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Belo Horizonte
2016
Faculdade de Educação
Curso de Especialização Educação, pobreza e Desigualdade Social
PALAVRAS-CHAVE
Fluxo Escolar – Elevação da Escolaridade – Programa Bolsa Família
ABSTRACT
This research aims to analyze the classes of flow correction in a state school of
the municipality of the Jequitinhonha Valley region, including how projects such
as the "Accelerate to Win Project" (PAV) and the "Higher Schooling Project -
Telessala Minas Gerais Methodology "Affected the flow of permanence and / or
school dropout of students in situation of age / series distortion. Through
bibliographic and documentary research, questionnaires, interviews and data
analysis, it was possible to indicate the main reasons for evasion, and the
relationships between the projects, the school environment, the Bolsa Família
program and the social context of the community. The work also sought to point
out problems and opinions about the projects of correction of flow of the state
network, the relations between them, their differences and their results. The
difficulties encountered and the effectiveness of the two projects were
presented by comparing the data from the years 2013 to 2016, answering how
the projects were seen in the school community and to what extent the
implementation of these projects may or may not be considered satisfactory.
KEYWORDS
School flow - Higher education– Bolsa Família program
2
LISTA DE TABELAS
3
LISTA DE GRÁFICOS
4
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 6
2. Os Programas de Correção de Fluxo 11
2.1 – O PAV: Projeto Acelerar Para Vencer 12
2.2 – Projeto Elevação de Escolaridade - Metodologia Telessala Minas Gerais 14
2.3 – Os programas de Correção de Fluxo enquanto instrumentos para mudança 16
3. Correção de Fluxo: relações sócio educativas. 20
4. Considerações Finais 29
5. REFERÊNCIAS 30
5
Projetos de Correção de Fluxo: Um estudo das relações sócio
educativas em escola do Vale do Jequitinhonha.
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que é preciso compreender, cada dia mais, a importância da
educação na transformação social e histórica dos indivíduos de uma sociedade. De
fato, necessita-se de um engajamento escolar e familiar neste processo, que,
diversas vezes é interrompido por questões diversas. Quando se fala de evasão ou
abandono escolar, comumente volta-se à questões extraescolares que permeiam
este problema, e cabe, pois, à escola e às políticas públicas muitas vezes o papel de
intensificar os trabalhos no combate ao mesmo e na responsabilidade de garantir de
forma igualitária as melhores condições para que haja qualidade e continuidade na
vida escolar dos alunos. Considerando a norma prescrita, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional nº9394/96 assegura a formação e ressalta a questão
do processo de aprendizagem, através dos seus artigos 22 e 23:
7
estabelecido. Ainda segundo Setubal (2000), a utilização destes projetos faz-se
efetiva no momento em que busquem:
(...) o alcance de uma educação de qualidade para todos, ou seja, o
desenvolvimento de projetos que visem eliminar ou reduzir as
desigualdades que permeiam o sistema educacional brasileiro. Tal
movimento implica mudanças na forma de agir e conceber a ação política.
(SETUBAL, 2000.p.15)
É neste aspecto e sobre esta base que se encontra o principal ponto que os
programas de correção de fluxo deveriam atingir: uma verdadeira e democrática
inclusão social no ambiente escolar.
A região onde esta pesquisa é construída, o Vale do Jequitinhonha, é situada
no nordeste de Minas Gerais e ocupa cerca de 14,5% da área do estado
(CODEVALE, 1986). Muitas vezes chamado de “Vale da miséria” esta região
apresenta de fato números elevados de pobreza e mantinha, no início dos anos 90,
índice elevado de alunos desistentes e/ou fora da escola. (BARBOSA, 2010.)
Quanto às questões sociais, ficam nítidas as dificuldades do município pesquisado
quando observados os dados sobre o PIB (Produto Interno Bruto), os mesmos
demonstram um PIB per capta de 9.123,07 bem inferior, por exemplo, ao valor do
estado que chega a 23.646,21. (IBGE, 2015).
