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Geologia

Material Teórico
Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Carlos Eduardo Martins

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Estrutura Interna, Deriva Continental e
Tectônica Global

• Deriva Continental;
• Os Pós-guerras e a Retomada da Deriva dos Continentes;
• A Expansão do Assoalho Oceânico;
• Tectônica Global ou de Placas.

· Esta unidade tem por objetivo apresentar o grande avanço que as inovações
tecnológicas e as novas teorias a respeito da Terra, em especial na geofísica,
produziram na Geologia.

Nesta unidade em que trataremos da estrutura interna, da deriva continental e tectônica


global, você terá acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado nesse módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocados no ar.
Recorra sempre que possível às videoaulas e aos slides narrados para tirar eventuais dúvidas
sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além desses recursos, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema estrutura
interna, deriva continental e tectônica global, pois há inúmeros conteúdos na internet que são
bastante úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional.

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Contextualização

“Nosso universo nasceu, há 15 bilhões de anos, numa maciça superexplosão, e,


segundo as especulações cosmológicas da época em que escrevo, pode acabar
de maneira igualmente dramática. Dentro dele, o histórico de vida das estrelas,
e, portanto de seus planetas, está, como o universo, cheio de cataclismos:
novas, supernovas, gigantes vermelhas, anãs brancas, buracos negros e o
resto - nenhum deles reconhecido ou encarado como mais que fenômenos
astronômicos periféricos antes da década de 1920. A maioria dos geólogos
resistiu durante muito tempo à ideia de grandes deslocamentos laterais, como
os continentes movendo-se em todo o globo no curso da história da terra,
embora a evidência disso fosse mais ou menos forte. E o fizeram com base
em grande parte ideológica, a julgar pela extraordinária ira da controvérsia
contra o principal proponente da “deriva continental”, Alfred Wegener. De
qualquer modo, o argumento de que isso não podia ser verdade porque não se
conhecia nenhum mecanismo geofísico para causar tais movimentos não era
mais convincente a priori, em vista da evidência, do que o argumento de lorde
Kelvin, no século XIX, de que a escala de tempo então postulada por geólogos
devia estar errada, porque a física, como então entendida, fazia a terra muito
mais jovem do que a geologia exigia. Contudo, desde a década de 1960 o antes
impensável tomou-se a ortodoxia da geologia do dia-a-dia: um globo de placas
gigantescas mudando de lugar, às vezes rapidamente (“placas tectônicas”).”
HOBSBAWN, E. Era dos Extremos: o breve século XX – 1914-1991.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 530.

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Deriva Continental

Alfred Lothar Wegener (1880-1930) é um nome de referência não só para a Geologia,


mas para a Astronomia e Meteorologia. Foi o pioneiro no uso de balões meteorológicos para
registrar os dados da atmosfera em grande altitude. Seu vínculo com a Meteorologia foi além
da prática científica, ele se casou com a filha do meteorologista Wladimir Köppen, autor do
mapa de climas mais utilizado do mundo.
Apesar das suas valiosas contribuições no campo da meteorologia, Wegener tinha muito
interesse pessoal na Geofísica e na Paleontologia. Passava horas na biblioteca da Universidade
de Marburg, Alemanha, pesquisando sobre temas dos mais diversos, principalmente Geofísica.
O objetivo das leituras de Wegener foi ficando cada vez mais voltado para tentar provar a
mobilidade da superfície terrestre, por dois aspectos:
· Ele não concordava com as teses que explicavam a ocorrência de fósseis semelhantes
em diferentes continentes;
· Ele estava cada vez mais convencido de que uma série de fenômenos – geográficos,
geológicos, climáticos, paleontológicos e geomorfológicos – pareciam, na visão dele,
relacionados.
Wegener concordava veementemente com a tese de Abrahan Ortelius (1596) de que
as costas da América e da África foram a mesma superfície. O que ele sabia era que sem
evidências incontestáveis dificilmente receberia crédito por essa hipótese, pelo contrário, seria
ridicularizado, como aconteceu com muitos que o tentaram.
Sua busca a partir de então foi a de levantar evidências comprobatórias para sustentar a
hipótese da mobilidade da superfície terrestre, que não era originalmente de Wegener, mas
que ele estava muito empenhado em provar.
Diversas pesquisas permitiram que se certificasse das similaridades geológicas nas idades
das rochas e das orientações das estruturas geológicas nos lados opostos do Atlântico.
Na época, diversas pesquisas botânicas e zoológicas mostravam a existência de espécies que
coexistiam nos diferentes continentes. Chamou a atenção de Wegener o caso da distribuição
geográfica do molusco Helix pomatia (o caracol de jardim) e dos vermes lumbricídeos na
margem oeste da Europa e ao leste da América do Norte, ou seja, na margem atlântica dos
dois continentes separados por milhares de quilômetros.
O mesmo pode ser dito a respeito da ocorrência de fósseis de um pequeno tipo de réptil
aquático, chamado no Brasil de Mesosaurus brasiliensis (Stereosternum Tumidum), entre
outras espécies também correlacionadas, comum aos sedimentos permianos tanto do Brasil
quanto da África do Sul.
O conhecimento em meteorologia e clima deu a Wegener a condição de perceber
que alguns fósseis inventariados em sua época teriam sido resgatados de locais nos quais
os climas não condiziam com as espécies registradas, por exemplo: fósseis de plantas
tropicais, conhecidas como Flora Glossopteris, encontrados no que é hoje a ilha de

