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CAPÍTULO 1

ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA

1.1 - Introdução

O planejamento da operação, o aperfeiçoamento e a expansão de um sistema elétrico


de potência, exigem, em geral, as seguintes análises:
a) estudos de fluxo de carga (determinação das correntes e potências transferidas ao longo do
sistema, magnitude das tensões);
b) cálculos de curto-circuitos (estudos necessários para assegurar que os equipamentos não
serão destruídos devido às solicitações de correntes de curto-circuito e para auxiliar na
regulagem de relés);
c) estudos de estabilidade (estudos requeridos para assegurar que as máquinas rotativas
conectadas ao sistema permanecerão estáveis, em operação, quando ocorrerem falhas no
sistema);
d) estudos de transitórios eletromagnéticos (análises requeridas para analisar, por exemplo,
os efeitos causados por descargas atmosféricas e por chaveamentos nos elementos
componentes do sistema elétrico).
e) estudos de fluxo harmônico (Com o crescente uso dos tiristores em conversores,
inversores, etc., estudos harmônicos também podem ser necessários para analisar os efeitos das
correntes e tensões harmônicas ao longo de um sistema elétrico).
Todos essas análises podem ser realizadas através de simulações em programas digitais.
O engenheiro eletricista adequado para trabalhar em empresas concessionárias de
energia elétrica ou em grandes indústrias, deve conhecer os métodos para realizar os estudos
anteriormente mencionados. Êle deveria, também, saber operar os respectivos programas
digitais e analisar os resultados de tais estudos.
Cada tipo de estudo (fluxo de carga, curto-circuito, transitórios, estabilidade,
harmônicos, etc.) requer que os elementos elétricos constituíntes do sistema (geradores,
motores, transformadores, linhas, etc.) sejam modelados adequadamente para cada estudo.
Assim, uma linha de transmissão, para um estudo de curto-circuito, poderá ter suas
capacitâncias shunt omitidas, sem que o resultado final seja significantemente alterado. Por
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outro lado, para um estudo de fluxo de carga, essas mesmas capacitâncias devem ser incluídas,
sob pena do resultado final ser bastante impreciso.
O presente capítulo objetiva estudar a representação de um sistema elétrico visando as
análises de curto-circuito e de fluxo de carga.

1.2 - Diagrama Unifilar


Para maior facilidade nos cálculos, a maioria dos estudos mencionados são efetuados
pressupondo-se que o sistema elétrico é trifásico balanceado. Para tal, algumas hipóteses
simplificadoras são assumidas:
a) As três fases do sistema são idênticas, ou seja, as linhas de transmissão são transpostas, os
transformadores são simétricos, etc.
b) As cargas, nas 3 fases, são idênticas.

Muito embora essas hipóteses não sejam totalamente corretas, os estudos mencionados
anteriormente, em geral, podem ser assim realizados, sem maiores consequências. A figura
1.1 ilustra um circuito trifásico equilibrado.

L R
L Zg L XL

Ea N R RL
A RL
Zg o XL
N N Ea 120 R R
L L
Ea 240o L L RL
Zg L R XL

L R

Figura 1.1 - Circ. Trifásico: gerador suprindo uma carga trifásica equilibrada, através de uma L.T.

Nessas condições, o sistema poderá ser também estudado por meio de um circuito
monofásico equivalente, composto por uma das três linhas e pelo neutro. Frequentemente,
o circuito é ainda mais simplificado, suprimindo-se o neutro (ver figura 1.2). Esta
consideração é válida porque, com as hipóteses simplificadoras adotadas, a corrente de
retorno é nula, não havendo queda de tensão.
Ao diagrama resultante dessa simplificação, denomina-se diagrama unifilar.
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L R

L Zg ZL
N

A B

Figura 1.2 - Circuito equivalente monofásico da figura 1.

Para cargas conectadas em ∆, a representação unifilar pode ser também utilizada,


bastando que se represente as cargas conectadas em ∆ pelo seu equivalente Y (através de uma
transformação ∆ → Y).

1.3 - Representação dos elementos do sistema

1.3.1 - Linhas aéreas de transmissão:


As linhas de transmissão podem ser representadas por, pelo menos, três categorias
diferentes, dependendo do seu comprimento e do nível de tensão.

1.3.1.1 - Linhas curtas = até 80 Km.


A capacitância shunt para terra (também conhecida por line charging) das linhas
curtas, é pequena e, normalmente, pode ser desprezada:

I
L R
XL
Es CARGA

Figura 1.3: linha de transmissão curta, alimentando uma carga.


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1.3.1.2 - Linhas médias: entre 80 - 250 Km


A figura 1.4 ilustra os dois modos usuais de representação de linhas de transmissão de
porte médio, que são os tipos T nominal e π nominal.

. .
Z/2 Z/2 .
. ZL
Es Y

. .
. Z . ZL
Es Y/2 Y/2

Figura 1.4 - (a) Circuito T; (b) Circuito π

O circuito π é mais usado que o circuito T, uma vez que a localização da capacitância
no meio do trecho acrescenta um nó ao sistema, complicando o problema sob o ponto de vista
matemático.
Tal aspecto pode ser melhor observado através do sistema elétrico de 4 barras ilustrado
nas figuras 1.5( através do modelo T) e figura 1.6 (modelo π).

. .
Z/2 Z/2

. . .
Z/2 Y Z/2

. .
Y Y
. . .
Y
Z/2 Z/2
. .
Z/2 Z/2

Figura 1.5 -Sistema elétrico em anel, com 4 barras, representação em T.

Pelo modelo T da figura 1.5 a matriz de impedância nodal seria de ordem 8 e a matriz
de impedância de malha seria de ordem 5.
A figura 1.6, correspondente ao modelo π, indica que a matriz de impedância nodal
seria de ordem 4 e a matriz de impedância de malha seria de ordem 5. Em geral, os estudos
feitos em computador são realizados através da matriz de impedância nodal que, conforme
5

mostrado, é de ordem menor para a representação π (ordem 4, neste exemplo) do que para a
representação T(ordem 5, neste exemplo).

. . . .
Y/2 Y/2 Y Y

. .
Y/2 . Y/2 .
Z Z

p .
Z
.
Z
.
Z
.
Z
.
Z
.
Z

. .
Y/2 . . Y/2
Y/2 Y/2
.
~ .
Y Y
~

Figura 1.6 --Sistema elétrico em anel, com 4 barras, representação em π.

1.3.1.3 - Linhas longas: acima de 250 Km

Ainda que os modelos π ou T não representem precisamente o fenômeno elétrico, a


maioria dos programas de computador adota o modelo π, para estudos de fluxo de potência,
curto-circuito ou estabilidade, mesmo para linhas longas. Nestas ocasiões, para manter-se a
precisão, adota-se o circuito π -equivalente que está na figura 1.7.