No município pesquisado destacam-se dois principais projetos de correção de
fluxo da rede estadual: O PAV (Projeto Acelerar para Vencer) 1 e o projeto “Elevação
de Escolaridade” – Metodologia Telessala Minas Gerais. O primeiro permaneceu por
7 anos implementado nas escolas estaduais do município dando lugar ao segundo
projeto no início de 2016. De toda forma, ambos representam instrumento de análise
na construção desta pesquisa.
O Projeto Acelerar para Vencer (PAV), foi implementado no ano de 2008 pelo
Governo Federal (Gestão 2003 - 2010) através da SEE/MG (Secretaria de Estado de
Educação de Minas Gerais), e prevê a possibilidade de aceleração para alunos com
atraso escolar e a correção do fluxo escolar como uma estratégia para atender aos
alunos do Ensino Fundamental (EF), com pelo menos dois anos ou mais de
distorção da idade em relação ao ano de escolaridade adequada. Seus principais
objetivos são aumentar a proficiência média do aluno e reduzir a distorção idade/ano
de escolaridade. Sendo assim:
1
Centro de Referência Virtual do Professor, http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?
id_projeto=27&ID_OBJETO=102055&tipo=ob&cp=000000&cb (Acesso em: 13/12/2016)
8
O PAV se configura como uma política pública necessária na tentativa de
correção de fluxo nas escolas estaduais, devido aos prejuízos causados
pelas repetidas reprovações em sua trajetória escolar; sendo compreendido
também, como uma política de equidade destinada a um determinado
público escolar, com vistas a garantir resultados mais igualitários, bem como
uma possibilidade de inclusão social e resgate da autoestima dos alunos.
(LIMA &RODRIGUEZ, 2008, p. 56)
2
Em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o projeto procura oferecer outra alternativa de
formação para alunos que estão em defasagem ou não concluíram o fluxo escolar. Essa alternativa
estrutura-se em ações como: a organização de turmas de elevação, na utilização de aulas
presenciais e em vídeos (Telessalas) e o desenvolvimento de Circuitos de Aprendizagem,
https://www.educacao.mg.gov.br/component/gmg/story/8305-metodologia-diferenciada-auxilia-
estudantes-em-distorcao-idade-ano-na-aprendizagem-e-na-conclusao-do-ensino-fundamental
(Acesso em 30/09/2016)
9
desde o seu início, sobre questões de fluxo escolar e diversos trabalhos me
instigaram a compreender a fundo as características dos projetos de correção
estaduais. O contato com aspectos como a frequência e permanência no ambiente
escolar devido à minha função como coordenador do Programa Bolsa Família na
educação, também contribuíram decididamente para a escolha do tema e
construção desta pesquisa.
Inicialmente busquei auxílio junto á Superintendência Regional de Ensino,
mais especificamente com a coordenadora do projeto de correção de fluxo vigente.
Logo após, procurei a direção da escola escolhida para a pesquisa, dados dos anos
anteriores e a opinião da supervisão do projeto. Observei o andamento de
atividades, li planos de aulas e com as demais visitas ao ambiente escolar foram
expostos os caminhos necessários para a escrita do trabalho.
Entre os dias 18 e 22 de Julho de 2016 observei as aulas e realizei
entrevistas com os professores das classes de correção. Também foram utilizados
questionários que tiveram como referência os disponibilizados por Tânia Maria
Menezes Farias (2013) em tese de mestrado para a Universidade Federal de Juiz de
Fora.