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Spitsbergen, próxima ao Polo Ártico e, de forma mais impressionante, na América, África,


Índia, Austrália e Antártica. A Figura 1 apresenta um esquema similar ao que Wegener
observou sobre as espécies citadas acima.

Figura 1 – Associações fósseis observadas em conjunto por Wegener

Fonte: Wikimedia Commons

Além da semelhança continental e correspondência fóssil, Wegener também procurou


averiguar se existiriam semelhanças paleoclimáticas que pudessem auxiliar na sua busca pelas
provas da mobilidade dos continentes.
Ele encontrou os indícios necessários em algumas pesquisas que estavam em vias de
comprovar as glaciações ocorridas a cerca de 300 milhões de anos, as quais abrangeram o sul
e o sudeste do Brasil, o sul da África, da Índia, Austrália e da Antártica (Figura 2).

Figura 2 – Evidência glacial utilizada por Wegener (1915)

Fonte: tasaclips.com

O gelo desse episódio de glaciação não se encontra mais nesses locais, à exceção da An-
tártica, mas as suas marcas ainda podem ser reconhecidas. Em particular, podemos relacionar
as estrias por abrasão que a geleira em movimento produz nos afloramentos rochosos (Figura 3),
bem como os sedimentos glaciais e algumas evidências de remoção ou erosão por geleiras.

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Figura 3 – Pavimento estriado de Witmarsum, Paraná, Brasil.
Similar aos observados por Wegener

Fonte: Wikimedia Commons


De posse de todas essas informações, Wegener tratou de publicar a sua hipótese de mobilidade
terrestre no livro The Origin of Continents and Oceans (A origem dos Continentes e
Oceanos) em 1915. Para ele, a superfície da Terra era completamente móvel, ao que chamou
de deriva dos continentes.
A deriva dos continentes tivera início entre 225 e 230 milhões de anos, quando um antigo
supercontinente, que ele denominou Pangeia (grego pan = toda e gaia = terra), cercado por um
único oceano, o Pantalassa ou Paleo-Pacífico, começou a se fragmentar e mover, gerando os
supercontinentes Laurásia, ao norte do Equador, e o Gondwana, ao sul. Posteriormente, esses
deram origem aos continentes atuais. A Figura 4 esquematiza a tese da deriva de Wegener.

Figura 4 – Provável movimento da deriva dos continentes que, segundo Wegener,


divide o supercontinente Pangeia e o Oceano Pantalassa.

Fonte: 3.bp.blogspot.com

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Ao contrário do que ele imaginava, sua teoria foi recebida com ressalvas pelas comunidades
científicas europeia e americana. Algumas reações mostraram até certa hostilidade, como foi o
caso de Rollin T. Chamberlin, da Universidade de Chicago, que apelidou a teoria de Wegener
de Footloose – uma coisa capaz de circular livremente e fazer, ou ser, o que quiser, devido à
falta de responsabilidades ou compromissos.
Parte do problema identificado por seus críticos foi o fato de Wegener não ter atribuído
a força natural que seria capaz de mover os continentes. Acreditava que o movimento dos
continentes podia estar associado à gravitação da Lua, do Sol e da força centrífuga, pelo
movimento de rotação da Terra ao redor de si, e não à forças internas, ou endógenas à crosta.