.
Z'
. .
Y'/2 Y'/2

Figura 1.7 - Circuito π-equivalente


Tal circuito possui também uma impedância série e duas admitâncias shunt. Entretanto,
para que uma linha longa seja perfeitamente representada pelo arranjo em π, essas grandezas
devem sofrer asseguintes correções:

&&
& . senh ZY
Z’= Z.Fator de correção de impedância= Z (1.1)
&&
ZY
Analogamente, para a admitância:

&&
& . tgh( ZY / 2
Y’= Y (1.2)
& & /2
ZY
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1.3.2 - Cabos
As capacitâncias dos cabos, para um mesmo comprimento de condutor, são maiores do
que aquelas das linhas aéreas. Assim, exceto para estudos de curto-circuito, mesmo um cabo
curto deve ter sua representação feita através do modelo π.

1.3.3 - Máquinas Síncronas


Antes de se tratar da representação das máquinas síncronas, deve ser ressaltado que:
a) Quando ocorre uma falta num circuito de potência, a corrente que circula é função de:
• forças eletromotrizes internas das máquinas do circuito.
• impedâncias das máquinas.
• impedância entre as máquinas e a falta (trafos e linhas).
b) A corrente que circula em uma máquina síncrona imediatamente após a falta será diferente
daquela que circula alguns poucos ciclos após; bem como daquela que persiste, a qual é
usualmente denominada de corrente de regime permanente.

1.3.3.1 - Transitórios em Circuitos R.L. série


Seja [Vm.sen(ωt + α)] a tensão aplicada a um circuito RL, que terá seu disjuntor
fechado, conforme indicado na figura 1.8.

Figura 1.8 - Circuito elétrico RL, antes de sua energização.


A equação diferencial que descreve este evento é:
di
v(t) = Vm . sen(ωt + α) = Ri + L (1.3)
dt
cuja solução será:

V 
[
i(t) =  m . sen(ωt + α − θ) − e
 Z 
− Rt / L
.sen(α − θ) ] (1.4)
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onde:

[Z] = R 2 + (ωL) 2
θ (fatôr de potência do circuito)= arctg(ωL/R)

Vm 
 Z . [sen(ωt + α − θ )] = componente alternada da corrente
 

Vm  − Rt / L
[
 Z . e
 
]
. sen(α − θ ) = componente contínua da corrente, que decresce

com o tempo. Este decréscimo, também conhecido por atenuação, ocorrerá


mais rapidamente para circuitos que possuírem grandes resistências elétricas.

O fenômeno da presença da componente contínua surge sempre que, em um circuito


RL, houver uma variação brusca da corrente. Assim, também na eventualidade da ocorrência
de um curto-circuito, a componente contínua também surgirá. O valôr da componente
contínua dependerá também do instante α da energização e do fator de potencia θ do circuito.
A figura 1.9, mostra o comportamento da corrente, ao longo do tempo, na condição
Vm
ideal de α - θ = 0. Nestas condições, i(t) = .sen(ωt ) , ou seja, a componente contínua
Z
da corrente i(t) não existirá.

Figura 1.9- Corrente nos primeiros ciclos da energização do circuito da figura 1.8, quando α - θ = 0

No entanto, para a situação, bastante desfavorável, de α - θ = -π


π /2, a componente
contínua da corrente terá o seu valor máximo inicial e − Rt / L e a corrente total será i(t) =

Vm
[sen( ωt + α − θ) + e − Rt / L ] . Esta condição está ilustrada na figura 1.10.
Z
8

Figura 1.10 - Corrente nos primeiros ciclos da energização do circuito da figura 1.8, quando α - θ = -π/2

CONCLUSÃO:
A componente contínua pode ter qualquer valor desde zero até Vm/Z e depende do
valor instantâneo da tensão quando o circuito é fechado e do fator de potência do circuito.

1.3.3.2 - Corrente de Curto-Circuito e Reatâncias de Máquinas Síncronas


A figura 1.9 representa a corrente senoidal de um circuito RL comum, onde apenas
resistências e indutâncias estáticas estão presentes, na condição ideal de total ausência da
componente contínua. Por outro lado se o circuito elétrico possuir não apenas uma reatância
indutiva estática, mas também, por exemplo, uma máquina sincrona, a corrente será do tipo
daquela ilustrada na figura 1.11 e não mais como na figura 1.9. Isso ocorre porque, no instante
do curto, o fluxo no entreferro é muito grande. Após alguns ciclos do surgimento do curto, há
uma redução de fluxo causada pela força eletromotriz da corrente na armadura, comumente
denominada de reação de armadura que fará com que a corrente resultante neste novo circuito
RL, seja do tipo daquela representada pela figura 1.11. Ressalta-se aqui que a figura 1.11 é
uma hipótese ideal, que não inclue o efeito da componente contínua. Incluindo-se o efeito da
componente contínua ter-se-á a curva da figura 1.11 porém assimétrica em relação ao eixo da
abscissa (como na figura 1.10).
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Figura 1.11 - Corrente em uma máquina síncrona, em curto, eliminando-se a componente contínua.

IMPORTANTE:
Os cálculos de curto-circuito em um sistema de potência são efetuados considerando-se
um dos três possíveis períodos do curto-circuito:
a) Período de regime sub-transitório: quando se representa as máquinas síncronas por suas
reatâncias subtransitórias X’’d.
b) Período de regime transitório: quando se representa as máquinas síncronas por suas
reatâncias transitórias X’d
b) Período de regime permanente: quando se representa as máquinas síncronas por suas
reatâncias síncronas Xd.

1.3.4 - Transformadores de Potência


Os transformadores podem ser divididos em três grandes grupos:
a) Transformador com dois enrolamentos
b) Auto-transformadores
c) Transformador com três enrolamentos

1.3.4.1 - Transformador com dois enrolamentos


A figura 1.12(a) mostra o circuito equivalente de um transformador de dois
enrolamentos, quando a relação de espiras, N1/N2 é de 1/N. A figura 1.12(b) representa o
mesmo circuito, porém com todas as reatâncias refletidas ao primário. Considerando-se que Ze
(ou Xm-reatância de magnetização-) >> Z1 + Z’2, em estudos de curto-circuito a mesma poderá
ser retirada, conforme indicado na figura 1.12(c), onde ZT = rT + XT =reatância de dispersão.
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(a) Circuito equivalente para um transformador de dois enrolamentos. (b) Circuito equivalente de um tranf. com grandezas refletidas ao
primário. ( c) Circuito equivalente simplificado

Figura 1.12 - Circuitos equivalentes para transformadores de dois enrolamentos.

1.3.4.2 - Auto-transformador
Z1
R
(N-1) I 2
I1
Ze L L
(1)
E2
V1
V2
( I 1 + I 2)
R Z 2

Figura 1.13 - Circuito equivalente para autotransformador

Da figura 1.13 pode ser escrito que:

V2 = E 2 + ( I 1 − I 2 ) Z 2 (15
.)


