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ARTIGOS

A GINÁSTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O ENSINO ABERTO1

THE GYMNASTIC IN THE PHYSICAL EDUCATION AND THE OPEN SCHOOLING

Taiza Daniela Seron∗


**
Juliana Montenegro
***
Ieda Parra Barbosa-Rinaldi
****
Larissa Michelle Lara

RESUMO
Esse estudo, de caráter descritivo, objetivou a análise de como a ginástica pode ser desenvolvida na educação
física escolar a partir da metodologia do ensino aberto. Por meio da aplicação de aulas de ginástica geral para
alunos do ensino fundamental de uma instituição pública do município de Maringá-PR, apresentamos
encaminhamentos metodológicos para o trato com esse conhecimento. A presente pesquisa constituiu-se de quatro
etapas: estudo de abordagens metodológicas em destaque na área da educação física e seleção de uma delas – no
caso, a do ensino aberto; localização da ginástica na abordagem metodológica escolhida; elaboração e aplicação
de oito aulas de ginástica geral para alunos de quinta série; e, interpretação das experiências de ensino com a
ginástica na educação física escolar. Foram desveladas algumas dificuldades na ação docente com essa abordagem
metodológica, sobretudo pela ausência de uma prática pedagógica que privilegie a subjetividade e a reflexão do
aluno. No entanto, as experiências indicam a viabilidade da ginástica como saber da educação física escolar e
apontam para a necessidade de entendê-la em sua dimensão educacional.
Palavras-chave: Ginástica. Educação física escolar. Ensino aberto.

INTRODUÇÃO das escolas tradicional, tecnicista e


escolanovista, que tenha característica crítica,
A produção teórica na e para a educação social e política voltada, sobretudo, para um
física tem apresentado avanços nos últimos projeto de transformação social. O
vinte anos, sobretudo no que se refere ao trato reconhecimento de que a tematização de uma
pedagógico da área numa dimensão única prática corporal – no caso, a esportiva –
progressista, ou seja, numa perspectiva não dá conta de uma abordagem da educação
educacional de rompimento com paradigmas física em seu campo amplo, complexo e

1
Pesquisa realizada junto ao Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá, no período de
março de 2005 a março de 2006, sendo aprovada em 15/04/2005 pelo COPEP – Comitê Permanente de Ética em
Pesquisa envolvendo Seres Humanos – sob registro n. 0035.093.000-05.

Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá. Professora do Colégio Santo Inácio. Membro do
Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade
**
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá. Professora do Colégio Nobel. Membro do Grupo
de Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade.
***
Doutora em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Professora do Departamento de
Educação Física da Universidade Estadual de Maringá – DEF/UEM. Líder do Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e
Ludicidade.
****
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Professora do DEF/UEM. Líder do Grupo de
Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade.

R. da Educação Física/UEM Maringá,v. 18, n. 2, p. 115-125, 2. sem. 2007


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multifacetado representou um desses avanços, aberto, visando a superação técnica em prol


o que levou ao entendimento da necessidade de um enfoque comunicativo, de valorização
de contemplar outros temas diretamente da realidade do aluno e das experiências
ligados à formação humana. coletivas.
Educadores preocuparam-se em fornecer Especificamente no estudo com a
orientações para uma educação física escolar ginástica, o ensino aberto foi escolhido pelo
guiada por paradigmas diferentes dos fato de carecer de experimentações no espaço
médico-biológicos, tendo nas ciências escolar e por trazer elementos para pensar o
humanas e sociais o eixo norteador. trato com esse conhecimento nas aulas de
Exemplos podem ser arrolados a partir de educação física. A existência de inúmeras
investigações desenvolvidas por Soares et al. manifestações gímnicas levou à seleção de
(1992), Kunz (1994), Freire (1989), Betti uma delas para as experiências de ensino – a
(1991), Grupo de Trabalho Pedagógico ginástica geral (GG) – que, segundo os
(1991), entre outros, que culminaram com o estudos de Ayoub (2003), encontra relações
surgimento de abordagens metodológicas em diretas com o ensino aberto, sobretudo no que
educação física. Tais estudos procuraram se refere ao trabalho desenvolvido pelo GGU
orientar a atuação pedagógica na área no (Grupo Ginástico Unicamp) em relação ao
sentido de ruptura com práticas rompimento com a padronização de
arcaicas/conservadoras como forma de se movimentos técnicos e à (re)significação do
buscar a mudança. campo gestual.
Entre os conhecimentos que integram a O estudo pretende, ainda, contribuir para
pedagogia da educação física encontra-se a ampliar o interesse por investigações voltadas
ginástica. Quando desenvolvida no sistema ao ensino da ginástica nas aulas de educação
escolar, essa prática corporal pode propiciar física, em especial, pelo trabalho com a
condições favoráveis de aprendizado a partir ginástica geral, de modo que essa
do mundo de movimento dos alunos, manifestação possa ser reconhecida,
promovendo a autonomia por meio de uma pesquisada, difundida e tratada com qualidade
ação reflexiva e significativa em estreita no setor escolar. Além do mais, procura
relação com o cotidiano. A escolha do oferecer meios de intervenção pedagógica no
caminho metodológico torna-se crucial para campo da ginástica a partir da metodologia do
que manifestações gímnicas dêem sentido à ensino aberto no sentido de promover o
vida do aluno e à sua formação, não sendo
entendimento dessa abordagem e auxiliar os
tratadas apenas em seus aspectos técnicos.
docentes em sua atuação. O propósito é
A opção por uma metodologia para o trato
orientar o trato com a ginástica, levando os
com a ginástica na escola deu-se a partir da
professores a refletir sobre o papel da
pesquisa realizada entre 2006 e 2007 com os
conhecedores das seguintes abordagens educação física no setor educacional.
metodológicas: desenvolvimentista, Em acréscimo, a pesquisa procurou
construtivista, ensino aberto, crítico- demonstrar que a ginástica geral, quando
superadora, crítico emancipatória, sistêmica e tratada a partir de referenciais teórico-
plural, disponibilizada em Lara et al. (2007). metodológicos críticos, pode se transformar
Tal investigação apontou para a necessidade num valioso recurso pedagógico, oferecendo
de pesquisas voltadas ao campo de ricas experiências aos alunos e contribuindo
intervenção em educação física, o que com sua formação. Há, portanto, necessidade
resultou na visualização de diferentes de o professor compreender a constituição
abordagens metodológicas no setor escolar. cultural desse campo de conhecimento para,
Contudo, esse texto apresenta apenas uma das então, visualizá-lo no sistema formal de
investigações realizadas. O objetivo foi ensino. Com base nisso, entende-se a urgência
analisar como a ginástica pode ser de trato pedagógico com a ginástica como
desenvolvida na educação física escolar a componente curricular na educação física
partir da abordagem metodológica do ensino escolar.

