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NEXIALISTAS: OS DESIGNERS DO CONHECIMENTO

E A NOVA ERA DA TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO

NEXIALISTS: THE DESIGNERS OF KNOWLEDGE


AND THE NEW AGE OF TECHNOLOGY EDUCATION

Didiane Vally Figueiredo Chinalli


Docente dos Cursos de Humanas e Tecnologias e
Editora Científica da Revista Científica Integrada da
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá
dvally@ig.com.br

Resumo
Considerando os novos rumos da Educação, o trabalho buscou sintetizar as mudanças nos
processos educacionais que emergiram impulsionadas pelo acelerado desenvolvimento
tecnológico e na esteira da mudança comportamental e cognitiva vivenciada pelas atuais
gerações Y e Z. Buscou-se apontar também as vertentes dominantes da Educação no século
XXI ante a inclusão das novas tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem; os novos
modelos educativos que estão sendo propostos e implantados ao redor do mundo e a
mudança de abordagem na construção da interdisciplinaridade para a construção dos
conteúdos curriculares. Por derradeiro se discorreu sobre as características dos profissionais
nexialistas que como agulhas de marear deverão apontar o norte para a construção do
conhecimento a partir de agora, arquitetando um novo arranjo dos saberes. A pesquisa
bibliográfica se assentou em periódicos da área da Educação; em dados obtidos de pesquisas
internacionais recentes sobre as Tecnologias da Educação; e em livros, vídeos e páginas da
Internet que tratam desta temática e de questões afins. Concluiu-se que a entrada e o
aprimoramento das novas tecnologias na área educacional são irreversíveis, bem como as
mudanças cognitivas nas novas gerações de estudantes decorrentes da assimilação da
informação e do conhecimento pela via predominantemente visual. Também se constatou
que a nova face da Educação requer um rearranjo da construção e transmissão dos saberes,
sendo esta mediada a partir de agora pelos profissionais nexialistas, requerendo-se, para
tanto, uma mudança na construção das políticas educacionais no Brasil e no mundo.

Palavras-chave: nexialista, interdisciplinaridade, tecnologias da educação.


Área: Humanas e Tecnologias

1. Introdução:
Para onde caminha a Educação nesta era tecnológica? Como as novas gerações se
apropriam do conhecimento? Ante as mudanças vigorosas que vêm sendo propostas nos
processos de ensino-aprendizagem, que metodologias serão utilizadas para a construção dos
conteúdos curriculares a partir de agora?
Estas e outras questões permeiam o cotidiano de professores e gestores educacionais
que se apressam em se adaptar às transformações do mundo acadêmico em meio à
transição para lá de acelerada que atravessamos.

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Em todo o mundo novos processos educacionais estão sendo propostos; o rearranjo
dos saberes está sendo construído; e uma nova face da Educação vem sendo moldada:
flexível; difusa; realinhada com a complexidade do mundo e com as mudanças nos processos
cognitivos das novas gerações.
Nesse cenário surgem os nexialistas, profissionais que na visão de muitos irão
modificar a arquitetura do conhecimento nesse contexto de veloz expansão das tecnologias,
por meio do novo perfil da interdisciplinaridade na formação reticular dos saberes.
2. Objetivos:
Tecer uma síntese da atual revolução dos processos educacionais e abordar as novas
vertentes para a construção de conteúdos curriculares e dos modelos educativos,
explanando o conceito de nexialista e analisando seu papel no futuro da Educação.
3. Método:
Para o trabalho utilizou-se a investigação bibliográfica em periódicos da área da Educação;
em dados obtidos de pesquisas internacionais recentes sobre as Tecnologias da Educação; e
em livros, vídeos e páginas da Internet que tratam desta temática e de questões afins.

4. Da transição ao futuro:
O esgotamento de um ciclo leva a saltos evolutivos. É o que se vê ocorrer no momento
atual. E saltos evolutivos são precedidos de transições que se instalam quando já se evidencia
o fim do modelo anterior, contudo não se vislumbra a imagem nítida do modelo porvir.
Ao se entrar nesse estágio transicional, tendo a construção do futuro como meta e o
passado como referência, moldam-se conjunturas à luz das novas realidades no intuito de
erguer o cenário que irá servir a todos daí em diante. Segundo LUKACS (2005):
[...] Chegamos ao fim desta era, do período em que a idéia do progresso
submeteu os demais conceitos analíticos em todas as áreas do
conhecimento humano, nos aproximamos de um estágio da história em que
devemos começar a pensar sobre o próprio pensamento. No fim de uma era,
devemos nos engajar num repensar radical.
Vive-se uma transição cujo principal fator impulsionador é a evolução tecnológica que
obteve avanços imensos nas duas últimas décadas. O surgimento e a rápida expansão das
novas tecnologias; a rapidez da troca de dados e informações; a facilidade de acesso ao
conhecimento dada pela Internet e pela ainda mais recente “convergência midiática”
repercutiram em todos os segmentos da vida humana. Nesse contexto, a Educação se
apresenta como uma das áreas mais radicalmente afetada por essas mudanças.
Ao par dos fatores tecnológicos citados, a geração Y (conhecida também como
“geração da Internet”, dos nascidos após os anos 80) e a geração Z (conhecida também
como “nativos digitais”, nascidos após os anos 90), acolheram com grande receptividade as
novas tecnologias e se amoldaram a elas numa velocidade impressionante, contribuindo
para a transformação cogente da área educacional.
Tablets, smartphones; Mp4s; Mp5s; notebooks; videogames; pendrives; scanners;
ereaders e ebooks; bem como softwares; redes wi-fi; emails; fóruns; chats; aplicativos em
dispositivos móveis; áudio e videoconferências e troca de informações em tempo real, são
equipamentos e atividades cotidianas dos Grupos Y e Z. Da soma dos Ys e dos Zs, nasceu um
grupo midiático, visual, “antenado”, acostumado à obtenção de informações de maneira
expressa e que degusta textos, sons e imagens de forma rápida e muitas vezes superficial.

