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“A base por excelência do poder não deriva apenas da riqueza material e cultural, mas da

capacidade que estas têm em transformá-lo em capital social e simbólico. ”

Pierre Bourdieu é um sociólogo francês e o livro “A Produção da Crença” se divide em três


artigos: A produção da crença, o costureiro e sua grife e modos de dominação.

Existe o produto comercial e o não comercial – que acaba tendo força cultural maior que o
comercial, por algumas vezes. Dentro de determinado campo existem certas conveniências em
manter os dominantes acima dos dominados. Essas regras próprias são criadas para manter o
que já é dominante nessa posição.

Fala no artigo o costureiro e a sua grife: a moda é o campo que mais se evidencia a distinção
entre um público e outro. Traz o conceito de direita e esquerda. À direita, estão as pessoas que
já estão em estado de estabilidade vs o que estão tentando conquistar esse espaço, a
Esquerda. Os mais conservadores, que querem manter a arte em sua essência, até mesmo
para se perdurar em evidência contra os que estão chegando. É na arte que se consegue fazer
muito com pouco. O artista parece conseguir ter um capital econômico que não tem, por
exemplo, criando seu conceito próprio que o destaca dos outros. Critica a alta costura por se
ver mais distintivamente essa separação de pessoas no campo.

- O campo da alta costura deve sua estrutura à distribuição desigual entre as diferentes
maisons da espécie particular de capital qu eé o fator da concorrência nesse campo e a
condição de entrada em tal competição.

*à direita e à esquerda do rio Sena

- Para alguns, as estratégias de conservação que visam manter intacto o capital acumulado (o
“renome da qualidade”) contra os efeitos da translação do campo e cujo sucesso depende,
evidentemente, da importância do capital possuído e também da aptidão de seus detentores,
fundadores e, sobretudo, herdeiros, em gerir racionalmente a reconversão, sempre arriscada,
do capital simbólico em capital econômico.

- Para outros, as estratégias de subversão, que tendem a desacreditar os detentores do mais


sólido capital de legitimidade, a remetê-los ao clássico e, em seguida, ao desclassificado,
colocando em questão suas normas estéticas e apropriando-se de sua clientela presente ou,
em todo caso, futura, por meio de estratégias comerciais que não poderiam ser utilizadas
pelas maisons tradicionais, sem comprometer sua imagem de prestígio e exclusividade.

- As faixas etária constituem, à semelhança de qualquer sistema de classificação, fatores de


disputa simbólica entre as classes que, de forma bastante desigual, tem interesse no triunfo
dos valores associados à juventude e à velhice

- No campo da moda, são os recém-chegados que “fazem o jogo”. Os dominantes agem sem
riscos: não tem necessidade de recorrer a estratégias de blefe ou enaltecimento. Essa é uma
lei geral das relações entre os dominantes e os pretendentes.
Estilo e Estilo de vida: a decoração da moradia dos costureiros de grande prestígio

Balmain: o gosto pelo antigo – colecionador de peças raras e objetos preciosos. Móveis
incrustados de madrepérolas, desenhos de bustos de Henrique iv e sully, cristaleiras de
coleção de tanagra e quadros de mestres menores franceses do século xix nas escadarias.

Givenchy: o clássico moderno – tudo revestido pela cor branca, com alguns móveis modernos
de aço e plástico. Além disso, quadros e itens colecionáveis

Cardin: o moderno barroco – salão com sensação de floresta e coleciona objetos raros

Courrèges: a preferência pelo moderno e pelo modernismo – tons brancos e de madeira


natural, pias modeladas em massa de porcelana, etc.

Hetcher: o desleixo obrigatório – salão envidraçado com níveis de argamassa e peles de urso,
etc.

As próprias decorações nos apartamentos demonstravam essa oposição entre a elegância e a


opulência contra o desleixo rebuscado. Entre vazio e pleno, passado acumulado e tábula rasam
ostentação do luxo e exibição do despojamento, há a separação entre os estilos de vida da
antiga burguesia e os da nova, assim como de seus costureiros.

Em cada época, os costureiros atuam no interior de imposições explícitas ou implícitas. O jogo


dos recém-chegados consiste em romper com certas convenções em vigor, mas dentro dos
limites da conveniência e sem colocar em questão a regra do jogo e o próprio jogo.

Sobriedade, elegância, equilíbrio e harmonia – a vanguarda opõe o rigor ou a audácia, e


sempre a liberdade, a jovialidade e a fantasia.