No mês de agosto de 2016 recolhi dados estatísticos junto à
Superintendência Regional de Ensino e em 23 de agosto realizei entrevista com a
coordenadora do projeto “Elevação de Escolaridade – Metodologia Telessala Minas
Gerais”. Entre os dias 18 e 23 de setembro foram realizadas entrevistas com os
alunos das classes pesquisadas e os resultados obtidos foram comparados a outras
pesquisas e trabalhos anteriormente lidos. Entre eles os estudos de César Benjamin
em Educação e Projeto Nacional (2016); Miguel Arroyo em Para Além do Fracasso
Escolar (2001) e Marcelo Cortês Neri (2009) em Motivos da Evasão Escolar. Desta
forma, através da análise das respostas dos professores, coordenador, supervisor,
alunos e da comparação com dados estatísticos a observação da realidade das
classes foi realizada e o estudo pôde ser construído. Pode-se destacar, segundo
Ventura, que:
10
que podem ser diretamente observados e não existem leis básicas para
determinar quais são importantes. (VENTURA, 2007, p.3)
3
Plataforma Web do Governo Federal de acompanhamento e lançamento dos dados da frequência
escolar dos alunos beneficiários do Programa Bolsa Família. Acessado pelo endereço:
http://frequenciaescolarpbf.mec.gov.br/
11
Para uma melhor compreensão, iniciaremos esta explanação para entender
melhor os programas de correção de fluxo já apontados anteriormente, buscando
também demonstrar as pesquisas já realizadas por outros autores, principalmente
em relação ao PAV e à relação entre o Sistema Educacional, questões sociais e os
Programas de Transferência de renda.
12
adolescentes e jovens que têm direito a um ensino mais produtivo e
significativo, para que resgatem a auto-estima e a confiança em si e em
suas potencialidades. (MINAS GERAIS, 2008, p.5)
13
(SEEMG/SI/SIE/Diretoria de Informações Educacionais. 2016). No ano de 2015,
apenas duas turmas com um total de 70 alunos existiam no município, uma queda
de quase 50% no número de matriculados se comparado ao ano anterior, onde
foram 136 matriculados. (CENSO ESCOLAR, 2015)
Algumas pesquisas foram realizadas de forma mais abrangente sobre o PAV
e foram utilizadas como referência também para este trabalho. De modo geral,
compreender a aplicação do projeto em anos anteriores e em outras regiões faz-nos
observar pontos que podem e devem ser ressaltados nesta pesquisa. Os trabalhos
de Liliane Cecília de Miranda Barbosa (2010) e de Tânia Maria Menezes Farias
Barbosa (2013) foram utilizados e se destacam na medida em que caracterizam o
projeto bem como demonstram visão ampla dos aspectos educacionais do estado
de Minas Gerais e aspectos sociais das turmas na primeira década do século XXI.
Segundo Tânia:
O Projeto Acelerar Para Vencer (PAV) foi pensado pela SEE/MG como uma
estratégia de intervenção pedagógica, com o objetivo de sanar lacunas da
aprendizagem e melhorar o desempenho dos alunos por meio de uma
metodologia alternativa e adequada a esse público, possibilitando a todos a
recuperação do tempo perdido ao longo de sua trajetória escolar. A
SEE/MG deixa explícito no Documento Base do projeto que a consequência
que se espera com os resultados das ações previstas é a correção da
distorção com a superação da questão do fracasso escolar, justificando que
este tem raízes tanto na desigualdade social, quanto em mecanismos
internos à escola. (BARBOSA, 2013, p.32)
14
distorção idade/ano de escolaridade e estudos parciais nos anos finais do Ensino
Fundamental. Assim como o PAV, além da correção do fluxo escolar, o projeto
Elevação de Escolaridade procura aumentar a autoestima dos alunos promovendo
competências para que permaneçam na escola e encontrem sucesso futuro na vida
social.
