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Campus Erechim

Leitura e Prod. Textual


A Normatização da
Gramática
O que é Gramática Normativa?
A gramática normativa é o que conhecemos como “norma culta”. As
regras da gramática normativa ditam a forma como o português deve ser
falado e escrito. São elas que estabelecem as normas de concordância e
regência verbal e nominal, estabelecem as flexões de gênero, número e
pessoa, as colocações das palavras nas frases e até a pronúncia e
acentuação.
Existem outros dois tipos de gramática: a descritiva, que se refere às
normas que nós seguimos sem necessariamente saber que são regras, e
a internalizada, que são as situações de fala mais cotidianas, variando
conforme a região do país, por exemplo.
A gramática normativa é reconhecida como a expressão mais correta da
língua, por isso é extremamente valorizada. Assim, a pessoa que domina a
norma culta é considerada uma boa falante, e a sua produção textual é
mais valorizada por esse motivo.
A gramática normativa é o “certo”?
A resposta para essa pergunta é relativa. As demais variantes do português
não são consideradas totalmente incorretas, mas algumas expressões e
palavras fogem às regras da gramática normativa, portanto, são erradas
em relação a ela.
Regionalismos e neologismos são celebrados em algumas circunstâncias,
já que possuem valor cultural e até literário. Alguns autores brasileiros são
conhecidos e celebrados justamente por criar termos novos em suas
obras, como Carlos Drummond de Andrade.
O que são erros?
Situações de avaliação — como: ENEM, vestibulares, concursos
públicos ou até mesmo uma prova que vai desde o ensino
fundamental, até o superior, entre outros vários tipos de interação
formal, como comunicação corporativa, contratos, redação
jornalística e ofícios governamentais, precisam de um padrão de
linguagem. Por isso, adotamos a gramática normativa como a regra
oficial, e segui-la passou a ser sinônimo de falar e escrever
corretamente o português.

Veja só alguns erros que são mais comuns:


Conjugação verbal
Conjugar incorretamente os verbos em “a gente vamos” e “nós
vai” é considerado um erro gramatical, assim como: “O prefeito
não interviu a tempo de evitar a greve dos servidores”, em que o
correto seria “O prefeito não interveio a tempo de evitar a greve
dos servidores”.
Pessoas e tempos verbais
Da mesma forma, é incorreto misturar diferentes pessoas verbais na mesma
frase, como em “Deixe de preguiça, vem para a festa”: a frase começa com a
pessoa você (deixe) e termina com a pessoa tu (vem). Apesar de ser
gramaticalmente incorreta, a frase é comum na nossa língua. Para adequar a
frase existem duas possibilidades:
Você: Deixe de preguiça, venha para a festa!
Tu: Deixa de preguiça, vem para a festa!
Uma frase que mistura de tempos verbais é:
“Não acredito que essa solução satisfaz a todos os interessados”, no presente
do indicativo. A frase correta seria:
“Não acredito que essa solução satisfaça a todos os interessados”, presente
do subjuntivo.
Flexões de número
Um erro muito repetido é flexionar impropriamente em plural e singular,
como “As pessoas tem dificuldade de entender as normas da língua
portuguesa”, em que o correto seria “têm”, com acento circunflexo,
indicando o plural.

Substantivos compostos sofrem flexões erradas a todo momento, por


exemplo, mais de um guarda-chuva são vários guarda-chuvas, mas um
terrorista pode explodir bombas-relógio ou bombas-relógios, que o
prejuízo será o mesmo!
Pronomes
As regras para os pronomes também são bastante confundidas,
principalmente o posicionamento deles nas frases — ênclise, mesóclise
e próclise. “Dê-me um exemplo?” é a forma correta, com o pronome em
ênclise, mas o que mais usamos é “Me dê um exemplo”, em próclise. A
gramática normativa proíbe o início de frases com pronomes oblíquos
como o me.

