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1
VOTO
( PÚBLICO)
2
Tais condutas foram enquadradas, pela portaria instauradora, em tese,
nos incisos IV, V, e VIII e XXIV, respectivamente, do artigo 21 da Lei 8.884/94,
tipificando as infrações previstas no artigo 20, incisos I, II, III, e IV da mencionada lei.
Art. 1º. Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal,
direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à
legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1o Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três
anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou
mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.
3
abril de 1999, sendo que a juntada do AR aos autos ocorreu em 07 de maio de
1999.
Por outro lado, a remessa do processo a este Conselho, pela SDE,
com parecer favorável à condenação, para fins de julgamento pelo CADE, deu-se
em 22 de julho de 2002, tendo o prazo sido, uma vez mais, interrompido nesta data.
De fato, o art. 39 da Lei nº 8.884/94 determina que, concluída a instrução
processual, e após a apresentação de alegações finais, o Secretário de Direito
Econômico deverá proceder remessa dos autos ao CADE através de relatório
circunstanciado, para que este proceda ao julgamento. Tem-se, assim, que o
parecer emitido pela SDE é ato inequívoco que importa em evidente apuração do
fato, assemelhando-se, inclusive, a uma sentença condenatória recorrível (art. 2º, II
e III da Lei nº 9.873/99).
Corroborando este entendimento, assim se manifestou a Procuradoria
do CADE, por ocasião da apreciação do Processo Administrativo nº 29/92, de
relatoria da Conselheira Lucia Helena Salgado e Silva:
“... A prescrição administrativa ocorre normalmente em cinco anos, prazo adotado pela
Lei nº 8.884/94, em obediência à regra geral. Prevendo a lei causas suspensivas e
interruptivas, a prescrição não se consolidou, tendo em vista que a mesma foi
interrompida quando da instauração do processo administrativo e quando da remessa do
mesmo ao CADE, para julgamento.”1
(...) não há como falar em prescrição se o órgão competente não pode agir. Dessa
forma, a prescrição não poderá correr para o CADE, antes que o processo seja recebido
na Autarquia. Assim, o grupo entende que a prescrição, para o CADE, só começa a
correr a partir da data do recebimento dos autos na Administração indireta. A aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil dá amparo ao posicionamento esposado, tendo
em vista que o despacho do juiz na petição, ou a sua distribuição, é quem determinará o
inicio do processo2.”
É este justamente o posicionamento adotado pelo Professor Fábio Ulhoa
Coelho:
“Esse prazo se interrompe, diz a lei, com qualquer ato administrativo ou judicial com
objetivo de apurar a infração. Quando a SDE, por exemplo, instaura averiguação
preliminar ou processo administrativo, ou o relata para remeter ao CADE, pratica atos
administrativos dessa natureza, que importam todos na interrupção do prazo
prescricional.”3
4
representante do Ministério Público, atendido com a finalidade de evitar futura
alegação de vício formal, e posterior apresentação de exceção de impedimento,
julgada insubsistente por unanimidade de votos, além da interposição de dois
mandados de segurança pela representada Microsoft4, atrasaram em cinco meses o
julgamento do feito, o que, no entanto, não pode ser computado para fins
prescricionais.
Finalmente, cumpre ressaltar que no caso vertente, o prazo prescricional
não é o de cinco anos, mas sim o de doze anos, em virtude do que estabelece o art.
1º § 2º da Lei nº 9873/99 c/c o art. 4º, inciso I, letra a e l e inciso II, letra b e inciso VII
da Lei nº 8.137/90.
Desta forma, por qualquer modo que se encare o tema, resta
demonstrada a não ocorrência do decurso de prazo prescricional, persistindo intacta
a pretensão punitiva da Administração Pública em relação às Representadas, sendo
possível a sua punição no caso de a prática imputada constituir-se, de fato, infração
contra a ordem econômica.
III. PRELIMINARES
a) inépcia da representação
b) desrespeito ao devido processo legal constitucional;
c) inexistência de processo em razão de ausência de denúncia
d) nulidade do despacho instaurador do processo administrativo
e) inexistência de indício de prova e de averiguação preliminar
f) ilegitimidade passiva da TBA e impossibilidade jurídica das acusações
g) processo administrativo tratar de matéria eminentemente comercial
h) nulidade da averiguação preliminar face a divulgação de seu conteúdo
para a Comissão do Congresso Nacional.
5
existe o administrado que deduz uma pretensão e, de outro, a Administração que,
quando decide, não age como terceiro, estranho à controvérsia, mas como parte que
atua no próprio interesse e nos limites que lhe são impostos por lei. Justamente por isso
alguns autores preferem falar em “interessados” e não em “partes”; no entanto, partindo-
se do conceito de “parte” como aquele que propõe ou contra quem se propõe uma
pretensão, é possível falar em “parte” nos processos administrativos em que se
estabelecem controvérsias entre Administração e Administrado5. Segundo o princípio da
Oficialidade “uma vez iniciado (o processo administrativo), passa a pertencer ao Poder
Público, a quem compete seu impulsionamento, até a decisão final.”6
Neste sentido citamos o entendimento do CADE nos autos do P.A. nº 31/92, in verbis:
“Tendo em vista o disposto no artigo 9º, II da Lei nº 8.884/94, combinado com o artigo 7º
do Regimento do CADE, passo a decidir:
(...) a citada legislação, em consonância com os dispositivos constitucionais aplicáveis,
atribui competência ao CADE para decidir processos administrativos instaurados para
apurar práticas abusivas do poder econômico e ordenar providências que conduzam à
sua cessação, em defesa de um mercado livre, do qual é titular a coletividade.
Assim, o contraditório que se instala é entre o Poder Público e o Representado; O
Representante não é parte no feito, eis que o processo não leva em conta, por si
só, direitos ou interesses individuais do representante ou de terceiros, mas os
impactos anticoncorrenciais no mercado.” (grifo nosso)
Conforme salientou a SDE, às fls. 2.744, “a regra do juiz natural não possui nenhuma
relação com o que pretende a representada. Essa regra, de modo algum, veio impedir
que a autoridade competente para processar seja diferente daquela competente para
julgar.”
5
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, “Direito Administrativo”. Editora Atlas : São Paulo, 1999, p. 483.
6
MEIREILLES, Hely Lopes. “Direito Administrativo Brasileiro”. Malheiros : São Paulo, 1993, p. 586.
6
A terceira preliminar alegada, ausência de denúncia – inexistência de processo, refere-se
à necessidade de denúncia pelo DPDE, não sendo cabível a manifestação da Inspetora
Geral, consoante regimento interno do DPDE.
Sobre tal preliminar, manifestou-se a SDE salientando que consoante o art. 32 da Lei nº
8.884/94, o processo administrativo poderá ser instaurado por despacho fundamento do
Secretário da SDE, a partir do conhecimento do fato, sendo que a manifestação da
Inspetora-Geral ou do DPDE, não é condição necessária para a instauração de processo
administrativo.
Não havendo qualquer ilegalidade neste ato, patente a rejeição da preliminar alegada.
A alegação de ilegitimidade passiva da TBA e impossibilidade jurídica das acusações,
levantadas como preliminares, na verdade confundem-se com o mérito, ou seja, seria
possível a prática das infrações pela TBA? A resposta a tais preliminares deverá ser
dada quando da análise do mérito e não neste momento.
A sustentação de que o processo administrativo não pode prosperar pois a matéria nele
contida é eminentemente comercial, não encontra respaldo na análise das provas até
então carreadas aos autos. Reconhecendo a autoridade antitruste a sua competência
para tratar das imputações à Representada, conforme Despacho instaurador, conclui-se
que a matéria em muito suplanta o direito comercial, atingindo interesses difusos,
próprios de análise no direito econômico.
7
Por entender haver o supracitado parecer analisado de maneira precisa
às questões concernentes às preliminares suscitadas pela Representada, adoto de
maneira integral suas razões, indeferindo-as por completo.
Insta salientar que as preliminares aqui debatidas foram, da mesma forma
que aqui se faz, afastadas pelo Despacho do ilustre Secretário de Direito Econômico
(fls. 2749), que, acolhendo as razões da Nota Técnica do DPDE de fls. 2739/2748
realizou a saneamento do processo. Adoto também as razões deduzidas em tal
parecer para afastar as preliminares suscitadas, nos termos do artigo 50, §1º da Lei
9.784/99.