Segundo dados do INEP/2014 cerca de 22,7% 4dos estudantes do estado de
Minas Gerais do 6º ao 9º ano permaneciam em distorções idade/ano de
escolaridade. Assim sendo, o projeto veio como instrumento para atender estes
estudantes na tentativa de mudança deste quadro. De forma geral, o projeto
Elevação de Escolaridade tem como foco principal a formação de cidadãos com
conhecimento de seu tempo e espaço, capazes de tomarem decisões para melhoria
de sua condição de vida. (MINAS GERAIS, 2016)
Diferentemente de outros projetos de correção de fluxo implementados e
desenvolvidos pelas Secretaria de Educação do Estado, o Projeto Elevação de
Escolaridade - Metodologia Telessala Minas Gerais não apresenta componentes
curriculares iguais aos das classes regulares dividindo-se assim em 3 eixos
temáticos modulares:
Além disso, ao término do ano letivo de estudos, o estudante concluirá toda a etapa
do Ensino Fundamental Final (6º ao 9º ano), diferente do PAV, neste programa o
aluno concluiria em 2 (dois) anos.
O projeto “Elevação de Escolaridade” possui ainda diversas peculiaridades,
entre elas: as vídeo-aulas disponibilizadas pela Fundação Roberto Marinho, o fato
de só haver 1 (um) professor para cada turma, e a constante utilização de trabalhos
em grupos onde os alunos são influenciados ao respeito mútuo e vida em
sociedade.
Destaca-se também o “Memorial”, caderno individual em que cada estudante
pode anotar assuntos cotidianos, sejam eles dos assuntos e aprendizados das aulas
4
Disponível em http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais
15
ou da sua vida pessoal, construindo assim, um rico relato que caracteriza o
ambiente onde vive, suas dificuldades e aprendizados.
No município pesquisado estão matriculados 96 alunos no Projeto Elevação
da Escolaridade - Metodologia Telessala Minas Gerais e na escola pesquisada
existem duas turmas com 25 alunos cada. Compõem o quadro do projeto na escola:
2 professores, 1 supervisor e 1 coordenador junto à Superintendência Regional de
Ensino.
Anos Iniciais 3,7% 125 reprovações 2,2% 74 abandonos 94,2% 3.203 aprovações
Anos Finais 13,8% 395 reprovações 7,9% 227 abandonos 78,3% 2.244 aprovações
Anos Iniciais 4,9% 433 reprovações 0,4% 35 abandonos 94,7% 8.281 aprovações
Anos Finais 13,8% 1.006 reprovações 2,6% 188 abandonos 83,7% 6.116 aprovações
16
Fonte: INEP/2015
No município do Vale do Jequitinhonha as taxas de abandono são bem
superiores às taxas do município de Sabará, localizado próximo à capital, Belo
Horizonte. Percebe-se claramente através deste exemplo as disparidades
educacionais entre as regiões e a possível relação entre as diferenças sociais e os
índices educacionais. Em termos absolutos e relativos, Sabará é bem melhor. Cabe
ainda salientar que, o número de matriculados no município de Sabará é maior que
o número de matriculados no município do Baixo Jequitinhonha, ainda assim, o
número de alunos que abandonaram a escola no ano de 2015 no município do Vale
chega a 301 contra 223 no município vizinho à capital do estado. Segundo Maria
Alice Setubal (2000), as taxas de rendimento do país variam consideravelmente,
pois:
Dada a diversidade e as desigualdades regionais e sociais no País, estas
taxas devem estar relacionadas com uma multiplicidade de fatores que vão
desde a problemática social da sobrevivência, atitudes de rebeldia ao
sistema como um todo, ou falta de perspectiva de emprego, até questões
internas à escola; (SETUBAL, 2000.p.10)
Pode-se perceber que, ao serem incluídos em uma mesma classe alunos com
defasagem escolar, a própria homogeneização da turma contribui para que a mesma
seja vista como “classe problema”. Tendo em vista os reais objetivos das classes de
correção de fluxo, até mesmo a ideia construída sobre os projetos contrariaria os
mesmos objetivos, dificultando uma “política educacional orientada para a formação
da cidadania” como propõe Maria Alice Setubal (2000).