V = V + ( N − 1) E + I . Z
 1 2 2 1 1 (16
. )

tirando E2 em (1.5) e levando em (1.6):


11

V1 = V2 + (N - 1)[V2 - (I1 - I2)Z2] + I1.Z1 (1.7)


ou:
V1 = V2.N + I1[Z1 - (N1 - 1)Z2] + I2.Z2(N - 1) (1.8)

Referindo ao enrolamento primário:


V2.N = V’2;
I2/N = I’2 → i2 = I’2.N
Substituindo em (1.8):

∴ V1 = V’2 + I1[Z1 - (N-1)Z2] + I’2.N(N-1)Z2 (1.9)


Que resulta em:
V1 = V’2 + I1 . Za + I’2 . Zb (1.10)

A figura 1.14 ilustra a equação acima:


I 1 Z a Zb I' 2
R R

V1 Z c R V '2

Figura 1.14 - Circuito equivalente de um autotransformador, com as grandezas referidas ao primário

Por outro lado, a figura 1.13 permite tirar a impedância de circuito aberto:
Zoc= Z1 + Ze + Z2
A mesma impedância pode ser obtida da figura 1.14:
Zoc= Za + Zc
Igualando as duas expressões de Zoc:
Za + Ze = Z1 + Ze + Z2
Explicitando-se Zc:
Zc = Z1 + Z2 + Ze - Za (1.11)

Normalmente, o valor de Zc é bastante elevado, razão pela qual não é levado em consideração
em muitos estudos(como nos curtos). Nestas condições, o circuito da figura 1.14 ficará mais
simplificado, como na figura 1.15:
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Za + Zb = Z1 - (N-1)Z2 + N(N-1)Z2 = Z1 - NZ2 + Z2 + Z2 + N2Z2 = NZ2 =


= Z1 + Z2(N2-2N+1) == Z1 + (N-1)2Z2 (1.12)

I 1 I '2

Za + Zb =
= Z 1 + ( N - 1 ) 2 Z2
V1 V 2'

Figura 1.15 -Circuito equivalente simplificado para autotransformador

1.3.4.3 - Transformador de três enrolamentos

a) - Representações unifilares usualmente adotadas

; ;

Figura 1.16 - Representações usuais de transformador de 3 enrolamentos

b) - Circuito equivalente
Recordando o transformador de 2 enrolamentos, onde Z% = Z1% + Z2%:

Figura 1.17 - Circuito equivalente de transformador de 2 enrolamentos

Para transformadores de 3 enrolamentos;


13

Figura 1.18 - Circuito equivalente de transformador de 3 enrolamentos

Tal como para o transformador de 2 enrolamentos, Ze, em geral, possui valor bastante
elevado e o circuito equivalente se torna:

Z2 [ p.u. ]

Z 1 [ p.u. ]
Z3 [ p.u. ]

_____________________________
(a)

Z2' 2
L
Z1
1 L
Z3'
3
V1 L V 2'
V 3'

(b)

Figura 1.19 - Circuitos equivalentes simplificados de transformador de 3 enrolamentos


(a): Modelo genérico- (b) Modelo com todasas impedâncias referidas ao primário

OBSERVAÇÕES:
Considerando apenas a ligação de uma carga ao 2ário, a impedância do transformador será:
Z12 = z1 + z2 (1.13)
ário
Por outro lado, caso se tivesse uma carga conectada no 3 (e apenas ali):
Z13 = z1 + z3 (1.14)
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Em uma seção posterior, será mostrada a maneira de se obter as impedâncias Z1, Z2’ e Z3’ em
p.u.

1.4 - QUANTIDADES “POR UNIDADE”-p.u.-


1.4.1 - Considerações Gerais:
Existem vários motivos para o uso das unidades das grandezas relativas a
impedâncias, correntes, tensões e potência em valores percentuais ou por unidade ao invés
de se usar OHMS, ampéres, volts e MVA. São muitas as vantagens do uso do p.u.. Por
exemplo, os dados em p.u. são mais significativos e facilmente correlacionáveis:
• Considere que a resistência de armadura de uma Máquina seja de 5,3Ω..
Este valor é grande ou pequeno?
• Um valôr de tensão 95 KV é alto ou baixo?
Se esse valores fossem dados em p.u., ter-se-ia mais “visão” do “tamanho” da resistência de
5,3Ω. ou da tensão de 95 KV, conforme será visto em seguida.

O valôr em p.u. de de qualquer grandeza é definido por:


valor real da grandeza
Valor “por unidade” = , ambos sendo medidos na mesma
valor base (ou referencia )
unidade.

Exemplo: Em um sistema cuja base de tensão é 132 KV, a tensão de 140 KV pode ser
140
expressa por: = 1,06[ p. u.]
132

OBSERVAÇÕES
a) A escolha do valôr base é arbitrário.
b) Para um dado sistema elétrico, os valores base normalmente escolhidos são tensão e
potência. Os valores base da corrente e impedância são calculados a partir dos dois primeiros.
c) O ângulo de fase não é alterado, quando se usa o p.u.
d) Para um sistema monofásico, cujos valores base são:
Potência base: Mb [VA]
Tensão base : Vb [V]
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A base de corrente será:


Mb
Ib = [A ] (1.15)
Vb

e a base de impedância será:

Vb Vb Vb 2
Zb = = = [ Ω] (1.16)
Ib Mb / Vb Mb

1.4.2 - Efeito do uso de p.u. nos transformadores


A figura 1.20 mostra o circuito equivalente de um transformador de dois enrolamentos.

I1 1: N I2
L
Z1
V1 = Base de tensão L L V2
no primário

Figura 1.20- circuito equivalente de um transformador de dois enrolamentos

Nesta figura tem-se:


1/N : relação de espiras do primário para o secundário.
V1: tensão base do primário
V2 :tensão base no enrolamento secundário: = V1.N
I1: corrente base no primário
I2: corrente base no enrolamento secundário: = I1/N

A partir dessas informações, pode-se tirar o seguinte:

• Potência base no primário: V1 . I1


I1
• Potência base no secundário: V2.I2 = (V1.N). = V1 .I1
N

• Impedância primária referida ao secundário: Z’1 = Z1.N2


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• Impedância primária referida ao secundário em p.u.:


Z1,( Ω ) Z1 (Ω ). N 2 Z1 ( Ω ). N 2 Z1 (Ω ). N 2 Z1 ( Ω )
Z’1(p.u.) = = = = = (1.16)
Zbasesec( Ω ) V2 / I 2 V1 . N V1 2 Zbase prim( Ω )
.N
I1 / N I1

Por outro lado, sabe-se que a impedância primária, em p.u.é:


Z1 ( Ω )
Z1(p.u.) = (1.17)
Zbase prim( Ω )

Comparando as expressões (1.16) e (1.17), de Z1(p.u.) e Z’1 (p.u.), tem-se que:


Z1(p.u.) = Z’1 (p.u.) (1.18)

CONCLUSÕES:
1) O valor da impedância do transformador, em p.u., é o mesmo em ambos os lados do
transformador.
Assim, quando a rede contém transformadores e, se valores “p.u.” são utilizados, não
há necessidade de se referir todas as impedâncias para um mesmo enrolamento do
transformador: o transformador pode ser tratado como uma impedância série.