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O ENSINO ABERTO E A GINÁSTICA: UMA A metodologia do ensino aberto apresenta


INTERVENÇÃO POSSÍVEL elementos para nortear o trabalho pedagógico
com a ginástica nas aulas de educação física.
A abordagem metodológica nomeada de Para compreensão dessa abordagem
ensino aberto, idealizada pelos alemães metodológica foram investigadas as seguintes
Reiner Hildebrandt e Ralf Laging (1986), foi obras: Visão didática da educação física:
estudada e defendida no Brasil pelo Grupo de análises críticas e exemplos práticos de aulas,
Trabalho Pedagógico da UFPE e UFSM do Grupo de Trabalho Pedagógico (1991); e
(1991), sobretudo na década de 90 do século Concepções abertas no ensino da educação
XX, quando houve a irrupção de teorias para física, de Hildebrandt, Laging (1986).
crítica e encaminhamento da educação física O Grupo de Trabalho Pedagógico, explica
escolar. O referencial teórico dessa Oliveira (1997), defende uma aula de
abordagem encontra-se baseado na Teoria educação física que relacione o conhecimento
Sociológica do Interacionismo Simbólico e na escolar com a vida de movimento dos alunos;
Teoria Libertadora de Paulo Freire. que aprecie seus interesses, necessidades,
A expressão interacionismo simbólico foi medos e aflições; que não veja o esporte
criada por Herbert Blumer, em 1937, para dar somente como rendimento; que promova a
ênfase aos aspectos "encobertos" e subjetivos aprendizagem do movimento num contexto de
do comportamento humano, acreditando que brincadeiras; que conceba a relação entre
ele só o seria em termos do que as situações movimento, percepção e realização; que
simbolizam, começando pelo próprio proporcione a participação dos alunos em
indivíduo que não meramente responderia aos todas as etapas do processo de ensino-
outros, mas como um "self ativo" que aprendizagem.
responderia também a si mesmo, interagindo Ao abordar o agir metodológico,
socialmente consigo, podendo tornar-se objeto Hildebrandt e Laging (1986, p. 24) afirmam
de suas próprias ações. Já a teoria libertadora, que o professor deve “preparar as situações de
de Paulo Freire, é voltada para o
ensino de tal maneira que estimulem o aluno a
conhecimento aplicado à educação a partir de
agir e que os problemas e questionamentos do
uma concepção dialética em que educador e
aluno possam ser resolvidos por ele, com base
educando aprendem juntos numa relação
na sua condição de poder fazer e de suas
dinâmica.
Embora a abordagem metodológica experiências”. Para os autores, “os diálogos
do ensino aberto não seja recente, tendo um em aula são um elemento importante do
dos idealizadores (no caso, Hildebrandt) ensino aberto” (HILDEBRANDT; LAGING,
estado no Brasil para difundir a proposta, p. 40). Essa ação comunicativa deve estar
além dos esforços dos pesquisadores voltada para o entendimento da educação
brasileiros ligados a essa teoria, sua física, de seus conteúdos e de sua
aplicação prática no contexto escolar ainda é organização.
carente, incerta, desejosa de iniciativas de No que diz respeito à atuação nas aulas,
implementação. Tal ocorrência não se dá Hildebrandt e Laging (1986, p. 15) destacam
apenas com essa abordagem, mas é comum, que os alunos devem agir em co-decisão, ou
também, em outras correntes teóricas que seja, participando “[...] das decisões em
não alcançam, ainda, legitimidade no espaço relação aos objetivos, conteúdos e âmbitos de
escolar. Essa legitimidade está relacionada à transmissão ou dentro deste complexo de
razão de ser da educação física na escola a decisão. O grau de abertura depende do grau
partir de “argumentos plausíveis para a sua de possibilidade de co-decisão. As
permanência ou inclusão no currículo possibilidades de decisão dos alunos são
escolar, apelando exclusivamente para a determinadas cada vez mais pela decisão
força dos argumentos” e não para outras prévia do professor”.
forças (a exemplo de regimes autoritários), Oliveira (1997) afirma que a metodologia
apoiando-se numa teoria da educação. do ensino aberto tem por objetivo trabalhar o
(BRACHT, 1992, p. 37). mundo do movimento de forma que

