. As atividades dirigidas por es-
ses três grupos tendem a ser mais complementares que
competitivas: as empresas controladas diretamente pe.Io
Estado têm a exclusividade de certas áreas e predominam
em atividades infr.a-estruturais ou criadoras de economias
externas, as quais requerem grandes imobilizações de ca-
pital e não são afetadas pelo progresso tecnológico liga-
do à constante inovação de modelos; o grupo privado na-
cional controla as atividades de construção, certas ma-
nufaturas tradicionais e opera amplamente como subcon-
tratista das grandes empresas estatais e das ligadas aos
grupos internacionais; estas últimas têm o controle qua-
se total das indústrias áe bens duráveis de consumo, qui-
mico-farmacêutica e equipamentos em geral, que em con-
junto formam o bloco em mais rápida expansão e onde
mais significativa é a penetração do progresso tecnológi-
co. Cabe acrescentar que existem empresas que são em•
preendimentos. conjuntos de outras integrantes de ·dóis .
ou mesmo dos três setores indicados e que é crescente o
número de quadros de direção com experiência e vincula-
ções igualmente variadas. ·
. · . Outro ponto 'importante a assinalar é que o complexo
industrial brasileiro comporta uma dup~a inserção: no sis-
35
: ·: tema económico interno e ·na economia capitalista ·Inter-
nacional. Como as empresas .que atuam nos setores mais
. dinâmicos são exatamente aquelas que apresentam essa
; dupla Inserção, os possíveis conflitos entre Interesses «ln-
.' '·temos» e «externos» tendem a ser transferidos. para o âm-
bito dos oligopólios Internacionais, sendo pouco visíveis
para o observador que se coloca do ângulo da economia
nacional. Assim, o apelo· .ao Estado como Instrumento de
luta coritra grupos «estrangeiros» só muito raramente se
configura. Em realidade, tende a predominar a ideologia
·de que estabelecer diferença entré empresas estrangeirl18
.e.ncicionaj8 é um anacronismo, pois O. que realmente ln-
. feressa é a «contribuição» de cada uma para o desenvol-
vimento do pais. Como a formação profissional, as fon-
tes de informação, os padrões de .consumo, em muitos ca-
sos a carreira, enfim o quadro cultural dos elementos
· dirigentes das empresas dos três setores Indicados tendem
a seguir os mesmos paradigmas, trata-se menos de emer-
gência ou consolidação de uma burguesia naoioliaZ. do que
dé implantação da nova burguesia Internacional ligada ao
capitalismo dos grandes conglo;merados transnacionais.
O traço mais significativo de aproximação com as
burguesias nacionais históricas estâ na preocupação de dar
legitimidade ao sistema de poder mediante a tradução·
em linguagem de objetivos nacionais dos Interesses do
grupo. O nacionalismo surge, assim, como inna · técnica
de legitimação e como um meio de consolidação da alian-
ça com as Forças·Armadas. Ocasionalmente esse naciona-
lismo terá que ser mais que simbólico, como no caso das
200 milhas marítimas e no das grandes obras de presti-
gio e integrQ{!ão nacional.
Cabe acrescentar que o grupo industrial tem demons-
trado uma considerável coesão. Tanto a criação de opor-
tunidades para os quadros nacionais como o apoio técni-
co e financeiro às empresas estatais em expansão se vêm
fazendo sem criar dificuldades ao controle crescente que
exercem as firmas Internacionais. Por outro lado, o cam-
po de entendimento com os militares é muito mais amplo
96
do que foi o caso quando o Interlocutor destes eram _os po-
liticos enfeudados a Interesses locais e/ou .sujeitos à ten-
tação pÇlpUlista de dirig!r-se às massas por ·cima das es-
truturas mediadoras" .
.'
A NOVA EsTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO
As medidas Introduzidas a partir de 1964 permitiram
restabelecer o eq~:~llibrlo do setor público e criaram condi- ·
ções para submeter a Inflação a controle. Ademais,. ar~ ·
maram.o governo para·exercer maior Iniciativa no .Pro-·
cesso de formàção de capital. Em 1968 o deficit do setor
público se reduzira a menos de 1 por cento do Pffi, ao
mesmo tempo qué a participação dos Investimentos do go-
verno nesse mesmo Pm recuperara o nível de 1956-1960.
Se se tem em conta que o crédito externo fora amplamen-
te restabelecido, e a autoridade do poder central ampliada
·pela presença muito mais direta dos militares nos postos-
chave da administração civil, infere-se que se haviam reu-
. nido condições para um ensaio de reformas estruturais
visando a eliminar os pontos tis estrangulamento respon-
sáveis pela perda de dinaniismo do sistema. O problema
fundamental consistia em criar condições para a retomada
do processo· de industrialização, a partir do complexo ln-
" As afinidades dos militares com o grupo IndUstrial ex·
plicam-se facilmente pela natureza hierãrqulca e autoritãrla dos
dois tipos de organização a que pertencem, assim como pela.
tendência a Zegitimar-Be no poder pela eficiência.. De resto, o
slsteUia Industrial pode transformar-se em Importante fonte de
emprego alternativo para os -militares que desejam Interromper
a carreira e mesmo para os que. a terminam. O contraste salta
à vista quando. se consideram as relações dos militares com a
oligarquia cafeeira na época da hegemonia desta, A ldelllogla
llberal·cosmopollta desta llltlma foi sempx:e Interpretada pelos
militares como uma renllncla ao exerc!clo efetivo do poder na·
clonai. Resta por solucionar o problema de· acomodar a con· .
cepção de poder nacional dos militares ·com o .crescente controle ·
externo dos centros de decls§.o que comandam ·O sistema ln·
dustriaL
97
 dustrial de que se dotarlJ, o país e que vinha sendo am.-
piamente sub-utilizado'• .
A estratégia seguida, relativamente simples, resume-
se nas seguintes linhas de ação: · lia massa total de salários tenderia a alcançar a do Pffi;
a) ·reorientação do 'processo de concentr,ação qa ri-
queza e da renda, de forma a que o mecanismo promotor
dessa concentração atue, não somente no sentido de favo-
recer a formação de capital fixo, mas também - e de
forma significativa -.- no de promover a amplfação do
. me:~:cado de consumidores de bens duráveis;
. b) redução da taxa do salário real básico com res-
'.peito ·à produtividade média· do sistema", de forma a re- '
duzir a diferença entre essa taxa de salário e o «custo de
oportunidade» do trabalho", e parte dos recursos assim li-
berados seria investida, sob orientação do governo, com o
fim específico de ampliar a capacidade criadora de em'
prego da economia; o aumento do salário familiar deveria
anular progressivamente os efeitos sociais mais negati-
vos da baixa do salário individual; uma prb;p.eira fase se-
ria de baixa absoluta do salário básico (salário mínimo
garantido pela legislação social), sem qlie necessariamente·
diminuísse na mesma proporção a massa total de salários
pagos; na segunda, o salário básico se estabilizaria e a
" Dados referentes a 1965 revelam que, mesmo se se con·
sidera ·apenas um turno de trabalho, a capacidade utilizada do·
conjunto da indústria de bens de capital excedia de pouco cin-
qüenta por cento. Cf. Werner Baer e· Andrea Maneschl, dm-
port-Substitution Stagnation and Structural Change. An Inter·
pretation of the Brazilian Case. The Jowrna! of Deve!oping
Areas, janeiro, 1971. .
" As estat!sticas oficiais indicam que o sa!ãrio minimo real
na Guanabara diminuiu, de 1964 a 1970, em média de 4 por cen-
to ao ano,. e que a produtividade média (renda per capita) cres- .
ceu com uma taxa aproximada de 3 por cento ao· ano. Desta.
forma, o custo do trabalho, em termos de sua própria produ·
tividade, declinou no perlodo referido em cerca de 60 por cento.
" O custo de oportunidade do trabalho, ou custo social, pode
ser m~dido pelo que prodliz um trabalhador no setor agrlcola
ou artesanal. Esse custo corresponde a· aproximadamente um
terço do sãlario minimo mais encargos sociais. Veja-se Edmar
L. Bascha, <El subempleo, e! costa social de la mano de obra
y la estrategia brasilefia de crescimiento>, E! Trimestre Econó·
mico, outubro-dezembro de 1971.
:}§. ..
massa total de salários cresceria,' ainda que inenos qti_e o
Pm; na terceira fase a ·taxa de salário poderia crescer
(menos que a produtividade média) e a taxa de aumento
o elemento diretor· seria a- política de emprego: regulado
o crescimento da !llass:r total dé salários, caberia decidir
entre a criação de emprego e a elevação do salário bási-
co; desta forma ter-se-ia conciliado· a po~tica de concen-
tração da renda com a de expansão da massa s<l.larial, me-
diante o controle da. transferência de mão-de-obra dos se-
tores desprivilegiados para aqueles protegidos pela legis-
lação social; dadas as características da economia brasi-
leira, onde existe um grande excedente estrutural de mão-
de-obra, a evolução da niassa salarial é função da inten-
sidade dessa transferência e do comportamento da taxa
de salário no setor protegido pela legislação social;
c) fomento, em particular mediante subsídios, à ex;
portação de produtos. industriais visando a aliviar os se-
tores produtivos que enfrentam insuficiências de deman-
da, de natureza conjuntural ou estrutural; as· insuficiên-
cias conjunturais manifestar-se-iam nas indústrias tradi-
cionais> afetadas pelo lento crescimento da massa sala-
rial; as insuficiências estruturais continuariam a manifes-
tar-se onde a tecnologia exige uma escala de produção
que supera as dimensões do mercado, mesmo tidas em
conta as modificações referidas no item a>· neste caso tor-
nar-se-ia necessária uma maior integração com o comér-
cio internacional, mediante o subsidiei à exportação e,
ocasionalmente, o abandono de certas linhas de produção.
A execução dessa política•• se fez mediante a utili-
zação de instrumentos já tradicionalmente utilizados no
Brasil: cambial, fiscal, crediticio, salarial. A inovação
principal esteve em que o instrumento cambial foi usado
•• Até que ponto essa estratégia foi totalmente definida no
governo Costa e ·snva ou jã estava, em alguns pontos, esboça·
da no governo Castelo Branco, é ponto controvertido. Em todo
caso, parece evidente que o primeiro governo militar foi mais ·
conservador, no sentido de que. contou mais com inn dinamismo
<espontâneo> da economia, fundado na iniciativa privada Interna
e particularmente externa, sempre que se criasse um clima
39
 com parcimónia e ótica distinta. No passado esse instru-
mento serviu principalmente para subsidiar. a fonnação
de capital fixo na indústria; na nova ótica a politica cam~
bial deveria ter como objetivo ·bãsico preservar a coerên-
cia entre os preços das importações, os custos das•expor-
tações e o poder de compra interno da moeda. Tratava-
se, em primeiro lugar, de evitar que a inflação erodisse.
a renda real do setor exportador, o qual, quer como fonte
de emprego, quer como elemento criador de capacidade
de pagamento no exterior (essencial ao setor industrial
de crescente dependência financeira vis-à-vis do exterior),
deveria merecer alta prioridade. Ademais, fez-se necessá-
rio evitar as bruscas flutuações de câmbio, que introdu-
zem um elemento de imprevisibilidade na contabilidade
das empresas internacionais, de importância crescente na
economia do pais. Cabe assinalar que a inflação continuou ·
a desempenhar papel bãsico, como autêntico instrumento
de politica. confonne veremos mais adiante.
A primeira linha de ação é, sem qualquer dúvida, a
fundamental. Como fazer crescer a demanda de bens du-
ráveis de consunio? Visto de outro ângulo: como utilizar
a capacidade de produção já instalada, captando econo- ·
mias de ·escala, elevando a eficiência marginal das inver-
sões, aumentando a taxa de lucro e ampliando os recursos
dispciniveis para a fonnação de capital? .Q primeiro cami-
nho ensaiado assumiu a fonna de um esforço· direto de
concentração da renda mediante arrocho salarial. Coin
.efeito : o salário minimo real, que no decênio anterior flu-
.tuara sem tendência definida à alta·ou à baixa, declinou
persistentemente em todos os anos 60. ·Esse processo te-
ria, evidentemente, que esgotar-se, quando mais não fos-
. se, em razão do já muito baixo nível de vida da popula-
ção brasileira. Se no triênio 1964-66 a taxa média de de-
clinio do salário minimo real na Guanabara foi de 6,5
por cento, no triênío seguinte essa taxa jâ se reduzira
favorãvel e se modernizassem certas lnstituiçlles. Dai a prio-
ridade dada ao combate à inflação, a qual deveria ser eliminada.
A prolongada depressão desacreditou esse tardio laisses-tairiamo
e abriu o caminho para uma doutrioa mais ctecnocrãtica>,:-que
atribui ao Estado um amplo ativ!smo •.
,, para 2,4 por cento•• . Era preciso levar _em conts; que a
compressão dos salá,rios teria repercussoes negativas ~o
mercado das indústrias de bens correntes de consumo .
'Em outras palavras: na medida em que a concentrjição
da renda se apoiasse na pauperização a~solut.a da popu-
lação, a retomada do processo de ind~trializaç~o enfren-
taria resistências criadas pela depressao predommante em
importantes segmentqs da atividade económica. A sol_?-
ção 'deveria ser buscada num processo de concentraç.ao
ãindmica vale dizer, na captação do fruto de efetivos m·
crementó's de produtividade. Para isso, entretanto, era
necessário que a economia retomasse a expansão graças
a um impulso autónomo da demanda.
Para que o impulso autónomo inici:ai desse orig~
a um processo cumulativo, era necess~10 qu~ o. c;rescl-
mento privilegiasse não apenas a minona proprietária dos
bens de capital e sim um grupo social mais amplo, capaz
de fonnar um mercado de bens duráveis áe consumo de
adequadas dimensões. ~ . sintese: ~a. segu_n~ metade
dos anos 60 o caminho utiliZado consistiU pnnc1palmente
em dinamiZ:Z.r a demanda da classe média alta, isto é, em
fazer com que a capacidade de c.ompra desse _gru~o crês-
cesse em tennos absolutos e relativos, o que f01 obtido me-
diante fonnas de financiamento, que implicavam em· sub-
sídios ao consumo, e transferências, para essa classe, de
titulas de. propriedade e de crédito que lhe ~ssegurav~
situação patrimonial mais sólida e a perspectiva de ~a1?r
renda futura. Foi assim possível obter uma ampliaçao
ponderável de certas faixas do co~sumo, na. direção .re-
querida, sem propriamente dar atras na politica salarial.
ao Para ·dados e fontes veja.se Andrea Maneschi, Aspectos
Quantitativos do Bet>or Público do BrasiZ de 1989 a 1968 (São
Paulo, 1970), p. 86. São desse .Importante estudo os dados re·
Jativos ao deficit do setor píiblico. . . .
