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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
8ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI
Apelação Cível. Responsabilidade civil. Ação de reparação de danos morais c/c obrigação
de fazer. Parecer de Promotor de Justiça pelo arquivamento de inquérito policial militar.
Veiculação de notícia com cunho ofensivo em site e perfil pessoal em rede social.
Reconhecimento de conduta ilícita pelo conteúdo publicado no site de notícias. Intuito
difamatório. Utilização de expressões desnecessárias para a informação. Dever de
indenizar configurado. Majoração da condenação do jornalista devida. Obrigação de
fazer. Necessidade de retirada do ar da publicação. Veiculação da decisão judicial
condenatória no mesmo meio de comunicação. Direito de resposta. Redistribuição do
ônus sucumbencial.
Recurso provido.
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comunicação, tem-se que se trata da forma de a vítima exercer o seu direito de
resposta, objetivando a retratação de seu nome perante a sociedade, conforme
regulamenta a Lei n. 13.188/2015.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 0010561-09.2016.8.16.0194 da 24ª Vara Cível
do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é apelante MISAEL DUARTE
PIMENTA NETO e apelados SANTOS & FERRER COMUNICAÇÃO LTDA e VALDIR JOSÉ ALVES DA CRUZ.
I – RELATÓRIO
Misael Duarte Pimenta Neto ajuizou “ação de reparação de danos morais c/c obrigação de fazer”, sob o n.
0010561-09.2016.8.16.0194, em face de Santos & Ferrer Comunicação Ltda. e Valdir José Alves da Cruz,
objetivando a retirada do ar de publicação ofensiva do site “Notícias Paraná” e “Facebook”, além da
condenação da parte ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor mínimo de R$ 30.000,00
(trinta mil reais) e a divulgação da sentença condenatória deste processo nos mesmos veículos em que foram
propaladas as ofensas narradas.
Em sentença (mov. 113.1), o MM. Juiz julgou parcialmente procedente a demanda, para o fim de condenar
somente a parte ré Valdir José Alves da Cruz ao pagamento de indenização por danos morais, na importância
de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), confirmando a liminar que determinou a retirada do ar da publicação com
conteúdo ofensivo da rede social “Facebook”.
Considerando a sucumbência, condenou o requerido Valdir José Alves da Cruz ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios ao patrono da parte autora, fixados na importância de 15% (quinze por
cento) sobre o valor da condenação, e a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono do
requerido Santos & Ferrer Comunicação Ltda, fixados na importância de 10% (dez por cento) sobre o valor da
causa.
Inconformada, a parte autora interpôs recurso de apelação (mov. 150.1), pleiteando a reforma da sentença
para julgar totalmente procedente a demanda, sustentando, em síntese, que:
a) a parte ré Santos & Ferrer Comunicação Ltda. deve ser condenada ao pagamento de indenização por danos
morais, considerando que extrapolou os limites do direito de livre manifestação, agindo com dolo de ofender,
injuriar e difamar;
b) deve ser majorado o valor indenizatório da condenação do réu Valdir José Alves da Cruz, ante o
reconhecimento de mais uma forma de agressão verbal, mediante veiculação no site “Notícias Paraná”;
c) deve ser determinada a remoção do conteúdo ofensivo do site “Notícias Paraná” e a divulgação da decisão
condenatória deste processo nos mesmos veículos onde foram divulgadas as ofensas e pelo mesmo tempo de
permanência de suas veiculações.
PROJUDI - Recurso: 0010561-09.2016.8.16.0194 - Ref. mov. 20.1 - Assinado digitalmente por Helio Henrique Lopes Fernandes Lima:08850968949
25/03/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima - 8ª Câmara Cível)
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Somente o réu Santos & Ferrer Comunicação Ltda apresentou contrarrazões (mov. 161.1), vindo os autos a esta
Corte na sequência.
É o relatório.
Trata-se de “ação de reparação de danos morais c/c obrigação de fazer ”, em trâmite sob o n.