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proporcione aos alunos autonomia na atuação preestabelecidas pelo esporte


em sociedade. O Grupo de Trabalho institucionalizado. Nesse sentido, eles
Pedagógico (1991) afirma que isso se dá por afirmam que as ginásticas desportivizadas
meio de ações problematizadoras nas quais como, por exemplo, a artística e a rítmica, são
aluno e professor agem conjuntamente por caracterizadas por uma limitação motora.
meio de uma ação comunicativa. As aulas Nelas, apenas parte das possibilidades de
buscam relacionar o conhecimento produzido manuseio dos aparelhos é utilizada (somente
com o cotidiano do aluno para que a ação seja os movimentos que exigem específica aptidão
significativa e reflexiva no sentido de corporal) e a falta da total exploração dos
promover a autonomia do indivíduo frente às aparelhos tem como conseqüência a exclusão
relações estabelecidas com o mundo. A ação de muitos alunos. Os autores sugerem que
pedagógica deve centrar-se nas experiências seja preservada a variedade e vivacidade dos
do educando para conferir a eles movimentos e, para tal, é necessário evitar a
conhecimentos, escala de valores, modelos de fixação de movimentos gímnicos nos modelos
ação, promovendo sua capacidade de agir. esportivos.
A aula no ensino aberto leva em Nessa aula, os gestos ginásticos são
consideração as experiências individuais, baseados nas formas básicas de movimento:
possibilitando a subjetividade e valorizando a trepar, rolar, saltar, equilibrar-se e balançar-
individualidade. Para tanto, três exigências se, num espaço organizado e de forma a
seriam necessárias para análise do princípio superar padrões de movimento e de aparelhos
didático básico do pensamento e da ação próprios das ginásticas competitivas. Câmaras
humana na aula de educação física escolar: de ar, colchões, arcos, bancos suecos, barras
assimétricas, cordas, plintos, pernas-de-pau,
1) professor e aluno planejam a aula
conjuntamente, isto é, os alunos balanços, escadas, entre outros, foram
aprendem a assumir responsabilidade utilizados nessa ação didática, sendo feitas
para o futuro 2) os processos de diferentes acomodações nos aparelhos no
aprendizagem devem ser realizados sentido de possibilitar questões problema-
com abertura às experiências 3) os tizadoras para orientar os alunos na definição
conteúdos de aprendizagem devem de novas situações de movimento, dando
referir-se a relação de vida cotidiana
fora da escola (GRUPO DE
outras significações à gestualidade.
TRABALHO PEDAGÓGICO, 1991, p. Na perspectiva da metodologia do ensino
46-7). aberto, aulas de ginástica devem ser
encaminhadas no sentido de oferecer valiosas
Hildebrandt, Laging (1986) não experiências motoras às crianças por meio de
apresentam, propriamente, a ginástica como situações-problema que conduzam a formas
conteúdo da educação física escolar. Os diversas de movimentos, transpondo a
autores enfatizam a importância de orientar os padronização imposta pelas competições. Os
alunos para que não reproduzam as formas autores destacam que dois modelos devem ser
prescritas dos esportes e de seus aparelhos e superados para o desenvolvimento da
instalações, e para que selecionem os ginástica na escola. O primeiro diz respeito
conteúdos no sentido de propor novas formas aos aparelhos e, o segundo, às regras técnicas
de praticar esportes. Já nos estudos do Grupo de movimento. Sugerem, ainda, que a
de Trabalho Pedagógico (1991) essa idéia é
organização dos movimentos gímnicos seja
desenvolvida a partir de um modelo de aula de
feita segundo as “ações totais de movimento”,
ginástica baseado nos pressupostos teóricos
pois “a classificação do movimento, segundo
da metodologia do ensino aberto.
A aula descrita foca a criação de atividades como pular, trepar, embalar e
movimentos em aparelhos ginásticos balançar torna possível levar em consideração
tradicionais e não tradicionais, ampliando as a tradicional cultura de movimento da
possibilidades de execução à medida que os ginástica, sem se perder nos grandes números
alunos não se prendem às normas de modelos de movimentos”.

