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História nove

A POLÍCIA POLÍTICA DO ESTADO NOVO

Todos os Estados autoritários, pela sua natureza antidemocrática, usam a força para
se manterem no poder e precisam, por isso, de forças policiais numerosas e obedientes. Há,
no entanto, um tipo de polícia que os Estados autoritários prezam acima de tudo e que é,
aliás, exclusiva desse tipo de regimes: a polícia política. Trata-se de uma polícia secreta (os
seus membros não andam fardados e procuram confundir-se com os cidadãos comuns) com
um objetivo preciso: identificar, perseguir e, se necessário, deter, interrogar e manter sob
prisão todos os que, pelas palavras ou pelos atos, manifestem a sua oposição ao regime no
poder.
Durante o Estado Novo a polícia política que perseguiu e aterrorizou gerações de
portugueses foi a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). No entanto, não se
chamou sempre assim, embora as suas funções tenham sido, sensivelmente, as mesmas.
Logo em 1926, foi criada a Polícia de Informações encarregada da prevenção e
repressão dos crimes políticos e sociais. Em 1933, essas funções transitam para a PVDE
(Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), que se torna PIDE em 1945. Muito mais tarde, já
em 1969, durante o marcelismo, mudará outra vez de nome e passará a chamar-se DGS
(Direção Geral de Segurança). De qualquer modo, fosse qual fosse o nome e um ou outro
pormenor de organização, o seu papel mudou pouco, sendo a principal força repressiva do
regime e a mais temida de todas.
Ao contrário do que acontece com a polícia nos regimes democráticos, a PIDE era
completamente independente dos tribunais podendo não só prender pessoas como instruir os
respetivos processos sem qualquer controlo judicial. Além disso, como era esta polícia que
superintendia nos estabelecimentos prisionais destinados aos detidos por motivos políticos,
podia manter a prisão preventiva por tempo indefinido e prolongar, por alegadas razões de
segurança, o cumprimento das penas decididas em tribunal.
O número de elementos da polícia política foi sempre crescendo: de cerca de 400, em
1945, chegou a mais de 3000, em 1974. Além disso, dispunha de uma vastíssima rede de
informadores (a que o povo chamava «bufos»). Tratava-se de gente das mais variadas
profissões que, com o desconhecimento de todos, até das pessoas mais íntimas e dos
próprios familiares, prestavam informações e faziam denúncias à PIDE, a troco de uma

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determinada remuneração, que podia variar. Distribuídos por todo o país, calcula-se que, em
1974, deviam andar à volta dos 20 000.
O objetivo principal da PIDE era, aliás, o de instalar o medo, criando a ideia de que
nada acontecia sem o seu conhecimento, o que, embora não fosse verdade, alimentava na
população um clima geral de desconfiança e o receio de manifestar qualquer opinião que
pudesse ser considerada suspeita.
Os indivíduos detidos pela PIDE ficavam sujeitos a todas as arbitrariedades sendo
generalizado o recurso à tortura para a obtenção de informações. Uma das formas mais
comuns de tortura, além dos espancamentos, era a «tortura do sono»: o preso era impedido
de dormir durante dias ou semanas até confessar aquilo que a polícia pretendia.
Em casos extremos, a PIDE não hesitou em assassinar adversários políticos como foi
o caso, entre muitos outros, do pintor e membro do Partido Comunista José Dias Coelho, em
1961, ou do general Humberto Delgado, em 1965.
Os estabelecimentos prisionais dirigidos pela PIDE e destinados aos acusados de
crimes políticos foram primeiro o Aljube, em Lisboa, e, depois, os fortes de Caxias e de
Peniche. O mais sinistro de todos foi, porém, o campo de concentração do Tarrafal (na ilha de
Santiago, em Cabo Verde), que ficará conhecido como o «campo da morte lenta». Aberto em
1936 e encerrado em 1954, será reativado entre 1961 e 1974 para receber, nesta última fase,
suspeitos de pertencerem aos movimentos de libertação das colónias.

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DOCUMENTOS ICONOGRÁFICOS

Imagem 1 Forte de Peniche, que foi durante décadas uma das principais prisões
para presos políticos.

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Imagem 2 Aspeto do campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), na


atualidade.

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Imagem 3 Prisão do Aljube, junto à Sé de Lisboa.

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Imagem 4 O Forte de Caxias, outra das mais assustadoras prisões utilizadas


pela polícia política do Estado Novo.

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Imagem 5 Sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

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Imagem 6 Camponeses alentejanos detidos pela GNR.

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Imagem 7 Fichas da PVDE/PIDE. À esquerda, a ficha de Bento Gonçalves, que


foi secretário-geral do Partido Comunista Português e viria a morrer no campo
de concentração do Tarrafal, em 1942.

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Imagem 8 Fotos de detidas e detidos da PIDE.

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