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4/3/2024 Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0 – O…

O Minhocário

"O progresso é a concretização de Utopias." – Oscar Wilde

Planejamento socialista após o colapso da União


Soviética – De volta ao debate sobre o
planejamento socialista #0
Publicado em 29/03/2022 por O Minhocário
Para muitas pessoas, deve parecer que o colapso da União Soviética (e das economias planificadas do Leste
Europeu) teria efetivamente encerrado o debate do cálculo socialista, com um veredito decisivo em favor do
mercado. Argumentamos aqui que essa conclusão não se justifica. O socialismo soviético apresentava uma forma
específica de planejamento com deficiências próprias, e seu colapso não exclui mecanismos alternativos de
planejamento socialista. Neste artigo apontamos algumas das limitações específicas do modelo soviético e
oferecemos algumas justificativas para a visão de que existem métodos alternativos de planejamento que são
tecnicamente viáveis e potencialmente eficientes e justos.

por Allin Cottrell e W. Paul Cockshott, 1993 [0]

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(https://ominhocario.files.wordpress.com/2022/03/ilustracao_sem_titulo.png)
Montagem
baseada
em
ilustração
de C.
Arrojo

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[Nota do Minhocário: O texto abaixo é a tradução do artigo “Socialist planning after the collapse of the
Soviet Union (http://users.wfu.edu/cottrell/socialism_book/soviet_planning.pdf)“, de 1993. O publicamos como
parte da série “De volta ao debate sobre o planejamento socialista“, em que traduzimos os artigos clássicos
de Cockshott e Cottrell que contribuem para revitalizar os argumentos no debate sobre as possibilidades de um
planejamento automatizado e democrático da produção em um sociedade socialista. Colocamos este como o
artigo #0 da série, ao invés de considerá-lo o terceiro, porque entendemos que ele é ótimo como ponto de
partida para essa discussão. Originalmente esses artigos não foram publicados como uma série, mas os
publicamos dessa maneira para enfatizar o quanto as ideias que os autores exploraram neles são
complementares. Os outros artigos que já publicamos nessa série são:

1) Cálculo, complexidade e planejamento (https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-volta-ao-debate-


sobre-o-calculo-socialista-calculo-complexidade-e-planejamento/), onde os autores resgatam o histórico do
“debate sobre o cálculo socialista” e lidam em mais detalhes com os argumentos de Mises contra a
possibilidade de uma economia racional no socialismo e com as propostas de Lange.

2) Preços, informação, comunicação e eficiência (https://ominhocario.wordpress.com/2019/05/09/de-volta-


ao-debate-sobre-o-planejamento-socialista-ii-precos-informacao-comunicacao-e-eficiencia/), onde os autores
enfrentam os argumentos levantados por Hayek contra o socialismo com base na ideia de dispersão do
conhecimento e na suposta incapacidade do socialismo em reunir, propagar e utilizar as informações “tácitas”
na ausência de um sistema baseado em preços no mercado.

Alguns trechos abaixo envolvem conceitos de Economia, Matemática e de Computação, mas mesmo que não se
domine esses conceitos por completo, vale a pena acompanhar os trechos, mesmo que seja de maneira
superficial – embora, é claro, esse conhecimento possibilite uma melhor compreensão dos argumentos
apresentados pelos autores. Tentei deixar pelo menos o link para o termo na Wikipédia na primeira ocorrência
da maioria dessas situações, para facilitar que mais pessoas possam acompanhar a argumentação.]

1 Introdução
2 Elementos da nossa proposta
2.1 O tempo de trabalho como unidade social básica de contabilidade e métrica de custos
2.2 Sistema de distribuição baseado em cupons de trabalho
2.3 Decisões democráticas sobre as principais questões de alocação
2.4 Algoritmo dos bens de consumo
3 Viabilidade do cálculo
3.1 Cálculo de valores-trabalho
3.2 Alocação de recursos
3.3 Comparação com a tecnologia computacional existente
4 O modelo soviético de planejamento e seus problemas
4.1 Resistência ideológica a métodos de planejamento racional
4.2 Desconexão entre “planejamento prático” e pesquisa acadêmica
4.3 A ideia de que técnicas melhoradas evitariam a necessidade de reformas fundamentais
4.4 Incapacidade de empregar contabilização do tempo de trabalho
4.5 O estado da informática e das tecnologias de telecomunicações
5 Conclusão

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1 Introdução

O estado atual do debate sobre o cálculo socialista (https://ominhocario.wordpress.com/tag/debate-do-calculo-


socialista/) parece teoricamente insatisfatório. Após um período bastante longo em que o debate permaneceu
adormecido, por assim dizer, uma série de contribuições importantes foram feitas em meados da década de 1980.
Nessas contribuições, a sabedoria convencional do início do período pós-guerra — segundo a qual Lange e outros
teriam demonstrado efetivamente como uma economia socialista poderia imitar a alocação de recursos de um
sistema de mercado competitivo — foi desafiada de maneira aguda. Lavoie (1985), em particular, defendeu
longamente que a argumentação austríaca pela impossibilidade do cálculo econômico racional no socialismo teria
sido mal compreendida e, portanto, não teria sido abordada de verdade pelos autores neoclássicos responsáveis por
aquela avaliação anterior. [1] A partir de um ângulo um tanto diferente, Economics of feasible socialism (“A
economia do socialismo viável”, 1983), de Nove, apresentou uma argumentação mais pragmática pela
impossibilidade de um planejamento central eficaz. Embora o argumento de Nove não se baseasse em Mises ou
Hayek – e, ao contrário dos austríacos, ele defendesse uma variante de socialismo de mercado –, não obstante, suas
críticas ao planejamento central e as dos neo-austríacos se reforçavam mutuamente. E então, é claro, não muito
tempo depois desses argumentos terem sido apresentados, testemunhamos o abandono do planejamento central na
antiga União Soviética e na Europa Oriental.

Hoje em dia parece ser amplamente aceito como dado o fato de que esses últimos eventos teriam validado os
argumentos antiplanejamento que os precederam. Mas isso é uma falácia próxima do post hoc ergo propter hoc
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Post_hoc_ergo_propter_hoc#:~:text=A%20express%C3%A3o%20latina%20post%20
[“ocorreu depois, logo, foi causado por”]: é como se, após o desastre de Hindenburg
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Desastre_do_Hindenburg), alguém tivesse dito: “veja, eu lhe disse que é impossível
construir uma máquina segura para transportar um grande número de pessoas pelo ar.” Pode ser que, no caso do
planejamento central, o argumento da impossibilidade esteja correto (embora apresentemos argumentos no sentido
contrário), mas isso precisa ser estabelecido em bases teóricas – e, desse ponto de vista, sugerimos que os
argumentos anti-planejamento ainda não foram devidamente testados no debate.

Não é de surpreender que os economistas neoclássicos se contentem em seguir a marcha da História como ela se
apresenta hoje – isto é, que eles tenham perdido todo o interesse no debate do cálculo socialista como tal, e que
tenham voltado sua atenção para os problemas de transição para um sistema de mercado nos antigos Estados
socialistas. Contudo, seria de se esperar que os economistas socialistas desejassem defender o planejamento que
esteve por muito tempo no centro de seus argumentos, ou que pelo menos investigassem mais profundamente os
argumentos dos críticos do socialismo antes de admitir a derrota. No entanto, tem havido pouquíssimos trabalhos
nesse sentido: parece até que se seguiu nessa direção no automático. Examinando as edições dos últimos anos de
periódicos como Socialist Review, Rethinking Marxism, Socialism and Democracy, New Left Review, Economy and
Society e Socialist Register, descobrimos que o único autor que oferece uma defesa do planejamento socialista –
além dos presentes autores (Cockshott e Cottrell, 1989) – é Ernest Mandel, em suas réplicas (1986, 1988) a Alec
Nove e em seu artigo (1991) sobre a União Soviética. Neste último, Mandel argumenta, como nós, que a queda do
planejamento soviético não indica o fracasso do planejamento socialista em geral. No entanto, a fundamentação
dele é bem diferente da nossa. Em particular, não nos sentimos confortáveis com as afirmações dele de que “o
socialismo nunca existiu na URSS” (1991: 194); e que “as formas específicas de planejamento central soviético
tinham [a extensão das dimensões, poder e privilégios da burocracia stalinista] como seu principal propósito social”
(197). Tais alegações parecem preservar a virgindade teórica do socialismo, por assim dizer, ao custo de separar as
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ideias socialistas (https://ominhocario.wordpress.com/os-abcs-do-socialismo/) da realidade histórica. É melhor, em


nossa visão, admitir que a URSS foi socialista, mas argumentar que ela não representava o único modelo possível
de socialismo.

Não só tem havido bem poucas tentativas de defender o planejamento nos periódicos socialistas ultimamente, como
tem havido pouquíssima discussão substantiva sobre o planejamento econômico em si. As raras observações que se
encontram praticamente não passam de repetição acrítica das conclusões de Nove e dos neo-austríacos, juntamente
do ocasional comentário melancólico sobre o “planejamento democrático”. Kenworthy (1990), por exemplo, ao
discutir o “socialismo burocrático de planejamento centralizado” segue a moda padrão ao falar sobre “a
impossibilidade para aqueles no centro de coletar da base informações precisas e atualizadas suficientes para
projetar um plano bem coordenado que faça a alocação de recursos de maneira eficiente” (p. 110). Ele então deixa
um parágrafo sobre o “socialismo democrático de planejamento centralizado”, que diz ser “o modelo mais
comumente defendido pelos marxistas”, mas não oferece nenhum comentário sobre como o elemento democrático
poderia superar a questão informacional levantada em relação ao planejamento burocrático.

O mesmo vale para livros recentes que defendem o socialismo; na maioria das vezes, ou o planejamento econômico
não é sequer mencionado (por exemplo, Bronner, 1990), ou é rapidamente ignorado com um contra-argumento
superficial (Levine, 1984). Uma exceção é Devine (1988), que tenta traçar um caminho intermediário entre o
socialismo de mercado (sobre o qual ele produz uma crítica pertinente) e o planejamento central, por meio de seu
conceito de “coordenação negociada”. Os argumentos de Devine são interessantes, mas nos parece que sua
coordenação negociada, embora aplicável a algumas questões, é engessada demais para a regulação da economia
em geral.