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Com base nesses referenciais teóricos é participar da construção de uma realidade


que experiências com a ginástica geral na mais favorável para si e para todos”.
educação física escolar foram desenvolvidas, Referenciais específicos da área sinalizam
levando em consideração, principalmente, a para a importância e o valor da ginástica à
relação do saber gímnico com as atividades vida do ser humano. Além do mais, destacam
cotidianas dos alunos para que esse elementos que contribuem para sua
conhecimento pudesse ser valorizado, legitimação no espaço escolar. Glomb e Lopes
experimentado e por eles transformado. (2003) salientam que a educação física
escolar tem a responsabilidade de garantir às
crianças o acesso às práticas da cultura
A GINÁSTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA motora por meio da ginástica, contribuindo
ESCOLAR para a construção de conhecimentos e sua
reflexão consciente. Todavia, não é essa a
A ginástica é um conhecimento clássico e,
realidade que encontramos nas aulas de
ao mesmo tempo, contemporâneo. Ao longo
educação física. Em muitos casos esse
dos anos passou por muitas transformações,
conhecimento é negado, como nos mostram os
tendo as diferentes manifestações ginásticas
estudos realizados por Nista-Piccolo (1988),
incorporado características específicas que
Barbosa-Rinaldi e Souza (2003), Barbosa-
traduzem finalidades relacionadas com o
Rinaldi e Cesário (2005), que comprovaram a
movimento histórico vivido pela sociedade.
quase-ausência da ginástica na escola. Nesse
Atualmente, podemos citar algumas formas
sentido, Ayoub (1998, p. 125) reforça a idéia
ginásticas com base na classificação de Souza
afirmando “[...] que o processo de limitação
(1997), sendo elas: de competição, de
que vem ocorrendo na Educação Física
condicionamento físico, de conscientização
Escolar brasileira, restringindo o seu conteúdo
corporal, fisioterápicas ou demonstrativas.
ao Esporte e deixando de lado a Ginástica
Tais formas gímnicas, explica Barbosa-
(entre outros temas da cultura corporal), é
Rinaldi (2005), possuem finalidades
muito sério e preocupante”.
diferentes de acordo com suas muitas facetas,
Para ilustrar o que se afirmou
embora façam parte do mesmo núcleo inicial
anteriormente, um estudo realizado no
de movimentos.
município de Maringá-PR, em escolas
A necessidade de socialização dos saberes públicas e privadas, constatou que, dos 24
ginásticos e de sua reapropriação pela professores entrevistados, 45,83% não
sociedade que o produziu pode conduzir os trabalham com a ginástica na escola. As
homens a recuperar seu núcleo científico e justificativas dadas são: faltam material e
sua capacidade expressiva e subjetiva. Desse local adequados; não se consideram
modo, trabalhar com a ginástica nas aulas de capacitados para o ensino desse
educação física escolar constitui desafio, conhecimento; a ginástica não está prevista
considerando-se a complexidade do trato como conteúdo curricular; há falta de
metodológico com esse conhecimento, assim interesse pela ginástica rítmica por parte dos
como as resistências culturais, histórico- alunos. Essas respostas vêm refletir o fato de
sociais e pedagógicas que o permeiam. que os professores estão presos aos modelos
A busca de pressupostos teóricos que padronizados do esporte. A visão que eles têm
visualizem a ginástica como conhecimento a da ginástica é aquela apresentada pela mídia,
ser abordado na escola, fornecendo elementos ou seja, de modelos de movimentos que
para que o professor a desenvolva em suas devem ser reproduzidos, não vislumbrando
aulas, torna-se algo essencial à ação meios diferenciados para seu ensino. O
pedagógica. Isso porque, como afirma resultado é a inércia frente a abordagens
Barbosa-Rinaldi (2005, p. 77), o acesso a esse inovadoras (CORTARELLI et al., 2005).
conhecimento “[...] é direito de todo cidadão No que se refere aos professores que
[...] porque, em conjunto com outras áreas trabalham com a ginástica, os dados mostram
poderá contribuir para que os alunos possam que a maioria visa as manifestações

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esportivas, privilegiando formas de ginástica favorecendo “a cooperação, a capacidade de