• ·u o fndice de produção da 1ndíistria têXtil, que é represen·
tativa do setor de beris de consumo corrente, declinou de 193
para 151 entre 1964 e 1967 (base: 1949). ~os anos sub~eqüen·
tes houve uma recuperação, mas em 1970 amda não. haVIa sido
alcançado 0 nfvel de 1964. Ver Gonjwntura Econ6mwa, voL 25,
' n' 9, 1971, p. 89. ·
.) 41
t
 .-Em outras palavras: criaram-se privilégios para a fração
da classe média habilitada a gerar, a curto prazo, o tipo
de demanda que se pretendia dinamizar'".
' Observemos o processo de um· ângulo mais amplo.·
Ao iniciar-se o decênio 60, o Brasil se encontrava dotado
de um sistema industrial amplamente diversificado. Se
.·se põem de lado os beris não dl.!ráveis de consumo, cuja
prodl.!ção ·se desenvolvera em período anterior, constata-se
que a participação das importações no abastecimento do
mercado nacional declinara, entre 1949 ·e'1964, de 40 para
6 por cento. Durante esse período, a produção industrial
(sempre excluídos os bens não duráveis) cresceu 6,6 ·ve-
zes, enquanto o volume das importações se manteve esta-
cionário" . A· grande diversificação do sistema industrial,
assim como' a ampla margem de capacidade ociosa em
múltiplos setores, somente se explicam de maneira cabal
tendo em conta as elevadas barreiras protecionistas e os
polpudos subsídios concedidos para a instalação de éapi-
til.l fixo. Tais subsídios, reduzindo os·· custos reajs do ca-
pital, haviam induzido os empresários a inverter mesmo
onde a rentabilidade esperada er11- ínfima ou muito grande
o risco . Uma das conseqüências dessa politica foi levar
muitos empresários a adotar métodos que implicavam ele-
vada dotação de capital por operário, .o que possivelmente ·
explica o fato de a fudustrialização brasileira caracterizar-
se por uma baixa capacidade criadora de novos empregos,
quando comparada à de outros países". Alcançada essa si-
tuação, o sistema industriil.l brasileiro deveria estar em.
situação de continuar sua expansão apoiando-se no pro-
cesso de autofinanciamento, como qualquer economia in-
82 A cclasse média superior> a que nos referimos estã cons-
- titulda no· Brasil pelos 5 por cento da população de n!vel mais ·
alto de vida; a ·renda mensal familiar média desse grupo· se
aproximou de mil dólares em 197!). Os dados preliminares do
illtimo censo levam a crer que o poder de compra desse gru-
po cresceu com velocid!lde quase três vezes superior ao da mé-
dia da população.
. 8& Veja-se Joel Bergsman, Brazi!, Inà!Uitria!katlon ana Tr~~<-
ae PoUcies, Oxford Unlverslty Presa, 1970, p. 9Z. . descoberta das virtudes da correção monetária surgiu flnalmen·
" O artigo de Edmar L. Bascha citado na nota 28 apre-
senta uma série de dados sobre este ponto.
dustrial avançada. Esse alto financiamento, entretanto, . ·
somente seria possível se a indústria operasse a níveis ~­
tos de utilização da capacidade instaladíJ,. Ora, se· coexis-
tiam uma margem ampla de capacidade ociosa e .uma fo,:-
te pressão inflacionária, cabia deduzir que o si.stema nao
estava a);l_to a gerar o tipo de demanda requerida para 11.
utilização adequada de sua capacidade produtiva. Era na-
turil.l, portanto, que se procurasse a~ustar o perfil da de-·.
manda à. estrutura da oferta potenc1il.l.
A politica seguida visou a um triplo obje~ivo: · a) .neu-·.
tralizar os efeitos da inflação no que respeita.à poupan-
ça da classe médià; b) orientar o crêdito de forma apre-
miar os compradores de bens de consumo duráveis e não,
preferentemente os. seus produtores; c) organizar o ~er­
cado financeiro, inclusive forçando a abertura do cap1t;ll
das empresas, de forma a que a poupan~a da ?lasse média
pudesse ser transformada em títulos fmance1ros capazes
de gerar um fluxo de renda real, o quil.l permitiria am-
pliar de forma considerável a demanda de bens de con-
sumo duráveis, cuja elasticidade-renda marginal é sabida·
mente il.lta. .
A neutralização da inflação se fez mediante a inde-
xação de todos os títulos financeiros, inclusive os depó·
sitos bancários a prazo . l!: a: técnica da correção monetá-
ria que evita que o ato de endividar-se venha a transfor-
m~-se em nieio de apropriação de riqueza". Uma série
de modificações na estrutura do mercado de títulos fi~
nanceiros inclusive mediante a emissão pelo próprio go-
verno de 'tít'I.!Ws rea~áveis, viria permitir à classe mé-
dia não somente preservar o vil.lor reil.l de seus ativos, as-
segurando-se ao meSIIlo tempo um elevado grau de liqui-
.. A técnica da correção mon~ária ..nb " forma de !Iidexa-
ção de titulos desenvolveu-se desde começos dos anes 50 em
vários paises tais como a França, a Finlândia, o México, entre
outtos. No Brasil, os Interesses criados de grupos, particular-
.mente bancários, e .a ortodoxia monetarista que pretendia en•
trentar ·a Inflação com um ctratamento de choque~, dificulta·
ram por multo tempo a abordagem realista do problema. A
te como um subproduto do esforço visando a ampliar o merca•
do de bens duráveis de consumo.
 dez, mas também obter acesso a uma fonte adicional de
renda. Por outro lado, foram tomadas medidas 'tanto
para induzir as empresas a abrir o capital como para es-
timular as pessoas fisicas a modificar a estrutura do seu
patrlmônio mediante a aquisição de acões. A correção
anual do atlvo imobilizado das empresas foi tornjida com-
pulsória, abolindo-se ao mesmo tempo os impostos sobre
essa correção. Ademais, permitiu-se às empresas calcular
as cotas de depreciação, seja tomando por base a corre-
cão monetária do valor original do atlvo, seja baseando-se
no custo de reposição das Instalações e dos estoques. Em
condições de inflação, essas correções levam as empresas
a emissões periódicl!s de ações. As opções dadas às em-
presas para corrigir o ativo dão-lhes possibilidades de in-
corporar ao capital os frutos do progresso técnico. Com
efeito: se o progresso técnico é forte no ramo, ao utilizar
o valor original do ativo como base para o câlculo do fun-
do de depreciação, a empresa estará acumulando reservas
que a capacitam para ad9uirir equipamentos de muito
maior capacidade produtiva. Caso a tecnologia vise a
poupar mão-de-obra, o custo de reposição do equipamen-
to como critério de depreciação implica em que· a empresa;
· ao renovar os equipamentos, estará utilizando mais capi-
tal e menos mão-de-obra para prod~ir a mesma quanti-
dade de bens; neste caso haverá um ganho e)'etivo de ca-
pital (não tributado), porquanto a participação dos 'lucros
no valor adicionado pela empresa seguramente aumenta-.
rá. Desta forma, a politica fiscal orientou-se no sentido
de transformar o progresso técnico em fonte permanente
de ganhos de capital para as empresas, o que torná mais
atrativa a participação acionária nas mesmas. Por ou-
. tro lado, os juros e· dividendos passaram a gozar. de tra-
tamento fiscal privilegiado .
Estreitado o canal dos subsldios clássicos (de oi:igem
cambial ou crediticia) e oferecida à classe média oportu- .
nidades remunerativas de aplicações de sua poupança em
titulos reajustáveis do Tesouro,· do sistema hipotecário
ou de intermediãrios financiadores do consunio, a abertu-
ra de capital passou a. ser, para os grupos que controlam
as empresas, um requisito para continuar a ter ac~sso à. ·
44
poupança pública••. Como a venda de acões ao público,
adequadamente planejada, em nada compromete o ~n­
trole tradicional da empresa e, por outro lado, as facili-
dades fiscais, permitem a esta reavaliar um atlvo (muitas
vezes adquirido com amplos subsidios) em função de al-
tos custos de reposição, criou-se uma situação particular-
mente favorável às operações de bolsa, tanto mais que a .,' .
demanda de ações corihecia uma rápida ampliação graças
a uma série de medidas fiscais. A abertura de capital e a
cotação de ações em bolsa criou para certas empresas
uma situação privilegiada; as reavaliações de atlvo com
isenção fiscal abriram perspectivas de ganhos fáceis aos
primeiros tomadores de acões, originando-se uma corri-
da para a subscrição de todas as novas emissões••. O am-
biente especulativo e as altas cotações, sem qualquer re-
lação com perspectivas de dividendos a serem efetivamen-
te distribuídos, atrlliram uma massa considerável de re-
cursos para a bolsa, o que por seu lado induziu novas em-
presas a voltar-se para· esta como instrúmento de capta-
ção de recursos .. Criou-se, assim, um portafólio que abre
à alta classe .média a perspectiva de participação no flu-
xo de renda ·em mais rápida expansão, que são os lucros
industriais".
•• uma série de facllidades foram criadas para induzir as
empresas a abrir o capital. Ademais, as pessoas flsicas foram
autorizadas a deduzir 12 por cento do imposto de renda (mes·
· mo se este é pago na fonte) que são postos à disposição de ln··
termed!ários financeiros para que estes adquiram aç(les; até
maio de 1970, duas terças. partes dessas aç(les deviam provir.
de novas emissões; a partir dessa data essa exigência só se
aplica a uma terça parte.
\
• •• As altas também são provocadas pelos especuladores,
particularmente os bancos de mvestimento, que lideram o lan·
çamento de ações e dispõem de fundos de Investimento, aos
quais dão prioridade. Cria·se assim uma escassez artificial,. acar·
retando um auinento do preço das ações e inflando o valor dos
fundos. Ver Conjuntura Ec~mica, vol. 25 n• 9, p. 38.
· •• A aquisição de titulas financeiros dlretos, como as ações,
transforma-se cada vez mais em uma ativldade especializada,
realizada por empresas que se dedicam ao estudo do mercado
financeiro e .emitem tltulos lnd!retos que são adquiridos pelo pú·
blico. O desenvolvimento da intermediação financeira visa a
produzir esse tipo de t!tulo que; em razão de seu baixo coe·
 A forte demanda de açÕes (emitidas pór empresas di-
retamente produtivas ou por intermediários financeiros)
somente se explica, entretanto, se se tem em conta a po-
litica deliberada do governo visando a dotar uma ·parte
da classe média de um património de títulos financeiros.
A técnica dos 'Íineentivos fiscais foi amplamente utilizada
tanto para induzir as pessoas. com algulJ1a capacidade' de
poupança a inverter nesses títulos, como ..Para transferir
recursos da massa da população para a .mlnoria em con-
dições de adquirir tais títulos. Todo contribuinte do Im-
posto de Renda passou a ser, quase automaticamente, um
proprietário de títulos financeiros, pois a opção que se lhe
oferece, dentro de margem não insignificante, vem a ser
a seguinte: liquidar o seu débito para com Q 'Tesouro ou
dotar-se de um património constituído de tíl:ul.os de ren-
da fixa e/ou variável"; além disso, e dentro de{ margem
ficiente de risco e elevada liquidez, pode ser 4iJ.'igido .a:··uma am·
pla clientela sem qualquer conhecimento do me.rCado .de capi-
tais. As mesmas razões referidas na nota 35, que ·dWcwtaram·
uma abordagem realista do problema da Inflação, também atra-
saram no Brasil o desenvolvimento da !ntern1edlação financeira,
o que explica a rapidez do· seu crescimento na segunda metade
dos 60. Já não sendo possivel estabelecer uma diferença sig-
nificativa entre dinheiro (papel-maeda em ·poder ,do píiblico e
depósitos à vista) e quase'<llnhelro (depósitos a· prazo. e t!tulos
de alta liquidez), cabe admitir que a extraordinária expansão
da intermediação financeira ·constitui a manifestação de um
processo Inflacionário. Essa Intermediação cria liquidez a par--
.tir de depósitos bancários, da mesma forma que os bancos cO-
merciais criam liquidez a partir de dinheiro emitido pelo Banco
Central. Em um e outro casos, trata-se· de um multiplicador
de crédito. Ba~ 'assinalar que, entre 1964 e 1970, os ativos fi)
nanceiros não_ monetários, em poder do p(íblico, aumentara1J1.
.. com uma taxa anual de 37,5 por cento, enquanto o papel-moeda
se expandia com a taxà de 2,5 por cento e os depósitos ~ vista
com a taxa de 6,4 por cento. Em 1970, os ativos financeiros nlio
monetários já· representavam 38,9 por cento do total de ativos
financeiros, contra 11,6 por cento em 1964. Ver o Relatório do
Banco Central, 1970.
•• Além do valor das aç(les nomlriativas de. sociedades
an6n!lnas de capital aberto adquiridas, também os !nvestlmen·
tos em letras Imobiliárias e em obrigaçlSes do Tesouro Nacional
e tltulos da divida píibllca dos Estados e munlc!pios podem ser
. deduzidos da renda das pessoas f!sicas sujeitas a. Imposto de
Renda atê o montante total de 50 por cento dessa renda. Todos
não desprezível; receberá um premio toda vez que sua
poupança seja aplicada em titulo da mesma natureza. Em
prazo relativamente curto, essa política colocou à dispo-
sição de um estreito mercado de..ações uma massa ponde-
rável de recursos, o que explica a· deslocação desse mer-
cado e· o clima fantasista que nel!! passou a prevalecer.
\ Mas não dá lugar a dúvidas de que graças a essa política,
a desconcentração do património das empresas (resultan-
te da abertura do capital destas) não se limitou a benefi-
ciar o número .reduzido de pessoas de altas rendas que
já haviam ~cançado elevada capacidade de pqupança.
o
Como sistema económico brasileiro possui mecanis-
mos internos que provocam a concentração ·funcional da
renda· em beneficio do capitill, toda vez que entra em ex-
pansão, a linha divisória passa entre aqueles que· têm tí-
tulos de crédito sobre esse capital e os demais. Nessas
condições, o ·ato de poupar dá acesso a um privilégio, sem-
pre que a inflação não transfira o beneficio para aque-
les que controlam· as empresas. Neutralizados os _efeitos
da inflação neste setor, o privilégio réferido tende a au-
mentar com o nível da renda pessoal, porquanto este de-
termina a capacidade de poupança. O problema funda-
mental estava, portanto, em determinar; ao abrir-se o ca-
pital das empresas, quanta,s pessoas teriam c:Qreito a pas-
sar para o outro lado da linha divisória. Ora, graças· ao
sistema de prêmios, o número foi consideravelmente au-
mentado, o que não setia de importância desprezivel do
ponto de vista da' formação do mercado de bens de con-
sumo duráveis. Convém acrescentar que o dispor de um
esses titulos estão protegidos pela correção monetária. Os fa·
vores referidos na npta 3'11 adicionam-se a estes. O n(lmero -de
contribuinte~ ao Impbsto de Renda (pessoas . f!sicas) alcançou
1172 mil em 1969; se lie adic!Pnam .os dependentes, têm-se os
5 por cento da populaçlio do pais que constitui o mercado
efetivo de bens duráveis de consumo. l!l Interessante obsérvar
que a partlclpaçlio do Imposto de Renda na receita tributária
da Unilio, que foi de 33 por 'cento em 1965 (nivel idêntico ao
de 1961), deçllnou para 25 por eento em 1970. Com respeito ao
Pm, a parijc!paç!lo do Imposto de Renda declinou de 3,1 por
cento para 2,6 entre os dois anos referidos, não obstante o con·
siderável aumento relativo. da renda derivada do capital.
 patrlmônlo de titulas de alta liquidez significa ter acesso
ao crédito em condições bem mais favoráveis<•.