“[o]ptando pelo contrato Select, a Microsoft e o cliente assinam o ‘Microsoft Select Master
Agreement’, onde se especifica entre outras coisas, qual o LAR responsável pela
implantação do contrato. À Representada cabe apenas o credenciamento prévio do
revendeodor como LAR, em conformidade com o padrão por ela estipulado, o qual
abrangerá desde a estrutura financeira e comercial, até a técnica suficiente ao
atendimento de grandes corporações. Após a escolha e qualificação do LAR, este e a
Microsoft assinam o ‘Large Account Resseler Agreement’, em que se estabelece: (i) a
base territorial em que o LAR nomeado irá atuar, (ii) que os preços pagos ao distribuidor
pelas licenças e pelos produtos adquiridos à Microsoft Corporation, serão sempre
aqueles estabelecidos na tabela publicada pela Microsoft Corporation e disponível a
todos os distribuidores e LARs na Internet; e (iii) que o preço negociado entre
revendedor e cliente não estará sujeito à aprovação ou revisão pela Microsoft. Sob tais
fundamentos, a Representada pretende demonstrar não possuir qualquer controle sobre
a política comercial, bem como sobre os preços praticados pelos revendedores junto a
seus clientes.
Afirma7que, num contexto mundial, a seleção da Microsoft para habilitação de
revendedor é feita com base na análise objetiva de três fatores, a saber: (i) infra-
estrutura de serviços; (ii) infra-estrutura comercial; (iii) capacidade financeira. Tais
critérios são estabelecidos pela Microsoft em âmbito nacional e recebem adaptações
regionais tendo em vista as especificidades de cada país.”
7
Fls. 203, segundo a SEAE.
8
Já no que tange às espécies de revendedores, são pertinentes os
seguintes esclarecimentos, contidos no parecer da SDE:
“9. De acordo com a Microsoft, um Specialist LAR é habilitado a partir de três possíveis
razões. A primeira possibilidade é quando uma corporação solicita formalmente à
Microsoft que uma empresa pertencente ao seu grupo econômico seja seu revendedor
exclusivo de produtos Microsoft (p. ex. Banco do Brasil e Cobra). Outra possibilidade
para credenciamento surgiria em decorrência de notória especialização em serviços para
um segmento econômico específico. Por fim, a empresa habilitada pode ser um LAR
internacional que atenda um cliente globalmente. De acordo com dados fornecidos pela
Microsoft em fevereiro de 1999 (fl. 513), havia nove revendedores nessa categoria.
10. Ainda segundo a Microsoft, os Regional LARs são empresas que atuam dentro de
uma Unidade da Federação específica. Os requisitos para credenciamento, ao final de
1998, estão especificados no quadro supra. De acordo com dados fornecidos pela
Microsoft, em fevereiro de 1999 (fl. 513), vinte e uma empresas possuíam a habilitação
para atuar como Regional LAR no território nacional. Dessas, seis estavam localizadas
em São Paulo, três em Minas Gerais, duas no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, e
no Paraná e uma nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Santa
Catarina e Goiás.
11. Por fim, a Microsoft informou que o Direct LAR seria uma categoria “criada para
atender clientes e mercados corporativos onde há uma significativa demanda de
serviços na plataforma Microsoft, exigindo em contra-partida por parte do LAR um
significativo investimento em Qualificação Técnica para atendimento
correspondente” (fl. 26, grifado). A principal diferença, em termos de qualificação técnica
entre os Regional LARs e os Direct LARs, reside no fato de que, para esta última
categoria, é exigida a presença de mais 5 (cinco) MCP8 e ter sido Regional LAR por pelo
menos 2 anos consecutivos.
8
Microsoft Certified Professional, categoria básica dos profissionais certificados pela Microsoft.
9
Em tabela juntada em apartado confidencial, a Microsoft informa que também seriam Direct LARs duas outras
empresas. Estas empresas, todavia, apresentam, ao lado de sua certificação a observação not for all. Na verdade,
suas características estão mais próximas a Specialist LARs do que de qualquer outra categoria. Possivelmente,
seu enquadramento é resultado apenas do fato de não comprarem por meio de distribuidor, adquirindo seus
produtos diretamente da Microsoft.
10
Nota técnica SDE, p. 6, fls. dos autos.
9
revendedores. Em outras palavras, tais critérios referem-se a um período passado;
assim, a Microsoft, ao estatuí-los, possuía plena aptidão para saber, de antemão,
quais empresas possuíam condições de se enquadrar nos mencionados critérios,
que permaneceram em vigor até 2002. Ademais, veremos ao longo do voto que
mesmo antes dos critérios estipulados em 1998, a TBA já detinha exclusividade para
vendas através do contrato Select ao Governo Federal.
A empresa TBA Informática é uma empresa com sede em Brasília, que
atua como provedora em soluções de tecnologias da informação e serviços que
envolvam treinamento, consultoria, suporte técnico, desenvolvimento de sistemas,
projetos de rede, acesso à Internet, bem como integração Intranet/Internet. Em
1998, foi a única empresa a ser credenciada como LAR no Distrito Federal, tendo
como parâmetro os critérios descritos acima. Foram registradas na Junta Comercial
cartas que conferiam a ela exclusividade para a comercialização dos produtos da
Microsoft com o Governo Federal sob a sustentação de ser a única empresa
cadastrada pela Microsoft apta a operar com clientes corporativos.
A Microsoft, por sua vez, utilizou-se da consolidação conferida à sua
marca e poder de mercado para distribuir a todos os órgãos do Governo Federal,
eventualmente interessados em adquirir licenças de seus produtos, cartas atestando
a exclusividade conferida à empresa TBA, elegida como sua única representante
para fins de atuação junto ao Governo Federal. De posse desta carta, a TBA logrou
assinar contratos com a Administração Pública, com inexigibilidade de licitação, por
força do art. 25 da Lei 8.666/93.
A conduta investigada, e ora julgada, diz respeito exatamente à maneira
como foram definidos, implementados e fiscalizados os critérios de credenciamento
adotados pela Microsoft, e à forma com que as representadas deles teriam se
utilizado com a finalidade de conferir exclusividade à TBA para atuação no mercado
do Distrito Federal e, conseqüentemente, para comercialização através do contrato
Select a todo o Governo Federal.
11
Como regra prática o “pequeno porém significativo e não transitório aumento” de preço deve estar em torno de
5%, 10% ou 15%, conforme o caso em questão, por um período não inferior a um ano. (Guia para Análise
Econômica de Atos de Concentração Horizontal da Seae e SDE)
10
critério que cada vez mais tem sido utilizado é a estimação das elasticidades
cruzadas da demanda.12
Entretanto, conforme já pontuei no meu voto proferido no PA nº
08012.009991/98-8213, “é importante ressaltar que a definição de mercado relevante
em casos de conduta difere sutilmente da que é aplicada em casos envolvendo atos
de concentração. Em hipóteses de infração à ordem econômica, o melhor método se
baseia no exame de atos passados e nos efeitos já experimentados pelo segmento
mercadológico, ao passo que, em fusões e aquisições, a boa técnica indica um
método direcionado para possíveis e potenciais efeitos no futuro. Assim se deduz
dos termos do seguinte trecho da ‘Relevant Market Notice’14, adotada pela Comissão
Européia desde 1997:
12
Um produto apresenta alta elasticidade –preço de demanda se essa for maior do que um (em módulo). Da
mesma forma, se a elasticidade-cruzada for maior do que um (em módulo), então os produtos em questão são
substitutos próximos. Isto é, a demanda por um bem é bastante sensível à variação de preço do outro bem.
13
Representante: Participações Morro Vermelho Ltda - Representados: Condomínio Shopping Center Iguatemi e
Shopping Centers Reunidos do Brasil Ltda.
14
A “Relevant Market Notice” da Comissão Européia, que se aplica tanto a fusões, como a infrações cominadas
nos artigos 81 e 82 do Tratado de Roma, tem importância extrema em casos de conduta, sobretudo em casos de
abuso de posição dominante. Nesse sentido, vide Bellamy & Child. “European Community Law of
Competition”. Fifth edition. P.M.Roth QC. pág. 6-094: “The Notice applies not only to mergers but also to
Articles 81 and 82 and market definition is necessarily of particular importance for the determination of a
dominant position in the application of Article 82”.
