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A ANÁLISE DAS TAXAS DE CÂMBIO COMO FACTOR PREPONDERANTE NA

ESTABILIZAÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE NO PERÍODO DE 2014 À


2019

Gércio Fidélio Langa


Mestrando no Curso de
Finanças e Comercio
Internacional
Universidade Técnica de
Moçambique
Gerciolanga96@gmail.com

RESUMO
A taxa de câmbio é o preço relativo entre duas moedas e desempenha um papel fundamental na
determinação da competitividade das exportações e importações de um país. Em Moçambique, a
taxa de câmbio tem sido um fator significativo na dinâmica da balança comercial. Durante o
período de 2014 à 2019, Moçambique enfrentou desafios económicos, incluindo flutuações na
taxa de câmbio e impactos na balança comercial. A valorização ou desvalorização da moeda
local em relação a outras moedas pode influenciar diretamente as exportações e importações.
Uma moeda mais fraca pode tornar as exportações mais competitivas no mercado internacional,
aumentando as vendas para o exterior, enquanto as importações se tornam mais caras,
incentivando a substituição por produtos domésticos. Por outro lado, uma moeda mais forte pode
tornar as importações mais acessíveis, mas prejudicar a competitividade das exportações. Em
Moçambique, a relação entre a taxa de câmbio e a balança comercial é complexa, influenciada
por factores como a estrutura da economia, a política cambial, a volatilidade dos preços das
commodities e a demanda global. A compreensão dessas interações é essencial para a formulação
de políticas econômicas eficazes, visando a estabilização da balança comercial e o crescimento
sustentável.
Para a realização desta pesquisa, foi feita a pesquisa bibliográfica e utilizado o método
quantitativo, o qual permitiu a análise de dados macroeconómicos relativos ao objecto de estudo.
Dos resultados obtidos desta pesquisa, chegou-se a conclusão de que no período em análise a

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balança comercial não esteve estabilizada, pelo que, apresentou dados em que ilustra o seu saldo
deficitário em todos os anos, concluindo que Moçambique ainda é um pais que depende
maioritariamente das importações.

Palavras-Chaves: Taxa de câmbio, exportações e importações.

ABSTRACT
The exchange rate is the relative price between two currencies and plays a fundamental role in
determining the competitiveness of a country's exports and imports. In Mozambique, the
exchange rate has been a significant factor in the dynamics of the trade balance. During the
period from 2014 to 2019, Mozambique faced economic challenges, including exchange rate
fluctuations and impacts on the trade balance. The appreciation or devaluation of the local
currency in relation to other currencies can directly influence exports and imports. A weaker
currency can make exports more competitive on the international market, increasing sales
abroad, while imports become more expensive, encouraging substitution with domestic products.
On the other hand, a stronger currency can make imports more affordable but harm the
competitiveness of exports. In Mozambique, the relationship between the exchange rate and the
trade balance is complex, influenced by factors such as the structure of the economy, exchange
rate policy, the volatility of commodity prices and global demand. Understanding these
interactions is essential for formulating effective economic policies, aiming to stabilize the trade
balance and achieve sustainable growth.
To carry out this research, bibliographic research was carried out and the quantitative method
was used, which allowed the analysis of macroeconomic data relating to the object of study.
From the results obtained from this research, it was concluded that in the period under analysis
the trade balance was not stabilized, therefore, it presented data illustrating its deficit balance in
all years, concluding that Mozambique is still a country that depends majority of imports.

Keywords: Exchange rate, exports and imports.