Levando ao. extremo a esquematização, a situação
poderia ser exposta da forma seguinte. O rápido processo
,. de acumulação, que permitiu instalar no pais um sistema
industrial altamente diversificado, também operou como
um mecanismo de considerável concentração da riqueza.
Ao subsidiar de múltiplas formas o investimento indus-
trial, e especialmente o que se fazia em equipamentos, o
Estado tendeu a agravar as tendências estruturais de toda
economia subdesenvolvida no sentido de lenta elevação da
taxa de salário no setor moderno e insuficiente criação
de emprego nos setores produtivos em que penetra a tec-
nologia moderna. Ao estender-se o processo de substitui-
ção de importações ao setor dos equipamentos - o que,
em face da eliminação de várias formas. derliubsídios, im-
plicava ha elevação dos preços relativos déStes- os cus-
tos reais de operação de multas indústrias teriam que au-
mentar, reduzindo-se necessariamente os seus respectivos
mercados. Se as indústrias contabilizassem os seus cus-
tos ignorando que a reposição dos ativos reais requeria
um esforço financeiro muito maior do. que fora necessário
para a instalação inicial - quando prevaleciam as múlti-
plas formas de subsidias - estariam na realidade trans-
ferindo para os seus consumidores os ganhos de capital
que haviam tornado passivei sua instalação. Ao cabp de
algum tempo o sistema entraria em crise, provocada por
.,
I
uma progressiva descapitalização. A alternativa era: con-
tabilizar custos a partir dos preços de reposição .dos equi-
pamentos e instalações, o que. significava ter que operar
a. um nível de custos muito mais altos; em muitos casos
isto significava reduzir a escala de produção, o que acar-
retava novas elevações de custos. Parecia evidente que o
.sistema de acumulação, ao. engendrar uma extrema con"
centração ·da riqueza e reduzir a criação de emprego -
em um pais de nível de salário básico extremamente bai· ·
. •• Os empréstimos das sociedades financeiras aos compra·
dores de bens de consumo durâveis alcancaram, em 1970, 9,1!
por, cento do total de empréstimos ao setor privado, igualando
os empréstimos dos órgãos de fomento ao desenvolvimento.
48
xo- se havia incapacitado para gerar o fluxo de deman-
da requerido para seu normal funcionamento. Trata:va-
se, portanto, de um desequillbrio estrutural, cuja solução
poderia ser buscada em uma das três direções principais
seguintes:
a) uma politica global de redistribuição da riqueza
e da renda, visando a realocar progressivamente os re-
cursos produtivos para obter uma constelação de bens fi-
nais e criar uma massa de emprego em função de cer-
to projeto social; esta opcão constituiria, evidentemente,
uma modificação de fundo com respeito à politica que pre-
valece tradicionalmente no pais e rião cabe discuti-Ia fora
de um contexto mais amplo de modificações importantes
no sistema de poder;
b) uma politica de renda visando a elevar relativa-
mente os salários superiores; esta politica encontraria, en-
tretanto, limitações, pois nem todas as empresas. estavam
em condições de absorver uma carga salarial muito maior,
sem· ter de enfrentar os problemas já referidos de ele-
vação de custos e preços relativos, · redução de escala de
produção, etc . ; no que respeita ao setor público, tal po-
litica poderia acarretar reducão da capacidade de inves-
timento, com repercussão negativa na criação de novos
empregos;
c) uma dinamizáção da demanda de bens duráveis
de consumo, mediante uma politica de concentração da
riqueza em beneficio da classe média alta, ou seja~ me-
diante a criação de um importante setor de seml-ren-
tistas.
A solução encontrada consistiu numa combinação das
opções b e c, com ênfase especial na segunda"'. Neutra-_.
. lizada a inflação, no que respeita à poupança da. classe •.
., Dadas as condições do mercado de trabalho brasUelro, ..
nas fases de expansão, os salários dos quadros médios e supe-
riores crescem mais Intensamente que a renda média da po-
pulaç!l.o. Essa tendência se agravou nos anos recentes, em ra·
zão da contenção do salário básico. As informações cllsponiveis
Indicam que o grau de concentração da renda do fator traba·
lho (iricluldos os salários dos grupos dirigentes) é pelo menos
tão acentuada quanto a renda do conjunto da população.
,.
média, posta à disposição desta crédito· abundante, e mo-
dificada a escalá de salários em. benefic.io dos grupos de
alta remuneração.., havia sido dado um primeiro impulso
ao mercado de bens de consumo duráveis. O crescimento
da demanda, numa fase em que os salários médios da mas-
sa operária estavam declinando, criou possibilidades ex-
. cepcionais de aumento da rentabilidade para certas em-
presas. Se se tem em conta que muitas indústrias partiam
de uma situação de margem ampla de capacidade ociosa,
infere-se que a expansão terá sido acompanhada de baixa
ponderável dos custos médios. Em certos casos essa baixa
de custos permitiu reduzir os preços de venda, relativa-
m.ente ao crescente poder de compra da classe média alta,
contribuindo assim para a ampliação do mercado. O im-
pulso inicial ter-se-la esgotado, entretanto, se os maiores
recursos da classe média tivessem de ser buscados em no-
vas e progressivas compressões do salário básico. Faz-se
necessário canalizar para os consumidores de bens du-
ráveis parte dos recursos criados pelo incremento de pro-
dutividade do conjunto do sistema econômiço, particular-
mente daqueles setores em que mais rapidamente pene-
tra o progresso técnico. O impórtante setor controlado
pelo Estado - atividades de rentabilidade garantida por
praticarem politica. de 'preços adrtl.inistrados. ou· gozarem
-de outros privilégios (petróleo, siderurgia, mineração, ge-
ração de energia, bancos ~fici.ais, · etc.) -.. também foi
utilizado como cadeia de transferência. de recursos em be-
neficio dos consumidores de· bens. duráveis. O problema
fundamental estava, portanto, na criação ·do mecanismo
de transferência de renda·em beneficio dos consumidores·
de bens duráveís de consumá. Somente assim seria assegu-
rado dinamismo ao setor industrial e aberto o caminho
à penetração do progFesso tecnológico e às economias de
escala. Foi para garantir que o grupo beneficiário alcan- ·
•• O aumento dps saláriO$ no setor pdbllco fez.se principal·
mente em .beneficio dos militares. Os gastos com salâr!os mill·
tares, que em 1961 representavam um quarto dos gasíQs dlre-
tos com pessoal do governo federal, em 1964-65 absorveram
mais de metade desses gastos. Cf. Centro de Estudos ·Fiscais,
o. Betor Público tia Economia Braolleira, Fundação Getdlio Var·•
gas, 1967.
50
çasse alguma importâD.cia relativa·- sem o que o im·
pulso inicial dificllmente se prolongaria - que o governo
pôs em prática a politica de distribuição de títulos de pro~
priedade mobiliária à massa de contribuintes do Imposto
de Renda. ,
O aumento dos gastos de consumo da alta classe mé·
dia teria, necessariamente, efeitos secundários no con-
junto da economia. Como o crescimento da demanda de
bens duráveis encontrava uma: oferta .elástica e custos
unitárioS em declinio, era natural que. o Pm aumentasse
1 rapidamente ·sem maiores tensões· estruturais. Caberia,
portanto, indagar por que se manteve intensa a pressão
inflacionária. A razão parece estar em que a inflação
continuou a oferecer,ao governo )llais vantagens que des•
vantagens, não lhe convindo dispensá-la como instrumen·
to de politica econômica. Conforme já assinalamos, uma
. adequl!,da combinação da elevação do nlvel de preços com
a correção monetária dos ativos financeiros permite pri-
vilegiar o setor ·da população com capacidade efetiva de
póupança e que pode. ser sujeito de crédito, ou seja o se-
tor que coilstitui o mercado dos bens duráveis, cuja de-
manda se pretende aumentar. Em contrapartida, a renda
real da massa da. população pode ser comprimida, libe-
rando-se recursos cuja aplicação fica, à disci'ição do go-
verno. Em· outras palilvras: mediante uma certa politica
de preços de .câmbio e de· crédito e o mecanismo da cor-
reção mo~tária pode-se orientar a inflaç~ - processo de
modificação na distribuição da .renda - de forma a que
os efeitos redistributivos não se façam de maneira caó- .·
tica e sim em função de objetivos predeterminados'".·
Outro ponto que merece atenção especial é o· da poli-
tica salarial. ·Constituiu o arrocho salarial uma condição
" Toda--cr!açlio' de meios de· pagaqtento provoca uma trans·
ferência de recursos em béneflcio dos agentes que pela prlmelra
vez os utlllzam. Os aceites cambiais que, em 1984, representa·
vam apenas 4 por cento dos atlvos financeiros (Inclusive mone-
tários) em poder do pdblico, em 1970 já contr!bulam com 13,6
·por Cento do total destes (lltlmos. Cabe, portanto, afh:mar. que
a reforma das lnstltulçlles financeiras constituiu um melo de
reorientar a lnflaçlio, colocando-a a serviço da ampllaçlo do
mercado de bens duráveis de consumo.
õ1

riecess4f:la para a retomada da expansão? lf:: de admitir •
que essa ·opin~ão haja prevalecido em certos circules, se
bem que os ré~onsáveis da politica econômica do primei~
ro governo militar pensavam mais em termos de controle
da inflação quê:;d~ retomada da expansão. O período de
forte redução ·do_ salário real, que se estende até 1966, é
também o de depressão da a:tividade industrial .. Mas não·
resta dúvida que a baixa dos salários trouxe uma. redu-
ção de custos de produção para certas empresas. Ao en-
cerrar-se a fase. -dos subsídios diretos para aquisição de
equipamentos, ftluitas empresas encontraram-se com sé-
rios _desequillbrios financeiros, dando-se conta tardiamen-
te dos elevados custos de repósição do capital. lf:: de ad-
mitir que a forte rebaixa da taxa de salário haja facili-
tado o saneamento financeiro de multas dessas empresas,
particularmente no setor de consumo popular, facilitando
fusões e 11: eliminação dos elementos financeiramente mais
débeis. Esses reajustes se fariam, entretanto, mesmo ·sem·
a redução da taxa de salário, não havendo base para afir-
mar que esta haja de alguma forma facilitado a retoma-
da da expansão. Problema distinto é o da retenção dos
salários· em condições d6 expansdo da economia, o que
permite canalizar o incremento da renda para os setores
da demanda que se deseja cresçam com mais intensidade:
o consumo de bens duráveis e o investimento público. A
retomada da expansão deveu-se à injeção de gastos au-
.tônomos, realizados pelo governo e péla classe média
alta... Que os salários hajam continuado a baixar, cons-
titui simples aspecto da politica social, sem qualquer vin-
culo com o mecanismo da expansão...
~ " O sistema financeiro habitacional se financia mediante
"Na medida em que a primeira expansão de gastos em
bens durâvels se apoiou na transferência de recursos (expanslio
de crédito e subs!dios do Estado), cabe considerâ-los como av-
tlln01lW8. Em fase ·subseqUente, a nova renda patrimonial e os
maiores salârlos da alta classe média darão origem a novos gas-
tos indumdos.
•• Uma Interpretação distinta deste ponto encontra-se no
Interessante estudo de M. c. Tavares e J. Serra, Mds allá deZ·
estancamiento: una disCII8i6n de! desarroZio reciente de Brasil,
Santiago, 1971. · · ·
5:8
..
-~
i
Independentemente da politica de arrocho salarial,
tende naturalmente a ampliar-se, na economia brasileira,
o diferencial entre o salário real e a produtividade do tra- ·
balho no setor moderno, toda vez que a economia entre
em expansão. Esse diferencial dá lugar a um incremento
relativo do excedente, que, se permanecesse em mãos da
reduzida classe de proprietários de bens de produção, cria-
ria problemas· de insuficiência de demanda efetiva e de
tendência à exportação _de capital. Dentro das novas con-
dições criadas, parte importante desses recursos es:tá sen-
do encaminhada 'para a alta classe média, dando origem
ao perfil de demanda que convém ao sistema industrial.
Contudo, se se leva demasiado longe essa política, a cria-
ção de novos empregos será insuficiente, agravando-se o
dualismo estrutural que existe na economia. Compreen-
de-se, portanto, que parte desse excedente prmaneça em
I
mãos . do Estado, a quem cabe assegurar que a criação
de novos empregos não desça abaixo de certa cota crítica.
A criação do sistema financeiro habitacional aparelhou o
Este.do para cumprir essa. tarefa48 •
Os bancos e outros intermediários financeiros cria-
dores de titulas de alta liquidez constituem o instrumento
de transferência de recursos dos agentes que poupam para .
os que estão aptos a utilizar a poupança. Em condições
de inflação, surge ao lado desse processo de transferências
normai8 um outro alimentado pela expropriação de re-
cursos aos assalariados e titulares de renda fixa. Arman-
do-se do sistema financeiro habitacional, o governo pôde
participar do duplo processo de captação de póupança Ze-
~ gftima e de recursos expropríados41 • Cabe, portanto, afir-
mar que a inflação desempenhou um papel importante,
a colocação de Letras Imoblllârlas reajustâvels, cuja compra
permite reduzir a renda tributâvel (ver nota 41) e com recur·
sos do Fundo de Garantia d,o Tempo de Serviço. Em 1970, este
sistema foi responsâvel por 14,3 por cento dos empréstimos e
i financiamentos ao setor privado. Contudo, jâ em 1971, sua ca-
I. pacidade para captar rectirsos parecia comprometida.
u O Fundo de Garantia de Tempo de Serviço, sendo tecni-
camente um complemento da folba de salârlos, pode ser con·
siderado como captação direta de exceden~. As Letras Imobl·
I
58
·r
 ·pois graças a ela foi possível aumentar o excedente que
alimentou a expansão dos investimentos públicos. Não
teria sido fácil levar adiante a política de redução. dos
salários reais sem a elevação do nivel geral de preços :
Como, em condições de rápida expansão do setor indus-
tri~, a t~dência à elevação dos salários monetários é
. inevitável, sem o que não se obteria a mobilidade reque-
rida, a inflação passa a ser_uma condição necessária para 1
que o excedente não se reduza em termos relativos, isto
é, para que o governo possa prosseguir com sua política
de criação de emprego. A alternativa à inflação é uma
complexa política de preços e rendas, cilja realização se-
ria administrativamente impraticável. Tratar-se-ia, ein
realidade, de ainnentar consideravelmente a pressão fis-
cal, seni perturbar o equilíbrio financeiro das empresas,
a fim de financiar o aumento· dos investimentos públicos,
e de conciliar essa política ·com a expansão relativa da
demanda de bens duráveis de consumo, A inflação orien"
tada é, serir lugar a dúvidas, um meio muito ·mais fácil
de alcançar o· mesmo objetivo e de fazê-lo aceitar pelos
grupos sociais cujo poder de compra· deverá declinar ou
estagnar. · retomasse seu curso.