Przeworski (1989) comentou que “os partidos políticos na sociedade capitalista que carregam o rótulo socialista
abandonaram até mesmo a aparência de uma alternativa”: isso parece ser verdade não apenas para partidos políticos
organizados, mas também, com pouquíssimas exceções, para intelectuais socialistas. [2] Nosso objetivo neste
artigo é suprir essa falta, que envolve apresentar duas linhas de argumentação. Primeiro, esboçamos os contornos
de um sistema de planejamento adequado e examinamos sua viabilidade técnica, dada a moderna tecnologia de
computação. Em segundo lugar, oferecemos uma análise de por que o planejamento soviético “fracassou”, em
termos dos fatores ideológicos, sociais e técnicos específicos que impediram os soviéticos de desenvolver o tipo de
sistema que defendemos. [3]

2 Elementos da nossa proposta

Em primeiro lugar, será útil estabelecer as condições gerais necessárias para operar um sistema eficaz de
planejamento econômico central, deixando de lado por um momento a questão de saber se elas podem de fato ser
realizadas em qualquer sistema viável. Adotando uma perspectiva da economia com base em [tabelas de] insumos-
produtos, [3b] o planejamento central efetivo requer os seguintes três elementos básicos:

1. Um sistema para se chegar (e periodicamente revisar) um conjunto de metas para os produtos finais, que
incorpore informações tanto sobre as preferências dos consumidores quanto sobre os custos relativos de se produzir
bens alternativos (deixando em aberto num primeiro momento a métrica apropriada para esses custos).

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2. Um método de cálculo das implicações de qualquer conjunto de produtos finais sobre os números brutos
necessários de cada material. Neste estágio também deve haver um meio de verificar a viabilidade do conjunto
resultante de metas de produção bruta, à luz das restrições impostas pela oferta de mão de obra e pelos estoques
existentes de meios de produção fixos, antes que essas metas sejam encaminhadas às unidades produtivas.

3. Um sistema de monitoramento, recompensas e sanções que garanta que as unidades produtivas dispersas
cumpram o plano em sua maior parte.

A provisão desses elementos envolve uma série de pré-condições, notadamente um sistema adequado de coleta e
processamento de informações econômicas dispersas e uma métrica racional de custos de produção. Devemos
também observar de imediato o ponto importante e inteiramente válido enfatizado por Nove (1977 e 1983): para
um planejamento central eficaz, é necessário que os planejadores sejam capazes de realizar os tipos de cálculos
indicados acima em detalhes desagregados por completo. Na ausência de vínculos de mercado horizontais entre as
empresas, a administração no nível da empresa “não tem como saber de que a sociedade precisa a menos que o
centro a informe” (Nove, 1977: 86). [4] Por conseguinte, se o centro não for capaz de especificar um plano coerente
em um nível suficiente de detalhes, o fato do plano poder estar “equilibrado” em termos agregados é de pouca
utilidade. Mesmo com a melhor boa vontade do mundo por parte de todos os envolvidos, não há garantia de que as
decisões de produção específicas tomadas no nível de cada empresa irão se encaixar de maneira adequada. Esse
ponto geral é confirmado por Yun (1988: 55), que afirma que, em meados da década de 1980, a Gosplan
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Gosplan#:~:text=A%20palavra%20%22Gosplan%22%20%C3%A9%20uma,estabelec
conseguia estabelecer balanços materiais para apenas 2.000 bens em seus planos anuais. Quando os cálculos da
Gossnab e dos ministérios industriais são incluídos, o número de produtos rastreados sobe para cerca de 200.000,
ainda muito aquém dos 24 milhões de itens produzidos na economia soviética na época. Esta discrepância
significava que era “possível que as empresas cumprissem os seus planos no que diz respeito à nomenclatura dos
artigos que haviam sido direcionados a produzir, e ao mesmo tempo falhassem em criar produtos imediatamente
necessários a usuários específicos”.

Nossa argumentação abaixo envolve lidar com esse emaranhado específicamente: embora concordemos que “em
um modelo basicamente não mercantil, o centro precisa descobrir o que precisa ser feito” (novembro de 1977: 86),
e aceitemos o relato de Yun sobre o fracasso da Gosplan em fazê-lo, contestamos a afirmação de Nove de que “o
centro não tem como fazer isso em micro detalhes” (ibid.).

Nossas propostas básicas podem ser apresentadas de forma bem simples, embora peçamos ao leitor que tenha em
mente que não temos espaço aqui para os refinamentos, qualificações e elaborações necessários (esses são
desenvolvidos detalhadamente em Cockshott e Cottrell, 1993). Em uma forma esquemática, as propostas são as
seguintes.

2.1 O tempo de trabalho como unidade social básica de contabilidade


e métrica de custos

A alocação de recursos para as diversas esferas da atividade produtiva toma a forma de um orçamento social de
mão de obra. Ao mesmo tempo, o princípio da minimização do tempo de trabalho é adotado como critério básico
de eficiência. Ou seja, estamos de acordo com Mises (1935: 116) sobre como o cálculo socialista racional exige
“uma unidade de valor objetivamente reconhecível, o que permitiria o cálculo econômico em uma economia onde
nem o dinheiro nem trocas estivessem presentes. Somente o trabalho poderia ser concebivelmente considerado
como tal.” Discordamos, é claro, da afirmação subsequente de Mises de que mesmo o tempo de trabalho não
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poderia, no fim das contas, desempenhar o papel de “unidade objetiva de valor”. Rebatemos seus dois argumentos
nesse sentido – a saber, que o cálculo do tempo de trabalho levaria necessariamente à subvalorização de recursos
naturais não reproduzíveis e que não haveria maneira racional (a não ser por meio de um sistema de taxas de
salários determinadas pelo mercado) de reduzir a mão de obra de diferentes níveis de habilidade a um denominador
comum – em outra publicação (Cottrell e Cockshott, 1993a) (https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-
volta-ao-debate-sobre-o-calculo-socialista-calculo-complexidade-e-planejamento/).

2.2 Sistema de distribuição baseado em cupons de trabalho

De Marx tomamos a ideia do pagamento do trabalho em ”cupons de trabalho” (ou “tokens”, “fichas” de trabalho) e
a noção de que os consumidores possam retirar do fundo social bens que tenham um conteúdo de trabalho
equivalente à sua contribuição de trabalho (após a dedução de impostos para compensar os usos comunais do
tempo de trabalho: acumulação de meios de produção, bens e serviços públicos, apoio aos que não podem
trabalhar). Prevemos um sistema de remuneração basicamente igualitário; mas, na medida em que este se afasta do
igualitarismo (ou seja, alguns tipos de trabalho seriam recompensados com mais de um cupom por hora, e alguns
com menos que isso), a conquista do equilíbrio macroeconômico exige, entretanto, que a emissão total de cupons
de trabalho seja equivalente ao total de trabalho realizado em cada momento. Também sugerimos que o sistema de
tributação mais adequado em tal contexto seria um imposto fixo por trabalhador – uma taxa uniforme de adesão à
sociedade socialista, por assim dizer. Este imposto (líquido com relação às transferências para os não trabalhadores)
deveria, de fato, “cancelar” o suficiente da atual emissão de cupons de trabalho para deixar os consumidores com
cupons disponíveis suficientes para comprar a produção de bens de consumo no seu valor imediato. (Este ponto
será desenvolvido mais adiante.)

2.3 Decisões democráticas sobre as principais questões de alocação

A alocação do trabalho social às amplas categorias de uso final (acumulação de meios de produção, consumo
coletivo, consumo pessoal) é um material adequado para a tomada democrática de decisões
(https://jacobin.com.br/2019/04/sobre-democracia-e-socialismo/). Isso pode assumir várias formas: votação direta
em categorias específicas de despesas em intervalos adequados (por exemplo, sobre aumentar, reduzir ou manter a
proporção de trabalho social dedicada ao sistema de saúde); votação entre diversas variantes de planos pré-
equilibrados; ou competição eleitoral entre “partidos” com plataformas distintas no que diz respeito às prioridades
de planejamento.

2.4 Algoritmo dos bens de consumo

Nossa proposta nesse sentido pode ser descrita como “Lange mais Strumilin”. De Lange, tomamos uma versão
modificada do processo de “tentativa e erro”, pelo qual os preços de mercado dos bens de consumo são usados para
guiar a realocação do trabalho social entre os diversos bens de consumo; de Strumilin tomamos a ideia de que no
equilíbrio socialista o valor de uso criado em cada linha de produção deve estar em uma proporção comum ao
tempo de trabalho social gasto. [5] A ideia central é esta: o plano solicita a produção de algum vetor específico de

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bens de consumo final, e esses bens são marcados com seu conteúdo de trabalho social. Se a oferta planejada e as
demandas dos consumidores pelos bens individuais coincidirem quando os bens forem precificados de acordo com
seus valores de trabalho, o sistema já está em equilíbrio. Em uma economia dinâmica, no entanto, isso é
improvável. Se a oferta e a demanda forem desiguais, a “autoridade de mercado” para os bens de consumo é
encarregada de ajustar os preços, com o objetivo de alcançar um equilíbrio (aproximado) de curto prazo, ou seja, os
preços dos bens em falta recebem um aumento enquanto os preços são reduzidos em caso de excedentes. [6] Na
próxima etapa do processo, os planejadores examinam as relações entre o preço de equilíbrio no mercado e o valor
de trabalho nos vários bens de consumo. (Observe que ambas as magnitudes são denominadas em horas de
trabalho; o conteúdo de trabalho no último caso e os cupons de trabalho no primeiro). Seguindo a concepção de
Strumilin, essas razões devem ser equivalentes (e iguais à unidade) no equilíbrio de longo prazo. O plano de bens
de consumo para o próximo período deve, portanto, exigir a expansão da produção daqueles bens com relação
preço/valor acima da média e redução da produção daqueles com essa relação abaixo da média. [7]

Em cada período, o plano deve ser balanceado, usando métodos de insumos-produtos ou um algoritmo de
balanceamento alternativo. [8] Ou seja, as quantidades brutas de produção necessárias para sustentar o vetor alvo
dos produtos finais devem ser calculadas antecipadamente. Isso contrasta com o sistema de Lange (1938), no qual a
própria coerência do plano – e não apenas sua otimização – parece ser deixada para “tentativa e erro”. Nosso
esquema, entretanto, não impõe a exigência irracional de que o padrão de demanda dos consumidores seja
perfeitamente antecipado ex ante [antecipadamente]; o ajuste a esse respeito é deixado para um processo iterativo
que ocorre em tempo histórico. [9]

O esquema proposto como um todo é apresentado em forma sinótica na Figura 1.