Frases como “Peguei várias atividades para mim fazer” são bem comuns
também, em que o correto seria “Peguei várias atividades para eu
fazer”. Da mesma forma, “Comprei um carro para eu” está errado, e o
correto é “Comprei um carro para mim”.
Regência
A regência verbal é uma das partes mais complexas do ensino do
português nas escolas, justamente pelas inúmeras normas. Verbos como
assistir, visar e aspirar assumem diferentes significados dependendo da
regência, e podem deixar um diálogo simples bastante complicado.
A frase “Ela trabalhava visando o mercado internacional” fala sobre uma
mulher que trabalhava enxergando o mercado internacional. Se a
intenção é dizer que o objetivo dela era alcançar sucesso e ir para o
mercado internacional, a regência correta é “Ela visava ao mercado
internacional”.
Sílabas tônicas
Erros de acentuação gráfica e pronúncia de sílabas tônicas são desvios
clássicos da gramática normativa. Palavras como “rubrica”, “fluido”,
“gratuito” são vítimas recorrentes, acentuadas impropriamente tanto
na escrita quanto na fala. Rúbrica, fluído e gratuíto são erros
gramaticais!
Usos impróprios
O verbo há, no sentido de existir, é impessoal. Isso significa que ele só é
conjugado em uma pessoa, a terceira do singular, mesmo que a frase
esteja no plural. “Houveram várias festas de Natal no bairro” é um erro,
e o correto seria “Houve várias festas de Natal”. Ainda sobre esse
verbo, se o sentido é sinônimo de fazer e indica tempo, o verbo deve
ser empregado, como “Eu a conheci há 15 dias”.

Em tempo: o verbo fazer indicando tempo também não flexiona para o


plural no passado. “Fazem três anos que não tiro férias” é incorreto,
apesar de parecer a flexão mais adequada.
Outra dificuldade enfrentada pelos falantes da língua portuguesa é
diferenciar os usos de mau e mal, respectivamente os opostos de bom e
bem. Da mesma forma, onde e aonde aparecem colocados de forma
incorreta com muita frequência.
Aonde é utilizado com verbos que pedem a preposição a, como em “Aonde
vocês foram nas últimas férias?”, pois quem vai, vai a algum lugar.
Onde se aplica aos demais usos, referindo-se a verbos que pedem a
preposição em, como “Onde você estava ontem à noite?”, pois quem
estava, estava em algum lugar. Ainda no caso dessas duas palavras, ambas
devem ser usadas apenas para referenciar lugares físicos! A frase “Escrevi
um livro onde falo sobre a minha experiência como redator freelancer” é
incorreta, e pode ser corrigida empregando as expressões no qual ou em
que.
A expressão a fim de é muito confundida com a palavra afim. São usos
corretos:
“A cidade de Belo Horizonte e municípios afins foram inundados pela
forte chuva” — refere-se a municípios próximos, nas redondezas;
“A fim de compreender melhor a gramática normativa, comprei um livro
especializado no assunto” — expressão sinônima de com a finalidade de;
“A seleção brasileira de vôlei já está treinando, a fim de que estejam
prontos para o próximo campeonato” — expressão sinônima de para
que.
Curiosidade: A expressão com o significado de “ter interesse romântico”
é estar a fim de alguém!
Pontuação
Um dos desvios mais comum é o uso incorreto da pontuação, que, a
depender do erro, pode mudar completamente o sentido de uma
frase. Confira alguns exemplos que podem comprometer o
entendimento e a credibilidade dos seus textos:
Vírgula
Uma regra muito pregada nas escolas é que a vírgula pode ser usada
sempre que você for respirar ao ler a frase em voz alta. Na verdade, a
vírgula é utilizada para separar “blocos de sentido”, organizando seu
texto e ajudando o leitor a entendê-lo melhor.
Um dos erros mais graves ao usar a vírgula é separar o sujeito do
verbo, como em:
“Quem quiser aprender sobre Embalagens e Aditivos (sujeito),
precisa fazer (verbo) o Curso de Engenharia de Alimentos.”
O correto seria:
“Quem quiser aprender sobre Embalagens e Aditivos precisa fazer o
Curso de Engenharia de Alimentos.”
Para não errar, use a vírgula sempre que:
Explicar algo: “João, que gosta de Marketing de Conteúdo, fez sua
candidatura de freelance na USP.”;
Listar: “Gosto de escrever, revisar, planejar pautas e diagramar e-
books.”;
Encadear ideias: “Hoje vou ficar em casa, quero terminar minha
Certificação em Produção de Conteúdo.”;
Usar um vocativo: “Bom dia, Luiza!”;
Antes de “mas”, “entretanto”, “portanto”: “Passei na minha
candidatura em revisão, mas ainda não peguei nenhuma tarefa.”.
Pronomes demonstrativos
“Esse”, “este”, “isto”, “isso”, todas essas palavras são pronomes
demonstrativos, usadas para demonstrar a relação entre um termo
(ou objeto) e o texto, o tempo e o espaço. Um erro muito comum é
confundi-los, especialmente ao escrever. Veja:
“Só digo isso: preciso fazer freelancer”
A oração está incorreta porque “isso”, “esse”, “essa” só podem ser
usados para retomar algo que já foi dito na oração. Para apresentar
novas ideias, o ideal é “isto”, “este”, “esta”.
O correto então seria:
“Só digo isto: preciso fazer freelancer.”
O uso dos “Porquês”
Confundir os “porquês” é um dos erros mais recorrentes nas
redações e conteúdos. Você pode usá-los seguindo as regras a seguir:
Por que
Grafado separado e sem acento, o “por que” é usado sempre que
você puder substituí-lo por “por qual motivo?”.

