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Cotidiano Escolar
Chimica Francisco
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765
Vitor Cei
http://lattes.cnpq.br/3944677310190316
Educação Infantil e
Cotidiano Escolar
1ª Edição
Rio de Janeiro
Dictio Brasil
2019
Copyright © da editora, 2019.
Capa e Editoração
Mares Editores
CDD 370
CDU 37
2019
Todos os direitos desta edição reservados à
Mares Editores e seus selos editoriais
Dictio Brasil é um selo editorial de Mares Editores
CNPJ 24.101.728/0001-78
Contato: mareseditores@gmail.com
Sumário
Apresentação .................................................................................. 9
-9-
pedagógica. Revelam, ainda, o papel fundamental das educadoras e
educadores da infância, como parceiras e parceiros, nesse processo de
busca do conhecimento. Enfatiza a possibilidade de trabalhar
conteúdos relacionados às ciências naturais de forma lúdica e poética
desde a pequena infância, visando contribuir para o fortalecimento de
práticas que confiram às crianças um lugar de destaque tanto no
planejamento quanto na execução da proposta pedagógica.
Em seguida, no capítulo A Educação Especial no contexto da
Educação Infantil: o olhar pedagógico das professoras, as
pesquisadoras Rosemeire Silva de Campos Bueno e Julia Graziela
Bernardino de Araújo Queiroz afirmam que a educação referente à
criança pequena apresenta ao longo de sua história avanços e
concepções divergentes quanto a finalidade dessa modalidade de
ensino, desta forma, a Educação Infantil que era vista de forma
assistencialista, transforma-se em uma proposta pedagógica de modo
a atender a criança de forma integral, e levando em conta seu aspecto
físico, social, emocional, afetivo e cognitivo, assim como suas
interações com o meio em que vive. As ações decorrentes de
dispositivos legais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (1996) trazem consigo novo olhar para Educação Infantil
destacando que todas as crianças têm direito de acesso à escola bem
como, à educação e esse direito se estende ao público-alvo da
- 10 -
Educação Especial. Desse modo, a educação no Brasil se configura em
uma perspectiva de educação inclusiva para todos, sem distinção.
No capítulo seguinte, de autoria dos pesquisadores Leonir
Borges e Daniel Longhini Vicençoni, intitulado O Lúdico Na Educação
Infantil: Conhecimento Necessário Para A Formação Do Professor,
discute-se a importância do lúdico para o desenvolvimento e
aprendizagem da criança, tendo como objetivo principal oferecer aos
professores da Educação Infantil uma contribuição teórica acerca da
temática. O texto de cunho bibliográfico traz em cena alguns autores
que debatem sobre a importância do brincar e conclui-se que o lúdico
é inerente ao desenvolvimento do ser humano, sendo assim as
instituições de Educação Infantil necessitam de professores e demais
profissionais dos estabelecimentos de ensino infantil conhecimentos
teóricos — os quais devem refletir nas práticas pedagógicas —
coerentes com as necessidades das crianças, privilegiando jogos,
brincadeiras, brinquedos, recreações, competições, representações
entre outras.
No capítulo Características e análise da estrutura de dois
Centros Municipais de Educação Infantil em um munícipio
paranaense, as autoras Valdimare Gonçalves Feliciano e Sandra
Regina Gardacho Pietrobon juntam a esta coletânea uma pesquisa que
teve como objetivo central conhecer e contextualizar a realidade de
- 11 -
dois Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), buscando
constatar na realidade da Educação Infantil pública, quais são as reais
condições de atendimento, no quesito espaço físico, oferecidas às
crianças que estão entre seus 0 e 2 anos de idade. Os dados foram
coletados em dois CMEI’s observando as salas de aula e a Proposta
Pedagógica dos referidos estabelecimentos de ensino.
Em A Didática e o Currículo na Interface das Políticas
Neoliberais da Primeira Infância, os pesquisadores Milian Daniane
Mendes Ivo Silva e César Evangelista Fernandes Bressanin apresentam
um texto que é fruto de uma pesquisa bibliográfica das áreas da
didática, da formação de professores, do currículo e da infância.
Autores como Libâneo, Gatti, Marx, Vygotsky, Lopes e Macedo,
Candau, Kramer e Lenoir embasaram o texto e as discussões nele
apresentadas sobre temas de relevância na educação. Contando com
a contribuição da Teoria histórico-cultural reforça-se o entendimento
do lugar ativo e mediador do professor no processo de humanização
das crianças pequenas na Educação Infantil. Entender as finalidade
educativas e a influência dos organizamos internacionais sobre as
políticas educacionais para a primeira infância são fundamentais para
o debate em torno da formação de qualidade para os professores,
especialmente os da Educação Infantil
- 12 -
O capítulo final intitulado Instituições Educativas para
atendimento das crianças pequenas - primeiras décadas do séc. XX,
de autoria da pesquisadora Rosana Carla de Oliveira tem como
objetivo discutir a ampliação e a oferta de vagas em instituições
educativas para o cuidado das crianças pequenas durante as primeiras
décadas do século XX na cidade de São Paulo. Naquele tempo o
atendimento e oferta de vagas em creches também era uma
preocupação do setor patronal do ramo industrial, pois as mães
precisavam desempenhar seu trabalho cumprindo uma longa jornada
diária, para tanto algumas indústrias criaram suas creches no local de
trabalho. Ainda, serão tratadas as políticas públicas implementadas
pela área da saúde, relacionadas à profissionalização da mulher e
atendimento às necessidades do mercado de trabalho.
Os editores;
A organizadora.
- 13 -
“As baleias não botam ovos, só as galinhas [...] E o tubarão
também” relato sobre a ação pedagógica com crianças
pequenas
1
Docente no Núcleo de Educação Infantil Paulistinha/Escola Paulistinha de Educação,
UNIFESP.
- 14 -
fazendo para compreender ou explicar o mundo em que vivem?
Observar cuidadosamente o que as crianças fazem pode ajudar no
entendimento daquilo que realmente é importante para elas em
determinado momento.
A pergunta a ser feita, portanto, não é “o que ensinar?” mas,
“como ensinar?” Quando o enfoque deixa de ser o conteúdo e volta-
se mais para os sujeitos da aprendizagem abre-se uma possibilidade
de superação de práticas superficiais, simplistas e
descontextualizadas, como afirmou Zuquieri (2007), em sua pesquisa
sobre práticas docentes e o ensino de ciências na Educação Infantil. A
autora ainda pontuou que o ensino de ciências é visto por muitas
docentes como uma linguagem abstrata, “fora do alcance” das
crianças, e justificou que isto, muitas vezes, decorre de fragilidades da
formação profissional.
Silva, Paniagua e Machado (2014) buscaram compreender o
que pensam os professores de Educação Infantil a respeito do ensino
de ciências para crianças em fase pré-escolar. O estudo evidenciou que
muitas temáticas referentes a esse campo do saber não são
desenvolvidas com crianças devido a uma “visão equivocada que
muitos professores apresentam sobre a criança”, isto é, uma visão de
infância simplificada que contrasta com a crença em crianças curiosas,
inventivas e ativas (GOBBI, RICHTER, 2011).
- 15 -
Silva e Camargo (2019) discorreram sobre uma experiência
profissional com crianças pequenas em que o fenômeno luz e sombra
foi investigado e apropriado pelo grupo a partir de vivências em
diferentes linguagens. Confiante da possibilidade de entrelaçar o
brincar, a arte, a ciência e a poesia na construção da proposta
pedagógica, as autoras sugerem que questionemos o lugar que as
crianças ocupam nas práticas cotidianas. Se é um lugar de valor, isto é,
se de fato são reconhecidas como protagonistas e como parceiras
(DOMINGUEZ, 2014), então deve-se levar em conta aquilo que elas
pensam, dizem e fazem, conferindo-lhes validade e consistência
(FINCO, 2010).
O pensamento de Fin e Malacarne (2012) assemelha-se ao
exposto anteriormente. As pesquisadoras chamam a atenção para a
adoção de uma metodologia de trabalho com crianças que,
considerando-as como os sujeito ativos e inventivos que são, possa
favorecer uma aprendizagem condizente com sua maneira de lúdico-
estética de compreender o mundo.
Face ao exposto, queremos primeiramente dizer que garantir
aproximações da cultura científica ao nosso planejamento foi
desafiador, por fim, queremos encorajar os docentes que atuam na
Educação Infantil a reinventarem suas práticas. Nos foi necessário
parar e estudar sobre os temas que as crianças iam lançando
- 16 -
diariamente. A exemplo disso, tivemos que estudar sobre tubarões
para sabermos por que causam tanto fascínio e medo nas crianças,
suas principais características e diferenças entre as espécies, se botam
ovos não etc. Quanto mais pesquisávamos e aprendíamos sobre esse
assunto, mais interessadas ficávamos.
Definimos, a princípio, a temática tubarões “gigantescos” como
proposta de trabalho com as crianças; levamos em consideração suas
necessidades, desejos e anseios. Suas perguntas, observações e
hipóteses eram levadas a sério, e nós, como parceiras mais
experientes, buscávamos ajudá-las (DOMINGUEZ, 2014). Mediante a
curiosidade e interesse manifestos pelo grupo, selecionamos em nossa
biblioteca alguma literatura sobre animais marinhos. Também
encontramos livros ilustrativos e informativos sobre baleias e
golfinhos. De posse desses achados, organizamos um pequeno acervo
de livros e imagens em sala.
Na emergência dos assuntos, descobertas e encontros felizes
foram possibilitados pelo contato com diferentes gêneros e
portadores textuais, pela música, pela poesia e pela arte. Pesquisas em
sítios da internet, rodas de conversa e o contato diário com um peixe
beta também foram oportunizados ao grupo.
As expressões contidas no título deste trabalho são trechos de
narrativas coletadas durante as “expedições brincantes” da turma em
- 17 -
torno do tema “vida marinha” — uma ampliação da temática
investigada foi possível a partir das observações realizadas
cotidianamente. Tais observações também possibilitaram delinear
novos caminhos e novas possibilidades para a proposição de
experiências estéticas e científicas que favorecessem a aprendizagem
e incentivassem a curiosidade e o encantamento das crianças.
- 18 -
relação aos cuidados e segurança do peixinho, a fim de que ele
pudesse “crescer e nadar feliz” (Manuela).
Em nossa rotina, preparamos um momento para alimentá-lo,
observar suas piruetas dentro do aquário e, sempre que der vontade,
conversar com ele, dar-lhe beijinhos através do vidro.
- 19 -
Ele gosta de nadar
O peixe Leo nadou ‘pra’ mim.
O peixe tá falando “com eu!”
Ele veio na minha direção, agora ele foi para o Davi.
Quero nadar com ele...
De um borrão a um tubarão
No turma do Maternal I A, a temática tubarões “gigantesmos”
deu o que falar. Desde o início do ano letivo o grupo mostrou profundo
interesse em personagens assustadores como bruxas, monstros,
fantasmas e lobos. Mais recentemente, devido a uma reforma
estrutural, foram instaladas estruturas de madeira nos acessos às
escadas do prédio, algumas crianças observaram manchas brancas um
pouco disformes, que as remetiam a peixes e tubarões.
Impressionadas, algumas crianças pediam colo, outras se dedicavam a
examinar melhor as figuras naquelas estruturas. Em pouco tempo,
parte das crianças estava acostumada com a barreira de madeira e não
se importava ou sequer se impressionava com os borrões-tubarão ali
presentes. No entanto, sempre que passávamos por lá Giovanni,
demonstrava medo, nos pedia colo.
Nesse misto de euforia, medo e curiosidade as crianças nos
davam pistas de um possível objeto de interesse. Passamos a observá-
las mais cuidadosamente, na tentativa de entender melhor seus
interesses e, com elas apreender de um modo diferente o mundo, as
- 20 -
coisas e as “não-coisas2”.
Conversar com as crianças sobre suas impressões, abordando
o assunto em roda de conversa, foi o primeiro passo. Nossa conversa
foi no sentido de tranquilizar o pequeno Giovanni e de saber se alguém
mais no grupo se incomodava ou se interessava pelo tema “tubarões”.
Durante alguns dias passamos a conversar com a turma sobre
o habitat, espécies de tubarão e alguns hábitos desses animais. Nesse
movimento as crianças também iam nos contanto sobre outros
animais marinhos, como peixes, baleias, golfinhos etc. Falamos de
praia, de mar e dos oceanos.
Sobre praia, as crianças contavam de suas viagens e passeios
em família, de como brincaram na areia, das conchinhas que
encontraram, da água gelada ou barulhenta. Do mar elas contavam
que era grande, que era a morada dos peixes, das baleias e da sereia.
Que já viram barcos no mar. E dos oceanos elas diziam que eram “mais
grandão assim” (Gabriel, 2 anos 10 meses).
Não aprofundamos a conversa sobre as diferenças entre mar e
oceano. Nos permitimos pensar em “mar-oceano”3, a partir da poesia
soprada nas falas do grupo. E assim começou a grande aventura!
Percebendo que outras crianças também se sentiam
2
“Não-coisa” é uma coisa que não existe [aparentemente], “é [uma coisa] de
mentirinha”. Explicação de Ana Lívia, 2anos e 8 meses.
3
Mario Quintana
- 21 -
provocadas, nos sobreveio a ideia de brincar com o tema, quem sabe
assim o medo iria embora. Depois, planejamos desenhar um tubarão
numa dessas estruturas da escada. Seria, a princípio algo discreto, no
entanto, em certa manhã nos deparamos com um enorme tubarão
cinza pintado no acesso do piso térreo. A pequena Isabela ao ver a
imagem bradou: “Uau! É um tubarão ‘gigantesmo’!” Gigante mesmo
foi a explosão de emoções que a pintura causou. Daquela manhã em
diante nunca mais houve um dia em que uma pessoa (grande ou
pequena) não parasse para observá-la.
Passamos a conviver, diariamente, com os olhares curiosos,
gritinhos eufóricos e comentários entusiasmados das crianças sempre
que elas subiam ou desciam as escadas.
- 22 -
consideramos que seria importante propor e planejar vivências que
alargassem mais suas aprendizagens e interações em torno do tema.
Por que as crianças são tão atraídas por temas que causam medo? O
que podemos aprender pesquisando sobre tubarões e, por onde
começar?
- 23 -
segundo essas autoras, uma “mudança de mentalidade, implicando
não apenas na passagem da mentalidade de senso comum para a
científica, mas a passagem da mentalidade mágica para a mentalidade
científica” (ARCE, SILVA, VAROTTO, 2011, p.15).
- 24 -
canto de baleias e de golfinhos etc. e por fim, as crianças, cujos corpos
se “desaguavam” em sensações que as levavam a compreender o
extraordinário e as sutilezas de cada imagem e as provocavam a criar
novas perguntas e a buscar novas respostas.
Após essa experiência, desenhos e esculturas feitos pelas
crianças anunciavam suas aprendizagens. “Eu desenhei muitos
peixinhos no mar, comunicou uma criança. Usando tinta plástica,
outra disse “estou fazendo um peixe- leão” — a essa altura as crianças
já sabiam de cavalo marinho, peixe-boi, estrela-bolacha, e passaram a
brincar e a criar com nomes de animais. O que mais a natureza pode
despertar nas crianças?