Esse esquema atende à objeção de Nove (1983), que argumenta que os valores-trabalho não poderiam fornecer uma
base para o planejamento, mesmo que forneçam uma medida válida do custo de produção. O ponto de Nove é que o
conteúdo de mão de obra por si só não nos diz nada sobre o valor de uso de diferentes bens. Claro que isso é
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verdade, [10] mas isso significa apenas que precisamos de uma medida independente para as avaliações dos
consumidores – e o preço, em cupons de trabalho, que equilibra aproximadamente a oferta planejada e a demanda
dos consumidores, fornece justamente essa medida. Da mesma maneira, podemos responder a uma observação feita
por Mises em sua discussão sobre os problemas enfrentados pelo socialismo sob condições dinâmicas (1951:
196ff). Um dos fatores dinâmicos que ele considera é a mudança na demanda dos consumidores, a propósito de que
ele escreve: “se o cálculo econômico e, com ele, uma apuração aproximada dos custos de produção fossem
possíveis, então, dentro dos limites das unidades de consumo totais atribuídas a ele, cada cidadão individual
poderia ter a permissão de demandar aquilo que quisesse […]” Mas, continua ele, “uma vez que, no socialismo, tais
cálculos não são possíveis, todas essas questões de demanda precisam necessariamente ser deixadas para o
governo”. Nossa proposta permite precisamente as escolhas dos consumidores que Mises afirma não estarem
disponíveis.

3 Viabilidade do cálculo

[N. do M.: O trecho abaixo faz várias referências à tecnologia informática disponível em 1992/1993, a época em
que o artigo foi escrito e publicado. Incluímos cálculos próprios nas notas [11], [13] e [14], que extrapolam o tempo
de execução desses algoritmos para a tecnologia informática disponível em 2018, época em que traduzimos outros
artigos clássicos de Cockshott e Cottrell onde esses números apareciam.]

3.1 Cálculo de valores-trabalho

As propostas acima partem do pressuposto de que seja possível calcular o conteúdo de trabalho de cada produto na
economia. Em princípio o problema admite solução, uma vez que se tem n valores-trabalho desconhecidos e
relacionados entre si por um conjunto de n funções de produção lineares [e, na Matemática, em sistemas de
equações lineares (https://brasilescola.uol.com.br/matematica/sistemas-lineares.htm), um sistema possui solução
quando o número de equações é igual ou maior que o número de incógnitas]. A dificuldade não está no princípio,
mas na escala: quando o número de produtos chega aos milhões, o cálculo envolvido não é trivial.

Se representarmos o problema em termos matriciais (https://brasilescola.uol.com.br/matematica/matriz.htm)


clássicos, como uma matriz n por (n + 1), onde as linhas representam os produtos e as colunas representam os
insumos (também produzidos) mais a mão de obra direta, a solução analítica das equações usando a eliminação
Gaussiana (https://www.ufrgs.br/reamat/CalculoNumerico/livro-sci/sdsl-eliminacao_gaussiana.html) nos coloca um
problema que exige n3 operações de multiplicação e um número ligeiramente maior de adições e subtrações. A
Tabela 1 fornece os requisitos computacionais para este cálculo, assumindo diferentes tamanhos para a economia.
Assumimos que o uniprocessador é capaz de 106 multiplicações por segundo e que o multiprocessador pode
realizar 109 multiplicações por segundo.

Número de produtos Multiplicações Tempo de processamento em segundos


Uniprocessador Multiprocessador
1,000 1,000,000,000 1,000 1.0
100,000 1015 109 1,000,000
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10,000,000 1021 1015 1012


Tabela 1: Solução Gaussiana para os valores-trabalho [com tecnologia de 1993]

Pode-se ver que, considerando apenas o tempo de computação, mesmo o multiprocessador [de 1993] levaria 1012
segundos, ou mais de trinta mil anos, para produzir uma solução para uma economia de 10 milhões de produtos.
[11] Como se isso não bastasse, a situação seria ainda mais complicada graças à memória necessária para
armazenar essa matriz, que cresce na proporção de n2. Como as maiores memórias viáveis [em 1993] são da ordem
de 1010 palavras, isso estabeleceria um limite para o tamanho do problema que poderia ser tratado em cerca de
100.000 produtos.

Se, no entanto, levarmos em conta o quanto a matriz tende a ser esparsa (ou seja, a enorme proporção de entradas
zeradas, quando a matriz é especificada em detalhamento completo), o problema se torna mais tratável.
Suponhamos que o número de diferentes tipos de componentes que entram diretamente na produção de um único
produto seja de nk insumos, onde 0 < k < 1. Se assumirmos um valor de 0,4 para k, um número que nos parece ser
bem conservador, [12] descobrimos que os requisitos de memória agora crescem na proporção de n (1+k) = n 1,4.
Se pudermos simplificar o problema ainda mais utilizando técnicas numéricas iterativas (Gauss-Seidel
(https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_de_Gauss-Seidel)ou Jacobi
(https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_de_Jacobi)) para obter soluções aproximadas, obteremos uma
função de complexidade computacional (https://pt.wikipedia.org/wiki/Complexidade_computacional) da ordem de
An1.4 , onde A é uma pequena constante determinada pela precisão que exigirmos para a resposta. [13]

Isso reduz o problema para um nível nitidamente dentro do escopo da tecnologia informática atual [já em 1993],
conforme demonstrado na Tabela 2. O requisito mais exigente continua sendo a memória, mas está dentro da faixa
das máquinas disponíveis.

Número de produtos Multiplicações Palavras da memória Tempo de processamento em segundos


Uniprocessador Multiprocessador
1,000 158,489 31,698 0.158 1.6 × 10−4
100,000 100,000,000 20,000,000 100 0.1
10,000,000 6.3 × 1010 1.2 × 1010 63,096 63.10
Tabela 2: solução iterativa para os valores-trabalho (assumindo A = 10) [com tecnologia de 1993]
Disso concluímos que o cálculo dos valores-trabalho é eminentemente viável. [14]

3.2 Alocação de recursos

Se assumirmos que o mix de artigos finais solicitados pelo plano está especificado, bem como as tecnologias
disponíveis [para os processos de produção] e os estoques de meios de produção, quão difícil seria computar um
plano viável? Por “viável” queremos dizer um plano que seja capaz de, utilizando os recursos disponíveis, produzir
no mínimo a produção solicitada. Partindo disso, será que conseguimos determinar se o mix planejado de produtos
é inviável, dados os recursos [disponíveis]?

A abordagem clássica para isso é utilizar a Programação Linear


(https://pt.wikipedia.org/wiki/Programa%C3%A7%C3%A3o_linear) [também conhecida como Otimização
Matemática], cujos requisitos computacionais infelizmente são proibitivos para uma economia com milhões de
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produtos. Contudo, se estivermos dispostos a relaxar um pouco nossos requisitos e nos contentar com uma solução
“boa” ao invés de uma solução otimizada/ideal, podemos realizar uma simplificação semelhante àquela descrita
para os cálculos de valores-trabalho. Uma abordagem seria começar a partir da lista alvo de produtos finais e
trabalhar de maneira inversa, para se chegar às produções brutas necessárias que correspondam à lista alvo original
(por meio do mesmo tipo de métodos de solução iterativa estabelecidos para os valores de mão-de-obra e
explorando o aspecto esparso da matriz de insumos-produtos da mesma maneira). Dado o vetor de produção bruta
[de cada produto], fica então simples determinar as necessidades gerais de mão-de-obra e de meios de produção
fixos de vários tipos [incluindo os bens intermediários, que nessa etapa já estarão incluídos nos vetores de produção
bruta de cada produto]. Se estes requisitos puderem ser atendidos, muito bem; e se não for o caso, então corta-se a
lista alvo de produtos finais e tenta-se novamente. Essas etapas são mostradas na forma de um loop
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Loop_(programa%C3%A7%C3%A3o)) no canto inferior esquerdo da Figura 1.
Embora seja computacionalmente viável, esse método possui as desvantagens de exigir um ajuste ”manual” do
vetor alvo de produção a cada ciclo do loop e de não garantir que todos os recursos sejam utilizados da forma mais
completa possível. Uma técnica alternativa preferível, que se baseia em ideias da literatura sobre Redes Neurais
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_neural_artificial), é apresentada em Cockshott (1990). A complexidade dessa
abordagem é de An(1+k) , assim como na solução iterativa dos valores de mão de obra. Os requisitos
computacionais são, portanto, essencialmente os mesmos.

Em que sentido a solução produzida por esse último método [com base em ideias de Redes Neurais] seria uma
“boa” solução? O procedimento envolve a definição de uma métrica para o grau de adequação entre o conjunto
alvo de produtos finais e o conjunto viável calculado, conforme as restrições dos estoques existentes de meios de
produção de vários tipos e pelo tempo de trabalho disponível. O algoritmo então realiza uma busca
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Algoritmo_de_busca) no espaço [de estados]
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Espa%C3%A7o_de_estados) de planos viáveis, visando maximizar este grau de
ajuste. A natureza do algoritmo de busca é tal que ele pode parar em um máximo local em vez de continuar
buscando o máximo global – esse é o preço que se paga pela tratabilidade computacional. Não obstante, o fato da
solução não ser o plano ótimo ou ideal, mas apenas um bom plano viável, não se trata de um problema sério
quando se compara o planejamento com o mercado, pois nenhum mercado real jamais atinge uma estrutura
otimizada ou ideal de produção (https://ominhocario.wordpress.com/2019/05/09/de-volta-ao-debate-sobre-o-
planejamento-socialista-ii-precos-informacao-comunicacao-e-eficiencia/#secao_5).

3.3 Comparação com a tecnologia computacional existente

Já estabelecemos a escala de recursos computacionais necessários para calcular os valores de mão de obra ou para
calcular um plano viável para toda a economia. A partir da Tabela 3 (ver Bell, 1992), podemos ver que a memória e
o poder de processamento necessários estão dentro das capacidades das máquinas disponíveis [já em 1993].
Acima, assumimos um multiprocessador capaz de 109 multiplicações por segundo; as taxas de processamento das
máquinas mostradas na Tabela 3 variam de 1,6 × 1010 a 3 × 1011 multiplicações por segundo. [Em 2018, o IBM
Summit já era capaz de 1.22 x 1017 multiplicações por segundo] Deve-se permitir alguma redução nas taxas de
processamento antes de se chegar a um desempenho sustentável para um computador, mas nossa meta de
desempenho é claramente realista. Os requisitos de memória também estão dentro do alcance dos produtos atuais.
Com computadores modernos, podemos vislumbrar a computação diária de uma lista atualizada de valores-trabalho
e a preparação de um novo plano de perspectivas semanalmente. Trata-se de uma reação [consideravelmente] mais
rápida do que a maneira como uma economia de mercado é capaz de reagir.