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1. INTRODUÇÃO
A crise atingiu a economia do nosso país entre 2014 à 2019 por intermédio da dívida pública que
gerou diversos constrangimentos socioeconómicos. Foi um período que se verificou que o PIB
desacelerou drasticamente no início de 2014 e estendeu-se ate os dias de hoje, mas o que nos
importa falar é o ate o final de 2019 e automaticamente influenciou negativamente no
crescimento económico e como consequências gerou fragilidades e incertezas na economia.
Em 2014, houve uma queda do preço do petróleo no mercado internacional, o que afetou a
economia moçambicana e a balança comercial do país o valor das exportações de Moçambique,
principalmente de petróleo e gás, começou a cair em 2014, e a balança de pagamentos do país
passou a ser negativa, ou seja, havia mais exportações do que importações. Isso, por sua vez,
acabou afetando a taxa de câmbio, que começou a se desvalorizar. Em 2015, Moçambique teve
uma crise financeira, em que houve um desabamento da taxa de câmbio, que teve um impacto
directo sobre a balança de pagamentos do país. Esse ano foi realmente difícil para Moçambique,
pois o seu Produto Interno Bruto desacelerou para 6.7% em relação ao ano anterior, e a taxa de
inflação passou a ser de 10.55% em que a ideia principal do Banco de Moçambique foi de tentar
manter a taxa de câmbio estável, o que acabou sendo difícil apesar dos esforços feitos. Em 2016,
a situação do país ainda foi complicada, pois os investimentos externos foram reduzidos e a taxa
de inflação continuou a subir. O Banco Central moçambicano tentou controlar a situação, mas
isso foi difícil, principalmente porque Moçambique ainda estava lidando com a crise financeira.
Em 2017, a situação começou a melhorar, pois as exportações cresceram um pouco e houve um
aumento da taxa de câmbio. Também houve uma redução da inflação, que ficou em cerca de
25.27% em 2016 ficando para 5.65% em 2017. Em 2018, a situação piorou mais ainda, com uma
desaceleração do Produto Interno Bruto e uma redução considerável da taxa de inflação. No ano
seguinte, 2019, a situação pirou ainda mais, com o PIB desacelerando para 2.3% e a inflação
melhorando para 2.58%.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.Taxas de Câmbio
De acordo com Santos et al. (2010) definem que a taxa de câmbio como o preço a que se troca a
moeda de um país pela moeda de outro país.

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Segundo Vasconcellos e Garcia (2008) a taxa de câmbio é a medida de conversão da moeda
nacional em moeda de outros países.

Para Bastardo (2011), o preço relativo entre moedas é representado recorrendo dois métodos:

1. Ao incerto, indica quantas unidades de moeda nacional são precisas para se obter uma
unidade de moeda internacional;

2. Ao certo, indica quantas unidades de moeda internacional se podem obter com uma
unidade de moeda nacional.

Para Fonseca (2010), no mercado cambial encontra-se dois segmentos:

 Operações à vista (spot) – onde a troca das divisas é efectuada no mesmo momento em
que é negociada a taxa de câmbio;

 Operações a prazo (forward) – em que a taxa de câmbio é negociada numa data e a


transação a que respeita é efectuada numa data posterior.

Conforme Fonseca (2010), a demanda de divisas é constituída pelos importadores, que precisam
delas para pagar suas compras no exterior, uma vez que a moeda nacional não é aceita fora do
país, e também pela saída de capitais financeiros, pagamentos de juro, remessas de lucros, saídas
de turistas.

A oferta de divisas é realizada tanto pelos exportadores, que recebem moeda estrageira em
contrapartida a suas vendas, como pela entrada de capitais financeiros internacionais, turistas,
etc. Como a divisa não pode ser utilizada internamente, precisa ser convertida em moeda
nacional.

Por sua vez Fonseca (2021), argumenta ainda que uma taxa de câmbio elevada significa que o
preço da divisa estrangeira está alto, ou que a moeda está desvalorizada desta forma os produtos
importados ficam mais caros. Assim, a expressão desvalorização cambial indica que houve um
aumento da taxa de câmbio. Por sua vez, valorização cambial significa moeda nacional mais
forte em consequência uma queda da taxa de câmbio.

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A taxa de câmbio está intimamente relacionada com os preços dos produtos exportados e
importados e consequentemente, com o resultado da balança comercial do país. Se a taxa de
câmbio for elevada, estimulará as exportações, em consequência, haverá maior oferta de divisas.

Do lado das importações, a situação se inverte, pois se os preços dos produtos importados se
elevam, em moeda nacional, haverá um desestimulo às importações e, consequentemente, uma
queda na demanda por divisas.

Ainda para Fonseca (2010), uma taxa de câmbio sobrevalorizada (isto é, a moeda nacional
encontra-se valorizada) surte um efeito contrário tanto nas exportações como nas importações.
Há um desestimulo as exportações e um estímulo às importações.

