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IBP2804_08

MONITORAMENTO PARTICIPATIVO DA ATIVIDADE


PESQUEIRA NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DOS BLOCOS BM-
CAL-04 E BAS-97, NO LITORAL BAIXO-SUL DA BAHIA
Adriana P. C. Fraga1, Hugo R. L. Diogo 2, Adriano P. Silva1, Cristiano
G. Dapper2

Copyright 2008, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP


Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008, realizada no período de 15 a
18 de setembro de 2008, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do
evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como
apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme,
apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e
Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Oil &
Gas Expo and Conference 2008.

Resumo
O programa de monitoramento participativo da atividade pesqueira no litoral do Baixo Sul do Estado da Bahia vem
sendo executado na área de influência dos blocos BMCAL-04 e BAS-97, de concessão da empresa El Paso Óleo e Gás
do Brasil, de forma ininterrupta desde 2004 avaliando temporalmente e espacialmente a captura por unidade de esforço
(CPUE) como índice de produtividade, composição de captura e renda de primeira comercialização. A adoção de um
enfoque participativo associado a análises que respeitam as suposições requeridas pelos métodos usados oferecem
estimativas mais confiáveis e o reconhecimento, validação e apropriação das informações geradas pelos pescadores.
Resultados obtidos na avaliação da presença da plataforma de perfuração sobre a pesca indicam que não houve
variações significativas nas CPUE’s que estejam espacialmente associadas à presença da plataforma. Conclui-se a
extrema relevância da manutenção de um processo de coleta de dados pesqueiros, capaz de diminuir a estocasticidade
do conjunto de variáveis que influenciam a dinâmica produtiva e que tenha respaldo e validação social bem como
reconhecimento dos entes públicos do valor e qualidade dos dados gerados. Essa iniciativa pioneira indica um caminho
novo para a ação e contribuição de empresas de grande porte para a pesca artesanal.

Abstract
The programme of participatory monitoring of fishing activity in the Baixo-Sul of the Bahia state is being executed in
the area of influence of the blocks BMCAL-04 and BAS-97, granting the company El Paso Oil and Gas of Brazil, for a
continuous since 2004 evaluating the catch per unit effort (CPUE) as an indicator of productivity, the catch
composition and income of the first marketing. The adoption of a participatory approach associated testing to comply
with the assumptions required by the methods used estimates provide more reliable and recognition, validation and
appropriation of information generated by fishermen. Results obtained in assessing the presence of the drilling platform
on fisheries indicate that there weren’t significant variations in CPUE's that are spatially related to the presence of the
platform. It is the extreme importance of maintaining a process of data collection, fishing, capable of reducing the
stochasticity of the set of variables that influence the dynamic and productive having social support and validation and
recognition of public entities of the value and quality of data generated. This pioneering initiative indicates a new path
for the action and contribution of big companies from to small-scale fishing.

1. Introdução
Os Blocos BMCAL-04 e BAS-97 localizados na Bacia Sedimentar de Camamu/Almada, Litoral Baixo Sul do
Estado da Bahia, de concessão da Empresa EL PASO Óleo & Gás do Brasil Ltda. têm como área de influência direta os
municípios de Valença a Maraú.
No âmbito das etapas de prospecção, o monitoramento pesqueiro foi realizado como forma de atender às
condicionantes das licenças de 2002 e 2004 para as atividades de aquisição de dados sísmicos. Tais programas
cumpriram seu papel enquanto um estimador do impacto gerado pela sísmica sobre a produção pesqueira regional.

______________________________
1
Mestre, Engenheiro de Pesca – SOMA Soluções em Meio Ambiente Ltda
2
Mestre, Oceanógrafo – SOMA Soluções em Meio Ambiente Ltda
Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Porém, o grande diferencial foi o entendimento da empresa em promover continuidade, a partir do segundo
semestre de 2004, do programa de coleta de dados pesqueiros, envolvendo as comunidades e valorizando o
conhecimento local, independente de haver a obrigação por parte do licenciamento ambiental.
Tal continuidade se fundamentou, inicialmente, na carência de dados e informações contínuos com relação à
pesca que pudesse contribuir para uma compreensão mais refinada sobre a dinâmica produtiva frente a um cenário
nacional de fragilidade das estatísticas pesqueiras. Portanto, o monitoramento pesqueiro da EL PASO apresenta hoje
um banco de dados com uma série temporal de 4 anos (Tabela 1).