Pequenas pedras, conchinhas e búzios, misturavam-se aos
traçados dos desenhos produzidos pelo grupo, juntavam-se a outros
elementos para compor suas brincadeiras. Dos desenhos
tridimensionais, um cavalo marinho e uma foquinha surgem. Tecidos
começam a ser utilizados como rede, como “pedaço de mar” onde as
crianças deitadas, se arrastam pela sala, ensaiando travessias. Com
massinha de modelar, uma baleia e um golfinho tomam forma. Da
brincadeira com graveto e água pode surgir um tubarão. O perigo é
quando o graveto se rompe em dois: “Tubalães!”
A sequência de imagens abaixo mostra uma criança explorando
- 25 -
conchas e uma estrela-bolacha natural sobre a mesa de luz.
Impressionada com a tartaruga-de-pente, objeto de sua pesquisa4 com
a família, a menina escolheu cuidadosamente as peças e as posicionou
para compor sua “própria” tartaruga.
Imagens 1, 2 e 3: Tartaruga-de-pente.
4
A partir da leitura do livro Belezura Marinha: poesias para animais ameaçados pela
ação do homem, de Lalau e Lalaubeatriz- Ed. Peirópolis, 2010, confeccionamos fichas
sobre mamíferos e quelônios do litoral brasileiro e convidamos à participação as
famílias. Em casa deveriam pesquisar com as crianças sobre um animal de sua
preferência e posteriormente produzir algo juntas. Em sala, as crianças contaram de
suas escolhas, justificando-as, contaram sobre a pesquisa realizada em casa e
apresentaram alguma produção coletiva referente ao animal escolhido. Todos os
trabalhos/produções foram expostos à comunidade escolar.
- 26 -
tem garrinhas nos bracinhos”(Caderno de registro, 2018).
Ampliando nossos estudos e vivências sobre mar-oceano,
visitamos sítios de importes órgãos defesa da vida marinha, como:
Projeto Tamar, Instituo Baleia Jubarte e Golfinho Rotador. Com as
crianças assistimos alguns vídeos, lemos sobre curiosidades e
entendemos sobre o risco de extinção pela ação do homem. Também
foram sugeridas pesquisas com as famílias. Nesse ponto o livro de
Lalau e Lalaubeatriz nos ajudaram muito! A partir dele
confeccionamos fichas sobre 14 animais marinhos que foram enviadas
em um envelope para a casa das crianças. Juntas, crianças e seus
familiares escolheriam uma ficha e fariam uma pesquisa sobre o
animal escolhido. Também deveriam encaminhar para a classe algum
produto dessa pesquisa, poderia ser: uma poesia, uma música,
desenho, escultura etc. e a criança contaria aos demais sobre o animal
escolhido.
Dentre os favoritos do grupo estavam a baleia Jubarte, os
golfinhos e tartarugas, principalmente a de pente. Theo escolheu a
lontra, um animal com “o rabo grande e mãos pequenininhas” e Maria
Clara escolheu a foca, que segundo ela “bota ovo”. Entre bota e não
bota ovo, retornamos a uma questão antiga: Os tubarões botam ovos?
E não é que botam mesmo!
- 27 -
Depois dessa importante informação dada por Davi, nos vimos
tensionadas a pesquisar mais sobre as espécies de tubarão.
Aprendemos, que algumas espécies de botam ovos, outras são
geradas e nutridas uterinamente e ainda há espécies que são geradas
numa combinação harmônica desses dois sistemas reprodutivos.
Assim, temos na natureza tubarões ovíparos, vivíparos e ovovivíparos,
respectivamente. A maioria dos tubarões e muitas raias são
ovovivíparos. Isso significa que a fecundação é interna e os ovos
produzidos permanecem dentro do corpo da fêmea. São os ovos que
garantem a alimentação dos embriões através do saco vitelínico, que
contém uma grande reserva nutritiva. Os embriões saem do ovo e
permanecem dentro do corpo materno completando o
desenvolvimento5.
De fato, não saberíamos disso se não fosse a provocação do
pequeno Davi que nos moveu numa intensa busca por respostas.
Também nos vimos aprendendo mais sobre golfinhos, baleias e
tartarugas.
Parece que a possibilidade de os tubarões botarem ovos
instigou ainda mais curiosidade das crianças. Surgiram outras
suposições relacionadas aos ciclos de vida animal e também sobre o
5
Fontes de consulta: www.todamateria.com.br/animais-ovoviviparos/
www.comunidadeanimal.com.br/tubarao-nasce-do-ovo-ou-da-barriga/
- 28 -
ciclo de vida humano. Exemplo disso pode ser extraído da fala de
Isabela, 3 anos. A menina tentando compreender melhor a ideia de
animais mamíferos ponderou:
Considerações
Este texto apresentou fragmentos de vivências educativas
realizadas no âmbito da Educação Infantil. Em forma de relato de
prática, buscou articular os conhecimentos produzidos no campo
teórico à prática educativa, perspectivando contribuir para o debate
sobre a abordagem de conhecimentos científicos na primeira infância
- 29 -
e fortalecimento de práticas que confiram às crianças o papel de
protagonistas juntos com suas professoras.
Considerando “a infinidade de possibilidades que o ensino de
ciências traz para se investigar a vida”, o mundo e as coisas presentes
nele, (ARCE, VAROTO, SILVA, 2011, p.79), o ideal é que os educadores
e educadoras partam de algum ponto de interesse das crianças e a
partir de suas observações e das mediações realizadas, construam
coletivamente sentidos e significados para aquilo que juntos
vivenciam. Vale lembrar que só a experimentação não será suficiente,
é preciso ainda: que objetivos estejam claros para os docentes, que a
criança seja levada ao questionamento, que suas hipótese e
indagações sejam acolhidas, que os conceitos científicos sejam
ensinados de forma cada vez mais elaborada.
Studart (apud ARCE, VAROTO, SILVA, 2011) disse que a
“verdadeira ciência começa com a curiosidade e a fascinação das
crianças que, levam à investigação e à descoberta”. Daí a importância
de encorajá-las a observar, inferir, questionar, refletir e construir
conhecimentos. Na mesma direção, Craidy e Kaercher (2001)
defendem que é papel do professor ou a professora apoiar e direcionar
as crianças estimulando-as desde muito pequenas a explorar seu
entorno, a praticar o exercício de descobrir e a respeitar o meio
ambiente. Seguramente, não temos respostas para as muitas
- 30 -
perguntas que as crianças fazem, mas temos, junto com elas a
possibilidade de descobrir.
Como resultados dessa experiência, podemos destacar:
possibilitou a aprendizagem por meio da ludicidade, potencializou
uma aproximação a conceitos e temas relacionados ao campo das
ciências da natureza; atendeu as crianças em seus interesses e
curiosidades, visto que cada criança, a sua maneira se apropriou dos
temas, assuntos e conceitos explorados ao longo do semestre.
Referências
- 31 -
formação do pensamento científico no decorrer do processo
educacional. Seminário de Pesquisa do Programa de Estudos em
Educação da Universidade Estadual de Maringá. 2012. Disponível em:
www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_0
2/030.pdf Acesso em 10/jan. 2019.
- 32 -
A Educação Especial no contexto da Educação Infantil: o
olhar pedagógico das professoras
Introdução
Ao se estudar a infância bem como a educação, é notório as
transformações ocorridas com o passar do tempo. Por muitos anos, o
atendimento a Educação Infantil foi considerada de forma
assistencialista, visto que as instituições ofereciam o atendimento à
população de baixa renda para que então, a criança ficasse sobre a
responsabilidade de alguém durante o tempo em que seus pais
estivessem trabalhando, nessa época, não havia a preocupação
quanto a formação dessas pessoas para trabalharem com essa faixa
etária e com as atividades desenvolvidas nessa fase.
A criança se desenvolve no período da infância, onde é
constituída a fase de descobertas, ver, ouvir, sentir, tocar e brincar. A
educação referente à criança pequena apresenta ao longo de sua
história avanços e concepções divergentes quanto a finalidade dessa
6
Graduada em Pedagogia, CUH.
7
Doutoranda em Educação, UFSM.
- 33 -
modalidade de ensino, desta forma, a Educação Infantil que era vista
de forma assistencialista, transforma-se em uma proposta pedagógica
de modo a atender a criança de forma integral, e levando em conta
suas especificidades (afetiva, emocional, física, psicológica etc....)
viessem a ser totalmente respeitada.
Assim, a criança nessa modalidade de ensino passa a ter seu
direito garantido com uma nova visão sobre o atendimento a elas bem
como a compreensão sobre suas especificidades em todo o seu
processo de desenvolvimento nas quais estão elencadas com as
experiências vividas nesse período tão importante.
Com isso o presente trabalho buscou analisar a percepção das
professoras sobre Educação Infantil e educação especial, bem como
descrever quais metodologias são trabalhadas com as crianças e o que
elas levam em consideração para ver se a criança apresenta alguma
deficiência.
No Brasil, ocorreram grandes mudanças e transformações
quanto a Educação Infantil, fatores advindo de um processo difícil,
longo e que resultaram em mudanças e transformações nos últimos
tempos. O processo que resultou nessa conquista teve participação de
grandes movimentações comunitários, movimentos de mulheres,
movimentos de trabalhadores, dos movimentos na redemocratização
do país, além das lutas dos profissionais da educação.
- 34 -
Tais mudanças, ocasionaram em novas exigências no âmbito
social e econômico, concedendo a criança um novo sujeito na
sociedade, sujeito este, na qual obteria investimentos futuros,
portanto, a criança passou a ser valorizada e o atendimento voltado a
ela também precisou acompanhar as mudanças históricas no Brasil.
A junção desses fatores concedeu em torno desses
movimentos da sociedade civil e órgãos governamentais para que o
atendimento as crianças de zero a seis anos passasse a ser reconhecido
pela Constituição Federal de 1988. Com isso, a Educação Infantil em
creches e pré-escolas passou a ser do ponto de vista legal, um dever
do Estado e um direito da criança (BRASIL, 1988). No decorrer desse
processo, um novo conceito de criança então surge, diferente do que
era visto de forma tradicional, por muito tempo a criança que era vista
como um ser sem importância passa a ser um indivíduo de grande
relevância na sociedade com direitos na qual as necessidades
relacionadas ao desenvolvimento de suas potencialidades precisavam
ser supridas.
Ademais, conceber a criança como um ser individual, com
suas particularidades bem diferentes dos adultos e que possuem
direitos enquanto cidadão são mudanças na Educação Infantil,
fazendo com que o atendimento as crianças de (0 a 05) anos sejam
- 35 -
ainda mais específicos levando em consideração sua própria
identidade pessoal bem como sua própria história.
Desta forma, surge um fortalecimento da nova concepção de
infância, enfatizado em lei os direitos das crianças enquanto cidadã,
cria-se o ECA, baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente
(BRASIL, 1990) no seu Título I mais preciso em seu Art. 3º nos traz:
- 36 -
Aparecem no decorrer do seu texto, diversas referências
específicas a Educação Infantil, no título III, Do Direito à Educação e do
Dever de Educar, art. 4º se afirma que; o dever do Estado com a
educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
educação básica obrigatória e garantia dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola,
ensino fundamental e ensino médio, bem como :
- 37 -
Deste modo, todas as crianças da Educação Infantil de até seis
anos de idade, sem distinção de (cor da pele, etnia, nacionalidade,
sexo, deficiência física ou mental, nível econômico ou classe social)
tem como um direito humano e social a educação.
Considerando-se as especificidades relacionado ao
desenvolvimento da criança e a qualidade das experiências que podem
contribuir para exercício da cidadania estão baseados nos seguintes
princípios, vejamos: do Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil (1998).
- 38 -
Desta forma, é de suma importância contemplar a criança
como um ser em pleno desenvolvimento, um ser com suas
individualidades e que aprende, tem criatividades, curiosidades
peculiares e com potencialidades nas quais necessitam ser
desenvolvidas.
Baseado no Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil (BRASIL, 1998) nos traz:
- 39 -
origens socioculturais, fazendo dessa diversidade um vasto campo
privilegiado de experiências dentro do no cenário educativo.
Nesta perspectiva, Bassedas, Huguet & Solé (1999. p. 106-
107) afirmam que:
- 40 -
proporcionado através de um acolhimento sem qualquer forma de
discriminação a esses alunos.
Todo conceito sobre o ensino e aprendizagem implica em
pensar sobre os profissionais que atuam no âmbito educacional e
também a todos os educandos inseridos no contexto escolar,
considerar a fase da Educação Infantil como um processo de ação
integrada que incorpore atividades educativas essenciais das crianças
englobando o cuidar com qualidade para que as mesmas tenham um
desenvolvimento integral e de potencialidades dando condições a elas
de crescerem como cidadãos cujos os direitos designados à infância
sejam reconhecidos.
Assim, reconhecer seus próprios limites é uma forma central
para o desenvolvimento da identidade bem como para a conquista da
sua própria autonomia.
Procedimentos Metodológicos
A pesquisa pautou-se na abordagem qualitativa, pois para
Minayo (2014) “o método qualitativo é o que se aplica no estudo da
história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, possibilita a criação de novas abordagens,
revisão e criação de novos conceitos” (MINAYO, 2014, p. 57). Assim é
dada ênfase na subjetividade dos participantes da pesquisa, pois
- 41 -
pretendeu-se conhecer o fenômeno estudado com profundidade, na
qual enfatizou-se o processo e não somente os resultados.
Neste sentido, realizamos levantamento de campo e consulta
a documentos de âmbito federal e internacional, assim como consulta
a periódicos e livros referente a temática em questão. Como
instrumento de coletas de dados, utilizou-se questionário
semiestruturado contendo eixos norteadores (formação, tempo de
docência, percepção sobre Educação Infantil e sobre educação
especial, quais metodologias são trabalhadas com as crianças e o que
elas levam em consideração para observar se a criança apresenta
alguma deficiência).
O local para realização da pesquisa deu-se no Município de
Petrópolis- Rio de Janeiro, participaram da pesquisa duas professoras,
uma com Licenciatura em Pedagogia, a outra com Formação em
Pedagogia, Ciências Biológicas e Cursando Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional, ambas atuam na Educação
Infantil.
A análise de dados deu-se de forma descritiva, sendo baseado
no referencial apresentado.
- 42 -
Resultados
Contexto da educação inclusiva na Educação Infantil
A Educação Especial é uma modalidade de ensino que se
caracteriza pelo atendimento a pessoas com necessidades especiais e
que se confirma através de políticas, a prática de inclusão e tem sido
objeto de inúmeros estudos, discussões e mudanças em torno dessa
temática. Em face desse contexto, a Constituição Federal de 1998 no
seu Art. 3º, inciso IV traz como um dos seus objetivos fundamentais
“promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, cor,
sexo, idade e quais quer outras formas de discriminação” (BRASIL,
1988).
Ademais, especial ao seu artigo 205 define: “A educação
como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho”
(BRASIL, 1988).