15
Todas as traduções neste voto são versões livres, motivo pelo qual destaco o original: “The criteria for
defining the relevant market are applied generally for the analysis of certain types of behaviour in the market and
for the analysis of certain types of structural changes in the supply of products. This methodology, though, might
lead to different results depending on the nature of the competition issue being examined. For instance, the scope
of the geographic market might be different when analyzing a concentration, where the analysis is essentially
prospective from an analysis of past behaviour. The different time horizon considered in each case might lead to
the result that different geographic markets are defined for the same products depending on whether the
Commission is examining a change in the structure of supply, such as a concentration or a joint-venture, or
examining issues relating to certain past behaviour”.
11
econômica onde a aplicação das leis antitruste incidirá. A esse respeito, confira os
ensinamentos de HARRY FIRST16:
16
Free Enterpriste and Economic Organization – Antituste. Sixth Edition. pág. 113.
17
“In determining whether industry structure or unilateral behavior displaces competition, market definitions
may be helpful in organizing the analysis so that it is practical, significant, economically sensible, and
manageable in the context of the judicial process. But market analysis is subservient to the broader qualitative
question of whether the policy of the law has been violated, and on occasion market analysis should be dispensed
with where the level of predatory behavior is obviously destructive of a competitive process. The persistence of
dominance in a significant area of economic activity may also warrant a common sense conclusion that power is
present in a form inconsistent with the competitive ideal and the public interest requires it be constrained or
eliminated where the persistence of dominance is likely and its erosion by the market is unlikely, even though
some theoretical arguments about the metaphysical concept of markets may be advanced to escape liability.
Elsewhere market definitions should be understood in a way that is analogous to the function of rule of reason
analysis in Section 1 cases. Where it is not readily apparent that industry structure or behavior is consistent or
inconsistent with the competitive ideal, market analysis serves as a mechanism for determining whether it is fair,
just, practical, and economically sensible to isolate or fragment an area of economic activity as an area where the
goals of antitrust policy can work and to make judgments about whether they are at work in light of all the facts
and circumstances of the industry”.
12
O processo em tela versa sobre ilícitos concorrenciais no mercado
brasileiro de vendas corporativas de softwares e serviços de informática. Existem,
portanto, dois mercados relevantes distintos a serem considerados. O primeiro
mercado está relacionado à venda (licenciamento) de softwares, enquanto que o
segundo abrange a prestação de serviços técnicos de instalação, customização e
manutenção desses softwares.
No mercado de softwares, faz-se necessário uma segmentação adicional
de acordo com a funcionalidade. Conforme Geroski e Griffith (2003)18, tratar
segmentos como diferentes mercados facilita a identificação dos impactos de
condutas anticompetitivas. Nesse caso, há três grupos distintos de softwares: 1)
aplicativos; 2) sistemas operacionais e; 3) servidores. Com relação aos softwares
aplicativos e servidores, deve ser enfatizado que, pelo fato desses programas
funcionarem sobre um sistema operacional específico, seu mercado relevante é
também delimitado pelo sistema operacional escolhido previamente pelo cliente.
Os softwares utilizados em ambientes corporativos restringem-se, em sua
quase totalidade, a processadores de textos, planilhas eletrônicas, criadores de
apresentações e bancos de dados, sendo os demais softwares aplicativos
pertencentes a nichos de mercado. A importância desses primeiros aplicativos, bem
como a sua relevância no total da base instalada em uma corporação, levaram as
empresas produtoras de softwares a criar pacotes de programas englobando esses
produtos em um pacote único de softwares (no caso da Microsoft o MS Office).
Dessa forma, grande parte do mercado dos softwares aplicativos para corporações é
restrita a suítes englobando processadores de texto, planilhas eletrônicas e outros
programas.
O processo de instalação e distribuição interna dos softwares em uma
corporação é substancialmente diverso do realizado em equipamentos domésticos e
em pequenos escritórios. Em ambientes corporativos, o processo de instalação dos
softwares é realizado por meio de redes, eliminando a necessidade da
correspondência biunívoca “cópias licenciadas/jogos de discos”. Nesses ambientes,
o processo de instalação é geralmente realizado pelo ambiente de rede; método
este, mais econômico para os compradores do produto19.
Seguindo a mesma linha das Mergers Guidelines americanas, a distinção
entre os vários tipos de clientes é fator importante para a delimitação do mercado
relevante. Isso porque, segundo tais guias, se uma empresa é capaz de segmentar
o mercado e discriminar preços, então existem mercados relevantes distintos para
cada grupo de compradores.20 Neste caso, uma fusão ou conduta pode afetar
diferentemente as vendas destinadas a cada grupo, já que cada um reage de forma
diversa às estratégias da firma.
Nesse sentido, de início podemos distinguir dois tipos de clientes: aqueles
que compram o produto no varejo e aqueles que compram grandes volumes de
softwares.
18
GEROSKI, Paul e GRIFFITH, Rachel (2003), “Identifying Anti-Trust Markets”. In: Neumann , M. e
Weigand, J. (editors), “International Handbook of Competition”, Ed. Edward Elgar.(mimeo)
19
Essa estratégia é um tipo de empacotamento (bundling). O pacote de cópias gera maior utilidade para o grande
cliente, além de possibilitar que a firma discrimine preços entre grandes e pequenos compradores.
20
A firma consegue discriminar preços, porque as preferências dos consumidores do mercado são heterogêneas.
Isto é, existem grupos com elasticidades-preço de demanda diferentes. A firma, então, constrói uma estratégia
que tem como objetivo revelar esses grupos, de forma que essa possa cobrar um preço maior do segmento de
demanda inelástica e cobrar um preço mais baixo dos clientes com demanda mais elástica.
13
Na linha do varejo, a Microsoft: “conta com três grandes distribuidores, abaixo
desses distribuidores existem cerca de 7.500 revendedores que além de comercializar produtos,
prestam serviços de assistência técnica e consultoria aos consumidores finais. A revenda pode ser
autorizada ou comum. Além dos três grandes distribuidores, há mais de 20 pequenos distribuidores e
5 mil pontos de revenda de software. A linha de varejo é responsável por cerca de 70% das vendas
da Microsoft no Brasil.”21
Para a linha corporativa, na qual as vendas representam grandes
volumes, foi criado o Contrato Select. Tal contrato é utilizado mundialmente pela
Microsoft e garante à empresa que adquire os produtos o direito de copiar e utilizar
os softwares, adquirindo licenças de um ou mais LARs (Large Accountant Reseller),
que seriam os revendedores credenciados pela Microsoft para vender seus produtos
a grandes corporações.
Além disso, mesmo dentro do segmento corporativo, podemos distinguir
outros dois tipos de clientes: as empresas privadas e o governo. Ao contrário da
iniciativa privada, o setor governamental, para adquirir bens e contratar a execução
de serviços, precisa seguir rigorosamente um procedimento determinado por lei:
uma licitação. Assim,conforme muito bem fundamentado no parecer da Seae, o
governo pode ser entendido como um tipo diferente de cliente.
Finalmente, deve ser ressaltado, como ficará demonstrado ao longo do
voto, que a conduta de conferir exclusividade à TBA teve efeitos específicos em
relação ao Poder Público Federal. Com efeito, investiga-se no presente Processo
Administrativo as razões pelas quais, a partir de critérios definidos pela Microsoft, a
TBA auferiu exclusividade para operar o contrato Select à Administração Pública
Federal, motivo pelo qual é possível defini-los como um específico mercado
relevante.
21
Parecer do economista Ruy Santacruz, fls. 432.
14
limita-se a empresas que tenham técnicos certificados pela própria Microsoft
(MCPs), sejam eles LARs ou empresas autônomas.
O mercado de serviço de informática envolve não apenas os serviços de
manutenção, assistência técnica e treinamento, mas, também, o de criação de
“soluções” de informática. Isto é, a criação de produtos de informática envolvendo,
até mesmo, a elaboração de pequenos programas e rotinas com o fim de adequar
produtos comerciais às necessidades específicas dos clientes.