Tabela 1: Série histórica de dados de pesca (captura e esforço) obtidos pelo Monitoramento Pesqueiro

Ano/Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2002 X X X X
2003
2004 X X X X X X X X X X
2005 X X X X X X X X X X
2006 X X X X X X X X X X X X
2007 X X X X X X X X X X X X
2008 X X X

Vale ressaltar que esse monitoramento foi concebido para adotar abordagens de caráter participativo, tendo por
referência metodologias e experiências propostas por Bonilha et al (1999), Obura, (2001), Obura et al (2002). Desta
forma, foram adotados princípios que regem a conduta dos trabalhos, principalmente nas atividades de campo, a saber:
(i) Participação e cooperação: esses elementos são fundamentais para garantir uma boa fidedignidade dos dados.
Assim, o trabalho foi exaustivamente explicado aos pescadores e entidades representativas buscando criar uma relação
de respeito e responsabilidade; (ii) Objetividade e transparência: um dos principais mecanismos para atingir bons
níveis de participação e cooperação diz respeito à clareza e transparência do discurso e atitudes dos técnicos ao longo
do trabalho; (iii) Oportunidade: para manter os pescadores fiéis e pró-ativos ao processo de coleta de dados, é preciso
que enxerguem quais ganhos podem obter a partir das informações geradas. Normalmente, em casos de coleta de dados
visando ao fomento de processos de gestão e manejo pesqueiro tais ganhos são relacionados à visibilidade das
comunidades e sustentabilidade da pesca; (iv) Flexibilidade: os protocolos e cronogramas buscam se ajustar à realidade
de cada comunidade, respeitando aspectos sócio-políticos locais.
A adoção de um enfoque participativo associado a análises que respeitam as suposições requeridas pelos métodos
aplicados geram dois resultados extremamente importantes. O primeiro são estimativas e indicadores mais confiáveis,
fidedignos, e , portanto, uma estatística robusta para aqueles indicadores ora analisados. O segundo, está associado ao
reconhecimento, validação e apropriação das informações geradas pelos pescadores. Nesse sentido, alguns mecanismos
e estratégias vêm sendo desenvolvidos, testados e adaptados para evoluir e consolidar uma metodologia de
monitoramento pesqueiro a partir de uma perspectiva participativa e que subsidie tomadas de decisão voltadas às
questões de interesse da El Paso quanto aos projetos de exploração e produção e, ao mesmo tempo, a ações
direcionadas a gestão e manejo dos recursos pesqueiros a partir de um arranjo institucional cooperativo e
complementar.

2. Metodologia
2.1. Área de estudo
A área de estudo, localizada no Baixo Sul da Bahia, compreende a área de influência direta do bloco de
exploração BMCAL-4 e BAS-97, sob concessão da empresa EL PASO Óleo & Gás do Brasil Ltda. O desenho amostral
para coleta de dados pesqueiros contemplou 09 comunidades (Figura 1) pertencentes a 07 municípios, envolvendo 04
diferentes modalidades de pesca empregada na região (Tabela 2).

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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Tabela 2: Municípios, comunidades e modalidades de pesca monitoradas.

Município Comunidade Modalidades de Pesca


Boipeba Arrasto/Linha/Rede/Mergulho
Cairu
São Sebastião (Cova da Onça) Linha/Rede
Camamu Sede Arrasto/Linha/Rede
Igrapiuna Ilha do Contrato Arrasto/Linha/Rede/Mergulho
Ituberá Barra de Serinhaém Arrasto/Linha/Rede/Mergulho
Maraú Barra Grande Arrasto/Linha/Rede/Mergulho
Barra dos Carvalhos Arrasto/Linha/Rede
Nilo Peçanha
São Francisco Arrasto/Linha
Valença Sede Arrasto/Linha/Rede

Figura 1: Comunidades pesqueiras monitoradas no Baixo Sul da Bahia.

2.2. Estratégia de Amostragem

O delineamento amostral utilizado é do tipo estratificado e aleatório segundo Sparre e Venema (1998), sendo o
estrato composto pela modalidade de arte de pesca e a unidade de desembarque a pescaria da frota motorizada
empregada nos setores do Bloco BM-CAL-4 e BAS-97. A aleatoriedade na amostragem pressupõe que o monitor
registra os desembarques por arte de pesca conforme vão chegando aos portos sem definição ou preferência por algum

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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

barco ou mestre. As embarcações não amostradas são registradas em planilhas específicas para o controle do esforço
total de pesca. As planilhas para registro dos dados diários das pescarias (captura e esforço).

