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Assistência de enfermagem ao paciente com

distúrbio no Sistema digestivo


1. SÍNDROME DE INTESTINO IRRITÁVEL ( p. 2197)
A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio funcional crônico caracterizado por dor
abdominal recorrente associada a alterações do ritmo intestinal, que incluem diarreia, constipação intestinal
ou ambas.
• Prevalência global da SII: 11,2%; nos EUA: 15% em adultos.
• Mais comum em mulheres, com o dobro de diagnósticos em relação aos homens nos EUA.
• Diagnosticada tipicamente em adultos com menos de 45 anos.
• Fatores de desencadeamento incluem genéticos, ambientais e psicossociais.
• Fatores deflagradores: estresse crônico, privação do sono, cirurgia, infecções, diverticulite, certos
alimentos (leite, produtos com leveduras, ovos, trigo, carne vermelha).
• Diagnóstico obtido após testes confirmarem a ausência de distúrbios estruturais ou outros.
Fisiopatologia
• A SII é resultado de um distúrbio funcional da motilidade intestinal.
• A desregulação neuroendócrina, especialmente alterações na sinalização de serotonina, infecção,
irritação ou distúrbio vascular ou metabólico podem estar relacionadas à alteração na motilidade.
• As ondas peristálticas são afetadas em segmentos específicos do intestino, afetando a intensidade
com que propulsionam o material fecal adiante.
• Não há evidências de inflamação ou alterações teciduais na mucosa intestinal.

Manifestações clínicas
• Sintomas variam em intensidade e duração, de leves a graves e contínuos.
• Principal manifestação é a alteração do ritmo intestinal: constipação (SII-C), diarreia (SII-D) ou
ambos (SII-M).
• Alguns pacientes não se encaixam nessas categorias (SII-NC). [não categorizados]
• Dor, inchaço e distensão abdominal frequentemente acompanham as alterações no padrão intestinal.
• A dor abdominal pode ser precipitada pela alimentação e aliviada pela defecação.
• SII frequentemente ocorre com outros distúrbios GI (como DRGE [refluxo]) e distúrbios funcionais
não relacionados (síndrome de fadiga crônica, dor pélvica crônica, fibromialgia, cistite intersticial,
enxaqueca, ansiedade e depressão).

Avaliação e achados diagnósticos


• Critérios diagnósticos: manifestações clínicas presentes nos últimos 3 meses, com início há pelo
menos 6 meses.
• Manifestações incluem dor abdominal recorrente pelo menos 1 dia por semana, associada a dois
ou mais dos seguintes sinais/sintomas:
o dor abdominal relacionada com defecação,
o dor abdominal relacionada com modificação na frequência de defecação,
o dor abdominal relacionada com modificação no formato/aspecto das fezes.
• Registro das características e volume das fezes em um diário de defecação, como a escala de fezes de
Bristol, pode ser útil na determinação da categoria da SII.
• Diagnóstico definitivo exige testes para confirmar ausência de distúrbios estruturais ou outros.
• Testes incluem hemograma completo, proteína C reativa ou calprotectina para descartar outras
possibilidades ( em casos de SII-D ou SII-M) e provas sorológicas para doença celíaca.

Enfermagem na Saúde do Adulto em Cuidados Clínicos


Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica / Janice L. Hinkle, Kerry H. Cheever; Assistência de Enfermagem ao Paciente com Distúrbio no TGI
revisão técnica Sônia Regina de Souza - 14. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. (p.2178) EZEQUIEL ALMEIDA BARROS
• Exames de fezes e colonoscopia são realizados para descartar outras doenças intestinais como câncer
colorretal ou colite.