2.1.1.Regimes Cambiais
Segundo Vasconcellos (2006), existem dois grandes tipos de regime cambial, o de taxas fixas e o
de taxas flutuantes de câmbio:
2.1.1.1. Regimes de câmbios fixos
Conforme Gremaud (2004), o Banco Central determina o valor da taxa de câmbio e se
compromete a comprar e vender divisas à taxa estipulada. Para este regime poder funcionar, o
Banco Central deve possuir moeda estrangeira em quantidade suficiente para atender a uma
situação de excesso de demanda por estas (uma situação de déficit na balança de pagamentos) a
uma taxa estabelecida, bem como adquirir qualquer excesso de oferta de moeda estrangeira.
Para Vasconcellos e Garcia (2008), dentro do regime de câmbio fixo, tem-se o sistema de bandas
cambiais, onde o Banco Central fixa os limites superiores e inferiores dentro dos quais a taxa de
câmbio pode flutuar. É considerado câmbio fixo, pois o limite de variação da taxa de câmbio é
fixado, nesse caso o Banco Central é obrigado a disponibilizar suas reservas cambiais, quando
requeridas.

2.1.1.2. Regime de câmbios flexíveis ou flutuantes


De acordo com Gremaud (2004), a taxa de câmbio deve ajustar-se de modo a equilibrar o
mercado de divisas. O Banco Central não intervém na taxa de câmbio. Em situação de excesso
de demanda por moeda estrangeira, esta terá seu preço elevado, ou seja, a moeda nacional se
desvalorizará. Quando houver um excesso de oferta de moeda estrangeira a moeda nacional será
valorizada.

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Fonseca (2010) enfatiza que, a taxa de câmbio é determinada exclusivamente pela oferta e
procura dos outros agentes económicos. Este regime tem contra si o facto de não impedir a
existência de períodos de forte volatilidade das taxas de câmbio, com efeitos nefastos para as
transações internacionais.

O autor refere ainda, que os efeitos da instabilidade cambial podem causar retração no comércio
internacional, pela incerteza que cria na medida em que:

 O importador de um determinado país, cuja moeda atravessa um período de forte


depreciação nos mercados de câmbio, corre um risco elevado de ver, a todo o momento,
aumentar a quantidade de moeda nacional que tem que entregar para obter a moeda
estrangeira de que necessita;

 A forte depreciação da moeda nacional, tem como efeito a subida dos preços dos
produtos importados que, quando são utilizados como factores de produção ou matérias-
primas, fazem com que os custos de produção aumentem, causando uma situação
inflacionista no país cuja moeda se deprecia;

 A apreciação da moeda nacional pode também criar consequências negativas, por criar
dificuldades à capacidade exportadora do país.

Política Monetária Expansionista com o Câmbio Flexível

O aumento da oferta monetária nominal aumenta a oferta real de moeda (preços rígidos),
deslocando a curva LM para LM1. A redução da taxa de juros aumenta o consumo e o
investimento, aumentando o produto para Y 1. No ponto B os mercados de bens e monetário estão
em equilíbrio, mas a balança comercial apresenta um deficit. O déficit na Balança de Pagamentos
ocasiona um excesso de demanda pela moeda estrangeira, depreciando a taxa de câmbio. A
depreciação da taxa de câmbio aumenta as exportações líquidas e o nível do produto (Y),
conforme ilustra o gráfico abaixo.

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Gráfico 1: A Política Monetária Expansionista com o Câmbio Flexível

I BP0
LM0 BP1
LM1
i0 A C
i1 B
IS1
IS0

Y0 Y1 Y2
Política Monetária Restritiva com o Câmbio Flexível

A redução da oferta monetária nominal diminui a oferta real de moeda (preços rígidos),
deslocando a curva LM para a esquerda. O aumento da taxa de juros diminui o consumo e o
investimento, reduzindo o produto para Y1. No ponto B os mercados de bens e monetário estão
em equilíbrio, mas a balança de pagamentos apresenta um superavit. O superavit na Balança de
comercial ocasiona um excesso de oferta pela moeda estrangeira, apreciando a taxa de câmbio.
Com a apreciação da moeda nacional, regista redução nas exportações líquidas e no nível do
produto.

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Gráfico 2: Política Monetária Restritiva com o Câmbio Flexível

I BP1
LM1 BP0
B LM0
i0 C A
i1
IS0
IS1

Y2 Y1 Y1 Y

Conforme Vasconcellos e Garcia (2008), mesmo dentro do regime de câmbio flutuante, o Banco
Central interfere indirectamente na determinação da taxa de câmbio, por meio de compra ou
venda de divisas no mercado, mantendo-a dentro de níveis que julga adequados, dependendo dos
objectivos gerais de política económica e é denominado regime de flutuação suja ou dirty
floating e é o regime cambial adotado pela maioria dos países, na qual é adotado o regime de
câmbio flutuante, com o mercado determinando a taxa, mas com intervenções do Banco Central,
comprando e vendendo divisas de forma a manter a taxa de câmbio em níveis adequados, sem
grandes oscilações.