Existe um centro dessa oposição, como Saint Laurent que visa agradar os dois polos
simultaneamente, ainda, por ter aprendido com os antigos e dominantes como se trabalhava
para somente depois apresentar sua produção. Assim, ele se torna mais aceito no campo.

É a concorrência dos pretendentes que impele os dominantes a um respeito realito pelos


valores oficiais do campo, exatamente aqueles em nome dos quais se exerce sua autoridade
específica.

O capital simbolizado pelo nome do costureiro pode converter-se em capital econômico sob
certas condições e dentro de certos limites, em particular, temporais – aqueles que definem a
duração do renome. Inclusive, sua importância pode ser representada por dois círculos – um
de faturamento e o outro de número de empregados. A relação entre antiguidade e o capital
pode-se manter dentro de certos limites e mediante estratégias que explorem as leis da
economia especifica do campo

O capital de autoridades e relações adquirido ao frequentar as maisons antigas, coloca o


costureiro de vanguarda ao abrigo da condenação radical de que seria passível por suas
audácias heréticas.

A atividade do costureiro é o oposto exato da atividade do escritor ou do artista legitimo na


medida em que ele não poderá esperar ter acesso a uma consagração duradoura (ou
definitiva) a não ser que saiba rejeitar os lucros e sucessos imediatos – porém temporários –
da moda.
A degradação no tempo do valor comercial dos bens da moda corresponde à sua difusão e a
deterioração do seu poder de distinção. Os artigos de moda têm tempo curto de existência,
predeterminado por seus costureiros. A operação da alquimia social de retorno de alguma
moda só pode ter sucesso uma vez que se constitui o aparelho de consagração e de
celebração, capaz de manter o produto e a sua necessidade.

A antinomia de uma sucessão

- Dificuldades em perpetuar a empresa pós morte do criador, pois este fornece a plena eficácia
à alquimia simbólica na medida que ele próprio garante todos os aspectos da produção do
bem dotado de uma marca. As funções pós morte são divididas entre várias pessoas,
normalmente a presidência ou diretoria geral fica comum herdeiro da família e a parte de
criação com um aprendiz do gênio que deve enfrentar as exigências das partes

A imposição de valor

- O costureiro adota um procedimento semelhando ao do pintor eu transforma um objeto


qualquer em obra de arte pelo fato de marcá-lo com sua assinatura. Criar nome pela relações
públicas – e vendê-lo. Prêt-a-porter e perfumaria.

O irreconhecimento coletivo

- O poder do criador nada mais é que a capacidade de mobilizar a energia simbólica produzida
pelo conjunto dos agentes comprometidos com o funcionamento do campo: jornalistas,
intermediário e clientes, outros criadores e a própria concorrência afirmam o valor das
implicações.

- Na produção de bens simbólicos, as instituições aparentemente encarregadas de sua


circulação fazem parte integrantes do aparelho de produção que precisa, além do produto,
produzir também a crença em seu valor.

- É o aparelho da celebração(propaganda, crítica, imprensa, etc.), apenas separada pelo grau


de dissumulação da função que tem em comum o fato de prescrever, enunciar prescrições que
tomam a fotma da descrição.

- o discurso sobre a moda tem a função performativa que designa desse modo a
inseparabilidade entre a especificidade estilística e seus efeitos sociais.

- Há crise na moda quando deixam de funcionar esses mecanismos que produzem a crença
reprodutiva do sistema ou quando os interesses dos agentes de quem depende o
funicionamentodo sistema já não estão salvaguardados.

O ciclo da consagração

- dupla natureza dos bens simbólicos e da própria produção simbólica, que não se reduz a um
ato de fabricação material, mas comporta um conjunto de operações que asseguram a
promoção e a transubstanciação do produto das operações de fabricação material.
- os circuitos de produção e circulação material são insuperavelmente ciclos da consegração
que, além disso, produzem legitimidade, ao mesmo tempo objetos sagrados e consumidores
convertidos, dispostos a abordá-los como tais e pagar o preço necessário para deles se
apropriarem.

- obedecem à lei fundamental que estabelece que o irreconhecimento do arbitrário da


imposição de valor é tanto mais comleto quanto mais longo for o ciclo da consagração e
quanto mais importante a energia social consumida na circulação.

- autocelebração faz um reconhecimento fraco

Distinção e pretensão: a moda e o modo

- celebração de sua própria distinção. A alta costura é a parte integrante do aparelho


encarregado da organização desse culto e produção dos instrumentos necessários a sua
celebração.

- crise da alta costura é a aparição e reestruturação desses signos de distinção

- habitus do campo e a importância de transformação e renovação da moda

- ethos = métodos, habitus = dinâmica do grupo

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