Manejo Clínico
• Objetivos do tratamento: alívio da dor abdominal e controle da diarreia ou constipação.
• Modificação do estilo de vida, incluindo redução do estresse, melhor higiene do sono e programa de
exercícios físicos, pode melhorar os sintomas.
• Introdução de fibras solúveis (por exemplo, Psyllium) na dieta é importante.
• Restrição e reintrodução gradual de alimentos possivelmente irritantes podem ajudar a determinar
gatilhos alimentares.
• Agentes antidiarreicos (ex. loperamida) podem ser usados para controlar a diarreia e a urgência fecal.
• Alosetrona pode ser prescrita para mulheres com formas graves de SII-D que persistem por mais de 6
meses e não responsiva a outras terapias.
• Outros medicamentos incluem rifaximina (antibiótico oral não absorvível) e eluxadolina
(antagonista de receptor delta/agonista de receptor μ (mu) que neuromodula a motilidade colônica)
para SII-D, e lubiprostona (regulador dos canais de cloreto no intestino) para SII-C.
• Antiespasmódicos (por exemplo, diciclomina) podem aliviar a dor abdominal.
• Antidepressivos podem ajudar na ansiedade e depressão, além de afetar o tempo de trânsito intestinal.
• Óleo de hortelã-pimenta é eficaz na redução do desconforto abdominal.
• Probióticos, como Lactobacillus e Bifidobacterium, podem ser usados para diminuir inchaço
abdominal e gases.
Manejo de Enfermagem
• O enfermeiro tem o papel de fornecer orientações ao paciente e à família e promover
atividades de autocuidado.
• Orienta o paciente sobre o uso adequado do diário do ritmo intestinal, como a escala de fezes
de Bristol.
• Enfatiza e reforça bons hábitos alimentares e de sono, evitando desencadeadores alimentares.
• Sugere manter um diário de alimentos por 1 a 2 semanas para identificar alimentos
problemáticos.
• Encoraja os pacientes a se alimentarem em horários regulares e a evitar desencadeadores
alimentares.

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• Explica que a ingestão adequada de líquidos é necessária, mas não durante as refeições para evitar
distensão abdominal.
• Desaconselha o consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo.
• Recomenda o manejo do estresse por meio de técnicas de relaxamento, terapia cognitivo-
comportamental, ioga e exercícios.

Ghiyasvandian, S., Ghorbani, M., Zakermoghadam, M., et al. (2016). The effects of a selfcare program on the severity of
symptoms and quality of life of patients with irritable bowel syndrome. Gastroenterology Nursing, 39(5), 359–365.
Os enfermeiros podem orientar os pacientes em relação a atividades de autocuidado, inclusive
tratamento, dieta e atividades de manejo de estresse, que podem reduzir os efeitos da SII.
Os achados deste estudo confirmam que a intervenção de autocuidado liderada pelo enfermeiro em um
paciente com formas leves a moderadas de SII consegue reduzir significativamente a gravidade dos
sinais/sintomas e melhorar a qualidade de vida global.

2. DOENÇA DIVERTICULAR (p. 2209)


Um divertículo é uma herniação em formato de saco do revestimento do intestino, que se estende por
meio de um defeito na camada muscular. Divertículos podem ser encontrados em qualquer ponto do tubo GI,
desde o esôfago até o cólon, mas são encontrados mais frequentemente no cólon sigmoide. No entanto,
americanos de origem asiática podem desenvolver divertículos no lado direito do cólon, provavelmente em
virtude de diferenças genéticas.

https://www.med.club/artigos/diverticulite-aguda
Diverticulose é definida como a existência de múltiplos divertículos sem inflamação e/ou
sinais/sintomas. A doença diverticular do cólon é muito comum em países desenvolvidos e sua prevalência
aumenta à medida que a pessoa envelhece.
• Prevalência aumenta com a idade; encontrada em 50% dos adultos com mais de 65 anos e quase todos
os adultos por volta dos 90 anos.
• Achado incidental mais comum na colonoscopia.
• Cerca de 80% dos pacientes com diverticulose nunca desenvolvem complicações ou sintomas.
• Baixa ingestão de fibras dietéticas, obesidade, tabagismo, uso regular de AINEs e paracetamol, e
história familiar positiva são considerados fatores de risco.
• Complicações relacionadas com diverticulose ocorrem mais frequentemente em homens com menos
de 44 anos e mulheres com mais de 54 anos.

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Diverticulite ocorre quando um divertículo se torna inflamado, evoluindo para perfuração e
complicações potenciais como obstrução, abscesso, formação de fístula (trajeto anormal), peritonite e
hemorragia.

Fisiopatologia
• Os divertículos formam-se quando as camadas mucosa e submucosa do cólon herniam através da
parede muscular em virtude de alta pressão intraluminal, baixo volume no cólon (i. e., conteúdo
com deficiência de fibras) e diminuição da força muscular na parede do cólon (i. e., hipertrofia
muscular em virtude de massas fecais enrijecidas).
• O conteúdo intestinal pode se acumular no divertículo e se decompor, causando inflamação e
infecção. Os divertículos também podem se tornar obstruídos e, em seguida, inflamados, se a
obstrução continuar.