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Quadro 1: Regimes Cambiais

CÂMBIO FIXO CÂMBIO FLUTUANTE

/FLEXÍVEL

Banco Central fixa a taxa de O mercado (oferta e demanda


câmbio. de divisas) determina a taxa de
câmbio.
CARACTERÍSTICAS Banco Central é obrigado a
disponibilizar as reservas Banco Central não é obrigado a
cambiais. disponibilizar as reservas
cambiais.

Maior controle da inflação, Política monetária mais


(custo das importações). independente do câmbio.
VANTAGENS
Reservas cambiais mais
protegidas de ataques
especulativos.

Reservas cambiais vulneráveis A taxa de câmbio fica muito


a ataques especulativos. dependente da volatilidade do
DESVANTAGENS mercado financeiro nacional e
A política monetária (taxa de internacional.
juros) fica dependente do
volume de reservas cambiais. Maior dificuldade de controle
das pressões inflacionárias,
devido às desvalorizações
cambiais.

Fonte: Vasconcellos (2006)

2.1.2. Efeito das variações na taxa de câmbio sobre as importações e exportações


De acordo com Vasconcellos (2006), com uma desvalorização cambial, a taxa de câmbio sobe (o
custo por se ter moeda estrangeira é maior). Pelo lado da demanda, os compradores estrangeiros,
com os mesmos dólares, compram mais produtos e os exportadores tendem a exportar mais; os
importadores pagarão mais moeda nacional por dólar e tendem a importar menos. Assim, as
desvalorizações cambiais tendem a estimular as exportações e a desestimular as importações. A
valorização cambial, por seu turno, toma a moeda nacional mais forte, o que estimulará a compra
de produtos importados, mas desestimula a venda dos exportados.

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2.2. Balança Comercial
De acordo com Assis (2006), balança comercial é a relação entre importações e exportações de
um país em volume financeiro. Pode ser superavitária, deficitária ou nula.

Superávit é quando o saldo da balança comercial apresenta maior volume de exportações em


relação às importações. Representa maior entrada de divisas originárias de exportações
realizadas, ou seja, exporta-se mais do que se importa. (UNISUL, 2008).

Déficit é quando o saldo da balança comercial apresenta maior volume de importações em


relação às exportações. Representa maior saída de divisas originárias de importações realizadas,
ou seja, importa-se mais do que se exporta. (UNISUL, 2008).

As variáveis contidas na balança comercial demonstram os movimentos totais das exportações


que incluem todos os produtos exportados pelo país. (UNISUL, 2008).

Assim sendo, balança comercial é definida como a diferença que há entre o total de exportações
menos o total das importações que são realizadas em cada país. (INFOESCOLA, 2008).

A balança comercial registra movimentações de exportações e importações de mercadorias ou


bens, em valores FOB (significa ‘’free on bord’’, e qualifica ao preço das mercadorias, indicando
que este incluiu todas as taxas e tarifas de exportação, assim como os custos portuários de
carregamento do navio). (UFRGS, 2008).

Essas operações são compulsoriamente registradas no Sistema de Informações Banco Central


(SISBACEN-CÂMBIO). (BCB, 2008).

Adicionalmente, são consideradas informações provenientes de pesquisas em empresas privadas,


relatórios de órgãos governamentais e dos balancetes de instituições financeiras. (BCB, 2008).

É certo que a balança “no conceito de caixa” afecta em última instância, e diretamente, as
reservas internacionais. (ECON, 2008).

Para Econ (2008), a maior parte dos economistas prefere olhar a balança comercial segundo o
critério dos valores declarados das mercadorias que entram e saem, ou seja, segundo o
“movimento físico” de mercadorias. Note-se que, ao calcular o valor das importações no
“conceito de caixa” o Banco Central inclui as amortizações de financiamentos passados, o que

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faz com que o número reflita exatamente o impacto de pagamentos relacionados a importações
sobre as reservas. (ECON, 2008).

