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https://lacavernadefilosofia.files.wordpress.com/2008/10/brentano_psicologia_desde_un_punto_de_vista_empirico.pdf
Que carácter positivo [para o fenômeno psíquico] poderíamos, pois, indicar? Ou acaso não há
nenhuma definição positiva, que valha conjuntamente para todos os fenómenos psíquicos? A.
Bain pensa que de fato que não há nenhuma.1 Sem dúvida, e os antigos psicólogos chamaram a
atenção sobre uma especial afinidade e analogia que existe entre todos os fenómenos psíquicos,
e da qual os fenómenos físicos não fazem parte.
Todo fenómeno psíquico está caracterizado pelo que os escolásticos da Idade Média chamavam
de a inexistência2 intencional (o mental)3 de um objeto, e que nós chamaríamos, se bem que
com expressões não inteiramente inequívocas, de referência a um conteúdo, direção a um
objeto (pelo qual não há que se entender aqui uma realidade), ou a objetividade imanente. Todo
fenómeno psíquico contém em si algo como seu objeto, se bem não todos do mesmo modo. Na
representação há algo representado; no juízo há algo admitido ou recusado; no amor, amado;
no ódio, odiado; no apetite, apetecido, etc.4
Porém, também aqui nos deparamos com discussões e oposições. Em especial, Hamilton nega
a propriedade indicada a uma classe tão ampla de fenómenos psíquicos, a saber, a todos aqueles
que ele denomina sentimentos (feelings), prazer e dor, em suas muito variadas espécies e
matizes. Com respeito aos fenômenos do pensamento e o apetite: manifestamente, não há
pensamento sem um objeto pensado, nem apetite sem um objeto apetecido. “Por sua vez, diz,
1 BAIN, Alexander. The senses and the intellect. Introd. London: J.W.Parker &Son. 3ª ed.:1898.
2 Esta palavra não significa a ‘não existência’, mas a ‘existência em’. (N. del T.)
3Também a expressão “estar objetivamente em algo”, que, se usada hoje, teria sentido inverso, como designação de uma existência
real fora do espírito. A expressão “ser objetivo em sentido imanente”, que se usa às vezes no mesmo sentido. (N. do T.: “ou
meramente ‘existência intencional’; o prefixo ‘in-‘ não indica negação, mas localização, indicando existência na mente”.)
4 No original, nota explicita o uso do conceito em Aristóteles, Fílon de Alexandria, Santo Agostinho, Santo Anselmo, que no
argumento ontológico para a existência de Deus terias “considerado a existência mental como existência real”, e São Tomás de
Aquino, que ensinou que “o pensado está intencionalmente em quem pensa; o objeto do amor, no amante, o apetecido, em quem
apetece.”. [N. do T.]
nos fenômenos do sentimento (os fenômenos do prazer e da dor), a consciência não representa
diante si a impressão ou estado psíquico, não o considera apartado de si (apart), senão que, está
fundida em unidade com ele, por assim dizer. A peculiaridade do sentimento consiste em que
nele não há nada há nada, fora do subjetivamente subjetivo (subjectively subjetive); não se
encontra nem um objeto distinto do eu, nem nenhuma do eu”.5 No primeiro caso, havia algo
“objetivo”, segundo o modo de expressar-se de Hamilton; no segundo, algo “objetivamente 2
Sem dúvida, o que Hamilton diz não é completamente exato. Certos sentimentos se referem,
inegavelmente, a objetos que a própria linguagem indica, mediante as expressões de que se
serve. Dizemos que nos alegramos de algo ou por algo, que nos entristecemos ou nos magoamos
por algo; e também se diz: isto me alegra, isto me doe, isto me faz mal, etc. A alegria e l tristeza,
o mesmo que a afirmação e a negação, o amor e o ódio, o apetite e a aversão, seguem
claramente a uma representação (ideia) e se referem ao representado (ideado).
Inclinar-nos-íamos a assentir com Hamilton, sobretudo, naqueles casos nos quais, como vimos,
sedemos mais facilmente à ilusão de que o sentimento não tem por base nenhuma
representação, como, por exemplo, no caso da dor provocada por um corte ou uma
queimadura; porém, o motivo não é outro que a propensão a esta suposição, errônea, como
vimos. Mesmo Hamilton reconhece, como nós, o fato de que as representações formam o
fundamento dos sentimentos, sem exceção, e, portanto, também neste caso. Com isso, sua
negação de que haja um objeto que corresponda aos sentimentos torna-se ainda mais
surpreendente.
Uma coisa há que se acrescentar: o objeto ao qual um sentimento se refere não é sempre um
objeto externo. Quando ouço um acorde, a satisfação que sinto não é propriamente uma
satisfação pelo som, mas uma satisfação pela audição. Talvez inclusive se possa dizer, não sem
motivo, que se refere a si mesma de certo modo, e que, portanto, resulta, mais o menos, o que
Hamilton diz: o sentimento está “fundido em unidade” com seu objeto. Porém, isto acontece do
mesmo modo em muitos fenômenos da representação e do conhecimento, como veremos na
investigação sobre a consciência interna. Sem dúvida neles há uma inexistência mental, um
sujeito-objeto, para dizer com as palavras de Hamilton; o mesmo, portanto, sucederá com
aqueles sentimentos. Hamilton não tem razão quando diz neles tudo é “subjetivamente
§ 6. Os fenômenos psíquicos só podem ser percebidos pela consciência interior; para os físicos
só é possível a percepção exterior.