• A inflamação da parede colônica enfraquecida do divertículo pode causar a sua perfuração, dando
origem à irritabilidade e à espasticidade do cólon (i. e., diverticulite).
• Além disso, há possibilidade de desenvolvimento de abscessos que podem finalmente ser perfurados,
o que provoca peritonite e erosão dos vasos sanguíneos arteriais e sangramento. Quando um paciente
tem sintomas de diverticulite, ocorreu a microperfuração do cólon.

Manifestações clínicas
• Diverticulose pode ser precedida por constipação intestinal crônica em muitos anos, mas geralmente
não causa sintomas problemáticos.
• Alguns pacientes podem apresentar sinais/sintomas discretos como: ritmo intestinal irregular,
alternância entre constipação e diarreia, náuseas, anorexia e distensão abdominal.
• Na diverticulite, até 70% dos pacientes relatam dor aguda no quadrante inferior esquerdo do abdome,
acompanhada por alteração do ritmo intestinal (geralmente constipação), náuseas, febre e leucocitose.
• Complicações agudas incluem formação de abscesso, sangramento e peritonite.
• Se ocorrer a formação de um abscesso, os achados associados são sensibilidade, massa palpável, febre
e leucocitose.
• Divertículos inflamados podem erodir as áreas adjacentes aos ramos arteriais, causando sangramento
retal maciço.
• A perfuração de um divertículo inflamado resulta em dor abdominal localizada sobre o segmento
envolvido, normalmente o sigmoide; segue-se um abscesso local ou peritonite.
Episódios recorrentes de diverticulite podem causar complicações que incluem formação de fístulas,
inclusive fístulas vesicocolônicas (i. e., entre o cólon e a bexiga urinária) e, nas mulheres, fístulas
colovaginais (i. e., entre o cólon e a vagina). Em resposta à inflamação repetida, pode ocorrer
estreitamento do cólon por tecido cicatricial e estenose fibrótica, resultando em cólicas abdominais, fezes
estreitas, agravamento da constipação intestinal ou, às vezes, obstrução intestinal.

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Avaliação e achados clínicos
• Diverticulose geralmente é diagnosticada por colonoscopia, permitindo visualização da extensão da
doença diverticular.
• Exames laboratoriais para auxiliar no diagnostico diverticulite incluem hemograma completo,
revelando leucocitose, e determinação do nível de hemoglobina no sangue periférico se houver sangue
nas fezes.
• Exame de urina (EAS) e urinoculturas devem ser realizados se houver suspeita de fístulas
vesicocolônicas.
• A TC abdominal com contraste é o exame complementar preferido para confirmar diverticulite, além
de revelar perfuração e abscessos.
• Radiografias abdominais podem mostrar ar livre sob o diafragma em caso de perfuração decorrente
de diverticulite.
• Os resultados desses exames radiológicos confirmam se o paciente apresenta ou não diverticulite
complicada que poderia exigir intervenção cirúrgica.
• A classificação de Hinchey é usada como parâmetro para determinar o tratamento

Idosos
A incidência de doença diverticular aumenta com a idade em virtude de degeneração e alterações estruturais
nas camadas musculares circulares do cólon e em decorrência de hipertrofia celular. Os sintomas são menos
pronunciados nos adultos mais velhos do que em outros adultos. Os idosos podem não apresentar dor
abdominal até que ocorra infecção. Eles podem adiar o relato dos sintomas por temer uma cirurgia, ou pelo
temor de que possam ter câncer.

Manejo Clínico
• O manejo clínico da diverticulite depende da presença ou não de complicações.
• Para pacientes com diverticulite não complicada ou estágio I de Hinchey, o tratamento é ambulatorial
com dieta e medicação.
• Repouso, hidratação oral e analgésicos são recomendados. Inicialmente, uma dieta líquida clara
é consumida, seguida por uma dieta com alto teor de fibras e baixo teor de gorduras.
• Antibióticos podem ser prescritos por 7 a 10 dias, embora revisões sistemáticas questionem sua
eficácia.
• Pacientes com sintomas significativos podem precisar de hospitalização, especialmente se forem mais
idosos, imunocomprometidos ou estiverem usando corticosteroides.
• Pacientes com estágio II de Hinchey podem necessitar de hospitalização, enquanto estágios mais
avançados podem exigir cirurgia.
• Para repousar o intestino, são instituídas suspensão da ingestão, administração de soluções
intravenosas e aspiração nasogástrica (NG) se houver vômito ou distensão.