Em sua última expedição à Groenlândia, em 1930, aos 50 anos, Wegener veio a óbito por
hipotermia. Após a sua morte, a sua teoria foi relegada ao esquecimento.

A exceção fica por conta do geólogo britânico Arthur Holmes que, após tantas discussões
sobre a falta de um “motor” para mover os continentes, em 1928, afirmou que “correntes
de convecção” térmicas ascendentes, que ocorrem abaixo da crosta terrestre, na astenosfera,
arrastaram as duas partes separadas do continente original, expandindo o assoalho oceânico.
Após migrarem por baixo das partes separadas, formavam montanhas nas margens daquelas,
onde as correntes assumiam trajetórias descendentes.

O princípio de Holmes é muito simples: se um fluido tem contato com duas áreas com
temperaturas diferentes, ele entra em uma fase de movimento rotacional alternando de um
ambiente para outro (Figura 5). O movimento do fluido repercute no movimento das estruturas
que flutuam nele.

Figura 5 – Correntes de O calor interno da Terra é gerado por Desintegração


convecção na astenosfera Radioativa ou Decaimento Radioativo – processo de
diminuição da atividade de um nuclídeo radioativo pela
transmutação que sofre ao se desintegrar.

Pode-se afirmar que a proposição das correntes


de convecção de Holmes reascendeu a esperança na
explicação da mobilidade terrestre pela deriva dos
continentes de Wegener, indicando a força propulsora
coerente para mover continentes, algo que o próprio
Wegener, apesar de toda a sua engenhosidade, não havia
conseguido identificar.

Fonte: ic.sunysb.edu

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Os Pós-guerras e a Retomada da Deriva dos Continentes

As duas grandes guerras mundiais produziram o maior número de perdas de vidas humanas
da história, mas deixaram um legado de inovações que, após o término dos conflitos, passou
a ser utilizado para a pesquisa de novos recursos materiais e no desenvolvimento científico.
Os sonares, por exemplo, desenvolvidos para detectar a presença de submarinos inimigos,
começaram a ser usados para o mapeamento do assoalho oceânico. Esse mapeamento revelou
um relevo bastante acidentado, formado por grandes bacias sedimentares entremeadas por
verdadeiras cadeias montanhosas submersas: as cordilheiras ou dorsais meso-oceânicas.
Como boa parte do trabalho de mapeamento se concentrava no Oceano Atlântico, em
pouco tempo os geofísicos já tinham a exata medida da Dorsal Mesoatlântica, um sistema de
montanhas alinhadas do norte ao sul do Atlântico com duas características decisivas para as
teses de mobilidade da crosta:

· O assoalho oceânico do Atlântico era composto por rochas com idades entre 150 e
200 milhões de anos apenas, diferentemente das encontradas na crosta continental, que
podem ter idades superiores a 1 bilhão;
· A zona central da Dorsal Mesoatlântica e das outras dorsais mapeadas em seguida
era caracterizada por uma fenda, denominada de Rift, que concentra a maior parte
dos sismos que ocorrem nessa região do mundo, indicando que se tratar de uma área
sismicamente ativa.

O mapeamento do fundo dos oceanos permitiu, então, além do dimensionamento mais


correto da crosta terrestre, a indicação dos pontos onde os sismos estavam concentrados.
Na Figura 6, podemos observar o resultado dessa combinação de fatores. Note que, na
representação do Instituto de Tecnologia da Califórnia – CALTECH, o mapeamento do fundo
dos oceanos associado ao das ocorrências sísmicas estabeleceu novos limites para a crosta – as
cores da legenda indicam a profundidade do hipocentro dos sismos.

