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UNIDADE III

Profissionalização e
Aprendizagem

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Profissionalização e Aprendizagem

Querido(a) cursista,

Bem-vindo(a) à unidade III da nossa disciplina “Educação e aprendizagem”. Esta é a última unidade do
curso e, nela, vamos tratar da temática da profissionalização e aprendizagem.

Entre os objetivos dessa unidade, estão:

(I) Refletir criticamente acerca do significado do “trabalho” na vida humana,


(II) Debater a importância da abolição do trabalho infantil no mundo e
(III) Desenvolver conhecimento científico a respeito das relações entre educação integral, meio
ambiente, profissionalização e aprendizagem. Vamos, por isso, tratar das dinâmicas do mundo do trabalho e
seus impactos na vida das crianças e dos adolescentes, em especial nas articulações entre os processos de
aprendizagem e de profissionalização e a garantia dos direitos humanos.

Para cumprir com os objetivos da unidade, discutiremos aqui três temas importantes da relação entre
profissionalização e aprendizagem. O primeiro deles, chamado “compreendendo os processos laborais”,
procurará esclarecer as diversas práticas sociais derivadas do tema “Trabalho”. Trataremos nesta parte das

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contradições derivadas do trabalho alienado e da divisão social do trabalho, notadamente, as formas de
exploração do ser humano sobre o ser humano. Faremos um breve apanhado histórico sobre o trabalho
infantojuvenil e das leis de proteção contra o trabalho infantil.
A segunda temática a ser abordada se chama “Compreendo o trabalho infantil e a necessidade de aboli-
lo”, e nesta parte clarificaremos a complexa cadeia produtiva do trabalho infantil, procurando evitar as análises
de atividades isoladas em si e conjecturá-las a partir dos entrelaçamentos dos múltiplos encadeamentos
econômicos no sistema capitalista. Abordaremos o “Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador”, bem como o “Programa de Erradicação do Trabalho Infantil”
(PETI).
Finalmente, na terceira parte do texto,
trataremos da temática “Educação integral e
profissionalização”, e abordaremos a
indissociabilidade entre os processos de
profissionalização e aprendizagem, no sentido de
que não há como pensar na educação de
qualidade, sem pensar nas formas de
profissionalização, que não podem estar
descoladas dos objetivos educacionais e da
educação de qualidade em si. Veremos, ainda, as
legislações que facilitam as dinâmicas de

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empoderamento dos jovens em relação ao trabalho – tais como o “Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990)” e a “Lei da Aprendizagem (2000)”.

Compreendendo os processos laborais

O trabalho infantil no Brasil tem raízes históricas profundas, estendendo-se desde o período colonial até
os dias atuais. Ele sempre foi fortemente influenciado pelas condições econômicas, sociais e políticas do país.
No Período Colonial, por exemplo, marcado notadamente pela exploração e escravidão, era comum o uso de
mão de obra infantil, principalmente indígena e posteriormente africana. Os “menores” escravizados eram
frequentemente usados em atividades domésticas e agrícolas, pois não havia uma distinção clara a respeito
da noção de infância.
No século XIX e início do XX, com a abolição da escravatura em 1888 e a subsequente industrialização
do país, houve um aumento significativo no uso de mão de obra infantil nas fábricas, especialmente nas
cidades em crescimento como São Paulo e Rio de Janeiro. As crianças eram muitas vezes preferidas, porque
eram vistas como mais maleáveis e menos propensas a fazer greve. Na metade do Século XX, sobretudo nas
décadas de 1950 e 1960, ainda era comum encontrar crianças trabalhando em condições precárias,
especialmente, nas áreas rurais e em setores informais das cidades.
A partir da década de 1980, começou a haver uma maior mobilização contra o trabalho infantil,
impulsionada por organizações não governamentais, movimentos sociais e organismos internacionais. Leis e
Regulamentações surgiram neste período, a exemplo da própria Constituição de 1988, que estabeleceu em

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seu artigo 7º, XXXIII, a proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de
qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.
Soma-se à Constituição (1988) o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, que Instituído
pela Lei nº 8.069/90 é uma das principais ferramentas legais de proteção às crianças e aos adolescentes hoje
no Brasil. O ECA estabelece direitos e deveres e prevê punições para os casos de exploração do trabalho
infantil.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também contém dispositivos que regulam o trabalho de
“menores”, alinhados ao que é estabelecido pela Constituição (1988) e pelo ECA (1990). Na esteira destas
medidas, temos ainda os compromissos Internacionais firmados pelo país. O Brasil é signatário de acordos e
convenções internacionais que visam erradicar o trabalho infantil, como a Convenção nº 182 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que trata das piores formas de trabalho infantil. A luta contra o trabalho infantil
no Brasil tem obtido progressos ao longo das últimas décadas, mas ainda é um desafio a ser enfrentado.
Políticas públicas, fiscalização e conscientização são essenciais para erradicar essa prática e garantir um
futuro melhor para as crianças brasileiras.