0010561-09.2016.8.16.0194 perante a 24ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba, ajuizada por Misael Duarte Pimenta Neto em face de Santos & Ferrer Comunicação Ltda. e Valdir
José Alves da Cruz.
Aduz a parte autora que exerce o cargo de Promotor de Justiça junto à Justiça Militar do Paraná e que era
responsável por exarar parecer ministerial no inquérito policial militar instaurado para apuração de eventuais
irregularidades na atuação dos policiais militares envolvidos no evento notório ocorrido em 29/04/2015, em
Curitiba, conhecido como “Batalha do Cento Cívico”.
Afirma que, por inexistir a comprovação de qualquer prática irregular por parte dos agentes públicos, seu
parecer foi no sentido de arquivamento do inquérito policial militar.
Em virtude do referido parecer ministerial, a parte ré publicou no site “Notícias Paraná” e na rede social
“Facebook” conteúdo ofensivo à sua honra e dignidade, extrapolando o direito de liberdade de expressão e de
informação.
Por esta razão, pleiteia a determinação de retirada do ar de publicação ofensiva do site “Notícias Paraná” e
“Facebook”, além da condenação da parte ré ao pagamento de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de
indenização por danos morais e a divulgação da sentença condenatória deste processo nos mesmos veículos
em que foram propaladas as ofensas narradas.
Em sentença (mov. 113.1), o MM. Juiz julgou parcialmente procedente a demanda, para o fim de condenar
somente o requerido Valdir José Alves da Cruz ao pagamento de indenização por danos morais, na
importância de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) e determinar a retirada do ar da publicação com conteúdo
ofensivo da rede social “Facebook”, considerando que não existiu qualquer ilicitude na conduta da parte ré
Santos & Ferrer Comunicação Ltda.
Inconformada com a decisão lançada em primeiro grau, apela a parte autora com o intuito de vê-la reformada,
mediante as razões que passo analisar.
Aduz a parte autora em seu apelo que a parte ré Santos & Ferrer Comunicação Ltda deve ser condenada ao
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pagamento de indenização por danos morais, por ter agido com dolo de ofender, injuriar e difamar a parte
autora, extrapolando, assim, os limites do direito de livre manifestação.
Inicialmente, faz-se necessário verificar, portanto, se a conduta adotada pela ré Santos & Ferrer Comunicação
Ltda. pode ser considerada como ilícita.
Da análise da notícia publicada no site “Notícias Paraná” (mov. 1.3, constata-se o título “Impunidade no
Paraná tem nome: Misael Duarte Pimenta Neto”, seguida de uma foto do noticiado. Sobre essa conduta, não
há que se falar em ilicitude, eis que, apesar da utilização de título sensacionalista, não se verifica qualquer
ofensa ao direito da personalidade da parte autora.
Não se pode concluir da mesma forma, contudo, quanto ao conteúdo da referida notícia. Confira-se alguns
trechos da reportagem:
Verifica-se que o jornalista Valdir José Alves da Cruz, em manifestação no referido meio de comunicação, não
apenas informou a população sobre os fatos, mas também proferiu opinião no sentido de desprezar e
desrespeitar o autor, tanto sobre o seu caráter quanto sobre a sua competência profissional.
Leciona Rui Stocco que a liberdade de imprensa não pode se sobrepor ao direito à honra e imagem da pessoa,
ambos considerados bens jurídicos constitucionalmente assegurados:
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pertinência fática, ou seja, a notícia inexistente no plano fenomênico, como a notícia
verdadeira, mas, travestida, desvirtuada ou divulg ada com excesso e abuso." (Tratado
de Responsabilidade Civil. 6ªed, SP: Ed. RT, 2004, p. 1763).