Figura 6 – Ocorrência de sismos na superfície terrestre

Fonte: redorbit.com

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Observe na Figura 6 que as ocorrências mais numerosas com a maior variedade de


profundidade estão distribuídas ao longo de uma faixa que margeia a bacia do Oceano Pacífico.
Essa margem corresponde ao denominado Cinturão ou Anel de Fogo do Pacífico. Nesse, estão
concentrados os fenômenos sísmicos e vulcânicos mais significativos da superfície terrestre,
como, por exemplo:
· Fossa das Marianas (-11.034 metros); Fossa das Filipinas; Fossa do Japão; Fossa Peru-Chile;
· Vulcão do Monte Ontake (Japão); Vulcão do Monte Fuji (Japão); Vulcão Krakatoa
(Indonésia); Vulcão Sinabung (Indonésia); Vulcão Puyehue (Chile); Vulcão Mauna Loa
(Havai); Vulcão Kilauea (Havai); Vulcão do Monte Santa Helena (EUA).

Alguns dos vulcões mencionados encontravam-se adormecidos, mas entraram em erupção


recentemente ou tiveram erupções devastadoras no passado.

Hipocentro - Centro de uma área subterrânea onde a energia do terremoto é


concentrada. Ponto situado no interior da Terra, que é o centro de um terremoto e a
Glossário origem de suas ondas elásticas.
Epicentro - Ponto da superfície terrestre que se encontra situado exatamente sobre
o local de origem do terremoto no interior da crosta, a partir de onde é calculada a
magnitude de um sismo.
Disponível em http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario - Acessado em 14/10/2014

Todo o processo de mapeamento do assoalho do Oceano Atlântico acompanhado da coleta


de amostras de material rochoso foi posteriormente analisado por radiometria, outra novidade
que havia sido incorporada às pesquisas geológicas.

Radiometria (contextualizada no entreguerras mundiais) - Conjunto de técnicas


de medição de radiação eletromagnética, incluindo luz visível. As técnicas
Glossário radiométricas caracterizam a distribuição da potência da radiação no espaço.
Decorre da descoberta da radioatividade, por Henri Becquerel em 1896, processo
em que certos nuclídeos sofrem desintegração espontânea, liberando energia e
formando, em geral, novos nuclídeos. Nesse processo, costuma haver emissão de
um ou mais tipos de radiação, como raios ou partículas alfa, fótons, gama.
Disponível em http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario. Acessado em 14/10/2014

O resultado foi um surpreendente escalonamento das idades das rochas que, quanto mais
próximas da dorsal, mais jovens são (Figura 7).

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Figura 7 – Idades (em milhões de anos) do assoalho do Oceano Atlântico

Fonte: adaptado de Teixeira et al (2009, p. 84)

A combinação entre a datação das amostras coletadas e as medições radiométricas diversas,


observadas na Figura 7, deu a dimensão sobre a expansão de todos os assoalhos oceânicos
que compõem a superfície. O modelo que descreve o processo de expansão do assoalho
oceânico pode ser observado na Figura 8.

Figura 8 – Expansão do assoalho oceânico por corrente de convecção divergente

Fonte: 3.bp.blogspot.com

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Na Figura 8, podemos observar a dinâmica paisagística que as correntes de convecção


ascendentes de movimento divergente promovem. Em a), vemos o início da pressão da
astenosfera sobre a crosta com o aparecimento dos primeiros sinais de fraturamentos do
terreno, expondo e sobrecarregando a plasticidade da crosta nesse local (Hot Spot) ou ao
longo de uma linha, com fortes atividades sísmicas.

Em b), há o início da ruptura da plasticidade da crosta ou o rifteamento e a abertura do


continente com o aumento da intensidade da atividade sísmica. É importante observar que as
marcas do rifteamento permanecem nas duas margens separadas. No Brasil, a Serra do Mar
compreende os sinais do grande processo de rifteamento ocorrido a cerca de 200 milhões de
anos, que separou a América do Sul e a África – situação que havia sido sugerida, mas não
comprovada, desde o século XVI.

Em c), os continentes já apresentam um afastamento considerável. No lugar da superfície


continental, o magma que emerge conduzido pela corrente de convecção, ao entrar em
contato com o ar e com a água, solidifica-se e passa a formar o que denominamos de crosta
oceânica basáltica.

A crosta oceânica tem duas características básicas:


· São formadas basicamente por basaltos mais densos;
· São mais finas que as crostas continentais, geralmente formadas por granitos e bem mais
espessas e densas;
· O limite central da crosta oceânica torna-se uma dorsal, contendo uma fossa que
recebe material magmático oriundo da corrente de convecção, que empurra os dois
lados da crosta em direções opostas, reconstruindo as duas margens da fossa central
com basalto solidificado.

