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CENTRO UNIVERSITÁRIO SANTA MARIA

BACHARELADO EM PSICOLOGIA

ALESSANDRA DE SOUZA ABREU, ANA SOIANY DE OLIVEIRA SILVA, DÉBORA


ABRANTES DE OLIVEIRA, JONAS MATEUS DA SILVA OLIVEIRA, MARIA
JAMYLLE DAS CHAGAS AGUIAR, RICARDO FRANCISCO SARMENTO DOS
SANTOS.

RESUMO SOBRE O SÉTIMO CAPÍTULO DO LIVRO “POLÍTICAS E CUIDADO


EM SAÚDE MENTAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL”

Cajazeiras-PB
2024
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL: HABITAÇÃO, TRABALHO E LAZER
O capítulo 7 do livro “Políticas e Cuidado em Saúde Mental” aborda o tema da
Reabilitação Psicossocial, focando em aspectos como habitação, trabalho e lazer. Este
capítulo é parte de uma obra que discute a transição do cuidado em saúde mental do ambiente
hospitalar para serviços de abordagem comunitária, um movimento que começou na década
de 1980 e trouxe avanços significativos, bem como desafios. O livro destaca a importância de
profissionais de saúde mental estarem preparados para oferecer um cuidado diferenciado,
especialmente os trabalhadores de nível médio, que têm um papel crucial na conexão entre o
serviço, o paciente, sua família e a comunidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(2001), a eficácia da abordagem comunitária envolve uma combinação equilibrada de três
ingredientes fundamentais: farmacoterapia, psicoterapia e reabilitação psicossocial.

Este capítulo explora a Reabilitação Psicossocial como um elemento essencial na


recuperação de pessoas com transtornos mentais. A reabilitação não se limita apenas ao
tratamento clínico, mas também inclui a integração social e a melhoria da qualidade de vida
dos indivíduos. O foco está em três áreas principais: habitação, onde discute-se a importância
de um ambiente de moradia adequado que ofereça segurança e estabilidade, contribuindo
para o bem-estar e a autonomia dos usuários; trabalho, que aborda a relevância do trabalho
como meio de inclusão social e recuperação de identidade, além de ser uma fonte de renda e
propósito de vida e lazer, que enfatiza a necessidade de atividades de lazer que promovam a
interação social, o prazer e a expressão pessoal, fundamentais para a saúde mental.

DISPOSITIVOS RESIDENCIAIS PARA PESSOAS COM TRANSTORNOS


MENTAIS

Nos primórdios da reforma psiquiátrica, a habitação dos pacientes com transtornos


mentais foi negligenciada, por considerarem que essa se tratava de uma tarefa da assistência
social e não assistência clínica. Entretanto, logo se tornou evidente que o fechamento dos
leitos psiquiátricos sem a implantação dos serviços assistenciais comunitários e o efetivo
suporte social geraria abandono e desassistência, tendo em vista as dificuldades que os
indivíduos tinham para se manterem de maneira autônoma na sociedade. Assim, conforme o
processo de desinstitucionalização foi acontecendo, as estruturas residenciais se mostraram
um elemento fundamental.
Os dispositivos residenciais são utilizados em situações prolongadas, onde o paciente
frequentemente ocorre a perda das relações familiares e sociais. Além disso, caso um
paciente hospitalizado em setores para casos agudos esteja prestes a se tornar um paciente de
longa permanência, também pode ser indicado para a utilização dos dispositivos residenciais.
Não há uma tipologia reconhecida internacionalmente que possa classificar os dispositivos
residenciais. A premissa básica é de que há necessidade de se integrar à moradia suporte
clínico e social adequado, equilibrando-se estratégias entre o acesso a moradias comuns,
como a de pessoas no geral, com um sistema de apoio flexível e contínuo.

Encontram-se variações relativamente comuns associadas à presença de equipe no


dispositivo. Um exemplo foram as estruturas implantadas para alocação dos pacientes que
saíram de dois hospitais, Friern e Claybury, na década de 1980. Foram implantados
dispositivos relativamente pequenos, ajustados em um gradiente de necessidades de suporte,
com cobertura de equipe nas 24 horas do dia, até um baixo nível de suporte, muitas vezes
com a presença de equipe apenas na solicitação dos usuários. Com isso, foi observado que os
pacientes tendem a reagir favoravelmente aos dispositivos menores. Para a alocação dos
pacientes, é preciso levar em consideração alguns detalhes, como as peculiaridades de cada
paciente na escolha da localização das moradias, se a alocação deve ser feita de maneira
temporária ou permanente e, por fim, que muitas vezes os pacientes que se já se encontram
no hospital psiquiátricos há algum tempo não manifestam um desejo claro de residir fora da
instituição. Assim, é necessário um cuidadoso trabalho clínico de alta.