2) Quando existe um transformador de dois enrolamentos em um sistema e, se são usados


valores em p.u.:
a) A potência base é a mesma em ambos os enrolamentos.
b) A base de tensão no secundário é dependente da relação de espiras do
transformador.
c) Duas redes, acopladas por um transformador de dois enrolamentos (portanto
operando com tensões diferentes), deverão ter bases de tensões (e correntes)
diferentes, que são relacionadas entre si através da relação de espiras do transformador.
d) A análise e as conclusões anteriores podem ser estendidas para transformadores de
qualquer número de enrolamentos.
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1.4.3 - Quantidades por Unidade em Circuitos Trifásicos


Em um sistema trifásico, seja Vb a tensão base entre fases e Mb a potência base
trifásica, em volts e volt-ampéres, respectivamente. A correspondente corrente base será dada
por:
Mb
corrente base: Ib = [A ] (1.19)
3. Vb
A impedância base será:

Vb Mb Vb 2
Zb = = [Ω] (1.20)
3 3Vb Mb

NOTAS:
1) Normalmente trabalha-se com a potência em MVA ou MW e a tensão em KV.
Considerando a potência trifásica como sendo M [MVA] e a tensão fase-fase V [KV], as
seguintes expressões também podem ser usadas:
M [ MVA].10 3
Corrente base, em [A] = (1.21)
3.V [ KV ]

Impedância base, em [Ω] = (V[KV])2/M[MVA] (1.22)

2) É útil poder mudar uma impedância Za de uma base “A” para uma nova base “B”, onde as
bases de tensão e potência são diferentes. Sejam:
Ma e Va → base do sistema “antigo”
Mb e Vb → base do sistema “novo”
Za - impedância do sistema “antigo”
Zb - impedância que se quer obter, no sistema “novo”

Esta transformação poderá ser feita através da seguinte equação:


2
( KVa )2 Mb  KVa  Mb
Zb ( pu ) = Za ( pu ). . = Za ( pu )  . [ p. u.] (1.23)
{
nova Ma ( KVb)2  KVb  Ma
base
18

1.4.4 - Impedâncias por unidade, de transformadores de 3 enrolamentos


Ao contrário dos transformadores de 2 enrolamentos, onde as potências fornecidas ao
1ário e entregue ao 2ário, são praticamente iguais, nos transformadores de 3 enrolamentos, a
potência fornecida ao 1ário corresponde aproximadamente à soma vetorial, das potências
entregues ao 2ário e 3ário.”
Assim sendo, o enrolamento 1ário pode ter uma potência diferente daquela do 2ário ou
3ário. Devido a esta particularidade, os valores em pu das impedancias do transformador de
3 enrolamentos, ao contrário do que ocorre com os transformadores de 2 enrolamentos
(quando z’2 % = z2 %), são diferentes para cada um dos três enrolamentos.
A figura 1.24 apresenta o circuito equivalente final, de um transformador de 3
enrolamentos, ondeas impedancias Z2% e Z3% estão referidas ao 1ário.

Z2 [ p.u. ]

Z 1 [ p.u. ]
Z3 [ p.u. ]

N____________________________________N
Figura 1.24 -
ário
Alimentando-se o 1 de um transformador com 3 enrolamentos, pode-se conectar
cargas no 2ário, 3ário ou em ambos. Considere-se, inicialmente, que esse transformador possua
apenas uma carga conectada ao 2ário, enquanto que o 3ário está a vazio. Desta forma, esse
transformador se comportará como se possuísse apenas dois enrolamentos:
Z12% = z1% + z2%. (1.24)

Por outro lado, caso houvesse carga conectada apenas ao 3ário :


Z13% = z1% + z3%. (1.25)

Essas impedancias Z12% e Z13% são obtidas através de ensaios em curto, conforme já
mostrado. Entretanto, observando-se bem à figura 1.24, notar-se-á que as impedâncias que ali
são requeridas são z1%, z2% e z3%, as quais devem ser obtidas através de 3 ensaios em curto,
da seguinte maneira:
19

I) Alimentando o primário, curto-circuitando o secundário, com o terciário aberto:

W A
L 2 ário
V 1 ário L
L 3 ário

Figura 1.25 -
O ensaio é realizado do mesmo modo que nos transformadores de dois enrolamentos.
Isto é, determina-se uma impedância percentual Z12% equivalente àquela do primário mais a do
secundário, como em (1.24):
Z12% = z1% + z2% (1.26)

IMPORTANTE:
Se os instrumentos são colocadas no 1ário, as impedâncias calculadas estarão referidas a
esse enrolamento.

II) Alimentando o 1ário e curto-circuitando o 3ário, com o 2ário aberto.


O esquema é semelhante ao anterior, invertendo-se as condições do 2ário com o 3ário.
Obtém-se, assim:
Z13% = z1% + z3% (1.27)

III) Alimentando o 2ário, curto-circuitando o 3ário, com o 1ário aberto.


A figura 1.26 ilustra esse arranjo. Pela localização dos instrumentos, a impedância
obtida é Z’23% = z’2 % + z’3%, referida ao secundário.

A W

L 2 ário V
1 ário L

L 3 ário

Figura 1.26
20

Portanto, para se obter o circuito equivalente, mostrado antes, torna-se necessário


corrigir a impedância Z’23, referindo-a ao 1ário. Isso pode ser feito utilizando-se da equação
(1.23) de “Mudança de bases”, mostrada em 1.4.3:
2
( KVa )2 Mb  KVa  Mb
Zb ( pu ) = Za ( pu ). . = Za ( pu )  . [ p. u.]
{
nova Ma ( KVb)2  KVb  Ma (1.23)
base

Que fornecerá:
 O n d e:
 ario
M 1 ario  Z 2 3 : i m p e d . (%), entre 2 e
Z23 = Z’23 
M 2 ario  3 a r i o , referida a o 1 a r i o .
 Z '' : idem , referida a o 2 a r i o .
 23
Agora a impedancia Z23 está nas mesmas bases das impedancias Z12 e Z13. A terceira
equação pode, assim, ser montada:
Z23% = z2% + z3% (1.28)

Tem-se, finalmente, 3 equações [(1.26), (1.27) e (1.28)] e 3 incógnitas (z1%, z2% e


z3%). Resolvendo o sistema:
Z12 + Z13 + Z 23
z1% = (1.29)
2
Z23 + Z12 − Z13
z2% = (1.30)
2
Z13 + Z 23 − Z12
z3% = (1.31)
2

1.5- Exemplos

1) Transformar o diagrama unifilar abaixo, em um diagrama de impedâncias.