Veja os exemplos:
“Por que você não foi à excursão?”;
“Me diga por que você não gosta de espinafre!”.
Por quê
O “por quê” separado e com acento também é usado quando puder
ser substituído por “por qual motivo”, mas sempre que estiver no
final da frase.
Exemplos:
“Eu não quero ir à excursão, mas pare de perguntar por quê”;
“Nunca gostei de espinafre. Quer saber por quê?”.
Porque
O “porque” grafado junto e sem acento é um sinônimo de “pois”,
usado sempre que for preciso explicar algo.
“Não gosto de espinafre porque tem um gosto muito ruim”.

Porquê
Quanto escrito junto e com o acento circunflexo, o “porquê” é um
substantivo, que indica motivo ou causa. Quer um exemplo? Veja:
“Me diga o porquê de você não querer ir à excursão”.
“O mesmo”
Você certamente já deve ter visto uma placa como esta:
“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se
parado neste andar”.

Apesar de ser um uso muito comum, “o mesmo” nunca pode ser


usado como substituto de um pronome ou substantivo. O correto seria:
“Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se
parado neste andar”.
Através
Por fim, outro erro comum é utilizar o “através” como sinônimo de
“por intermédio”, “por meio de”, fora do seu sentido inicial, que é de
atravessamento. Você encontra até mesmo textos jornalísticos com
esse desvio da gramática normativa.
Vou explicar melhor. Por exemplo, a frase a seguir está incorreta:
“Aprendi muito através do curso de Produção de Conteúdo”.
Nesses casos, é mais correto usar “por meio de”, “por intermédio
de”. Veja:
“Aprendi muito por meio do curso de Produção de Conteúdo”.
O uso correto de através
O “através” é usado corretamente quando a frase indica “por dentro
de”, “ao longo”. Conforme o exemplo:
“Senti o calor da sua pele através do lençol”;
“Consegui ver você indo embora através da janela”.
Por que é importante o domínio da gramática normativa?
Um conteúdo produzido por um redator com domínio da gramática
normativa é valioso em vários sentidos. A qualidade do conteúdo
passa uma ótima impressão para os leitores, que, por sua vez,
poderão entender melhor o que está escrito e aprender mais com o
conteúdo.
Além dessas vantagens, um conteúdo que segue os padrões da
norma culta pode ser lido por qualquer pessoa que compreende a
língua, já que neologismos e expressões regionais não serão
empregadas no texto.
A gramática normativa é sinônimo de alta qualidade e conhecimento, e
textos que cometem deslizes gramaticais são extremamente malvistos.
Além de trazer questionamentos sobre o conhecimento e a qualidade do
trabalho do redator.
Apesar de serem muitas e um pouco complicadas de entender, essas
diretrizes existem para, em última instância, uniformizar a comunicação
entre os falantes do português, e a pessoa que vai produzir um texto,
precisa ser capaz de produzir conteúdo com qualidade para qualquer
pessoa entender.

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