DISPOSITIVOS RESIDENCIAIS NO BRASIL

O governo brasileiro tentou ajudar esses pacientes por meio de dois programas, O
Serviço residencial terapêutico é o Programa de volta para casa. Serviço Residencial
Terapêutico foi a denominação dada a esse dispositivo pelo âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS). O formato organizacional das residências terapêuticas foi definido por meio da
portaria n. 106 em fevereiro dos anos 2000 (Brasil, 2000). Residências terapêuticas são
moradias destinadas a portadores de transtornos mentais egressos de internações psiquiátricas
de longa permanência que não tenham suporte social ou laços familiares que viabilizem sua
inserção social. O número limite por dispositivo é de oito pacientes, com, no máximo, três
por dormitório. A moradia deve dispor de sala de estar, móveis adequados e oferecer um
mínimo de três refeições diárias
O programa "De volta para casa" foi implantado pelo governo federal no dia 31 de
julho de 2003 por meio da lei n. 10.708/2003. Seu eixo principal é a concessão de um
benefício chamado auxílio-reabilitação psicossocial concedidos pacientes acometidos de
transtornos mentais e egressos de internações (Brasil, 2003). Os beneficiários do auxílio
precisam ter estado por, pelo menos, dois anos em hospitais psiquiátricos. O valor mensal
(R$ 320,00 em outubro de 2012) era pago diretamente aos beneficiários, se os pacientes
fossem incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, o benefício era pago ao
representante legal do paciente. Ao final de 2011, 3.961 pessoas estavam recebendo o
auxílio-reabilitação (Brasil, 2012).

Hoje em dia para potencializar a reinserção social de pacientes com transtornos


mentais o Programa de Volta para Casa dispõe de auxílio-reabilitação psicossocial, com valor
atual de R$ 500. Ao longo dos últimos 20 anos, mais de 8 mil pessoas foram atendidas.
(Gov.br, 2023). Os dois programas — De volta para casa e SRT — começaram a apresentar
problemas em relação à expansão de sua cobertura. Em 2011, o ministério da saúde estimava
que existissem cerca de 11 mil pacientes de longa permanência nos hospitais psiquiátricos do
sus, que poderiam se beneficiar da ampliação desses programas. Além disso, deveriam incluir
nos grupos de possíveis beneficiários como pacientes com transtornos graves atendidos em
centros de atenção psicossocial (CAPS) e outros dispositivos assistenciais, egressos de
hospitais de custódia e moradores de rua com transtornos mentais e outro grupo o da
população idosa com quadros demenciais.

A observação do perfil de pacientes de longa permanência ainda nos hospitais


psiquiátricos indica a necessidade de implantação de modelos de atenção psicossocial
intensivos para tornar possível sua migração do ambiente hospitalar. Assim, o
aprofundamento do processo de desinstitucionalização leva a novos desafios mais complexos
relativos aos pacientes de maior necessidade de cuidado. Em dezembro de 2011, com o
objetivo de aumentar o alcance do programa do SRTS, o ministério da saúde estabeleceu uma
nova modalidade, com recursos financeiros de incentivo e custeio definidos, dirigida para
pessoas em situação de institucionalização, permitindo um desenho institucional com
presença de equipe durante as 24 horas diárias (BRASIL, 2011).

TRABALHO E GERAÇÃO DE RENDA


Trabalho é geralmente uma parte essencial da vida. Ao mesmo tempo que serve como
uma fonte de renumeração, ajuda a organizar o nosso dia a dia, ou seja, existe planejamentos
para que possamos exercer cada função do nosso cotidiano, fazendo com que temos a
possibilidade de interação e valorização social. Pessoas que tem transtornos mentais severos
enfrentam dificuldades no mercado de trabalho. Apesar do desejo da maioria desses
indivíduos de trabalhar, as taxas de desemprego entre eles são significativamente altas em
todo o mundo, superando as de outros grupos descriminados no ambiente profissional. Essas
dificuldades incluem fatores ligados às características individuais dos portadores de
transtornos mentais, que podem afetar suas habilidades em certas ocupações, além de estigma
social associado aos transtornos mentais, que atua como uma barreira para a inclusão e
permanência no emprego.

