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Alexandre Brotto

18 de dezembro de 2015

Ponto de Vista e Doutrina


Da impossibilidade ontológica de um dúbio caráter da
verdade

Odeio a afirmação de que tudo seja uma questão de ponto de vista. Ponto de vista e
perspectiva não podem e não tem a faculdade de demonstrar a verdade sobre algo qualquer
que seja. Odeio pontos de vista. Pontos de vista querem dizer que todos podem saber a
verdade, ou ter razão, sem saber com certeza exata a respeito de nada. Pontos de vista dizem
que algo pode possuir, ou ter a propriedade de ser, várias verdades. Pontos de vista querem
dizer que a verdade pode ser relativa.
Odeio pontos de vista. Pontos de vista não conduzem a certeza, pois não afirmam algo
por sua completude, mas por sua parcialidade. E se se avalia algo parcialmente, em verdade,
verdade alguma se pode subsumir disso. Se do meu ponto de vista um objeto é cubo e de
outro é um globo, nenhum ponto de vista privilegia ou tem a aptitude de descrever
adequadamente o que se vê. O máximo ao que se pode referir um determinado ponto de
vista é a uma parcialidade da verdade. Mas considerar que de uma determinada perspectiva,
algo seja tanto cubo como globo, constitui argumento falacioso. Se de alguma forma algo se
demonstra de duas formas geométricas diversas, de acordo com os pontos de vista, é porque
não se observou o quadro todo de uma forma completa. Tentar enquadra qual figura poderia
melhor se adequar a ambos os pontos de vista, sendo
cubo para determinado ângulo e globo sob outro vértice
seria a forma correta de se buscar a verdade. Mascarar a
verdade, também, é afirmar que algo não é nem somente
cubo, nem somente globo e assim tão somente. A
verdade será encontrada através da determinação, seja
dedutiva ou empírica, da figura geométrica que se
adeque a ambos os caso.
Perspectiva, por isso, não é momento constitutivo

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de um ente. Não é assim, por conseguinte, mundanidade. É manualidade dentro da
circunvisão do ente dentro de um momento constitutivo do que é circundante. Mundanidade
é o quadro total que compõe a circunvisão do manual dentro de um momento constitutivo
holístico. Uma perspectiva é este quadro supra descrito que considera o “a partir de um”
local. Mundanidade é o que se considera como “ o” local.
Neste momento me aposso dos conceitos de Heidegger para utilizar seus conceitos -
talvez não da forma como usualmente considerado e talvez nem o mesmo tenha essa exata
mesma concepção. Pois o circundante do mundo circundado, descrito por este filósofo,
descreve de uma certa forma o momento constitutivo “a partir” da circunvisão dos objetos e
de sua utilidade, ou manualidade, no mundo do manual, ou seja, também, a partir de como
este objeto “se dá no mundo”.
No entanto, para se considerar a verdade de qualquer “aspecto/objeto” pelo ente
intramundano dentro da mundanidade destituído do caráter da presença (Da-sein) - como a
deste quadro - e necessário que se veja o objeto como ele realmente nos “vem de encontro”
dentro desta “mundanidade”, ou seja, como se mostra o fenômeno, dentro da mundanidade e
não da circunvisão do mundo circundante em sua mundanidade mediana do ente
intramundano. O fenômeno que de um ponto de vista é dito cubo e de outro globo, é,
ontologicamente, um cilindro, ou seja, para uma fenomenologia, o objeto dado não tem
caráter de fenômeno legitimamente a ser considerado. O cilindro só pode ser considerado
dentro da mundanidade. O fenômeno cilindro “nos vem de encontro” dentro de uma
mundanidade no quadro do qual faz parte. Isso, necessariamente, demonstra que o que
anteriormente é descrito como a perspectiva da existência de duas verdades, na realidade
constituem duas mentiras. Que o quadro, tão somente, foi observado pelos observadores de
forma incompleta e precária. Não há ali ponto de vista correto. A soma de todos os pontos de
vista é o “quê” compõe a verdade. A sua divisão em perspectivas é uma falácia - ou duas.
Por isso, reforço, não há dubiedade de pontos de vista. Por isso, odeio doutrinas e as
refuto. De acordo com um ponto de vista, jamais poderá constituir uma verdade ontológica
porque, fundamentalmente desconsidera o “onto” ou ente como forma completa. E assim, é
não somente no mundo da geometria, mas em qualquer aspecto, até esse mundo
fantasticamente pleno de pontos de vista certos que é o jurídico. A análise através da
fenomenologia é, assim, prejudicada, inverídica, inválida para todos os “pontos de vista”. Se
há em alguma doutrina uma consideração ontológica completa, jamais, as conclusões
poderiam divergir de outra análise ontológica completa. Isso só vem a demonstrar que algum

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dos doutrinadores, de pontos de vista divergentes, está deduzindo ou concluindo
erradamente. Se por incapacidade intelectual ou falha de análise do seu objeto, não vem ao
caso, pois a conclusão incompleta e fundada em ponto de vista, é por si só inválida.
Há a dubiedade do aspecto onda partícula do elétron; há a relatividade do espaço-
tempo ou do tempo e do espaço (mas isso dentro de um conceito de vários de mundanidade).
Mas isso só demonstra que a fenomenologia a tais aspectos, ou talvez nossa limitação
sensorial ou intelectual, não sejam hábeis o suficiente para demonstrá-los de forma eficaz, e,
talvez apenas “ainda”, restando somente a sua observação, como correta, e restando em
conceitos incompletos. No entanto, jamais isso tudo é produto de uma perspectiva ou mais
outras. É fundamentalmente “uma” coisa, “uma” a verdade com dupla característica ou
duplo aspecto dentro de mundanidades diversas.
Assim, essa ideia de que hajam verdades de acordo com perspectivas faz concluir que a
verdade seja relativa. Se se assume a relatividade da verdade, se assume também, por
silogismo que está própria afirmação é relativa, ou seja, assim se assume que possa ser
verdade que a verdade também seja única. Tal aspecto da afirmativa da relatividade da
verdade, então nos conduz a afirmativa possivelmente certa de que a verdade seja unívoca e
inquestionável. E se se assume que há possibilidade de que a verdade seja unívoca, como
verdade, através do argumento de que a verdade possa ser relativa, necessariamente, se exclui
o argumento de que a verdade possa ser relativa e por condução do próprio argumento.
Premissa 1:
A verdade é unívoca.
Premissa 2:
A verdade é relativa.
Premissa 3:
Se a verdade é relativa, também pode-se assumir que a verdade seja unívoca.
Premissa 4:
No entanto, se a verdade for unívoca, não pode ser relativa.
Conclusão 1:
Então, se assume que a única verdade unívoca é que a verdade seja relativa.
Conclusão 2:
Logo, se afirmar que a única verdade é que a verdade é relativa, é o mesmo que se dizer
que a própria verdade relativa não pode existir como verdade relativa, portanto, por silogismo
é incapaz de ser a verdadeiro o argumento de que a verdade seja relativa.

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Por argumento final, daí, por simples consunção, a verdade é unívoca. Se alguém pensa
e vê as coisas de forma diversa de você, necessariamente, um está certo, o outro errado.

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