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Um grupo que desenvolveu um novo estilo de comunicação a começar pela linguagem
mais do que abreviada dos torpedos e bate-papos online, passando pelos emoticons que
substituem palavras por emoções e pela difusão dos memes da Internet, que carreiam e
multiplicam ideias.
Além dessa modificação da linguagem, os ora estudantes Ys e Zs – que pelo
espectro de suas faixas etárias se situam do final do ensino fundamental até a pós-
graduação – digitam e deslizam os dedos sobre as telas Touch Screen, numa interação,
sob o prisma sensorial, predominantemente visual, muito mais do que escrevem com
caneta em papel ao longo de suas vidas.
Como explana a neurociência, esses procedimentos tecnológicos mudaram
completamente a forma como essas gerações assimilam, armazenam e descartam
informações e conhecimento em seus cérebros.
Ademais, o fato de hoje haver crianças, jovens e adultos manipulando aparelhos
eletrônicos, computacionais e gadgets com desenvoltura estabelece uma mudança de
paradigma: antes o conhecimento se situava no mundo real, agora, além deste, tem-se a
cultura da informática que permite novos arranjos no ciberespaço, por meio da
interatividade e de processos colaborativos, por onde flui a difusão do conhecimento.
Conforme SIMÕES (2013):
A revolução tecnológica produziu uma geração de alunos que cresceu com
fontes de mídia multidimensional e interativa, uma geração cujas
expectativas e visão de mundo diferem daqueles que a precedeu. (...)
E ainda MORAN (1995):
(...) A comunicação torna-se mais e mais sensorial, mais e mais
multidimensional, mais e mais não linear. As técnicas de apresentação são
mais fáceis hoje e mais atraentes do que anos atrás, o que aumentará o
padrão de exigência para mostrar qualquer trabalho através de sistemas
multimídia. O som não será um acessório, mas uma parte integral da
narrativa. O texto na tela aumentará de importância, pela sua
maleabilidade, facilidade de correção, de cópia, de deslocamento e de
transmissão. (...)
No mundo onde as tecnologias invadiram todos os redutos da sociedade da
informação e as mudanças nos processos cognitivos das novas gerações já se mostram
evidentes, depreende-se que o duo ensino-aprendizagem não poderá se manter estático,
unicamente replicando as metodologias que vínhamos utilizando até aqui. Requer-se uma
transformação importante.
As tecnologias, ora denominadas “TICs”, são as maiores responsáveis pelas mudanças
cognitivas dos estudantes de hoje (de crianças a adultos) e por esta razão foram alçadas à
categoria de tecnologias intelectuais, como se vê a seguir, na explanação de VIVALDO (2005):
Os processos tecnológicos utilizados hoje em dia, são considerados
tecnologias intelectuais, pois, como a oralidade e a escrita, também
participam ativamente do processo cognitivo, modificando ações,
transformando conceitos em um estado virtual, de potencialização e de
modernização das classes cognitivas em seu complexo de contexto digital e
social. Segundo Pierre LÉVY (...), as tecnologias intelectuais, assim
chamadas por não serem simples instrumentos, mas por influírem no

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processo cognitivo do indivíduo, vão ser os parâmetros utilizados nessa
busca de compreensão da estrutura caótica social. Segundo Brennand (...):
“A forma de difusão da tecnologia está reconfigurando as experiências de
uso e consequentemente novas formas de aplicações, o que tem
ocasionado mudanças substantivas nas formas de aprendizagem dos
sujeitos [...]”. Dessa forma, a educação baseada no sistema de informação
tecnológica, atribui ao educador/a a incumbência de criar um novo
ambiente escolar, um lugar que estimule o aprendizado ativo e proporcione
diretrizes que estimulem a troca de experiências entre alunos/as. As
tecnologias de informação e comunicação (TIC's) serão complementos
fundamentais no processo de ensino/aprendizagem, dando subsídios para
que a educação seja mais efetiva, nesse mundo que se torna cada vez mais
digital. (grifos nossos)
Nessa seara, conforme VIVALDO (2005), as tecnologias são agrupadas em duas grandes áreas :
A primeira é a Tecnologia de Comunicação que designa toda forma de
veicular informação. Têm-se como ambiente de veiculação, incluindo as
mídias mais tradicionais, os livros, o fax, o telefone, os jornais, o correio, as
revistas, o rádio, os vídeos, as redes de computadores e a Internet.
A segunda é a Tecnologia de Informação que designa toda forma de
determinar, gravar, armazenar, processar e reproduzir as informações.
Como exemplos de suportes de armazenamento de informações: o papel,
os arquivos, os catálogos, as fitas magnéticas, os CD’s. Dispositivos que
permitem o seu processamento, são os computadores e os robôs, e
exemplos de aparelhos que possibilitam a sua reprodução: a máquina de
fotocopiar, o retroprojetor, o projetor de slides.
Destaca-se na primeira categoria, a Internet, que se apresenta como uma interface
com recursos multidimensionais poderosos e que terá participação expressiva na
construção do novo modelo de Educação no século XXI. Na segunda categoria a relevância
fica com o computador, hoje na sua prevalente versão compacta vista nos notebooks e
tablets, que permite boa acessibilidade aos conteúdos pela facilidade de transporte e
utilização e será ferramenta constante nos novos processos educacionais.
Neste novo mundo – ágil, tecnológico e digital – surgiram também outras ferramentas
da Educação que englobam desde dispositivos para salas de aula, como por exemplo, as
lousas digitais; os tablets conectados em rede em substituição aos livros didáticos; ebooks,
periódicos online e bibliotecas virtuais como fontes de pesquisas bibliográficas; plataformas
de aprendizado interativo para cursos na modalidade de e-learning ou de blended-learning;
chegando recentemente ao lançamento em larga escala dos MOOCS (massive open online
courses) – estudos online desenvolvidos para megaportais de educação como o Coursera, o
EdX e outros, que agrupam centenas de Universidades em diferentes países e que têm
como objetivo revolucionar a difusão do conhecimento.
Sem embargo, cabe ressaltar que esta nova era implica não somente no incremento do
uso de ferramentas tecnológicas na Educação, mas sobretudo, numa mudança radical na
cultura acadêmica para a qual educadores de todas as partes do mundo voltam suas
atenções neste momento. Diante dessa transformação faz-se mister refletir que modelos
educacionais serão criados a partir de agora e como iremos nos valer de forma eficiente