Levando em consideração todos estes problemas, dentro ou fora do ambiente
escolar é que buscamos compreender a importância de projetos que objetivam
manter crianças e jovens na escola. Compreender os motivos reais pelos quais os
jovens abandonam a escola, bem como o valor dado à escola por eles é
fundamental. É preciso que os alunos encontrem fora e dentro da escola condições
que contribuam para uma verdadeira transformação pela educação. Neste aspecto,
as escolas públicas parecem assumir uma maior responsabilidade, já que
recebemos público na sua maioria, da classe pobre deste país. Segundo Benjamin:
Formar cidadãos, não consumidores passivos e frustrados, continua a ser o
insubstituível papel da rede pública de educação. Mas ela não conseguirá
renascer sozinha, pelos próprios esforços, independentemente de quanto
dinheiro se gaste. Filha de um projeto nacional, ela depende dele para
18
recuperar sua razão de ser. A falta de projeto é mais angustiante que a de
dinheiro. (BENJAMIN, 2016, p.18)
19
Através da pesquisa realizada por Marcelo Neri para a Fundação Getúlio
Vargas no ano de 2009, pudemos observar os principais motivos para a evasão
escolar, principalmente dos jovens nos anos finais do Ensino Fundamental e Médio,
observemos os dados disponibilizados na pesquisa:
21
minimizada. Na pesquisa realizada sobre o PAV por Tânia Maria Meneses Farias
Barbosa, a autora afirma que:
(...) parece haver um equívoco no entendimento do significado do que seja
ensinar o básico que, para esses professores corresponde à minimização
dos conteúdos e não ao fundamental, ou seja, a seleção dos conteúdos que
constituema base da aprendizagem dos alunos. Este básico é entendido por
alguns professores como atividades de pouca complexidade acadêmica -
assistir a um filme; realizar trabalhos manuais; entre outras atividades
semelhantes, desconectados de um objetivo pedagógico. É o que se
comprova na fala de um dos professores entrevistados: “Pro PAV não dá
pra exigir muito, eles não dão conta, tem que ser o básico mesmo. O
problema é quando chega no ensino médio” (BARBOSA, 2011, p. 92/93)
Pode-se perceber que, nos anos de 2014 e 2015 o número de alunos que
abandonou o Projeto Acelerar Para Vencer foi superior ao número de alunos
reprovados. Outro dado importante é que, sendo o projeto um facilitador para que os
22
alunos adentrassem as turmas regulares, os alunos reprovados o foram quase que
em totalidade pelo número de faltas superior ao permitido (75% de frequência). Na
escola pesquisada, dos 165 alunos matriculados nas turmas do PAV entre os anos
de 2013 e 2015, 62 abandonaram o projeto ou foram reprovados por frequência. Só
no ano de 2015, dos 70 alunos matriculados no PAV, foram 25 abandonos, ou seja,
35,71% da turma evadiu.
Ficam evidentes as falhas do PAV enquanto projeto de correção de fluxo na
medida em que as taxas de evasão continuaram altíssimas, sendo assim, parece
claro que os alunos não conseguiram ver no projeto uma saída efetiva para a
situação em que se encontravam.
Opinião diferente parece existir em relação ao Projeto Elevação de
Escolaridade - Metodologia Telessala Minas Gerais, embora ainda não existam
dados estatísticos e nem resultados finais das turmas, através da pesquisa
verificamos maior aceitação do novo projeto de correção de fluxo pela sua
metodologia, valorização e incentivo aos estudantes.
Através dos questionários respondidos pelos professores a opinião em
relação à metodologia do novo projeto e sua efetividade enquanto influenciador para
que os alunos permaneçam no ambiente escolar pôde ser verificada. Foi
perguntado: Além de corrigir o fluxo escolar, o (a) senhor (a) considera que o projeto
Elevação da Escolaridade - Metodologia Telessala Minas Gerais garante o resgate
da autoestima do aluno? De que forma?