O subsídio às eiqlortações de manufaturas constitui,
conforme indicamos, a terceira linha de ação seguida na
segunda. metade dos anos 60 cóm vistas a fomentar a ex-
pànsão das a~ividades económicas. l!i sabido que a indus-
trialização baseada na substituição de importações tende
a desqualificar as indústrias para a exportação. A subs-
tituição avança ·pela cota de elevação dos preços inter-
nos com respeito aos .dos produtos importados: No Brasil
a diferença entre os dois niyeis de preços foi seinpre con-
siderável- a barreira protecionista decoqente das dife-
renças de câmbio e das tarifas alcançando,· antes da re-.
forma de '1967, 100, 200, 300 pqr centó ou mais - em
razão de que, mesmo as indústrias com efetivas vantagens
comparativas (decorrentes dos preços internos das ma-
'
!!árias o são na medida em que constituem crlaçlio de tltulos
financeiros novos. Parte dos recursos do sistema vêm sendo
absorvidos pelo governo mediante a colocaçlio de ObrigaçOes
Reajástávels do 'l'esouro Nacional.
54
térias-primas e da .mão-de-obra) passaram a ser forte- .
mente protegidas a partir da introdução de controles
quantitativos das importações e de taxas de câmbio dife-
renciais . A essa situação se deve que a SJlbstituição · de
importações tenha sido levl).da tão longe e que ·o avanço
considerável da industrialização não haja capacitado ne.
nhum setor manufatureiro a penetrar nos mercados ex-·
teriores. Ora, o crescimento do setor industrial traduziu-
se. em encargos financeiros adicionais para a balança de
pagamentos . A política de incentivos cambiais, ·fiscais e
crediticios havia transformado em capital estrangeiro
uma massa considerável' de recursos formados no pais;
·e o controle dos setores mais dinâmicos da indústria por
grupos· estrangeiros transformara o mecanismo de con.
centração da renda num processo de desnacionalização da
riqueza gerada pela industrialização. Se se tem em con-
ta que as exportações tradicionais do pais enfrentam di-
ficuldades de inelasticidade de demanda e outras sobe-.
jamente conhecidas, depreende-se claramente que também
do lado da balança de pagamentos se impunham «refor-
mas estruturais» para que o processo de . Industrialização
A solução procurada consistiu num esforço inicial vi-
sando a aproximar os horizontes interno e externo dos
preços industriais, mediante uma ·redução çonsideréNel
da tarifa, o que foi feito ein 1967••. A partir dessa nova
situação foi. criado um sistema de incentivos às exporta-
ç'ões de l'il.anufaturas que implicam em subsídio da·ordem
de .40 por cento••. Em . tais condições, indústrias que
se confrontaram com mercados internos menos dinâmi-
cos. - como são as produtoras de bens de consumo cor-
rente - e que operavam com. capacidade ~ciosa:, encon-
trariam nas· exportações uma forma de reduzir os custos
médios, o que por seu lado poderia acarretar uma amplia-
ção do próprio mercado interno. A politica de obrigar
· •• Para uma estimativa da proteçlio efetiva dos distintos
grupos· da produção manufaturelra ·antes e depois da reforma ·
de 1967, veja·se Joel BEtrgsmán, obra citada, p. 42.
•• Cf. José E. Mlndlln, Orlentaçao diZ IndtlstrlG A .Blwpor-
taçao: Oontrlblliçao do Setor Prioodo 1110 BraaU, Cepa!, 1971.
55
as empresas Industriais controladas do ·estrangeiro a criar
divisas, pelo menos na mesma medida em que as absor-
vem em custos financeiros, vem sendo praticada em vã-
rios paises do Terceiro Mu.,do . Essa politica comf!l:a a
ser aceita pelos paises-sede das empresas internacionais.
Algumas vezes a decisão é tomada ao nível da empresa.
Já se observa, ·entretanto, a tendência à adoção do regime
de tratamento preferencial para as importações de ma-
nufaturas procedentes dos paises subdesenvolvidos, na li-
nha de recomendações da UNCTAD. Trata-se, em últi-
ma Instância, de permitir que as filiais das grandes em-
presas internacionais criem elas mesmas os meios de pa-
gamento Internacional de que necessitam para levar
adiante os seus planos de expansão. Como essas empre-
sas são o elemento mais dinâmico do capitalismo contem-
porâneo, compreende-se que os problemas que elas en-
frentam mereçam atenção prioritária das grandes nações
industriais. Assim, certas empresas automobilisticas eu-
ropéias estão importanto determinadas peças de suas fi-
liais em paises do Terceiro Mundo, a fim de assegurar-se
as transferências financeiras procedentes desses países . A
politica seguida pelo governo brasileiro neste terreno con·
ta com efetivas possibilidades de êxito, se bem que o acir-
ramento da concorrência internacional faça prever um
custo real crescente para as divisas obtidas mediante a
exportação de manufaturas.
-REQUISrl'OS PARA QUE SE MANTENHA A ExPANSÃO
O quadro que vimos de esboçar permite formular al-
gumas questões de ordem mais geral. Que condições ·são
requeridas para que o atual sistema brasileiro gere o seu
próprio crescimento? Em que difere o referido sistema
das formas correntes de economia capitalista? Que possi-
bilidades de generalização, com vistas à sua adoção por
outros paises, tem esse «modelo»?
A primeira condição .para que o sistema, com sua es-
trutura atual, se mantenha em expansão, é que a capaci-
56
dade de pagamento no exterior aumente com uma taxa
provavelmente superior à do Pm. Uma economia em que
o setor Industrial, cuja taxa de crescimento terá de ser
substancialmente superior à do Pm, apresenta custos fi-
nanceiros em divisas crescentes, düicilmente poderá fur-
tar-se a problemas de balança de pagamentos, que pres-
sionarão numa das três direções seguintes: a) criação de
capacidade de pagamento no exterior pelo próprio setor
Industrial, seja globalmente, seja ao nivel de empresas
internacionais operando individualmente ou mediante tran-
sações compensatórias entre duas ou mais delas; b). cres-
centes restrições administrativas a pagamentos no exte-
rior, o que teria de repercutir negativamente na entrada
de recursos e técnicas, acarretando perda de dinamismo
ao sistema e abrindo o caminho ao abandono da politica
global que vem sendo seguida; c) absorção progressiva
pelas empresas internacionais da capacidade de pagamen-
to no exterior, com asfixia de outros setores e redução da
taxa de crescimento. As situações -b e c não nos interes-
sam aqui diretamente. Admitiremos, portanto, que uma
solução do tipo a seja encontrada, sem o que a sobrevi-
vência do sistema não estará assegurada••.
A segunda condição é que o setor público, lncluidos
os investimentos na epnstrução habitacional, se mante-
nham em expansão. Cabe a esses Investimentos a tarefa
fundamental de criar novos empregos. Os investimentos
público~ continuam desempenhando as funções tradicio-
nais d~ integração da sociedade e da economia do pais,
de criação de economias externas às demais atividades
económicas, de construção da ·Infra-estrutura social, de
aperfeiçoamento do fator humano, etc. Dada a estrutura
atual do sistema, a essas funções veio adicionar-se uma
outra ainda mais fundamental: a de assegurar a geração
de um fluxo minimq de emprego, sem ·o que importantes
setores· da atividade produtiva permanecerão deprimidos.
Coloca-se, portanto, em primeir<;> plano o problema do fi-
•• Não se deve excluir completamente a hipótese de uma
retomada das exportações de produtos prlmârlos, como os mi·
nérlos e a carne, o que viria aliviar durante algum tempo a
pressão do lado da balança de pagamentos.
57
 nanciamento dos investimentos públicos, os· quais pude-
ram ser ampliados nos últimos anos graças a recursos ex-
ternõs; o .esgotamento da capacidade de endividamento
externo terá que traduzir-se em redução dos investimen-
tos públicos ou em awnento da carga fiscal e/ou maior
pressão inflacionária". Se os investimentos públicos man-
" As altas de crescimento que apres~ntam as estat!sticas
oficiais para o per!odo recente sõ podem ter explicação se se
admite um considerável aumento na relação produto-capital, ou
seja, uma utilização multo mais intensiva da capacidade pro-
dutiva existente. Se se tem em conta a capacidade ociosa que
existia, particularmente nas indústrias de bens de capital e de
bens de consumo duráveis, não· será para surpreender que tenha
havido um incremento substancial na referida relação produto·
capital. Tudo indica, entretanto, que o aumento do produto foi
utilizado para financiar a expansão de consumo de bens durâ·
veis, razão pela qual a taxa global de poupança não apresentou
modificação significativa . .No período 1964-1967, a taxa média
de crescimento anual do PIB foi de 3,9 por cento, enquanto a
taxa de investimento bruto (investimento bruto no PIB) alcan-
çou 15 por cento; no perlodo 1968-1969 a taxa de crescimento
anual teria sido de 9 por cento e a de investimento 17 por
centq. A baixa relação produto-ca pita! que se infere para o
primeiro periodo (0,26) confirma a existência de ampla ca·
pacidade ociosa, da mesma forma que a elevada relação do se-
gundo (0,53) indica uma forte pressão sobre a capacidade pro-
dutiva. Um aumento na relação produto-capital se traduz nor-
malmente em aumento na taxa de lucros e em maiores recursos
para a capitalização. Como Isso aparentemente não ocorreu (o
incremento de recursos foi utlllzado para expandir o consumo
de bens durávei,s), é de admitir que a taxa de crescimento ten-·
derá a decrescer, a menos que o Estado realize um conslc;jerá-
vel esforço para elevar a taxa de investimento. A · partir do
moment<> em que o crescimento dependa de efetlva criação de '
capacidade produtiva e não de utilização de capacidade sub-uti-
lizada, a relação produção-capital voltará a seu n!vel histórico,
que se situa em tomo de 0,36. Sendo assim, a taxa de cresci·
menta tenderá a situar-se em tomo de 6 por cento, sempre que
não surjam pr_oblen:ta~. 9.11.. inadeql!!!ç_ãQ. dº· perf!Ld!! _demanda.
Uma taxa· de crescimento dessa ordem requererá, multo provavel·
.m~-nte, um crescl.menJ_q alpc;!a .. mais lntJ!nso_ do yalQ~. reaL ga~
· exportaçlfes·: · No perl<ido riiá!S- receri'fe (1970-1971) é ·possivél
que se haja registrado elevação na taxa de investimento, quan-
do não seja em razão de uma maior entrada de recursos ex-
ternos. O deficit da conta corrente da balança de pagamentos
multipllcou11e por dois tant<> em 1970 como em 1971 o Se con·
servamos a relaçllo poupança Interna e externa de 1969, cabe
admitir que a taxa de Investimento teria passado de 16,7 para
58
I, têm wna adequada taxa de expansão, a massa total de
salários poderá crescer ainda que, no valor agregado da
produção industrial, o componente salários (excluidos os
dos quadros superiores) se mantenha em declinio. As-
sim, poderão ser neutralizados os efeitos depressi-vos da
concentração da renda no mercado das indústrias que tra-
balham para a massa da popuiação. Nas economias de
excedente estrutural de mão-de•obra, o awnento da massa
salarial tanto pode resultar do crescimento da taxa de
salário como da transferência de mão-de-obra do setor de
subsistência e/ou margmalizado para o setor salarial pro-
.f.· tegido pela legislação social. Do ponto de vista das indús-
trias que produzem para a massa da população é indife-
rente se o awnento do poder de compra vai para a mão
de wn. individuo, mediante elevação do salário deste, ou
para o grupo familiar amplo, mediante a redução do sub-
emprego. Quanto mais intensa for a concentração da ren-
da requerida para formar o mercado de· bens duráveis,
mais lento terá de ser o crescimento do salário ·básico
real, se concomitanl:Elmente se pretende liberar recursos
para a criação de novos empregos". ·
A terceira condição básica para que o sistema se
mantenha em expansão é que o seu setor de ponta -
o bloco de indústrias cilja demanda é direta ou indireta-
mente gerada pelos conswnidores de rendas altas - es-
teja em crescimento. A cónsideração deste ponto nos per-
(
I 18 2 entre este último ano e 1971. Contudo, deve-se ter em
cohia que o aumento do endividamento significa que parte cres·
I cente da poupança realizada no pais deverá ser desviada para
0 exterior sob a forma de remessa de dividendos e j~s. Para
os dados 'macroeconôm,icos vejam-se os dados atualiZIIdos das
contas nacionais, publicados pela Conjuntura Eoon6mlca de se-
tembro de 1971. .
•• o problema consiste em· conciliar três taxas de cresci·
mento: a) a do consumo de bens duráveis, b) a do salário básico
da população Integrada no setor moderno, Isto é, protegida pela
legiSláção de salário mlnlino, e c) a de criação de emprego no
referido setor moderno. A primeira taxa deverá alcançar um nl·
vel minlmo sem o que o setor <din!imico~ nllo poderá acom·
panhar o progresso tecnológico; a terceira taxa também deve
situar-se acima de uma cota mlnlma se se pretende evitar cres-
centes tenslles sociais o Desta forma, a segunda taxa tende a ser
utilizada como _elemento de ajustamento.
59
 ~!te abordar· a segunda questão que haviamos formula·
· do: ·em que difere das formas .correntes de economia ca-
pitalista o sistema que se está .implantando no Brasil?
