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Ao longo do século XV, a Europa vivia um período de prosperidade e ascensão

comercial, principalmente em comparação ao século XIV, auge da peste negra. As


grandes minas de ouro e prata europeias, da Boêmia, do Tirol e de La Mancha, já
estavam em decadência e não eram mais capazes de fornecer a quantidade de
ouro requerida para o comércio. O sistema feudal, por sua vez, estagnara-se; em
meio à crise, a expansão geográfica mostrava ser uma saída. Portugal já tinha
passado pela Revolta do Povo Miúdo e unificado-se, e por isso pôde ser pioneiro
em lançar-se ao mar em busca de novas áreas para comercializar e explorar. A
busca por novos lugares coadunava-se com os interesses da Igreja. A cultura da
expansão da fé cristã – da Reconquista, contra os mouros, à conquista de novas
terras – guiou os lusitanos que encontram, em 1500, o território do atual Brasil.
A princípio, não houve colonização. Feitorias ao longo da costa estabeleciam
a autoridade portuguesa na nova terra. Desde o tratado de Alcáçovas, de 1479,
assinado entre o reino de Portugal e de Castela, a expansão marítima era regida
pelo princípio do mare clausum, que dava jurisdição espiritual aos reinos sobre suas
terras. O escambo de pau-brasil, com os indígenas, foi a primeira atividade
econômica realizada. Somente em 1530, com a expedição de Martim Afonso de
Souza, a terra começou a ser efetivamente colonizada, de maneira ainda
não-hereditária. Foi fundada São Vicente. Visando derrotar franceses que cercavam
a costa e ir até a Foz do Prata, a missão não cumpriu todos os seus intuitos. Em
1533, é estabelecida a divisão da terra em capitanias hereditárias, doadas
principalmente a nobres da baixa nobreza, visto que as Índias atraíam os mais altos
investimentos portugueses. Os capitães donatários tinham poderes econômicos e
administrativos. Deveriam pagar impostos à Coroa e podiam cobrar tributos, alistar
colonos, formar milícias e doar terras, conhecidas como sesmarias. Destas surgem
os latifúndios, presentes até hoje. Era necessário um alto investimento para a
instalação de engenhos de açúcar. Das quinze capitanias, somente duas
prosperaram: São Vicente, baseada em economia de subsistência, e Pernambuco,
que fornecia cana-de-açúcar para a Metrópole. O fracasso das outras se justifica ou
por falta de investimentos, ou por reação indígena – algumas até mesmo por falta
de iniciativa de colonização.
Em 1549, Portugal instituiu o governo geral, que visava a efetiva colonização.
Tomé de Souza, primeiro governador, criou a primeira capital, polo administrativo da
Colônia, São Salvador. Há um esforço de centralização. A Coroa, aos poucos, por
meio da compra ou por meio de processos jurídicos, implementa capitanias régias
sob tutela direta do rei. Ainda assim, a presença da parceria privada com a Coroa é
marca fundamental da colonização.
Depois do governador geral, na hierarquia, vem o governador de capitania. A
burocracia poderia ser dividias em três grandes áreas: a Justiça, composta pelos
juízes e ouvidores nos Tribunais da Relação; a Fazenda, presidida pelo governador
da capitania; e a Militar, pelas forças armadas.
Junto ao governo geral vêm os jesuítas, importantes agentes de
interiorização. Eles têm papel primordial na aculturação dos indígenas e no
estabelecimento de assentamentos. Eram uma das formas de maior capilaridade do
poder da Igreja sobre o território. Muitas vezes, entravam em conflitos com colonos
por se oporem à escravidão indígena, principal mão-de-obra do século XVI. Muitas
das terras da Igreja pertenciam às ordens religiosas, sobretudo a Companhia de
Jesus. A simbiose entre Estado e Igreja era de mútuo benefício, e resultou num
mecanismo conhecido por padroado real. Aquele possuía autoridade e soberania
sobre a terra conquistada e seus colonos. Esta, por sua vez, possuía jurisdição