2.2. Enfoque Participativo

Conforme mencionado, o monitoramento pesqueiro vem adotando uma abordagem participativa por
reconhecer a necessidade do envolvimento consciente por parte da comunidade e dos pescadores no processo de coleta,
avaliação e validação dos dados. Isso permite uma apropriação gradual das informações geradas contribuindo, em
algum nível, na organização e empoderamento dos pescadores.
Desta forma, o controle dos desembarques é realizado por monitores identificados pela e a partir da própria
comunidade, capacitados e avaliados periodicamente e acompanhados mensalmente por técnicos visando garantir sua
motivação bem como a qualidade e veracidade dos dados.
Os resultados são apresentados aos monitores, líderes e pescadores em uma linguagem simples, porém
buscando passar noções importantes entre as relações de captura e esforço de pesca, impactos e sustentabilidade
utilizando painéis e de posturas que facilitam a interação com conhecimento local bem como criticas e comentários.

2.3. Indicadores

A Captura por Unidade de Esforço (CPUE) foi o índice de produtividade dos recursos; sendo estimado por
comunidade, arte e trimestre de acordo com a equação 01:

(1)

Onde:
U1 jkm é a CPUE1 da arte/tipo j, na comunidade k, no trimestre m;
Cdjkm é a captura, em kg, do desembarque d, da arte/tipo j, na comunidade k, no trimestre m;
Ddjkm é o número de dias de pesca referente ao desembarque d, da arte/tipo j, na comunidade k, no trimestre m.

O cálculo baseado no quociente do somatório das capturas pelo somatório dos esforços minimiza a
variabilidade das estimativas de CPUE normalmente causadas por diferenças de, por exemplo, poder de pesca e
estratégias de captura das embarcações (Gulland, 1964). Da mesma forma que a opção por agrupar os dados em
trimestres objetiva a diminuição da estocasticidade intrínseca as atividades pesqueiras.

Critérios foram adotados visando garantir solidez nas estimativas geradas a partir dos processos de auditoria e
controle de qualidade dos dados brutos, sendo eles: (i) características de operação de captura de cada artefato, (ii)
disponibilidade dos dados (número amostral) e (iii) qualidade da informação coletada (outliers ou dados atípicos). A
partir desses critérios dados ou séries de informações foram aproveitadas ou não no âmbito do presente relatório. Com
relação a unidade de esforço, foi adotada a CPUE baseada em dias de pesca por considerar o volume de informação, o
objetivo de utilizá-lo como índice de produtividade e a resultados obtidos a partir de relações lineares com outras
unidades de esforço.

3. Resultados
Os resultados aqui apresentados se referem aos desdobramentos e efeitos da execução de um programa de
monitoramento pesqueiro participativo na relação entre empresa, comunidades e órgãos governamentais e em seguida
aos resultados das análises geradas para se avaliar a dinâmica produtiva das pescarias considerando uma campanha de
perfuração exploratória de 10 meses na região.
A evolução das abordagens a partir da estratégia elaborada sinaliza que a geração de dados e informações a
partir de um enfoque participativo gerou os seguintes resultados: (i) Promoção, integração e nivelamento de
conhecimento entre pescadores e técnicos; (ii) Subsídios à gestão de conflitos; (iii) Conscientização a partir das
discussões sobre a rotina pesqueira – cultura da coleta sistemática de dados de pesca; (iv) Estímulo à participação; (v)
Apoio à organização dos pescadores; (vi) Clima de confiança entre técnicos e pescadores; (vii) Base informacional para
um processo de gestão/manejo a partir de tomadas de decisão mais fundamentadas.
Isso fez com que a esta experiência fosse reconhecida regionalmente, estadualmente e nacionalmente como um
processo inovador, tornando-se uma referência importante para o Governo Federal que caminha para uma revisão
substantiva da Estatística Pesqueira e sua aplicabilidade para a gestão compartilhada da pesca.
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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Esse cenário, segundo os registros e estudos de caso analisados até o momento, pode ser considerado como
pioneiro e indica um caminho novo para a ação e contribuição de empresas de grande porte no sentido de adotar uma
visão ampla e integrada dos componentes que envolvem a realidade no qual atuam, ao invés de restringir recursos e
equipes para ações pontuais, isoladas e desconectas do que de fato representa a raiz dos problemas, pois, comumente,
costumam trabalhar nos sintomas dos problemas.
Na análise estatística dos dados, das quatro artes de pesca analisadas, apenas linha de mão não apresentou
diferença significativa entre as médias anuais. Para a arte arrasto motorizado manual o ano de 2006 apresentou média
significativamente maior que 2005 e 2007 (Tabela 3). Esta diferença pode ser corroborada pela análise da figura 2,
onde se observa maior freqüência de valores acima de 40 kg/dia em 2006.