- 43 -
A partir de 1990 uma grande discussão relacionado a inclusão
de pessoas com necessidades educacionais se intensificou de modo
que diversas organizações no mundo todo se transformou em um
movimento a favor de sua defesa e uma luta constante para garantir a
efetivação. O atendimento destinado às pessoas com alguma
deficiência era vista como caráter clínico, terapêutico de modo que
não eram vistos pela sociedade tão pouco pelo sistema educacional.
A educação de crianças e jovens portadores de necessidades
educativas especiais inseridas nas escolas do ensino regular vem
passando por diversas alterações a respeito dos seus conceitos e de
grandes movimentos que gerou em uma luta contra um grupo de
excluídos, contra a segregação escolar que através da Conferência
Mundial para Todos ( UNESCO,1990), realizado na Tailândia, houve um
fortalecimento e surgiram novas proporções onde a discussão eram
formas de oportunizar escolarização às minorias sociais e excluídos.
Em face de toda essa história, documentos como a
Declaração Mundial de Educação para Todos ( UNESCO,1990) e a
Declaração de Salamanca (1994) passaram a influenciar na formulação
de políticas públicas da educação inclusiva.
Quanto a Conferência de Educação para Todos,
Jomtien/1990, tinha sua atenção voltada para os altos índices de
crianças e adolescentes sem total escolarização, na qual seu objetivo
- 44 -
em promover transformações dentro dos sistemas de ensino para que
o acesso e a permanência de todos na escola fossem assegurados.
A inclusão no Brasil faz parte de todo um processo de
elaboração e prática de uma educação de qualidade para todos, na
qual as diferenças têm valor devido e assegurado por lei conforme
determina a declaração de Salamanca (UNESCO, 1994 p. 8-9).
- 45 -
bem como a escola precisa viabilizar condições e acesso a esses
educandos.
As políticas públicas que asseguram a inclusão de alunos no
ensino regular é advinda de todo um movimento histórico e político
em torno de uma educação inclusiva e acessível para todos.
A educação inclusiva no Brasil abrange numa possibilidade
legal de educação para todos, portanto, esta educação visa reverter
todo o caminho da exclusão, ao proporcionar condições de estruturas
e espaços para um diversidade de educandos inseridos no contexto
educacional.
Como profissionais da educação precisamos ressaltar a
importância da Educação Infantil no desenvolvimento de todas as
crianças como cidadãs portadoras de direitos e sujeitos de suas
próprias história.
Neste contexto, a atual LDB, que foi instituída em 1996, traz
em seu Art. 29:
- 46 -
necessidades especiais em escolas regulares através de regimento,
para que a inclusão aconteça.
No que tange esse aspecto, a LDB 9394/96 versa no seu Art.
59, que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
- 47 -
Compreender as crianças como seres sociais e que tem uma
linguagem que é só dela, traz sua história e que pertencem a uma
classe onde o seu desenvolvimento é essencial e que a escola na qual
ela está inserida tem um papel fundamental nesse processo
construindo uma escola inclusiva e de qualidade.
Partindo desse pressuposto, a Convenção de Guatemala
(1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que:
- 48 -
Esse documento apresenta subsídios em três vertentes, em
consonância com o movimento de educação para todos, são eles:
- 49 -
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva de 2008, visa assegurar a inclusão dos alunos
público alvo da educação especial em uma perspectiva inclusiva
propõe orientação aos sistemas de ensino a garantirem: acesso,
participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados
de ensino, a transversalidade da modalidade de educação especial
desde a Educação Infantil até a educação superior. (BRASIL, 2008).
Dentre as Diretrizes da Política Nacional da Educação Especial
na Perspectiva Inclusiva vale ressaltar:
- 50 -
No entanto, a respeito da formação dos professores, o Plano
Nacional de Educação (BRASIL, 2010), preconiza:
- 51 -
A professora Ana Claudia relata que somente no curso de
graduação, não é o suficiente para a formação do professor, e que
muitos cursos de graduação nas universidades públicas ou particulares
não abordam disciplinas que considera importantes para atuação
profissional e para atender a demanda de alunos com diversas
necessidades educativas especiais, mas que procura estar sempre se
atualizando.
A professora Maria Claudia menciona que é preciso estar em
constante formação, pois adquirir conhecimentos além da graduação
se faz necessário não só para a atuação pedagógica, mas para obter
resultados satisfatórios em relação ao processo de aprendizagem das
crianças, visto que a chegada de alunos com alguma deficiência tem
sido grande não só nas escolas públicas, mas nas particulares também,
e que estar sempre em busca de novos conhecimentos faz parte e é
essencial na vida profissional em sala de aula e na carreira docente.
Quando feita as seguintes perguntas “Você conhece a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva de 2008?” E o
que você levam em consideração para ver se a criança apresenta
alguma deficiência.
Foram obtidas as narrativas a seguir:
- 52 -
especial no sistema de ensino, garantindo o acesso
de todos os alunos ao ensino regular, formando
professores para inclusão dos educandos, e que
percebe que aos poucos a inclusão vem
acontecendo, mas é preciso muita efetivação de
políticas públicas e de todos que fazem parte da
escola, assim como a sociedade e a própria família
terem mais compromissos e responsabilidades.
Quanto a criança com deficiência, ela leva em
consideração a Sondagem e Atividades que
proporcione de uma forma lúdica a socialização de
todos focando nas habilidades e não na deficiência
da criança, e finaliza salientando que todos são
capazes de aprender.
- 53 -
estudar um pouco mais sobre sua necessidade para
poder entender de que forma, e qual a forma que
ela aprende, levando em consideração que cada ser
é único, cada um tem sua individualidade,
independente da necessidade que tenha, mesmo
que seja autismo, principalmente um autista que
apresente essa patologia, não vai aprender da
mesma forma, visto que o autismo tem vários graus
diferentes com variações diferentes e que tudo isso
é preciso ser levado em conta, a especificidade de
cada um. E finaliza que procura estudar sobre as
deficiências, pra ver como vai atingir aquela
criança, qual a melhor forma que ela vai aprender.
- 54 -
Verifica-se que tanto a escola quanto os professores, tem
papel fundamental na formação e no desenvolvimento das crianças e
que oferecer a elas condições para que sejam incluídas nas aulas é
pensar nas mesmas como sujeitos de desenvolvimento na
oportunidade de aprenderem juntas.
Para a professora Maria Claudia, o seu olhar pedagógico
sobre a criança que apresenta algum tipo de deficiência no contexto
da Educação Infantil não estão inseridas e:
- 55 -
É possível compreender na fala das professoras evidências
através da análises de dados obtidos em entrevista por meio de
questionário semiestruturado, quanto as últimas perguntas, sendo
elas: “O que você observa na criança com Relação a Aprendizagem e
quais Metodologias são usadas?” Tivemos as seguintes respostas:
Para a professora Ana Claudia:
- 56 -
trabalhando em cima dessa descoberta
diversificando as atividades de uma forma lúdica
diferenciada, porém não separa as atividades, a
criança realiza todas as atividades que as outras
crianças realizam porém com um olhar diferente e
com foco diferente.
- 57 -
Considerações
Considerando os resultados obtidos na realização da
pesquisa, percebe-se que as professoras têm conhecimento sobre a
educação inclusiva e que elas necessitam serem efetivadas na prática.
Partindo do que se expôs e discutiu, um trabalho pedagógico
que visa a criança como um ser em constante de aprendizagem tende
a contribuir para uma escola inclusiva e para uma educação de
qualidade, isso é essencial para que a rede regular de ensino no Brasil
se torne sensível, flexível e facilitadora da aprendizagem quanto as
necessidades dos educandos inseridos nela. Ademais, a
reestruturação educacional, bem como a qualificação de profissionais
se torna tão importante dentro desse senário educacional onde cada
vez mais é evidente a demanda de alunos com necessidades
educativas educacionais inseridos no ensino regular.
Com isso, reconhecer que o Brasil teve um marco histórico
diante de uma educação inclusiva é o primeiro passo para que as
mudanças continuem sendo concretizadas no objetivo de respeito as
diferenças, de estar no lugar do outro, o respeito, a e inclusão do outro
valorizando todas suas potencialidades, suas habilidades como um ser
em permanente transformação.
Desta forma, profissionais capacitados em trabalhar com essa
demanda é essencial, pois conhecer dados relacionados aos
- 58 -
educandos é fundamental, traçar atividades na busca de atingir
atividades que mostram as necessidades das crianças no campo da
aprendizagem é sem dúvidas uma forma de trabalhar com as
diferenças possibilitando que o ensino cheguem para todos sem
distinção, e que diversificar as metodologias é necessário para um
aprendizado eficaz.
Observa-se ainda a importância e a ampliação de trabalho
inclusivo dentro das escolas, pois incluir é resgatar a cidadania desse
sujeito com necessidades educativas especiais proporcionando
convivência na escola, na família e na sociedade.
Nesse viés, o desafio ainda é grande, a luta é grande, porém
o movimento em prol de uma educação inclusiva é primordial, lutar
pelas oportunidades na perspectiva da educação especial se faz
necessária para a construção de escolas e sociedade inclusivas.
Além do mais, é preciso incluir todos os sujeitos para que
possam assim, usufruírem de seus direitos como cidadãos, sem
discriminação, sem preconceitos visando as potencialidades e não sua
deficiência.
- 59 -
Referências
- 60 -
Plano Nacional de Educação- PNE, Lei nº 10.172/2001. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm Acesso
em:18 de set. 2019.
- 61 -
O lúdico na Educação Infantil: conhecimento necessário
para a formação do professor
Leonir Borges8
Daniel Longhini Vicençoni9
Introdução
O brincar e o brinquedo é uma atividade pela a qual a criança
se desenvolve, experimenta novas habilidades e forma um conceito de
si mesma. A partir das brincadeiras ela aprende a usar os objetos, a
coordenar seus movimentos, a ter seus primeiros contatos com o
mundo e paulatinamente vai construindo conhecimento. É por isso
que no brincar quanto mais papéis a criança representa, mais
habilidade ela adquire, aumenta seus vocabulários linguísticos e o
psicomotor, além do ajustamento afetivo emocional que atinge a
representação desses papéis.
A brincadeira deve ser percebida e trabalhada envolvendo as
crianças em algo que realmente chame a atenção. Não se pode seguir
apenas uma área especifica do conhecimento, e sim analisar em sua
totalidade, desenvolvendo uma atividade prazerosa e atrativa.
8
Mestre em Educação, UEM.
9
Mestrando em Educação, UEM.
- 62 -
Considerando a criança como um ser pleno, onde o cognitivo, o
simbólico e o afetivo estão unidos, é possível levar a criança ao estado
de sentir, pensar, agir e representar, nesse intento, cabe aos
professores e demais profissionais envolvidos nessa modalidade de
ensino e as instituições de Educação Infantil oferecer espaços de
trocas experiências e de aprendizados, por meio do brincar.
A palavra Lúdico se origina do Latim Ludus que significa brincar,
aperfeiçoamento do conhecimento através de jogos e brincadeiras.
Pesquisas tem demonstrado o valor do Lúdico para o sucesso do
processo de aprendizagem. Já é da natureza da criança a vontade de
brincar, não há necessidade de impormos tal pratica a elas, é de seu
próprio instinto, pois, por meio do brincar a criança desenvolve sua
capacidade de pensar e imaginar formas e histórias com significados
distintos e significativos.
Feitas essas breves considerações, o texto discute a
importância do lúdico para o desenvolvimento e aprendizagem da
criança, tendo como objetivo principal oferecer aos professores da
Educação Infantil — e também aos demais profissionais envolvidos
com a Educação Infantil nas escolas que oferecem essa modalidade de
ensino — uma contribuição teórica acerca da temática. Para tanto, o
texto de cunho bibliográfico traz em cena alguns autores que debatem
sobre a importância do brincar e conclui-se que o lúdico é inerente ao
- 63 -
desenvolvimento do ser humano, sendo assim as instituições de
Educação Infantil necessitam de professores e demais profissionais
dos estabelecimentos de ensino infantil conhecimento e práticas
pedagógicas coerentes com as necessidades das crianças,
privilegiando jogos, brincadeiras, brinquedos, recreações,
competições, representações entre outras.
Importante destacar que o texto foca na importância de se
conhecer minimamente a importância do lúdico no processo de
desenvolvimento e aprendizagem da criança, portanto, com relação as
práticas pedagógicas a pouco referenciada não se trata do objetivo do
texto, apenas a citamos, porque entendemos que, na medida que
vamos entendendo e compreendendo teoricamente a importância do
lúdico no processo de desenvolvimento da criança,
consequentemente as práticas pedagógicas — no sentido de discutir
planejamento, sistematização, dinâmica dos processos de
aprendizagem, formas de garantir conteúdos e atividades, entre
outras — tem que ser revistas, elaboradas e avaliadas.
O texto está organizado em cinco partes, introdução, na
sequência discute a importância do lúdico para o desenvolvimento da
criança, seguida pela discussão sobre o brincar: a prática pedagógica,
palavras finais e referências.
- 64 -
A importância do lúdico para o desenvolvimento da criança
O brincar é uma necessidade básica que a criança possui,
considerando o processo do brincar como o primeiro sinal de inteligência
humana. Nas palavras de Santos (1999, p. 13), para
- 65 -
atividade complementar supérflua ou dispensável. Brincando a criança
vai construindo os alicerces da compreensão e utilização dos
esquemas simbólicos, como a escrita e também vai desenvolvendo
capacidades e habilidades de perceber, criar e manter laços de afeto e
confiança no outro, fazendo-se assim a sua socialização com o grupo
de seu convívio.
Para a alguns grupos sociais, a brincadeira é vista como
atividade fundamental ao desenvolvimento infantil. Historicamente,
ela como lúdico sempre esteve presente na Educação Infantil, único
nível de ensino que a escola deu passaporte livre, aberto à iniciativa,
criatividade, inovação por parte dos seus protagonistas.
A brincadeira põe a imaginação da criança a funcionar e essa é
essencial para o desenvolvimento infantil. A imaginação, do latim
imaginatio, é a faculdade de uma pessoa, no caso em que estamos
analisando, a criança, para representar imagens de coisas reais ou
ideais. Trata-se de um processo que permite manipular a informação
criada no interior do organismo para desenvolver uma representação
mental, deste modo, permite ter em mente um objeto que se tenha
visto anteriormente ou criar algo novo sem nenhum fundamento real.
Portanto, ao imaginar, a criança manipula informação da memória e
converte elementos já percebidos numa nova realidade, pois, ela, a
imaginação permite as crianças a relacionarem seus interesses e suas
- 66 -
necessidades com a realidade de um mundo que poucos conhecem, é
o meio que possuem para interagir com o mundo dos adultos.
Para o psicólogo e proponente da Psicologia cultural-histórica,
Lev Vygotsky (1994), o brincar cria uma zona de desenvolvimento
proximal (capacidade que a criança possui). Na brincadeira a criança
comporta-se num nível que ultrapassa o que está habituada a fazer e
ela tem uma necessidade muito grande de satisfazer seus desejos
imediatamente. Quanto mais jovem é a criança, menor é o espaço
entre o desejo e a satisfação, a imaginação é um método novo para a
criança, compõe uma característica típica da atividade humana
consciente.
