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ofício
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Origem
Existe a teoria de que as corporações surgiram por uma questão de controle econômico dos
governantes, já que ainda na época agrícola da Idade Média os reis e senhores feudais
exerciam poder sobre pesos e medidas, a moeda e os mercados. Os artesãos, ao chegarem
nas novas cidades, deveriam se apresentar às autoridades locais, já que os senhores tinham
um direito político de controle de vendas. Nesse contexto, os agrupamentos teriam sido
feitos pelos senhores, a fim de melhor regulamentar os produtores e os produtos.[2]
Outra teoria aponta que, com o aumento do comércio, as cidades cresceram. Essas cidades
eram construídas com a união de burgos (fortificações), igrejas e terrenos. Seus habitantes
eram mercadores. Com o passar do tempo, criou-se um embate entre a lógica feudal e a
lógica das cidades, que era comercial. Para solucionar esse conflito, surgiram as
corporações, que nada mais eram do que associações de mercadores, que tinham como
objetivo garantir liberdade para as cidades em que viviam, de modo que houvesse
crescimento contínuo desses locais. [3]
O homem da cidade queria ser livre e muitas vezes buscava a liberdade através da violência.
Por isso, muitas das guerras travadas nas cidades foram lideradas pelas corporações de
ofício. Os senhores feudais podiam dar direitos aos mercadores, através de cartas de
atribuição de privilégio. Dessa forma, cada vez mais as associações monopolizavam o
comércio, deixando de fora tanto não membros, quanto comerciantes estrangeiros.
As mercadorias deveriam, ao chegar na cidade, serem, a princípio, analisadas e compradas
pelos membros das corporações. Caso algum estrangeiro ou não membro comprasse ou
trocasse alguma mercadoria antes dos membros, o infrator seria punido e o produto
confiscado pelo rei. Ou seja, as instituições de poder estavam diretamente ligadas e
dispostas pelas associações de mercadores, que determinavam os preços, assim
eliminando a concorrência e ganhando cada vez mais poder. [4]
Há registro de guildas existentes no século IX, no Império Carolíngio. Contudo, como nessa
época o comércio se dava de uma lógica diferente, dependendo de grandes deslocamentos
para realizar-se, as guildas desse período funcionavam como caravanas de mercadores, com
o objetivo de proteger e defender os mesmos. Havia, nessas corporações de mercadores,
um vínculo muito forte de solidariedade e proteção mútua, em razão dos muitos riscos
daquelas empreitadas. Tudo que era arrecadado era repartido e utilizado para benefício dos
próprios mercadores durante a viagem e o elo entre eles se mantinha mesmo depois do fim
das viagens.
Com o desenvolvimento das cidades, houve cada vez mais o aparecimento de corporações
mais complexas e desenvolvidas, que ultrapassavam o modelo das corporações de
mercadores e tinham, também, a presença de artesãos. Aos poucos, corporações de ofício,
formadas unicamente por artesãos, se mostravam muito mais úteis dentro da realidade das
cidades e acabaram tomando o lugar dessas antigas formas de corporação.[5]
3. Conduta moral entre os membros: eram proibidas vantagens obtidas através de golpes
entre membros;
Aprendizes: jovens que aprendiam o ofício com seus respectivos mestres, em um período
geralmente de dois a sete anos. Os aprendizes recebiam comida, moradia e ensinamentos
de seus mestres artesãos, em troca da ajuda no trabalho, em geral, com o consentimento
dos pais;
Mestres artesãos: donos das oficinas e dos equipamentos, eram os “comandantes das
fábricas” (que geralmente eram domiciliares). Comandavam o processo. [8]
A ação educativa do mestre focava tanto nas relações profissionais, quanto na familiar, já
que o mestre não somente instruía como também educava o aprendiz, em um processo que
se dava unicamente pela cultura oral. A relação entre mestre e aprendiz se desenvolvia a
partir de um vínculo que se criava com a família deste último.