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Máquina Número de Pico de execução Preço ($M em Memory


processadores (GFlops) 1992) (GB)
Cray90 16 16 30 16
KSR1 1088 43 30 34
INTEL 4096 300 55 128
Paragon
DEC Alpha 1024 150 20 32
Tabela 3: Características de supercomputadores de 1992
[N. do M. Apenas à título de curiosidade (e para ilustrar o quanto já avançamos em relação ao paradigma
disponível para Cockshott e Cottrell em seus cálculos de 1992/1993), incluímos abaixo os dados equivalentes
referentes ao IBM Summit (https://en.wikichip.org/wiki/supercomputers/summit), o supercomputador mais rápido
do mundo entre 2018 e meados de 2020]

Máquina Número de processadores Pico de execução (GFlops) Preço ($M) Memory (GB)
IBM Summit 9216 9.96 x 106 200 2,53 x 108

4 O modelo soviético de planejamento e seus problemas

Nosso argumento é que os soviéticos, por razões tanto ideológicas como técnicas, não chegaram perto
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/01/comunismo-e-computadores-uma-alternativa-democratica-para-o-
seculo-xxi/) de construir os tipos de sistemas que identificamos como essenciais. É claro que o sistema de
planejamento soviético foi bastante eficaz no início. Os soviéticos foram capazes de construir uma base industrial
pesada, e em particular uma indústria de armamentos capaz de derrotar a máquina de guerra nazista, em um tempo
muito mais curto do que qualquer economia capitalista, embora a um custo muito alto. Naquele estágio de
desenvolvimento, métodos de planejamento rudimentares eram adequados: a economia era, naturalmente, muito
menos tecnologicamente complexa do que no presente, e os planos especificavam relativamente poucas metas-
chave. Mesmo assim, há muitos contos sobre desajustes grosseiros entre oferta e demanda durante o período dos
primeiros planos quinquenais; uma enorme expansão dos insumos de mão-de-obra e de materiais significava que os
principais objetivos poderiam ser atingidos apesar desses desequilíbrios.

Deve-se notar que os primeiros planos soviéticos não foram elaborados de acordo com o esquema descrito
anteriormente. Trabalhar de maneira reversa a partir de uma lista de metas para os produtos finais para se chegar na
lista exigida de produção bruta, de forma consistente e em detalhes, estava muito além da capacidade da Gosplan.
[15] Muitas vezes, em vez disso, os planejadores começavam a partir de metas que eram, elas mesmas,
estabelecidas em termos de produção bruta: tantas toneladas de aço em 1930, tantas toneladas de carvão em 1935, e
assim por diante. Esta experiência inicial teve, sem dúvida, um efeito deletério sobre o mecanismo econômico nos
anos posteriores. Ela deu origem a uma espécie de “produtivismo”, na qual a geração de resultados generosos de
produtos industriais intermediários essenciais passou a ser vista como um fim em si mesmo. [16] De fato, a partir
de um ponto de vista com base em insumos-e-produtos, na verdade se deseja economizar os bens intermediários
tanto quanto for possível. O objetivo deveria ser a produção de quantidades mínimas de carvão, aço, cimento, etc.,
que fossem consistentes com o volume desejado de produtos finais.

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De qualquer forma, tornou-se cada vez mais evidente, após o período de reconstrução do pós-guerra, que o tipo do
sistema de planejamento herdado do início da industrialização era incapaz de desenvolver uma economia dinâmica
e tecnologicamente progressiva que satisfizesse as demandas dos consumidores. Certos setores prioritários, como a
exploração espacial, apresentaram sucessos impressionantes, mas parecia ser uma característica inerente ao sistema
o fato de que tais sucessos não podiam ser generalizados
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/01/12/socialismo-mercado-planejamento-e-democracia/); com efeito, o
outro lado da prioridade dada aos setores privilegiados era o rebaixamento da produção de bens de consumo ao
papel de demandante residual de recursos. Ao longo das décadas de 1960 e 70, repetidas tentativas de reforma
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/01/comunismo-e-computadores-uma-alternativa-democratica-para-o-
seculo-xxi/) de um tipo ou de outro foram basicamente um fracasso, levando à notória “estagnação” (“zastoi”) dos
últimos anos Brejnev [que governou entre 1964 e 1982].

Por que esse resultado? À luz dos argumentos apresentados acima, um ponto que se sugere de imediato é o estado
das instalações de computação e telecomunicações soviéticas na época. Ou seja, enquanto argumentamos que um
planejamento eficaz e detalhado é possível usando a tecnologia de computação ocidental atual [em 1993], a
tecnologia disponível para os planejadores soviéticos na década de 1970 era muito primitiva, em comparação. Este
ponto é importante, e voltaremos a ele, mas é apenas parte da história, e algumas outras considerações merecem
ênfase.

4.1 Resistência Ideológica a métodos de planejamento racional

É bem conhecido que a adesão oficial soviética à ortodoxia “marxista” colocava obstáculos no caminho da adoção
de métodos de planejamento racionais. Novas abordagens para o planejamento eram geralmente vistas com
desconfiança, mesmo aquelas que não tinham nada a ver com a introdução de relações de mercado. No que se
refere ao método de insumos-e-produtos, Augustinovics (1975: 137)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Augustinovics-1975) apontou a dupla ironia segundo a qual este método “era acusado de contrabandear o mal do
planejamento comunista para dentro da economia democrática livre [com seu uso no ocidente] e o mal da ideologia
burguesa para dentro da economia socialista”. Treml (1967: 104)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Treml-1967) também sugere que a própria ideia de iniciar o processo de planejamento a partir de metas de
produção final era vista pelos guardiões oficiais da ortodoxia como sendo orientada para o consumo e, portanto, de
alguma forma, uma ideia “burguesa”. De maneira similar, o trabalho pioneiro de Kantorovich sobre programação
linear foi por muito tempo rejeitado.

Parece que o pior desse tipo de rejeição ideológica à inovação teórica já havia sido superado por volta de 1959.
Tretyakova e Birman (1976: 161) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-
sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-Tretyakova-1976) citam 1959 como o ano em que o método de insumos-e-
produtos tornou-se oficialmente respeitável; esse foi também o ano em que “Best utilization of economic
resources” [Melhor utilização de recursos econômicos’] de Kantorovich, escrito em 1943, finalmente foi
publicado. No entanto, mesmo depois de Kantorovich receber o prêmio Lenin em 1965 (junto de Nemchinov e
Novozhilov) suas ideias ainda atraíam críticas desinformadas dos ortodoxos. [17] E embora o insumos-e-produtos e
a programação linear eventualmente tenham recebido algum grau de bênção oficial, essas técnicas permaneceram
marginais no que diz respeito aos verdadeiros procedimentos de planejamento soviéticos. Isto se devia em parte aos
problemas computacionais referidos acima, o que significava que os métodos de insumos-e-produtos não tinham
como substituir os cálculos muito mais rudimentares do “balanço material

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(https://en.wikipedia.org/wiki/Material_balance_planning)” para toda a gama de bens cobertos por este último (que
eram, eles mesmos, apenas um subconjunto relativamente pequeno da lista completa de bens produzidos). [18]
Observamos algumas outras razões a seguir.

4.2 Desconexão entre “planejamento prático” e pesquisa acadêmica

Nos referimos aqui à bifurcação entre as atividades rotineiras da Gosplan e da Gossnab [19] (desprovidas de uma
base teórica adequada e impulsionadas por pressões políticas ad hoc vindas do Politburo [20]) e a hipertrofia da
teorização altamente matemática sobre o planejamento nos institutos de pesquisa. Esta disjunção tinha dois lados:
por um lado, os “planejadores práticos” parecem ter sido resistentes à inovação mesmo quando sua resistência não
era racionalizada em termos ideológicos. Kushnirsky (1982)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Kushnirsky-1982) observa que, embora trabalhos sobre insumos e produtos fossem feitos em dois institutos de
pesquisa da Gosplan – o “Instituto de Pesquisa Científica Econômica” e o “Centro Principal de Computação” – a
participação neste trabalho pelos verdadeiros departamentos da Gosplan era “mínima”. Uma das razões que ele
oferece para isso é que “os planejadores pensam que a determinação dos componentes da demanda final é ainda
mais difícil do que a determinação da produção bruta” (p.118). Passar para um sistema de planejamento de
produtos finais em primeira instância, como já observamos, marcaria uma mudança substancial em relação ao
padrão soviético tradicional – uma mudança que a Gosplan aparentemente relutava em fazer. Como observa
Kushnirsky, “uma vez que a demanda por bens e serviços na economia soviética é substituída pela ‘demanda
satisfeita’, derivada do nível de produção, os planejadores acreditam serem capazes de determinar os planos de
produção com mais precisão do que poderiam fazer com os componentes da demanda final. “(Ibid.).

Novamente, a introdução do Sistema Automatizado de Cálculos de Planejamento (ASPR) no final dos anos 1960 é
vista por Kushnirsky como tendo pouco impacto nos procedimentos reais da Gosplan. Ele aponta que “o projeto
ASPR não criou novos problemas para os planejadores, uma vez que seu envolvimento foi mínimo” (p.119), e
explica que “não há muito espaço para mudanças nas técnicas de planejamento através da ASPR, mesmo que seus
desenvolvedores possuíssem as habilidades necessárias para isso. A ASPR precisa seguir a metodologia de
planejamento existente e elaborar apenas as alterações aprovadas pela Gosplan. Caso contrário, as técnicas
sugeridas não poderiam ser aplicadas, e a Gosplan não pagaria por elas” (p.123). Resumindo, ele observa que a
“Gosplan não é o lugar para experimentos” (ibid.).

O segundo aspecto da desconexão reside na natureza abstrata de pelo menos parte do trabalho realizado nos
institutos de pesquisa. Estes últimos produziram algumas boas idéias para o planejamento no nível micro (por
exemplo, a programação linear de Kantorovich), mas grande parte do trabalho feito sobre o “planejamento
otimizado” do sistema como um todo era irremediavelmente abstrato, na medida em que exigia uma especificação
prévia de algum tipo de “função de bem-estar social” ou uma medida geral de “utilidade social”. [21] Embora
tenham feito pouco progresso nessa tarefa quixotesca, [ver nota 9] os teóricos do “planejamento ótimo”
contribuíram para o “esfriamento do interesse” nos métodos de insumos-e-produtos, como descrito por Tretyakova
e Birman (1976: 179) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-
licoes-na-queda/#ref-Tretyakova-1976): “Somente aqueles modelos e métodos que levassem a resultados
otimizados/ideais mereciam atenção. Na medida em que se tornou claro quase imediatamente que um modelo
ótimo não poderia ser construído com base nos métodos de insumos-e-produtos, muitos simplesmente perderam o
interesse por este último”.