Nas economias capitalistas industrializadas a demanda
de bens finais é fundamentalmente alimentada pelo flu-
xo de salários gerados no processo de .P~<idu_ção para .o
consumo e para a acumulação. Os salar10s mtegram-se
nos custos de produção. Assim, quando . se expB!lde a
produção, aumenta o seu .custo, crescendo a massa de
salários pagos. A penetração do progresso tecnológico
assume a forma de aumento na eficiência dos fatores,
ou seja de vaJ,orizal}ão dos fatores relativamente ao pro-
duto f1rial; em outras palavras: ~f produto. final cres<:_e
mais rapidamente que os seus· msumos, Isto -é, ·mrus
que os componentes reais de seus custos. ·A taxa tnédi~·
de salários que acompanha o aumento da produtivida'!e,
tende a cr~scer como decorrência da simples. penetraçao
do progresso tecnológico. Os lucros, na medida em q!le
são distribuídos, também alimen~ o fluxo de renda.di~­
ponível para consumo. Trata-s~, ~ntretanto, de c!lntrrbui-
ção marginal, pois o destino pnnc1pal dos lucros e alimen-
tar o processo acumulativo. J!: de conhecimento corrente
que se a taxa de expansão não alcança certo nlvel - e
aqul interferem múltiplas variáveis, po!s o sistema eco-
nómico interatua em uma dupla fronteira, externa (for-
mada por outras economias) e ~terna (constituída por
variáveis sociais, politicas e ecológicas) -.a renda que se
pretende poupar não· chega a transformar-se totalmente
em Inversão, o que tende a acarre!B: baixá do nivel de
atividade redução do fluxo de salanos, etc. ljlstes pro-
blemas ;obejamente conhecidos, põem em evidênc~a que
nenh~ sistema industrial caPitalista pode existir sem
mecanismos de coordenação,. centros :.de li!;!Cisão, capazes ·
de prever e ter em conta interferêhi:iliã 'originadas na
dupla-fronteira· referida. Mas, independentemente ·d~sa
necessidade de coordenação, destinada principalmente a
corrigir a tendência à instabilidade, esse tipo de sistem9;
económico possui automatismos internos que lhe assegu-
ram o funcionamento e a expansão. Com *ito: o anel
de feedback (expansão· da produção ~ expansão dos cus-
tos de produção ~ expansão da maSsa salarial ~ expan:
60
são -da renda dispon!vel para consumo ~ expansão ·da. de-
manda de bens finais ~ expansão da produção), consti-
tui caracterlstica fundamental da economia capitalista in-
dustrial desenvolvida••. Já observamos que na economia
Industrial subdesenvolvida - em que prevalece o exce-
dente estrutural de mão-de-obra que condiciona a taxa de
salârio no setor moderno -· o fluxo de salári()s gerado
pelo sisteina tende a ser insuficiente para que ·se forme
esse anel.
O «modelo:. brasileiro consiste essencialmente em
uma tentativa para restabelecer o anel mediante ação ·do
Estado, a quem cabe: a) assegurar que a demanda de
bens duráveis de consumo se expanda adequadamente, e
... i . b) promover a criação de um fluxo minimo de novos em-
i . pregos. O primeiro ponto significa que a renda deve con-
. · · centrar-se em benefício da classe média alta, que consti-
tui o mercado direto de bens duráveis de consumo e prin-
cipal mercado indireto das Indústrias produtoras de bens
intermédios. Em uma primeira fase esse objetivo pôde
.ser alcançado mediante a reorientação do crédito para o
consumo de bens duráveis e o alongamento da escala de
salário, ou seja, fazendo crescer os salários altos mais ln·
tensamente que a média dos salârios ..Contudo, a mais
longo pra,zo o êxito do sistema depende da transformação
dos assalariados de alto nível em titulares de rendas mis-
tas, ou seja, em semi-rentistas. Estan10s, assim, em face
de uma variante da economia capitalista em que é a pró-
pria remuneração do capital (ou a apropriação do exce-
dente) que alinlenta a demanda de bens finais originários
. das indústrias em que mais rápido é o progresso técnico.
Falta dizer que ainda se está longe de haver alcançado
· a articulação que, permitirá a formação do novo anel.
~Mas parece fol'a de dúvida que -o objetivo é criar um cca-
pjtiillsmo popular» em beneficio de uma minoria.
. ••· l!l bem sabido que a economia capitalista industrial so,
mente funciona regularmente se, aos gastos induzidos pelo flu-
xo de p!lgamentos efetuados aos fatores de produção, adicionam-
·se outros autó!Kim!Os que são da competência dos -empresãrios e
do governo ou. se orig!na'll no exterior. No texto faz-se refe-
rência ao f!qxo bãsico, que é a articulação entre os pagamentos
ao fato r trabalho e a demanda de· bens finais de consumo.
{ 61
1
..7
·~-
 Esgotado o impulso inicial gerado pela injeção de re-
.cursos derivados da reorientação do crédito, para que o
sistema funcione regularmente será neéessário que o go~
verno exerça vigilância sobre as empresas e as i,nduza .
a praticar uma politica de distribuição de dividendos con-
. dizente com os níveis de consumo, que deve alcançar .a
classe dos semi-rentistas. Este objetivo não é. fácil de
alcançar, pois as empresas de maior rentabilidade bus-
cam a linha do autofinanciamento e as filiais dos consór-.
cios internacionais resL~tem a abrir o capital e participam
de uma política de expansão e financiamento qu~ tr~s­
cende das circunstâncias locais . Contudo, as medidas f!S·
cais que induziram muitas empresas a abrir o capital e
.a captar poupança fora do sistema bancário poderão levá-
las a praticar uma politica mais liberal de divid:ndos";
Ademais os intermediários financeiros, quando poem em
circulado títulos de alta ligui~ez e reduzido risco, <;ri~
condições de maior concorrenc1a no mercad? de cap1.ta1~.
É de admitir que o complexo aparelho de mtermed!açao
financeira, c~iado no Brasil nos anos recentes"1 cumyr~
a tarefa de articular as empresas que se apropriam ·drre-
tamente do excedente com a minoria ampliada que cons-
titui o mercado de bens duráveis de consumo, a fim de
que este mantenha uma dimensão adequadà. No sistema
capitalista industrial desenvolvido, a eleva~ão de prod~­
tividade engendra expansão da massa salar1al; nas condi·
ções do subdesenvolvimento, o mesmo incremento de pro-
dutividade opera em· benefício dos proprietários· das em-
presas· na variante brasileira, pretende-se que, ao lado
do reduzido grupo que decide do co?trol~ das empresas,
surja uma faixa significativa de sen:1-renbstas, c?optados
de preferência na massa· de assalariados de níveis altos,
É de admitir que ci grupo de. empresas controladas pelo
Estado pratique lima politica de dividendos suficientemen-
" Essa liberalização pode ~er estritamente formal. Assim
as sociedades ·que abrem o capital .d~lxam de pagar o lm~osto
que Incide sobre a distribuição de d1V1dendos. · conta· que o. setor mais importante da classe empresarial
" Para uma apresentação critica do sistema de lntermedia'
cão. finaneeira do Brasil veja·se Maria da Conceieli(! ~avares,
N atureR~a e · OontradlQões do Desenvolvimento Finruíces.ro Re-
ceoil.te do Bras\! (mlmeografado), Rio, setembro de 1971.
6:8
te liberal para influenciar o mercado de capitais· se me-
didas adicionais são tomadas pelo governo visando a fa-
. zer as empresas cada vez mais dependentes, para expan-
dir-se, de emissões a serem subscritas em dinheiro e da co-
tação de suas ações na bolsa, é de esperar que o exemplo
das empresas estatais seja seguido. ·
A ampliação relativa e absoluta do mercado de bens
duráveis de consumo, articulada a uma politica de cria-
ção de emprego e de subsídios à exportação, responde
pela elevada taxa de expansão que· se observa no Brasil.
a partir de 1968. A continuidade dessa expansão. requer
o êxito de uma complexa politica que de longe supera os
limi~s da ação tradicional dos poderes públicos nos cam-
pos fiscal, crediticio e cambial. As dificuldades maiores
surgirão seguramente das duas frentes indicadas: a do
financiamento do setor público, inclusive construção e
a da canalização de parte dos lucros das empresas par~ a
I
minoria ampliada de consumidores de bens duráveis. A
I, capac~dade govez:namental ~e. criação de emprego foi fa-
vorecida pela balX!l dos salanos, ocorrida em todo o de-
cênio 60, e pelo endividamente externo. Como em uma
e outra dir~ções ?S rendimentos são decrescentes, os ·pro-
blemas de fmanc1amento colocar-se-ão· de forma cada vez
mais aguda. A isto deve-se acrescentar que a formação
da classe de semi-rentistas continua a el!:igir um esforço
fiscal paralelo . A pressão sobre o setor público somente
se reduzirá quando parte do excedente captado pelas em-
pressas comece efetivamente a ser drenado em benefício
da minoria ;unpliada.
. Q?ando o observam?s em conjunto, comprovamos que
o funcionamento desse s1stema depende essencialmente de
uma complexa ação do Estado. Por meios indiretos, e pro-
vavelmente sem o pretender, o Brasil afastou-se conside-
ravelmente-da economia de lai8sez-faire criando uma va-
riante de «capitalismo de Estado» que' requer para seu
funcionamento normal uma intima articulação entre a
classe empresarial e os poderes públicos. Se se tem em
também está ltlserido em consórcios Internacionais, Infere-
se que o sistema requer dos órgãos centrais de decisão
uma grande capacidade administrativa dentro de estrei-
63
 tas opcões politicas. Nenhum automatismo existe 'que as-
segure um nivel adequado de demanda de bens dúráveis
de consumo, pois a expansão mesma das empresàs tende a
· Induzi-las a reter os lucros para autoflnanciameilto. (Ve·
ja-se no anexo uma apresentacão esquemática da dinâmi-
ca do «modelo») .
As projeções desse tipo de desenvoivlmento no plano
social desbordam dos limites do presente estudo. Assina"
!aremos, apenas, ·que a cria!láo de um fluxo crescente de
emprego pelo Estado constitui seguramente um freio ao
processo de marginalizaçdo das populaeões urbanas. Se
o problema se limitasse· a uma op!lâo entre criar empre-
.gos novos ou elevar a taxa .de salário .de pessQ!!S já ple-
namente incorporadas à economia de mercado, pouc.a dú-
vida haveria de que a cria!láo de emprego representa a
política mais progressista. Com efeito: fora da absorcão
· do excedente de mão-de-obra, não tem sentido falar de
politica de desen:voZvimento. Ocorre, entretanto, que se
essa politica for levada adiante simultaneamente com ou-
tra visando a concentrar a renda em benefício da classe
média alta, o resultado último será uma distância cres-
cente entre os niveis de vida da massa e os da minoria
de consumidores de bens duráveis. Haverá uma distri-
búl!lão mais igualitária dentro dos 5 por cento mais
ricos e também uma distribulcão mais Igualitária dentro
dos 70 por cento mais pobres. Ademais, os 25 por
cento restantes (pequena classe média) vel'ão o seu
nivel. de vida declinar com respeito à média nacional,
ampliando-se o fosso considerável que já os separ~ da
classe média alta. Os recursos que continuam a ser
captados mediante a inflacão provêm principalmente
dessa massa Intermédia que suporta o peso principal do
esforco de financiamento da cria!llio de novos empregos.
O distanciamento entre a pequena classe média e a classe
média alta tomará cada vez mais difícil a jllobilidade a.S·
censional entre as duas. Deve-se ter em conta que,· al-
cancada certa massa critica de poder de compra pela ·ela$-·
se média alta, o problema de sua ~plia!lão relativa pas-
sa a ser secundâr~o do· ponto de vista·do funcionamento
do sistema. No Brasil, essa massa critica pode ser alcan-
çada a um nivel de renda per capita relativamente baixo,
graças à. dimensão demográfica do pais. Em contrapar-
tida, o f9sso que separa a minoria privilegiada da' peque-
na classe média é considerável e- tende a aprofundar-se.
Como essas diferenças se recortam sobre outras de caráter
regional, ós efeitos se multiplicam.
Po.sslitiLIDADE DE GENERAuzAÇÃO DO «MODELO»
o. eSforço para dotar paises de baixo nivel de renda
per ~ta de um setor industrial,.com um grau de diver-
sificação similar ao dos paises em que a acumulacão já
realizada (dotação média de capital por pessoa ocupada)
é .muitas vezes superior; tende a produzir um tipo parti-
, culal' de estrutura, que qualificamos de economia subde-
~envolvida industrializada. Assinalamos _que nesse tipo de
estrutura não se fgrmam os automatismos básicos que nas
economias capitalistas desenvolvidas articulam os proces-
sos de acumulação e produ!láo com a geração de um fluxo
de demanda capaz de Impulsionar o sistema. A insuficiên-
. ela do anel de feedback tundarnetrttal" é respansável pe-
,
" Chamam~s de ane! ele feedbac7f. tun'"ãium'snta! a lnteracAo
que existe entre o fluxo de salãrlos e o crescimento da produ·
tivldade do trabalho; trata-se, em última Instância, de mtera-
ção entre as forças sociais qlle disputam os Incrementos do
produto e o ·progresso tecnológico que é a causa última desses
incrementos. É uma caracterlstica da economia capitalista que
essa lnteração de forças sociais se realize ao n1vel de classes
ou grupos sociais amplos; graças a isso, a penetração do pro-
gresso tecnológico em um setor tende a beneficiar o conjunto
da classe· assalariada. Contudo, na prAtica, os setores em ~ue
aumenta· mais a produtividade. tendem a ocupar uma ~sição
de vanguarda na elevação da taxa de salãrlos; na medida em
que a reação nos demais setores se torna mais rãpida, surge
uma tendência· para que o salãrlo médio aumente mais que a
produtividade. Tradicionalmente, a existência de um coeficiente
de desemprego rei.<J.tlvamente .altQ serviu de freio· a essa ten·
· dência. A redução desse coeficient~ d""ante um perfodo pro-
longado, no pós-guerra, aumentou a rapidez, de lrradlaçAo dos
aumentos de salãrios, criando nas economias mais desPnvolvl·
das . uma tendência crônica à inflação. J!: provâvel que atual-
mente, ·nos Estados Unidos, para _que a taxa média de sa!Ario
65
. ·los' fenômenos de ·frenação de .cresciillento, tenqência à
estagnação, etc., que se apresentam em muitos paises sub-
desenvolvidos que avançam no processo de substituição
de importações. O chamado «modelo» brasileiro· cons-
titui uma tentativa de correção dessa insuficiência, me-
diante um esforço de adaptação da demanda à estrutura
da oferta -· crescimento mais rápido do poder de com-
pra dos consumidores· de bens duráveis - e uma ação
mais ampla do Estado na geração de empregos. Concen~
trando-se no condicionamento da demanda, .esse «modelo»
consente que a assimilação do progresso tecnológico -
intr.... dução de novos processos produtivos e de novos pro-
dutos - permaneça sob a direção dos consórcios interp.a-
cionais, o que permite conciliar as exigêncirui. imediatas
·do crescimento interno com as das relações externas (!e
dependência. Desta forma se acomodam, num sistema em
expansão, as formas.de desperdício que a ráp~da,renovação
de modelos e produtos engendra nas econo~mas' altamente·
desenvolvidas, cm~ o infraconsumo d~ grandes massas de
população, que é a marca essencial do subdesenvolvimento.