Por terem surgido espontaneamente nas cidades, as corporações de ofício se tornaram uma
força política. Em meio a conflitos armados e crise econômica, os mercadores e artesãos
das cidades passaram a constituir um meio "revolucionário", no sentido de abandonar velhas
práticas feudais. Este movimento revolucionário pode ser analisado a partir de dois
aspectos, o dos burgueses das cidades mais prósperas que procuravam entrar nos
conselhos do governo e o dos operários têxteis e pequenos artesãos, que buscavam romper
com a dominação econômica dos burgueses, nobres e ricos. Os últimos obtiveram êxito em
seu propósito e até mesmo conseguiram tomar o poder por um certo período.
Ao longo do século XIV, muitas revoltas aconteceram e, em meados do XVI, durante uma
rebelião contra o imperador Carlos V as corporações estabeleceram um governo
democrático que foi sufocado pelo exército imperial. Devido, principalmente, à
desorganização, todos esses movimentos e levantes fracassaram. Contudo, as autoridades
perceberam que havia a necessidade de dominar as corporações sem que houvesse o
rompimento delas. Por isso, as retiraram gradualmente da vida política e removeram toda e
quaisquer funções militares. Além disso, os governantes das monarquias europeias
passaram a regulamentar o ofício das corporações e, apesar de terem as concedido maior
autonomia econômica, essa vantagem foi oferecida sob uma forte vigilância.[9]
Por fim, a reforma dos Ofícios na Irmandade de São Jorge foi realizada por oficiais
mecânicos e também foi motivada pelas disputas de poder entre corporações na Casa dos
Vinte e Quatro. Porém, foi o juiz do povo que comunicou o Senado da Câmara em 1766 da
necessidade de regulamentar os ofícios mecânicos. A regulamentação realizada por D. João
III em 1539 já não era mais válida, acarretando na ocorreu a segunda reforma lisboeta. O juiz
do povo Clemente Gonçalvez propôs então a redistribuição dos oficiais mecânicos em onze
bandeiras e manteve nove outros mesteres não embandeirados. Tal reforma foi
encaminhada ao monarca e foi decretada com força de lei.[11]
Aspecto econômico
A origem das corporações também pode ser atribuída a dois outros fatores, o poder local e a
ação voluntária. Tais fatores configuram-se em interesses diferentes, pois um consiste em
agir com o intuito de proteger o consumidor enquanto o outro consiste em buscar uma
autonomia maior para as produções. Dessa forma, as autoridades deveriam garantir o
equilíbrio dessas forças por meio das legislações. Portanto, as corporações, mesmo que
com uma predisposição a autonomia e a autogestão, ainda eram mais ou menos
regulamentadas dependendo da região.
Nesse mesmo contexto, não havia nenhuma legislação que obrigasse todos os produtores a
entrarem em uma corporação. Entretanto, a fim de obrigá-los a entrar, os produtores já
pertencentes a elas organizavam boicotes aos outros até que todos estivessem ligados às
corporações.
Em consequência disto, também no século XII e XIII, houve numerosas revoltas por toda
Europa. Porém, a tentativa de obter mais autonomia não foi bem sucedida. O desfecho de
tais revoltas acarretou em um maior endurecimento da legislação que as regulava.
Já no século XIV, após muitas reivindicações, grande parte das corporações passaram a ser
reconhecidas como corpos políticos, podendo nomear seus decanos e jurados e exercendo
o governo em conjunto com a alta burguesia. [13]
Aspecto religioso
Com a finalidade de se protegerem, os artesãos começaram a se dividir entre si, pelo critério
de profissão e por ofício. Eles tinham relações de solidariedade e auxílio mútuo, muitos
comerciantes foram unidos por conta das irmandades religiosas. Por conta dessas relações,
surgiram os intelectuais da Idade Média; a partir deles, teriam surgido as universidades
medievais e, paralelamente, as corporações de ofício. Ambas têm como origem a liberdade.