institucionalizadas e de alta performance, com ação e autonomia dos educandos como
ênfase na abordagem desenvolvimentista e de sujeitos do processo educativo, para que
aptidão física. Mostram ainda que os possam compor em co-autoria com outros
professores têm conhecimento restrito sobre o sujeitos, buscando novas interpretações,
trato pedagógico da ginástica e não novas leituras, novas significações antes
visualizam possibilidades de seu ensino nas desconhecidas” (p. 32). Além do mais,
aulas de educação física. Assim, quando a adverte Souza (2001), a ginástica escolar pode
ginástica é desenvolvida no espaço se embasar na ginástica geral por suas
educacional não está amparada em qualquer características de inclusão “de participação do
sistematização ou subsídio teórico que maior número de pessoas, de respeito à
fundamente sua prática. individualidade, de estímulo ao
A ginástica geral é pensada a partir de desenvolvimento do potencial e da
elementos que promovam o trabalho com a criatividade de cada indivíduo, de valorização
ginástica na escola, visando apresentar da cultura corporal e de liberdade na sua
caminhos de desenvolvimento dessa utilização como forma de expressão do ser
manifestação. A ginástica geral precede as humano” (p. 26). O tópico seguinte apresenta
ginásticas de competição e representa, as experiências de ensino com a ginástica na
segundo Soares (1999), bem-sucedida escola.
(re)significação das primeiras manifestações
ginásticas presentes nos gestos ousados dos
AS EXPERIÊNCIAS DE ENSINO
acrobatas, na alegria dos funâmbulos e nas
brincadeiras infantis. Caracteriza-se pela As experiências com a ginástica foram
associação dos gestos de diferentes ginásticas, desenvolvidas em uma escola da rede estadual
da dança, do teatro, da capoeira, dos na cidade de Maringá-PR, no ano de 2005. Oito
elementos circenses e de outros elementos da aulas de ginástica geral, trabalhadas sob a ótica
cultura, com ou sem utilização de materiais. da abordagem do ensino aberto, foram aplicadas
Pode se dar a partir dos saberes inscritos na para uma turma de 5ª série do ensino
cultura popular, nos saberes filosóficos, nos fundamental, conforme espaço cedido no horário
saberes artísticos e também nos saberes regular da educação física pela direção da
científicos. Seu desenvolvimento na escola instituição. Essas aulas, mesmo em número de
deve se voltar para a participação de todos e oito, atenderam ao objetivo proposto para a
para o respeito aos limites individuais e pesquisa, levando em consideração a realidade
coletivos. da educação física brasileira que, em sua
As principais características da ginástica maioria, possui 68h anuais a serem distribuídas
geral em âmbito escolar, segundo entre os conhecimentos da área.
classificação de Ayoub (2001), são: não tem a Os dados foram coletados por meio de
competição como foco principal, sendo observação participante e relatórios feitos pelos
marcada pelo prazer e pelo divertimento; alunos ao final de todas as aulas, buscando
possibilita a integração de seus praticantes, a identificar dificuldades e possibilidades na
liberdade de expressão, o prazer e a relação com a ginástica geral, bem como seu
criatividade; abrange todas as ginásticas e envolvimento com esse conhecimento gímnico.
fornece possibilidades para a utilização de As observações voltaram-se para experiências
diferentes tipos de materiais, indumentária e gímnicas na abordagem do ensino aberto e para
música; sua principal forma de manifestação “comentários” realizados pelos alunos durante
se dá por meio de apresentações artísticas. as aulas, sobretudo aqueles que retratassem a
Afirma que a ginástica geral, como parte realidade acerca do conhecimento que tinham
integrante do processo educativo na educação sobre ginástica e formas de realizá-la. Os
física escolar, estimula a construção depoimentos extraídos dos relatórios foram
coreográfica, as experiências, os interesses aqueles que se relacionavam diretamente ao
dos alunos e o trabalho em grupo, entendimento de ginástica e às experiências

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obtidas durante os encontros. O quadro 1 e os encaminhamentos dados às aulas.


apresenta os conteúdos trabalhados, os objetivos

Conteúdo Objetivo Encaminhamento


Aula 1 Manifestações gímnicas. Introduzir o tema “Ginástica Geral” para Discussão sobre o tema. Visualização
Aspectos principais da GG. que os alunos percebam essa da manifestação por meio de gravuras
Possibilidades de trabalho com manifestação nas ações do cotidiano e e vídeo.
GG. visualizem possibilidades de trabalho
com este saber na de EF escolar.
Aula 2 Saltos e saltitos: individualmente, Reconhecer as situações de saltos, Conversa sobre o tema.
com/sobre o colega, com individualmente ou em grupo, Criação de situações de saltos
obstáculos propostos pelo relacionando-os com as situações utilizando materiais diversos.
professor. cotidianas. Discussão sobre as criações.
Aula 3 Flexibilidade. Criar e executar movimentos gímnicos Diálogo sobre os movimentos.
Giros. Equilíbrios. Formas de por meio de atividades práticas em Experimentação e criação em grupos e
andar. Formas de correr. grupo, buscando relacioná-los com as com música. Apresentação das
ações cotidianas. possibilidades criadas. Discussão
sobre a pertinência do conhecimento
para a vida diária.
Aula 4 Rolamento (para frente, para Conhecer e vivenciar alguns elementos Conversa com o grupo para identificar
trás). Roda. Parada de mãos. acrobáticos por meio de discussões e os elementos e perceber o
Parada de cabeça. vivências práticas, para que os alunos entendimento dos alunos acerca do
relacionem esses movimentos com sua tema. Experimentação de movimentos.
vida de movimento. Diálogo buscando relacionar a prática
com o cotidiano.
Aula 5 Colaborações e acrobacias em Compreender e vivenciar acrobacias e Diálogo com o grupo sobre os
trios e sextetos. colaborações por meio de atividades elementos, buscando identificar o
práticas em grupos para que os alunos conhecimento acerca do tema.
conheçam essas manifestações e Experimentação e elaboração de ações
apontem possibilidades por meio de suas de movimentos em grupos.
experiências cotidianas. Discussão sobre a importância desse
trabalho nas ações diárias.
Aula 6 Manejo dos aparelhos e Criar possibilidades de movimentos por Dialogar com a turma para identificar
combinação de elementos meio de atividade prática (com uso de os aparelhos de ginástica conhecidos e
gímnicos. diversos aparelhos) para que os alunos entender como visualizam as formas
descubram suas próprias capacidades. de utilizá-los. Exploração dos
aparelhos. Apresentação dos elementos
criados.
Aula 7 Composição coreográfica. Elaborar uma composição coreográfica Resgate das criações anteriores por
Elementos gímnicos. Manuseio e utilizando os elementos corporais e os meio de diálogo. Escolha da música.
utilização de materiais. materiais trabalhados em aula, Construção e experimentação de um
proporcionando um espaço de material de jornal para a coreografia.
criatividade e subjetividade. Apresentação do que foi criado e
discussão final.
Aula 8 Composição coreográfica; Concluir a composição coreográfica por Resgatar os materiais e as composições
Elementos gímnicos; Manuseio e meio de trabalho coletivo, construídas. Apresentação da
utilização de materiais. proporcionando um espaço de coreografia.
criatividade e respeito mútuo, Reflexão e discussão final.
relacionando-a com as ações cotidianas.
Quadro 1 – Síntese das aulas de ginástica geral ministradas para a 5ª série do ensino fundamental.