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dos novos recursos e urdir os processos de ensino-aprendizagem de modo a contemplar as
mudanças cognitivas dos Ys, Zs e das próximas gerações.
5. Os novos modelos educacionais da era tecnológica:
Profissionais da Educação e gestores públicos e privados não só se aperceberam da
magnitude das mudanças que atravessamos, como já deram a largada para a construção e
introdução de novos modelos educacionais para as atuais e futuras gerações.
São modelos variados em suas concepções e estão gerando investimentos maciços
por parte de universidades e escolas que trabalham com olhos no futuro. Para se ter uma
ideia desse segmento, no quadro abaixo se encontram elencados exemplos de matrizes
educacionais que estão sendo implementadas ao redor do mundo conforme RIBEIRO (2013).
Elas vêm produzindo experiências que têm se mostrado promissoras no tocante a aferição
do aprendizado dos alunos e gerando resultados superiores aos do ensino que até o
presente momento denominamos de tradicional.

Flip Education: Baseada em pesquisa e investigação, a chamada Educação Invertida pressupõe


que a escola é um lugar de interação e, sobretudo, um espaço para sanar dúvidas. Por meio de
videoaulas, os alunos recebem os conteúdos a serem estudados em casa e vão às aulas para
construir significados sobre o que aprenderam. Nesse modelo, o estudante é protagonista do
processo educativo e cabe ao professor estabelecer dinâmicas e caminhos, a fim de orientá-lo.
O mobiliário tradicional de uma sala de aula não dá conta dessa proposta, por isso, a
tendência é que os espaços educativos sejam todos circulares. Na Finlândia, esse cenário já é
uma realidade. Um dos maiores exemplos de Flip Education é a Khan Academy. Elaborada por
Salman Khan, trata-se de uma plataforma de mais de 3.800 vídeos educacionais vistos por
milhões de pessoas, incluindo os filhos de Bill Gates.
Anytime Anywhere Education: Educação Expandida é aquela que ocorre a qualquer tempo,
em qualquer lugar. Na prática, isso implica numa aprendizagem para alem do horário escolar e
dos muros da escola.
Open Education: Nos próximos anos, a demanda por uma educação gratuita e de acesso a
todos será cada vez maior. Com o aparecimento de plataformas que podem ser utilizadas no
processo pedagógico, como Instagram e Pinterest, somadas àquelas desenvolvidas por
empresas e universidades com essa finalidade, o mundo está prestes a ser um grande
território educativo.
Adaptive Education: Implementada em Nova York em larga escala, por meio do programa iZone,
a denominada educação personalizada tem no aluno a chave para o aprendizado. Em vez de
convencê-lo de que determinado assunto deve ser estudado, a personalização do ensino parte
dos seus interesses e de suas potencialidades para estabelecer o processo educativo.
P2P Education: Estudos indicam que a confiabilidade entre iguais é muito maior do que
quando há uma hierarquia estabelecida. A educação entre iguais eleva o protagonismo do
aluno ao regime de colaboração e compartilhamento. Ou seja, esse modelo propõe que
alunos compartilhem entre si a produção de conhecimento.
BYOD Education: Bring Your Own Device (Traga seu próprio dispositivo) é o mote de uma
educação plenamente digitalizada. Não importa se tablet ou smartphone, o fato é que esses
gadgets serão cada vez mais falados quando o assunto for educação.