L 1 T1 T2 3

L 2
CARGA "B "
CARGA "A "

Figura 1.34
21

• Gerador 1: 20 MVA; 6,6 KV; X”: reatância subtransitória = 0,655 Ω


• Gerador 2: 10 MVA; 6,6 KV; X”: 1,31Ω
• Gerador 3: 30 MVA; 3,81KV; X”: 0,1452Ω
• T1 e T2 : trafos em bancos trifásicos.
• Potência de cada transformador: M: 10 MVA;
• 3,81KV/38, 1KV;
• X = 14,52Ω (impedância total equivalente referida à alta tensão, ou seja, referida ao
secundário).
• Reatância da L.T.: 17,4Ω
• Carga “A” = 15 MW, 3,81KV, fP = 0,9 (atraso)
• Carga “B” = 30 MW, 3,81KV, fP = 0,9 (atraso)

Solução:
− O circuito equivalente da L.T. é o circuito π nominal (usado para linhas médias):

R L

Figura 1.35

− Os transformadores podem ser representados por:

R L L R

R L

Figura 1.36
OBSERVAÇÕES:
• Os geradores são representados por uma F.E.M. em série com valores apropriados de
resistência e reatância.
22

• As cargas indutivas são representadas por uma resistência em série com uma reatância
indutiva.
• diagrama de impedâncias não inclui as impedâncias limitadoras de curtos, mostradas no
diagrama unifilar, entre os neutros dos geradores e a terra. Isso ocorre porque, em
condições de equilíbrio, não há circulação de corrente nos neutros.

Assim, o diagrama de impedâncias correspondente será:

R L R L R L R L R L

L L R R L

R R L R L R L L R

E1 E2 E3

Geradores Carga Transformador Linha de Transmissão Transformador Carga Gerador


1e2 A T1 T2 B 3

Figura 1.37
Simplificações
• A corrente de magnetização dos transformadores é insignificante se comparada com a
corrente a plena carga. Assim, a admitância em paralelo não é colocada no circuito
equivalente dos transformadores.
• Nos cálculos de curtos, as resistências série das L.T. são omitidas (pois XL >>> r) bem
como as admitâncias shunt, relativas às capacitâncias das linhas. Por outro lado, para
estudos de fluxo de carga, essas omissões não podem ser feitas, sob pena do cálculo final
apresentar resultados irreais.
• Ainda para os cálculos de curto: quando as correntes de carga forem bem menores que
as correntes de curto, as cargas que não envolverem máquinas girantes não são incluídas
nos diagramas de impedâncias.
• Cargas constituídas por motores síncronos de grande porte não podem ser omitidas nos
cálculos de curto, pois eles serão geradores de correntes, no início do curto. Por outro
lado, se desejarmos obter a corrente de falta alguns ciclos após a ocorrência da falta, os
motores também poderão ser ignorados, pois eles já testarão parados e as suas
contribuições já não mais existirão.

Diante do exposto, para cálculos de curtos o “diagrama de impedância”anterior, poderia ser


assim representado:
23

Ω Ω Ω
W

Ω Ω

Figura 1.38

Na figura, as impedâncias são dadas em Ω, referidas ao lado da alta tensão.


− Os trafos e linha de transmissão já estão especificados em termos de alta tensão.
− Os geradores mostrados, inicialmente tinham suas reatâncias referidas ao lado da baixa
ensão dos transformadores, e suas reatâncias devem ser referidas ao lado da alta
tensão:
− Os geradores 1 e 2 estão ligados ao circuito de alta tensão através de transformadores
Y-Y, com relação de espiras 10:1.
Uma impedância Z1 situada na baixa tensão, se quisermos referí-la à alta tensão:

Z’ 1 = Z1 ( N) 2
6 ,6
K V

3 ,8
Figura 1.39
Portanto, em termos de alta tensão, as reatâncias dos geradores 1 e 2 serão:
G1 Z’ = 0,655 . (10)2 = 65,5 Ω
G2 Z’ = 1,31 . (10)2 = 131,0 Ω
G3 O gerador G3, está ligado à L.T. por um trafo ∆Y:

10 : 1
L L
(38,1 : 3,81)
66 KV L L 3,81 KV
L 38,1 KV

Figura 1.40 -

66KV
Assim, com referência às tensões de linha, a relação de espiras será → 17,32:1
3,81KV
24

E a impedância do gerador G3 será:


(3) Z’ = 0,1452 . (17,32)2 = 43,56 Ω

Representação em p.u.: Para converter os valores em Ω das reatâncias, em valores em p.u.,


deve-se escolher uma base para a potência e outra para a tensão:
Tomando-se 30 MVA e 66 KV: Z base = (Ubase)2/Pbase = 662/30 = 145,2Ω

Dividindo as diversas reatâncias do diagrama pela impedância de 145,2Ω, obtém-se o diagrama


a seguir, em p.u.:

j 0,10 j 0,12 j 0,10


L L L

j 0,45 L L j 0,90 L j 0,30

E1 E2
E3
Barra Neutra

Figura 1.41 -

2) As três partes de um sistema monofásico são designadas por A, B e C e estão interligadas


por meio de transformadores, como mostra a figura a seguir. As características dos
transformadores são:

1 : 10 2:1

A L L B L L C R 300 W

A-B B-C

Figura 1.42 -

A-B: 10MVA; 13,8 - 138 KV; reatância de dispersão: 10%

B-C: 10 MVA, 69 - 138 KV; reatância de dispersão: 8%


25

Se as bases no circuito B forem 10 MVA, 138 KV, determine a impedância, por


unidade, da carga resistiva de 300 Ω, localizada no circuito C, referida a C, B e A. Faça o
diagrama de impedâncias desprezando a corrente de magnetização, resistência dos
transformadores e impedâncias da linha. Determine a regulação de tensão, se a tensão na
carga for 66 KV, supondo que a tensão de entrada do circuito A, permaneça constante.

Solução:

No lado “B”, sendo Ubase : 138 KV; então tem-se:

1
No lado “A”: Ubase = . 138 = 13,8KV
10

1
No lado “C”: Ubase: . 138 = 69 KV
2

( U base ( C ) ) 2 (69 KV) 2


Impedância base do lado “C”: Zbase(C ) = = = 476,1Ω
P( base) 10MVA

Ω , referida a “C” em p.u.: Z(c) = 300/476,1 = 0,63 pu


Impedância da carga de 300Ω

( U base ) 2 1382
Impedância base do lado “B”: Zbase(B ) = = = 1904,4Ω
Pbase 10

Impedância da carga de 300Ω, referida ao lado “B”: Z1 = Z1 . N2 = 300 (2)2 = 1200Ω.

Ω , referida a B, em p.u.:1200/1904,4 = 0,63 p.u.


Impedância da carga de 300Ω

U 2base ( A ) (13,8) 2
Impedância base do lado “A”: Zbase(A) = = = 19Ω
Pbase 10

Impedância da carga de 300Ω, referida a “A”: Z1 = Z1 . N = 1200(1 / 10) = 12Ω


,, , 2 2

Ω , referida a “A”, em p.u. 12/19 = 0,63p.u.