espiritual sobre as almas; dava respaldo religioso à autoridade do Estado sobre
seus súditos e direito de recolhimento do dízimo.
A autoridade sobre o território dava à Metrópole o direito de, na teoria,
comercializar exclusivamente com sua Colônia. Essa interferência feita pelo Estado
em prol de uma balança comercial favorável a Portugal foi instituída, a partir do
século XVII, por meio de Companhias de Comércio. A dificuldade de fazer-se
obedecer num território desconexo, como um arquipélago, permitia muitas brechas
e comércio paralelo com outras nações.
Ao longo do período colonial, a principal atividade econômica era a
cana-de-açúcar. Seu auge vai de 1570 a 1620, mas sem nunca perder importância
na economia colonial. Restrita à costa, mantinha a maior parte dos colonos
“arranhando a costa, feito caranguejos”. Era cultivada em sistema de plantation,
com mão-de-obra escrava negra, latifúndios e monocultura para exportação. O
senhor de engenho se torna uma figura central no poder local. Com alto prestígio
social e ares nobiliárquicos, em torno de sua figura se estrutura uma sociedade
patriarcal, com baixíssima mobilidade social e pouca diversidade de profissões.
O Norte do Brasil começa a ser colonizado no século XVII. O Forte de Belém,
de 1616, marca o domínio português sobre o território disputado com a França. Os
jesuítas tiveram papel primordial na aculturação dos indígenas na região amazônica,
onde prevalecia sua mão-de-obra. As drogas do sertão eram a principal atividade
econômica da região, desprovida até de moeda como meio circulante. Durante a
União Ibérica, a Coroa divide a administração da região do restante, criando o
Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado do Estado do Brasil.
A economia da colônia não se restringia ao mercado externo. O gado ajudou
a interiorizar a colonização e a dinamizar o mercado interno no Nordeste e no Sul..
Expandiu os limites territoriais da colônia a oeste. A capitania de São Vicente desde
o princípio se mostrava voltada ao interior, com acampamentos jesuítas
espalhando-se pelo centro. Os bandeirantes, principalmente a partir do século XVII,
lançaram-se aos rincões do continente em busca de prear indígenas, à revelia ou
nas brechas da lei, destruir quilombos e encontrar minérios. Este último objetivo,
alcançado em Minas Gerais no fim do século XVII, inaugurou uma nova atividade
econômica na Colônia.
O Sul foi, de todas, a região mais belicosa. O constante conflito com a
Espanha sobre os arredores do estuário do Prata marcam a história da região.
Sacramento foi fundada por portugueses na margem oposta a Buenos Aires no
século XVII, com o intuito de interferir no comércio de prata do alto Peru. A
instabilidade da posse do território era tamanha que no século XVII foi assinado o
Tratado de Madrid, idealizado por Alexandre de Gusmão, em que Portugal cedia o
território em troca de Sete Povos das Missões. O acordo buscava estabelecer
fronteiras naturais e baseou-se no uti possidetis, em que a propriedade pertence a
quem tem a posse. Delimitou as fronteiras do Brasil de forma muito semelhante às
atuais. Após a morte do Rei José, contudo, e a ascensão de Marquês de Pombal,
que discordava da cessão de Sacramento, o tratado foi anulado em 1761, pelo
tratado de El Pardo.
Pombal, déspota esclarecido, intensificou as políticas mercantilistas no Brasil
e o controle da Coroa sobre a Colônia. Durante seu governo, a capital do Brasil foi
transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Ao ficar mais próxima das
minas, a Coroa é capaz de ter maior controle da tributação. Também ficou,
naturalmente, mais próxima à região de conflito. Outra medida pombalina foi o fim
das capitanias hereditárias e a expulsão dos jesuítas da Colônia, o que causou uma
deficiência na escolaridade local.

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