Portanto, defino as vendas de softwares e prestação de serviços e
soluções de informática ao Poder Público como um mercado relevante
separado na dimensão produto, o que, aliás, coincide com o universo objeto
de investigação.
22
O referente parecer foi solicitado pela SDE.
15
de suporte em outras unidades da federação. Assim sendo, nada impediria que um LAR
de um estado prestasse serviços ao Governo Federal em Brasília ou em outra unidade
federada, principalmente ser for considerado o fato de que o Governo Federal é um
cliente que, pelo seu porte e capilaridade, desperta enorme interesse em qualquer
revendedor desse tipo de produto, estimulando-o a instalar uma base local para atender
aos órgãos governamentais, onde necessário.
57. omissis
58. Assim, considera-se que a definição mais adequada para mercado relevante
23
geográfico é o território nacional.”
23
Parecer da SDE, página 20
24
In O conceito de mercado relevante, Revista de Direito Econômico, nº 26, agosto/dezembro de 1997, pág. 37.
16
entrada. Para isso temos também que discutir algumas das especificidades que
cercam tais mercados, tais como os efeitos de rede e o aprisionamento, o que será
feito na próxima seção.
25
Pastas pretas e verdes anexadas aos autos.
17
pela Microsoft, proporcionou-lhe a possibilidade de exercício do seu poder de
mercado, notadamente pela ausência de alternativa de escolha dos usuários.
26
Bain J. S. (1956) Barriers to New Comepetition Cambridge, Mass.: Harvard University Press.
27
Katz, M. e Shapiro, C. “Antitrust in Software Markets”, Progress and Freedom Foundation, September 1998.,
pág. 16.
28
Shapiro, C e Varian, Hal R., Information Rules: A Strategic Guide to the Network Economy, Boston, Harvard
Business School Press, 1999.
29
Fls. 143 dos autos.
18
Assim sendo, cria-se um obstáculo aos consumidores para a troca de
seus softwares, surgindo assim, barreiras à entrada de novas empresas e criando
uma situação de lock in (aprisionamento), ou seja, após um produto ter sido
escolhido pelo consumidor, fica a ele atrelado, dificultando a sua substituição. Em
relação a esta matéria, o parecerista Ruy Santacruz, concluiu que:
“[E]xiste uma elevada barreira à entrada de novos concorrentes nesse mercado, devida
do efeito rede, que privilegia a demanda pelos produtos Microsoft, enfraquecendo a
concorrência potencial. Esse mesmo efeito rede produz uma barreira à mobilidade
vertical no mercado, reduzindo a possibilidade das empresas já instaladas aumentarem
suas participações, enfraquecendo, dessa maneira, também a concorrência efetiva.”30
30
Fls. 2707 dos autos.
31
Tecnologia de Informação, 12ª pesquisa anual, 2001. Pesquisa coordenada pelo professor Fernando S.
Meirelles, Vice-Diretor da FGV-EAESP.
19
Por todo o exposto, conclui-se que estamos diante de um mercado que
apresenta elevadas barreiras à entrada, o que reforça o poder de mercado detido
pelas empresas.
32
“De acordo com essa tradição, as cortes e as políticas públicas são mais hospitaleiras a (i.e, tolerantes com)
restrições sobre o comportamento entre partes contratantes voluntárias contanto que não estejam envolvidas na
conduta nenhuma fixação de preços ou monopolização.” PRESTON, Lee E., Territorial Restraints: GTE
Sylvania in KWOKA, (1997).
20
Em segundo lugar, ao invés de restrições verticais, o produtor tem sempre
a opção de integrar verticalmente, passando a controlar esse elo da cadeia dentro
da firma para evitar os problemas decorrentes de uma relação do tipo agente-
principal. Nesse sentido, a pergunta que devemos nos fazer é: por que o produtor
usa tais restrições ao invés de conduzir essa parte do processo produtivo por si
mesmo? A resposta óbvia é a de que o uso de restrições verticais, de alguma
maneira, deve ser menos custosa para o produtor do que a condução dessas
atividades dentro de sua própria firma.33
33
Com efeito:”[t]odo produtor, independentemente de ser um monopolista ou uma firma atuando em ambiente
competitivo, quer seu produto sendo distribuído ao menor custo possível. O produtor também quer que o
distribuidor precifique e venda seu produto de maneira que seja a melhor para o primeiro.” CARLTON, Dennis
W. & PERLOFF, Jeffrey M., Modern Industrial Organization, 2nd edition, Harper Collins College Publishers,
1994.
21
6.1.3 Das peculiaridades do caso concreto
22
(ou sugestão) de preços de revenda (resale price maintenance – RPM) pode ser
uma solução para esse problema, na medida em que com essa prática o produtor
pode fixar um preço máximo de revenda e, assim, controlar o preço final de seu
produto36. A este respeito, cumpre transcrever as seguintes considerações de Willian
Shughart II:
“Entretanto, não é difícil perceber que o monopolista integrado sempre produzirá mais do
que a dupla de monopolistas upstream e downstream. No último caso, o monopolista
36
O preço de revenda pode ser fixado em um nível máximo ou em um nível mínimo. Neste caso só mencionei o
preço-teto porque esse tipo de prática está ligada à correção de uma distorção causada pela exclusividade
territorial. Não faria sentido adotar, neste caso, um preço mínimo.
37
SHUGHART II, William F. (1997). The Organization of Industry. Dame Publications, Inc., 2nd edition, pag.
534.
38
Parecer SEAE, p. 37, fls 39 dos autos confidenciais.
39
Não se aplicam, neste contexto, as vantagens da limitação territorial asseverada por Shughart (1997), segundo
quem “como o problema do duplo monopólio afeta também o lucro do produtor, a escolha pela adoção de uma
limitação territorial provavelmente produz alguns benefícios, tais como a redução dos custos de transação ou o
aumento da coordenação e controle dos distribuidores. Tais benefícios , muito provavelmente, mais do que
compensam as ineficiências alocativas que tias tipos de clausulas podem gerar, pois, caso contrario, existiriam
outras opções, como a integração vertical, por exemplo.”
23
upstream eleva seu preço acima do custo marginal e em resposta o monopolista
downstream eleva seu preço acima desse teto de custo. Há, pois, um mark up duplo. O
preço não é alto demais apenas do ponto de vista social; é alto demais do ponto de vista
da maximização dos lucros totais do monopólio!”40
24
estipulação de preços máximos) a política de regionalização acentuou os efeitos
danosos, ao conduzir à exclusividade na venda governamental.
Ressalte-se, por fim, que o impacto das restrições territoriais não seria tão
grande para a concorrência no mercado de Brasília caso os critérios de
credenciamento dos LARs não tivessem restringido o número de distribuidores
nesse mercado a somente um. Em outras palavras, o maior impacto sobre a
concorrência não advém do simples fato de existir uma política de regionalização em
si, mas sim da forma como foram adotados e implementados os critérios de
credenciamento, que levaram o mercado de Brasília a estar restrito a apenas um
LAR.
25
também é verdade que em outros Estados da Federação existiam LARs tão
habilitados quanto à TBA e capazes de oferecer o mesmo produto por ela ofertado.
A restrição imposta impediu, definitivamente, que a Administração Pública
exercitasse o seu direito-dever de estar atenta às melhores oportunidades oferecidas
no mercado, já que a Microsoft proibia empresas não cadastradas em Brasília de
efetivarem vendas a clientes sediados em tal cidade, dentre eles o Governo Federal.
Ademais, a Microsoft e a TBA, ao implementarem a exclusividade de
maneira a alcançar até mesmo órgãos do Poder Executivo Federal sediados em
Estados outros que não o Distrito Federal de modo a restringir o leque de opções de
da Administração Pública a um único ofertante do serviço, em prejuízo da
concorrência e do interesse público.
Uma vez que a concorrência no mercado de revenda de softwares é
intrinsecamente intra-marcas, já que a Microsoft exerce domínio absoluto do
mercado, a exclusividade acarretada enquadra-se na categoria de restrição vertical
danosa à concorrência e aos consumidores.
Tendo isso em mente, passo a analisar como as Representadas
utilizaram-se dos critérios estabelecidos para fechar o mercado do Governo Federal.