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Nesse contexto, é interessante notar que S. Shatalin – autor do brevemente celebrado, mas absurdamente
impraticável “plano de 500 dias” para a introdução do capitalismo na URSS em 1990 – foi, em uma encarnação
anterior, o autor de uma noção igualmente impraticável para otimizar o plano. (Ver o relato de Ellman, 1971
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Ellman-1971), p.11, onde Shatalin é citado como discutindo tanto o insumos-e-produtos quanto o “planejamento
ótimo”, e alegando que somente este último seria “realmente científico”).

Em contraste, nossas próprias propostas – embora certamente dependam de sofisticados sistemas informatizados –
são relativamente robustas e diretas. Não há nenhuma tentativa de definir a priori um critério de utilidade social ou
otimalidade; a “utilidade social” é revelada (a) através de uma escolha democrática sobre a alocação ampla de
recursos para os setores, e (b) através do padrão de razões dos preços de compensação de mercado em relação aos
valores-trabalho para os bens de consumo.

4.3 A ideia de que técnicas melhoradas evitariam a necessidade de


reformas fundamentais

Uma outra razão para o fracasso da tentativa de reforma do sistema soviético de planejamento no período dos anos
1960 ao início dos anos 80 era a idéia – aparentemente mantida pela liderança do PCUS em várias ocasiões – de
que a aplicação de novos métodos matemáticos ou computacionais oferecia um meio “indolor” para melhorar o
funcionamento da economia, um meio que não perturbaria os fundamentos do sistema existente (ao contrário,
digamos, da introdução generalizada de relações de mercado). De fato, métodos técnicos avançados só poderiam
trazer dividendos reais no contexto de uma revisão do conjunto do sistema econômico como um todo – o que
envolveria, a saber, um reexame e um esclarecimento dos objetivos e da lógica do planejamento, bem como a
reorganização dos sistemas de avaliações e recompensas para o desempenho das empresas. Goodman e McHenry
(1986: 332) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-
queda/#ref-Goodman-1986) deixam claro que os Sistemas Automatizados de Gestão (ASUPs [na sigla original])
introduzidos a partir do final da década de 1960 foram em grande parte rejeitados como esndo um implante
alienígena, cujos propósitos estavam em desacordo com os propósitos reais das empresas sob o sistema existente.
Por exemplo, o objetivo idealizado da ASUP de “níveis mínimos e ideais de inventário” entrava em conflito direto
com o objetivo tradicional das empresas de reunir “o máximo de suprimentos possível”, e o objetivo da ASUP de
“avaliar realisticamente as capacidades”, contrariava o objetivo das empresas de “subestimar a capacidade”.
Claramente, teria sido necessária uma reforma audaciosa e abrangente do sistema para tornar os objetivos da ASUP
eficazes.

Considere o tipo de esquema de planejamento que descrevemos acima na seção 2, em que a produção é expandida
para aqueles produtos que apresentam uma razão acima da média entre o preço de mercado (expresso em cupons de
trabalho) em relação ao seu conteúdo em valor-trabalho; e reduzida para aqueles produtos com uma relação abaixo
da média. Tal sistema efetivamente recompensa (com uma maior alocação de mão-de-obra e de meios de produção)
as empresas que fazem uso particularmente eficaz do trabalho social; portanto, as empresas deveriam ter um
incentivo para empregar quaisquer métodos que lhes permitissem economizar em insumos de mão-de-obra (direta e
indireta) por unidade de produção. [22] Um tal esquema seria necessário para romper com o padrão soviético
tradicional, pelo qual as empresas miravam meramente na garantia de cotas de produção dos planos que fossem
facilmente atingíveis, e não tinham interesse em melhorar sua própria eficiência.

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4.4 Incapacidade de empregar contabilização do tempo de trabalho

Derivado do ponto acima, devemos considerar por que a ideia socialista clássica de usar o tempo de trabalho como
uma unidade de contabilidade foi abandonada – um passo que, defendemos, tornava viciado qualquer cálculo
econômico racional em nível micro. Demonstramos (Cottrell e Cockshott 1993a)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Cottrell-1993a) que a ideia de usar a contabilidade do tempo de trabalho já havia sido abandonada pela influente
Social-Democracia Alemã antes da Revolução Russa. Todavia, a ideia estava por aí para ser redescoberta por
qualquer um que estivesse familiarizado com Marx ou Ricardo. O fato de que ele não tenha sido adotado
seriamente na URSS, pensamos, deve refletir os interesses econômicos daqueles com poder e influência naquela
sociedade. Suas implicações radicalmente igualitárias não teriam sido bem recebidas por funcionários cujos
diferenciais de renda ficariam ameaçados.

Uma vez que não foi adotado o cálculo de tempo de trabalho, as pressões da classe trabalhadora por medidas
igualitárias eram compradas por meio de subsídios em bens essenciais. Os subsídios eram a má consciência da
desigualdade socialista. Uma de suas consequências era a depreciação dos salários abaixo do nível do tempo de
trabalho necessário. Sob o capitalismo, [uma situação em que] empregadores pagarem por apenas uma parte do
trabalho de seus empregados, ao passo em que paguem integralmente por todos os bens de capital, introduz um viés
sistemático contra a introdução de tecnologias de economia de trabalho, que variam inversamente com o nível dos
salários. Baixos salários incentivam o desperdício de força de trabalho com tecnologias como as sweatshops
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Sweatshop#:~:text=Sweatshop%20(f%C3%A1brica%20de%20suor%20ou,climaticam
Os efeitos na URSS foram semelhantes. Com a força de trabalho barata, era racional para as empresas acumular
mão-de-obra e prestar pouca atenção aos níveis de pessoal. O uso de valores-trabalho marxianos para pagamento e
cálculo econômico, pelo contrário, teria introduzido uma forte pressão para se economizar no uso de mão de obra.
Uma fábrica que tivesse que cumprir suas metas de produção dentro de um orçamento pré-determinado em força de
trabalho, segundo o qual uma hora de vida ou uma hora de trabalho incorporado fossem custeadas de maneira
equivalente, tenderia a estar alerta à possibilidade de substituir o trabalho por maquinário. [23]

4.5 O estado da informática e das tecnologias de telecomunicações

Como observamos acima, argumentamos pela viabilidade de nossas propostas de planejamento por referência à
última geração de supercomputadores ocidentais [em 1993], e não há dúvida de que em comparação a tecnologia
computacional disponível para os soviéticos era primitiva. Goodman e McHenry (1986: 329)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Goodman-1986) descrevem o estado do setor de informática soviética em meados da década de 1980, observando
que o atraso substancial em relação ao Ocidente era em parte o resultado do isolamento dessa indústria: “nenhuma
comunidade de computação, incluindo a dos Estados Unidos, seria capaz de se mover no seu ritmo atual se tivesse
seus contatos com o resto do mundo severamente restringidos”.

No entanto, embora tenhamos achado conveniente adotar os supercomputadores atuais [de 1993] como referência
em nossos cálculos, argumentamos em outro lugar (Cockshott e Cottrell, 1989, apêndice)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Cockshott-1989) que o mesmo objetivo poderia ser alcançado – mais lentamente, mas ainda em uma escala de

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4/3/2024 Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0 – O…

tempo útil para fins de planejamento prático – por meio de uma rede distribuída de computadores pessoais no nível
empresarial, em comunicação com um computador central relativamente modesto. [24] Sob esta perspectiva, talvez
a mais séria limitação técnica no caso soviético fosse o atraso do sistema de telecomunicações. Goodman e
McHenry (1986) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-
na-queda/#ref-Goodman-1986) chamam atenção para a lentidão e falta de confiabilidade do sistema telefônico
soviético, e os problemas para se encontrar links que fossem bons o suficiente para a transmissão de dados. Eles
também citam a impressionante estatística de que mesmo em 1985, apenas 23% das famílias urbanas possuíam
telefones.

Mais uma vez, entretanto, não queremos enfatizar demais a tecnologia. Os sistemas de informação econômica
desenvolvidos por Stafford Beer no Chile de Allende (descritos em Beer, 1975)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Beer-1975) demonstram o que poderia ser realizado com recursos modestos (https://jacobin.com.br/2020/09/a-
revolucao-cibernetica-socialista-de-allende/), dada a vontade política e clareza teórica sobre os objetivos do
sistema. Se os soviéticos tivessem sido igualmente claros quanto ao que esperavam conseguir através da
informatização do planejamento, então mesmo que fosse impossível implementar tudo o que esperavam a princípio,
teriam estado em posição para explorar os novos desenvolvimentos em tecnologias de informática e comunicações
conforme eles fossem aparecendo. Na verdade, é claro, parece que os economistas soviéticos – ou pelo menos
aqueles que eram ouvidos pela liderança política sob Gorbachev – estavam pouco interessados em desenvolver os
tipos de algoritmos e sistemas computadorizados que discutimos. Em meados da década de 1980, eles
aparentemente já haviam perdido sua crença no potencial de um planejamento eficiente e muitos já haviam pulado
no trem da moda ressurgente da economia de livre-mercado (https://ominhocario.wordpress.com/sobre-mercados-
liberalismo-economico-e-neoliberalismo-leituras-tematicas-2/), representada pelas administrações de Reagan e
Thatcher (https://ominhocario.wordpress.com/2016/11/20/neoliberalismo-a-ideologia-na-raiz-de-nossos-
problemas/).

5 Conclusão

Uma pergunta pode surgir ao leitor dos argumentos acima: será que não estamos sendo extremamente arrogantes
em supor que teríamos conseguido criar um esquema adequado para o planejamento central onde as “melhores
mentes” da URSS falharam durante um período de, digamos, 25 anos? (Ou seja, a partir de 1960, mais ou menos,
quando surgiu a questão da reforma do sistema de planejamento, até o final dos anos 1980, quando toda essa
concepção foi abandonada em favor de uma transição para o mercado.) Nossa resposta é que, na verdade, não: a
questão não é que nos consideramos mais inteligentes do que os economistas soviéticos, mas que não estamos
operando sob as mesmas restrições. As duas principais contribuições intelectuais em nosso esquema são (a) um
marxismo crítico e não dogmático e (b) a Ciência da Computação moderna. Seria muito difícil combiná-las na
antiga URSS, onde o “marxismo” tantas vezes desempenhava uma função obscurantista e anticientífica. Nossos
pontos de vista provavelmente teriam sido considerados desvios pelos guardiões da ortodoxia – e, ao mesmo
tempo, ingenuamente socialistas por aqueles cuja visão do socialismo foi formada nos cínicos anos de Brejnev, e
para quem o marxismo era, portanto, nada além de um dogma fossilizado.