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• Antibióticos de amplo espectro são prescritos o (p. ex., ampicilina/sulbactam,
ticarcilina/clavulanato), juntamente com analgésicos para alívio da dor (Um opioide (p. ex.,
oxicodona) ou outros agentes analgésicos).
• A dieta é aumentada conforme os sintomas diminuem, podendo ser necessário uma dieta com baixo
teor de fibras até que os sintomas de infecção diminuam.
• A dieta é aumentada conforme os sintomas diminuem, podendo ser necessário uma dieta com baixo
teor de fibras até que os sintomas de infecção diminuam.

Manejo Cirúrgico
• A intervenção cirúrgica imediata é necessária em casos de complicações como perfuração, peritonite,
hemorragia ou obstrução na diverticulite aguda.
• Pacientes com diverticulite estágio III ou IV são candidatos à cirurgia.
• Para abscessos sem peritonite, hemorragia ou obstrução, pode ser realizada drenagem percutânea
guiada por TC, seguida de antibióticos intravenosos.
• Após a drenagem do abscesso e cessação do episódio agudo, (depois de aproximadamente 6 semanas)
a cirurgia pode ser recomendada para prevenir episódios futuros.
• Dois tipos de cirurgia são considerados: ressecção em uma etapa ou procedimentos em diversas etapas
para complicações como obstrução ou perfuração.
• A escolha do tipo de cirurgia depende da extensão das complicações observadas durante o
procedimento.
• Na ressecção em uma etapa, a área inflamada é removida e é realizada uma anastomose
terminoterminal primária.
• Procedimentos em diversas etapas podem incluir colectomia com lavagem e ressecção em duas etapas,
como o procedimento de Hartmann ou duplo barril.

Nesse procedimento, uma extremidade do intestino é trazida até a parede abdominal e a extremidade distal
é fechada e deixada no abdome (procedimento de Hartmann) ou, caso o suprimento sanguíneo para o cólon
distal seja questionável, ambas as extremidades do intestino são trazidas até a parede abdominal (duplo
barril).

• Tanto a cirurgia de Hartmann quanto as colostomias em dupla-boca são geralmente reanastomosadas


posteriormente.

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Manejo de Enfermagem
• Recomendar ingestão de 2 litros por dia de líquidos, dentro dos limites das reservas cardíacas e renais
do paciente.
• Sugestão de alimentos pastosos com alto teor de fibras, como cereais preparados ou vegetais cozidos
pastosos, para aumentar o volume das fezes e facilitar a peristalse.
• Recomendar um programa de exercícios físicos individualizado para melhorar o tônus muscular
abdominal.
• Revisar a rotina diária do paciente para estabelecer horários para refeições e defecação, identificando
hábitos que possam suprimir a necessidade de defecar.
• Encorajar a ingestão diária de laxantes formadores de volume, como Psyllium, para auxiliar na
propulsão das fezes pelo cólon.
• Identificar e aconselhar sobre a evitação de deflagradores alimentares, como nozes e pipoca, que
podem desencadear ataques de diverticulite.

3. DOENÇA INSTESTINAL INFLAMATÓRIA (p. 2218)


A doença intestinal inflamatória (DII) consiste em um grupo de distúrbios crônicos: doença de
Crohn (i. e., enterite regional) e colite ulcerativa, que resultam em inflamação ou ulceração (ou
ambas) do intestino. Ambos os distúrbios apresentam similaridades surpreendentes, mas também
diversas diferenças.

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revisão técnica Sônia Regina de Souza - 14. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. (p.2178) EZEQUIEL ALMEIDA BARROS
Adaptada de Walfish, A. E. (2016). Inflammatory bowel disease. Merck Manual: Professional Version.

Epidemiologia
• A prevalência de Doença Inflamatória Intestinal (DII) nos EUA aumentou no último século, com
estimativas de 1 a 1,3 milhão de americanos afetados.
• História familiar é um indicador de propensão à DII, especialmente se um parente em primeiro grau
também tiver a doença.
• Outros fatores de risco incluem etnia caucasiana, origem judaica asquenaze, clima setentrional e
residência em área urbana.
• Homens têm discretamente maior risco de colite ulcerativa, enquanto mulheres têm maior risco de
doença de Crohn.
• Pessoas entre 20 e 29 anos têm maior risco de doença de Crohn, enquanto aqueles entre 15 e 30 anos
e indivíduos com mais de 60 anos têm discretamente maior risco de colite ulcerativa.
• Tabagistas atuais têm risco de doença de Crohn, enquanto ex-tabagistas ou não fumantes têm risco
de colite ulcerativa.
• A causa da DII permanece desconhecida, mas fatores ambientais, alimentos, tabaco e doenças virais
podem deflagrar respostas imunes em pessoas geneticamente predispostas.