O combate ao estigma é essencial para facilitar a participação desses indivíduos no


mercado de trabalho, exigindo abordagens específicas de intervenção. O mundo do trabalho
tem passado por mudanças significativas nas últimas décadas, com uma redução na ênfase em
atividades manuais devido à crescente presença da alta tecnologia e setores de serviços. Isso
tem levado a uma maior importância das competências e a uma diminuição de flexibilidade
nos ambientes profissionais. Além disso, muitos segmentos da sociedade em vários países
enfrentam desafios como desemprego ou trabalho informal, intensificando a competição e
tornando mais difícil a situação para pessoas com desvantagens.

A relação entre trabalho e pessoas com transtornos mentais severos continua sendo
um desafio significativo. Experiências internacionais mostram que pacientes com transtornos
severos são frequentemente excluídos de programas vocacionais, e aqueles disponíveis
muitas vezes não são eficazes. Quando se considera a duração do emprego e a satisfação no
trabalho, os resultados geralmente são desanimadores. Em contraposição a essa face negativa
da questão, existem diversos modelos de cooperativas em todo o mundo que incluem pessoas
com transtornos mentais, tendo como exemplo de sucesso mais conhecido, a Itália. As
cooperativas sociais italianas operam de forma independente, mas mantém uma relação
próxima com os serviços de saúde mental.

Elas compartilham a filosofia de proporcionar oportunidades de emprego em um


ambiente protegido para pessoas com alguma forma de incapacidade. Na Itália, existem dois
tipos principais de cooperativas sociais definidos por lei: as do tipo A, relacionadas com
atividades de saúde e assistência social, e as do tipo B, que visam promover oportunidades de
trabalho para pessoas em desvantagem. Ambos os tipos de cooperativa são obrigados por lei
a empregar pelo menos 30% de pessoas com algum tipo de vulnerabilidade para poderem
receber benefícios financeiros do governo.

SITUAÇÃO ATUAL DAS POLÍTICAS DE GERAÇÃO DE RENDA DIRECIONADAS


A USUÁRIOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL

No Brasil, na década de 1990, no bojo do processo de reforma psiquiátrica,


começaram a se intensificar as experiências que visavam a permitir o acesso a formas de
trabalho, em uma estratégia global de inclusão social e fortalecimento da cidadania. As
experiências desenvolvidas nesse período visavam a criar oportunidades de trabalho
adaptadas às necessidades e habilidades das pessoas com transtornos mentais. Isso poderia
incluir desde programas de capacitação profissional até a criação de empregos protegidos ou
apoiados, em que o ambiente de trabalho é adaptado para promover a inclusão, por exemplo,
treinamento e busca por postos de trabalho usuais, mediação com empresários da iniciativa
privada ou indução de formação de cooperativas.

A lei das Cooperativas Sociais brasileira foi promulgada em 11 de novembro de 1999


(Brasil, 1999) e é fortemente inspirada na legislação similar italiana, que ampara o modelo de
cooperativas. Esses programas têm como objetivo aumentar a produtividade dos
participantes, oferecendo capacitação em habilidades específicas relacionadas ao trabalho
desenvolvido pela cooperativa. Isso inclui treinamento técnico, administrativo e gerencial, de
acordo com as necessidades e características do empreendimento cooperativo. Desde 2004, o
Ministério da Saúde instituiu parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, no
âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, criando a Rede Brasileira de Saúde Mental e
Economia Solidária, para potencializar e ampliar as iniciativas de geração de trabalho e renda
de usuários da rede de saúde mental que atuam nos moldes do cooperativismo social e na
perspectiva da economia solidária (Brasil, 2005).

A IMPORTÂNCIA DO LAZER

Muitas pessoas por razões diversas possuem pouco lazer, e pessoas com transtornos
severos se encontram nessa condição. Elas acabam por possuir muito tempo livre, de forma
involuntária, isso está associado ao pouco convívio social que é resultado dos estigmas que os
cercam. Para fornecer essa modalidade se pode ter atividades e dispositivos, não precisam
estar ligados a nenhum serviço, mas é bom que tenha agentes que compreendam e gerem
qualidade de vida social para os indivíduos, é bom também que não se limite apenas aos
portadores de transtornos, mas que se unam diversos grupos.

Para prover essa modalidade, pode haver vários tipos de instituições, e com isso
vários tipos de pessoas cuidando da atenção psicossocial, como: músicos, monitores, artistas
e outros. O ministério da Saúde não focalizou um lugar responsável que cuidasse da atenção
psicossocial, no entanto definiu os centros de convivência da atenção básica do SUS como os
espaços de sociabilidade e produção cultural para todo tipo de pessoa, adoecida ou não
mentalmente.
REFERÊNCIAS

AURÉLIO, M.; CECILIA, M.; FAGUNDES, R. Políticas e cuidado em saúde mental:


contribuições para a prática profissional. Editora FIOCRUZ, 2014

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