Um outro ponto merece pelo menos uma breve menção em conclusão. O material da seção 3 acima refere-se
apenas à viabilidade técnica de nossas propostas de planejamento; nas condições atuais, a viabilidade política é
uma questão completamente diferente. Não obstante, temos duas observações a fazer sobre isso. Em primeiro lugar,
embora careça de uma articulação política clara no momento, permanece uma reserva de apoio popular a alguma

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forma de socialismo na Rússia, de acordo com a pesquisa citada em Kotz (1992). [25] Em segundo lugar,
gostaríamos de salientar que, embora nossas propostas estejam mais distantes da sabedoria convencional atual do
que as propostas dos socialistas de mercado, no que tange à viabilidade de implementação, os socialistas de
mercado estão essencialmente no mesmo barco que nós: se os principais meios de produção são privatizados, o
socialismo de qualquer espécie está fora da agenda, e provavelmente por um longo período histórico.

Quaisquer que sejam, no futuro visível, as perspectivas para a implementação do tipo de esquema de planejamento
que delineamos, esperamos que esses argumentos provoquem uma nova reconsideração do debate sobre o cálculo
socialista (https://ominhocario.wordpress.com/tag/debate-do-calculo-socialista/). Esperamos ter demonstrado que o
colapso do sistema soviético não pode por si só ser tomado como prova da validade da argumentação austríaca, ou
de qualquer outra, em nome da impossibilidade geral de um planejamento socialista efetivo.

Tradução: Everton Lourenço

Notas

[0] Trabalho preparado para a conferência sobre The socialist calculation debate after the upheavals in Eastern
Europe (O debate do cálculo socialista após os tumultos no Leste Europeu), Centre d’études interdisciplinaires
Walras–Pareto, Universidade de Lausanne, 11–12 de dezembro de 1992. Publicado em Revue Européenne des
Sciences Sociales, tomo XXXI, no. 96, 1993, 167–185.

[1] Ver também Murrell (1983), Temkin (1989).

[2] Tem havido algumas argumentações recentes em favor do socialismo de mercado (e.g. Miller, 1989; Bardhan e
Roemer, 1992), mas na medida em que tais argumentos admitem os argumentos contra o planejamento central, eles
não representam exemplos contrários aqui. Não temos espaço para considerar esses escritos de maneira extensa
neste artigo, mas nos parece que o “socialismo de mercado” se trata de um efeito colateral da desintegração das
economias socialistas, com um prazo de vida potencialmente bem curto. [No original, “com uma meia vida que
pode ser medida em meses”] A instabilidade do socialismo de mercado é debatida com bases teóricas por Scott
Arnold (1987).

[3] Um terceiro tipo de argumentação também é relevante – uma réplica de ponto por ponto contra os argumentos
anti-planejamento dos austríacos. Oferecemos isso em outra obra, em Cottrell e Cockshott (1993a).
(https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-volta-ao-debate-sobre-o-calculo-socialista-calculo-
complexidade-e-planejamento/)

[3b] Método utilizado na administração da produção (https://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_insumo-produto),


também conhecido como “entrada-e-saída”, “entradas-e-saídas” e “input-output”, ou “matriz de Leontief” (segundo
o nome de um dos principais desenvolvedores desse método, Wassily Leontief
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Wassily_Leontief)) e que se baseia em tabelas com as quantidades necessárias dos
insumos utilizados no processo de produção de cada bem produzido em uma economia. (N. do M.)

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[4] Com uma reserva: se, digamos, o plano central solicitar que a empresa A forneça o bem intermediário x para a
empresa B, onde esse bem será usado na produção de algum outro bem y, e se os planejadores informarem as
empresas A e B desse fato, não há escopo para a discussão “horizontal” entre as duas empresas sobre a
especificação precisa do projeto de x? (Ou seja, mesmo na ausência de relações de mercado entre A e B.)

[5] Esse ponto – um tema básico da obra de Strumilin atravessando praticamente meio século – está expresso de
maneira particularmente clara em (Strumilin, 1977: 136–7)

[6] Com preços de equilíbrio que “limpem” o mercado, evidentemente, os bens irão para aquelas pessoas que
estiverem dispostas a pagar mais por eles. Dada uma distribuição de renda igualitária, não vemos objeção a isso.

[7] Naturalmente, um elemento de previsão de demanda também se faz necessário neste ponto: as proporções atuais
fornecem um guia útil, ao invés de uma regra completamente mecânica. [N. do M.: E para esse elemento de
previsão de demanda (que evidentemente não se pode pretender ser completamente preciso) as técnicas e
mecanismos mais recentes com base em avaliações e retroalimentação de dados, principalmente com o avanço na
utilização de big data e aprendizado de máquina (machine learning) podem oferecer muitas possibilidades, como
indicado por Evgeny Morozov em seu artigo recente (2019) na New Left Review
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/16/socialismo-digital-o-debate-do-calculo-na-era-do-big-data/)].

[8] Um algoritmo alternativo que leva em consideração os estoques de meios de produção específicos é apresentado
em Cockshott (1990).

[9] Em suas reflexões posteriores sobre o debate do cálculo socialista, Lange (1967) parece sugerir que um plano
otimizado poderia ser pré-calculado por computador, sem a necessidade do processo de tentativa e erro em tempo
real que ele imaginou em 1938. Na medida em que isso exigiria que todas as funções de demanda dos
consumidores fossem conhecidas antecipadamente, [a visão de Lange de calculo computadorizado de um plano
otimizado no sentido do equilíbrio Walrasiano] nos parece implausível. [N. do M.: em um artigo posterior
(https://ominhocario.wordpress.com/2019/05/09/de-volta-ao-debate-sobre-o-planejamento-socialista-ii-precos-
informacao-comunicacao-e-eficiencia/#secao_5), Cockshott e Cottrell citam o trabalho de Deng e Huang (2006,
“On the complexity of market equilibria with maximum social welfare (https://sci-
hub.tw/10.1016/j.ipl.2005.09.004)” – “Sobre a complexidade do equilíbrio de mercado com bem-estar social
máximo”, Information Processing Letters 97(1), 4–11.) que, nos marcos da Teoria da Complexidade
Computacional (https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_complexidade_computacional), demonstraram que o
equilíbrio, nos termos neoclássicos do equilíbrio walrasiano, como imaginado por Lange, é um problema “NP-
difícil (https://pt.wikipedia.org/wiki/NP-dif%C3%ADcil)”, o que, para um problema que envolve milhões de
entradas, se torna na prática inviável de solução. Cockshott e Cottrell comentam :

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“Mas essa faca corta dos dois lados: Por um lado, isso demonstra que nenhum computador de planejamento
poderia resolver o problema neoclássico do equilíbrio econômico. Por outro lado, também demonstra que
nenhum conjunto de milhões de indivíduos interagindo através do mercado poderia resolvê-lo, tampouco.
Para a teoria econômica neoclássica, o número de restrições sobre o equilíbrio será proporcional, entre outras
coisas, ao número de atores econômicos n. O recurso computacional constituído pelos atores será proporcional
a n, mas se o problema é NP-difícil, então o custo computacional crescerá como en – os recursos
computacionais crescem de maneira linear, os custos computacionais crescem de maneira exponencial. Isso
significa que uma economia de mercado [considerada como um grande e único computador para realizar o
cálculo econômico] nunca poderia ter recursos computacionais suficientes para encontrar seu próprio
equilíbrio mecânico.

Disso segue-se que o problema de encontrar o equilíbrio neoclássico é uma miragem. Nenhum sistema de
planejamento seria capaz de descobri-lo, mas o mercado também não o seria. O problema neoclássico do
equilíbrio geral representa de maneira deturpada o que as economias capitalistas realmente fazem e também
estabelece um objetivo impossível para o planejamento socialista.“

Contra a noção de “equilíbrio mecânico” utilizada pelos neoclássicos para descrever a Economia desde Walras (e
reproduzida por Lange), Cockshott e Cottrell passam a defender uma visão baseada no “equilíbrio
estatístico”/”equilíbrio estocástico” da Economia, como exposto por Ian Wright
(https://ominhocario.wordpress.com/2021/07/13/mercado-abordagem-probabilistica-e-equilibrio-estatistico/).]

[10] Como foi claramente entendido por Marx: “Em uma dada base de produtividade do trabalho, a produção de
uma certa quantidade de artigos em cada esfera particular de produção requer uma quantidade definida de tempo de
trabalho social; embora essa proporção varie entre as diferentes esferas de produção e não tenha relação interna
com a utilidade desses artigos ou com a natureza especial de seus valores de uso”. (1972: 186-7)

[11] No ano de 2018 o supercomputador mais poderoso do mundo naquele momento, o IBM Summit
(https://www.networkworld.com/article/3236875/embargo-10-of-the-worlds-fastest-supercomputers.html#slide11),
era capaz de alcançar a velocidade de 122 PetaFlops, ou seja, realizar 122 quadrilhões de operações de ponto
flutuante por segundo( 1.22 x 1017 ). Isso significa que a tarefa de inversão da “matriz de Leontief” por força bruta
via eliminação Gaussiana para 107 produtos, que para a tecnologia disponível para Cockshott e Cottrell em 1993
ainda demoraria 1.5 milhões de anos (para um computador de mesa) ou mais de 30.000 anos (para um
supercomputador), com a tecnologia disponível em 2018, poderia ser realizada em 8 x 105 segundos, ou seja,
pouco mais de 9 dias de processamento. Isso significa que em 2018, do ponto de vista do processamento básico,
se quiséssemos, nem precisaríamos buscar técnicas mais avançadas do que a força bruta computacional, como
precisaram fazer Cockshott e Cottrell no artigo, para possibilitar a solução da inversa da matriz de insumos-
produtos (que revela os valores-trabalho ou valores de mão de obra verticalmente integrados para cada bem
produzido na economia). Mas, é claro, não seria necessário usarmos essa abordagem, pois com as técnicas usadas
por Cockshott e Cottrell, como veremos mais à frente, a tarefa computacional hoje seria praticamente trivial mesmo
para computadores de mesa. [N. do M.]

[12] Isso significa, por exemplo, que em uma economia com 10 milhões de produtos se assume que cada produto
tenha em média 631 insumos diretos.

[13] Novamente, consideremos a tecnologia disponível em 2018, com o super-computador IBM Summit sendo o
máximo de desempenho possível, como indicado na nota anterior. Nesse caso, apenas a aplicação dos métodos de
Gauss-Seidel ou de Jacobi seria o suficiente para baixar o tempo de execução da inversão da matriz de
Leontief para uma economia de 107 produtos para 0.16 segundos, claramente uma tarefa não apenas viável,
mas trivial – e nem precisaríamos de buscar outras técnicas, como fizeram Cockshott e Cottrell em 1993. Claro
que para um computador de mesa equipado com um processador Intel Core i7 7500U, capaz de lidar com apenas
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49 milhões de instruções por segundo, esta ainda seria uma tarefa completamente inviável – estaríamos falando de
algo como 5 x 108 segundos, ou seja, em torno de 15 anos. Para o cálculo em computadores domésticos, ainda
precisaríamos avançar para a utilização de outras técnicas, como fizeram Cockshott e Cottrell. [N. do M.]