Fonte: Os autores
Grupo de Trabalho Pedagógico (1991) anteriores, mantendo estreita relação com seu
salienta que a primeira fase da aula, na cotidiano. Na segunda fase da aula ocorrem
abordagem do ensino aberto, deve ser destinada discussão e experimentação das perspectivas de
à sua organização por meio de diálogos que ações sugeridas pelos alunos. Por fim, na
permitam aos alunos a visualização das terceira fase são apresentados e discutidos os
possibilidades de ação pelas experiências desafios dos movimentos construídos a fim de

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verificar formas de utilizá-los em situações reais integrantes do mesmo grupo. Houve dificuldade,
da vida diária. por parte dos alunos, em resolver os problemas
Na primeira aula, Conhecendo a que foram propostos, pois não visualizavam
ginástica geral, foram utilizados vídeos, soluções práticas para as indagações. O grupo
gravuras, exposição oral e diálogos para que os que trabalhou giro não conseguiu criar
alunos pudessem conhecer a manifestação. praticamente nada, tendo alguns perguntado:
Questionamentos foram feitos com freqüência “Como que vou girar?” “Não dá pra fazer
para levá-los a refletir sobre o tema proposto e nada!” “Podemos trocar de tema?”. Isso
sua relação com o cotidiano. A ginástica foi refletiu o fato de que, durante as aulas de
identificada pelos alunos a partir de um prisma educação física, esses movimentos ainda não
competitivo ou de condicionamento físico, tinham sido vivenciados e refletidos. A relação
especialmente quando feita a seguinte pergunta: com o cotidiano não foi feita pelos alunos,
“O que vocês pensam quando se fala em inicialmente, apesar de ser uma das questões
ginástica?”. A primeira resposta foi: “Daiane levantadas pelo professor. Tornou-se necessário
dos Santos”. Surgiu também: “Ginástica de intervir e levá-los a pensar sobre tais aspectos a
academia”. No entanto, ninguém mostrou partir de questões problematizadoras.
conhecimento acerca da ginástica geral. A A quarta aula desenvolveu o tema
resposta à pergunta: “Que tipo de ginástica Acrobáticos. A importância desse conhecimento
vocês conhecem?” reforçou esse aspecto: para a vida cotidiana foi destacada e também o
“Ginástica rítmica desportiva. “Ginástica de “cuidado” com o outro na realização dos
academia”. “Ginástica olímpica”. A movimentos. Algumas crianças ficaram receosas
dificuldade dos alunos em pensar e relacionar o em executar determinados movimentos, vendo
conhecimento da ginástica com as práticas do as experimentações acrobáticas como
cotidiano foi evidente. Para eles, a única forma “elementos mais perigosos”, ou ainda,
de se praticar ginástica é aquela dos modelos “elementos que as pessoas voam no ar”. Em
competitivos ou de academia, o que dificulta a geral, os meninos apresentaram-se empolgados e
percepção de outras experiências gímnicas. foram mais ousados na execução dos elementos.
A próxima aula teve como tema Saltar e As meninas mostraram-se cautelosas, embora
saltitar. Foram apresentados elementos próprios interessadas. A falta de vivência com certos
do saltar e saltitar com utilização de materiais movimentos simples (como o rolamento, a roda,
que servissem de obstáculos e na forma de a vela, entre outros) levou os alunos a enxergar
estações para que os alunos experimentassem esses gestos e, até mesmo, a ginástica como algo
cada uma delas. Posteriormente, todos os impossível de se praticar.
materiais foram rearranjados de modo a A quinta aula trabalhou o tema Unidos pela
construir novas formas de movimento. A partir ginástica. Foram realizadas acrobacias com
dessa aula verificou-se o quanto os alunos colaborações por meio de uma estratégia
tinham dificuldade em criar, já que essa não era metodológica que permitiu aos alunos criar
uma prática constante nas aulas regulares de formas diferenciadas de movimentos.
educação física. Eles sempre estiveram presos a Dificuldades foram sentidas com o trabalho em
modelos impostos pelo professor e à sua mera grupo pois alguns alunos não estavam à vontade
realização. Falas dos alunos ajudam a entender com os colegas. Deslumbrados com as formas
essa problemática: “É assim que é para gestuais que iam sendo criadas, alguns grupos
saltar?”. “Podemos tirar as caixas do lugar?”, formaram “pirâmides humanas”, atividade que
“Podemos tirar a corda do chão e amarrar nas levou a um melhor entrosamento entre eles. Ao
caixas?”, “Podemos abrir as caixas?”. final da aula, os alunos perceberam a
Na terceira aula, o tema foi Flexibilidade, importância das boas relações nas atividades
giros, equilíbrios, formas de andar e de correr. cotidianas.
Os alunos, em pequenos grupos e por meio de O tema da sexta aula foi Os aparelhos e as
diálogo, deveriam apresentar respostas às possibilidades gímnicas, sendo apresentados
questões levantadas pelo professor, e também às dois tipos de materiais: os tradicionais e os
que eventualmente surgissem entre os alternativos. Como materiais tradicionais foram