Vygotsky (1994) relaciona a cultura à inteligência e a educação,
apontando que todo o ser humano está colocado dentro de um
assunto cultural que determina suas formas de pensar e agir, modela
sua inteligência e que a educação contribui para que a criança
desenvolva sua representação simbólica do mundo. O brinquedo é
uma atividade pela qual a criança se desenvolve, experimenta novas
habilidades e forma um conceito de si mesma. A partir das
brincadeiras ela aprende a usar os objetos, a coordenar seus
movimentos e constrói conhecimento. É por isso que no brincar
quanto mais papéis a criança representa, mais habilidades ela adquire,
aumenta seus vocabulários lingüísticos e o psicomotor, além do
- 67 -
ajustamento afetivo emocional que atinge a representação desses
papéis.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
segundo a importância do brincar diz que:
- 68 -
que constroem o conhecimento que é adquirido pela criação de
relações e não pela exposição a fatos e conceitos isolados, e é
justamente através da brincadeira que a criança faz que torna o
brincar o meio de expressão e do crescimento. Para tanto, “[...] é
preciso que as crianças tenham certa independência para escolher
seus companheiros e os papéis que irão assumir no interior de um
determinado tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem
unicamente da vontade de quem brinca” (BRASIL, 1998, p. 28).
A criança se concentra durante o brincar da mesma maneira
que se esforça para aprender andar, falar e comer. Esse esforço é tão
grande que, às vezes, ela fica concentrada na atividade e nem escuta
quando alguém a chama. Essa forma de trabalhar com atividades
lúdicas nos mostra um ponto positivo a respeito da importância que o
brincar tem para as próprias crianças.
- 69 -
superar progressivamente suas aquisições de
forma criativa. Brincar contribui, assim, para a
interiorização de determinados modelos de adulto,
no âmbito de grupos sociais diversos. Essas
significações atribuídas ao brincar transformam-no
em um espaço singular de constituição infantil.
(BRASIL, 1998, p. 27)
- 70 -
em dada ocasião depende de seu estágio de desenvolvimento
cognitivo.
- 71 -
crianças. A nosso ver pensamos que a prática do brincar deve estar
inicialmente inserida no professor, pois ele será o responsável em
transmitir aos seus alunos, e estes irão desenvolver essas conforme o
entusiasmo com o qual a brincadeira lhe foi proposta (FORTUNA,
2003).
E ainda,
- 72 -
O professor que não sabe ou não gosta de brincar
dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica de
seus alunos. Ele parte do princípio de que o brincar
é bobagem, perda de tempo. Assim, antes de lidar
com ludicidade do aluno, é preciso que o professor
desenvolva a sua própria. A capacidade lúdica do
professor é um processo que precisa ser
pacientemente trabalhado. Ela não é
imediatamente alcançada. O professor que, não
gostando de brincar, esforça-se por fazê-lo,
normalmente assume postura artificial,
facilmente identificada pelos alunos. A atividade
proposta não anda.
- 73 -
O indivíduo que brinca não faz porque essa
atividade o torna mais competente, seja no
ambiente imediato seja no futuro. A motivação
para brincar é essencial à própria atividade.
Mesmo sem intenção de aprender, quem brinca
aprende, até porque se aprende a brincar.
- 74 -
Fortuna ao dizer que para fazer tudo isso, o educador não pode
aproveitar a “hora do brinquedo” para realizar outras atividades, como
conversar com os colegas, lanchar, entre outros, ao contrário, em
nenhum momento da rotina na escola infantil o educador deve estar
tão inteiro e ser tão rigoroso no sentido de ficar atento às crianças e
aos seus próprios conhecimentos e sentimentos quanto nesse
momento.
É necessário que o professor introduza o brincar em um projeto
educativo, o que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e
consciência da importância de sua ação e relação ao desenvolvimento
e a aprendizagem infantis.
- 75 -
organizando e propiciando espaços e situações de
aprendizagens que articulem os recursos e
capacidades afetivas, emocionais, sociais e
cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos
prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes
campos de conhecimento humano. Na instituição
de Educação Infantil o professor constitui-se,
portanto, no parceiro mais experiente, por
excelência, cuja função é propiciar e garantir um
ambiente rico, prazeroso, saudável e não
discriminatório de experiências educativas e sociais
variadas. (BRASIL, 1998, p. 30)
- 76 -
objetos, fantasias, brinquedos ou jogos,
delimitação e arranjo dos espaços e do tempo
para brincar. (BRASIL, 1998, p. 28).
- 77 -
criança passa a se comportar como se realmente fosse mais velha,
seguindo as regras, que esta situação propõe” (VYGOTSKY 1994, p.
129). Ainda sobre as brincadeiras de faz de conta “[...] os jogos de
construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade
(também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais,
didáticos, corporais etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos
infantis por meio da atividade lúdica” (BRASIL, 1998, p. 28).
O brincar deve considerado algo natural, prazeroso, neutro,
desinteressado e parte da essência infantil, livre de qualquer interesse
ou imposição cultural, passa a ser utilizada como possibilidade para
estimular o desenvolvimento físico, mental, social e intelectual do
sujeito infantil, pois
- 78 -
precisa viver com e através das suas diferenças.
(MARIN e PENÓN, 2003, p.19).
- 79 -
É importante e fundamental que exista para professores e
outros profissionais, melhorias do ensino por meios das brincadeiras,
jogos e brinquedos. Esse direito das crianças é garantido pela
Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
- 80 -
Na trilha desse raciocínio, a criança da vida e forma ao
brinquedo, um cabo pode se tornar um cavalo, um pote pode ser
tornar em um vaso de flor, ela vai fazendo suas associações e
organizando os objetos idealizados em sua mente. É justamente essa
ilusão inicial, que fornece um grande amparo ao “eu” embrionário
infantil, que permite que a criança usufrua da satisfação dela mesma
ter criado um objeto, sendo está a construção da experiência lúdica.
- 81 -
relevante importância na imaginação da criança, ele irá abrir as portas
para o criatividade, o mesmo poderá ser utilizado de várias maneiras
em várias situações, de acordo com o indicação do professor na
intervenção da e na brincadeira.
Diante disse pode-se afirmar que deve-se respeitar a fase de
desenvolvimento em que a criança se encontra, fará com que seu
envolvimento com o brinquedo seja realmente proveitoso e lhe dê
satisfação. É necessário muito cuidado na hora de escolher os
brinquedos para a criança, uma vez que devem atender à etapa de
desenvolvimento em que ela está e às suas necessidades emocionais,
socioculturais, físicas e intelectuais.
A indicação da faixa etária é a referência mais relevante e
considerável na escolha para a brincadeira, mas não é a única,
identificar as características que o brinquedo possui também é
importante para o encaixe com a brincadeira.
Para a criança nada é mais importante do que os brinquedos,
pois eles proporcionam um mundo do tamanho de sua imaginação e
tudo pode ser conseguido se o brinquedo, os jogos e as brincadeiras
forem às estratégias escolhidas para nortear o dia a dia das crianças.
Portanto, os brinquedos devem ser companheiros fiéis das
crianças, para que possam dessa forma fazer parte de suas aventuras,
sonhos, fantasias, bem como, para suas frustações, medos e angústias,
- 82 -
das quais ela têm que conviver e aprender a lidar, principalmente com
as mais variadas formas de emoções, formando uma base sólida para
a sua personalidade e formação (SANTOS, 1999).
Palavras finais
O ato de brincar na Educação Infantil — cujo objetivo principal
é o de contribuir para aprendizagem e desenvolvimento dos aspectos
físicos, sócios emocionais e intelectuais — é fundamental para o
desenvolvimento e interação da criança com o meio em que vive. A
criança adquire e constrói sua cultura lúdica brincando através de
jogos, brinquedos, divertimentos entre outros. Importante destacar
que o lúdico é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e
não pode ser vista apenas como diversão.
Nesse sentido, brincadeiras e jogos exercem papel
fundamental e imprescíndivel na estapa da Educação Infantil, é a partir
deles que a criança será iniciada ao mundo em que vive e desenvolverá
movimentos, raciocínios e socialização com as pessoas com quem vive
(in)diretamente.
De acordo com Gadotti (1997, p. 90):
- 83 -
manual) e um estudo da natureza. Valorizava a
expressão corporal, o gesto, o desenho, o
brinquedo o canto e a linguagem. Para ele a auto
atividade representava a base e o método de toda
a instrução. [...] Depois de Froebel, o jardins da
infância se multiplicaram até fora da Euroa e
atingiram principalmente os Estados Unidos. Suas
ideias ultrapssaram a Educação Infantil. Os
fabricantes de brinquedos, jogos, livros, material
recreativo e jornais para crianças foram
influenciados pelas ideias de Froebel [.... (GADOTTI,
1998, p.90)
- 84 -
brincadeiras, brinquedos, recreações, competições, representações
entre outras.
Referências
- 85 -
MARÍN, I.; PENÓN, S. Que brinquedo escolher? In: Revista Pátio
Educação Infantil, ano I, n. 3, p. 29-31, dez. 2003/mar. 2004.
- 86 -
Características e análise da estrutura de dois Centros
Municipais de Educação Infantil em um munícipio
paranaense
Introdução
Quando pensamos na Educação Infantil é necessário observar
a sua evolução no decorrer de sua história no Brasil, em relação aos
seus aspectos de educação, brincadeiras e cuidados no atendimento à
criança pequena. Atendimento esse que, de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (1996), deve
proporcionar a todas as crianças, de forma igualitária, meios de se
desenvolver tanto física quanto psicologicamente, tendo assim um
suporte para tornarem-se cidadãs conscientes de seus deveres e de
seus direitos na continuidade de seu processo formativo.
10
Graduanda em Pedagogia, UNICENTRO. Bolsista de Iniciação Científica do
Programa PROIC-Fundação Araucária (2018-2019). E-mail: valdimare32@gmail.com.
11
Orientadora do trabalho. Docente do curso de Pedagogia, da Universidade Estadual
do Centro-Oeste (UNICENTRO). Doutora em Ensino de Ciência e Tecnologia (UTFPR).
E-mail: spietrobom@unicentro.br.
- 87 -
Kuhlmann Jr. (2000) destaca que essa etapa da educação básica
nem sempre se estruturou da maneira como a vemos na atualidade.
Por volta do ano de 1930, a Educação Infantil possuía um caráter
assistencialista e visava apenas o cuidar das crianças, cujas mães
estavam dando os primeiros passos para ingressar no mercado de
trabalho, por isso precisavam de um local e de profissionais
responsáveis para deixar seus filhos. Apesar disso, a maioria das
pessoas que atuavam em tais instituições não possuíam uma formação
específica para trabalhar com crianças entre 0 e 6 anos de idade.
Com o passar do tempo e com a criação de novas leis como a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e a realização de
novos estudos em relação ao desenvolvimento da criança e as suas
necessidades, deu-se início a um processo de aprimoramento
estrutural e do atendimento às crianças pequenas nas instituições que
tinham essa finalidade.
A primeira grande conquista adquirida por meio de lutas
realizadas pelas famílias, a comunidade e pelos profissionais da
educação foi garantida com a Constituição Federal de 1988, no Artigo
208 inciso IV, que destaca a necessidade de atendimento, em creches
e pré-escolas, às crianças de 0 a 6 anos de idade. Com essa conquista
legal pôde ser garantido, de certo modo, um melhor atendimento às
- 88 -
crianças assegurando às mesmas, além do educar e cuidar, o brincar
como parte do processo de ensino aprendizagem.
Neste estudo pretendemos desvendar quais são os pontos
específicos que devem ser levados em consideração quando se pensa
no atendimento às crianças pequenas, entre seus 0 e 2 anos de idade,
compreendendo os parâmetros legais quanto a estrutura dos CMEI’s
e o que se aplica na realidade dessas instituições.
- 89 -
Há a necessidade de que se construa também um ambiente
que proporcione as crianças possibilidades de aprendizagem em todos
os sentidos, ou seja, “o ambiente físico destinado à Educação Infantil,
promotor de aventuras, descobertas, criatividade, desafios,
aprendizagem e que facilite a interação criança–criança, criança–
adulto e deles com o meio ambiente” (BRASIL, 2009, p. 8).
Nesta mesma perspectiva Faria (2005) ressalta que as
instituições de Educação Infantil devem ir além das questões apenas
estruturais da instituição e pensar também que as crianças sofrem as
influências do ambiente em que estão incorporadas diariamente,
assim a forma de atuação pedagógica se dá no espaço e no tempo –
rotina, e esta consolida-se.
Refletindo sobre o uso dos espaços das instituições que
atendem crianças pequenas, estamos propensos a olhar para as
funções do mesmo, pois segundo a autora deve haver um
atendimento completo às crianças, conforme propõe:
- 90 -
Com tais apontamentos sabemos que a Educação Infantil é sim,
segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), uma
modalidade de ensino que deve proporcionar às crianças o cuidado e
educação sem dissociação entre estes aspectos de acordo com a
necessidade de cada educando, então precisa buscar meios de atender
todas essas necessidades que se apresentarem, ou seja, elevando o
nível das instituições para que esteja de acordo com Parâmetros
Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação (BRASIL,
2006).
Temos a definição de que a criança que está na Educação
Infantil é aquela que possui suas características próprias e que vem
construindo seu conhecimento dentro de suas famílias, mas também
nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI’s). As Diretrizes
Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil (2010), nos aponta que
a criança é:
- 91 -
estruturação dos espaços. Zabalza (2007) aponta que a Educação
Infantil possui pontos específicos que devem ser levados em
consideração quando se trata de qualidade nesta modalidade de
educação. Dentro e fora das salas de aula, segundo o autor, os espaços
devem ser constituídos de forma ampla, de maneira que as crianças
pequenas os identifiquem com facilidade. Nestes espaços as crianças
precisam ter autonomia para descobrir suas possibilidades e se
locomover sem dificuldades. Esses aspectos são enfatizados nas
Normas e Princípios para a Educação Infantil no Sistema de Ensino do
Estado do Paraná (2014), na qual está explícito no art. 24 que: “Os
espaços serão projetados e/ou adaptados de modo a favorecer o
desenvolvimento integral das crianças, respeitadas as suas
necessidades e especificidades de acordo com o que estabelece o
Projeto Político-Pedagógico da instituição de ensino.”
Assim, para as instituições de Educação Infantil é definido que:
- 92 -
IV - refeitório, instalações e equipamentos para o
preparo de alimentos que atendam às exigências de
nutrição, saúde, higiene e segurança, nos casos de
oferecimento de alimentação;
V - instalações sanitárias apropriadas e suficientes
para o uso exclusivo das crianças da Educação
Infantil;
VI - instalações sanitárias para o uso exclusivo dos
adultos;
VII - berçário, se for o caso, com área livre para
movimentação das crianças, respeitada a indicação
da Vigilância Sanitária, contendo lactário; locais para
amamentação e higienização, com balcão e lavatório;
solário; mobiliário e equipamentos adequados;
VIII - área coberta para atividades externas
compatível com a capacidade de atendimento, por
turno.