41
‘the first rule to bear in mind is that monopolists are prohibited from employing certain strategies, even if the
very same strategies are widely used and perfectly legal when employed by firms facing more competition.’
26
Consta do autos que os critérios estabelecidos pela Microsoft somente
foram formalizados em julho de 1997, trazendo no seu bojo critérios financeiros,
comerciais e territoriais para a obtenção de licença para se atuar como LAR.42
Em 1998, porém, foi efetivada uma brusca mudança de critérios,
especificada na tabela abaixo:
42
Com efeito, nenhum dos LARs consultado trouxe aos autos, ou ao menos mencionou, como era feita a escolha
de LARs pela Microsoft anteriormente ao ano de 1997, ainda que questionados a respeito, apesar de muitos deles
obterem este status desde 1994.
27
Modalidade Direct LAR
Requisitos - Ter sido Regional LAR por 2 anos consecutivos
Comerciais
- Estrutura local de 10 Gerentes de Contas Corporativas
exclusivos para Microsoft
- 1 Gerente de Contas Corporativas para cada empresa com
potencial de compras em produtos Microsoft superior a US$
2.000.000,00
- 1 Gerente de Contas Corporativas para cada 2 empresas com
potencial de compra de produtos Microsoft superior a US$
750.000,00
- 1 Gerente de Contas Corporativas para cada 10 empresas
com potencial de compra de produtos Microsoft superior a US$
100.000,00
- A cada 10 Contratos Select assinados, 1 Gerente de
Programas Corporativos
Requisitos Técnicos - Ter sido Regional LAR por 2 anos consecutivos
- Ter localmente 10 profissionais MCP (Microsoft Certified
Professional)
- 1 Gerente Técnico exclusivo para cada empresa com
potencial de compra de produtos Microsoft superior a US$
2.000.000,00
- 1 Gerente Técnico exclusivo para cada grupo de 2 empresas
com potencial de compra de produtos Microsoft superior a US$
750.000,00
- 1 Gerente Técnico exclusivo para cada grupo de 10 empresas
com potencial de compra de produtos Microsoft superior a US$
100.000,00
Requisitos - Ter sido Regional LAR por 2 anos consecutivos
Financeiros
- 3 referências comerciais e bancárias
- Ausência de débito com distribuidores Microsoft por mais de
30 dias
- Análise de crédito da empresa Austin Asis
-Documentos de habilitação exigidos em concorrências públicas
- Apresentar termos de garantia bancária
Fonte: Parecer SDE
28
trabalhando junto a ela, e quais seriam excluídas do seu quadro. Sim, por que mais
grave do que o estabelecimento do critério quantitativo em si é fazê-lo em relação a
período passado, utilizando-se de tal artifício para pré-determinar quem poderia
atuar como LAR em determinada região. E o que é ainda pior: com um critério
estanque. Como bem pontua a SDE:
43
Parecer SDE, fls. 170, Apartado Confidencial, p.97
44
Fls. 171, Apartado Confidencial. p.98
45
Assevere-se, ainda, que tal credenciamento somente foi efetivado após a instauração do Processo
Administrativo.
46
o que contraria a legislação vigente na União Européia, a empresa que optar por definir critérios objetivos para
um sistema de distribuição deverá, obrigatoriamente, credenciar TODAS as empresas que se qualifiquem para
tal.
29
reserva o direito de acatar ou não a indicação de revendas para esta categoria, bem
como indicar revendas para esta categoria” e, ainda, “a aprovação para um novo
contrato Select (...) deve ser encaminhada previamente para análise pela Microsoft,
antes da oferta ser realizada ao cliente corporativo.” 47 Ou seja, tal cláusula torna
absolutamente arbitrário o ato de credenciamento de uma empresa, pois mesmo
aquela que preencher os requisitos poderá não ser credenciada, caso a Microsoft
não deseje.
Ademais, há suficientes provas nos autos que demonstram que a
Microsoft, em diversas localidades não efetivou uma observância estrita dos critérios
quantitativos por ela estabelecidos, o que possibilitou uma escolha subjetiva dos
seus LARs.
E isso fica claro a partir de dados que confirmam que muitas vezes
empresas que não alcançam o critério quantitativo para se credenciar, o foram
mesmo assim, a despeito do seu baixo desempenho em vendas Microsoft, ou até
mesmo estando ausente a capacidade de sua demonstração. E isso não é apenas
uma hipótese. Os dados contidos nos documentos enviados pela SEAE demonstram
que foi exatamente o que ocorreu, senão vejamos: 48
CONFIDENCIAL
30
despeito deles, os parceiros que lhe são mais interessantes, independentemente de
eficiência ou qualificação.50
O que mais espanta é que no Distrito Federal, justamente a sede do mais
importante “cliente” da Microsoft – a Administração Pública Federal – a empresa não
flexibilizou tais critérios.
Com efeito, a Microsoft enviou correspondência à empresa IOS
Informática, através da qual determinou a apresentação de um relatório que
demonstrasse a efetiva compra de produtos pelo cliente Infraero (único cliente
governamental da empresa IOS), como condição imprescindível à renovação do
contrato Select com aquela empresa, e condicionou o credenciamento da empresa
IOS como Lar à indicação daquele órgão Governamental. Porém, deixou claro que,
caso fosse indicada, “não estaria autorizada a atuar como LAR em quaisquer outras
situações comerciais ou contratuais”.51
Deste modo, a forma errática com a qual a Microsoft utilizou-se dos
critérios causou danos patentes à concorrência. Isto porque, em situações nas quais
lhe era conveniente, ela manteve ou credenciou empresas que não se enquadravam
nos critérios. Já em situações que lhe convinham, ela foi rígida, descredenciando
empresas que não se adequavam a tais critérios, como ocorreu justamente no
Distrito Federal.
Tanto é assim que, em que pese o mercado do Distrito Federal ser um
dos mais atraentes do Brasil, justamente por sediar o Governo Federal, a Hepta
Informática somente foi credenciada dois anos após o estabelecimento de tais
critérios e, coincidentemente ou não, tal credenciamento deu-se apenas depois da
instauração do presente Processo Administrativo52. Isso demonstra como, de fato,
houve um congelamento na possibilidade de entrada de concorrentes à TBA no
mercado analisado. O mercado do Rio de Janeiro, sabidamente de menor potencial
que o DF, possuía, à época, quatro LARs credenciados. Tamanha discrepância não
pode passar despercebida.
50
Aliás, conforme bem pontuado pela SDE: “ao estabelecer altíssimos quantitativos mínimos de venda, a
representada Microsoft passa a controlar indiretamente o número de distribuidores, o que, em um mercado
monopolista e com fortes barreiras à entrada, gera substanciais prejuízos à concorrência e, por óbvio, aos
consumidores. A possibilidade de controle subjetivo do número de revendas é o principal instrumento para o
ajuste de vantagens entre o fabricante e seus distribuidores (no caso, Microsoft e TBA) que, como será visto em
seção específica deste parecer, efetivamente ocorreu entre as representadas.”50
51
Autos fls. 205/206
52
Frise-se, inclusive, que sequer consta dos autos prova de que ela efetivamente enquadrava-se em tais critérios.
31
operacionalização do tipo SELECT junto a entidade governamentais federais com
sede no Distrito Federal. Igual redação possui carta remetida à Junta Comercial do
Distrito Federal”53 .
Assim, fica claro que como a TBA já detinha cartas de exclusividade para
a venda dos Contratos Select da Microsoft junto ao Governo Federal desde 1994, a
Microsoft tinha pleno conhecimento de qual seria a única empresa capaz de
satisfazer os critérios de credenciamento por ela estabelecidos. Tornou-se
extremamente simples elaborar critérios que garantissem a permanência de tal
exclusividade.
Assim, a Microsoft, mesmo antes do estabelecimento dos critérios de
credenciamento regional já estabelecia exclusividade à TBA, limitando o acesso de
outras empresas à operacionalização do contrato Select com a administração
pública federal.54
Ademais, a renovação sucessiva dos contratos Select estabelecidos pela
TBA, sem a existência de uma padronização transparente, fortalecia ainda mais o
domínio da Microsoft e de sua parceira TBA, no mercado relevante ora analisado, já
que propiciava o fortalecimento de um ciclo vicioso de inexigibilidade de licitação,
impedindo que novos produtos e novos fornecedores, por vezes com técnicas
superiores, pudessem conquistar parcela deste mercado. Prova disto é a de que
somente em 2000, após a abertura do presente Processo Administrativo, e sem ficar
claro sequer o efetivo cumprimento dos requisitos objetivos, veio a ser credenciada
nova empresa.
