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BRENTANO, F. (1874), Psychologie vom empirischen Standpunkt. Leipzig: Duncker & Humblot, Livro II, Cap. I, § 5, pp.

115-8

Psicología desde un punto de vista empírico, trad. H. Scholten, pp. 81-6.

https://lacavernadefilosofia.files.wordpress.com/2008/10/brentano_psicologia_desde_un_punto_de_vista_empirico.pdf

§ 5. É característica dos fenômenos psíquicos sua referência a um objeto. 1

Que carácter positivo [para o fenômeno psíquico] poderíamos, pois, indicar? Ou acaso não há
nenhuma definição positiva, que valha conjuntamente para todos os fenómenos psíquicos? A.
Bain pensa que de fato que não há nenhuma.1 Sem dúvida, e os antigos psicólogos chamaram a
atenção sobre uma especial afinidade e analogia que existe entre todos os fenómenos psíquicos,
e da qual os fenómenos físicos não fazem parte.

Todo fenómeno psíquico está caracterizado pelo que os escolásticos da Idade Média chamavam
de a inexistência2 intencional (o mental)3 de um objeto, e que nós chamaríamos, se bem que
com expressões não inteiramente inequívocas, de referência a um conteúdo, direção a um
objeto (pelo qual não há que se entender aqui uma realidade), ou a objetividade imanente. Todo
fenómeno psíquico contém em si algo como seu objeto, se bem não todos do mesmo modo. Na
representação há algo representado; no juízo há algo admitido ou recusado; no amor, amado;
no ódio, odiado; no apetite, apetecido, etc.4

Esta inexistência intencional é exclusivamente própria dos fenómenos psíquicos. Nenhum


fenômeno físico oferece nada semelhante. Com isso, podemos definir os fenómenos psíquicos
dizendo que são aqueles fenômenos que contêm em si, intencionalmente, um objeto.

Porém, também aqui nos deparamos com discussões e oposições. Em especial, Hamilton nega
a propriedade indicada a uma classe tão ampla de fenómenos psíquicos, a saber, a todos aqueles
que ele denomina sentimentos (feelings), prazer e dor, em suas muito variadas espécies e
matizes. Com respeito aos fenômenos do pensamento e o apetite: manifestamente, não há
pensamento sem um objeto pensado, nem apetite sem um objeto apetecido. “Por sua vez, diz,

1 BAIN, Alexander. The senses and the intellect. Introd. London: J.W.Parker &Son. 3ª ed.:1898.

2 Esta palavra não significa a ‘não existência’, mas a ‘existência em’. (N. del T.)

3Também a expressão “estar objetivamente em algo”, que, se usada hoje, teria sentido inverso, como designação de uma existência
real fora do espírito. A expressão “ser objetivo em sentido imanente”, que se usa às vezes no mesmo sentido. (N. do T.: “ou
meramente ‘existência intencional’; o prefixo ‘in-‘ não indica negação, mas localização, indicando existência na mente”.)

4 No original, nota explicita o uso do conceito em Aristóteles, Fílon de Alexandria, Santo Agostinho, Santo Anselmo, que no
argumento ontológico para a existência de Deus terias “considerado a existência mental como existência real”, e São Tomás de
Aquino, que ensinou que “o pensado está intencionalmente em quem pensa; o objeto do amor, no amante, o apetecido, em quem
apetece.”. [N. do T.]
nos fenômenos do sentimento (os fenômenos do prazer e da dor), a consciência não representa
diante si a impressão ou estado psíquico, não o considera apartado de si (apart), senão que, está
fundida em unidade com ele, por assim dizer. A peculiaridade do sentimento consiste em que
nele não há nada há nada, fora do subjetivamente subjetivo (subjectively subjetive); não se
encontra nem um objeto distinto do eu, nem nenhuma do eu”.5 No primeiro caso, havia algo
“objetivo”, segundo o modo de expressar-se de Hamilton; no segundo, algo “objetivamente 2

subjetivo”, como no conhecimento de si mesmo, cujo objeto Hamilton chama sujeito-objeto;


Hamilton, negando ambas as cosas, no que se refere ao sentimento, nega a ele, de modo mais
decisivo, toda inexistência intencional.

Sem dúvida, o que Hamilton diz não é completamente exato. Certos sentimentos se referem,
inegavelmente, a objetos que a própria linguagem indica, mediante as expressões de que se
serve. Dizemos que nos alegramos de algo ou por algo, que nos entristecemos ou nos magoamos
por algo; e também se diz: isto me alegra, isto me doe, isto me faz mal, etc. A alegria e l tristeza,
o mesmo que a afirmação e a negação, o amor e o ódio, o apetite e a aversão, seguem
claramente a uma representação (ideia) e se referem ao representado (ideado).

Inclinar-nos-íamos a assentir com Hamilton, sobretudo, naqueles casos nos quais, como vimos,
sedemos mais facilmente à ilusão de que o sentimento não tem por base nenhuma
representação, como, por exemplo, no caso da dor provocada por um corte ou uma
queimadura; porém, o motivo não é outro que a propensão a esta suposição, errônea, como
vimos. Mesmo Hamilton reconhece, como nós, o fato de que as representações formam o
fundamento dos sentimentos, sem exceção, e, portanto, também neste caso. Com isso, sua
negação de que haja um objeto que corresponda aos sentimentos torna-se ainda mais
surpreendente.

Uma coisa há que se acrescentar: o objeto ao qual um sentimento se refere não é sempre um
objeto externo. Quando ouço um acorde, a satisfação que sinto não é propriamente uma
satisfação pelo som, mas uma satisfação pela audição. Talvez inclusive se possa dizer, não sem
motivo, que se refere a si mesma de certo modo, e que, portanto, resulta, mais o menos, o que
Hamilton diz: o sentimento está “fundido em unidade” com seu objeto. Porém, isto acontece do
mesmo modo em muitos fenômenos da representação e do conhecimento, como veremos na
investigação sobre a consciência interna. Sem dúvida neles há uma inexistência mental, um
sujeito-objeto, para dizer com as palavras de Hamilton; o mesmo, portanto, sucederá com
aqueles sentimentos. Hamilton não tem razão quando diz neles tudo é “subjetivamente

5 Lect. on Metaph., I, p. 432.


subjetivo”, expressão esta que propriamente se contradiz a si mesma, pois de onde não se pode
falar de objeto, tampouco cabe falar de sujeito. Hamilton afirmava de uma fusão em uma
unidade do sentimento com a impressão psíquica. Toda fusão é uma unificação de várias cosas;
de modo que a expressão figurada, que devia tornar intuitiva a peculiaridade do sentimento,
continua referindo-se a certa dualidade na unidade. Podemos, pois, considerar, com razão, a
inexistência intencional de um objeto como uma propriedade geral dos fenómenos psíquicos, 3

que distingue esta classe de fenómenos da classe dos fenómenos físicos.

§ 6. Os fenômenos psíquicos só podem ser percebidos pela consciência interior; para os físicos
só é possível a percepção exterior.

§ 7. Os fenômenos psíquicos só podem existir fenomenicamente; os físicos podem também


existir na realidade.

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