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3.1 DOENÇA DE CROHN (ENTERITE REGIONAL)
Definição
A doença de Crohn é caracterizada por períodos de remissão e exacerbação. É uma inflamação subaguda e
crônica da parede do sistema digestório, que se estende por todas as camadas (i. e., lesão transmural).
Embora suas alterações histopatológicas características possam ocorrer em qualquer local do sistema
digestório, acometem mais comumente o íleo distal e o cólon descendente. Aproximadamente 35% dos
pacientes só apresentam comprometimento ileal (ileíte), 45% dos pacientes apresentam envolvimento do íleo
e do cólon (ileocolite) e 20% dos pacientes só apresentam comprometimento colônico (colite granulomatosa).

Fisiopatologia
• O processo inflamatório na doença de Crohn começa com abscessos e inflamação das criptas,
evoluindo para pequenas úlceras focais.
• Estas lesões iniciais se tornam mais profundas, formando ulcerações longitudinais e transversas,
separadas por placas edemaciadas, resultando em um aspecto característico em calçada de
paralelepípedos.
• Fístulas, fissuras e abscessos podem se formar à medida que a inflamação se estende para o peritônio.
• Granulomas podem ocorrer nos linfonodos, peritônio e através das camadas do intestino em cerca de
50% dos pacientes.
• Os segmentos comprometidos do intestino são delimitados por áreas contíguas de tecido intestinal
normal, denominadas lesões salteadas, originando o termo "enterite regional".
• À medida que a doença avança, a parede intestinal se espessa e torna-se fibrótica, levando ao
estreitamento do lúmen intestinal.
• As alças intestinais doentes podem eventualmente aderir às outras alças circundantes.

Durante a colonoscopia a característica principal


que encontramos são as lesões ulceradas. Podemos
observar na imagem A úlceras aftosas, que são
observadas como lesões precoces. Na imagem
B podemos observar grandes úlceras intercaladas com
mucosa normal, típicas da distribuição segmentar da
doença de Crohn. Na imagem C visualizamos o aspecto
de paralelepípedo causado pelo espessamento nodular
com úlceras lineares ou serpiginosas. E por fim,
na imagem D temos estenoses por fibrose.

Manifestações Clínicas
• Na doença de Crohn, os sintomas normalmente iniciam de forma insidiosa, com dor abdominal
proeminente no quadrante inferior direito e diarreia persistente.
• O tecido cicatricial e formação de granulomas interferem na capacidade do intestino de transportar
os produtos da digestão, resultando em dor abdominal tipo cólica e sensibilidade abdominal.
• As dores tipo cólica geralmente ocorrem após as refeições devido à estimulação da peristalse intestinal
pela alimentação.
• A limitação da ingestão alimentar para evitar crises de dor leva a perda de peso, desnutrição e anemia
secundária.
• Úlceras e inflamações resultam em um intestino edemaciado com diarreia crônica e déficits
nutricionais.
• Complicações como abscessos, fístulas e fissuras podem ocorrer, levando a febre e leucocitose.
• Manifestações extraintestinais podem incluir distúrbios articulares, lesões cutâneas, distúrbios
oculares e úlceras orais.
• A evolução clínica varia entre os pacientes, podendo haver períodos de remissão e exacerbação, ou
uma progressão fulminante.

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• Algumas manifestações extraintestinais podem se intensificar durante os períodos de piora dos
sintomas, independentemente da evolução clínica da doença de Crohn.