Em d), o estágio de expansão do assoalho ou da crosta oceânica encontra-se em um estágio


bem mais avançado. A Dorsal Meso-Oceânica já está bem formada e bastante cisalhada pelo
calor e pela pressão interna provenientes das correntes de convecção.

Cisalhamento - Deformação resultante de esforços que fazem ou tendem a


fazer com que as partes contíguas de um corpo deslizem uma em relação
Glossário à outra, em direção paralela ao plano de contato entre as mesmas.
Disponível em http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/. Acessado em 14/10/2014

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A Expansão do Assoalho Oceânico

Coube ao geofísico da Universidade de Princeton, EUA, William Jason Morgan, estabelecer,


em 1960, a prova comprobatória da expansão do assoalho oceânico por meio da correlação
entre as anomalias magnéticas de polaridade alternada nas rochas coletadas em ambos os
lados da Dorsal Mesoatlântica (Figura 9).

Figura 9 – Anomalias magnéticas no assoalho oceânico atlântico

a) cerca de 5 milhões
de anos;
b) cerca de 2 ou 3
milhões de anos;
c) atualidade.

Fonte: Wikimedia Commons

Esses novos princípios agregaram as informações para que, definitivamente, a ciência


admitisse a mobilidade da superfície terreste, tão persistentemente defendida por uns
poucos visionários, principalmente Wegener, que não conseguiam provar suas hipóteses.
Com toda essa nova materialidade de provas conquistadas em bases consistentes, esses
teóricos poderiam ter suas teses finalmente verificadas e validadas; embora, não se tratasse
mais de discutir o movimento dos continentes, mas de considerar o movimento da crosta
terrestre como um todo.
Em 1962, Harry Hammond Hess sugeriu que logo abaixo da crosta terrestre havia uma
estrutura que ele denominou de astenosfera, formada de material incandescente e móvel. Com
base nas informações da idade das rochas e das anomalias magnéticas, supôs deslocamentos na
crosta provocados pela astenosfera, algo em torno de 1 e 10 cm/ano, contrariando Wegener,
que acreditava em deslocamentos de 30 metros/ano.
Atualmente, a medição dos movimentos da crosta terrestre é feita a partir do emprego
de receptores GPS de altíssima precisão. São comparadas diversas tomadas de coordenadas
precisas com o GPS de pontos na superfície e, a partir disso, são feitas modelagens
computacionais com o deslocamento desses pontos, resultando em maior precisão na direção
e velocidade do movimento. A Figura 10 apresenta uma simulação dos movimentos da crosta.

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Figura 10 – Direção e velocidade dos movimentos na crosta terrestre

Fonte: whybecausescience.files.wordpress.com

Note que, assim como afirmava Hess, as variações determinadas pelo comprimento da seta
vão de pouco mais de 1 cm/ano a pouco menos de 10 cm/ano. Podemos observar e comparar a
direção e a velocidade do movimento da placa que abriga a América do Sul com as demais placas.

A seta que indica a direção e a velocidade do movimento regional, apesar de muito pequena,
indica um deslocamento para noroeste de alguns centímetros por ano, o que é um forte
indicativo de mobilidade, ou seja, de sismicidade regional. Mas, há sismos no Brasil?

Sismos são vibrações bruscas e temporárias que ocorrem na superfície terrestre,


decorrentes da mobilidade da crosta. Se a intensidade for muito alta e desastrosa,
os sismos são chamados de terremotos. Já os sismos de baixa intensidade e que não
causam muitos estragos são denominados de abalos ou tremores.
Fonte: http://geofisicabrasil.com/geofisicabasica/99-sismologia14/147-sismos-terremotos.html - Adaptado.
Acessado em: 15/10/2014

Os registros mais significativos que temos são apresentados no Quadro 1. Observe que
não há uma área específica para as ocorrências sísmicas. Em registros de praticamente todas
as regiões, a magnitude dos sismos em geral é baixa por conta da distância em relação às
margens onde há colisão e separação.