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Os modelos por certo não se esgotam nesta enumeração. No Brasil e em outros países
tem crescido a utilização do modelo de “Aprendizado baseado em evidências”, bem como o do
“Ensino personalizado” semelhante ao citado “Adaptive education”, onde conteúdos são
selecionados individualmente para cada aluno, mas neste caso mediados por softwares.
Outros projetos de ensino personalizado se valem também de plataformas online ou
rearranjos físicos nas salas de aula que particularizam o aprendizado, conforme KLIX (2013):
Para proporcionar o ensino personalizado, existem plataformas tecnológicas
de ensino online que ajudam a elaborar e entregar os conteúdos necessários
para os diferentes tipos de alunos. José Ferreira, fundador da Knewton,
ferramenta que fornece lições de matemática, diz que o volume gigante de
informações – maior que o do Facebook – que sua base de dados oferece
revoluciona o ensino. A plataforma mostra ao professor com agilidade o que
os estudantes aprendem, quando erram, no que tem dificuldades e como
aprendem e ajuda a elaborar aulas.
A sala de aula já não tem mais um professor falando em frente ao quadro
negro e alunos sentados em carteiras organizadas em fileiras iguais nas oito
escolas públicas gerenciadas pela ONG New Classrooms, de Joel Rose. Para
que cada um possa aprender do seu jeito, também é realizada uma
mudança física e os alunos sentam nas mais variadas formas: sozinhos, em
grupos pequenos ou grandes, em frente a computadores ou usando material
impresso. No espaço reorganizado, fazem atividades distintas, algumas
online e outras, não.
Há ainda métodos educativos que se adaptaram às novas tecnologias e se valem, por
exemplo, da inserção de conteúdos de expressões artísticas, nas suas faces pictórica e
mediática, para acelerar e aprofundar a aprendizagem dessa geração precipuamente visual.
Cada uma dessas metodologias se reveste de características próprias que merecem
atenção, mas dada a limitação de laudas deixar-se-á para outro trabalho a reflexão sobre as
especificidades dessas novas propostas, bem como a menção a outras, que através de pesquisas
com estudantes e educadores virão para complementar essa paisagem em mutação.
Não obstante, é oportuno destacar o que grande parte destas novas metodologias tem
em comum, a despeito de suas peculiaridades. A seguir serão abordados os três principais
pontos das novas propostas.
A primeira constatação é que quase a totalidade desses novos modelos joga por terra
a concepção da segmentação do currículo escolar e universitário em disciplinas estanques.
Esses métodos – não obstante seus critérios endógenos – tratam os conteúdos
curriculares de forma a aglutinar o conhecimento por meio da geometria tridimensional da
interdisciplinaridade, num arranjo redimensionado para acolher por meio das inovações
tecnológicas, essa intersecção de saberes.
Esse viés é fácil de se compreender, pois em se tratando de sistemas que carreiam as
tecnologias à Educação, a presença do hipertexto se faz notar praticamente em todos os
modelos.
E o hipertexto é a mais pujante concepção plástica da construção da
interdisciplinaridade na era tecnológica. Ele é a materialização gráfica da inter-relação dos
saberes.
Em uma mesma tela (página) de texto, as temáticas tratáveis em distintas áreas do
conhecimento ou as que tangenciam saberes conexos, são traduzidas por links que atrelam
conteúdos de maneira fluida e com uma singeleza que se opõe ao arranjo artificial dos

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conteúdos, este considerado em sua forma hodierna, qual seja, o que possui fronteiras
nítidas destinadas a barrar teores de outras searas que não as de cada disciplina em apreço.
Com o hipertexto, as conexões disponíveis permitem um aprendizado de maneira a
criar associações na mente do estudante que irão ao longo do tempo impedir a construção
do chamado pensamento linear ao passo em que se irá tecer no locus da mente, uma
formação associativa de conceitos espraiados pelas diversas áreas do saber.
Curiosamente, a interdisciplinaridade despontou com maior força no século XX para
instituir relações entre conteúdos e superar a fragmentação dos saberes proveniente da gradual
particularização das ciências, mas o pensamento científico linear gerador de profissionais ultra-
especializados permaneceu válido e vigente até os dias de hoje.
Todavia, na atual conjuntura essa mesma interdisciplinaridade se rearranja, redefinindo
seu papel, para agora tecer a inter-relação de saberes, de forma a suplantar o raciocínio linear e
impulsionar a construção do conhecimento de forma reticular.
Disso decorre que a ideia da ultra-especialização do conhecimento também ganhará
novos contornos – tema palpitante, a ser tratado em outra oportunidade.
E disso decorre também, que o arranjo dos conteúdos curriculares nesta era
tecnológica necessitará ser refeito, abandonando-se a segmentação rígida das disciplinas
implantado até então. Entram em cena os projetos e os eixos temáticos. Abaixo se encontra
um exemplo de instituição que se reorganizou para trilhar esse caminho, extraído de KLIX
(2013):
Educação por projetos – O fim da grade de disciplinas separadas é uma das
experiências das escolas High Tech High para tornar o aprendizado mais
relevante aos alunos. Segundo Agudelo, os estudantes não são divididos por
série, nível de habilidade e aprendem vários conteúdos integrados. Para isso,
os professores estimulam alunos a desenvolverem projetos, solucionar
problemas, nos quais precisam usar vários tipos de conhecimento. Nesse
caso, professores de áreas diferentes se envolvem com os mesmos projetos.
A integração de conteúdos se mostra como uma das peças-chave na substituição do
modelo de conhecimento linear pelo do conhecimento reticular.
Mas de que maneira os conteúdos serão rearranjados? Como tecer os saberes
mediados pela tecnologia de forma a se obter resultados adequados para a aprendizagem?
Como vincular estruturas oriundas de diferentes nichos da ciência de modo a estabelecer
um conjunto equilibrado e cronologicamente organizado de conhecimento, respeitando-se a
maturidade crescente do estudante e de seus processos cognitivos?
Tais questões serão explanadas logo adiante, ao se abordar a atividade do profissional
nexialista.
A segunda constatação que se faz é a tendência a se valorizar a autonomia de escolha do
estudante.
Muito embora o rearranjo da interdisciplinaridade esteja sendo gradualmente implantado
em estabelecimentos de ensino ao redor do mundo, já existem instituições renomadas que, à
exceção das disciplinas genéricas – ditas fundamentais – permitem aos alunos a construção de
seus próprios currículos acadêmicos, respeitando suas tendências vocacionais e processos
individuais de aprendizado, valendo-se de ferramentas tecnológicas como o “Learning analytics”.
Abaixo, em trecho do Portal da Ciência (SBPC, 2013) , comenta-se esse aspecto:

