Você está na página 1de 3

Alexandre Brotto

7 de dezembro de 2015

Anotações de Inteligência e
Realidade
Xavier Zubiri

A filosofia grega considerou inteligir e sentir, como atos de duas


faculdades, pelo fato de serem faculdades e faculdades se revelarem em
atos. O que se deve fazer, no entanto, é nos concentrarmos no modo e não
nas faculdades.
Disso: Kath’ enérgeian: ato de sentir e inteligir enquanto atos.
Katá dynamin: inteligir enquanto faculdade.
Devemos nos ater ao primeiro aspecto: Kath’ enérgeian.
Considerando-se atos não como representações de faculdades, mas como
atos em si.
Para Zubiri, intelecção é inteligência - caráter abstrato da intelecção -
e inteligir é faculdade.
E este estar presente não é determinado pelo dar-se conta. A coisa não está presente
porque eu me dou conta, mas eu me dou conta porque ela já está presente.
O objetivo de Zubiri é alcançar a intelecção como ato de apreensão,
fazendo-o por via de demonstrar como se dá a apreensão sensível.
Afirma que se dê da maneira que se examina a apreensão sensível
animal por se assemelhar a humana. Afirma que há um “puro” sentir
animal. Divide-se a apreensão sensível em três partes:
Capítulo 1: O que é apreensão sensível.
Capítulo 2: Quais são os modos de apreensão sensível.
Capitulo 3: Em que consiste formalmente a apreensão intelectiva?

Cap. 1:

INTELIGÊNCIA & REALIDADE - X. ZUBIRI "1


§ O Sentir: Como processo sensiente se divide em três:

1º- momento de suscitação: difere de momento de excitação, pois


este é momento biofisiológico, definido e portanto divergente do momento
de suscitar. Suscitação é tudo o que desencadeia uma ação animal.
Função: o sujeito de uma função é uma estrutura anatomofisiológica.
Uma fibra muscular ao reagir a algum estímulo.
Ação: é a ação de um corpo animal inteiro.
2º- momento de modificação tônica: todo animal tem um estado
de tônus vital. A alteração deste estado natural de tônus, no qual se
encontra o animal, constitui o momento de alteração/modificação tônica.
3º- momento de resposta: resposta não é reação. Reação está
relacionado a mecanismos efetores, resposta, pode ser, muito
diferentemente uma não reação. Ou seja, uma quiescência.

§ Estrutura formal do sentir:

(…)”a apreensão sensível consiste formalmente em ser apreensão impressiva. Aqui


está o formalmente constitutivo do sentir: impressão.

Impressividade divide-se em três aspectos:

1º: Afecção do sensiente pelo sentido. Afecção não é afeto. O sensiente


não “padece” a impressão. A impressão deve ser um “padecer”, no
entanto, diferentemente do afeto. Afecção como impressão é παθήματ
(pathémata - sofrido). Porém, não é mera afecção.
2º: A impressão não é mero παθος (pathos - sofrer - paixão).
Impressão é momento de alteridade. Impressão é apresentação de algo outro
em afecção. Este outro é definido por “nota”. Nota deriva de se fazer
“noto” em oposição ao ig-“noto”. Observação: nota não existem em
relação a algo, não é nota “de”. Algo como uma nota é algo simples que por
si só é capaz de causar a impressão. Se fazer impressivo.
3º: É a força de impressão com que a nota presente na afecção se impõe ao
sensiente. A força de impressão é variável e vem em várias notas. A força de

INTELIGÊNCIA & REALIDADE - X. ZUBIRI "2


imposição não se mede através da intensidade da afecção. "Uma afecção
forte, pode ter uma força de imposição muito pequena”. E vice-versa.
Uma afecção muito fraca, pode ter uma forca de imposição muito forte.
Zubiri afirma que a filosofia antiga como a medieval não se
aprofundou ao definir o que seja “sentir”, limitando-se a falar dos sentidos
assim como não se preocupou com a definição de παθος (pathos),
tratando somente do que ele passa a definir como afecção.
Assim como Heidegger aponta a negligência da filosofia com respeito
ao ser, deslocando-o para o ente, Zubiri afirma que não se tratou de
inteligir da forma adequada substantivando-os como faculdades diversas,
tratando-as a partir dessa “ontificação”. Em verdade, são uma única
faculdade.

Alteridade para Zubiri.

A) “Alteridade não é somente o caráter abstrato de ser alter1, porque


alteridade não consiste que a afecção nos torne presente algo meramente
outro1";

1 Caráter abstrato de ser alter e algo meramente outro, querem dizer que este outro que afeta como παθος (pathos) o
sensiente, se aprenda como concreto. Apreende-se o alter não somente pela propriedade de ser outro externo;
mas sim consiste num ato de concretização deste outro no sensiente.

INTELIGÊNCIA & REALIDADE - X. ZUBIRI "3

Você também pode gostar