Art. 27 - As áreas ao ar livre, incluindo áreas verdes,
devem possibilitar as atividades de expressão física,
artística e de lazer (PARANÁ, 2014, p.8).
- 93 -
Os Centros Municipais de Educação Infantil: características e análise
Em busca de embasamento teórico para a produção desta
pesquisa, encontramos a resolução SESA nº 0162/2005, que apresenta
nos mínimos detalhes a forma com que deve se constituir um espaço
para que ele possa ofertar algum tipo de atendimento educacional,
focando no bem estar das crianças a serem atendidas. Este documento
é essencial, pois traz definições extremamente minuciosas de locais
muito utilizados pelas professoras que atendem bebês nas creches,
assim como o fraldário, o lactário, o solário e a sala de aula.
A pretensão foi compreender se o que encontra-se disposto
aos alunos e a comunidade está de acordo com a resolução SESA nº
0162/05, verificando se as condições estruturais oferecidas no Centros
Municipais de Educação Infantil estariam atendendo condições
mínimas para o conforto de todos os envolvidos no processo de ensino
aprendizagem.
Observando dois Centros Municipais de Educação Infantil
(CMEI), intitulados como CMEI A e CMEI B, localizados na área urbana
do município pudemos perceber que, entre ambos, há grandes
diferenças em relação à questão do público atendido, as concepções
das coordenadoras sobre as condições que possuem para trabalhar,
entre outros pontos que serão discutidos ao longo deste tópico.
- 94 -
O foco na observação dos espaços dos CMEI’s era para que se
pudesse constatar na realidade como é a estrutura física disponível
nos berçários dos locais observados, ou seja, das salas nas em são
atendidas crianças entre 0 e 2 anos de idade. Assim, buscamos
observar aspectos como: fraldário, lactário, sala do sono, mobiliário e
o solário.
Aspectos do CMEI A
O CMEI A é localizado em um bairro considerado mais nobre,
porém atende crianças de diferentes classes sociais. Este fora
inaugurado no dia 21 de setembro de 2012com o objetivo de atender
às famílias da região que precisavam se deslocar para locais mais
distantes. A instituição como um todo, atende em torno de 140
crianças. Este fora construído de acordo com os Parâmetros Nacionais
de Qualidade para a Educação Infantil (2006).
Para a observação dos CMEI´s, organizamos uma tabela, com
aspectos essenciais de serem encontrados nestas instituições, para o
atendimento de crianças de 0 a 2 anos, com base no autor Zabalza
(2007):
- 95 -
Salas amplas que acolham todos de X
forma confortável
Mobiliário X
Local apropriado para a hora do sono X
Solário X
Instalações sanitárias X
Lactário X
0 a 1 ano de idade- 6 alunos por X
professor
1 a 2 anos de idade- 8 alunos por X
professor
* Fonte: autoria própria com base no documento da Secretaria de Saúde do
Estado do Paraná- SESA nº 0162/05
- 96 -
para a brinquedoteca, vão para a biblioteca para ouvir historinhas”.
(Coordenadora Flores).
Observou-se que há um solário para cada duas salas, que são
divididos pelas turmas com horários programados. Estes espaços
conseguem comportar em torno de 12 crianças, que é a quantidade
de alunos que há em cada turma, não ultrapassando 30% da
capacidade do solário (PARANÁ, p. 2006). Neste espaço, as crianças
tem autonomia para se locomover e brincar, assim como ressaltado
por Zabalza (2007), que diz que as crianças precisam ter autonomia,
porém também precisam de atividades dirigidas que podem ocorrer
em diferentes espaços disponíveis na instituição.
Outro ponto observado que é relevante foi o lactário que, de
acordo com a resolução do SESA (2006), deve respeitar algumas
exigências para se considerar que há qualidade no local, assim como:
- 97 -
para a higienização de mamadeiras e outros objetos utilizados pelas
professoras para a alimentação das crianças. Percebe-se que há um
grande cuidado com a higiene em todos os locais.
Nas palavras da coordenadora do CMEI pode se perceber que,
apesar da instituição ser considerada padronizada de acordo com as
condições mínimas determinadas pela SESA (2006), ela acredita que
ainda há a necessidade de haver melhoras tanto nas condições físicas
do CMEI, quanto na questão dos profissionais que estão atuando nas
salas de aula.
Aspectos do CMEI B
O CMEI B também é localizado na área urbana do município de
Prudentópolis, porém está localizado em um bairro mais carente.
Atende cerca de 1780 crianças de 0 a 5 anos de idade. É um público
diferente do CMEI A. De acordo com os relatos da coordenadora da
instituição, a maioria das famílias que cujos filhos frequentam a
instituição é de classe média baixa.
O CMEI fora construído no ano de 1995, por isso sabemos que
a estrutura disponível não é totalmente de acordo com as exigências
mínimas para que o CMEI seja de qualidade, assim como as descritas
na resolução do SESA (2006). Abaixo a tabela organizada com as
discussões de Zabalza (2007), sobre aspectos para um atendimento de
- 98 -
qualidade na Educação Infantil, a qual elaboramos para a observação
do espaço:
- 99 -
desde o ano de 2017, com uma ampla reforma que modificou desde
as salas de aula até os sanitários de professores e alunos.
Durante a observação percebeu-se que há um local para troca
e higienização das crianças, porém este não é anexo a sala de aula,
distanciando-se do que está determinado em um dos itens da
resolução do SESA (2006):
- 100 -
mamadeiras. Porém, a resolução do SESA dispõe que, quando não há
um volume grande, para justificar a necessidade de lactários, as
mamadeiras
Metodologia
Buscamos compreender melhor a realidade que se apresenta
no cotidiano de dois Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI´s),
- 101 -
analisamos quais são as condições de atendimento das crianças que
estão matriculadas nas turmas de berçários da rede pública, da cidade
de Prudentópolis no Paraná, focando nas questões que se referem à
estrutura das instituições e também o ambiente que está sendo
disponibilizado para os bebês.
Para se chegar a um resultado satisfatório, buscamos conhecer
o que determina a legislação sobre a estrutura das instituições que
atendem crianças de 0 a 2 anos de idade, bem como se caracteriza a
estrutura das salas onde essas turmas passam boa parte de seu dia,
para que se possa responder à questão: As condições em que se
encontram os espaços dos CMEI´s estão de acordo com a legislação e
atendem às necessidades das crianças de 0 a 2 anos?
Esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica e exploratória,
“visa proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando-o
explicito ou construindo hipóteses sobre ele” (PRODANOV, 2013,
p.128). A pesquisa bibliográfica tem como fontes os materiais já
elaborados sobre o tema investigado, e neste caso demos enfoque às
legislações referentes aos aspectos específicos da estruturação do
espaço em CMEI´s para o atendimento de crianças na etapa da
Educação Infantil, de 0 a 2 anos.
Nesta pesquisa realizou-se uma análise, com uma abordagem
qualitativa, num viés analítico-reflexivo da situação dos CMEI´s, por
- 102 -
meio das leis, para compreender quais foram as melhorias na
estrutura e no atendimento relacionadas à Educação Infantil e, se
essas questões realmente se aplicam na realidade das crianças e dos
professores. Pois: “A simples coleta e tratamento de dados não é
suficiente, faz-se necessário resgatar a análise qualitativa para que a
investigação se realize como tal e não fique reduzida a um exercício de
estatística” (GAMBOA, 2012, p. 44).
Portanto, vislumbrou-se compreender a problemática mais a
fundo, para se obter uma visão mais clara quanto as reais condições
que as crianças estão se deparando na rede pública e, se esta atende
ao que está previsto na legislação, em relação à garantia de vagas e
qualidade de atendimento para as crianças de 0 a 2 anos.
- 103 -
A estrutura do CMEI A passou por um planejamento prévio, o que
deveria ocorrer em qualquer instituição de ensino, enquanto o CMEI B
foi construído em um período em que as crianças eram levadas a esta
instituições com o objetivo de serem apenas cuidadas. Sendo
inaugurado um ano antes da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
da educação Nacional de 1996, que coloca a criança como sujeito de
direitos, e que as instituições necessitam, em suas propostas,
entrelaçar a educação, o cuidado e as brincadeiras. Enfatizando o
cuidado e também a educação, assim a estrutura não era tão complexa
como as creches e instituições de Educação Infantil mais atual.
Podemos concluir que, no decorrer das observações estivemos
dentro de instituições que possuem histórias e contextos diferentes,
cercadas de pessoas que fazem com que cada um dos espaços se torne
um ambiente propício para a aprendizagem e cuidado, para que cada
um dos alunos que estão presentes no dia a dia de toda a equipe que
trabalha para construir uma educação de qualidade no município
sejam bem atendidos.
A partir de toda esta pesquisa percebeu-se que as instituições de
Educação Infantil mais atuais são mais planejadas do que as que são
mais antigas na questão da estrutura física, todas têm profissionais
capacitados. Porém, ainda ficam algumas indagações para futuras
pesquisas, como: qual o ambiente ideal a ser construído em uma sala
- 104 -
para bebês? Como podemos elaborar uma rotina respeitando os
espaços disponíveis para as crianças de 0 a 2 anos de idade? Estas
questões, pretendemos realizar em momentos futuros, possivelmente
na pós-graduação.
Acreditamos que as respostas obtidas a partir desta pesquisa
foram satisfatórias. Conseguimos observar e conhecer os dois centros
de Educação Infantil, podendo contextualizar que a realidade dos
locais pesquisados diferem em alguns aspectos, haja vista que foram
construídos em momentos diferentes, embora no mesmo município.
A oferta de vagas é diferente devido ao tamanho dos locais, a
organização dos espaços está de acordo com a resolução do SESA nº
0162/05, em sua maioria.
Percebeu-se que o CMEI A possui ótimas condições físicas para
acolher as crianças, sendo que possui um suporte de berçário que
contém todos os itens necessários para o seu funcionamento, assim
como fraldários adequados, um lactário bem higienizado, solário para
que os alunos possam brincar e estar ao ar livre.
O CMEI B apresenta um ambiente reformado recentemente,
apontando que melhoras estão ocorrendo no local para que as
crianças sejam bem atendidas e que o trabalho dos profissionais do
berçário seja facilitado e melhorado. As condições deste local,
visivelmente nos declara que há uma grande organização em todos os
- 105 -
espaços, assim como nas salas de aula e no fraldário. Sendo que,
também há muita higiene quando se trata da alimentação dos bebês,
apesar de não haver um lactário em separado para as professoras.
A pesquisa realizada nos trouxe uma visão de como devem
estar preparados os ambientes para o atendimento de crianças de 0 a
2 anos, as quais pelas suas necessidades, em especial, pela questão da
exigência de maiores cuidados, possuem uma especificidade
diferenciada em relação à rotina de trabalho a ser desenvolvida com
as mesmas, e que o ambiente/espaço também se torna um elemento
educativo, de amparo, e pedagógico.
- 106 -
Referências
- 107 -
GAMBOA, S. S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. 2ª
ed. Chapecó: Argos, 2012.
- 108 -
A Didática e o Currículo na interface das políticas neoliberais
da primeira infância
Introdução
Pensar no conceito de criança e infância, historicamente
construído, desde a equivalência de um adulto em miniatura,
conforme analisa Ariès (2012), que é um dos precursores de estudos
voltados para esta temática, até a compreensão da criança como um
sujeito de direito é um caminho bem interessante. Ligado à isso faz-se
necessário, também, compreender as práticas pedagógicas e as
políticas públicas direcionadas à formação da criança, à Educação
Infantil. Neste aspecto, o fazer pedagógico é uma dimensão da
educação, em que suas finalidades são historicamente determinadas
e abrange práticas formativas a partir do processo de socialização, da
12
Doutoranda em Educação, PUC-GO. Membra do grupo de Pesquisa: Estudos e
Pesquisas, Pensamento Educacional Brasileiro. E-mail:
milian_daniane@yahoo.com.br
13
Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Educação da PUC-GO. Membro
do grupo de Pesquisa: Educação, História, Memória e Culturas em Diferentes Espaços
Sociais. Técnico em Assuntos Educacionais da UFT. E-mail:
kaeserevangelista@gmail.com
- 109 -
transmissão e da apropriação de conhecimentos historicamente
produzidos pelos diferentes grupos sociais das distintas classes
econômicas nas mais diversas formas de interação que se estabelecem
entre os seres humanos.
Na visão de Libâneo (2013), as práticas educativas, sejam
intencionais ou não intencionais, formais ou não formais, escolares ou
não, precisam levar em consideração a contextualização social e
política. Ainda, segundo Libâneo (2013), a formação teórico-científica,
composta por disciplinas específicas como a filosofia, a sociologia,
entre outras e a formação técnico-prática, como a Didática e as
metodologias específicas das disciplinas são imprescindíveis para a
preparação profissional específica para a docência.
Não pode ser diferente para a professor de Educação Infantil.
Assim, partindo dessas premissas, a atividade educacional do
profissional da Educação Infantil necessita partir da relação teoria-
prática, incorporando as especificidades e as singularidades da criança
e do conhecimento da infância, de modo que o mundo infantil e as
vivências desta fase constituam parte da construção de
conhecimentos, de valores éticos e estéticos.
Nesse sentido, seria basilar que o currículo e as políticas
públicas para a Educação Infantil reconhecessem a criança como
sujeito de direito e personagem ativo na construção de
- 110 -
conhecimentos. Que haja articulação das experiências infantis com os
conhecimentos do patrimônio cientifico, cultural, artístico, ambiental,
técnico e tecnológico. Que se promova o desenvolvimento físico,
afetivo, cognitivo, ético e estético da criança. Que se proporcione o
desenvolvimento a autonomia, as linguagens humanas e a interação
com o mundo social e que atividades ligadas às necessidades
biológicas da criança sejam realidades, bem como a brincadeira como
uma das atividades privilegiadas para o desenvolvimento infantil,
como bem referência a legislação vigente (BRASIL, 2009).
- 111 -
qualitativas no desenvolvimento e na aprendizagem de sujeitos que
desejam preparar-se profissionalmente para ensinar.
De acordo com Libâneo (2010), a atividade de ensino é uma
atividade humana, inseparável do processo educativo, cujo
desenvolvimento está ligado à transmissão e interiorização da
experiência humana generalizada, que se manifesta em saberes,
teorias científicas, valores, atitudes, técnicas, práticas. O ensino está
historicamente ligado a ações de inclusão das crianças nas atividades
dos adultos e, em seguida, à adequação da instrução às capacidades
de aprender dos alunos. Constitui-se, assim, como um fenômeno
histórico-social, um aspecto da realidade a ser investigado, objeto de
pesquisa da didática. Assim, a didática estuda o processo de ensino
que consiste nos modos e condições de assegurar aos alunos a
interiorização, pelo processo de comunicação, dos conhecimentos
sistematizados e o desenvolvimento de suas capacidades mentais.