Impedância da carga de 300Ω
26

Diagrama de impedâncias:

L L
j 0,10 j 0,08
U1 R 0,63 U2

Figura 1.43 -

Regulação de tensão:

U2 = tensão na carga, em p.u.: 66/69 = 0,957 + j0 (p.u.)

U 2 0,957 + j0
I = corrente na carga: = = 1,52 + j0( p. u.)
R 0,63 + j0

φ
U1 = I . (j0,10 + j0,08) + U2 = 1,52(j0,18) + 0,957 = 0,995 (p.u.) /φ

U1 − U 2 0,995 − 0,957
R= = = 0,0397 R% = 3,97%
U2 0,957

3) Um gerador trifásico de 30 MVA, 13,8 KV, possui uma reatância subtransitória de 15%.
Ele alimenta dois motores através de uma L.T. com dois trafos nas extremidades,
conforme diagrama unifilar. Os valores nominais dos motores são 20 e 10 MVA, ambos
com 20% de reatância subtransitória. os trafos trifásicos são ambos de 35 MVA, 13,2 ∆ -
115Y(KV), com reatância de dispersão de 10%. A reatância em série de L.T. é 80Ω.
Faça o diagrama de reatâncias com todos os valores em p.u.. Escolha os valores
nominais do gerador como base no circuito do próprio gerador.
27

20 MVA / 12,5 KV
X "= 20 ( p.u.)
Xd = 10 ( p.u.) Xd = 10 ( p.u.)
35 MVA 35 MVA p
L
13,2 / 115 115 / 13,2 1

L k l m n r
15 MVA 2
8,5 KV
20 ( p.u.) 10 MVA / 12,5 KV
X "= 20 ( p.u.)

Figura 1.37 -
Solução:
- As bases de 30 MVA e 13,8 KV (do circuito do gerador) requerem:
1) Nbase = 30 MVA → para trafos, motores e L.T.
2) Ubase =
2.1 - Na L.T.:
13,2 - 115
13,8 - x → x = 120 KV

2.2 - Nos motores:


115 - 13,2
120 - y → y = 13,8 KV

3) Reatâncias:

N ,base : 35MVA ( Ma )


3.1 - Dos trafos: Xd = 10% para 
U ,base : 13,2 KV ( KVa )

p / N base = 30Mb MVA 


 → Xd será alterada:
U base = 13,8 KVb KV 
2 2
 KVa  Mb  13,2  30
Zb = Za   . = 0,1  . ⇒ Zb = 0,0784 p. u.
 KVb  Ma  13,8  35

3.2 - Da linha:

1202
Zbase(linha) = = 480Ω
30
- A reatância da linha (80 Ω) em p.u. é:
28

80
⇒ X L = 0,167 p. u.
480

3.3 - Dos motores:

N base = 20 MVA ( Ma )
Motor 1: X”(Za) = 0,20 p/ 
U base = 12,5KV ( KVa )

N b = 30MVA ( Mb)
p/ as bases 
U b = 13,8 ( KVb)

2 2
 KVa  Mb  12 ,5 30
Zb = Za   . = 0,2  . = 0,246 p. u.
 KVb  Ma  13,8  20

Motor 2: de maneira análoga:


X”a → X”b
0,2 → 0,492 p.u.

3.4 - Diagrama de reatâncias:

k j 0,0784 l j 0,167 m j 0,0784 n


L L L
p r
L
L j 0,246 L j 0,492

E1
E m1 E m2

Figura 1.45 -

4) Na figura a seguir, tem-se o diagrama unifilar de um sistema radial de transmissão. Os


valores nominais e as reatâncias dos vários componentes são apresentados juntamente
com as tensões nominais de linha dos transformadores. Uma carga de 50 MW, fp = 0,8
atr. está ligada no barramento da subestação de 33 KV, que deverá ser mantido a 30 KV.
29

Pede-se a tensão nos terminais da máquina síncrona. A linha e os trafos podem ser
representados por reatâncias série.
Vs V
30 KV
50 MVA 50 MVA
50 MW
~ LINHA fp = 0,6 ind
j 100 W
11 / 132 KV 132 / 33 KV
X = 10 ( p.u.) X = 12 ( p.u.)

Figura 1.46 -
Solução:
1) Será adotado Nbase = 100 MVA (arbitrário) e
2) Ubase = 132 KV (na linha), o que corresponde a 11 KV (no trafo elevador) e a 33 KV (no
trafo abaixador).
3) Reatâncias:

U 2 b 132 2
3.1 - Da L.T., z l : Zbase = = = 174Ω
Nb 100
z l (p.u.) = 100/174 = j0,575 p.u.

3.2 - Do trafo abaixador: zta

Ub = 132 KV (ou 33 KV)


zta = 0,12 p.u. p/ 
N = 50MVA
p/ Nb = 100MVA e Ub = 132 (33 KV):

 KV a  M b 2
 132  100
zta = zta . 
b a
 = 0,12  . = j0,24 p. u.
 KV b  M a  132  50

3.3 - Do trafo elevador: zte


2
100  11
Analogamente a 3.2: zte = z0,1 .  = j0,20
50  11
30

j 0,2 j 0,575 j 0,24


L L L

L
Vs = ? Vr = 0,91 pu
Es

Figura 1.47 -

50MW
- A corrente na carga será: I = = 1200A
3.30KV.0,8

N base 10010. 6
- A corrente base será: Ibase = = = 1750A
3. U base 3 . 33 . 10 3
1200
- A corrente na carga, em p.u. será Icarga= = 0,686 p. u.
1750

-Tensão na carga em p.u.: 30/33 = 0,91 p.u.


Finalmente:
Vs = 0,91 + j(0,2+0,575+0,24)* 0,686/-36,87o
Vs = 0,91 + j0,696(0,8 - j0,6)
Vs = 1,3276 + j0,5568
Vs = 1,44/22,75
√ 3) . /√
Vs(KV) = (1,44 x 11/√ √ 3= 15,88 KV

5) Um gerador trifásico de 15.000 KVA, 8,5 KV tem uma reatância subtransitória de 20%.
Ele é ligado através de um transformador ∆-Y a uma linha de transmissão de alta tensão,
com uma reatância total em série de 70 ohms. No extremo da linha correspondente à carga
existe um transformador abaixador Y-Y. Ambos os bancos de transformadores são compostos
por transformadores monofásicos; cada um deles tem valores nominais de 6,667 KVA, 10 -
100 KV, com reatância de 10%. A carga, representada por uma impedância, consome 10.000
KVA a 12,5 KV, com fator de potência de 80% em atraso. Esquematize o diagrama de
impedâncias de sequência positiva, com todas as impedâncias em p.u. Escolha uma base de
10.000 KVA, 12,5 KV no circuito de carga. Determine a tensão nos terminais do gerador.
31

T1 T 2
10 MVA
12,5 KV
fp = 80 ( p.u.)
15 MVA atrasado
8,5 KV
20 ( p.u.) 6,67 MVA / fase 6,67 MVA / fase
10 / 100 KV ( F - n ) 100 / 10 KV
10 ( p.u.) 10 ( p.u.)