Por estarem ligadas à religião, a universidade era submetida a diversas obrigações religiosas
e com frequência existia uma tendência de unir o mundo sagrado ao mundo profano dos
ofícios.
A religiosidade exerceu forte influência nas corporações de ofício durante muito tempo. Essa
influência acontecia como forma de buscar a defesa do ofício e seus membros, e
principalmente, para afirmar a moral e a ética presente na profissão. Ou seja, o caráter
religioso e patriarcal, e a pressão do que seria um mercado consumidor, formavam
influências que se fortaleciam, sendo inútil discutir qual era mais forte.[14]
O justo preço, cultivado por quase toda a Idade Média, foi o primeiro a ser substituído, pelo
preço de mercado, regulado pela oferta e pela demanda. Assim, as corporações começam a
entrar em colapso por diversos motivos. Um deles, por exemplo, é a desigualdade que se cria
entre mestres, uns mais ricos que outros. Isso cria uma discriminação, onde os mestres
mais ricos passam a controlar tanto as corporações como o poder municipal e,
consequentemente, o poder jurídico. Além disso, o aumento da distância entre mestres e
jornaleiros faz com que estes se percam na busca por maiores posições, criando
corporações próprias, semelhantes aos sindicatos de hoje.
O que antes se caracterizava como fraternidade agora (fim do século XVI) se configura como
uma luta de classes, entre patrões e empregados. As corporações de jornaleiros, que
lutavam por direitos e salários melhores, são colocadas na ilegalidade pela justiça
aparelhadas pelos grandes mestres. Aos poucos, essas corporações declinam.
As corporações, sem forças para reagir, foram minguadas. Seu regime transformou-se em
um regime de produção doméstica, cujo local de trabalho ainda era nas fábricas dos
mestres, mas a matéria prima era fornecida pelos intermediários. Assim, os mestres
tornaram-se assalariados, assim como os jornaleiros.
O regime de comércio ao longo da história, segundo Leo Huberman, pode ser definido da
seguinte maneira:
1. Sistema familiar: os membros de uma família produzem artigos para seu consumo, e
não para venda. O trabalho não se fazia com o objetivo de atender ao mercado.
Princípio da Idade Média;
4. Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de
casa, nos edifícios do empregador e sob rigorosa supervisão. Os trabalhadores
perderam completamente sua independência. Não possuíam a matéria prima, como
ocorria no sistema de corporações, nem os instrumentos, tal como no sistema
doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes, devido ao maior uso
da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX até hoje.
[16]
Referências
2. PIRENNE, H. (1982). História Econômica e Social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou.
pp. 187–188
3. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. p.
25-27
4. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. pp.
29-30, 32
5. MARTINS, Mônica de Souza (2008). Entre a cruz e o capital: as corporações de ofícios no
Rio de Janeiro após a chegada da família real (1808-1824). Rio de Janeiro: Editora
Garamond. p.18-19
7. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. pp.
52-54
8. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. pp.
50-51
10. SANTOS, Georgina Silva Dos. Ofício e sangue: a irmandade de São Jorge e a inquisição na
Lisboa moderna. São Paulo, 2002. p. 103.
11. SANTOS, Georgina Silva Dos. Ofício e sangue: a irmandade de São Jorge e a inquisição na
Lisboa moderna. São Paulo, 2002. p. 330, 351.
12. PIRENNE, H. (1982). História Econômica e Social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou.
pp. 188–190
13. PIRENNE, H. (1982). História Econômica e Social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou.
191 páginas
14. MARTINS, Mônica de Souza (2008). Entre a cruz e o capital: as corporações de ofícios no
Rio de Janeiro após a chegada da família real (1808-1824). Rio de Janeiro: Editora
Garamond. pp. 20-21
15. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. pp.
54-61, 99-101
16. HUBERMAN, Leo (1986). História da Riqueza do Homem. Rio da Janeiro: LTC Editora. pp.
104-105
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