Os modos de pensar e agir, didaticamente, dependem da
concepção de conhecimento. Aqui vale lembrar as contribuições de
Gatti (2013) que elucida os desafios que enfrenta a escola básica,
assinalando questões sobre o papel do professor face as demandas
socioculturais que lhes são postas e aborda a precariedade da
formação inicial oferecida nas licenciaturas. Ele ainda sinaliza a
necessidade de mudanças nos currículos no que tange a formação de
- 112 -
professores para a educação básica. A partir disso, pressupõe-se que
se faz necessário mudar a concepção vigente sobre “prática” e
“teoria”.
Nesta dialética, ressalta-se a importância de formar bem os
professores da Educação Infantil. Mas o que seria formar bem? A
proposta de uma formação com base em uma filosofia social da
educação e de se repensar as estruturas e dinâmicas expressas na
formação de professores seria um ponta pé inicial. Para isso é
necessário uma verdadeira revolução nas estruturas formativas e nos
currículos dos cursos de formação de professores, especialmente os
da Educação Infantil. Suprir a fragmentação formativa, as
generalidades dos conteúdos curriculares e o encurtamento temporal
dos cursos seriam pistas para uma boa formação.
É preciso integrar essa formação em propostas curriculares
articuladas voltadas a unidade de formação de professores de forma
mais proativa, com didáticas bem-postas, pois o trabalho pedagógico
é uma atividade humana que se realiza em um contexto determinado,
a instituição educacional, e envolve processos de apropriação,
reprodução e criação de cultura.
Assim, o trabalho docente é mais do que uma prática em si,
está permeado de contradições e de características socioculturais.
Constitui-se uma atividade pela qual a sociedade produz e reproduz,
- 113 -
elaborando formas próprias de agir, pensar e ser que vão determinar
a constituição da subjetividade (MARX, 1993).
O trabalho na Educação Infantil visa assegurar condições
objetivas para atingir determinadas finalidades. Na perspectiva sócio-
histórica-dialética estas finalidades referem-se à formação integral da
criança.
Assim, o professor assume uma posição diferenciada, um papel
de mediador de cultura, conhecimento, formação ética e moral
(VYGOSTSKY, 2001; WALLON, 1975). No entanto, sem o papel a
formação didática isso é impossível. O posicionamento metodológico
precisa contribuir para o processo de inserção e acolhimento das
crianças e de suas famílias na instituição, respeitando a pluralidade e
as diversidades. É de suma importância a elaboração de um Projeto
Político Pedagógico, cuja abrangência curricular explicite e articule de
modo sistemático uma concepção de sociedade, cultura, educação,
infância, aprendizagem e desenvolvimento.
- 114 -
espaço no campo do currículo, colocando em xeque as suas finalidades
e sua articulação entre diferença e igualdade e, ainda segundo a
autora, a perspectiva intercultural se faz necessária para esse novo
entendimento.
Candau (2011) traz à tona a necessidade de uma mudança de
ótica para trabalhar as práticas pedagógicas interculturais. Segundo
suas pesquisas com professores, fica evidente que o termo igualdade
dentro de educação é de direito reafirmada na uniformização dentro
dos padrões das classes hegemônicas. E o termo diferenças está
associado a déficit cultural, a deficiência a baixo rendimento escolar. E
não as diferenças plurais que enriquecem os processos pedagógico, as
quais devem ser reconhecidas e valorizadas.
Candau (2011) se posiciona dentro da interculturalidade
crítica, pois segundo ela, a crítica é capaz de fortalecer a construção de
identidades dinâmicas, abertas e plurais. Além do mais, se ancora na
abordagem histórico-social dos diferente saberes e conhecimentos, os
quais analisa as raízes históricas e seu desenvolvimento em diferentes
contextos. A partir disso, dá aporte teórico para pesquisadores e
educadoras preocupados com o processo de ensino-aprendizagem na
perspectiva de colaborarem na afirmação de uma sociedade
verdadeiramente democrática em que a justiça social, cognitiva e
cultural se entrelaçam.
- 115 -
Mediante essas posições sobre um ensino-aprendizado que
realmente contribua com a formação humana em seus diversos
aspectos, Lopes e Macedo (2011) traz uma importante discussão sobre
o entendimento de currículo. Dentro da história pedagógica, por muito
tempo, currículo foi compreendido como seleção de conteúdo a serem
ensinados a fim da promoção da memória e do raciocínio lógico,
dentro dessa linha destaca a educação tradicional.
Recentemente na história, o currículo se ocupa em atender as
necessidades de uma sociedade que se industrializava, assim surge a
preocupação com a eficiência da escola, cuja função é de socializar os
jovens com o mercado de trabalho, daí o conceito de eficientismo. Na
contramão dessa tendência surge o currículo progressivista, cujos
mecanismos de controle social são menos coercitivos. Neste contexto,
a educação aparece como um meio de diminuir as desigualdades
sociais geradas pela sociedade industrial tendo seu foco numa
sociedade harmônica e democrática, cujo expoente é John Dewey
(LOPES e MACEDO, 2011).
No Brasil, os principais seguidores de Dewey foram os
escolanovistas, dentre eles Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira,
que dentro desta corrente trabalhou com a metodologia de projetos.
Outra influência no campo curricular foi a racionalidade
tyleriana que resultou na relação entre currículo e avaliação, a
- 116 -
eficiência da implementação dos currículos, inferida pela avaliação de
rendimento dos alunos (LOPES e MACEDO, 2011).
Entretanto, na década de 1970 críticos sob uma corrente
marxista contrapõe o currículo como aparato de controle social.
Autores como Althusser, atenta para o duplo caráter de atuação da
escola na manutenção da estrutura social diretamente como
formadora de mão-de-obra e indiretamente difunde a ideologia de
cooptação de diferentes classes sociais (LOPES e MACEDO, 2011).
Dentro do movimento chamado Nova Sociologia da Educação
destaca-se Michael Young, que busca entender o currículo como
espaço de reprodução simbólica ou material (LOPES e MACEDO, 2011).
Nessa visão crítica de currículo surgem nomes como Demerval
Saviani na pedagogia histórico-crítica e José Carlos Libâneo na
pedagogia crítico-social dos conteúdos. E da matriz fenomenológica
Paulo Freire, com a contribuição de um currículo focado na
compreensão do mundo da vida dos indivíduos que convivem no
espaço da escola (LOPES e MACEDO, 2011).
Segundo Lopes e Macedo (2011), o conhecimento é o tema que
congrega maior destaque ao longo da história do currículo. Em torno
do questionamento sobre qual conhecimento “é denominado
conjunto de concepções, ideias, teorias, fatos e conceitos submetidos
- 117 -
às regras e aos métodos consensuais de comunidades específicas”
(LOPES e MACEDO, 2011, p.71).
Numa perspectiva instrumental, o conhecimento aproxima da
perspectiva acadêmica enquanto conhecimento legitimado, o rigor ao
método e as regras e se distingue por ter como eixo de referência a
razão instrumental. Já na perspectiva progressiva, o conhecimento
deve favorecer a melhor execução da atividade humana, pois a escola
contribui para transformações sociais e forma os alunos para serem
cidadãos em uma democracia (LOPES e MACEDO, 2011).
Na Sociologia da Educação, Young influenciado pelo
interacionismo simbólico diz que o conhecimento é constituído nas
interações sociais entre sujeito, assume uma postura anti-positivista,
se contrapõe ao conhecimento objetivo e sai na defesa do
conhecimento relativo (LOPES e MACEDO, 2011).
Contra esse saber estático e desvinculado da realidade Paulo
Freire (1983) é um expoente. Segundo ele, os saberes advêm de uma
educação problematizadora e crítica, partindo da compreensão de que
os seres humanos são históricos e vivem realidades concretas em
situação de opressão.
Libâneo, na perspectiva da pedagogia crítico-social dos
conteúdos advoga que “conhecimento é uma atividade prática
objetiva e social, orientando para situações reais e concretas” (LOPES
- 118 -
e MACEDO, 2011, p.89). Essa supervalorização do conhecimento
acadêmico é criticada por teóricos da educação popular.
- 119 -
no desenvolvimento, na articulação, na organização e avaliação de
seus projetos pedagógicos. Para que seus objetivos sejam cumpridos,
as DCNEI apresentam três princípios:
- 120 -
luta que vai além do oferecimento de vagas, é também pela qualidade
deste serviço prestado às crianças de zero a cinco anos.
- 121 -
Para tratar das finalidades de um sistema educativo escolar é
preciso se situar antes de tudo no plano do discurso político-
ideológico.
- 122 -
responsabilidades aos estados e municípios e critérios de competição
(LIBÂNEO, 2016).
A partir de 1990, políticas, diretrizes e normas em relação a
políticas educacionais passam a ser formuladas, de forma mais direta,
pelo Banco Mundial. Freitas (2011) argumenta que os organismos
multilaterais, ONGs, movimentos pela educação vinculados a
corporações empresariais “procuram implementar a visão de
educação como subsistema do aparato produtivo”, definindo
objetivos para a escola a partir de necessidades estratégicas de mão
de obra.
Essa educação para satisfação de necessidades básicas de
aprendizagem está explicita na Declaração Mundial sobre Educação
para Todos: plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem, Jomtien, 1990.
- 123 -
com dignidade, participar plenamente do
desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida,
tomar decisões fundamentadas e continuar
aprendendo. A amplitude das necessidades básicas
de aprendizagem e a maneira de satisfazê-las
variam segundo cada país e cada cultura, e,
inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo
(UNESCO, 1990).
- 124 -
é criado o Serviço de Assistência a Menores (SAM) que era voltado ao
atendimento de menores de 18 anos, abandonados e delinquentes.
Esse programa pretendia proporcionar a formação de cidadãos. Com
a extinção do SAM, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
(Funabem) foi implantada, constituindo-se como um órgão normativo
e supervisor com objetivo de formular e implantar a política nacional
do bem-estar do menor. A faixa etária de atuação da Funabem
extrapolava a faixa etária da educação pré-escolar.
As políticas públicas voltadas para a infância no século XX
tinham caráter compensatório. A própria a Lei n. 5.692, de 1971 – Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, responsabilizava os sistemas de
ensino pela educação de crianças de até seis anos em jardins de
infância, escolas maternais e outras instituições equivalentes, além de
sugerir que empresas que tivessem como funcionárias mães de
crianças de até seis anos fossem estimuladas pelo sistema de ensino a
organizar e manter educação que precedesse o ensino do então 1º
grau. Segundo Kramer (2011), o Parecer n. 2.018, de 1974, do
Conselho Federal de Educação,
- 125 -
subvencionar a educação pré-escolar. Sugere,
também, que se dê ênfase naquela legislação aos
programas de emergência como os de educação
compensatória. (KRAMER, 2011, p. 93),
- 126 -
espaços de ação dos municípios. Esta é a questão
central: descentralização das decisões, mas
centralização (ou inexistência) dos recursos. Ainda
assim, muito que pode ser feito pelas gestões
locais. É preciso registrar as precárias condições em
que se encontram muitas secretarias, redes,
escolas, creches e pré-escolas. (KRAMER, 2011,
p.14)
Considerações Finais
A compreensão do conceito de criança e infância sofreram
modificações ao longo da história. As transformações se deram por
questões sociais, políticas e econômicas, fato que alterou a forma de
conceber os diferentes sujeitos e seu tempo de vida.
- 127 -
Conceber a criança como ser histórico pressupõe que tem que
entendê-la como sujeito no aqui e agora, que sente, que se emociona,
tem opinião própria, se relaciona com os outros e com diferentes bens
materiais e simbólicos, no mundo e com o mundo.
Nesse sentido, a didática imbuída nas práticas pedagógicas dos
professores passa a ser concebida, refletida, planejada, a partir do
contexto vivido. Assim, com seu fazer pedagógico, desenvolvido
intencionalmente, propicia situações para que elas ressignifiquem o
conhecimento e os valores culturais. São premissas que devem estar
contidas nas Propostas Políticas Pedagógicas e nos currículos das
instituições de Educação Infantil.
Como diversos autores pontuam, entre eles Kramer e o próprio
Ministério da Educação, o currículo ao ser elaborado precisa
fundamentar-se nas concepções de conhecimento, cultura,
aprendizagem e desenvolvimento e considerar o interesse, as
expectativas e as atividades dos sujeitos como fundamental para o
planejamento, execução e avaliação desse conjunto de práticas
pedagógicas, sem perder, contudo, a compreensão de que sua
natureza é ampla, dinâmica e flexível.
Para não finalizar, Libâneo (2016) chama a atenção para a
influência das políticas dos organismos internacionais na sustentação
de um modelo de escola e “creches”, dentro de um projeto de alívio
- 128 -
da pobreza, ao contrário do que se propaga em termos de qualidade
de ensino, podem levar ao agravamento da injustiça social, pois, ao
colocar em segundo plano os conhecimentos significativos e os
elementos pedagógico-didáticos da qualidade de ensino, sonega-se
aos filhos das famílias pobres o acesso ao conhecimento universal.
- 129 -
Referências
- 130 -
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1983.
- 131 -
______. José Carlos. Didática e epistemologia: para além do embate
entre a didática e as didáticas específicas. In: VEIGA, Ilma P. A. e
D’ÁVILA, Cristina (orgs.). Profissão docente: novos sentidos, novas
perspectivas. 2 ed. Campinas (SP): Papirus, 2010.
- 132 -
______. O declínio da escola pública brasileira: apontamentos para um
estudo crítico. In: LOMBARDI, J. C. e SAVIANI, D. (orgs.). História,
educação e transformação: tendências e perspectivas para a
educação pública no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.
- 133 -
aprendizagem. (Jomtien, Tailândia). Paris: Unesco. Disponível em:
www.unesco.org/education/nfsunesco/pdf/JOMTIE_F.PDF. Acesso
em: 06 de julho de 2018.
WORLD BANK. (2007). Social exclusion and the EU’s social inclusion
study. Washington, D.C.: World Bank.
- 134 -
Instituições Educativas para atendimento das crianças
pequenas - primeiras décadas do séc. XX
Introdução
As mulheres sempre ocuparam papel relevante na organização
das atividades sociais, porém sem o devido reconhecimento social.
Elas chefiavam a família em períodos de guerras e em caso de
separação ou abandono do cônjuge. Exerciam trabalhos como
cozinheiras, lavadeiras, engomadeiras, entre distintos serviços
domésticos prestados à própria família e famílias de classes mais
abastadas, tarefas intercaladas com cuidados e educação dos filhos.
No entanto, o trabalho feminino foi minimizado socialmente e
desconsiderado como uma atividade profissional. Embora por diversas
vezes assumisse o papel de sustento principal da família, era tido como
pejorativo e considerado “mero suplemento à renda masculina” (DEL
PRIORE, 2013, p. 517).
Todavia, a mudança na economia e nos modos de produção,
do final do século XIX e início do XX, fez com que as mães deixassem
seus lares e ocupassem novas posições no mercado de trabalho.
14
Mestre em Educação, UNIFESP. E-mail: rosanatts1@gmail.com.
- 135 -
Diante disso, emergiu a exigência de uma organização da sociedade
em favor dos cuidados dos seus filhos, e as creches, escolas maternais
e jardins de infância passaram a ser reconhecidos no conjunto de
instituições educativas de atendimento às crianças pequenas no Brasil.