Figura 1.48 -
1) Trafos:

T2 : YY; M = 3 x 6,67 = 20 MVA 



a)  x = 10%

U:100 3 / 10 3 = 173,2 − 17,32 KV

10 KV
100 KV
173,2 KV 173,2 KV

Figura 1.49 -

b) T1:∆; M = 20 MVA

100 KV
173,2 KV X = 10 [ p.u. ]
10 KV

Figura 1.50-

M B = 10MVA

2) Escolha de MB e UB: 
U = 12,5KV, na c arg a
 B
a) Na L.T. 17,32 KV → 173,2 ∴ x = 125 KV
12,5 KV → x
b) na baixa tensão de T1:
173,2 KV → 10 KV ∴ x = 7,22 KV
125 KV → z
32

3) Reatâncias:
2
 KVa  Mb
Zb = Za   .
 KVb  Ma

2
 10  10
3.1 - Dos trafos: ZT1 = 0,1   . = 0,09591 pu
 7,22  20
2
 17,3 10
ZT2 = 0,1   . = 0,096 pu
 12,5 20
3.2 - Da Linha:

Ub 2 1252
Zbase (da linha) = = = 1562
. ,5Ω
Mb 10
Zlinha (pu) = 70/1562,5 = 0,0448 pu

3.3 - Do Gerador:

8,5KV

X = 0,2 pu em e ; em 7,22 KV e 10 MVA:
15MVA

2
 8,5  10
ZG = 0,2   . = 0,1848pu
 7 ,22  15

4) Diagrama de Reatâncias:

j 0,09541 j 0,0448 j 0,096


L L L

j 0,1848 L
Vs = ? V c = 1 pu I L

Figura 1.51 -
33

I1, em pu = 1,0 /-36,87o pu


VCARGA = 12,5/12,5 = 1 /0o pu
VS = 1,0 /-36,87o (j0,9541 + j0,0448 + j0,096) + 1,0 + j0 =
= 1,15762 /9,415o (pu)
√ 3). /√
em KV: VS = 1,15762 . (7,22 KV/√ √ 3 = 8,358 KV

6) Faça o diagrama de impedâncias para o sistema de potências mostrado na figura 1.45. Dê


as impedâncias em p.u.. Despreze a resistência e use a base de 50.000 KVA, 138 KV na
linha de 40 ohms. As características dos geradores, motores e transformadores são:
Gerador 1: 20.000 KVA; 13,2 KV; X” = 15%
Gerador 2: 20.000 KVA; 13,2 KV; X” = 15%
Motor síncrono 3: 30.000 KVA; 6,9 KV; X” = 20%
Transformadores trifásicos Y-Y: 20.000 KVA; 13,8 Y - 138 Y KV; X = 10%.
Todos os transformadores são usados para elevar as tensões dos geradores
aos valores das linhas de transmissão.

j 40 W B
A

G1 G2

j 20 W j 20 W

G3
M L

Figura 1.52 -
G1: 20 MVA, 13,2 KV; 15% = X”
G2 = G1
Motor Síncrono 3: 30 MVA, 6,9 KV; x”= 20%
Trafos YY: 20 MVA; 13,8 Y - 138 Y KV, X = 10%
Trafos Y∆: 15 MVA; 6,9∆ - 138Y KV; X = 10%

U B = 138KV 

 nas linhas de transmissão de 40Ω
50MVA = MB
34

2
 13,2  50
G1 e G2: ZG1 = ZG2 = 0,15   . = 0,3431 pu
 13,8  20
2
 138 50
Trafos YY: Z TYY = 0,1  . = 0,25pu
 138 20
2
 138  50
Trafos ∆Y: Z T = 0,1  . = 0,3333pu
∆Y  138  15
2
 6,9  50
Motor Síncrono: Z M = 0,2  . = 0,3333pu
 6,9  30
Linhas:

1382
ZB(nas linhas) = = 380,88Ω
50
Zpu(LT de 40Ω) =40/380,88 = 0,1051 pu
Zpu(LTs de 20Ω) = 20/380,88 = 0,05251 pu
j 0,1051
L
j 0,05251 j 0,05251
L L
j 0,25 L L j 0,25
L j 0,25 L j 0,333 L j 0,333 L j 0,25
A C B

L j 0,3431 L j 0,333 L j 0,3431

E G1 E M E G2

Figura 1.53 -

7) O diagrama unifilar de um sistema de potência sem carga é mostrada na figura 1.49. As


reatâncias das duas secções da linha de transmissão são mostradas no diagrama. As
características dos geradores e dos transformadores são as seguintes:
Gerador 1: 20.000 KVA; 6,9 KV, X” = 0,15 p.u.
Gerador 2: 10.000 KVA; 6,9 KV, X” = 0,15 p.u.
Gerador 3: 30.000 KVA; 13,8 KV; X” = 0,15 p.u.
Transformador T1: 25.000 KVA; 6,9 ∆-115 Y KV; X = 10%
Transformador T2: 12.500 KVA; 6,9 ∆-115 Y KV; X = 10%
Transformador T3: unidades monofásicas, cada uma de 10.000 KVA; 7,5-75 KV; X = 10%
35

25 MVA 10 MVA
X "= 0,15 6,9 - 115 7,5 - 75
20 MVA X = 10 (p.u.) X = 10 (p.u.)
6,9 KV T1 T3
A B j 100 W j 80 W E F
1 3
G1 G3
L

30 MVA
T2 12,5 MVA
13,8 KV
6,9 - 115
0,15
X = 10 (p.u.)

G2 2 10 MVA
6,9 KV
X "= 0,15
L

Figura 1.54 -

U B = 6,9 KV 

 no gerador G1
M B = 30 MVA 

Colocando todas as impedâncias na mesma base:

 KVa  M b
Zb = Za  .
 KVb  M a
30 30
ZG1 = 0,15 x = 0,225 pu; ZG2 = 0,15 x = 0,45pu
20 10
2
 13,8  30
ZG3 = 0,15 x   x = 0,216pu
 11,5  30
30 30
ZT1 = 0,10 x = 0,12 pu ; ZT2 = 0,10 x = 0,24 pu
25 12,5
2
 129,9 
ZT3 = 0,10 x   = 0,127 pu
 115 

U B 1152
ZBase(LT) = = = 440,833Ω
MB 30
100 80
ZLT(BC) = = 0,227 pu ZLT(CE) = = 0,181 pu.
440,833 440,833
36

Diagrama de Impedâncias

A j 0,12 C j 0,181 E F
L L L L
j 0,227 j 0,127
L j 0,24
L j 0,225 L j 0,216
D
L j 0,45