O professor I declarou acreditar que o projeto resgate a autoestima do aluno e
respondeu:
Acredito que sim, possibilitando que ele seja construtor e protagonista de
sua aprendizagem, construindo através da metodologia vínculos
significativos, vivenciando experiências que incorporam novas atitudes de
cidadania. Aqui a gente vê assim, que existem dificuldades de
aprendizagem sim, mas eu procuro sanar atendendo de forma adequada
cada um, e há um respeito, e não há desigualdades porque a própria
metodologia trabalha a confiança de todos. (PROFESSOR I, em
20/07/2016)
23
Da mesma forma, embora tenha existido, segundo os professores, um certo
estranhamento no início da implementação do projeto, os alunos em sua totalidade o
avaliam de forma positiva, inclusive demonstrando o desejo de que o mesmo fosse
incorporado às turmas regulares nos anos seguintes. Quando questionados sobre
situações de preconceito com a classe de aceleração dentro do ambiente escolar,
uma aluna informou que:
A gente não sente preconceito aqui por estar atrasado, tipo, eles tem
vontade de saber como é que é que a gente faz, as coisas e tal, mas tudo
normal. Às vezes tem umas brincadeiras, eles falam que somos crianças,
que é sala de criança. Mas é que a gente faz muitas coisas e cartazes e tem
um professor só, aí eles falam, mas não é preconceito, eu acho mais inveja
(risos) (Aluna C - Entrevista concedida em 19/09/2016)
24
A escola (direção, professores, colegas...) o acolhe
de forma igualitária se comparado a um aluno de
uma turma regular?
38% 36%
26%
14%
19%
29%
38%
25
Apenas 14% dos alunos informaram que o apoio familiar é “ótimo” e apenas
29% concluíram como “Bom”. Se somados os dados da pesquisa, cerca de 57% dos
alunos declararam que o apoio em seu ambiente familiar é razoável ou ruim. De fato,
todos estes aspectos influenciam diretamente na aprendizagem dos estudantes e
em relação as turmas de correção de distorções os mesmos aspectos tornam-se
ainda mais importantes.
Durante a pesquisa, quando questionados se o Sistema Educacional
compreendia claramente as razões que podem causar o abandono ou evasão
escolar, os professores informaram que compreendiam, enquanto o diretor, o
coordenador do projeto na Superintendência Regional de Ensino e o Supervisor do
projeto na escola informaram que compreendiam parcialmente estas razões,
demonstrando que, ainda são necessários esforços da comunidade escolar, como
um todo, como forma de melhor resolução dos problemas.
Estas dificuldades do meio social puderam ser facilmente percebidas na
leitura de alguns dos memoriais de alunos do projeto Elevação de Escolaridade, em
um deles lê-se:
Em casa estou passando muita raiva e tento ficar “queta” na minha “mais”
sempre aparece alguma coisa pra me atrapalhar. Além disso eu tento fazer
a coisa certa e meu irmão fala que eu sou uma mãe desnaturada. Minha
mãe não ia entender mesmo, porque ela não gosta de mim, porque se ela
gostasse ia tentar me entender. (Aluna H - Memorial)
26
A comunidade tem uma grande parte com renda baixa, pessoas em
situação desfavorável socialmente. A região não é tão pobre, mas o público
é carente ou com famílias desestruturadas que até já passaram por
situações fortes de violência. Acho que o que mais atrapalha é ainda a falta
de interesse, por eles verem que lá fora é mais divertido ou se consegue as
coisas sem estudo. Outro problema é também a falta de recursos de
qualidade na escola, nem sempre tem tudo que eles querem. Mas acredito
que os problemas familiares e a falta de recursos financeiros também
atrapalham.