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Learning analytics: Ferramenta usada para decifrar tendências e padrões a
partir de “big data” disponível sobre o aprendizado dos alunos. Primeiro, o
uso do analytics se restringia a alunos com dificuldades de aprendizado. 1
Hoje ele já se mostra um recurso mais generalizado e extremamente útil
para fazer escolhas pedagógicas a partir da necessidade dos alunos. As
universidades têm usado o analytics para fazer com que o processo de
orientação dos estudantes se torne muito mais preciso.
Em portais nacionais, como o da USP ou de Universidades Federais, a opção por
disciplinas é uma realidade, como registram suas páginas na Internet:
O aluno, com exceção do calouro, tem a liberdade de escolher as
disciplinas que irá cursar em cada semestre (...) USP (2013) (grifo nosso)
O aluno que desejar cursar disciplinas de livre escolha (...), poderá cursá-
las como disciplinas isoladas ou na qualidade de aluno ouvinte. UFSC
(2013) (grifo nosso)
A livre escolha de conteúdos pelos alunos vem sendo implantada igualmente em escolas
de ensino fundamental e médio, como mostra, por exemplo, o excerto da reportagem do Portal
Educação, PORVIR (2012), acerca do Colégio Fontán, na Colômbia:
A instituição (...) faz parte hoje do Super Mentor Schools, seleto grupo de
escolas mais inovadoras do mundo criado pela Microsoft. Ao estimular
que seus alunos fossem autodidatas, o Colégio Fontán foi na contramão
do modelo tradicional e apostou na autonomia dos estudantes. A aposta
deu certo e chegou a ser reconhecida pelo Ministério da Educação da
Colômbia como “primeira instituição de inovação educativa do país”. No
Fontán, os alunos têm total liberdade para montar o seu currículo e
decidir se estão aptos ou não para passar de nível escolar. (grifos nossos)
Ademais, nas páginas da Internet de inúmeras universidades do exterior a opção por
conteúdos já é uma realidade.
A terceira constatação é a presença da flexibilidade na transmissão do conhecimento do
ponto de vista espacial-temporal (em relação aos novos arranjos dos ambientes físicos de ensino;
ao aumento dos cursos oferecidos a distância e à maleabilidade dos horários de aprendizado) e
sob o prisma didático-metodológico. Neste último aspecto, os novos modelos privilegiam a ideia
do ensino colaborativo e interativo, no qual o aluno é o protagonista – vale dizer, torna-se mais
responsável por seu aprendizado, rompendo com o papel de espectador passivo que ocupava na
tradicional aula de cátedra com lousa e giz.
De acordo com educadores de todas as áreas esses pontos em comum tendem a se
manter quaisquer que sejam as variações de modelos educacionais propostos ora em diante.
Ante tantas mudanças poder-se-ia perguntar: qual seria, em síntese, a fórmula para o
sucesso dessa nova Educação?
Por evidente não há uma resposta pronta, mas seguindo a trilha do novo caminho da
interdisciplinaridade e de como ela irá se formatar daqui para frente, há condições de destacar
alguns critérios. Para tanto é necessário discorrer sobre o profissional que irá contribuir para o
desenvolvimento e aplicação dos novos modelos educacionais.

1
Big data é o conjunto de soluções tecnológicas capaz de lidar com dados digitais em volume, variedade e velocidade
inéditos até hoje. Fonte: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/2/a-revolucao-do-big-
data/noticiadigitalizada.2012-04-02.8608175472/image_view_fullscreen?tamanho=detalhe-grande

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6. O nexialista:
A palavra nexialista surgiu em decorrência da criação de um personagem ficcional. Foi
escrita pela primeira vez na obra de ficção do renomado A. E. Van Vogt 2, denominada
"Voyage of the Space Beagle", datada de 1950 – um livro composto de “short stories” que
narra as viagens interespaciais de uma nave com cientistas da Terra. Para os apreciadores da
ficção científica a obra é considerada um clássico e serviu de inspiração para a criação da
famosa série “Star Trek”.
Nessa obra, numa espaçonave ultramoderna, navegada por especialistas nas áreas de
engenharia aeroespacial, astronomia, psicologia, química, física e ciências biológicas, o
nexialista (ou nexista para alguns) era o tripulante responsável por estabelecer os nexos
entre as diferentes áreas do saber para interpretar situações complexas e solucioná-las, o
que resultava, como expõe PECONICK (2012), no desencadear de todos os momentos
pulsantes nas referidas estórias:
(...) por não ser um especialista em nenhuma disciplina específica, era
olhado com certo desdém pelos demais colegas cientistas. Afinal, ninguém
considerava o Nexialismo uma ciência de fato. Não é preciso dizer que, em
quase todas as situações de perigo ou risco vital da nave e seus tripulantes,
era sempre o nexialista que surgia como herói, graças a sua habilidade de
integrar diferentes matérias ou ciências como psicologia, química e física
na busca da solução ou salvação da equipe.
Decorridas décadas do lançamento da obra de Van Vogt, a ideia do profissional
nexialista encorpou e ganhou novos contornos. As áreas da Sustentabilidade; do Design; da
Administração; do Marketing; da Computação e da Medicina, para citar alguns exemplos, já
se valem dos nexialistas, como revelam as considerações de PEREIRA (2012); MARQUES (2012)
e JUNIOR(2010), respectivamente:
“Dentro das empresas acontece exatamente o que imaginou Van Vogt
sessenta anos atrás na sua ficção futurista. Nem sempre o especialista é
quem encontra a saída para problemas específicos, assim como os
generalistas também não conseguem resolver todas as equações que
surgem no dia-a-dia. Mas finalmente descobriu-se que, além do especialista
e do generalista, existe o profissional de perfil nexialista (...)”
"Hoje em dia, o mercado apresenta abundância de especialistas, prontos
para defender com unhas e dentes a eficiência de sua ferramenta e sem a
menor noção ou vontade de avaliar a importância relativa das
alternativas. Apresenta também um enorme contingente de generalistas,
propondo diagnósticos rápidos e superficiais e soluções padronizadas para
todo e qualquer problema. Faltam no mercado empresas e profissionais com
uma visão sinergética e isenta que permita ter ideias e buscar soluções
integradoras de múltiplas ferramentas e múltiplas abordagens, sem peso
específico ou ênfase preconcebida a nenhuma delas. Faltam nexialistas!"
Antes as pessoas que faziam sucesso eram os generalistas, quem sabia fazer de
tudo um pouco, há pouco tempo virou o especialista que dominava uma
determinada área, e hoje os homens de sucesso se caracterizam por serem
Nexistas (...).