De acordo com Kulhmann Jr (1998) e Rosemberg (2002), no
início do século XX havia dois modelos institucionais de atendimento
às crianças pequenas: creches e escolas maternais, que acolhiam
principalmente as crianças pobres, e traziam como características a
educação assistencial, de cuidado e guarda dos pequenos; e o segundo
modelo era formado pelos jardins de infância, destinados às crianças
das classes sociais mais abastadas, de caráter elitista, com função
escolarizante e de ampliação de conhecimentos. Rosemberg (2002)
registra que essas características dualistas em relação à educação das
crianças pequenas foram observadas mundialmente, em países
subdesenvolvidos como em desenvolvidos.
Campos (1981) ressalta que a criação dessas instituições em
São Paulo em finais do século XIX e início do XX estava ligada
diretamente à industrialização, começando praticamente cem anos
depois de países como Estados Unidos e França. Com o início da
urbanização e após uma Guerra Civil, o primeiro país ampliou
significativamente a rede oficial de atendimento das crianças em
instituições, com o propósito de reforma social e salvação da criança.
- 136 -
Na França, as primeiras creches foram criadas por urgência da guarda
de filhos de operários, diante da mentalidade assistencialista que as
crianças estavam jogadas e malcuidadas. Diante disso tornava-se
necessário a criação de uma instituição capaz de recuperá-las.
Já em contexto nacional, Panizzolo (2006, p. 15) sustenta que
desde o final do século XIX até duas primeiras décadas do século XX a
capital paulista sofreu profundas modificações: “[...] São Paulo
converteu-se de ‘burgo dos estudantes’ em ‘metrópole do café’15,
transformando-se assim, [...] em centro econômico e político”. Pouco
a pouco a riqueza do café foi transferida para a cidade, modificando os
modos de vida e a paisagem urbana com novas edificações.
Principalmente a partir da chegada da indústria têxtil e a construção
de ferrovias, formou-se um operariado composto pela parte pobre da
população - homens e mulheres, escravizados libertos, indígenas e
“novos” imigrantes.
Esse texto discutirá a oferta de vagas em instituições
educativas para atendimento as crianças pequenas na cidade de São
Paulo, numa perspectiva histórica, para tanto o texto foi dividido em
15
As expressões “burgo dos estudantes” e “metrópole do café” tornaram-se
bastante conhecidas com Richard Morse, por meio da obra Formação histórica de
São Paulo: de comunidade à metrópole. MORSE (1970) apresenta um quadro das
transformações da cidade de São Paulo pelas condicionantes históricas, urbanas e
culturais, usufruindo das produções literárias brasileiras da transição Romantismo-
Modernismo. O autor optou por uma orientação culturalista, e pensou a cidade a
partir das experiências e mudanças nas quais a comunidade se operou.
- 137 -
três partes: a primeira abordará questões relativas a mulher e
mercado de trabalho considerando a profissionalização do trabalho
feminino e a grande concentração de mulheres em alguns setores
industriais. Na segunda parte tratar-se-á das Creches nas Vilas
Operárias, na modalidade de Creches no local de trabalho como
recurso para a racionalização da mão de obra feminina nas indústrias.
Na terceira se discutirá a necessidade de um lugar seguro para cuidado
dos filhos das mães trabalhadoras, considerando a relevância dos
órgãos da saúde na organização desse atendimento e por fim as
considerações finais.
- 138 -
As mulheres passam cada vez mais a ocupar os postos de trabalho fora
do lar e a compor o orçamento doméstico, formando um importante
contingente do mercado de trabalho, embora em condições de
desigualdade em relação ao homem. Era grande a oferta de trabalho
nas indústrias para mulheres e crianças, pois o salário era cerca de 30%
menor em relação aos homens que exerciam as mesmas funções.
As indústrias do ramo têxtil - que compreendia tecelagens,
produção de roupas e tecidos, eram as que mais empregavam as
mulheres, sempre com efetivo feminino muito superior a 50%, com
destaque para a indústria de camisas e roupas brancas - 93,7% de seu
quadro era composto por mulheres. De acordo com o censo de 1920,
outro ramo industrial que se destaca era de cigarros, charutos e outros
preparados de fumo, setor que empregava um total de 10.734
mulheres, totalizando 74% dos seus funcionários.
- 139 -
Tecidos de juta 2.820 2.186 77,5
Tecelagem de algodão 3.186 2.083 65,4
Fósforos 3.446 1.998 58,8
Tecidos de lã (pura e mesclada) 4.000 1.623 40,6
Fiação de algodão 2.858 1.552 54,3
Tecidos de seda 1.765 1.286 72.9
Chapéus de feltro 3.502 1.116 31,9
Doces, balas e confeitos 2.294 1.003 43,8
Vidros e cristais 5.533 933 16,9
Moagem de cerais e fabricação de farinhas 4.598 757 16,5
Caixas de papelão 1.094 711 65
Roupas para homens 909 700 77
Rendas e bordados 1.058 656 62
Móveis de madeira 7.501 633 8,4
Beneficiamento de café 1.886 612 32,4
Especialidades farmacêuticas 1.230 598 48,6
Redes 776 596 76,8
Chapéu de pano e bonés 767 592 77.2
Chapéus para senhoras 608 555 91,3
Olarias (tijolos, telhas e manilhas) 10.628 507 4,8
Perfumarias 964 502 52,1
Chapéus de palha 719 485 67,5
Congelação de carne 4.264 379 8,9
Chocolate 593 360 60,7
Sacos 641 357 55,7
Cordoalha 797 347 43,5
Artefatos de folha de flandres e de ferro 2.201 329 14,9
Flores artificiais e coroas 417 313 75,1
Fitas, cadarços e tranças 388 299 77,1
Louça comum 1.292 297 23
Beneficiamento de papel 1.418 253 17,8
Estopa 409 216 52,8
Conservas de carne 884 210 23,8
Tecidos elásticos (suspensórios, ligas e
333 200 60,1
cintas)
Fonte: Recenseamento de 1920 (RIO DE JANEIRO, 1927, p. 91)
- 140 -
De acordo com Oliveira (2019), durante muito tempo, a história
oficial omitiu a diversidade do trabalho feminino, vinculando-o apenas
às atividades domésticas e têxteis. Os dados revelam que cerca de 25
mil mulheres trabalhavam em ocupações diversas desses ramos
industriais, desataca-se que grande parte dos locais de trabalho das
mulheres eram em ambientes insalubres, como pouca luz, ou banheiro
em condições de higiene adequadas. Ainda, outros postos de trabalho
eram ocupados pela população feminina que eram considerados
clandestinos ou domésticos e que não foram considerados no censo.
Para a manutenção das exigências financeiras urbanas no início
do século XX, as mulheres das camadas médias também passaram a
trabalhar fora do lar. Além das questões de cunho financeiro, elas
foram incentivadas pelas associações femininas a sair do lar e buscar
certo grau de autonomia. Elas ocuparam cargos em escolas, bancos,
repartições, entre outros, dado o grau de escolaridade que
apresentavam. Diferentemente das mulheres mais pobres, que
atuavam nas fábricas e em serviços de menor qualificação.
O grupo de mulheres de classe média, que antes buscava
apenas o jardim de infância para educação dos filhos, passou a
procurar instituições para cuidado de suas crianças pequenas,
alterando a visão social sobre o atendimento da creche, que “[...] passa
- 141 -
a ganhar legitimidade social para além da sua destinação exclusiva aos
filhos dos pobres” (KUHLMANN Jr, 2000 a, p. 11).
- 142 -
funções nas fábricas. Diferentes empresas paulistas assumiram o
interesse em organizar a vida do operariado, como o atendimento às
crianças pequenas, e fundaram as próprias vilas operárias.
Em seu estudo, Zanetti (2007) lembra que no início do século
XX a racionalização foi estratégia essencial ao desenvolvimento da
indústria. Para isso, se formou um quadro de operários mais eficientes
e produtivos, dentro dos padrões do funcionário ideal. As vilas
operárias fizeram parte das imprescindíveis adequações para maior
eficiência da indústria.
As vilas operárias eram formadas por “tudo” que o funcionário
precisasse: casa, escola, creche, bazar, posto médico, igreja, ou seja,
vilas planejadas a fim de os operários suprirem as necessidades,
evitando deslocamentos, o que favorecia o bom andamento da
fábrica. Com essas ações, os operários mantinham a assiduidade,
ganhavam o dinheiro na fábrica e consumiam os produtos produzidos,
assumiam dívidas em empórios e “vendas”, muitas vezes de
propriedade do dono da fábrica. Zanetti (2007) afirma que:
- 143 -
As vilas eram localizadas ao lado das fábricas, assim, se
constituía uma nova cultura, a dos homens e mulheres trabalhadores.
Para Zanetti (2007), no sentido da industrialização a racionalização do
trabalho, denominado Fordismo, foi uma estratégia de gerência, pois
visava custo/benefício para eficiência e aproveitamento máximo da
mão de obra por meio de padrões e normas estabelecidas,
incorporadas gradativamente pelo trabalhador.
De acordo com Kishimoto (1986) a primeira creche industrial
foi criada na Vila Operária Maria Zélia, no Bairro do Belenzinho, Região
Leste da Cidade de São Paulo. Essa vila foi construída no período de
1912 a 1917, fundada pelo empresário Jorge Street, do ramo das
indústrias têxteis, considerado homem de visão empresarial e
conhecido como protetor dos operários.
- 144 -
Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/
Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/
- 145 -
Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/
- 146 -
pressão sobre o proletariado sob as formas de toque de recolher (21
horas), incentivo ao trabalho infantil, abstinências de bebidas fortes e
indução de consumo dos produtos produzidos pela fábrica, fornecia
assistência aos trabalhadores e autorizava formas de organização
sindical.
No entanto, de acordo com Kishimoto (1986), nem todos os
trabalhadores aceitavam a situação de forma pacífica, pois preferiam
salários dignos em lugar de serviços assistenciais. Com o passar dos
anos o empresário decretou falência, e a Vila Maria Zélia transferiu-se
para diferentes empresários. As algumas propriedades residenciais
foram vendidas para os próprios funcionários e outras demolidas,
dando lugar a novas construções.
As vilas operárias funcionaram durante certo tempo para
favorecer a produção da indústria, e atuaram como um paliativo no
atendimento das creches, contemplando somente as trabalhadoras de
determinados setores.
Mesmo sob forma de desigualdade em relação aos homens, as
mulheres ocupavam papel relevante na sociedade brasileira desde a
Proclamação da República. Os movimentos feministas despontaram
para lutar pelo direito ao voto, direito à instrução escolar, direito ao
divórcio, entre outros movimentos que garantissem o exercício da
- 147 -
cidadania feminina. Aos poucos a mulher moderna ocupou outro lugar
social fora do lar, com novos hábitos e costumes.
Conquistaram postos de trabalho, direito a circulação em vias
públicas, cortaram os cabelos, encurtaram as saias e alongaram os
decotes, situações consideradas substanciais para o início do século
XX, fortalecidas por meio dos movimentos feministas e movimentos
de mulheres, que aconteceram como resistência à moral tradicional e
aos costumes patriarcais (SEVCENKO, 1992).
16
Participaram do Primeiro Congresso de Infância representantes dos Estados da
Paraíba, Bahia, Maranhão, Goiás, Paraná, Pará, Santa Catarina, Rio de Janeiro,
Alagoas, Acre, Amazonas, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Ceará, Pernambuco,
Sergipe, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
- 148 -
ornamentação, que representava a elite brasileira. Na abertura, uma
“brilhante” execução do Hino Nacional por uma orquestra composta
por 50 professores. Estavam presentes ministros, deputados e
senadores, além de um representante da Presidência da República. Em
uma mesa luxuosa sentaram-se os responsáveis e o presidente do
evento, representantes dos Estados e dos países americanos, o
presidente do 3º Congresso Americano da Criança. Assim foi
promovida uma reunião conjunta entre os dois eventos (BRASIL,
1923).
Fonte: http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/sobre/historia/
- 149 -
As atividades do Congresso ocorreram no prédio da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, no período de 27 de agosto a 5 de
setembro de 1922, e contou com alto investimento, que foi justificado
pelo mérito do evento.
O grupo dos congressistas defendia um modelo ideológico
educacional e institucional de assistência à infância como forma de
controle governamental de proteção às crianças pequenas. Nessa
perspectiva a criança era vista como matéria-prima na qual sua futura
força de trabalho poderia ser moldada (WADSWORTH, 1999).
O Congresso teve como prioridades os seguintes assuntos:
Secções Do Congresso
I- Sociologia e Legislação
• (Particularmente em relação à família e à
coletividade).
II- Assistência
• (Em relação à mulher grávida, à mãe e à
nutriz e às crianças das primeira e das segundas
idades).
III- Pedagogia
• (Especialmente a psicologia infantil e a
educação física, moral e intelectual, inclusive a
educação profissional).
IV- Medicina Infantil
• (Pediatria, em geral, cirurgia, ortopedia e
fisioterapia)
V- Higiene
• (Eugenia, higiene pública e privada das
primeira e segunda idades, estudo da química
alimentar da criança da primeira idade, higiene
- 150 -
pública, principalmente das coletividades,
sobretudo a higiene escolar). (BRASIL, 1923, p. 7)
- 151 -
mortalidade infantil. Uma das críticas manifestada pelos congressistas
foi a respeito da assistência à infância, que até então, havia sido
pensada somente para a faixa etária dos cinco aos sete anos, deixando
os menores em situação de degeneração ou de aniquilamento. Os
médicos tornaram-se os grandes propagadores de um “plano
inovador” para a assistência à criança pequena.
- 152 -
para a saúde pública e assistência à criança pequena, iniciando nesta
hora os seus primeiros passos pela salvação da infância.
A década de 1920 seguiu impulsionada pela industrialização,
crescimento da urbanização, políticas de assistência e higienização na
cidade de São Paulo. No final dos anos 20 houve a ampliação da oferta
do atendimento das crianças em instituições de ensino. Contudo, o
serviço teve baixos custos de investimentos, falta de formação dos
professores, emprego de diversas professoras leigas, projetos
pedagógicos ineficientes e ênfase na abordagem assistencialista.
Fatores que marcaram a precariedade e ineficiência da oferta do
atendimento. Nesse sentido, Kuhlmann Jr (2000a) afirma: “A educação
assistencialista promovia uma pedagogia de submissão, que pretendia
preparar os pobres para aceitar a exploração social” (p. 8).
Kuhlmann Jr. (2000b) destaca que a Educação Infantil no Brasil,
como em outros países, fez parte das iniciativas de ações reguladoras,
uma vez que o modelo de educação para as crianças pequenas deveria
respeitar os preceitos impostos por médicos, religiosos e autoridades.
Um conjunto de iniciativas foi tomada para o enfrentamento das novas
exigências da metrópole, entre elas a “higienização dos costumes”,
para a qual foi elaborado um projeto que pôs em cena diversos
agentes, como médicos, sanitaristas e professores.