11.9
28.57
4.7
54.76
27
Neste aspecto, buscou-se compreender outro enfoque deste trabalho, a
importância de programas de transferência de renda como o Bolsa Família nos
contextos educacionais. Atendendo mais de 13 milhões de famílias e sendo o maior
programa de transferência de renda condicionada do mundo (FELICETTI;
TREVISOL, 2002.) O mesmo relaciona-se diretamente com questões primordiais do
sistema educacional, sabe-se que:
O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa federal de transferência de
renda condicionada instituído pela Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004,
regulamentado pelo Decreto nº 5.209, 17 de setembro de 2004. Essa
legislação prevê condicionalidades, ou seja, a família, ao tornar-se
beneficiária do Programa, e o poder público, assumem compromissos nas
áreas de saúde e de educação. Esse Decreto, em seu Artigo 11, estabelece
que “a execução e gestão do Programa Bolsa Família dar-se-á de forma
descentralizada, por meio da conjugação de esforços entre os entes
federados, observada a intersetorialidade, a participação comunitária e o
controle social”. (BRASIL, 2013, p.1)
4. Considerações Finais
Em detrimento da pesquisa pode-se compreender, por meio de um estudo de
caso, como projetos de aceleração da aprendizagem podem afetar o fluxo direto de
permanência de alunos nas escolas públicas. Contudo, é necessário que se perceba
a estrita relação existente entre estes projetos e diversas outras características.
Impossível desconsiderar os constantes desafios dentro do ambiente escolar,
os empecilhos externos e os problemas sociais de uma comunidade ao nos
preocuparmos com a efetiva disponibilidade dos serviços e de uma educação de
qualidade a todos. De fato, o público mais vulnerável precisa ser atendido levando-
29
se em consideração uma extensa gama de situações que vão desde as dificuldades
de autoestima a questões econômicas e sociais.
Projetos como o “Acelerar para Vencer” parecem ter pecado no município do
Vale do Jequitinhonha quando se preocuparam em corrigir o fluxo escolar de forma,
muitas vezes, pouco efetiva, sem que os estudantes compreendessem a real
importância da educação, dos conteúdos e de si próprios como cidadãos em
formação.
Contudo, ainda que esteja no primeiro ano de instauração, o projeto Elevação
de Escolaridade – Metodologia Telessala Minas Gerais, muito em detrimento da
nova metodologia, da constante relação com outros programas como o Bolsa
Família, e através das opiniões dos alunos, coordenação e docentes, pareceu-nos
constituir-se em nova esperança para que algumas lacunas relacionadas ao fluxo
escolar sejam sanadas, elevando a autoestima dos participantes. Uma aluna
entrevistada demonstra este aspecto quando expressa em seu memorial:
Meu sonho hoje em dia é terminar meus estudos, me formar, fazer uma
faculdade, ter uma profissão e com essa profissão poder dar tudo que eu
mais sonho na minha vida...que é ter uma casa, minhas coisas, comprar
tudo de bom e do melhor para o meu filho. (Aluna L – Memorial)
30
Assim sendo, a permanência das crianças e jovens no ambiente escolar é um
passo importantíssimo para que as situações de vulnerabilidade social que
encontramos no país sejam minimizadas e os esforços para que a escola se torne
atrativa e igualitária jamais podem ser colocados em segundo plano, devendo
também ser trabalhadas envoltas na realidade social da comunidade escolar,
principalmente para alunos que já abandonaram a escola devido a problemas
externos.
5. REFERÊNCIAS
FAHEL, Murilo Cássio Xavier; MORAIS, Thais; FRANÇA, Bruno Cabral. O Impacto
do Bolsa Família na Inclusão Educacional: análise da matrícula escolar em
Minas Gerais. In: I Circuito de Debates Acadêmicos – IPEA. Brasília: 2012.
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FELICETTI, Adriana Aparecida; TREVISOL, Joviles Vitório. Bolsa Família e
desempenho escolar: avaliação de uma política pública de inclusão
socioeducacional. In:SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO
SUL. 2012.
NERI, Marcelo Cortês. Motivos da Evasão Escolar. Fundação Getúlio Vargas. Rio
de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2009.
SOUZA, João Valdir Alves de. Fontes para uma reflexão sobre a história do Vale
do Jequitinhonha. UNIMONTES CIENTÍFICA. Montes Claros, v.5, n.2, jul./dez.
2003.
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