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APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - VEICULAÇÃO
DE MATÉRIA NOTICIANDO A PRISÃO EM FLAGRANTE DO AUTOR, ACUSADO DE
TENTATIVA DE ESTUPRO, POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO E ROUBO -
NOTÍCIA QUE SE ATÉM À SIMPLES NARRATIVA DA DESCRIÇÃO DO BOLETIM DE
Verifica-se, portanto, que a conduta do jornalista no site “Notícias Paraná”, de responsabilidade da ré Santos
& Ferrer Comunicação Ltda., ultrapassou o caráter informativo e utilizou palavras aptas a ofender os direitos
de personalidade da parte autora, caracterizando a sua ilicitude.
Portanto, configurado o ato ilícito, resta analisar a existência do nexo de causalidade, como pressuposto para
caracterizar a responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar. Isso porque a doutrina leciona que:
No caso em tela, verifica-se que a parte autora só passou por um constrangimento e humilhação em
decorrência da prática de ato ilícito pela parte ré, consubstanciado na violação dos direitos da personalidade e
concretizado na divulgação de notícia com juízo de opinião do jornalista, com o intuito de ofendê-lo.
Por fim, quanto ao dano, leciona a doutrina sobre as hipóteses em que se configura a responsabilidade civil
pela produção de danos extrapatrimoniais:
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cotidiana’. EM outras palavras: percalços normais da vida das pessoas não se
confiram como dano injusto, de forma que não ocorre a responsabilidade civil”
(ALTHEIM, Roberto. Direito de Danos – Pressupostos contemporâneos do dever de
indenizar. Editora Juruá, 2012, p. 126).
No caso em análise, verifica-se que o dano moral é in re ipsa, ou seja, é presumível pelas próprias
circunstâncias, em decorrência da conduta ilícita da parte ré.
Das palavras exaradas pelo jornalista no referido meio de comunicação, é possível concluir que a parte autora
foi ofendida em sua esfera moral, considerando que a sua imagem, perante a sociedade, ficou marcada como
um profissional desqualificado, que coaduna com a violência policial e é a favor da criminalidade.
Portanto, restando demonstrado o dever de indenizar, já que todos os pressupostos da responsabilidade civil
foram preenchidos, impende analisar o quantum indenizatório.
Pleiteia o apelante a condenação de ambos os integrantes do polo passivo da demanda ao pagamento de, no
mínimo, R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
Diante da inegável dificuldade em arbitrar o valor para indenizações por dano moral e também da ausência de
critérios legais objetivos, a doutrina tem lançado mão de certos parâmetros.
Devem ser considerados: as circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade econômica do
ofensor e do ofendido.
A indenização deve ser suficiente para compensar a vítima pelo dano sofrido e, ao mesmo tempo, sancionar o
causador do prejuízo de modo a evitar futuros desvios.
Além disso, a indenização por dano moral não pode constituir fonte de enriquecimento, cabendo ao Judiciário
coibir possíveis abusos.
No caso em análise, é possível considerar como um valor justo de reparação o montante de R$ 20.000,00
(vinte mil reais) pela notícia publicada no site “Notícias Paraná”, a ser arcado somente pela parte ré Santos &
Ferrer Comunicação Ltda.
A quantia deve ser atualizada monetariamente pelo IPCA-E a partir da data do arbitramento (Súmula 362 do
STJ) e acrescidos de juros de mora em 1% (um por cento) ao mês a contar do evento danoso (Súmula 54 do
STJ).
Ainda, pleiteia a parte autora em seu apelo pela majoração do quantum indenizatório fixado em primeiro grau
para o réu Valdir José Alves da Cruz, ante o reconhecimento de ser ilícita também a sua publicação no site
“Notícias Paraná”.
PROJUDI - Recurso: 0010561-09.2016.8.16.0194 - Ref. mov. 20.1 - Assinado digitalmente por Helio Henrique Lopes Fernandes Lima:08850968949
25/03/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima - 8ª Câmara Cível)
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Assiste razão a parte autora, neste ponto.