Para a arte arrasto motorizado com guincho, os anos de 2007 e 2006 apresentaram médias significativamente
maiores que 2005 (Tabela 3). As freqüências de distribuição para valores acima de 60 kg/dia foram maiores em 2006 e
2007 (Figura 3). Porém, esta diferença deve ser vista com cautela em função do baixo número amostral em 2005.
A arte emalhe apresentou, em 2007, CPUE média significativamente menor se comparados aos demais anos
(Tabela 3). Observa-se pela análise de distribuição de freqüência (Figura 4), que valores acima de 40 kg/dia foram mais
freqüentes em 2005 e 2006.

Tabela 3: Resultados dos testes não-paramétricos para a diferença entre médias anuais de CPUEs por artefato de pesca
para todas as comunidades

Médias
Artefato Estatísticas Resultado final
2005 2006 2007
AMM K. Wallis (H= 9,90;
35,4 43,7 37,4 2005, 2007<2006
gl=2; p<0,05)
AMG K. Wallis (H= 10,99;
36,9 72,3 79,0 2005<2006, 2007
gl=2; p<0,05)
Linha de mão U de Mann Whitney
- 42,8 37,6 NDS
(p=0,16)
Emalhe K. Wallis (H= 7,43;
37,4 36,4 31,8 2007<2005, 2006
gl=2; p=0,02)
Legenda: (AMM=arrasto motorizado manual; AMG=arrasto motorizado com guincho; NDS=nenhuma
diferença significativa).

Arrasto Motorizado Manual


35

30

25

20

15

10

0
-20 20 60 100 140 180 220 -20 20 60 100 140 180 220
0 40 80 120 160 200 0 40 80 120 160 200
No of obs

2005 2006
35

30

25

20

15

10

0
-20 20 60 100 140 180 220
0 40 80 120 160 200

2007
CPUE

Figura 2: Distribuição de freqüência das CPUEs mensais (kg/dia) para a arte arrasto motorizado manual na região do
Baixo-sul.
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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Arrasto Motorizado com Guincho


7

0
-20 20 60 100 140 180 220 260 -20 20 60 100 140 180 220 260
0 40 80 120 160 200 240 0 40 80 120 160 200 240
No of obs

2005 2006
7

0
-20 20 60 100 140 180 220 260
0 40 80 120 160 200 240

2007
CPUE

Figura 3: Distribuição de freqüência das CPUEs mensais (kg/dia) para a arte arrasto motorizado com guincho na região
do Baixo-sul.

Emalhe
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-10 10 30 50 70 90 110 130 -10 10 30 50 70 90 110 130
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
No of obs

2005 2006
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-10 10 30 50 70 90 110 130
0 20 40 60 80 100 120

2007

CPUE (kg/dia)

Figura 4: Distribuição de freqüência das CPUEs mensais (kg/dia) para a arte emalhe na região do Baixo-sul.

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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