Além disso, mesmo depois da mudança de redação da carta elaborada, a
intenção da Microsoft em estabelecer o monopólio da TBA no DF permaneceu a
mesma, conforme se depreende da carta datada de 27 de março de 1998, na qual
declara que a TBA é a única e exclusiva revendedora atualmente autorizada a atuar
na operacionalização de contratos do tipo “SELECT” junto a entidades
governamentais federais com sede no Distrito Federal. (...) A nomeação da TBA
como única revendedora autorizada a atuar na operacionalização de contratos do
tipo “SELECT” junto a entidade governamentais federais com sede no Distrito
Federal permanecerá válida até 27 de março de 1999, a menos que rescinda
anteriormente a critério da Microsoft, mediante notificação escrita com 30 dias de
antecedência.
E as cartas foram enviadas inclusive a Estados onde a TBA não era
sequer credenciada como LAR. Conforme se depreende de correspondência
endereçada a Dataprev, com sede na Cidade do Rio de Janeiro, a Microsoft
esclarece que a empresa TBA detém exclusividade na revenda de seus produtos no
âmbito do governo federal. Ou seja, expressamente, determina que a Dataprev
adquira seus produtos através TBA, direcionando o seu comportamento, ignorando o
fato de diversos outros LARs encontrarem-se credenciados naquela cidade.
53
Autos fls. 739.
54
A empresa IOS Informática detinha um único contrato com a Infraero, cujo faturamento, no entanto, estaria
muito abaixo daquele permitido pelos critérios de credenciamento lançados em 1998. Ela, a exemplo da
empresa Cobra (prestadora de serviços de informática ao Banco do Brasil) atuava como Specialist Lar,
modalidade excepcional em que o cliente aponta a empresa que irá prestar o serviço. Obviamente, a
administração direta federal não poderia se utilizar do Specialist Lar para a inexigibilidade, dada as restrições da
Lei de Licitações.
32
Às fls. 740, em 03 de abril de 1997, quando consultada sobre o acordo
Microsoft Select pela DATAPREV (com sede no Rio de Janeiro), a Microsoft assim
se manifesta:
Declaramos que a empresa TBA Informática Ltda, com escritórios à Rua do Mercado, 11
– 16º andar, Centro, Rio de Janeiro, RJ, e sede em Brasília, DF, é a empresa
credenciada junto à Microsoft Corporation e indicada com exclusividade, para atuar
como LAR, representando a Microsoft Corporation, sob o Select Program com a
DATAPREV e afiliados (INSS, MPAS, e quaisquer outros órgãos ligados ao Sistema
Previdenciário que venham a ser incluídos no acordo em pauta)” (grifo nosso)
33
escopo de suas atribuições. A questão está em analisar as causas que ensejaram a
concessão de exclusividade à TBA, fato que levou à inexigibilidade de licitação.
“Desta forma, pode ser entendido o contrato Select Master Agreement como um
pacto de natureza híbrida destinado a adequar programas disponíveis no mercado
às peculiaridades de um usuário e que demanda especialização de seus
fornecedores, tanto do ponto de vista qualitativo como do quantitativo” (fl. 2600,
grifos no original).
55
Processo nº TC – 013.923/2003-6
34
“O contrato SELECT é firmado com INSS e a Microsoft Corp, pelo período mínimo de
dois anos. Porém, devido a Lei 7646/87 ora citada, a Microsoft elege um LAR (Large
Account Reseller) que fornecerá os serviços e produtos objeto do contrato.”(grifos
nossos)56
“Designada com exclusividade pela Microsoft do Brasil – fabricante dos produtos objeto
desta proposta – a atender clientes Corporativos Governamentais, garantindo todas as
condições comerciais, financeiras e técnicas oferecidas no contrato SELECT conforme
comprovações anexas, a TBA Informática disponibilizará ao INSS sua infra-estrutura
física e profissional, em sua atuação como Microsoft Large Account Reseller (LAR).
(grifos no original)
(...)
Tais empresas [LARs] incumbem-se do fornecimento de mídias adicionais, controle da
instalação e utilização de produtos, avaliação do nível de consumo, reciclagem de
conhecimentos e capacitação básica para utilização do software, bem como assistência
técnica básica e avançada, com transferência de tecnologia.
No Brasil, em virtude das exigências legais, foram escolhidas algumas empresas para
atuar com exclusividade em determinados segmentos de mercado, atendendo assim o
preceituado na Lei 8.666 – Lei de Licitações – no que diz respeito à dispensa de
licitação.
Em virtude do seu destacado desempenho, a TBA Informática atua hoje, com
exclusividade, nos órgãos do Governo Federal, sendo especializada no atendimento ao
segmento em todo país e tendo firmado contratos com diversas empresas e órgãos de
57
pequeno, médio e grande portes.”
Não resta a menor dúvida de que a TBA buscou tirar o máximo proveito
da exclusividade auferida de modo subjetivo destacado acima. Assim, de modo
ativo e enfático, propagou a clientes corporativos a circunstância de ter sido elegida
com exclusividade a única empresa apta a comercializar e operacionalizar o contrato
Select ao Governo Federal. Note-se, inclusive, que em diversas correspondências a
TBA utiliza a expressão “clientes corporativos Governamentais”, estendendo, assim,
a amplitude das conseqüências da exclusividade a ela conferida, transmudando a
exclusividade territorial em exclusividade a um determinado cliente, o Poder Público
Federal. Assim, não só alardeou a circunstância de ser a empresa apontada com
exclusividade para operacionalizar o contrato Select, como firmou contratos com tais
entes administrativos, ainda que se comprometendo a atender órgão eventualmente
localizados fora do Distrito Federal, sendo o mais eloqüente caso documentado nos
autos o do INSS do Rio de Janeiro.
56
Autos fls. 5138
57
Fls. 5133/5134, respectivamente – Prospecto enviado ao INSS, com a proposta Select, em 03 de setembro de
1997.
35
Assevere-se, assim, que sem o concurso da TBA, que desempenhou
ativo comportamento de enfatizar o caráter exclusivo de operacionalização do
contrato Select a clientes corporativos governamentais, a exclusividade a ela
concedida não teria o condão de produzir efeitos deletérios à concorrência. Assim,
não bastassem os demais elementos coligidos, a circunstância dela propagandear a
exclusividade a ela garantida, explicando-a à Administração Pública (inclusive
demonstrando que de tal exclusividade advinha como conseqüência lógica e
inoponível a inexigibilidade de licitação) atesta que sem o seu concurso os efeitos da
exclusividade não seriam operados. Ademais, resta incontroverso que ela
beneficiou-se intensamente da exclusividade concedida, pois pôde, por um largo
período, operacionalizar sozinha o contrato Select com a Administração Pública
Federal.
“14. Deve-se destacar que não configura ilícito antitruste a imposição de critérios para o
credenciamento de revendedoras. É perfeitamente possível o estabelecimento de
condições pela Microsoft a serem atendidos (sic) pelas interessadas em trabalhar com
ela. É uma tendência que decorre da preocupação de grandes empresas em garantir
aos seus clientes certos padrões de qualidade. No entanto, tal conduta pode passar a
adquirir caráter ilícito, na medida em que a estipulação dos critérios tendem a beneficiar
determinada empresa em detrimento de outras, restringindo o acesso de empresas
interessadas no credenciamento, ou ainda dificultando ou rompendo a continuidade e o
desenvolvimento de relações comerciais já estabelecidas.
15. Quanto à conduta da letra (c) deve-se considerar dois aspectos relevantes: 1) TBA –
único LAR credenciado no Distrito Federa para operar com Contratos SELECT; 2)
agilização do procedimento licitatório.
16. Sendo a TBA único LAR credenciado pela Microsoft no Distrito Federal, e existindo a
restrição territorial à qual estão sujeitos todos os LARs, conclui-se que serão inexigíveis
as licitações públicas para aquisições que ocorram no Distrito Federal, uma vez
escolhida a plataforma Microsoft pelo administrador público, em virtude da
impossibilidade de se estabelecer competição entre os fornecedores. Note-se ainda que
o processo de contratação direta pela Administração é muito mais célere que o
procedimento licitatório.
