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Questão de aula – “O Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde (11.º ano)

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Lê, atentamente, o texto. Se necessário, consulta a nota.

Cesário Verde: A estranha poesia da vida

Se de algum poeta a cidade de Lisboa se pode orgulhar é de Cesário Verde. Há Camões e Pessoa, há
Nicolau Tolentino e Gomes Leal. Mas ninguém descreveu poeticamente de forma tão expressiva a cidade, as
suas gentes, os seus espaços e a sua vida tão complexa e contrastante como o fez Cesário Verde, a ponto de
se poder dizer que a personagem sempre suposta nos seus poemas é a vida e a gente da cidade.
5 O próprio Pessoa (Álvaro de Campos) irrompeu um dia numa exclamação de admiração e entusiasmo:
“Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades, / [...] E que misterioso o fundo
unânime das ruas, / Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre, / Ó do “Sentimento de um
Ocidental”!”.
Cesário Verde morreu sem chegar aos 32 anos, e socialmente nunca foi grande coisa nessa vida tão
10 curta e tão quotidiana e banal de empregado da loja de ferragens familiar na rua dos Fanqueiros, ou de
gerente da quinta familiar. Nascido na alma da cidade, perto da Sé, a manifestação muito cedo da tuberculose
fez com que se instalasse no campo, em Linda-a-Pastora, e depois deambulasse em outras zonas
campestres na altura, como Caneças ou o Lumiar, onde viria a falecer.
Porém, a poesia que escreveu, publicada ocasionalmente em jornais e revistas da época, raramente com
15 reconhecimento dos leitores, passou despercebida, exceto a um seu companheiro no Curso Superior de Letras,
que sempre o acompanhou nas contrariedades da vida, e que, logo que o poeta morreu, se empenhou na
publicação do conjunto dos poemas, a que deu o mais prosaico de todos os títulos: O Livro de Cesário Verde.
Mas é a cidade que povoa a sua poesia. Nunca até aí algum poeta conseguira um retrato tão vivo da
realidade e das contradições de uma cidade em que coabitavam a opulência e a miséria. As imagens que
20 pinta pela palavra poética tornam-se um poderoso quadro de contrastes da cidade das últimas décadas do
século XIX.
Curiosamente, o admirado “Sentimento de um Ocidental”, de que fala Pessoa, certamente inspirado e
escrito aos ares noturnos de Lisboa, foi publicado no Porto, em 1880, terceiro centenário da morte de Camões
no número especial do Jornal de Viagens dedicado ao tricentenário do épico.
25 É nele que se encontra toda a Lisboa em versos: as ruas ao entardecer, o ar que abafa e incomoda, as
lâmpadas de gás que se acendem, os trabalhadores recortados na luz embaciada, como nesta descrição
única, entre o real e a imagem: “Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam de viga em viga os mestres
carpinteiros”.
Mas as personagens multiplicam-se: os calafates aos magotes, os hotéis da moda, as varinas nas
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30 descargas do carvão, hercúleas e galhofeiras, descalças, de manhã à noite a bordo das fragatas… embalam
nas canastras os filhos “que depois naufragam nas tormentas” – uma dramática visão das gentes marinheiras
e pescadoras.
Uma espécie da previsão soturna aparece em versos tétricos 1 de premonição trágica: “E eu sonho o Cólera,
imagino a Febre, / Nesta acumulação de corpos enfezados”. Cesário viria a morrer de cólera poucos anos
35 depois. Vêm também as costureiras, as floristas, as coristas, as comparsas, e as mesas onde se joga o dominó.
[…]
Mas tudo passa para a ânsia do poeta: “Se eu não morresse, nunca! E eternamente / Buscasse e
conseguisse a perfeição das cousas!”.
Com o estranho contraste dos bêbados, das prostitutas, de todos que vivem “emparedados, / Sem árvores,
no vale escuro das muralhas!…”, o quadro de Cesário é todo um tratado da poesia descritiva e contemplativa:
a observação do real torna-se numa transcendente vivência interior. Esta é a estranha poesia da vida.
in https://www.snpcultura.org/cesario_verde_a_estranha_poesia_da_vida.html (texto com supressões, consultado a 14/12/2022)

Nota
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1
tétricos – soturnos, fúnebres.

1. O título “A estranha poesia da vida”

(A) exemplifica o assunto do texto.

(B) destaca a ideia central do texto.

(C) contradiz a temática do texto.

(D) apresenta uma crítica negativa ao texto.

2. Tal como é defendido nos dois parágrafos iniciais, o facto de Cesário Verde ter captado, poeticamente, o ambiente
da cidade de Lisboa torna-se um aspeto

(A) banal.

(B) inverosímil.

(C) trivial.

(D) inigualável.

3. A referência a aspetos biográficos, nas linhas 8 a 16, permite perceber que Cesário Verde, no seu tempo,

(A) foi valorizado, como escritor, pelos críticos, contrastando com a sua vida quotidiana.

(B) viveu humildemente e com pouco reconhecimento literário.

(C) foi alvo de desapreço, como cidadão e escritor, o que contrasta com a sua vida vulgar.

(D) viveu humildemente, mas reconhecido como poeta pelos críticos literários.
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4. A transcrição de alguns excertos do poema “O Sentimento dum Ocidental”, nas linhas 26 a 38,

(A) valida a tese de que a poesia de Cesário Verde não se destaca pela inovação.

(B) rejeita a importância que o ambiente citadino tem na poesia de Cesário Verde.

(C) ilustra a ideia defendida no texto sobre a excecionalidade poética de Cesário Verde.

(D) contraria a relevância dada aos aspetos quotidianos da realidade imaginada.

5. Com a afirmação “a observação do real torna-se numa transcendente vivência interior” (linhas 38 e 39),
destaca--se que o poema de Cesário conseguiu, a partir de algo comezinho, provocar, no leitor,

(A) deslumbramento.

(B) repúdio.

(C) abatimento.

(D) desdém.
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Soluções

11.º ano

LEITURA

“O Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde


1. (B)

2. (D)

3. (B)

4. (C)

5. (A)

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