E G1 1 pu E G2 1 pu E G3 1,2 pu

Figura 1.55

8) Como se modifica o diagrama de impedâncias do Prob. 6 se os dois geradores forem


ligados a um sistema de potência ao invés de um motor síncrono? Considere que as linhas de
20 ohms estão ligadas diretamente à barra de alta tensão do sistema. A tensão nominal do
sistema é 132 KV e os MVA de curto-circuito nessa barra valem 2.000 MVA.

j 40 W B
A

1 2

20 MVA j 20 W j 20 W 20 MVA
13,2 KV 13,2 KV
X "= 15 (p.u.) X "= 15 (p.u.)

132 KV
2000 MVA

Figura 1.56
TRAFOS:
20 MVA; 13,8/138 KV
X = 10%

Solução:
Adotando novamente, na L.T de 40 Ω: VB = 138 KV; MB = 50 MVA

VB2 138 2
ZB = = = 380,88 Ω
MB 50
A impedância equivalente do sistema de potência será:

132 2
Zsist. = = 8,71 Ω
2000
37

Em pu:
Z sist
Zsist.(p.u) = = 0,02287 pu
ZB

O Diagrama ficará:
j 0,1051
L
j 0,05251 j 0,05251
L L
j 0,25 L L j 0,25
L j 0,25 L j 0,25
A C B

L j 0,3431 L j 0,02287 L j 0,3431

E G1 E sist. E G2

Figura 1.57
Obs: As demais reatâncias são as mesmas do exercício 6.

9) Um gerador monofásico alimenta, por meio de uma linha, um transformador, o qual


alimenta, por outra linha, uma carga. São conhecidas:

1) A impedância da linha que liga o gerador ao trafo (2+j4Ω)

2) A impedância da linha que liga o trafo à carga (290+j970Ω)

3) A potência absorvida pela carga (1 MVA, fp = 0,8 indut.)

4) A tensão aplicada à carga (200 KV)

5) Os dados de chapa do trafo. (13,8 - 220 KV, 1,5 MVA, req = 3% e Xeq = 8%

PEDE-SE:
a) A tensão nos terminais do gerador.
b)A tensão no 1ário do trafo
c) A tensão no 2ário do trafo
d) A corrente no circuito
e) A potência fornecida pelo gerador
38

Solução:

2+4j 290 + j 970

G L L Vc = 200 KV 1 MVA
cosj = 0,8

Figura 1.57

M B = 1,5 MVA
 U 2B Z B( AT ) = 32,27 K
Adota-se  → ZB = 
U = 13,8 / 220 KV M B Z B( BT ) = 127 Ω
 B
Os valôres da tensão na carga e da potência da carga, em pu, serão:

200 1 MVA
Vc = = 0,91 pu; Pc = = 0,667 pu
220 1,5 MVA

Pc 0,667
A corrente na carga, em pu: ic = = = 0,734 pu → i c = 0,734 / 0°
Vc 0,91

Vc = 0,91 /arc.cos 0,8 = 0,91 /37º

- Circuito equivalente:

2 4
2 + 4j, em pu = +j = 0,016 + j 0,031
127 127

290 970
290 + j 970, em pu: + j = 0,009 + j 0,030
32,27.10 3 32,27.10 3

impedância do trafo, em pu: 0,03 + j 0,08


39

0,016 j 0,031 0,03 j 0,08 0,009 j 0,031


A B C D

Z carga V c = 0,91 37o

Figura 1.58

c) Tensão na AT do trafo:

VCN = 0,91 /37º + 0,734/0º (0,009 + j 0,031) = 0,93/37,5º

b) Tensão na BT do Trafo

VBN = 0,93 /37,5º + 0,734 /0º (0,03 + j 0,08) = 0,98 /39,6º

a) Tensão nos terminais do gerador:

VAN = 0,98 /39,6º + 0,734 /0º (0,016 + j 0,031) = 1,0 /40,2º

Tensões, em KV:

a) VCN = -,93 x 220 KV = 204,60 KV

b) VBN = 0,98 x 13,8 KV = 13,52 KV

c) VAN = 1,0 x 13,8 KV = 13,80 KV

e) Potência fornecida pelo gerador:

Mger. = vg . ig = 1,0 /40,2º x 0,734/0º = 0,734/40,2º pu

em MVA = 0,734 /40,2º x 1,5 MVA =

Mger = 1,101 /40,2º (MVA) = 0,841 (MW) + j 0,711 (MVAr)


40

10) Os valores nominais trifásicos de um transformador com três enrolamentos são:

Primário: Ligado em Y; 66 KV; 10 MVA

Secundário: Ligado em Y; 13,2 KV; 7,5 MVA

Terciário: Ligado em ∆; 2,3 KV; 5 MVA

Desprezando a resistência, as impedâncias de dispersão serão:

Zps = 7% , numa base 10 MVA, 66 KV

Zpt = 9% , numa base 10 MVA, 66 KV

Zst = 6% , numa base de 7,5 MVA, 13,2 KV.

Determine as impedâncias por unidade do circuito equivalente ligado em estrela, para uma
base de 10 MVA, 66 KV no circuito primário.

Determine as impedâncias do circ. equivalente para 10 MVA, 66 KV, no primário.

Solução:

Para 10 MVA e 66 KV, no primário, as bases para o secundário e o terciário, serão:

secundário: 10 MVA, 13,2 KV

terciário : 10 MVA, 2,3 KV

M 10
,
Assim, a impedância “Z st . = 6%. = 8%
M, 7,5

Resolvendo o sistema:

Zp = 1/2j(0,07 + 0,09 - 0,08) = j 0,04 pu

Zs = 1/2j(0,07 + 0,08 - 0,09) = j 0,03 pu

Zt = 1/2j(0,09 + 0,08 - 0,07) = j 0,05 pu


41

11) Uma fonte de tensão constante (barra infinita) alimenta uma carga puramente resistiva
de 5 MW, 2,3 KV e um motor síncrono de 7,5 MVA, 13,2 KV, com uma reatância
subtransitória de X” = 20%. A fonte é ligada ao primário do transformador de três
enrolamentos descrito no exemplo 8.3. O motor e a carga resistiva estão ligados no
secundário e no terciário do transformador. Faça o diagrama de impedâncias do sistema e
determine as impedâncias por unidade para uma base de 66 KV, 10 MVA no primário.

Solução:

fonte de tensão constante: é um gerador sem impedância interna.

carga resistiva:

U 2 2,32
Zcarga = = = 1,056 Ω , que significa 1,0 pu na base de 2,3 KV e 5
P 5
MVA, no terciário. Entretanto, a base de potência escolhida é 10 MVA (a base de tensão é
66/13,2/2,3, que não precisa ser alterada):

2
 13,2  10
Zcarga ( nova base ) = 1,0   . = j0,267 pu.
 13,2  7,5

Diagrama de Impedâncias:

S
L
P j 0,03
L
j 0,04 T L j 0,267
L
j 0,05
E
8

R 2

E m 1,2 pu

Figura 1.59

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