2
Alfred E. Van Vogt foi um escritor canadense de ficção científica considerado por muitos - juntamente R. A.
Heinlein e Isaac Asimov - como um dos três melhores escritores de ficção científica da época. Faleceu em 2000,
aos 88 anos, em Hollywood.

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De fato, com o avanço das ciências no século XX houve uma mudança importante nos
saberes: a substituição dos generalistas pelos especialistas. E esse fenômeno está
intrinsecamente ligado ao formato da Educação que forjou esses profissionais. Hoje já se
constata que tal especialização chegou a alguns extremos e é possível reconhecer as
limitações desse modelo linear de pensamento. Segundo LONGO (2009) e DUTRA (2012):
Somos tendenciosos e acabamos contaminando nossa análise do problema
pelo vício de origem. Para um físico, tudo são forças. E para um filósofo tudo
começa no homem. E a nossa conclusão é que, assim como nas viagens
interplanetárias, precisamos de mais nexialismo na comunicação e no
marketing empresarial.
O físico norte americano David Bohm, ao analisar o modo de pensar
predominante das pessoas, verifica que temos grandes dificuldades para
fazer conexões, imaginar outros contextos e buscar relações, extrapolar os
limites do tempo e do espaço presentes e, talvez, o mais ingênuo: quando
não conseguimos vislumbrar correlações imediatas e diretas entre os
fenômenos em dadas circunstâncias, costumamos nos convencer de que não
há relações para teorizar, classificar e ordenar.
Nexialistas são os profissionais que vieram para atuar onde especialistas e generalistas
não têm condições de avançar, uns pela especificidade do conhecimento em decorrência dos
anos de especialização, que os levaram a um aprofundamento em recortes menores do saber e
a um afastamento proporcional da visão de conjunto; outros por terem conhecimentos
genéricos sem visão focada em algum tipo de saber e ambos pela impossibilidade de
desenvolver um pensamento não linear, pois foram condicionados a pensar dessa forma e
assim resolver problemas.
O nexialista surge com um novo padrão de pensamento para transformar os saberes
num momento em que o mundo se reveste de maior complexidade. Conforme HSM (2012):
O território do “nexialista” é a intersecção entre pluralidade e
profundidade de conhecimento. “O desenvolvimento da capacidade de
encontrar e criar conexões entre diversos pontos dessas disciplinas para a
solução de problemas é o que faz de um profissional um ‘nexialista’” (grifo
nosso)
E, no mesmo sentido, PECONICK (2010) relata:
(...) Nexialismo significa hoje uma espécie de supraciência que integra de
maneira sinérgica, complementar e sequencial as várias disciplinas que
compõem o conhecimento humano, de modo que as coisas e atividades
façam nexo entre si. (grifo nosso)
O mundo acadêmico – com certo atraso – vindo a reboque das demais áreas, começa a
atentar para essa realidade. A Educação se mostra como a área na qual o nexialista terá sua
maior responsabilidade. Isso porque o nexialista da Educação não é somente um
solucionador de problemas como ocorre em outras áreas. É um criador de conteúdos e um
criador de novos arranjos para o conhecimento.
Na área da Educação o nexialista constrói, como um designer de currículos, os nexos
entre os saberes por meio de “estruturas macro” como eixos temáticos, por exemplo,
arquitetando a interdisciplinaridade entre as grandes áreas do conhecimento e chegando
até os subníveis de composição de conteúdos obrigatórios, facultativos e inferências.

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De acordo com ALENCAR (2013):
A principal função desse “novo” profissional é a de desenvolver currículos e
projetos interdisciplinares, integrando as novas tecnologias. (grifo nosso)
Esses profissionais tanto podem se dedicar exclusivamente ao design de
currículo quanto podem ser professores que intercalam essa função com sua
prática de sala de aula.(...) Para Brian Waniewski, diretor de gestão
do Institute of Play (...), esses professores são os responsáveis por
redesenhar a experiência do aprendizado. (grifo nosso)
Corroborando o pensamento de Alencar, o ex-Secretário Nacional de Educação
Superior e ex-Secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ronaldo Mota, declarou: (2013)
“O professor designer de currículo é a expressão maior e mais completa do
mestre contemporâneo. (grifo nosso)
Nesse viés de rearranjo nos conteúdos curriculares, verifica-se que de 2004 a 2009, os
cursos de pós-graduação que mais cresceram de acordo com a CAPES foram os
multidisciplinares, registrando aumento de 151% no período, reafirmando a importância da
recomposição dos saberes, conforme FOLHA (2012).
Nesse panorama, ante a grande responsabilidade em relação aos novos rumos dos
processos educativos é natural que o nexialista da área acadêmica possua certas habilidades
e competências. Para traduzi-las, segue abaixo a representação gráfica de um pentagrama.