17. Sabe-se que cartas conferindo exclusividade à TBA no atendimento ao setor público
foram emitidas pela Microsoft. Embora a TBA não seja contratualmente revendedora
exclusiva da Microsoft, está claro que de fato a TBA detinha essa característica, na
medida em que era o único LAR habilitado pela Microsoft na região do Distrito Federal.
18. Fica patente, então, que os benefícios advindos de tal situação alcançam tanto a
Microsoft quanto à TBA. Detentora de exclusividade, a TBA teria garantida a venda de
certo volume, além de deter um poder maior de discricionariedade na fixação do preço
cobrado à administração . A Microsoft ganharia em maior agilidade, uma vez que a
licitação seria inviável.”
36
No que tange à TBA, são nítidos os benefícios gerados com a
exclusividade. Ela permite ganhos não somente porque era a única a atuar no
mercado do Distrito Federal, o segundo mais importante do país, como por
conseguir a inexigibilidade na licitação. Ademais, a manipulação da extensão da
exclusividade permitiu-lhe alcançar inexigibilidade também para o atendimento de
órgãos do Governo Federal estabelecidos fora do Distrito Federal. A exclusividade
foi efetivamente ampliada para os serviços agregados, aumentando
substancialmente os seus ganhos em detrimento de concorrentes efetivos e
potenciais.
37
(o "problema do carona"). Tal fenômeno dar-se-ia no caso de uma empresa
revendedora aproveitar-se dos esforços em publicidade de outra, o que
representaria um considerável desestímulo ao investimento em divulgação dos
produtos. Assim, a limitação territorial à atuação dos LARs seria apta a evitar os
citados comportamentos oportunistas.
Como o comportamento do carona reduz o incentivo para os
distribuidores promoverem o produto, já que podem sempre se apropriar do esforço
dos outros ou até mesmo da reputação pregressa do produtor, este último pode
utilizar uma cláusula de exclusividade para minimizar tal comportamento. Isso
acontece porque ao adotar tal cláusula o produtor acaba por conceder ao distribuidor
um certo poder de mercado local e assim ele tem certeza de que o máximo esforço
de venda está sendo empreendido, seja no que concerne à propaganda do produto,
ao investimento em técnicos de qualidade ou em stand de vendas, ou qualquer outro
tipo de investimento por parte do distribuidor que leve a um aumento na demanda
pelo produto.
Cabe, assim, indagar se existe possibilidade dos LARs adotarem um
comportamento oportunista, o que levaria a um resultado sub-ótimo do ponto de
vista das necessidades da Microsoft. Entretanto, analisando-se os autos, parece não
ser este o caso em questão. Claro está que, para o revendedor, representar a
Microsoft é um grande negócio. Conforme dito anteriormente, a marca Microsoft
vende-se por si só, pois já está consolidada no mercado no qual se insere. Não seria
interessante, todavia, que o revendedor simplesmente ignorasse a força de
marketing presente na marca e simplesmente esperasse o consumidor aparecer,
pois, como ele, existem outros vários representantes ofertando o mesmo produto. A
sua melhor opção seria empreender esforços para a venda, utilizando-se, para tanto,
dos produtos por ele comercializados. Uma vez que esta marca pode se tornar o
carro chefe da empresa, investir esforços na sua venda, e torná-la instrumento de
captação de clientes seria a atitude mais lógica dentro da dinâmica de mercado de
softwares, marcada por um forte efeito de aprisionamento. Ou seja, o cliente se vê
atraído por uma marca que já lhe passa confiança, e por conseqüência, se prende a
ele e às suas atualizações. Para o revendedor, o lucro é certo, quanto mais esforços
de vendas ele fizer maior será o seu retorno.
Ademais, conforme os pareceres das SEAE e SDE, parte expressiva dos
esforços de vendas materializam-se sob a forma de publicidade e promoções,
atividades naturalmente essenciais na estratégia de marketing de qualquer empresa
moderna, não estando a Microsoft alheia a esta tendência. A estratégia de marketing
utilizada pela Microsoft contempla a divulgação de seus produtos por meio de dois
tipos principais de atividades:
1) campanhas - destinadas à divulgação dos produtos no mercado de
varejo. Tais campanhas são promovidas, geralmente, pela própria
Microsoft, às vezes, com a participação de terceiros.
2) eventos - destinados, principalmente, ao mercado corporativo
através da divulgação das plataformas Microsoft. Neste caso, a Microsoft
desenvolveu um sistema de parceria pela aquisição de cotas de
patrocínio pelas revendas.58
Sendo assim, percebe-se que a Microsoft investe na publicidade de seus
produtos, através de sua própria publicidade institucional, empenhando vultuosos
58
Parecer SEAE, p.43, fls. 45 dos autos confidenciais.
38
esforços na divulgação da sua marca, diminuindo e quase anulando a necessidade
de investimentos na publicidade do produto por parte de seus revendedores.
Esta realidade pode ser verificada no caso concreto, uma vez que a TBA
realiza um investimento expressivo na divulgação da própria marca, e não na marca
Microsoft, a despeito de ser a única revendedora para grandes contas cadastrada no
Distrito Federal.59 Caí por terra, assim, os argumentos utilizados pela Microsoft no
que diz respeito à manutenção da unicidade de um LAR no mercado de Brasília,
tendo em vista a necessidade de investimento na marca Microsoft, já que a empresa
que foi seu LAR exclusivo inverte pouco na marca Microsoft, concentrando a
publicidade em sua própria marca.
Afirma a Microsoft, que a pratica apurada possuiria também o condão de
evitar que os incentivos para aperfeiçoamento dos serviços prestados por algumas
de suas revendedoras junto a clientes corporativos fossem reduzidos.
Relativamente a este tópico, a SEAE demonstrou que o monopólio não
seria necessário para que se atinjam os objetivos propostos, considerando que:
Em primeiro lugar, deve ser lembrado que a TBA não atua como LAR exclusivo em
outros mercados menores, como é o caso de Minas Gerais e Paraná. Assim, não parece
que seja razoável a necessidade de uma única empresa em Brasília.
Ademais cabe mencionar que em vários outros mercados, menores inclusive, onde há
um número maior de LARs, os investimentos com gastos em treinamento (e mesmo
publicidade), como proporção do faturamento, dos demais LARs são superiores aos
realizados pela própria TBA, conforme pode ser visto na tabela abaixo.
Tais fatos desautorizam a afirmação de que é necessário existir um número tão reduzido
de LARs no mercado de Brasília.
59
Parecer SEAE, p.43, fls. 45 dos autos confidenciais.
39
II - o preço do produto anteriormente produzido,
quando se tratar de sucedâneo resultante de alterações
não substanciais.
III - o preço de produtos e serviços similares, ou
sua evolução, em mercados competitivos comparáveis.
IV - a existência de ajuste ou acordo, sob qualquer
forma, que resulte em majoração de bem ou serviço ou
dos respectivos custos.”
7. TIPIFICAÇÃO
7.1 Enquadramento no art. 20,I da Lei 8.884/94 pela Microsoft e pela TBA
40
condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista no art. 20
e seus incisos, caracterizam infração à ordem econômica (...)” (gn). À partir da leitura
do dispositivo, percebemos que cristalino é o fato da justa adequação da infração
descrita pelo art. 21 ao enunciado pelo art. 20.
Neste sentido, para a necessária tipificação da infração fundamental é o
desrespeito aos incisos do artigo 20 que definitivamente estabelece a existência ou
não de infração às regras concorrenciais no Brasil.
As condutas praticadas pelas Representadas Microsoft Informática Ltda e
TBA Informática Ltda, efetivaram patente lesão às relações concorrenciais no
mercado em questão, caracterizando-se o ilícito previsto no art 20, inciso I. As
restrições à concorrência intra-marcas, baseadas em critérios estabelecidos ex post,
que eram observados de modo não harmônico e subjetivo, em conjunto com a
quase completa inexistência de concorrência inter-marcas aos produtos ofertados
pela Microsoft, assim como a injustificada exclusividade conferida à TBA no mercado
relevante analisado, representaram elevados prejuízos à concorrência no mercado
de vendas corporativas de software, notadamente na Administração Pública Federal,
enquadrando-se na disposição contida no artigo 20, I, da Lei nº 8.884/94, pelas
razões expostas ao longo do voto.