Segundo Infoescola (2008), entende-se por superávit comercial, em determinado momento da


economia, quando as cifras referentes à exportação são maiores do que as cifras relativas à
importação de bens e serviços. Quando ocorre o contrário, ou seja, o país importa mais do que
exporta, surge o que é chamado de déficit comercial. Existe ainda uma terceira situação chamada
de equilíbrio comercial, neste caso, o montante referente às exportações é igual ao montante das
importações (INFOESCOLA, 2008).

Existem diversos fatores que podem afetar a balança comercial, são eles: os custos logísticos
para enviar os produtos de um país para o outro; as políticas adotadas por cada país em relação
ao comercio internacional; a renda dos habitantes dos países envolvidos, bem como o gosto e as
preferências destes mesmos habitantes; a taxa de câmbio utilizada para as pessoas comprarem
moeda estrangeira e o preço dos produtos e serviços no exterior e no país. (INFOESCOLA,
2008).

2.3. A importância da taxa de câmbio na balança comercial


A taxa de câmbio pode ter um efeito significativo sobre as importações e exportações, mas pode
também afectar outros factores como o investimento estrangeiro e a inflação. Primeiro, a taxa de
câmbio pode afectar o preço das exportações e importações. Se a moeda local for desvalorizada,
isso pode tornar as exportações mais baratas e as importações mais caras, o que pode aumentar a
balança comercial positiva. Também, uma moeda desvalorizada pode promover o investimento
estrangeiro, uma vez que as bens e serviços locais ficam mais baratos para os investidores
estrangeiros. Além disso, a desvalorização pode ajudar a aumentar a competitividade dos
produtos nacionais em mercados externos. Em relação à inflação, uma moeda desvalorizada pode
aumentar os preços dos bens importados, levando à inflação. A taxa de câmbio também pode ter
efeitos sobre os juros, as reservas internacionais, o equilíbrio de pagamentos e a posição de
balança.
É importante também mencionar alguns dos efeitos positivos e negativos da taxa de câmbio para
a balança comercial, porque a situação pode variar dependendo da situação económica do país
em questão.

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A balança comercial pode ser beneficiada por uma taxa de câmbio desfavorável em alguns casos,
mas ela também pode ser negativamente afectada em outros casos. Por exemplo, uma moeda
desvalorizada pode incentivar a substituição de importações por produtos nacionais, mas também
pode causar estragos na economia, como o aumento da inflação e o aumento dos
custos de importação de insumos essenciais para a indústria. Portanto, é importante considerar a
situação concreta de cada país. É importante ter em mente que existem vários factores que
podem afectar a relação entre taxa de câmbio e balança comercial, além da economia e a
indústria. O nível de desenvolvimento económico, o nível de desenvolvimento industrial, a
estrutura do setcor externo, a estrutura do sector interno, as políticas económicas e fiscais e as
condições políticas e sociais do país também podem ter um impacto na relação entre a taxa de
câmbio e a balança comercial.
Uma taxa de câmbio competitiva pode ajudar a reduzir a deficiência comercial de um país, ou
mesmo fazê-la passar a ser favorável. Isso acontece quando a taxa de câmbio faz as exportações
se tornarem mais baratas em relação às importações. Isto resulta na venda de mais bens e
serviços do país no mercado internacional, e na entrada de mais dólares no país. Isso pode
melhorar o resultado da balança comercial. Agora, uma taxa de câmbio alta pode afectar a
balança comercial negativamente, aumentando a deficiência comercial do país. Isto pode
acontecer quando a taxa de câmbio faz as importações se tornarem mais baratas em relação às
exportações. Isto resulta na compra de mais bens e serviços de fora do país, e em dinheiro sendo
transferido de fora do país. Isto pode piorar o resultado da balança comercial. Uma política de
câmbio fixa, como um padrão ouro, poderia afectar a balança comercial de um país. Com um
padrão ouro, a taxa de câmbio é constante e não é permitida uma flutuação no valor da moeda.
Isto pode ter um impacto significativo sobre a balança comercial, pois pode restringir a
capacidade do país de comerciar internacionalmente. Se a balança comercial estiver favorecendo
uma maior entrada de dinheiro do que a saída de dinheiro, a taxa de câmbio fixa poderia trazer
problemas, pois o dinheiro no país iria aumentar e gerar inflação. Isto pode fazer com que o país
não seja mais competitivo no mercado global, e aí a balança comercial seria negativamente
afectada. Por outro lado, se a balança comercial estiver favorecendo a saída de dinheiro do país,
a taxa de câmbio fixa pode ajudar a estabilizar a economia e trazer benefícios. Então, é
importante considerar os aspectos positivos e negativos de uma política de câmbio fixa quando
se trata de a balança comercial. Com um padrão flutuante, a taxa de câmbio é decidida pelo