Formação em + de uma
grande área (Humanas,
Exatas, Biológicas, Artes)
(conhecimento teórico
interdisciplinar)

Capacidade mental Experiência


de estabelecer profissional
nexos (habilidade (conhecimento
natural) prático)

Pensamento Domínio das


sistêmico Tecnologias da
(não linear) Educação

Figura 1: Pentagrama – competências e habilidades do nexialista da Educação.

11
O pentagrama se apresenta graficamente com seus lados interligados na parte interna
(correspondendo às funções cerebrais referentes às habilidades e competências e às suas
inter-relações) e ao mesmo tempo possui cinco vértices - criados pelas soma de seus lados -
que apontam para fora (correspondendo à exteriorização no mundo real das citadas
habilidades e competências).
O primeiro vértice do pentagrama trata da capacidade de se estabelecer nexos. Na
moldagem do rearranjo dos saberes essa capacidade é uma ferramenta que possibilita a
criação de conteúdos que levam a uma aprendizagem realmente significativa.
Criar nexos é uma habilidade natural e algo que depende do funcionamento cerebral
do indivíduo. Para dizer de modo simples, trata-se da forma como o cérebro age ante
determinada situação-problema. Não se pode ordenar ao cérebro: funcione de outra forma!
Pode-se tentar analisar a questão que se deseja por outro ângulo, buscar outras conexões,
mas o cérebro nos irá responder da forma como ele “sabe” fazer.
Em relação a esse aspecto, a neurociência já explicou que o cérebro humano funciona
da forma A ou B, por exemplo, porque ao longo dos anos foram traçados caminhos pelos
quais correm as informações e estímulos neuronais, e assim se perpretam os links de
pensamento e de supervenientes ilações. Ao par desse processo, a neurociência também
nos traz o conceito de neuroplasticidade: em linhas gerais o conceito diz que é possível
recriar os caminhos cerebrais através de técnicas e exercícios para que gradualmente o
cérebro passe a usar outras vias para suas conexões.
Os nexialistas são profissionais que conseguem fazer essas conexões “diferentes”
naturalmente, organizando de forma coerente as relações entre diferentes saberes. Por isso
diferem do padrão cerebral geral de construção do conhecimento. Eles pensam “fora da
caixa” ou “out of the box” como se costuma dizer. Veem conexões onde outros não veem,
enxergam ao contrário, escapam do pensamento linear da maioria absoluta dos
profissionais e pensam de maneira sistêmica. Aí se cria a relação com o segundo vértice do
pentagrama: ao estabelecer nexos, esses profissionais fazem uso do pensamento sistêmico.
A idéia da substituição do pensamento linear pelo pensamento sistêmico - ou para alguns,
holístico - está ressurgindo atualmente afinada ao espírito desta era da cibercultura, como
mostra JUNIOR (2010):
O pensamento sistêmico interliga as partes, diminui a distância entre elas
e permite pensar o conjunto (sistema) sem perder de vista todos os seus
componentes. Admite-se nesse modelo, que na articulação entre as partes,
podem surgir novas propriedades (ideias novas), o que seria impossível de
visualizar a partir do pensamento linear. (grifo nosso)
Mas o pentagrama vai além dessas duas habilidades cerebrais. Constata-se pelo
terceiro vértice que o nexialista da Educação não se enquadra na categoria de um teórico. É
alguém com sólida intersecção teórico-prática, ou seja, sabe lidar com a necessária
pendularidade entre a teoria e prática. Para isso necessita uma experiência profissional
significativa.
Para muitos – como, por exemplo, os construtivistas - o conhecimento emerge da
experiência e esta, aliada a capacidade de estabelecer nexos é que dá ao nexialista a
desenvoltura para solucionar problemas.
A experiência decorre do exercício profissional cotidiano da docência ao longo dos
anos e não pode ser medida por uma fórmula matemática. Quanto de experiência o docente
A adquiriu em dez anos de profissão? E o docente B, durante o mesmo lapso de tempo?