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Quadro 1 – Os maiores sismos registrados no país (em magnitude Richter que vai de <2 a >10)
Data Localidade Magnitude
27/01/1922 Mogi - Guaçu, SP 5.1
28/06/1939 Tubarão, SC 5.5
31/01/1955 Serra do Tombador, MT 6.2
28/02/1955 Litoral Vitória, ES 6.1
13/12/1963 Manaus, AM 5.1
13/02/1964 NW Mato Grosso do Sul 5.4
20/11/1980 Pacajus, CE 5.2
05/08/1983 Codajás, AM 5.5
30/11/1986 João Câmara, RN 5.1
10/03/1989 João Câmara, RN 5.0
13/02/1990 Plataforma, RS 5.0
10/03/1998 Porto dos Gaúchos, MT 5.2
23/03/2005 Porto dos Gaúchos, MT 5.0
31/10/2007 Plataforma, AP 5.2
24/04/2008 São Vicente, SP 5.2
Fonte: Arquivo Sísmico Brasileiro apud Veloso (2013, p. 56)

A relativa ou aparente estabilidade que o Brasil apresenta também tem a ver com a teoria
da Isostasia. Essa teoria defende que a crosta menos densa, constituída basicamente de silício e
alumínio, flutua sobre a astenosfera, mais densa e constituída de silício e magnésio. As porções
mais espessas da crosta (o Brasil se situa em uma dessas) seriam mais estáveis e, por isso,
menos suscetíveis a sismos e vulcões (Figura 11).

Figura 11 – Modelo do equilíbrio isostático da crosta terrestre

Fonte: whybecausescience.files.wordpress.com

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Em meados da década de 1960, o mapeamento do fundo dos oceanos e da superfície


emersa dos continentes por sonar ou por radar (sensoriamento remoto) trouxe um novo
panorama, nunca antes percebido, de que a superfície da Terra é inteiramente sólida, embora
descontínua (Figura 12).

Figura 12 – Superfície da Terra obtida por sensoriamento remoto

Fonte: web.letras.up.pt

Em 1968, foi lançado um dos artigos mais importantes para a explicação da delimitação de
mobilidade da crosta terrestre, autoria de William Jason Morgan, intitulado Rises, trenches,
great faults, and crustal block (Ascensão, fossas, grandes falhas e blocos crustais).
No artigo mencionado, Morgan dividiu a superfície da Terra em 20 unidades (Figura 13)
ou placas tendo, ainda, subdividido os contatos entre elas em três tipos de margens, as quais
detalharemos em seguida.

Figura 13– Divisão das placas proposta por Morgan (1968)

Fonte: Wikimedia Commons

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Margens construtivas ou divergentes
As chamadas margens construtivas estão sobre as zonas de movimento ascencional e
divergente das correntes de convecção na astenosfera. Já vimos que o resultado da ação das
correntes divergentes é gerar a massa constituinte das crostas oceânicas, ou seja, a expansão
do assoalho oceânico.
Nessas regiões ocorre sismicidade razoavelmente intensa devido à ascensão de material
magmático que empurra as duas margens continentais novas em direções distintas, sendo esse
o motivo pelo qual são chamadas de construtivas.
Um dos exemplos mais relevantes de margem construtiva é o rifteamento que está ocorrendo
na região da superfície que compreende o leste do continente africano e o sul da Península
Arábica (Figura 14).

Figura 14 – Rifteamento na porção oriental do continente africano e Península Arábica

Fonte: web.arc.losrios.edu

Nessa região, as correntes de convecção pressionam o continente de baixo para cima,


gerando diversas irregularidades no terreno. Essas irregularidades são grandes depressões que
formam os grandes lagos do leste africano. Note na Figura 14 que há um certo alinhamento
norte-sul de fácil reconhecimento visual em imagens de satélite.
O rifteamento africano, um exemplo clássico de movimento de margem construtiva, tende
a separar completamente as porções orientais do restante do continente, como mostra a
imagem à direita na simulação da Figura 14.

Margens destrutivas ou convergentes


As margens destrutivas encontram-se na extremidade oposta às margens construtivas e,
em geral, são resultantes do deslocamento convergente promovido pela astenosfera, o que faz
com que acabem se chocando umas contra as outras.
Como vimos na explicação do equilíbrio isostático, as margens apresentam densidades
diferenciadas e, por esse motivo, umas têm capacidade de “flutuar” mais do que as outras
sobre a astenosfera.