Isso porque o MM. Magistrado condenou a parte ré Valdir José Alves da Cruz ao pagamento de R$ 15.000,00
(quinze mil reais) a título de ressarcimento pelos danos morais sofridos somente em decorrência de
Como consequência do reconhecimento de ser também ilícita a publicação no site “Notícias Paraná”, conforme
explanado em item anterior desta decisão, faz-se necessário majorar o quantum indenizatório devido por esta
parte, já que é também responsável, juntamente com o meio de comunicação, pelo conteúdo ofensivo
veiculado, eis que de sua autoria.
Assim, majoro em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) o quantum indenizatório devido pelo réu Valdir José Alves
da Cruz, o qual, somado à importância de R$15.000,00 (quinze mil reais) já fixada em primeiro grau, totaliza
no montante da condenação para esta parte em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em virtude da publicação
exarada em seu perfil pessoal do “Facebook” e da notícia veiculada no site “Notícias Paraná”.
A quantia deve ser atualizada monetariamente pelo IPCA-E a partir da data do arbitramento (Súmula 362 do
STJ) e acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a contar do evento danoso (Súmula 54 do
STJ).
Por fim, a parte autora pleiteia a retirada do ar da publicação ofensiva do site “Notícias Paraná” e a veiculação
desta decisão judicial no mesmo veículo de comunicação.
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Quanto à publicação da decisão final desta demanda no mesmo meio de comunicação, considera-se como uma
forma de a vítima exercer o seu direito de resposta, objetivando a retratação de seu nome perante a sociedade,
conforme regulamenta a Lei n. 13.188/2015, sobretudo no seu art. 2º, que assim dispõe:
Contudo, tem-se que é possível a publicação deste decisum somente no site ”Notícias Paraná”, já que a mesma
legislação que rege o direito de resposta exclui expressamente do rol de “matéria” os comentários realizados
por usuários da internet nas páginas eletrônicas, conforme se extrai do art. 2º, §2º.
2- O argumento da empresa-ré de que não agiu com dolo ou culpa, banalizando sua
conduta pelo simples "animus narrandi" das informações que lhe foram repassadas,
não justifica a publicação de notícias de cunho estritamente sensacionalista sobre a
preferência sexual da requerente, vez que tal ato esbarra no inviolável direito à
intimidade.
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6- Recursos de apelação da autora provido e apelo da parte ré parcialmente provido
para: (a) determinar que a empresa-ré promova a devida retratação, nos exatos
termos da fundamentação; (b) reduzir o quantum estipulado à guisa de danos morais
para R$ 30.000,00 (trinta mil reais), acrescidos de correção monetária a partir da
data deste decisum e juros de mora desde a data do evento danoso.
(TJPR - 9ª C.Cível - AC - 424228-8 - Londrina - Rel.: Tufi Maron Filho - Por maioria -
J. 11.03.2008. Destacou-se)
Por tais razões, reformo a sentença para o fim de condenar o requerido Santos & Ferrer Comunicação Ltda. a
publicar a decisão que julgou procedente a demanda ajuizada pela parte autora no próprio site onde foi
publicada a notícia ofensiva, mantendo no ar por tempo equivalente.
PROJUDI - Recurso: 0010561-09.2016.8.16.0194 - Ref. mov. 20.1 - Assinado digitalmente por Helio Henrique Lopes Fernandes Lima:08850968949
25/03/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima - 8ª Câmara Cível)
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Da redistribuição do ônus sucumbencial
Do exposto, é o voto pelo provimento do recurso de apelação da parte autora, devendo ser reformada a
sentença para condenar:
a) a ré Santos & Ferrer Comunicação Ltda. ao pagamento de R$ 20.000 (vinte mil reais) a título de
indenização por danos morais ao autor e a publicar a decisão que julgou procedente a demanda ajuizada pela
parte autora no próprio site onde foi publicada a notícia ofensiva, mantendo no ar por tempo equivalente;
b) o réu Valdir José Alves da Cruz ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de indenização por
danos morais ao autor, nos termos da fundamentação.
III – DECISÃO
21 de março de 2019
Des. Relator