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Filosofia Moderna

Luiz Felipe de Andrade Santos

Texto referencial
(sobre o livro “Tecnodiversidade”, de Yuk Hui)

Capítulo 1 - Cosmopolitismo: entre a natureza e a tecnologia


Para Kant, a relação entre natureza e cosmopolítica é necessária. Para ele, a noção de paz
perpétua e progresso da razão está atrelada ao telos da natureza; e tal progresso seria a realização de
um plano oculto da natureza:
“A natureza não é algo que possa ser julgado de um ponto de vista particular, assim como a
Revolução Francesa não poderia ser julgada de acordo com seus participantes. Pelo contrário, a natureza só
pode ser compreendida como um todo complexo, e a espécie humana, parte desse todo, acabará por
progredir rumo a história universal que coincide com a teleologia da natureza.” HUI, 2020.

A intenção de Yuk Hui no primeiro capítulo é mostrar o direcionamento de Kant ao


universalismo, isto é, fazendo observações justamente como ‘observador distante’. Tal processo
ocorre por uma via simultânea de encantamento e desencantamento da natureza.
O encantamento ocorre na medida em que a natureza se torna cada vez mais artificializável,
na medida em que esta pode ser vista mais como um símbolo a representar um estado de coisas que
outrora foi plenamente acessível ao desmanche humano. Ao mesmo tempo e neste mesmo processo
ocorre o desencantamento da realidade e da natureza na medida em que esta se torna cada vez mais
fácil de ter sua mensagem descodificada pela tecnologia e pela razão simultaneamente.
Colocando de outro modo, alterar e artificializar os objetos com os quais temos contato é
uma via de mão dupla: nos aproximamos dele a ponto de nos tornarmos apenas um com ele, e
depois nos separamos dele na medida em que ele cria uma existência análoga a nossa, uma
existência artificial.

Capítulo 2 - “Virada Ontológica” como Cosmopolítica


Kant em sua empreitada moderna, enxerga a natureza como una, isto é, a razão é impelida a
reconhecer somente uma única natureza. O encantamento se dá pela racionalização desta natureza
através do controle da moral e do Estado, enquanto o desencantamento acontece pela
artificialização e tecnização desta; e ambos os movimentos vem inclusas no pacote racional
kantiano. Tais movimentos não podem ser constatados por uma metáfora biológica. Isto evidencia
uma empreitada de dominação inédita, uma vez que a tecnologia moderna vem apresentando meios
de desenvolvimento não prescritos pelas leis da biologia (o que configura um desaterramento), mas
sim pelas leis da cibernética. Eis ai uma dicotomia mais propícia que humano-natureza, a Biológica-
Cibernética.
Eis que surge a virada ontológica da antropologia: “Essa virada ontológica é uma resposta
direta à crise da modernidade que, de modo geral, se expressa em termos de uma crise ecológica
que, agora, está intimamente ligada ao Antropoceno.” Phillippe Descola postula quatro ontologias
principais que serão desenvolvidas no decorrer do livro: o naturalismo, o animismo, o totemismo
e o analogismo.
O projeto moderno é marcado pelo naturalismo, que significa uma oposição entre cultura e
natureza e entre a dominância da primeira em relação à segunda (HUI, 2020). Tal ideia é facilmente
modificável quando se coloca a natureza assumindo como atriz de outros papéis ontológicos, como
no animismo, em quem a natureza se baseia na continuidade da espiritualidade, mesmo com seu
aspecto físico em descontinuidade. O pluralismo ontológico sugere que o reconhecimento dessas
diferenças ontológicas vem a calhar como antídoto para o veneno naturalista que vem permeando a
sociedade desde a modernidade europeia.
Tal fenômeno pode ser reconhecido quando o encantamento da natureza se dá pelas vias
dela mesma, não pelas vias da razão e de uma natureza una. Em outras palavras, abraçam-se as suas
contingências, ao invés de submetê-las ao julgamento da lógica e categorias do entendimento
kantiano. Aqui é perceptível a completa falha das premissas kantianas de busca por uma paz
perpétua, visto que o resultado foram guerras e mais guerras.
“A cosmologia é essencial para o conceito de “natureza” e de “ontologia” dos antropólogos, já que
essa “natureza” é definida de acordo com diferentes ecologias de relações, nas quais observamos diferentes
constelações de relações, como o parentesco entre mulheres e vegetais ou a fraternidade entre caçadores e
animais. Essas multiontologias se expressam como multinaturezas; as quatro ontologias de Descola, por
exemplo, correspondem a diferentes visões cosmológicas. Creio que seja muito difícil, senão impossível, que
a modernidade seja superada sem que se enfrente de maneira direta a questão da tecnologia.” HUI, 2020.

Guia Geral para a prática pedagógica


Leitura prévia do texto anexado, que é um fichamento dos dois primeiros capítulos do livro
Tecnodiversidade, do filósofo chinês contemporâneo Yuk Hui. Neste livro, traz um diálogo com
diversos autores como Kant, Hegel, Nick Land, entre outros, acerca da relação entre cosmotécnicas
e cosmopolíticas. A atividade proposta é fazer que os alunos façam listas de exemplos de
encantamentos e desencantamentos da natureza segundo as noções kantianas abordadas no texto. O
método de avaliação será participativo.

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