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Observe na Figura 15 que, por conta da diferença de densidade, uma das placas mergulha na
direção da astenosfera, enquanto a outra é soerguida, sofrendo deformações do tipo dobramentos
nas rochas mais próximas a sua margem. Pode ocorrer nesses casos a formação de vulcões, por
onde parte do material incandescente sobe podendo ser expelido pelas crateras deles.

Figura 15 – Choque de margens continentais com subducção (esquerda) e orogênese (direita)

Fonte: Wikimedia Commons

Esses contatos entre placas convergentes são chamados de destrutivos, pois, enquanto
uma das margens, em geral a mais densa, mergulha ou é subduzida em direção à astenosfera,
fundindo-se ao material incandescente, do outro lado, a margem confrontada é soerguida,
sofrendo deformações que a transformam completamente do ponto de vista químico e físico,
com o aparecimento de dobramentos, falhas, fraturas e diáclases.
São inúmeras as áreas da crosta terrestre onde este fenômeno pode ser observado. Como
exemplo, podemos citar fenômenos orogenéticos como a Cadeia de Montanhas dos Andes na
América do Sul, os Alpes na Europa e a Cadeia do Himalaia que tem a montanha mais alta do
mundo, o Monte Everest – com 8.848m de altitude –, todos classificados como resultantes de
dobramentos modernos das bordas menos densas da crosta terrestre.
A Cadeia ou Cordilheira do Himalaia resulta então da ascensão da margem sul da Ásia, por
conta da subducção ou do mergulho da Índia sob aquela (Figura 16).

Figura 16 – Contato de margens destrutivas, soerguimento e dobramento da Cadeia do Himalaia.

Fonte: bc.outcrop.org

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Observando o esquema à esquerda, nota-se que ele representa a trajetória executada pelo
subcontinente indiano desde o antigo supercontinente Gondwana, no Hemisfério Sul da Terra,
até chocar-se com a Ásia, no Hemisfério Norte. Isso tem a ver com o movimento e o sentido
da corrente de convecção que atua sob aquela região da Terra.
Os arcos de ilhas como o arquipélago do Japão – erguido pelo contato destrutivo entre as
placas das filipinas, norte-americana e euro-asiática, entre outras – são outro tipo de movimento
de margens destrutivas, embora, nesse caso específico, a margem confrontada encontra-se
muito profundamente mergulhada no oceano e a borda confrontante soergue e dobra apenas
a porção mais imediatamente próxima do contato.
Trata-se de uma faixa de terras de topografia irregular, suscetíveis a toda sorte de fenômenos
sísmicos, vulcânicos e, ainda, podendo ser atingida por Tsunamis resultantes da energia
dos choques entre as placas submersas, que repercutem na água do oceano, tendo como
consequência os maremotos.

Margens (Falhas) transcorrentes ou transformantes


As falhas transcorrentes são fenômenos de contato de margens crustais onde não se pode
admitir nem a destruição e nem a construção de massa continental. Admite-se que haja apenas
a deformação do terreno afetado, que passa a apresentar falhas ou fraturas em decorrência
da forte pressão exercida pela astenosfera. Isso ocorre porque as falhas são resultantes dos
movimentos de fricção lateral das margens crustais em contato. Nesses casos, a hipótese mais
plausível é que, enquanto uma corrente de convecção impulsiona uma das margens para um
lado, a outra faz o mesmo, mas na direção oposta e mais ou menos na mesma velocidade,
como indica a Figura 17 – um dos casos mais bem estudados do mundo.

Figura 17 – Falha de San Andreas, na Califórnia - EUA

Fonte: historicmajortectonicactivityproject.pbworks.com, soest.hawaii.edu

As falhas transcorrentes, embora não possam ser reconhecidas como fruto de movimento
convergente e nem divergente da astenosfera, podem ser consideradas muito instáveis do ponto
de vista sísmico. A Califórnia já foi afetada por terremotos provocados pelo movimento da
Falha de San Andreas, que trouxeram muitas perdas humanas e transtornos socioeconômicos.
A Figura 18 é uma síntese comparativa entre os três tipos de margens observados nos
tópicos anteriores.

