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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DE BARRA DO PIRAÍ

Processo nº :

JULIO CESAR DE ARAUJO SILVA ARÊDES, já devidamente qualificado nos autos


do processo em epígrafe, através de seu procurador que a esta subscreve, vem
respeitosamente à presença de V. Exa., nos termos do art. 396-A, do Código de
Processo Penal, tempestivamente, apresentar CONTESTAÇÃO, consoante passa a
expor:

I. Dos Fatos

Segundo queixa-crime apresentada pela querelante em 5/4/2024, narra os autos que o


querelado supostamente praticara, entre os dias 20/03/2023 e 21/03/2024, conduta
descrita no art. 139 caput c/c 141 §2º, ambos do CP; atuando com animus difamandi
ao veicular, em grupo do aplicativo de comunicação social: “Whatsapp”, declaração
cuja autoria atribuiu-se ao presidente nacional do partido Cidadania - Comte
Bittencourt – na qual este expunha seu sentimento de traição em face do desligamento
da querelante de seu partido.

II. Do mérito

1. Da ausência de dolo específico e consequente atipicidade da conduta.

Cumpre esclarecer que o querelado, ao disseminar a mensagem motivadora da


presente lide, atuava tão somente com o fito de repassar informação a qual acreditava
ser de interesse geral dos integrantes do grupo, não havendo qualquer intenção de
atingir a honra ou status social da querelante, por se tratar declaração de suposta
autoria do presidente nacional do Partido anteriormente integrado pela querelante,
cujo desligamento, conforme o próprio manifestou, fora surpreendente.
As capturas de tela acostadas à peça originária demonstram a ausência de dolo
específico na conduta, visto que em sucessão a publicação da mensagem não foi
proferido, pelo querelado, qualquer juízo de valor acerca do pronunciamento atribuído
ao Sr. Comte Bittencourt, ou a saída da querelante do Partido Cidadania.
A declaração foi recebida por meio de fonte considerada confiável pelo querelado, no
exercício de seu ofício jornalístico; destaca-se que o art. 5º, XIV da Carta Magna
assegura ao querelante a prerrogativa do sigilo da fonte.
É inteligível, portanto, a ausência de animus difamandi na conduta do querelado, e
consequentemente a atipicidade desta, devendo ser sumariamente absolvido nos
termos do art. 397, III, CPP.

2. Da inconsistência probatória das capturas de tela.

Lastreia-se a tese acusatória nas capturas de tela da conversa em grupo ocorrida no


aplicativo eletrônico de comunicação “Whatsapp” entre 20/03/2024 e 21/03/2024;
ocorre que tal plataforma eletrônica permite, em seu âmbito, ferramentas capazes de
alterar a verdade dos fatos, como a edição de mensagens mesmo após enviadas pelo
autor, ou sua exclusão, sem qualquer rastro deixado.
Neste diapasão manifestou-se a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça em sede do
AgRg no RHC: 133430 PE 2020/021:
Esta Sexta Turma entende que é inválida a prova obtida pelo WhatsApp Web, pois "é possível, com
total liberdade, o envio de novas mensagens e a exclusão de mensagens antigas (registradas antes do
emparelhamento) ou recentes (registradas após), tenham elas sido enviadas pelo usuário, tenham elas
sido recebidas de algum contato. Eventual exclusão de mensagem enviada (na opção "Apagar somente
para Mim") ou de mensagem recebida (em qualquer caso) não deixa absolutamente nenhum vestígio,
seja no aplicativo, seja no computador emparelhado, e, por conseguinte, não pode jamais ser recuperada
para efeitos de prova em processo penal, tendo em vista que a própria empresa disponibilizadora do
serviço, em razão da tecnologia de encriptação ponta a ponta, não armazena em nenhum servidor o
conteúdo das conversas dos usuários" (RHC 99.735/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA
TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 12/12/2018). 4. Agravo regimental parcialmente provido, para
declarar nulas as mensagens obtidas por meio do print screen da tela da ferramenta WhatsApp Web,
determinando-se o desentranhamento delas dos autos, mantendo-se as demais provas produzidas após as
diligências prévias da polícia realizadas em razão da notícia anônima dos crimes." (STJ - AgRg no RHC:
133430 PE 2020/0217582-8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 23/02/2021, T6
- SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/02/2021).

Considerando que os prints apresentados estão desacompanhados de ata notarial


comprovando sua veracidade, é mister observar a inconsistência da prova apresentada
pela querelante. Portanto requer-se seja absolvido o querelante com base no art. 386,
VII, CPP, em vista da flagrante ausência de provas para a condenação.

PEDIDO

Ante o exposto, requer Vossa Excelência digne-se de:

1- Absolver sumariamente o querelado, nos termos do art. 397, III, CPP ante a
cristalina atipicidade da conduta.
2- Na improvável chance de prosperidade da presente ação penal, seja, ao final,
absolvido das acusações, com base no art. 386, VII, CPP, ante a manifesta
ausência de provas para a condenação.

3- A condenação da querelante ao pagamento de honorários e custas processuais

Termos em que pede deferimento.

Cidade e Data

Advogado

OAB n.º

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