Avaliação e Achados clínicos


• A seriografia esôfago-estômago-duodeno, anteriormente usada como exame conclusivo para doença
de Crohn (revelava o “sinal de barbante” na radiografia da parte terminal do íleo, indicando a
constrição de um segmento do intestino), foi substituída por técnicas mais avançadas de tomografia
computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), que oferecem uma avaliação mais precisa do
acometimento intestinal e pélvico.
• A TC pode identificar espessamento da parede intestinal, edema mesentérico, obstruções, abscessos
e fístulas, sendo mais sensível no diagnóstico da doença de Crohn em comparação aos exames
contrastados.
• A RM é altamente sensível e específica para identificação de fístulas e abscessos perianais e
pélvicos.
• Exames laboratoriais como hemograma completo são realizados para avaliar níveis de hematócrito,
hemoglobina (que podem estar diminuídos) e contagem de leucócitos (que podem estar elevada). A
velocidade de hemossedimentação (VHS) geralmente é alta.
• Níveis diminuídos de albumina e proteínas podem indicar desnutrição, comum em pacientes com
doença de Crohn.

Complicações
As complicações da doença de Crohn incluem obstrução intestinal ou formação de estrituras, doença
perianal, desequilíbrios hidreletrolíticos, desnutrição decorrente da má absorção e formação de fístulas e
abscessos. O tipo mais comum de fístula do intestino delgado causada pela doença de Crohn é a fístula
enterocutânea (i. e., uma abertura anormal entre o intestino delgado e a pele). Os abscessos podem ser o
resultado de uma fístula interna, que resulta em acúmulo de líquidos e infecção. Pacientes com doença de
Crohn também correm maior risco de câncer de cólon.

3.2 COLITE ULCERATIVA


Definição
A colite ulcerativa é uma doença inflamatória e ulcerativa crônica das camadas mucosa e submucosa do
cólon e do reto que se caracteriza por períodos imprevisíveis de remissão e exacerbação com episódios de
cólicas abdominais e diarreia sanguinolenta ou purulenta. As alterações inflamatórias começam, tipicamente,
no reto e evoluem proximalmente pelo cólon.

Fisiopatologia
A colite ulcerativa afeta a mucosa superficial do cólon e é caracterizada por diversas ulcerações,
inflamações difusas e descamação ou desfolhamento do epitélio colônico. O sangramento ocorre como
resultado das ulcerações. A mucosa tornase edemaciada e inflamada. As lesões são contíguas e ocorrem uma
após a outra. Finalmente, o intestino se estreita, encurta e espessa em virtude da hipertrofia muscular e dos
depósitos de gordura. Como o processo inflamatório não é transmural (i. e., afeta apenas o revestimento
interno), abscessos, fístulas, obstrução e fissuras são incomuns na colite ulcerativa.

Colonoscopia na avaliação e classificação da gravidade da retocolite ulcerativa


Leve: hiperemia difusa ou focal, superfície de aspecto granular, congesta, edemaciada e com padrão vascular
distorcido ou ausente.
Moderada: pequenas úlceras únicas ou espalhadas em uma seção limitada do cólon junto a hiperemia,

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friabilidade, granulosidade e exsudato mucopurulento.
Acentuada: úlceras numerosas, grandes, profundas muito friáveis e com grande quantidade de secreção
mucopurulento.
Crônica: pontes de mucosa – resposta cicatricial da mucosa, cicatrizes lineares e pseudo-pólipos.

Manifestações clínicas
• A evolução clínica da colite ulcerativa geralmente envolve períodos de exacerbações e remissões.
• Os sintomas predominantes incluem:
• Diarreia, muitas vezes com passagem de muco, pus ou sangue.
• Dor abdominal no quadrante inferior esquerdo.
• Tenesmo intermitente.
• Sangramento retal, que pode variar de leve a grave, resultando em palidez, anemia e fadiga.
• Anorexia, perda de peso, febre, vômito e desidratação podem ocorrer.
• Cólicas abdominais e tenesmo, com seis ou mais episódios de evacuações de fezes líquidas por
dia.
• A gravidade da doença pode ser classificada como leve, grave ou fulminante, dependendo da
gravidade dos sintomas.
• Complicações como hipoalbuminemia, desequilíbrios eletrolíticos e anemia são comuns.
• Manifestações extraintestinais podem incluir lesões cutâneas (como eritema nodoso), lesões oculares
(como uveíte), anormalidades articulares (como artrite) e hepatopatia.