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Unidade: Estrutura Interna, Deriva Continental e Tectônica Global

Figura 18 – Tipo de margens ou limite de contato na crosta terrestre

Fonte: ufrr.br

Até este ponto da leitura, pode parecer que estamos tratando de temas independentes
entre si, mas isso se deve ao fato de em nenhuma das referências anteriores ser apresentada
a totalidade dos fatos, como Isacks, Oliver e Sykes fizeram em 1968, na obra Seismology and
the New Global Tectonics (Sismologia e nova tectônica global – ou tectônica de placas).
O artigo é uma reunião das principais teorias e experimentos sobre os movimentos crustais
até então desenvolvidos e comprovados cientificamente, mas que, como salientado acima, não
estabeleciam relações entre si.

Tectônica Global ou de Placas

Os autores do artigo, então, buscaram demonstrar que o conjunto de temas que


aparentemente pareciam difusos, formava um paradigma capaz de explicar todos os fenômenos
que relacionados à mobilidade da crosta terrestre, a saber:

· A existência de cadeias montanhosas (dorsais) em fundo oceânico;


· O fato de que o fundo oceânico é relativamente recente, cerca de 180 milhões de anos,
enquanto que as rochas dos continentes têm até 4 bilhões de anos;
· A ausência de sedimentos no fundo oceânico;
· As bandas das anomalias magnéticas do fundo oceânico;
· A distribuição dos sismos e dos vulcões ativos na Terra;
· A origem das cadeias montanhosas;
· O aumento da profundidade dos epicentros dos sismos conforme nos afastamos da costa da
América do Sul, e esta da Ásia;
· E tudo isso sem deixar de explicar o que já havia observado Wegener e outros de sua época.

Em concordância com a Tectônica de Placas, as pesquisas geofísicas recentes elaboraram


um modelo para o interior da Terra, atualmente visto como aquele que mais se aproxima da
realidade, trata-se da subdivisão do interior da Terra em camadas concêntricas (Figura 19).

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Podemos observar na Figura 19 que as camadas estão distribuídas de acordo com as densidades,
estados da matéria e temperaturas. Essas informações foram obtidas a partir de testes de laboratório,
nos quais foram feitos diversos experimentos com a velocidade das ondas sísmicas.
Como dissemos acima, esse modelo foi criado em laboratório, ou seja, não houve verificação
em campo dos resultados apresentados, pois seria impossível, ao menos atualmente, a nós
penetrarmos no interior da Terra. Na Figura 19, vemos que a cerca de 100 km de profundidade
a temperatura já é de 1.000 °C e a densidade da matéria, praticamente, dobra.

Figura 19 – Estrutura sísmica da Terra, segundo o


modelo Preliminary Reference Earth Model –PREM
Então, como delimitar as camadas interiores
da Terra com um mínimo de coerência se não
podemos medi-la in loco? A resposta está na
propagação das ondas sísmicas apresentada
pelos diferentes materiais testados.
Note na Figura 19 que os traços que
indicam a velocidade das ondas ao longo
do aumento da profundidade apresentam
cortes e mudanças bruscas em seus ritmos.
Essas descontinuidades são utilizadas como
delimitadores dos parâmetros que identificam
cada uma das camadas do interior da Terra.
As descontinuidades menos profundas, que
não aparecem na imagem, são a de Conrad,
a 20 km, e a de Mohorovicic ou Moho, a
cerca de 30 km. As outras, a de Gutemberg,
cerca de 2.900 km, e a de Lehmann, 5.000
km, demarcam as dimensões das camadas
internas da Terra, gerando a nossa imagem
do interior do planeta.
Fonte: adaptado de Pomerol et al (2011, p. 258)

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Material Complementar

Leituras:
História Geológica do Oceano Atlântico:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/65ra/PDFs/arq_2136_791.pdf
Alfred Wegener e a Revolução Copernicana da Geologia:
https://bit.ly/3X2ugwq

Sites:
Glossário de Termos Geológicos (MINEROPAR):
http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/conteudo.php?conteudo=A

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Referências

POMEROL, C.; LAGABRIELLE, Y.; RENARD, M.; GUILLOT, S. Princípios de Geologia:


técnicas, modelos e teorias. 14. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para Entender a Terra. 4. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2006.

TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

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Anotações

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