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utilizados: cordas, bolas e arcos − característicos CONSIDERAÇÕES FINAIS


da ginástica rítmica. Os aparelhos alternativos
foram: trampolim (de pneu), bastões e caixas de A realização dessa pesquisa possibilitou
papelão. Os aspectos que chamaram atenção conhecer e entender como a ginástica é
durante a aula estão relacionados à forma dos visualizada na metodologia do ensino aberto. No
alunos trabalharem com os materiais. Em geral, decorrer do estudo, o trato com essa prática
as bolas de borracha foram utilizadas para jogar corporal foi descrito, sendo detectados
basquete, futsal, handebol e voleibol, e as bolas problemas decorrentes das experiências
de meia não foram nem sequer mexidas. Alguns realizadas com alunos de 5ª série do ensino
alunos chegaram a afirmar que não dava para fundamental.
fazer nada com elas. A corda não foi utilizada de A idéia de propor esse estudo com a
outra forma além da tradicional. Os bastões ginástica esteve ligada à preocupação com a
foram trabalhados quase que, exclusivamente, intervenção na educação física. O trato
como se fossem espadas. Os arcos foram pedagógico com a ginástica foi pensado na
explorados de formas variadas e as caixas de escola haja vista que esse é o espaço onde os
papelão rasgadas, embora poucas criações conhecimentos podem ser de fato socializados
tivessem surgido delas. O trampolim foi o pelo acesso garantido a todos. Entretanto, na
material que mais chamou atenção dos alunos. atualidade, sabemos que nem todas as pessoas
Em geral, foram observadas experiências podem desfrutar dessa realidade e que, por
restritas durante a criação por meio do manuseio motivos diversos, a ginástica não é trabalhada.
dos materiais e a influência do esporte na A pesquisa em questão procurou apresentar
determinação de alguns movimentos. A uma possibilidade de aplicação da ginástica para
intervenção foi feita, porém, a maioria dos os alunos na escola a partir do ensino aberto,
alunos não conseguiu enxergar possibilidades mostrando que esse saber pode se concretizar
diferentes, apresentando, ainda, dificuldades em nas aulas de educação física de maneira
usar o diálogo para solução dos problemas. significativa. O conhecimento aqui produzido
Nas sétima e oitava aulas os alunos criaram poderá fornecer elementos para os profissionais
coreografia fazendo uso de jornal. Exploraram que estudam e trabalham com a ginástica, bem
esse material individualmente e em pequenos como para aqueles que iniciam reflexões com as
grupos, elaboraram composição coreográfica a questões metodológicas da área.
partir dos movimentos gímnicos trabalhados em O ensino aberto, por meio de ações
aulas anteriores e foram capazes de criar suas problematizadoras e da ação comunicativa, visa
próprias composições. Em relação às promover no aluno a capacidade de agir,
experiências de criação com jornal, um dos conferindo conhecimentos que o levem a
entender a importância das práticas corporais em
alunos relatou: “Com as aulas, eu aprendi que
um contexto social amplo. Contudo, essa
com o jornal podemos fazer fita de ginástica
abordagem, pelo foco no processo de
rítmica desportiva, bolas e muito mais. Nós
comunicação na tentativa de resolução dos
apresentamos apenas com jornal, e vimos que
problemas surgidos ou provocados em aula pelo
podemos fazer muita coisa com o jornal”.
professor a partir das experimentações
Os relatos dos alunos refletem como se propostas, desloca a dimensão histórica para
deu a apropriação dos conteúdos e de como segundo plano. Daí o entendimento de que essa
esse processo foi importante para que abordagem carece de complementações que
aprendessem criando e resolvendo problemas, levem os alunos à percepção do
mesmo com dificuldades para dialogar no sentido/significado histórico das práticas
grupo. A educação física, por meio das corporais como produção cultural resultante das
experiências com a ginástica, foi percebida de relações sociais estabelecidas.
modo diferente da realidade com que os A ginástica geral, por sua vez, atende às
alunos estavam habituados, contribuindo com orientações de romper com os modelos das
o entendimento de como a co-participação no ginásticas competitivas quanto aos aparelhos, às
processo é essencial para o desenvolvimento instalações e regras rígidas, visto que acolhe
da prática pedagógica. utilizações diversas dos materiais tradicionais e