Avaliação e achados diagnósticos


• Exames radiográficos abdominais são úteis para determinar a causa dos sintomas, excluindo ar livre
no peritônio e dilatação ou obstrução intestinal.
• A colonoscopia é o exame de rastreamento definitivo que diferencia a colite ulcerativa de outras
doenças do cólon. Pode revelar mucosa inflamada, friável, com exsudato e ulcerações.
• Biopsias durante a colonoscopia são comuns para determinar as características histológicas do tecido
e a extensão da doença.
• TC, RM e ultrassonografia podem ser utilizados para identificar abscessos e envolvimento perirretal.
• O exame das fezes é positivo para sangue, e os resultados laboratoriais podem mostrar baixos níveis
de hematócrito e hemoglobina, elevação na contagem de leucócitos, baixos níveis de albumina
(indicando distúrbios mal absortivos) e desequilíbrio eletrolítico.
• Os níveis séricos de proteína C reativa geralmente estão elevados.
• Níveis elevados de anticorpos citoplasmáticos antineutrófilos são comuns.
• O exame cuidadoso das fezes é realizado para detectar parasitos e outros microrganismos,
descartando disenteria causada por microrganismos intestinais comuns.

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Complicações
• As complicações da colite ulcerativa incluem megacólon tóxico, perfuração e sangramento como
resultado de ulceração, ingurgitação vascular e tecido de granulação altamente vascular.
• Megacólon tóxico: Ocorre quando o processo inflamatório atinge a mucosa muscular, inibindo sua
capacidade de contração e resultando em distensão colônica. Os sintomas incluem febre, dor e
distensão abdominal, vômito e fadiga. Se o paciente não responder ao manejo clínico em 72 horas, a
cirurgia pode ser necessária, geralmente na forma de colectomia subtotal ou total, dependendo da
presença de perfuração intestinal.
• Complicações cirúrgicas: A cirurgia pode ser necessária em até um terço dos pacientes com formas
graves de colite ulcerativa para aliviar os efeitos da doença e tratar complicações graves. A ileostomia
é comum após a cirurgia para desviar as fezes.
• Risco de fraturas osteoporóticas: Pacientes com colite ulcerativa têm um risco significativamente
maior de fraturas osteoporóticas devido à diminuição da densidade mineral óssea. O uso de
corticosteroides também pode contribuir para a diminuição da densidade óssea.
• Risco aumentado de câncer de cólon: Estima-se que, 20 anos após o diagnóstico, cerca de 7 a 10%
dos pacientes com colite ulcerativa extensa desenvolverão câncer de cólon.

3.3 Assistência (manejo) do Paciente com DII


Manejo clínico da doença intestinal inflamatória crônica
• O tratamento clínico para a doença de Crohn e para a colite ulcerativa tem por objetivo:
o reduzir a inflamação,
o suprimir respostas imunes inadequadas,
o proporcionar repouso para um intestino doente, de modo que possa ocorrer a cicatrização,
o melhorar a qualidade de vida
o e prevenir ou minimizar as complicações.
• A maioria dos pacientes apresenta longos períodos de bem-estar entremeados por curtos intervalos de
doença. O manejo depende da localização da doença, da gravidade e das complicações.

Tratamento nutricional
• Terapia com líquidos orais e uma dieta com baixo teor residual, alto teor proteico e alto teor
calórico com suplementação de vitaminas e reposição de ferro são prescritas para atender às
necessidades nutricionais, reduzir a inflamação e controlar a dor e a diarreia.
• Desequilíbrios hidreletrolíticos decorrentes da desidratação causada pela diarreia são corrigidos
por meio de terapia intravenosa conforme o necessário se o paciente estiver hospitalizado, ou
por meio de líquidos orais se o paciente for tratado no domicílio.
• Quaisquer alimentos que exacerbem a diarreia são evitados. O leite pode contribuir para a
diarreia naqueles com intolerância à lactose. Alimentos frios e tabagismo são evitados, tendo em
vista que ambos aumentam a motilidade intestinal. Pode ser indicada a nutrição parenteral.

Tratamento Farmacológico

Enfermagem na Saúde do Adulto em Cuidados Clínicos


Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica / Janice L. Hinkle, Kerry H. Cheever; Assistência de Enfermagem ao Paciente com Distúrbio no TGI
revisão técnica Sônia Regina de Souza - 14. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. (p.2178) EZEQUIEL ALMEIDA BARROS
Enfermagem na Saúde do Adulto em Cuidados Clínicos
Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica / Janice L. Hinkle, Kerry H. Cheever; Assistência de Enfermagem ao Paciente com Distúrbio no TGI
revisão técnica Sônia Regina de Souza - 14. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. (p.2178) EZEQUIEL ALMEIDA BARROS

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