Que possibilidades de generalização existe para esse
«modelo»? Em outras palavras: até que ponto constitui
ele uma opção válida - um meio de alcançar uma taxa
alta'· de crescimento, ainda que a· elevado custo social-
para outros paises? li: esta uma questão pertinente, par-
ticularmente.no âmbito latino-americano, onde os fenôme-
nos de insuficiência dinâmica, para usar a linguagem de
Prebisch, se têm manifestado com freqüência. Impõe-!>e,
evidentemente, uma ~onsideração preliminar. A criação
de um mercado de bens de consumo duráveis capaz de
justificar a instalação de um parque industrial diversifi-
cado - condição sine qua non para que opere o modelo
- depende primordialmente de duas variáveis: a dimen~
são demográfica do país e sua renda per capita. Um pais
de menos de oito milhões de habitantes e uma renda per
capita de cerca de 2. 500 dólares, como a Suécia, comporta ·
n!ío aumente mais rãpldo que a produtividade média, o coeflclen·
te de desemprego deva ser de pelo menos 8 por cento da força
de trabalho. Pode-se, portanto, afirmar que também nesse pais
a inflação passou a ter um Importante aspecto estrutural. . dro tradicional de exportação de produtos prlmãr!os.
66
um sistema .industrial altamente diyersificado". Um paJs
de cem milhões de habitantes· e .cerca de ~00 dólares per
oopita, como o Brasil, também o comporta, pois se um/ '
' terço da renda total se concentra em mãos de 5 por
cento da populaçãó, a renda média de,ssa minoria co~-;
tuida de Cinco milhões de pessoas será da ordem de 2. 700
dólares. ) .
- Na América Latina, soJ/.~nte os três maiores paises
reúnem condições para dotar-se de um~complexo industrial
·similar ao. dos paises capitalistas desenvolvidos, sem que
as indústrias mais dinâmicas dependam desde o início -e
de· forma princil>al do mercado exterior. A busca Çle ·ca-
minhos distintos da parte de paises c:omo{o Pe~ e o Chile -
é ·menos do que se pensa uma opçao voluntária. Dadas
as dimensões respectivas de renda per capita e população,
. para que as minorias pirvilegiàdas desses paises possam
reproduzir os padrões de consumo dos países. industria-
lizados, faz-se necessária uma forte inserção no comérci!)
internacional. Se bem que o coeficiente de .é<fi>Ortações
do Chile e do Peru seja respectivamente mais de duas e ·
mais de três vezes superior ao do Brasil, o processo de
· substituição de importações enfrenta Ílificuldades crescen-
. tes nesses países, em razão das dimensões dos mercados
respectivos. Excluída a hipótese de aumento de inserção·
no. comércio internacion~J-1 mediante a exportação de pro-
dutos primários", cujas limitações a experiência· sobeja-
mente demonstrou, a saida parece estar numa industria-
lização ela mesma integrada nos p1ercados externos, ou .
seja, mais próxima do modelo de Hong-Kong que do bra-
sileiro. ·Fora. dessa" disjuntiva, apresenta-se a possibilida•
de de apoiar a industrialização em um outro perfil de de-
., Mesmo paises de menor populaÇão, CO!p-O a Sulça, podem
alcançar o mais alto grau de ~dustrlallzaçao, ocupando posl·
ç!lo de vanguarda na crlaç!lo tecnológica. Não se deve· perder .
de .vista, entretanto, que as dez maiores empresas sulcas rea·
llzam •em média. 75 por qento de seus negócios no exterior.
· " A pollt!Ca do Governo Frei, visando a dobrar as expor-
tações chilenas de cobre, constitui exemplo Interessante de um
esforço para retomar o processo de crescimento dentro do qua-
.1·
;' 6'1
1'
!
I

manda de produtos finais, ou seja, em uma outra ·definição
de prioridades sociais .
A lmpratlcabllldade de.adoção 'de um modelo na linha
Hong-Kong, as limitações dos mercados Internacionais de
produtos primários e a lentidão ou inviabilidade politica
dos ensaios de' integração regional, explicam as dificul-
dades crescentes com que . se deparou a industrialização
chilena, uma vez alcançado certo ponto na substituição
de Importações. A longa série de insucessos das tentatl·
vas de arrancar o pais à seml-estagnação econômlca· criou
condições para que cristalizasse em amplas camadas so·
clais o desejo de tentar uma modificação no sentido ou
na qualidade do processo de desenvolvimento. A simili-
tude dos programas de governo dos principais grupos que
disputam o poder constitui clara indicação da existência
de um amplo consenso em torno desse problema funda·
mental . A orientação recente da política chilena traduz
o propósito de colocar a acumulação de capital e a incoP-
poração do progresso tecnológico a serviço da satisfação
de um conjunto de necessidades de amplas massas da po-
pulação, estabelecidas de forma explicita, o que significa
afastar-se do atual sistema de industrialização com bege·
monia dos consórcios internacionais•• . Contudo, a tecno·
lógia. continuárá a ser fundamentalmente importada, sen-
•• A partir do momento em que se ordenam previamente
as necessidades sociais a satisfazer, o problema do desenvolvi·
menta deixa de ser o de maximizar uma taxa abstratà de· PIB,
para ser o de minimizar os custos sociais requeridos para
atingir os objetivos definidos. As comparações lntertemporais
de graus de desenvolvimento passam a ser feitas em termos de
Indicadores precisos: expectativa de vida, mortalidade Infantil,
alfabetização, tempo médio de vida escolar, Incidência negativa
de doenças mentais, atividade cultural, criatividade nas artes
e nas ciências, tempo de trabalho não pago (transporte, etc.),
qualidade e quantidade da habitação, tempo e qualidade do ócio,
. participação na vida politica, acesso à Informação, contatos com
populações estrangeiras, etc. As· comparações entre nfvels de
desenvolvimento de duas economias somente têm sentido na me.
dlda em que as duas sociedades adotam o mesmo sistema geral '
de valores ou na medida em que a comparação se restringe a
Indicadores que traauzem valores aceitos em eomum: expectatl·
va de vida, alfabetização, etc.
68
,
do fora de dúvida que novas formas de cooperação com
esses c.onsórcios virão a definir-se .
A experiência mexicana constitui, sob certos aspectos,
uma antecipação do «modelo» brasileiro. À diferença do
Brasil, pais de fronteira agrícola ;móvel co~ permanente
incorporação· de novas terras, coube ao México,. desde o
inicio de sua industrialização, enfrentar um problema de
escassez de terras aráveis. A necessidade de reconstrução,.
do setor-agrário, mediante a eliminação da velha estrutu- ·
ra latifundiária, e a mobilização de vultosos recursos de
origem estatal se Impôs de forma inlludivel. Essa mo-
dernização do setor agricola sob a égide do Estado e uma
evolução muito mais favorável da capacidade de paga- · ·
mentos no exterior -·- maior flexibilidade das eXPortações
tradicionais devido à sua diversificação e um considerável
crescimento do influxo de turistas após a Segunda Guerra
Mundial - modificam de forma significativa o quadro
mexicano com respeito ao brasileiro. O ponderável au-
mento da produtividade agricola, em condições de quase
I. estagnação da taxa de salário, e a evolução mhis favorável
da capacidade para Importar respondem pela reduzida
pressão inflaCionária; assim, a industrialização substitu-
. tiva de importações pôde ser levada adiante em condições
de relativa estabilidade. O mercado financeiro desenvol·
veu-se precocemente, o· que permitiu que a poupança da
classe média fosse· utilizada de forma reprodutiva e em
benefício desta. l!: necessário ter em conta que a Revolu-
ção Mexicana acarretou unia deslocação da velha oligarr
quia dirigente, permitindo a modernização do Estado e a
emergência de novos grupos· politicas já comprometidos
com o processo de industrializacão. Os dados de distribui-
ção de,.renda põem em evidência que a classe média foi
· efetivainente a grande beneficiária do processo de indus-
trialização. Por E>utro lado, a proximidade dos Estados
Unidos e a presença de lll'lla numerosa comunidade· ame-
ricana de negócios vem contribuindo para a adoção, pelas ·
empresas, de elevados padrões de remuneração dos qua-
dros superiores. Estes fatos, combinados com a inexistên-
cia de um sindicalismo independente e a ausência de ir-
rupções populistas,· permitiram que se formasse e conso-
69

lidasse uma considerável disparidade entre os salários da ·
classe média alta e os da massa da população. Assim, ine-
nos que um caso de «capitalis!TIO popular» de elite, o Mé-
xico é um país de. elite burocrática de elevados salários i
· Outro ponto Importante a ter em conta é que a polí-
tica do governo mexicano vis-à-vis das empresas pro~~t«;>­
ras de bens duráveis de consumo (quase sempre filiais
de consórcios internacionais) orientou-se no sentido de im-
pedir a formação de um diferencial significativo de ~re­
ços com respeito às importações. Os favores concedidos
assumiram a forma de facilidades creditícias e· de gar:an-
tia de càmbio para a Importação Cle insumos, evitando-se,
. contudo, forçar o processo de substituição de importa-
ções". inexistindo a aguda crise de capacidade para im-
pqrtar que conheceram outros países, os preços dos bens
duráveis de consumo não tiveram as fortes altas caracte-
rísticas do período anterior à substituição e da primeira
fase desta. A,ssim, as empresas não puderam drenar da
classe média os recursos adicionais que lhes permitiram
no. Brasil esgotar o processo de substituição de importa-
ções em período re)tJ.tivamente curto: Em contrapartida, o
mercado desses ben~ pôde formar-se com: maior regul,ari-
dade. As estatísticas'hlexicanas de .distribuição da. renda
indicam que, no período de rápida industrialização com-
preendido entre 1950 e a metade d<is .60, a classe mé~ia
alta - ou seja, o decil superior, excluído o 1 por cento
formado pelas pessoas mais ricas do país - teve sua par-
ticipação na renda elevada de 26,0 para 29,5 por cento.
Cabe referir que a renda média dos 10 por cento supe-
riores da população mexicana - cinco milhões de pessoas
- j á passa de dois mil dólares. Esses resultados foram
obtidos no México, graças a um forte aumento da produ-
tividad~ não somente industrial mas também agrícola, ao
. )
... to.•
•• A politica seguida no· México, no setor da !ndústria au-
tomobil!stica é caracteristica da dupla preocupacao de evitar
que as empresas aproveitem a proteção para elevar os preços;
e de articular as novas indústrias com as exportações. As em·
presas estão autorizadas a aumentar a produção (portanto a
usar divisas para os .insumos importados) se baixam os preços;
ademais devem compensar progres.sivamente peças !mportl!daS
com exportações originárias da indústria .
70
i)·
mesmt\tempo que os salários médios, .rdral como urbano,
se mantipham estacionários. No «modelo» mexicano, à
semelhança do brasileiro, a expansão do Pm im:plica em
crescimento do diferei)Cial entre as condições de vida \la
classe média alta e as da massa da população. Contudo,
esse resultado é obtido por meios diversos·. No México
a politica· de preços e salários, na fase decisiva de implan~
tação das indústrias de bens duráveis, operou em benefí-
cio dos consumidores desses bens, facilitando a modifica-
ção no perfil da demanda que a industrialização oi:-ientada · ·
pelos consórcios internacionais exige. Aàemais, q forte .
aumento da produtividade agrícola engendrou massa de·
recursos que pôde.ser utilizada para a ampliação do em-
prego urbano. A passividade sindical vem permitindo man-
ter e mesmo ·ampliar o referido diferencial de salários.
Deixando-se de lado o problema do financiamento dos in·
vestimentos públicos, que vêm dependendo de fOrma cres-
cente de r~cursos externos, e admitindo-se, que a capaci-
dade de pagamentos no exterior continue a crescer, o que
depende do êxito que venha· a ter a atúal Politica de fo.
niento às exportações de manufaturas, não há razão para
prever mudanças signifi~ti.Yas de tengência na industria~
'!ização mexicana. Contudo; a experiência a: partir de 1971
põe em evidência que os dois problemas referidos poderão
pôr em. xeque o desel!Y9!Yirnento m_exicano .
A experiência argentina afasta-se consideravelmente
tanto da brasileira como da mexical}a. t: sobejamente sa-
bido que· o ·desenvolvimento do país platino, a partir do
último quartel do século passado, se fez em condições de
oferta inelãstica de mão-de-obra, com apoio em forte flu-
xo imigratório de população européia. Não existe, des-
tarte, -nesse país, o excedente estrutural de mão-de-obra
que constitui traço fundamental das economias bras~ira
e mexícaná. O subdesenvolvimento é, na Argentina, mui-
' mais um fenômenQ.- dE!. dependb!IJ_ig,_
' .. -· ..
-
e.xt~. que de .4.u.!l·
•• com'o uma primeira aproximação, pode-se deflnir depen·
dência externa como a medida da Incapacidade de coordenar,
em funç!io de objet!vos nacionais próprios, as dec!s~s dos agen•
tes económicos que comandam a fucorporaçllo do progresso téc-
nico e a acumulaç!io, em raz!io da Inserção destes em grupos
extranacionals.
71

Zismo estruturaln. Não é nosso_p~pósito abordar a<J.!l,iJ>
problema da relação entre dependência e subdesenvol~­
mento.. J!:: óbvio que todas as econom!as nacionais sao,
em graus diversos, dependentes de ·decisoes tomadas no ex-
terior. Contudo, não se necessita multa ar~cla para dis-
tinguir entre decisões que afetam a. economia Internacio-
nal _e que refletem a interdependência .existente entre
as vãrlas economias nacionais em graus diversos.- e de-
cisões tomadas do exterior concernentes ao fUncionamen-
to Interno de uma economia. Assim, as relações entre fir-
mas Internacionais em escala m~dlal po~em _Induzir es-
tas a tomar decisões na Argentina que Impliquem num_
grande desperdício de recursos para esse pais, como n~~
riamente se reclinhece no caso da in~ústri~ autom?bills-
tica. o fato, por exemplo, _de que as firmas mtemaciOn~is
reduzam suas ativldades em 'uni. pais 11orque lhes convem
aumentar sua l!qtildez ou Intensificar ativldades noll:tra
parte, ou ainda porque não confiam no «clim~» ~olitico,
traduz a existência de uma situação de depend~cia, se o
governo do referido pais não dispõe de autonomii?- de de-
cisão para anular os efeitos negativos de_ssas medidas. Se
importantes setores estão sujeitos a esse tipo de percalço
(o que se traduz em relativa desarticulação do sistema
de decisões) a economia dependente tende a acumular
traso ~Iativo que deve ser considerado como uma
um. a
forma de subdesenvoI_vmien
. to•• · . e os do mercado Internacional. Não é nosso propósito dis-
A não existência de dualismo estrutural pode ser afe-
rida elo fato de que, na Argentina, a difen;nça entre a
pr<id~tivldade da mãó-de-obra nas zonas rurais e urbanas
é menor do <í.Ue em muitos __palses industrializados desen-
da um poUCO mais a anâllse, constata-se que.
•• Se se aprofun . d firmas constituem
as decisões to~ad~ ~':n:':~t~o~a~;::;.n p":odutos: cuja adoção.
o mecanismo e n concentração da renda. Se o pro-
tem como contrapartida a istências sociais, como ocor·
cesso de concentraçã~':n,~~tr:. ~ssibilidades de expansãt;> na
re na Arg!"ntlna, ~ firmas internacionais. Dai a tendência a
~~i~~:'~~ pais e cie~tinã-los a economias .mais · «ddnã·
miCas>. ...