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não tradicionais, além de ter uma dimensão acrescentar conhecimentos ao universo gímnico
demonstrativa, de valorização das diferenças e dos alunos e, consequentemente, à sua vida.
da mescla de gestualidades de muitas práticas Sintetizando o exposto até então é possível
corporais. afirmar que: a) existem resistências quanto ao
O referencial teórico da abordagem ensino da ginástica na educação física escolar,
metodológica do ensino aberto é permeado de mas também há interesse pelo aprendizado de
exemplos de experiências escolares com o novos saberes; b) em geral, as dificuldades de
intuito de indicar formas de trabalho com a trato com o ensino aberto ocorrem porque o
proposta. No entanto, constatou-se, nessa referencial teórico deixa lacunas (entendendo
metodologia, certa carência de um trato mais que essa abordagem não constitui “modelo”,
elucidativo da ginástica, limitações referentes ao dando abertura a novas complementações e
como atuar pedagogicamente, o que motivou intervenções a serem preenchidas pelo
experimentações com a ginástica geral na professor), gerando, em alguns momentos,
abordagem em questão. Também foram insegurança na aplicação da metodologia; c)
encontradas dificuldades em trabalhar com essa essa abordagem metodológica encontra-se aberta
abordagem na escola porque, mesmo que o a diferentes interações didáticas, sendo viável
professor incite os alunos a se posicionar e a para o ensino da ginástica na escola, sobretudo
criar, essas ações problematizadoras e
se fizer parte da rotina escolar desde os
comunicativas ainda não fazem parte de sua
primeiros anos para que a criança desenvolva e
cultura escolar.
pratique os diálogos na busca de resolução de
Entre os problemas enfrentados na pesquisa
problemas e ampliação das relações sociais que
encontra-se o conhecimento limitado dos alunos
estabelece; d) o trato com a ginástica na
em relação ao saber gímnico. A concepção de
ginástica apresentada inicialmente adveio dos educação física escolar, na perspectiva do ensino
modelos de alto rendimento e de academia aberto, pode contribuir para a formação
veiculados pela mídia. Os alunos não humanizadora do aluno; d) independente de
visualizavam a possibilidade de praticar a concretizar o ensino aberto ou qualquer
ginástica, vista por eles como constituída de abordagem metodológica, o fundamental é o
movimentos difíceis que só poderiam ser desenvolvimento de uma prática crítica e
realizados por atletas de alto nível. Os alunos consciente, capaz de conduzir os alunos à
apresentaram dificuldade em manter diálogo e responsabilidade por uma realidade social
também de relacionar o conhecimento gímnico favorável e justa.
com as ações do cotidiano. Esperavam pela Espera-se que o presente trabalho elucide
resposta do professor para a resolução dos questões metodológicas que envolvem a
problemas e, durante as criações, reproduziam, educação física e a ginástica, incite os
na maioria das vezes, movimentos relacionados professores a buscar caminhos para as
a alguns esportes, como o futebol, o voleibol e o inquietações que norteiam sua prática
handebol. pedagógica e também colabore para o processo
No que se refere ao campo de conhecimento de inserção do conhecimento gímnico nas aulas
da ginástica e à realidade encontrada no âmbito de educação física. Para os educadores que já
escolar, alguns avanços foram alcançados no estudam e vivenciam a ginástica no âmbito
tocante às questões metodológicas e escolar, almeja-se que tais reflexões possam
pedagógicas de trato com esse saber. O trabalho contribuir diretamente para o desenvolvimento
desenvolvido na escola levou os alunos a de seu trabalho, reforçando a ação em defesa da
visualizar uma outra educação física, além de legitimação desse conhecimento na escola.

THE GYMNASTIC IN THE PHYSICAL EDUCATION AND THE OPEN SCHOOLING

ABSTRACT
This study, of a descriptive character, had as objective the analysis of how gymnastics can be carried out in the physical
education teaching in the open schooling methodology. By applicating general gymnastic classes to fundamental schooling
students from a public school in the city of Maringá, Paraná state, we present the methodological pathways to deal with this

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knowledge. The present research was performed in four stages: a study of the important methodological approaches in the
area of physical education and the selection of one of them – in this case, the open teaching; the location of gymnastics in the
chosen methodological approach; elaboration and application of eight classes of general gymnastic to fifth grade students;
and, interpretation of the teaching experiences with gymnastics in the schooling physical education. Some difficulties were
verified in the docent action using this methodological approache, most by the absence of a pedagogic practice that valorizes
the subjectivity and the student reflection. However, the experiences indicate gymnastics viability as a subject in physical
education knowledge and point s out the need to understand it in the educational dimension.
Key words: Gymnastic. Schooling physical education. Open schooling.

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Endereço para correspondência: Profª. Drª Larissa M. Lara, Profº. Drª. Ieda Parra Barbosa Rinaldi. Universidade
Estadual de Maringá. Departamento de Educação Física. Av. Colombo, 5790. CEP
87020-200 - Maringá-PR, Brasil. E-mail: lmlara@uem.br; parrarinaldi@hotmail.com

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