Com efeito, observa-se claramente que as relações concorrenciais,
notadamente se analisadas em cotejo com as peculiaridades do mercado em
questão, foram lesadas pela forma como foram estabelecidos os critérios de
credenciamento quantitativos e qualitativos, claramente utilizados pela Microsoft de
forma a discriminar potenciais revendedores, limitando e falseando a concorrência.
Vale ainda lembrar que se deu, no caso vertente, a fixação ex post dos critérios para
renovação do credenciamento dos revendedores, permitindo a operação no
mercado do Distrito Federal, e por conseqüência, do Governo Federal, apenas por
uma única empresa. O fato de a Microsoft haver credenciado (ou mantido)
empresas em outras regiões distintas do Distrito Federal que não se adequavam aos
critérios estabelecidos demonstra que eles somente serviam para impedir o
credenciamento ou justificar o descredenciamento quando isto fosse conveniente
para a Microsoft. Vale também recordar que sem o concurso da TBA não seria
possível a implementação dos efeitos da conduta. Ademais, como demonstrado, ela
agiu de modo extremamente pró-ativo, enviando manifestações aos clientes nas
quais enfatizava a exclusividade e a ampliava a todos os órgãos do Governo
Federal, mesmo fora do Distrito Federal. Além disso, a exclusividade englobou não
só o licenciamento como a operacionalização, sendo extensível aos serviços.
Assim, restaram caracterizados os efeitos de limitar a concorrência, dominar o
mercado e exercer abusivamente posição dominante60, o que se enquadra nos tipos
dos incisos I e IV do art. 20 da Lei nº 8.884/94.
Quanto à imputação da TBA da prática de limitar ou dificultar o acesso, o
funcionamento e o desenvolvimento de empresa concorrente no mercado de
distribuição e revenda de produtos de informática, tal ilícito se deu sob dois
aspectos: não só aproveitou-se da exclusividade a ela conferida pela Microsoft,
como efetivamente a implementou, dado que em cartas endereçadas a clientes
60
Conforme salientou a SDE em seu Parecer às fls. 87, “durante o período abrangido pela
investigação, a TBA ativamente tentou limitar e, por vezes, realmente limitou o acesso e o
funcionamento de empresas de informática nos segmentos de venda de softwares prontos e de
soluções de informática, bem como de manutenção, assistência técnica e treinamento”.
41
Governamentais apresentou-se como revendedora exclusiva do Governo Federal.
Assim o fazendo, limitou a concorrência no mercado de revenda de produtos
Microsoft. Ademais, estendeu o seu domínio não só na revenda de produtos
Microsoft como na prestação de serviços, restringindo a possibilidade de atuação
das empresas que poderiam concorrer no segmento de manutenção,
desenvolvimento de softwares, treinamento e assistência técnica ao Governo
Federal. Assim, tais condutas configuram limitação e prejuízo à concorrência (art.
20, I) e refletiram abuso de posição dominante (art. 20, IV), na medida que foram
tomadas a partir da exclusividade e com o intuito de mantê-la, reforçá-la e estendê-
la.
Com efeito, a conduta concernente à limitação do acesso de novas
empresas ao mercado, que comercializam os produtos concorrentes aos produzidos
pela Microsoft, resta configurada pela concessão de exclusividade para a TBA,
induzindo à renovação do Contrato Select sem realização de licitação, o que tanto
beneficia esta última, como à própria Microsoft. Quanto ao aspecto da restrição às
empresas que atuam no segmento de manutenção, desenvolvimento de softwares,
treinamento e assistência técnica, esta conduta estaria configurada em razão da
divulgação da exclusividade pela TBA. Restou ainda caracterizada a ocorrência da
conduta exemplificada no art. 21, VIII, da Lei nº 8.884/94.
Quanto a este ilícito devemos observar duas atitudes na participação em
licitação pública. O primeiro aspecto trata da combinação prévia de preços que
frustra o caráter competitivo de licitação para dividir mercado e/ou aumentar os
lucros mediantes propostas de preços superfaturados. O segundo aspecto refere-se
à conduta de ajustar vantagens que pode ter incidência em situações que não
dependem da atuação de participantes da licitação.
Quanto ao primeiro aspecto pressupõe-se o acordo entre concorrentes
para fraudar a licitação, simulando uma disputa que não existe. Já o segundo
aspecto não pressupõe o ajuste entre concorrentes, mas qualquer tipo de atitude
que gere vantagens indevidas ao particular que contrata com a Administração.
No caso em tela fica patente o enquadramento no segundo aspecto acima
explicitado. Isso porque é evidente que a implementação dos critérios de
credenciamento levaram a que fosse garantido, por um largo período, pelo
fabricante do produto a um de seus distribuidores, exclusividade na negociação do
contrato Select, gerando a inequívoca vantagem de auferir inexigibilidade de
licitação. Nesta hipótese não há competição, de modo que as vantagens indevidas
inegavelmente surgem, configurando a conduta exemplificada no inciso VIII, do
artigo 21 da Lei Antitruste.
Como demonstrado ao longo do voto, prova inequívoca deste ajuste de
vantagens consta das cartas de exclusividade, que materializaram a indicação da
TBA como representante exclusivo no Distrito Federal, situação que impediu a
competição entre licitantes, o que foi determinante para que a Administração Pública
Federal procedesse à contratação direta.61 E, ao fazê-lo, produziram o efeito de
limitar a concorrência (art. 20, I) em claro abuso de posição dominante (art. 20, IV).
61 A SDE, às fls 45, observa que a formalização desse ajuste de vantagens deu-se, inclusive, por
meio da concessão de carta de exclusividade à empresa TBA e, posteriormente, por meio do
credenciamento da empresa TBA como Direct Lar (classificação que, por muito tempo, foi exclusiva
da TBA no Brasil). A partir deste ajuste de vantagens, as representadas passaram a ter
benefícios,constantes na ausênica delicitação e no domínio exclusivo do mercado de vendas ao
Governo Federal e do Distrito Federal pela TBA.
42
8. SANÇÕES APLICADAS
Comprovada a ocorrência de infração contra a ordem econômica, uma
vez que as condutas dos representados se enquadram no tipo descrito no art. 20, I e
IV, combinado com o art. 21, IV e VIII da Lei nº 8.884/94, cumpre estabelecer as
sanções, o que passo a proceder.
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maneira mais coerente com esta premissa, inclusive em virtude de jurisprudência
existente neste Conselho, em especial os votos do ex-Conselheiro Ronaldo Porto
Macedo Jr. nos Processos Administrativos nº 08000.02279/97-0562 e
08012.0000172/98-42.63
Adicionalmente, nos termos do art. 24, inciso III da Lei n.º 8.884/94,
determino que Microsoft Informática Ltda. seja inscrita no Cadastro Nacional de
Defesa do Consumidor.
8.2 Sanções impostas à TBA
62
Representante: Messer Grieshem do Brasil Ltda. Representada: S.A. White Martins
63
Representante: Power-Tech Teleinformática Ltda. Representada: Matel Technologia de Informática S/A –
MATEC.
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A incidência sobre o faturamento em relação somente ao licenciamento
de softwares da Microsoft à administração pública federal e correlata prestação de
serviços deu-se em razão da necessidade de ser simétrico com as duas empresas,
fundamento imposto pelo principio da isonomia. A prestação de serviços foi incluída
porque ela também os prestava, ao contrário da Microsoft. Por outro lado, a
percentagem inferior imputada à TBA encontra fundamento na circunstância de que
a sua participação foi menos determinante para a configuração da infração, muito
embora tenha sido imprescindível, de acordo com as razões expostas ao longo do
voto. Assim, a aplicação analógica do art. 29, §1º, do Código Penal permite alcançar
a cifra de 7% (sete por cento).
Adicionalmente, nos termos do art. 24, inciso III da Lei n.º 8.884/94,
determino que a TBA Informática Ltda. seja inscrita no Cadastro Nacional de Defesa
do Consumidor.
45