- 153 -
Então, a escola passou a ser uma das principais vias
implementação das políticas higienistas. Essa implementação se deu
principalmente pelo uso da moral dos habitantes que se manifestou
pela atenção à saúde, higiene do corpo, limpeza e iluminação dos
ambientes e dos espaços públicos, com finalidade de combater as
epidemias e fatores que contribuíam para a mortalidade infantil.
Desse modo vigorou nos projetos escolares a regeneração física,
intelectual e moral, que se manifestou nos materiais didáticos
(repletos de estereótipos e caricaturas) e práticas escolares pautadas
na ciência higienista, que visavam educar não somente a criança, mas
sua família, como estratégia de civilidade. (ROCHA, 2003)
Seguia a década de 1920 e algumas políticas foram adotadas
para a ampliação da oferta de vagas nas creches, como a abertura de
creches comunitárias e creches em local de trabalho. No entanto, o
poder público não geriu o atendimento diretamente, uma vez que os
poucos recursos existentes foram repassados para entidades privadas,
religiosas e patronais, e o serviço púbico direto não foi ampliado.
Como política pública paulista, no Estado de São Paulo foi
promulgada a Lei nº 2.014, de 26 de dezembro de 1924, que dispunha
sobre a instalação de Escolas Maternais e Creches anexas, prevendo a
instalação de creches nas fábricas. As vagas seriam destinadas aos
filhos dos operários e os serviços deveriam ser custeados pela
- 154 -
indústria, no entanto, poucas empresas se propuseram a instalar
creches para esse. A medida seletiva -visto que atenderia apenas uma
parte da demanda- pouco contribuiu para a ampliação da oferta de
vagas, pois apenas algumas empresas atenderam a legislação vigente.
A crise cafeeira de 1929 provocou a diversificação e a mudança
nos modos de produção, e houve o fortalecimento de novos grupos
econômicos que ocuparam os espaços urbanos com ênfase na
produção industrial. Por consequência, chegou uma grande massa
para se empregar nas atividades emergentes da cidade de São Paulo.
A causa da criança despertou o interesse das autoridades oficiais,
saindo do âmbito exclusivo da família, e foi pautada em iniciativas de
instâncias privadas e patronais,
As propostas de atendimento foram se alterando e algumas
mudanças foram observadas já no início dos anos 30, em relação aos
cuidados da criança pequena. Aos poucos as escolas maternais
passaram a atender crianças de 2 a 4 anos, enquanto os jardins de
infância atenderiam de 5 a 6 anos (KUHLMANN Jr., 2000b, p. 482).
Em 1933 aconteceu o Segundo Congresso Brasileiro de
Proteção à Infância, e a partir de então, além da campanha em favor
do aleitamento materno e contra o trabalho das criadeiras17, as
17
Pelas condições de vida, pelos hábitos incorretos adotados no cuidado das
crianças, pela índole e caráter, a criadeira era vista como uma das principais
responsáveis pelas elevadas taxas de mortalidade infantil (VIEIRA, 2016, p. 167).
- 155 -
definições do Congresso indicaram alterações na configuração social
em relação aos aparelhos de atendimento à criança necessários à
época, principalmente nas populações urbanas. Novos aparatos foram
introduzidos para compor a assistência à criança, como lactários e
policlínicas infantis.
Ainda na década de 1930, os discursos oficiais ressaltavam a
família como centro dos problemas da infância, e indicavam as
principais razões: dissolução da família moderna, ausência da mãe,
que passava a compor o mercado de trabalho, e os “maus cuidados
das criadeiras”. A ideia transferiu os problemas da criança para a
população, principalmente para a mulher, desconsiderando a situação
econômica e social do Brasil, como também a ineficiência das políticas
públicas.
Na década seguinte a concepção médico-higienista se
intensificou e com veemência as práticas das instituições educacionais
visaram à “formação de uma raça forte e sadia” (KRAMER, 2001).
No âmbito do Ministério da Educação e Saúde Pública, foi
criado o Departamento Nacional da Criança (DNCr) em 1940, com
múltiplos objetivos, entre eles a política de assistência à mãe e à
criança. Toda ação ou políticas na área partiam ou sofriam influência
desse departamento. O DNCr foi o grande responsável pela política de
implantação e acompanhamento das creches durante as próximas
- 156 -
décadas, atuando como órgão normativo que determinava as regras
de funcionamento das instituições, pautado na concepção sanitária e
educativa.
De acordo com Vieira (2016), nesse momento as creches foram
consideradas “mal necessário”, visto que, as instalações da maioria
das instituições eram precárias, e funcionavam em prédios adaptados,
mal arejados, com más condições de higiene, que favoreciam a
propagação de infecções e epidemias. No contraponto, as instituições
poderiam oferecer alimentação nutritiva, o que ajudaria a combater o
raquitismo e a possibilidade de uma rotina que incluísse o banho de
sol. Isso evitaria outras doenças da infância, e ainda impossibilitaria
que as crianças ficassem nas “mãos” das criadeiras. Mesmo diante das
condições precárias, as creches foram consideradas indispensáveis,
com urgência de melhoramentos e não sua abolição.
Aos poucos e de forma insuficiente, as creches foram criadas e
vinculadas a órgãos de assistência social, regidos por regras do
Departamento da Saúde. A vinculação das instituições à assistência
social encontrava fortes argumentos para se entender como
assistencialistas as práticas institucionais desenvolvidas nas creches
(KUHLMANN Jr, 2000a).
O documento normativo Creches, Organização e
Funcionamento (BRASIL, 1956) apresentava, além de condutas morais
- 157 -
e éticas para as mães, definia faixa etária, normas gerais para
instalação, formação do pessoal e ainda a utilização da creche no
programa educacional. As normativas funcionaram como dispositivos
de regulação social e do trabalho, favorecendo as leis do mercado de
trabalho e exploração do trabalho feminino. O dispositivo legal previa
a aceitação da entrada das crianças na creche a partir de um mês de
idade e ainda garantia um longo período de atendimento diário, que
compreendia das 7 h às 19 h, dessa forma as mães poderiam estender
seu turno de trabalho sem a preocupação com o cuidado de seus
filhos.
O Departamento determinava que as creches fossem
instaladas em prédios com rigor higiênico e pessoal qualificado, como
médicos, puericultores e auxiliares de enfermagem, que atenderiam
às crianças de 0 a 2 anos. As crianças de 2 a 4 anos frequentariam as
escolas maternais, e após essa idade frequentariam o jardim de
infância até a idade escolar. Haveria o trabalho de um professor que
ajudaria a adquirir e desenvolver habilidades motoras, noções de
conhecimentos básicos e aperfeiçoamento de hábitos.
O atendimento na creche tinha como objetivo o atendimento
da mãe trabalhadora, visto que a criança poderia ser matriculada após
o primeiro mês de idade, permitindo à mãe voltar ao trabalho logo
após o parto. Segundo o documento, o retorno ao trabalho não traria
- 158 -
nenhum tipo de prejuízo, pois a criança já havia sido amamentada
durante seu primeiro mês de vida e poderia ser submetida ao leite
industrializado.
18
Nestlé - empresa de laticínios que instalou sua primeira fábrica no Brasil em 1921,
na cidade de Araras, no Estado de São Paulo. Inicialmente sua maior produção foi o
leite condensado Milkmaid, depois conhecido como Leite Moça. Produzia ainda a
farinha láctea, já consumida no Brasil pelas camadas altas e médias desde o início do
século XX. A empresa ampliou a fabricação para outros laticínios, e o Leite em Pó
Ninho tornou-se sua maior produção em 1945, quando expandiu seu comércio e
consumo pelo território nacional.
- 159 -
A “ideologia do leite” tinha como pressuposto a “eugenia da
nutrição”, a qual apostava que os déficits nutricionais durante a
gestação, como os ambientais e sociais dos primeiros meses de vida
do bebê, seriam supridos pelo consumo de um produto de alto valor
nutritivo, além de promover uma raça de trabalhadores fortes,
saudáveis e bem nutridos.
Outro fator importante acerca da promoção e da
industrialização do leite é o fator econômico, no qual o Estado
fortaleceu a produção agropecuária. Dado o declínio da produção
cafeeira, o setor latifundiário requeria alternativas de manutenção
econômica e social. A criação de gado tinha como principais objetivos
a venda da carne bovina e a produção de leite como atividade
secundária - pouco valorizada no mercado, a partir da precariedade e
falta de condições de pasteurização, conservação e armazenamento,
fatores solucionados poucos anos depois.
A transformação do leite como produto básico dependeu do
campo da ciência, da política e da propaganda para estabelecimento
de estratégias ao consumo em massa, consequentemente foi
considerado pela população como alimento da cesta básica essencial
e imprescindível.
- 160 -
Figura 5 - Propaganda de Leite Moça - década de 1940.
Fonte:
https://mysocialmate.com/media/1912374982513803910/BqKHuoWFEKG
- 161 -
Figura 6 - Propagandas do Leite em Pó Ninho - 1945
Não entre na fila!
Para quem usa NINHO não existe o
problema. Nem “filas” nem receio quanto
a qualidade, nem imprevistos. A qualquer
hora, em qualquer lugar e para qualquer
fim - alimentação de crianças, de adultos
e todos os usos do leite fresco – com
Ninho tem-se leite ótimo e na qualidade
desejada.
NINHO PROPORCIONA TRANQUILIDADE E
SATISFAÇÃO
RÁPIDO
O tempo de dissolver o pó em água e está
pronto um leite de confiança: puro,
higiênico, nutritivo e saboroso.
PRÁTICO
Fonte: https://www.nestle.com.br/a-nestle/historia#/decada-1940
- 162 -
ser intensamente consumido, por boa parte da população, embora o
valor de compra não fosse acessível a todos.
As ações indicavam para uma aceitação da ideia das crianças
na creche, seja pela alimentação, já que os discursos apontavam que
o aleitamento era necessário somente no primeiro mês de vida. Desse
modo, as mães estariam disponíveis para atender os interesses
mercadológico.
Paulatinamente, com o passar dos anos outras legislações
foram apontando para a necessidade de atendimento das crianças em
instituições, até que em 1988 foi promulgada a Constituição Cidadã
que passou a determinar o atendimento na creche como direito da
criança.
- 163 -
liberação da exclusividade do trabalho da mulher das obrigações
domésticas, em busca da superação dos limites da estrutura familiar,
dando-lhe mais condições para a participação no mercado de trabalho.
Dessa forma, a legislação foi compreendida como elemento das
políticas públicas e de regulação social, em sentido amplo dos
interesses sociais e disputa de poder.
Considerações
A sociedade necessitou organizar-se para o atendimento das
crianças pequenas, visto a necessidade da mão de obra feminina no
mercado de trabalho. Levando a uma organização que visava a
otimização da mão da obra feminina, com a ampliação de suas
jornadas de trabalho. As Instituições Educativas Creches tinham como
objetivos principais a guarda da criança, como também diminuir a
mortalidade infantil, visto as más condições de higiene, saneamento
básico e nutrição da época. No entanto, a ampliação de vagas não se
deu de forma que garantisse a qualidade no atendimento.
As Políticas Públicas foram ineficientes para a população, mas
eficientes para o empresariado. Após esse estudo é possível inferir que
a educação das crianças pequenas nunca foi prioridade de Governo,
mantendo o imaginário social do problema dos cuidados da criança
como de esfera familiar, visto que as medidas adotadas foram
- 164 -
paliativas e não supriram as necessidades e direitos das mães e
crianças.
O atendimento não foi visto como direito da criança, somente
com a promulgação da Constituição Federal 1988, os pequenos
passaram a ser consideradas como sujeitos de direitos pela legislação,
no entanto, a representação social ainda leva ao entendimento de que
creche é somente para o atendimento dos filhos das mães
trabalhadoras.
Referências
- 165 -
-mar) 2014. Disponível em: http://www.redalyc.org/
articulo.oa?id=386134010017. Acesso em: 5/01/2019.
DEL PRIORE, M. (Org.). História das mulheres no Brasil. 10. ed. São
Paulo: Contexto, 2013.
- 166 -
OLIVEIRA, R. C. Paulistinha, a Creche Universitária da UNIFESP: a
construção Identitária de uma história multifacetada (1971 a 1996).
Orientadora: Claudia Panizzolo. 231 f. Dissertação de Mestrado (Pós-
Graduação em Educação) –Universidade Federal de São Paulo, Escola
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Guarulhos, 2019.
- 167 -
(Pós-Graduação em Educação: Psicologia da Educação) – Pontifícia
Universidade Católica- PUC. São Paulo, 2015.
- 168 -
Sobre os autores
- 169 -
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e docente no Núcleo de
Educação Infantil- Escola Paulistinha de Educação, da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp). Tem experiência na área de Educação, com ênfase
em Educação Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas:
Formação de professores e Identidade docente.
Leonir Borges
http://lattes.cnpq.br/3847496424650602
Graduação em Licenciatura Plena em História (1992) e Licenciatura em
Pedagogia (2015). Aperfeiçoamento/extensão em Agronegócios, Educação e
Meio Ambiente (2004); Especialização em História e Sociedade (1996) e
Educação Especial e Inclusão (2014); Mestrado em Educação (2004);
Membro e pesquisador do grupo: Políticas Públicas e Educação
(UNICENTRO). Possui experiência nos ensinos Fundamental, Médio, Superior
e Pós-Graduação em nível de Especialização. Desenvolveu, coordenou e
participou de projetos de pesquisas e extensionistas nas áreas das Ciências
Humanas e Ciências Sociais Aplicadas. Doutorado interrompido no Programa
de Pós-Graduação em Psicologia, na linha de pesquisa Subjetividade e
Práticas Sociais na Contemporaneidade, pela Universidade Estadual de
Maringá.
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Milian Daniane Mendes Ivo Silva
http://lattes.cnpq.br/3751003403588807
Possui graduação em Letras - Português e Inglês pela Universidade Estadual
de Goiás (2004), graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de
Goiás (2011) e mestrado em Desenvolvimento Regional - Faculdades Alves
Faria (2015). Professora Concursada pela Secretaria Municipal de Educação
de São Luis de Montes Belos GO, ( Licença para Aprimoramento). Foi gestora
do Centro Mul de Educação de Educação Infantil Valeria Jaime Peixoto Perillo
de 2016/2017. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Educação Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas:
desenvolvimento urbano, políticas públicas. e condições socioambientais.
Fazendo doutorado pela PUC Goiás com linha de pesquisa em Teorias e
Processos Pedagógicos, membra do grupo de pesquisa " Estudos e Pesquisas
Pensamento Educacional Brasileiro GEPPEB".
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Sandra Regina Gardacho Pietrobon
http://lattes.cnpq.br/8437021453245745
Possui graduação em Letras Português/Inglês e, em Pedagogia pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste (2000). Mestre em Educação pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2006). Doutorado em Ensino de
Ciência e Tecnologia, pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná
(2018). Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste, no curso de
Pedagogia do Campus de Irati - Paraná. É líder do grupo de pesquisa - Práxis
educativa: estudos sobre a infância e práticas pedagógicas
(CNPQ/UNICENTRO). Membro do Grupo de Pesquisa - Educação a Distância:
Formação docente para o Ensino de Ciência e Tecnologia (CNPQ/UTFPR).
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