12
Impossível, pois, mensurar esse fator, que deriva de circunstâncias peculiares a cada
carreira docente. De maneira que o que se apresenta como relevante é a quantificação do
tempo de atividade para que esse ”saber docente” possa gradualmente se constituir. A
despeito das singularidades de cada carreira não há experiência sem prática contínua ao
longo dos anos, como expõe CUNHA (2003) ao citar TARDIF e GAUTHIER (1996);
Segundo Tardif e Gauthier (1996), os saberes da experiência são definidos
como um conjunto de saberes atualizados, adquiridos e exigidos no âmbito da
prática profissional, se constituindo, por assim dizer, a cultura docente em
ação.
Nesse sentido, numa analogia com a área corporativa, o profissional chamado às
empresas para diagnosticar problemas e apresentar soluções é genericamente denominado
de consultor. Segundo POZZEBON (2011), este pode se constituir um profissional sênior (que
toma decisões; age de forma autônoma com base no conhecimento e experiências
adquiridos ao longo da carreira; gere pessoas e projetos; possui no mínimo dez anos de
prática profissional; é pós-graduado e atuou como gestor) ou pode ser um profissional
master (que atua fora do processo de supervisão ou por demandas; gere projetos ou
negócios; possui autonomia plena; é pós-graduado; gestor e possui certificações e quinze
anos ou mais de experiência). 3
É a soma da teoria com a pratica que situa esses profissionais nos seus respectivos
patamares. O mesmo raciocínio se aplica aos nexialistas.
No quarto vértice do pentagrama está a formação interdisciplinar do nexialista nas
grandes áreas do saber. Tal aspecto se impõe pela necessidade de traçar os diferentes
caminhos no cérebro para produzir novas associações, bem como para estabelecer os
diferenciados links da nova interdisciplinaridade entre os saberes. Como dito, o território do
“nexialista” é a intersecção entre pluralidade e profundidade de conhecimento.
O nexialista é um criador de conteúdos que pode coordenar equipes de profissionais
com distintas formações, mas o seu conhecimento teórico interdisciplinar é indispensável
para a criação dos liames que fogem ao pensamento linear padrão.
No quinto e último vértice do pentagrama está o domínio das tecnologias de Educação.
Como um designer de currículo da nova era tecnológica, o nexialista deve manejar com
desenvoltura as ferramentas que serão utilizadas amiúde nos novos modelos educacionais e
que irão propiciar a criação plástica do novo conhecimento reticular.
Não obstante as habilidades e competências citadas, ressalta-se que nenhum
profissional se forma para ser um nexialista, mas torna-se um, se ao longo dos anos
construir o seu pentagrama.
Outrossim, ante o aludido, um dos desafios das instituições de ensino nesta década,
mormente as universidades, será o de recrutar nexialistas para a atualização de seus
conteúdos curriculares – a partir de agora mediados pelas novas tecnologias – e transformar
a construção dos saberes para os estudantes das novas gerações.
No entanto, a despeito do exposto, para que os nexialistas possam atuar na
reconstrução dos currículos, tornando-os adequados à nova era da Educação mediada pelas
tecnologias e às mudanças nos processos cognitivos dos estudantes desta geração, faz-se
necessária a atenção do Poder Público à transformação em curso no mundo acadêmico,

3
A autora é graduada em Letras pela UFSM e especialista em Tecnologias da Informação e da Comunicação
aplicadas à Educação.

13
criando políticas que se amoldem a essa nova fase da Educação e capazes inserir o Brasil no
contexto evolutivo dos modelos educacionais mundiais. Conforme ALENCAR (2013):
Desburocratizar o currículo nacional seria fundamental para que
esses profissionais conseguissem remodelar seus planos de aula,
além de criar programas e disciplinas mais dinâmicas, tornando-os
também mais empoderados”.
Este aspecto, dada a limitação deste trabalho, merece, por certo, uma análise
aprofundada em oportunidade futura.

7. Considerações finais:

Discorreu-se sobre o papel das tecnologias na revolução da Educação no século XXI e


sobre novo viés da interdisciplinaridade na formação do conhecimento, que se relaciona ao
papel que será desempenhado pelos profissionais nexialistas. Estes terão a importante missão
de modificar a transmissão dos saberes de forma a acompanhar a transformação da estrutura
do pensamento que deverá abandonar o modelo linear utilizado até então e se amoldar ao
novo modelo 4 sistêmico e reticular – que se adequa às complexidades do mundo hodierno; ao
volume de conhecimento produzido a cada ano e às conexões necessárias para acompanhar o
desenvolvimento dos saberes.
Ao abordar esses temas, sem qualquer pretensão de esgotá-los, o trabalho buscou
promover uma reflexão sobre o futuro dos processos educacionais e de como a sociedade da
informação irá se relacionar com os saberes de agora em diante.
Como exposto, na visão de educadores, filósofos, gestores e tecnologistas, a visão do
atual cenário mundial aponta para mudanças.
Ante a mobilização de gestores educacionais e tendo em vista os investimentos e
projetos já em andamento, pode-se inferir que as mudanças no perfil da Educação no Brasil
serão graduais, mas não lentas.
Para tanto, além da introdução em grande escala das tecnologias e da necessária
reconstrução dos currículos pelos nexialistas, mister se faz a criação de políticas
educacionais que se amoldem a essa nova fase da Educação.
Por derradeiro, é interessante rememorar que a ideia do nexialista, que se afigura hoje
como peça estratégica no puzzle em que se transformou a Educação na era tecnológica, foi
lançada na literatura ficcional. Tal fato comprova que a literatura é uma arte que além de
criar obras de ficção a partir da realidade, tem o condão de criar realidades a partir de obras
de ficção. Tem-se aí um exemplo de que as artes podem transformar o mundo.
O nexialista, saído das páginas de um livro, vem surgindo como formador de uma nova
geração de profissionais que poderão aprender a pensar sistemicamente e mudar toda a
estrutura de especialização de saberes que vivenciamos atualmente.
São grandes passos que nos levarão - como a nave da série Star Trek – às novas
fronteiras do conhecimento, “onde nenhum homem jamais esteve.”

4
Big data é o conjunto de soluções tecnológicas capaz de lidar com dados digitais em volume, variedade e velocidade
inéditos até hoje. Fonte: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/2/a-revolucao-do-big-
data/noticiadigitalizada.2012-04-02.8608175472/image_view_fullscreen?tamanho=detalhe-grande

14
8. Referências:

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Disponível em: http://porvir.org/porfazer/professor-futuro-sera-um-designer-de-
curriculo/201304 19" Acesso em 19/04/13

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políticas públicas educacionais. Rio de Janeiro, v. 10, n.35. p.201-222. Abr/jun, 2002.
apud Simões, Lucas M. Inovações Tecnológicas na Educação. Disponível em
http://artigocientifico.uol.com.br Acesso em 19/04/13

DUTRA, Adriel Modelos de pensamentos: linear e sistêmico. 2012. Disponível em


http://www.eternoretorno.com/2008/12/20/modelos-de-pensamentos-do-homem-
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