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mercado. Isso pode ajudar a equilibrar a balança comercial e a adaptar a economia a uma
mudança nas circunstâncias, por exemplo, quando há uma crise económica ou uma inflação. O
principal problema do padrão flutuante é a volatilidade da taxa de câmbio. Isso pode gerar
instabilidade económica, especialmente quando a taxa de câmbio flutua demais ou de forma
irregulares. Isto pode afectar negativamente a balança comercial, pois faz com que os produtos
do país se tornem menos atraentes e torna mais difícil planejar a produção e investimento.

3.ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS


3.1. O comportamento das taxas de câmbio e a balança comercial no período de 2014 á 2019

Em 2014, o Metical teve um comportamento misto em relação às principais moedas


transacionadas no mercado cambial doméstico tendo em conta o ano anterior, tendo depreciado
face ao USD e apreciado face ao ZAR. Efectivamente, no Mercado Cambial Interbancário, o
Dólar dos EUA esteve cotado a 31,59 meticais (31 de Dezembro de 2013), cifra que corresponde
a uma depreciação anual da moeda nacional de 5,48%, após ter depreciado em 1,49% no fecho
do ano anterior. Essa variação pode ser atribuída a factores externos como o preço do gás natural,
uma das principais exportações no país, e factores internos como a restrição de divisas, e uma
medida restritiva de política monetária (aumento das taxas de juros) adoptada pelo Banco
Moçambique e a crise política no país. Por outro lado, a Balança Comercial registou um deficit
de aproximadamente 2.5 bilhões de dólares, tendo um aumento de 26% em relação ao deficit de
2013, e este aumento foi atribuído a queda de preços das commodities e resultados da indústria
de petróleo e gás, queda na demanda doméstica e restrição de divisas como foi citado acima.

Em 2015, o Metical teve um comportamento padrão em relação às principais moedas


transacionadas no mercado cambial doméstico, mantendo uma tendência de depreciação ao
longo do ano. Efectivamente, no Mercado Cambial Interbancário, o Dólar dos EUA esteve
cotado a 44,95 meticais (31,59 meticais em Dezembro de 2014), corresponde a uma depreciação
anual da moeda nacional de 42,25%, sendo que este valor alcançou maior variação anual
(73,10%) em Novembro quando a o Dólar dos EUA esteve cotado a 54,06 meticais. Ainda no
mesmo ano, mas sob o ponto de vista da Balança Comercial, o deficit aumentou de 2.5 para 3.3
bilhões de dólares americanos o que corresponde a uma variação de 32% em relação ao ano
anterior, aumento esse devido a redução nas exportações, especialmente de petróleo e produtos

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químicos e um aumento das importações especialmente de bens de capital e insumos para a
industria petroquímica.

Em 2016, o Metical registou perdas nominais face às principais moedas transacionadas no


mercado cambial doméstico, tendo-se em termos acumulados no ano, nas transações entre os
bancos e os seus clientes, depreciado em 50,8% face ao Dólar dos EUA e 58,5% face ao Rand.
No final de Dezembro, o Dólar dos EUA esteve cotado em 71,3 meticais e o Rand em 5,1
meticais. Em relação a Balança comercial, no ano de 2016 teve a mesma deslocação em relação
ao ano anterior, tendo o deficit da balança aumentado em torno de 4.6 bilhões de dólares
americanos, cerca de 42% em relação ao ano anterior.

Em 2017, o Metical registou ganhos nominais face às principais moedas transacionadas no


mercado cambial doméstico tendo, em termos anuais, nas transações entre os bancos e os seus
clientes, apreciado em 17,4% face ao Dólar dos EUA e 7,0% face ao Rand, após ter depreciado
no ano anterior, face às mesmas moedas, em 50,8 e 58,5%, respectivamente. No final do ano, o
Dólar dos EUA esteve cotado a 58,88 meticais e o Rand a 4,76 meticais. No lado da balança
comercial, não tomou u rumo diferente dos anos anteriores, as importações continuaram sendo
maiores que as exportações, Moçambique continuou sendo um país mais importador do que
exportador, tendo a balança atingido um deficit em torno de 3.7 bilhões de dólares americanos, o
que representou 20% em relação ao ano anterior.