'
volvidos•! .·· Dessa situação resulta que, comparativamente '
a estes últimos paises, o_ salârio .médio é elevado, relativa-
mente à produtividade no· s_etor industrial. A razão pri-
mâria ·dêssa amromalia parece estar em que a alta produ-
tividade da agricultura - derivada do uso extensivo dê
uma cons~elação de recursos naturais altiunente favorâvel,
no quadro das vantagens comparativas internacionais -
permitiu~,.desde o inicio, a exemplo do que 'ocorreu nos Es-
tados Ul),Idos, pagar salários altos, relativamente aos pai·
ses europeus de emigração . Graças a esses salários ele·
vados, o mercado ·interno se formou com rapidez, facili-."
tando a Industrialização, pelo menos enquanto esta assu-
miu a forma de um complemento da economia de expor-
tação. Tendo-se em conta esses elementos, compreende-se
que a Industrialização substitutiva haja assumido na Ar-
gentina formas distintas das que apresentou no Brasil e
no México. Dados os altos salârlos, a lndúst.ria, para avan-
ça!" apoiando-se na substituição de -importações, requeria
uma elevada proteção ou precisava alcançar elevada pro-
dutividade. Como a substituição de importações se fez,
à semelhança do ocorrido 110 Brasil, com grande diSpersão
de recursos, os custos industriais tenderam a ser eleva-
dos, com repercussão nos preços .relativos dos produtos In-
dustriais. A modificação nos termos do intercâmbio ln-
temo a favor do setor industrial permitiu que prosseguis-
se a .substituição de importações, mas abriu um fosso con- '
. --siderãvel entre o horizonte dos preços Industriais Internos
•• Se se toma como base a média da economia ·nacional, o
indice da' produtividade da mão-de-obra agrlcola argentina era,
em 1970, de 97,4. É interessante observar que o indice da pro·
dutividade do setor serviços foi de 84,4, donde se depreende que
a lenta crláção de emprego do setor industrial estã criando um
ezcedente estrutura! de mão-de-obra, que é absorvido pelo setor
serviços e não pela agricultura. Esse excedente estrutural apro-
\ xima-se mais, entretanto, do desemprego orllnico que estã sur-
gindo nos Estados Unidos do que do tlpico excedente estrutural
das economias brasileira e mexicana. Bastaria ter em conta,
por exemplo, que a produtividade média na agricultura brasi·
leira, em 1970, correspondeu a 42,7 por cento da. média nacional.
(Para os dados veja-se CEPAL, Tendencias !J estructuras d.e la
economfa "la-tinoamericana, 1971, Quadro 15).
73
'
cutir as alternativas que se abriam à Argentina na fase
em que a intensificação do: processo de indústrialização se
tornara condição necessária de seu desenvolvimento. Cabe
apenas recordar que as condições da oferta interna (a par·
tir do momento em que se completa a ocupação 'da pam·
pa úmida) e as da demanda internacional (a partir da
cdse de 1929) modificam-se nesse pais simultaneamente, ·
multiplicando-se os seus efeitos ne~~tivos. ~ perd~ de d!·
namismo do setor exportador tradiciOnal ex1gm a mtensl·
ficação do processo de industrialização; ora, dada a ausên"
cia de excedente estrutural de mão-de-obra, não era fá,cil
evitar que o maior esforço de industrialização tiyesse ~e·
percussões negativas no setor exportador, reduzmdo am·
da mais â capacidade competitiva deste. A verdade é que
a economia tendeu a enfrentar ·uma insuficiência crôliica
de•capacidade de importar, declinando esta tanto em ter·
mos relativos como absolutos. Esta situação, por seu lado,
faria com que a substituição de importações fosse levada
a extremos, com novas repercussões negativas nos custos
industriais.
. Que exemplaridade te~ para .a Arge_ntina a e::'Periên·
cia recente do Brasil? O sistema mdustr1al argentmo pos·
sui elevado grau de integração e a substituição de impor·
tações de bens de consumo duráveis foi levada aos mesmos
extremos que no Brasil. •Dado o nível relativamente ele·
vado da renda per capita (2,5 vezes a do Brasil), os 20
por cento mais ricos da população - cerc:a de cinco
milhões de pessoas - auferem uma renda médi.a da or·
dem de 2. 500 dólares. A diferença com respeito ao Brasil
e ao México não está pr.opriamente na dimensão do nier-
cado de bens de consumo duráveis e sim na falta de dina·
mismo do sistema. Ora, o dinamismo brasileiro e mexica·
no deriva de que, por meios diversos, os incrementos de
produtividade do conjunto da economia. são ca;ta_lizados
em benefício de uma minoria da populaçao. É fac1l com·
preender que, se a produtividade média da mão-de-obra
está crescendo a 2 por cento ao ano e a metada do J?·
creinento de produtividade é destinado a aumentar o po·
der de compra de um décimo da população, o mercado
de bens de consumo duráveis, cUja demanda é elástica, es·
tará crescendo com ·uma taxa superior a :1;0 por cento.
"14
Ora, essa politica de salários estagnados - em declínio
com respeito à renda per capita - só não terá efeitos
depressiv9s sobre a economia se se conciliar com um au-
mento da massa salarial. Assim, no México, no decênio
40, a produtividade média da mão-de-obra aumentou com
taxa· superior a 3 por cento ao ano, enquanto o salârio .
médio· agrícola diminuía nesse decênio de 11 por cento
é o salário médio urbano de 6 por cento. Não obstante
essa baixa nas taxas de salário, a massa total de salá•
rios pagos cresceu consideravelmente, pois houve uma
transferência importante de gente do campo para as ci·
dades' e. o Salário médio urbano era mais de cinco vezes
superior. ao rural. Em realidade, como resultado das mo·
· dificações na estrutura de emprego rural-urbana, o salário
médio do país cresceu em 30 por cento. Dessa forma,
foi possível conciliar uma expansão do mercado de bens
de consuino corrente com uma forte concentração da ren·
da. A situação no Brasil é similar: se o emprego urbano
aumenta mais q11e a população em idade de trabalhar, faz.
se possível conciliar a baixa'do salário médio urbano com
uma expansão da massa total de salários, liberando-se o
incremento da prod;utividade no setor industrial para a
acumulação e a ampliação do mercado de bens duráveis
de consumo. Na medida em que este último mercado seja
suficientemente grande para justificar economias de es·
cala, estarão reunidas as condições para que· se forme a
economia industrial subdesenvolvida. Que o México e o
Brasil hajam utilizado caminhos distintos para chegar ao
mesmo ponto, deve~se estritamente a circunstàncias his·
tóricas. Não existindo um excedente estrutural de mão·
de-obra, mais ainda, sendo o diferencial de salários rural·
urbano insignificante, as modificações na estrutura do em·
prega serãe de pequeno alcance e não poderão constituir
fonte importante de recursos para alimentar os investi·
mentos públicos ou para concentrar a renda em beneficio
dos consumidores dos bens de consumo duráveis. O pro·
cesso de concentração da renda que se observa na Argen·
tina na segunda metade dos anos 50 - a participação do
decil superior $Ubiu de 37 por cento em 1953 a 42,3 por
;
l
cento em 1959 - está seguramente ligado à evolução do
quadro politico. Mas não haverá dúvida de que permitiu
t ' '15
IL
 que se acelerasse a substituição de importações no setor
dos bens duráveis de consumo, abrindo maiores possibili-
dades às economias de escala. Contudo, resistências cres-
centes logo se fizeram sentir, assinalando-se -mudança de
tendência já no começo dos anos 60. Não se deve esque-
cer que, à diferença ao Méxic;o e do Brasil, a Argenuna
possui sólidas e experimentadas organizaçoes sindicais.
.!!.'m sintese: o «moaelo» brasileiro não é p1•opriamente
apticáv.e~, à Argentina, em razao aa grande airerença na .
estrutura de emprego e salários, e tampoi.\CO parece má-
vet, dada a compos1çáo das torças que conaicionam o SIS-
tema de poder.
O processo argentino é certamente tãó complexo
como o que mais o seja, o que torna extremamente amei!
qualquer tentativa mesmo ae simples iaentu'icação de ten- .
aenc1as. Parece, entretanto, eviaente, que o s1stemã in-
dustrial argentino requer um considerável esrorço ae re-
construção. Não é aemais repetir que a industna auto-
mobiliStlCa argentina, cuja proaução corresponae a cerca·
ae lU por cento da italiana, oterece ma1or numero at!
·modelos que a de qualquer pais grande produtor. A tru
aberração não é . totrumente estranha a extraoramána
concentração da renaa que se observa aentro ao escruao
superior aa população. Não deixa ae ser s1gntticativo,
por exemplo, que, náo obstante a renda per ca1nw seJa
quase o auplo aa do México, o 1 por cento mais rico tem ,
uma participação maior que neste último pais. t,!uanao.
observamos mais de perto os 20 por cento aa populaçào
· de nivel de renda mais alto, ou seja, o grupo que consti-
tui efetivamente o mercado de bens duraveis de consumo,
constatamos que a quarta parte superior desfruta· de. uma
renda per capita. que é mais de dez vezes mais alta que a
metade inferior. ESte fato não é alheio à extrema diver-
sificação do.mercado de bens duráveis, o que·Jimita o aces-
so às economias de escala e repercute nos custos indus-
triais. Uma comparação internacional com países indus-
trializados põe em evidência que os salários argentinos
são elevados relativamente à produtividade, e que a renda
do grupo que constitui o mercado de bens duráveis de
76
consumo Í! excepcionalmente concentrada". A reconstru-
!:ão industrial não é independente, portanto, de uma poli-
tica geral de rendas, que exige uma mobiliza!:ão de for-
ças e um mínimo de consenso social que têm faltado à Ar-
gentina nos últimos decênios.
A economia industrial subdesenvolvida não constitui.
uma fase que tende a ser necessariamente superada em
prazo maior ou menor. O funcionamento desse sistema
requer a preservação de certas estruturas sociais, sem as
quais nã.o se daria o processo de reprodução de .padrões
de consumo, cujo transplante- é condição mne qua ?ron
para que prossiga !l. industrialização tal qual esta se está
realizando . Assim, desenvolvimento passa a ser definido
em. termos de aproximação de um paradigma que, por
definição, ·é inalcançável, porquanto em transformação
cada vez mais rápida. A experiência já demonstrou que,
se se aumenta o esforço para andar mais rápido e redu-
zir a distância do alvo perseguido, a deformação estrutu-
ral se· acentua, pois uma acumulação mais intensa em be-
neficio de umâ" parte da população amplia o fosso que
existe entre as condições de vida da minoria beneficiada
e as da massa, fosso que é a essência mesma do subde-
senvolvimento. Cabe inferir, portanto, que a melhoria
efetiva das condições de vida da massa da população dos
países do Terceiro Mundo, particularmente dos de grande
dimensão demográfica, somente será alcançilda Iior ou-
tros caminhos. A fndia nunca será uma Suécia de- um bi-
lhão de hab_itantes, nem o Brasil uma reprodução dosEs-
tados Unidos.
A conclusão do parágrafo anterior Impõe-se ainda
mais cabalmente quando se tem em conta a óbvia tendên-
cia à\ elevação dos custos sociais do desenvolvimento nos
países capitalistas avançados, tanto em termos de destrui-
ção do meio· físico como no de geração de tensões psicos-
'" se bem que a renda média corresponda na Argentina a
aproximadamente 55 por cento da do Reino Unido, alrenda mé-
dia dos 5 por cento mais rtcos -da popula~ão argentina alcança
90 por cento da dos 5 por cento mais ricos da. popula~ão ln·
glesa. Veja-se CEPAL, Estuàio sobre la .Di8tribuci6n àel ln·
greso en América Latina, 1967. ·
77
sociais . Assim, os frutos da acumula~:ão serão decres- ação politica grupos e elementos sociais particUlarmente
centes em termos do que convencionalmente se chama. de- dotados para o trabalho inventhro . A contestação do pa-
senvolvimento. Quantidades crescentes .de recursos serão radignla terá necessal'iamente repercussões nos países que
absorvidas simplesmente. para preservar o meio e para se esgotam na corrida imitativa de modelos que ·tendem
compensar o crescente desgaste psicológico que impõem de forma cada vez mais rápida à obSolescência. É de ad-
à popula~:ão as longas deslocações cotidianas, entre os lo- mitir que o desenvolvimentismo mimético das classes di-
cais de trabalho e de residência, e o condicionamento à rigentes dos países subdesenvolvidos entre em crise a par-
práticl!. do consumismo. Nesta fase de custos sociais cres- tir do momento em que o paradigma perca legitimidade e
centes e tensões psicossociais agudas, surge toda uma pro- · engendre elementos de autodescrédito. Não é nossa in-
blemática nova, cuja abordagem parece requerer uma reo- tenção abordar aqui o problema das possíveis ·opções que
rientação a fumlo do• próprio progresso tecnológico. A se apresentarão aos países subdesenvolvidos em face des-
semelhança' das civilizações antigas em que, a partir de sa crise. ·Pode-se dar por certo; entretanto, que o ponto
certo grau de acumulação, todo o excedente de c~pacidade de partida para superar a crise está ría .aplicação do po-
de trabalho era. absorvido na simples manutenção dos tencial produtivo da civilização industrial à satisf~;~ção das
monumentos, da infra-estrutura e da~ instalações de de· autênticas necessidades do homem, ou seja, num esforço
fesa, o mundo capitalista industrial parece tender a uma para elevá-lo da condição infra-humana em que se encon-
situação em .que o atrito em suas fronteiras ecológica e tra grande parte da população desses países ..
psicossocial absorve uma parcela crescente da capacidade
criadora que está na base do atual processo de desenvpl-
vimento".
. O esquema que vimos de esboçar dá ênfase, eviden-
temente, às atuais tendências estruturais, sem ter em de·
vida conta que o homem aprmuie pela experiência e que \
em todo sistema social em crise o horizonte de epções
tende a amPliar-se, emergindo combinações imprevisíveis
de forças sociais que podem dar origem a novos anéis de
feeliback que significam autênticas modificações qualita·
tivas do sistema em seu conjimto. Uma dessas novas· com-
binações de forças parece estar na base do atual debate
em torno do sentido do desenvolvi'l'f!8'/!to e da qualidade da
vida produzida pelo atual sistema industrial. Esse debate,
que se amplia dia a dia nos atuais centros criadores das
modernas formas de consumo, está facilitando a emergên·
cia de novas for~:as politicas e atraindo para o· campo da

•• A observação pode ser Igualmente estendida ao mtindo

industrial socialista, cada vez mais caudatãrio do mundo capi·
talista no que r:espeita à criação de padrões de consumo. O
progresso tecnológiéo, particularmente no que respeita à Introdu·
ção de novos produtos, continua a ser um campo em que a
preeminência das economias capitalistas. é inconteste.