[14] Em outro artigo posterior, Cockshott e Cottrell (https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-volta-ao-


debate-sobre-o-calculo-socialista-calculo-complexidade-e-planejamento/#secao_4.2.1) apresentam uma terceira
abordagem, onde o processo iterativo roda sobre uma representação da matriz de insumos e produtos na forma de
uma estrutura de dados do tipo lista encadeada, com a qual reduzem ainda mais o tempo de execução, para nmr,
onde n é o número de produtos, m é o número médio de insumos diretos para cada produto e r é o número de
iterações necessárias para produzir uma aproximação satisfatória. Utilizando essa técnica, novamente com a
tecnologia de 2018, temos um tempo de execução do processamento ridiculamente pequeno no IBM Summit para o
procedimento iterativo de inversão da matriz (agora na forma de listas encadeadas): 0.000006 segundos para o
cálculo dos valores-trabalho de todos os produtos para uma economia de 10 milhões de produtos. Se
utilizarmos um computador de mesa como aquele indicado nas notas acima, e utilizarmos esta mesma técnica, a
tarefa de cálculo dos valores-trabalho para todos os 10 milhões de produtos, do exemplo da União Soviética, temos
um processamento em 5 x 103 segundos, ou seja, em torno de 1 hora e 15 minutos de processamento. Se acima os
autores mostravam que esse processamento já era uma tarefa viável para os super-computadores da sua
época, aqui podemos ver que hoje ela é viável para qualquer computador doméstico atual (e, em breve, para
qualquer celular). [N. do M.]

[15] Sigla em russo para “Comitê Estatal de Planejamento”, era o departamento responsável por estabelecer os
planos quinquenais para o desenvolvimento da economia soviética. [N. do M.]

[16] Vale ressaltar que Stalin (1952) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-


sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-Stalin-1952) se sentiu obrigado a contestar a ideia de que o objetivo básico da
atividade econômica no socialismo seria a própria produção (ver suas críticas ao camarada Yaroshenko). Tal como
acontece com a sua crítica aos “excessos” da coletivização forçada na agricultura em “Atordoados com o sucesso”
(“Dizzy with success”, 1930, reimpresso em Stalin, 1955
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Stalin-1955)), este pode ser um caso de Stalin atacando tardiamente uma visão ou prática que havia encorajado
anteriormente.

[17] Como discutido na introdução de Smolinski (1977)


(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Smolinski-1977); ver também Nove (1977, capítulo 12)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Nove-1977).

[18] Para as limitações no tamanho dos sistemas de insumos-e-produtos com os quais os planejadores se
consideravam capazes de lidar em vários momentos, ver Treml (1967)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/ref-
Treml-1967), Ellman (1971) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-
e-as-licoes-na-queda/ref-Ellman-1971), Yun (1988) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-
planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-Yun-1988), Treml (1989)
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-
Treml-1989).

[19] Sigla em russo para “Suprimentos Estatais da URSS”, cuidava da alocação de muitos recursos que a Gosplan
não administrava, mas em um nível diferente de administração da produção (muitas vezes com técnicas diferentes).
[N. do M.]
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[20] Abreviação consagrada internacionalmente para “Burô Político”, o comitê central do Partido Comunista. [N.
do M.]

[21] Além desse tipo de problema, Kushnirsky aponta a má qualidade dos estudos da tecnologia de planejamento
existente realizados nos institutos de pesquisa no contexto do projeto ASPR. Ele descobriu que as explicações
produzidas nos institutos não eram passíveis de apresentação algorítmica e “era difícil determinar o propósito
desses materiais” (1982: 124) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-
sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-Kushnirsky-1982).

[22] é importante ressaltar que um tal sistema de incentivos favoreceria a automação de mão de obra, e a
diminuição do tempo social necessário para a produção dos itens necessários à sociedade, trabalhando, assim, na
direção de uma sociedade que poderia funcionar com semanas de trabalho mais curtas, liberando mais horas de
tempo livre à sua população, trabalhando para realizar as promessas do socialismo – ver textos como ‘Lingerie
Egípcia e o Futuro Robô (https://ominhocario.wordpress.com/2016/12/16/lingerie-egipcia-e-o-futuro-robo/)‘,
‘Precisamos Dominá-la (https://ominhocario.wordpress.com/2016/09/23/precisamos-domina-la/)‘, ‘Quatro Futuros
(https://ominhocario.wordpress.com/2015/07/13/quatro-futuros/)‘, ‘Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e
Utopia (https://ominhocario.wordpress.com/2015/07/13/quatro-futuros/)‘, ‘Comunismo Como Futuro
Automatizado de Igualdade e Abundância (https://ominhocario.wordpress.com/2017/03/24/comunismo-como-
futuro-automatizado-de-igualdade-e-abundancia/)‘, de Peter Frase; ‘Tecnologia e Estratégia Socialista
(https://ominhocario.wordpress.com/2016/10/13/tecnologia-e-estrategia-socialista/)‘, de Paul Heideman; ‘Robôs e
Inteligência Artificial: Utopia ou Distopia? (https://ominhocario.wordpress.com/2016/11/05/robos-e-inteligencia-
artificial-utopia-or-distopia/)‘, de Michael Roberts; ‘Os Robôs Vão Tomar Seu Emprego?
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/04/22/os-robos-vao-tomar-seu-emprego/)‘ de Nick Srnicek & Alex
Williams; ‘Rumo a Uma Sociedade Pós-Trabalho (https://ominhocario.wordpress.com/2017/04/26/rumo-a-uma-
sociedade-pos-trabalho-2/)‘, de David Frayne; ‘Robôs, Crescimento e Desigualdade
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Buffie, e Luis-Felipe Zanna; ‘Automação e o “Fim do Trabalho” na Mídia Internacional Dominante
(https://ominhocario.wordpress.com/2016/12/06/automacao-e-o-fim-do-trabalho-na-midia-internacional-
dominante/)‘;. [N. do M.]

[23] Ver (Marx,1867 [1976]: 515–7) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-


sovieticos-e-as-licoes-na-queda/#ref-Marx-1867), e para mais discussão sobre esse ponto, Cockshott and Cottrell
(1993) (https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-
queda/#ref-Cottrell-1993).

[24] Comparar com as tecnologias de comunicações disponíveis atualmente (2022) é até risível. Vivemos em um
mundo de serviços digitais e bancos de dados gigantescos, acessíveis de qualquer lugar com uma conexão de
internet. Exemplos de sistemas distribuídos em escala global interligados através dessa infraestrutura de
comunicações, e que envolvem estruturas de processamento desse tipo não faltam: o Google, um mecanismo de
busca centralizado capaz de reunir e indexar cada página na internet e disponibilizar tudo isso para todo o mundo
segundo os mais diversos critérios de busca; operadoras de cartão de crédito como Visa e MasterCard, capazes de
utilizar cartões magnéticos e registros digitalizados para oferecer os serviços de compra e venda à crédito em
praticamente qualquer loja física ou virtual no planeta; o mastodonte das lojas virtuais Amazon, cuja logística
global garante uma agilidade gigantesca no despacho dos materiais e no gerenciamento de seus armazéns de
estoque; o Uber, capaz de usar a localização por satélite dos celulares para calcular as melhores rotas, custos, tempo
de corrida e os motoristas mais próximos para realizá-las; as cadeias logísticas globais dos sistemas de produção
just-in-time (https://www.infoescola.com/administracao_/just-in-time/), que estabelecem uma coordenação muito
mais interconectada entre os processos dos vários nós na cadeia produtiva (mesmo que sejam representados por
empresas específicas e sem conexão de propriedade entre si), eliminando a necessidade de estoques e

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transformando as antigas fábricas em unidades que na verdade se espalham por diversas empresas e fornecedores
diferentes; o planejamento global centralizado de qualquer empresa transnacional; os centros monolíticos de
processamento e de armazenamento de dados dos Googles e Facebooks da vida; para não falar nos sistemas de
vigilância generalizada por agências como a NSA dos EUA. Perto dos sistemas globais que conhecemos hoje, a
humilde proposta de rede necessária para o processamento da alocação dos recursos produtivos como proposto por
Cockshott e Cottrell parece quase uma brincadeira infantil. [N. do M.]

[25] Em maio de 1991, uma pesquisa realizada na Rússia mostrava 12% dos entrevistados a favor de “uma
sociedade socialista nos moldes que tínhamos no passado”, mais 43% a favor de “um tipo mais democrático de
socialismo (https://ominhocario.wordpress.com/2017/01/12/socialismo-mercado-planejamento-e-democracia/)”.
Apenas 20% eram a favor de “uma forma de capitalismo de livre-mercado, como a encontrada nos EUA ou na
Alemanha”.

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Nove, A. 1977. The soviet economic system (O sistema econômico soviético), Londres: George Allen and Unwin.

Nove, A. 1983. The economics of feasible socialism (A economia do socialismo viável), Londres: George Allen and
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Przeworski, A. 1989. “Class, production and politics: A reply to Burawoy” (Classe, produção e política: uma
resposta para Burawoy), Socialist Review, vol. 19, no. 2, Abril-Junho.

Smolinski, L. (ed.) 1977. L.V. Kantorovich: essays in optimal planning (L.V. Kantorovich: ensaios sobre
planejamento otimizado), Oxford: Basil Blackwell.