Em 2018, o Metical registou perdas nominais face às principais moedas transacionadas no


mercado cambial doméstico, tendo, em termos anuais, nas transações entre os bancos e os seus
clientes, depreciado tanto em relação ao USD (4,3%). Comparativamente ao Rand, o Metical
obteve ganhos nominais ao apreciar-se em 10,7%. Em igual período do ano anterior, a moeda
nacional conheceu os seguintes ganhos nominais perante as moedas dos principais parceiros:
17,43% (USD); e 5,7% (Rand). No final do ano em análise, o USD esteve cotado a 61,43
meticais, e o Rand a 4,25 meticais, uma ligeira variação influenciada pela queda no preco das
commodities, a forte inflação e os investimentos de longo prazo. Importa referir que as perdas
nominais do Metical foram mais acentuadas no primeiro e terceiro trimestres de 2018,
reflectindo em parte, e tal como já se referiu anteriormente, o comportamento especulativo dos
agentes económicos nacionais detentores de divisas, num contexto de aumento significativo da
procura de moeda estrangeira para as importações.

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Por sua vez o deficit na balança comercial continuou crescendo chegando a 4.6 bilhões de
dólares, que representou um aumento de 24% em relação ao ano anterior.

Em 2019, o Metical perdas nominais face ao Dólar e ganhos nominais em relação ao Rand. Em
termos anuais, nas transações entre bancos e os seus clientes, depreciado em relação do USD e
comparativamente ao Rand, o Metical obteve ganhos nominais ao apreciar-se. No final do ano
em análise, o USD esteve cotado a 62.55 meticais e o Rand a 4.33 meticais. Em relação a
balança comercial, o deficit aumentou significativamente em 5.6 bilhões sendo o maior saldo em
relação aos anos analisados neste artigo, a diferença foi devido a redução significativa das
exportações do petróleo e aumento das importações.

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4.CONCLUSÃO
Olhando para todos esses dados, algumas conclusões podem ser tiradas, relativamente ao
comportamento das taxas de câmbio, durante o período em análise o metical apresentou
tendências apreciativas no Mercado Cambial face às principais moedas estrangeiras (Dólar-
Americano e Rand-Sul Africano).
A outra conclusão que se pode tirar é que o declínio nas exportações, devido à queda dos preços
das commodities visto que Moçambique é um grande exportador, e o aumento das importações,
tiveram um impacto negativo sobre a balança comercial de Moçambicana. Além disso, a
instabilidade do câmbio do Metical em relação ao dólar americano foi também um factor
importante na redução da balança comercial. Esse declínio afectou também a actividade
económica, reduzindo o crescimento do Produto Interno Bruto de Moçambique nos anos em que
foram feitas as análises.

É importante que o Banco Central, diversifique a base de exportação, para reduzir o risco de
flutuações económicas e políticas, e melhorar a competitividade económica. Ademais, o governo
poderia tentar equilibrar a taxa de câmbio, reduzindo a dependência das taxas do mercado
cambial.

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5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 ASSIS, M.G. Manual Prático de Comércio Exterior. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
 BASTARDO, C. (2011). Gestão de Activos Financeiros: Back to Basis. Lisboa: Escolar.
 BCB. Balanço de Pagamentos. Disponível em: Acesso em: 06 dez. 2008
 ECON. A Balança Comercial e seus Truques. Disponível em: <
http://www.econ.pucrio.br/gfranco/a72.htm>. Acesso em: 06 dez. 2008.

 FONSECA, J. S. (2010). Economia monetária e financeira. Coimbra: Imprensa da


Universidade de Coimbra.
 GREMAUD, A. P. (2004). Manuel de economia. São Paulo: Saraiva.
 INFOESCOLA. Balança Comercial. Disponível em: Acesso em: 06 dez. 2008.
 SANTOS, J et al. (2010). Macroeconomia. Lisboa: Escolar.
 UFRGS. Balança Comercial. Disponível em: Acesso em: 06 dez. 2008.
 UNISUL. Conceito de Comércio Internacional. Disponível em: Acesso em: 06 dez. 2008.
 VASCONCELLOS M. A. De S. (2006). Economia Micro e Macro. Rio de Janeiro: Atlas
 VASCONCELLOS, M. A. De S., GARCIA, E. (2008). Fundamentos de economia. São
Paulo: Saraiva.

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