78 79

ANEXO
A Dinftmica do"Modelo" Brasileiro
SEM ENTRAR em detalhes sobre a estrutilra da eco·
nomia brasileira tal qual esta se definiu na fase avançada
da substituição de importações, ou seja, nos anos 50, pode·
se admitir como certo que, sendo «normais» · a produção
agricola, os termos do intercâmbio e o nivel de gastos pú·
blicos, não existem obst;áculos do lado da oferta para que
seja alcançada uma taxa de crescimento relativamente
alta . A experiência dos últimos dois decênios indica que
essa taxa se situa em torno de. 6 por cento, sendo qi.te o
limite inferior de sU.as flutuações se confunde com a taxa
de crescimento demográfico (cerca de 3 por cento) e o
limite superior é três vezes mais alto (10 por cento em
1960-61 e 9 por cento em 1968-69). Assim, se se tem em
conta a aptidão do sistema para gerar poupança e a pro·
dutividade média dos investimentos nas condições espe·
cificas do país, chega-se à conclusão de que uma taxa
em torno de 6 por cento traduz as relações estruturais bâ·
80
sicas. As ·elevadas taxas observadas nos anos referidos
estão ligadas a uma intensificação da entrada de recursos
e~ernos e a fatores excepcionalmente favoráveis, como
SeJam a passagem de um mau ano agricola para um bom
ou a utilização de um bloco de capacidade industrial (in·
dústria automobilística, siderúrgica, etc. ) instalado em
periodo imediatamente anterior, ou ainda utilização de
capacidade ociosa;. Como utna melhor utilização da capa-
cidade instalada significa maiores lucros e tende a atrair
um maior fluxo de recursos externos, os dois fatores po-
dem conjugar-se produzindo taxas excepcionalmente altas
de cres'cimento, conforme ocorreu · no periodo recente.
Deve-se ter em conta, entretanto, que as flutuações na
tàxa de crescimento do Pm, observadas nos anos 60, não
foram acompanhadas de alterações similares na taxa de
poupança e investimento, concentrando-se os seus efeitos
na relação produto-capital (P/K)".
Com efeito, o valor desse quociente dobrou entre
1964-67 e 1968-69, aci passo que a taxa de inversão (S/P)
cresceu moderadamente. Esses dados põem em evidência
que o crescimento da capacidade produtiva tem sido mui-
to mais regular que ·o .do Pm, sendo portanto equivoco
imaginar que uma maior estabilidade na taxa de cresci-
mento deste traga necessariamente uma elevação signi·
ficativa dessa taxa a· prazo longo. Para que isso ocorra
é necessârio que a maior regularidade da taxa de cresci~.
mento dei Pm seja acompanhada de aumento na taxa de
poupança e investimento. ·
· O quadrei estrutural que vimos de identificar não as-
segura, entretanto, que as possibilidades de expansão se·
jam efetivlllflente aproveitadas. Pelo contrário: existe al·
guma evidência de que o sistema tende a sub-utilizar sua
capacidade produtiva, sendo incapaz de gerar espontanea-
men~ o perfil· de demanda requerido para autodinamizar·
•• Lirnltamo·nos a utilizar a relação média produto-capital
em razão do sentido equivoco que passa a ter a relação incre-
mental toda vez que se intensifica o grau de utillzaç!lo da ca-
J\acldade produtiva; esta última relação atribui aos novos inves-
timentos o aumento do produto engendrado pela utillzação mais
intensiva de equipamentos jã existentes. .
Pt
 se. l!: na solu!;ão buscada a este último problema que
está o traço característico do chamado «modelo» brasi-
leiro. · sua causa. Alcançado certo teto estabelecido por um con-
Nesse «modelo» a taxa de crescimento do Pm é es-
sencialmente determinada pela ação conjugada: a) das em-
presas internacionais (EI), .que respondem em medida
considerável pela transmissão do progresso tecnológico
(inovações de produtos e processos), e b) do Estado, ao
qual incumbe adequar o perfil da demanda às éxigêricias
do. progresso tecnológico (PT) tal qual este é transferido
pelas EI. O PT pode ser considerado um produto de ofer-
ta elástica, porquanto o seu custo de oportunidade é baixo
para as empresas, que o utilizam em escala mundial; mas,
para que penetre esse PT é necessário que se dêem certas
condições que cabe ao Estado criar. As empresas estrita-
mente nacionais continuam a desempenhar um papel im-
portante, mas de caráter essencialmente complementar.
Cabe à empresa local, em muitos casos, preparar o terreno
e atrair a atenção da EI para pontos sensíveis em que
uma injeção de PT pode ser altamente rentável; ademais,
graças a ela, o sistema de decisões pode alcançar um ele-
vado grau de descentralização, mediante formas diversas
de aplicação do regime de subcontratação, ganhando con-
sideravelmente em flexibilidade. Da mesma forma, a ação
empresarial direta do Estado, visando a criar .economias
externas e a ampliar o horizonte temporal das decisões
de investimento, constitui fator importante na evolução
estrutural do sistema. Contudo, para ·que as possibilida-
des de crescimento dadas pela estrutura sejam realmente
aproveitadas, deve ser preenchida o que chamaremos de
condição de equilíbrio dinâmico: o perfil· da demanda de
bens finais terá de conformar-se às exigências do PT na
forma em que este é transmitido· pelas EI. . era o caso do Brasil em 1965-67, uma modificação no per-
A diferentes perfis de demanda de produtos finais cor-
respondem diferentes composições dos investimentos e di-
ferentes fluxos de entrada de recursos externos; fatores
ambos que influenciam a penetração do PT. Assim, o ní-
vel do Pm pode elevar-se sem que intervenha uma modi-
ficação prévia na taxa de poupança. Neste caso, a melho-
ra na relação produto-capital vai acompanhada de au-
·mento de rentabilidade das empresas com repercussão na
82
taxa de poupança.· A elevação desta é, portanto, mais
uma conseqüência de aceleração do crescimento do que a
junto de dados estruturais, a taxa de poupança tende a
nivelar-se. O problema fundamental consiste, portanto,
em identificar aqueles fatores, capazes de influenciar o
perfil da demanda, que possam ser utilizados como va-
riáveis instrumentais. Dentre esses fatores três vêm sen-
do de particular relevància na experiência recente do
Brasil:.
a) a inten8idade e a orientação do processo de con-
centração da renda e da riqueza, as quais co-
mandam a expansão do mercado de bens du-
ráveis de consumo;
b) a criação de emprego no setor moderno, isto é
a transferência de mão-de-obra do setor de sub~
sistência para as atividades em que existe um
s,alário básico garantido pela legislação social; e
c) o diferencial entre o salário básico do setor mo-
derno e o custo de oportunidade da mão-de-obra
ou seja, o salário no setor de subsistência. '
A manipulação dessas variáveis vem permitindo que
se .defina um perfil de demanda altamente favorável à
atuação das EI, as quais puderam utilizar de forma mais
intensiva a capacidade instalada anteriormente e intensifi-
car os novos irivestimeli.tos . Se a economia se encontra em
condições. de 'sub-utilização da capacidade produtiva, como
. fi! da demanda mediante expansão de ·crédito adequada-
.ménte orientada pode acarretar considerável elevação em
P /K. Não se tratà de simples criação de demanda efeti-
va de estilo keynesiano, pois ·a existência de capacidade
ociosa não é fenômeno gene~zado, concentrando-se no
setoi' de bens duráveis de consumo e complementares.
Faz-se mister modificação na composição da demanda, me-
diante aumento mais que proporcional (ou exclusivamen-
83
 te) de certos setores. l!: mesmo concebível que tal au-
·mento seja acompanhado de redução em outros setores
de demanda, como efetivamente ocorreu no Brasil. Con·
tudo, se se pretende dar permanência ao novo perfil de de-
manda e assegurar que ele evolua de forma a favorecer
os bens duráveis de consumo, será necessário introduzir
modificações estruturais, tais como um alongamento da
escala de salários em beneficío dos níveis mais altos e/ou
a criação de um fluxo de renda patrimonial em benefício
de certos grupos de consumidores.
Suponhamos que, mediante a manipulação das variá·
veis referidas, o governo consiga criar um perfil de de-
manda que incite à utilização da capacidade sub-utilizada
com repercussão favorável em P/K, a qual em conseqüên-
cia se elevaria de 0,25 até 0,50. Em tais condições é teo-
ricamente concebível que a taxa de crescimento do Pm
duplique sem que aumente o esforço de poupança. Mas,
como a aceleração do crescimento engendra quase neces-
sariamente aumento da taxa de poupança, cria-se um feed-
back positivo e o sistema poderá em período relativamen-
te curto elevar consideravelmente sua taxa de crescimento.
Digamos que a taxa de inversão passe de 14 para 18 por
cento: a conseqüência será um salto da taxa de cresci-
mento do Pm de 3,5 para 9 por cento. Superado o efeito
da passagem da situação de subemprego de capacidade
instalada para outra de pleno emprego desta, é de admi-
tir que a relação P /K retome o seu valor histórico; supo-
nhamos que este se situe em torno de 0,35 e que a taxa
de inversão se estabilize em torno de 17 por cento; a taxa
de crescimento tenderá,. em conseqüência, a situar-se ao
redor de 6 por cento'7 • Assim, se o governo assegura o
01 A relação P/K sendo o quociente de um fluxo (a renda
ou o -produto) por um estoque (o capital), introduz óbvias am·
bigüidades na análise. Él perfeitamente claro que a longo pra·
zo o produto (P) não pode crescer com uma taxa muito distin·
ta da da expansão da capacidade produtiva, isto é, de K. Supo'
nhamos que se pretende medir P /K com respeito a um ano de-
terminado e que, neste ano, P se mantém estagnado no pri·
melro semestre •e cresce fortemente no segundo, ao passo que
o processo de acumulação se realiza regularmente durante todo
o ano. A relação P/K medida na metade do ano será evidente-
84
cumprimento da ct;mdição de equilíbrio dinamico 0 sis-
te.t1!a J?Oder~ utilizar as possibilidades de crescime~to que
e~tão .1mp~c1tas em sua estrutura do lado da oferta. Isto
nao Significa que a relação P/K deva permanecer imutá-
vel a .long? P~azo. E;;tatisticas americanas indicam que
nos se1s primeiro~ decenios do século atual houve 'uma me-
lhora dessa relaçao nos Estados Unidos da ordem de 45
por cento, ao mesmo tempo que a produtividade média do
trabalho ~obrava; durante esse período a taxa de remune-
raç~o horaria do trabalho triplicava, enquanto permanecia
estável a taxa de remuneração do capital; ademais, 0 . ml-
mero total de horas de trabalho aumentou 50 por cento
e o es~oque de capital triplicou. (Veja-se I.B. Kravis
«Relatlv~ Incol?e Shares in Fact and Theory», America~
~c;wmw ,Reviewd., 1959, pp. 923-935.) Dados relativos
a rança. m 1c~ que uma melhora da ordem de 24 por
cento teria ?COrrido na relação p JK no período do pós-
~~erra. (Ve)a-~e J. Marchal e J. Lecaillon, La répartition
Revenu nat~onal, tomo IV, p. 92. ) Observa-se nesses
países_ de mão-?e-obra relativamente escassa que a remu-
neraçao d8;_ unidade. de trabalho aumenta com respeito à
remuneraçap ·da unidade de capital, o que é contrabalan-
çado por. um ,aumento do estoque de capital muito mais
mtenso que o da força de trabalho; que o efeito desses dois
f~tor;s !e!_lda a anular-se, tem-se a prova na constância da
.· distribUiçao funcional da renda. Para explicar esse fenô-
meno, pode-se f~er o seguinte raciocínio: nos países alta-
mente desenvolvidos, dentre os bens finais aqueles cuja
demanda tende a crescer mais rapidamente são os servi·
· ços pessoais;. çomo na produção destes o fator decisivo é
a J?ao-de-obra e o preço desta está aumentando 'com res-
pe~t~ !lO ~o fator capital, na medida em que aumenta a
·participaçao dos serviços pessoais no produto este tende
mente muito mais baixa do que a medida no fim do ano Qual
. das duas ~ representativa, se se pretende fazer uma p,:ojeção
de tendência? Prov!'velmente nenhuma das duas, convindo ape-
lar P!"ra uma média. O mesmo racloeinio se pode fazer com
. respeito a qualquer periodo de tempo que possa ser dividido em
subperiodos que aprese':'tem disparidades nas taxas de cresci·
mentido de P e K. É evidente que, quanto maior for o período
c_ons erado, menores serão as disparidades.
85
a crescer corn rnais intensidade que o estoque de capital.
Trata-se, evidentemente, de fenômeno que somente a lon-
g? prazo pode ser ~ercebido. A situação é seguramente
diVersa em .economias, como a do Brasil, em que a re-
muneração da unidade de trabalho, longe de elevar-se
relativamente à do capital, conheceu uma tendência in~
versa.
O gráfico abaixo assinala as posições estratégicas
ocupadas pelo. governo e pelas EI na determinação da taxa
de crescimento de P.
intensidade do fluxo de entrada de recursos externos.
. Criam-se, assim, condições para que as EI maximizem
suas possibilidades de ação. Os resultados se farão sentir
direta e .indiretamente nas duas relações estruturais a e b.
Com efeito: uma melhora do GUCP eleva diretamente o
nível de a e indiretamente o de b; maiores entradas de
Sx elevam o nível de a mediante a intensificação do in-
fluxo de PT e também elevam o nível de b acrescentando
recursos à poupança interna; as modificações na CI, fa-
vorecendo o influxo de PT e abrindo caminho a maiores
economias de escala, repercutem favoravelmente em a.
Desta forma, os investimentos inicialmente programados
(Dr<t>) serão modif.icados tanto no seu volume relativo
quanto em sua composição. A taxa de crescimento é sim-
plesmente um reflexo dos valores que, como resultado da
ação de to~os esses fatores, venham a assumir a e b.

Pcr+ll
- K I'"'L =
= a(r); -""' b(t)"I Ptt+IP.{~
l - P (I) b
(1+1) p (1+1) = a c~ . (0·

Pco = produto interior bruto ou renda bruta no pe;lodo !.

Dco = dispêndio total programado em !.
G,. = interferência do governo no processo de concentração da
renda .e da riqueza. .
G, = polltica de emprego do governo.
Ga =política salnrial do governo.
Dc(t) dispêndio -privado e pó.blico em consumo no teinpo !.
·=
DI(t) = investimentos
programados em !. ·
GUOP(I) = grau de utilwaçio da capacidade produtiva em t.
Ol(t) = composição do investimento ein t.
Szct) = entrada de :recursos externos em t.
EI = empresas internacionais.

Modificand9 os programas dos diferentes titulares de

renda, o governo põe em marcha uma série de processos
que afetam o grau de utilização da capacidade produtiva
já existente,· a composição dos novos investimentos e a

86 87