6. Considerações Finais
A base de dados disponível dispõe de reconhecimento por parte das comunidades e de qualidade técnica por
parte da equipe de profissionais responsável pelo programa, permitindo análises futuras direcionadas as tendências e
prognósticos da produção de pescado na região, principalmente do recurso camarão e peixes demersais e pelágicos bem
como de análises participativas dos estoques pesqueiros segundo metodologias disponíveis por agências internacionais.
Assim, o esforço despendido pela EL PASO manifesta a preocupação em criar condições e subsídios para assessorar,
delinear, elaborar, monitorar e avaliar estratégias, programas e/ou projetos direcionados para o setor da pesca local.
Regionalmente, apenas a pesca de linha não apresentou diferenças estatísticas entre as médias anuais de
produtividade. Considerando os trimestres entre os anos (2005, 2006, 2007) foi detectado aumento da produtividade do
terceiro para o quarto trimestre, ressaltando que esse aumento ocorreu nas áreas de pesca mais afastadas da costa,
principalmente para o ano de 2006 e 2007 muito provavelmente em função das pescarias direcionadas aos recursos
pelágicos. Portanto, a atividade de perfuração não implicou em impactos a produtividade pesqueira da pesca de linha no
Baixo-Sul.
Nas pescarias com arrasto motorizado manual, o ano de 2006 foi mais produtivo em relação a 2005 e 2007,
sendo que nesses dois anos as estimativas geradas foram similares girando entre 20 a 40 Kg/dia, o que indica uma
situação normal de variabilidade interanual. Não foi observado um padrão bem definido da variação espaço-temporal
ao longo dos anos, contudo foi possível verificar que as maiores capturas por esforço de pesca ocorreram no segundo e
terceiro trimestre dos anos de 2005, 2006 e 2007. As áreas de pesca utilizadas pela frota arrasteira são bem definidas
permitindo concluir que não houve sobreposição espacial com a localização da plataforma e sua zona de exclusão.
Portanto, não há evidências de interferência da plataforma sobre essa pescaria em nível regional.
No arrasto com guincho, percebeu-se um incremento gradativo da produtividade no triênio 2005-2006-2007.
Tal aumento pode ser reflexo da expansão de áreas de pesca e/ou do maior esforço realizado por essa frota, sendo esta
ultima possibilidade a mais plausível. Assim, não houve interferências da atividade de perfuração sobre essa pescaria
no que diz respeito a sua produtividade.
A pesca de emalhe apresentou diferenças estatísticas na produtividade ao longo do tempo apresentando um
decréscimo produtivo ao longo dos anos estudados, sendo 2007 o de menor média. Para esta arte de pesca também não
foi possível identificar um padrão na variação espaço-temporal interanual, mas foi verificada uma queda da
produtividade do terceiro para o quarto trimestre tanto no ano de 2006 como em 2007. A distribuição espacial da
produtividade e do esforço durante os anos estudados foi mais evidente e constante no entorno da Ilha de Tinharé-
Boipeba, município de Cairu, e a leste da praia de Guaibim (Valença) ao longo dos anos considerados, situados ao
norte da área no qual a plataforma ficou instalada.
A diminuição regional da produtividade com o emprego das redes de emalhar não aparenta ter uma relação
com a presença da plataforma, pois vem ocorrendo desde 2005 caracterizando uma tendência ao invés de uma variação
pontual (anual), no caso para 2007. Outro fator relevante é que em 2007 a pesca da lagosta fora proibida por um
período de tempo maior que o período usual do defeso bem como o emprego das redes lagosteiras foi proibido o que
visivelmente comprometeu as pescarias de algumas frotas direcionadas a este recurso.
Por outro lado, vale ressaltar que os resultados da distribuição da frota indicam que a pesca com redes de
emalhe ocorrem ao longo de praticamente toda a zona costeira e marinha do Baixo-Sul (4 a 31 metros), concluindo que
há uma alocação do esforço bastante uniforme na área em questão.
No nível local foram identificadas 6 (seis) comunidades/artes com diferenças significativas entre as
produtividades ao longo do período (2004 a 2007), sendo que em 3 casos houve aumento dos índices e em outros 3
casos a tendência foi de diminuição.

7. Referências
Bonilha, L.E.C.Matarezi, J. Ribeiro, M.R. Polette, M. Haymussi, H. Lamas, H.D. Araujo, I.A. Bacilla, C. Grando, A. P.
Integrando pesquisa e educação nas atividades de extensão: Programa de Monitoramento Ambiental Voluntário do
Litoral Centro Norte Catarinense- Programa Olho Vivo”. Trabalho na íntegra. Revista de Tecnologia e
Ambiente./Universidade do Extremo Sul Catarinense. V.5, n.2 (1999) – Criciúma: FUCRI/UNESC. 1999.
Gulland, J.A., Catch per unit of effort as a measure of abundance. Rapp. P. – V. Réun. Cons. Int. Explor. Mer 155, 8-
14. 1964.
Obura, D.O. Participatory monitoring of shallow tropical marine fisheries by artisinal fishers in Diani, Kenya. Bulletin
of Marine Science 69, 777-792. 2001.
Obura, D.O., Wells, S., Church, J., Horril, C. Monitoring of fish and fish catches by local fishermen in Kenya and
Tanzania. Marine Freshwater Resource, 53, 215-222. 2002.

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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Sparre, P. & S. C. Venema. Introdução à avaliação de mananciais de peixes tropicais. Parte 1-Manual. FAO Documento
técnico sobre as pescas. N° 306/1, Rev. 2. Roma, 404p. 1997.

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