Stalin, J. V. 1952. Economic problems of socialism in the USSR (Problemas econômicos do socialismo na URSS),
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Strumilin, S. G. 1977. “K teorii tsenoobrazovaniya v usloviyakh sotsializma”, em Akademiya Nauk USSR, editors,
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Temkin, G. 1989. “On economic reforms in socialist countries: the debate on economic calculation under socialism
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Treml, V. 1967. “input–output analysis and Soviet planning” (Análise de insumos-produtos e planejamento
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Treml, V. 1989. “The most recent Soviet input–output table: a milestone in Soviet statistics” (As tabelas de
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Yun, O. 1988. Improvement of soviet economic planning (Melhoria do planejamento econômico soviético),
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Leituras Relacionadas

https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/29/planejamento-socialista-apos-o-colapso-da-uniao-sovietica-de-volta-ao-debate-so… 25/28
4/3/2024 Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0 – O…

De volta ao debate sobre o planejamento socialista [Paul Cockshott e Allin Cottrell] – série de artigos
clássicos de Cockshott e Cottrell que contribuem para revitalizar os argumentos no debate sobre as
possibilidades de um planejamento automatizado e democrático da produção em um sociedade socialista.
Originalmente esses artigos não foram publicados como uma série, mas os publicamos dessa maneira para
enfatizar o quanto as ideias que os autores exploraram neles são complementares:
#0 – Planejamento socialista após o colapso da União Soviética
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/29/planejamento-socialista-apos-o-colapso-da-uniao-
sovietica-de-volta-ao-debate-sobre-o-planejamento-socialista-0/):
Para muitas pessoas, deve parecer que o colapso da União Soviética (e das economias planificadas do
Leste Europeu) teria efetivamente encerrado o debate do cálculo socialista, com um veredito decisivo em
favor do mercado. Argumentamos aqui que essa conclusão não se justifica. O socialismo soviético
apresentava uma forma específica de planejamento com deficiências próprias, e seu colapso não exclui
mecanismos alternativos de planejamento socialista. Neste artigo apontamos algumas das limitações
específicas do modelo soviético e oferecemos algumas justificativas para a visão de que existem métodos
alternativos de planejamento que são tecnicamente viáveis e potencialmente eficientes e justos.
#1 – Cálculo, complexidade e planejamento (https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-volta-ao-
debate-sobre-o-calculo-socialista-calculo-complexidade-e-planejamento/), onde os autores resgatam o
histórico do “debate sobre o cálculo socialista” e lidam em mais detalhes com os argumentos de Mises
contra a possibilidade de uma economia racional no socialismo e com as propostas de Lange: “Este artigo
oferece uma reavaliação do debate sobre o cálculo socialista e examina até que ponto as conclusões desse
debate deveriam ser modificadas sob a luz do desenvolvimento subsequente da teoria e da tecnologia da
computação. Após uma introdução às duas principais perspectivas sobre o debate que foram oferecidas até
o momento, examinamos o argumento clássico de von Mises contra a possibilidade de cálculo econômico
racional sob o socialismo. Discutimos a resposta dada por Oskar Lange, junto dos contra-argumentos à
Lange do ponto de vista austríaco. Finalmente, apresentamos o que chamamos de ‘resposta ausente’, isto é,
uma reafirmação do argumento marxiano clássico por um cálculo econômico em termos de tempo de
trabalho. Argumentamos que o cálculo por tempo de trabalho pode ser defendido como um procedimento
racional, quando complementado por algoritmos que permitam que a escolha dos consumidores guie a
alocação de recursos, e que tal cálculo é tecnicamente viável com o tipo de maquinário computacional
atualmente disponível no Ocidente, com uma escolha cuidadosa de algoritmos eficientes. Nossa
argumentação vai no sentido oposto das discussões recentes sobre planejamento econômico, que continuam
afirmando que a tarefa seria de complexidade insolucionável.“
#2 – Preços, informação, comunicação e eficiência (https://ominhocario.wordpress.com/2019/05/09/de-
volta-ao-debate-sobre-o-planejamento-socialista-ii-precos-informacao-comunicacao-e-eficiencia/), onde
os autores enfrentam os argumentos levantados por Hayek contra o socialismo com base na ideia de
dispersão do conhecimento e na suposta incapacidade do socialismo em reunir, propagar e utilizar as
informações “tácitas” na ausência de um sistema baseado em preços no mercado: “A análise dos aspectos
econômicos da informação tem sido associada ao trabalho de Hayek, que enxerga o sistema de preços no
mercado como um mecanismo de telecomunicação de informações e de adaptação a mudanças. As críticas
de Hayek às possibilidades de um planejamento democrático da produção de bens e serviços, como
apresentadas no artigo “O Uso do Conhecimento na Sociedade”, têm servido de base para enterrar
qualquer forma de socialismo, mesmo para pessoas que resistem ao seu entusiasmo extremo por mercados
irrestritos. Até que ponto as ideias de Hayek se sustentam, principalmente diante dos avanços posteriores
na Teoria da Informação e na Ciência da Computação? Será que o sistema de mercado realmente é tão
mais eficiente do que qualquer alternativa baseada no planejamento democrático socialista jamais poderia
ser? Ou, pior, será que as ideias de Hayek realmente mostram que uma alternativa desse tipo não seria
apenas menos eficiente, mas simplesmente impossível?“

https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/29/planejamento-socialista-apos-o-colapso-da-uniao-sovietica-de-volta-ao-debate-so… 26/28
4/3/2024 Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0 – O…

Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições na Queda


(https://ominhocario.wordpress.com/2017/05/08/economia-e-planejamento-sovieticos-e-as-licoes-na-queda/) –
[Paul Cockshott e Allin Cottrel] “Desde os anos 90 temos sido bombardeados por relatos sobre como a queda
da União Soviética seria uma prova definitiva da impossibilidade de qualquer forma de Economia Planejada
racionalmente, de qualquer forma de Economia Socialista, de qualquer forma de Socialismo – e de que não
existiria alternativa para organizar a produção e o consumo das sociedades humanas a não ser o Capitalismo
de Livre-Mercado. Será mesmo?“
Comunismo e computadores: uma alternativa democrática para o século XXI
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/01/comunismo-e-computadores-uma-alternativa-
democratica-para-o-seculo-xxi/) – [Maxi Nieto Ferrández] “O modelo proposto pretende mostrar a
superioridade de uma economia socialista informatizada em relação ao modo de produção capitalista no plano
econômico, por sua maior capacidade de desenvolver as forças produtivas, ao permitir a alocação dos
recursos de um modo mais eficiente que o mercado, sem desperdícios materiais, desemprego e crise; e no plano
democrático, ao permitir o controle social da produção, orientando o desenvolvimento econômico e social para
metas livremente escolhidas pelo conjunto da sociedade, em contraste com a plutocracia capitalista, onde o
corpo social está subordinado às exigências de valorização e acumulação de capital.”

Planejando o Bom Antropoceno (https://ominhocario.wordpress.com/2017/11/11/planejando-o-bom-


antropoceno/) – [Leigh Phillips e Michal Rozworski] O mercado está nos levando cegamente a uma
calamidade climática – o planejamento democrático é uma saída.
Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/01/12/socialismo-mercado-planejamento-e-democracia/) – [Seth
Ackerman, John Quiggin, Tyler Zimmer, Jeff Moniker, Matthijs Krul, HumanaEsfera] O mercado simplesmente
não é o tipo de coisa que permite que consumidores tenham entradas deliberativas diretas nas decisões sobre
quais necessidades socialmente reconhecidas se refletirão na produção econômica. Valorizar comunicação
direta e coordenação consciente é desejar outra coisa que não mercados.
O socialismo democrático é para radicalizar a democracia (https://jacobin.com.br/2020/09/o-socialismo-
democratico-e-para-radicalizar-a-democracia/) [Shawn Gude]
Sobre democracia e socialismo (https://jacobin.com.br/2019/04/sobre-democracia-e-socialismo/) [Tyler
Zimmer]
Socialismo digital? O debate do cálculo na Era do Big Data
(https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/16/socialismo-digital-o-debate-do-calculo-na-era-do-big-data/) –
[Evgeny Morozov] O desenvolvimento de infraestruturas de avaliação e circuitos de retroalimentação digital
oferece oportunidades à esquerda para que proponha melhores processos de descoberta, melhores soluções
para a complexidade da organização social em ambientes em rápida transformação e melhores
correspondências entre produção e consumo do que a concorrência no mercado e o sistema de preços
poderiam fornecer.

Socialismo Como Futuro Automatizado em Resposta à Crise Ambiental


(https://ominhocario.wordpress.com/2017/11/04/socialismo-como-futuro-automatizado-e-igualitario-em-
resposta-a-crise-ambiental/) – [Peter Frase] Se os avanços tecnológicos da Quarta Revolução Industrial (em
campos como Inteligência Artificial, Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para
automatizarmos a maior parte dos empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a
produção de mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, também o
capitalismo. Se isso for alcançado em uma sociedade mais igualitária, democrática, sustentável e racional,
ainda assim é possível que teremos de nos organizar para lidar com o estrago deixado no planeta pelo sistema
capitalista, planejando, executando e administrando projetos gigantescos de reconstrução, geo-engenharia e
racionamento de recursos limitados. Em outras palavras, provavelmente ainda precisaremos de algum tipo de
Estado.
https://ominhocario.wordpress.com/2022/03/29/planejamento-socialista-apos-o-colapso-da-uniao-sovietica-de-volta-ao-debate-so… 27/28
4/3/2024 Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0 – O…

Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo (https://ominhocario.wordpress.com/2018/04/07/vida-apos-o-


capitalismo-quatro-futuros-conclusao/) – [Peter Frase] “Crise climática”, “mudanças ambientais”, “robôs
inteligentes”, “robôs tomando empregos”: os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de
Automação de postos de trabalho para o nosso futuro comum vêm sendo cada vez mais discutidos. Se os
avanços tecnológicos da “Quarta Revolução Industrial” (em especial em campos como Inteligência Artificial,
Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para automatizarmos a maior parte das
atividades que hoje são empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a produção de
mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, estaremos falando do fim do
Capitalismo; a questão então é o que virá depois. Será que a possibilidade de toda essa automação é o
bastante para garantir que ela vai ocorrer? Qual seria o impacto disso sobre as vidas das pessoas? Como as
questões ambientais/climáticas entram nesse quadro? E as relações de propriedade e produção capitalistas e a
Política, especificamente a Luta de Classes? Que tipo de cenários podemos esperar à partir do fim do
Capitalismo?
Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/03/10/tecnologia-e-ecologia-como-apocalipse-e-utopia/) – [Peter
Frase] “Muito se tem falado sobre os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de Automação de
postos de trabalho para o nosso futuro em comum. Como as relações de propriedade e produção capitalistas e
a Política, especificamente a Luta de Classes, se encaixam neste quadro? Será que a possibilidade de
automação quase generalizada seria o bastante para garantir que ela ocorrerá? Qual seria o impacto dela
sobre as condições de vida das pessoas? Com base nesses elementos, que tipo de cenários podemos esperar à
partir do fim do Capitalismo?”
Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância
(https://ominhocario.wordpress.com/2017/03/24/comunismo-como-futuro-automatizado-de-igualdade-e-
abundancia/) – [Peter Frase] “Um mundo em que a tecnologia tenha superado ou reduzido a um mínimo (e de
forma sustentável) a necessidade de trabalho humano; em que esse potencial seja compartilhado com todos,
eliminando a exploração e a alienação das relações de trabalho assalariado; onde as hierarquias derivadas do
Capital tenham sido suplantadas por um modelo mais igualitário, agora capaz não só de sanar as necessidades
de todos, mas de permitir o livre desenvolvimento de cada um, parece para muitos como um sonho de utopia
inalcançável e ingênuo, onde não existiriam quaisquer conflitos ou hierarquias. Será mesmo?“

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