Compreendo o trabalho infantil e a necessidade de aboli-lo

O trabalho infantil e o capitalismo estão historicamente interconectados em muitos contextos, embora


não se possa afirmar que o capitalismo é a única causa do trabalho infantil. O capitalismo, enquanto sistema
econômico, baseado na propriedade privada dos meios de produção e na busca pelo lucro, pode incentivar a

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minimização dos custos de produção. Em certas condições, isso pode levar à exploração de trabalhadores
vulneráveis, incluindo crianças. Durante a Revolução Industrial na Europa e na América do Norte, por exemplo,
o capitalismo industrial floresceu. Fábricas buscavam mão de obra barata, e muitas vezes recorriam a
crianças, que eram pagas menos do que adultos e podiam ser mais facilmente controladas e exploradas.
Crianças muitas vezes não têm a capacidade ou os meios para negociar salários ou condições de trabalho,
tornando-as mão de obra barata e flexível, características atraentes em um sistema que prioriza a
maximização do lucro.
Em muitos países em desenvolvimento,
onde o capitalismo se expandiu rapidamente,
a falta de regulamentações trabalhistas fortes
ou a falta de implementação destas leis
podem permitir que o trabalho infantil persista.
Com o advento da globalização, muitas
empresas se mudaram para países onde a
mão de obra é mais barata e as
regulamentações menos rigorosas,
exacerbando em alguns lugares o problema
do trabalho infantil.
O Brasil tem um histórico de esforços no combate ao trabalho infantil. Um desses esforços é o Plano
Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador, que é uma

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das principais estratégias do país para enfrentar essa questão. O Plano compreende que o trabalho infantil é
uma violação aos direitos das crianças e dos adolescentes e está ligado a fatores socioeconômicos,
educacionais e culturais. Reconhecendo a necessidade de ações coordenadas, o Brasil, por meio de políticas
públicas, estabeleceu o plano como uma ferramenta estratégica para enfrentar o problema.

Dentre os objetivos do Plano, estão:

(I) Prevenir e erradicar todas as formas de trabalho infantil;


(II) Proteger o adolescente trabalhador, garantindo seus direitos, conforme estabelecido pela legislação
brasileira; e
(III) Fomentar ações de educação, sensibilização e mobilização da sociedade contra o trabalho infantil.
Os principais eixos de atuação do Plano são: (i) Informação e Mobilização: Sensibilizar e informar a
sociedade sobre os riscos e consequências do trabalho infantil; (ii) Educação: Garantir a inclusão e
permanência de crianças e adolescentes na escola, reduzindo a evasão escolar; (iii) Proteção Social: Ampliar
a cobertura de programas sociais para famílias em situação de vulnerabilidade, evitando que crianças e
adolescentes sejam inseridos no mercado de trabalho precoce; (iv) Saúde: Identificar situações de trabalho
infantil por meio do sistema de saúde e promover ações de atenção à saúde específicas para crianças e
adolescentes em situação de trabalho; (v) Defesa e Responsabilização: Atuar na identificação, notificação e
responsabilização de casos de exploração do trabalho infantil.

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O Plano se integra a programas de transferência de
renda, como o Bolsa Família, por exemplo, para garantir
o cumprimento das condicionalidades relacionadas à
educação e à saúde, o fortalecimento dos sistemas de
monitoramento e inspeção do trabalho, à promoção de
formação continuada para profissionais que atuam na
rede de proteção à criança e ao adolescente. Desde a
implementação do plano, o Brasil tem registrado avanços
significativos na redução dos números de trabalho infantil.
Contudo, o desafio permanece, sobretudo em setores
informais da economia e em atividades não remuneradas
no contexto familiar.
Outra ação muito importante no combate ao
trabalho infantojuvenil é o Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (PETI). O PETI é um programa
estratégico do Governo Federal do Brasil que visa
combater a exploração do trabalho infantil. Foi criado na
década de 1990 em resposta ao crescente
reconhecimento da persistência do trabalho infantil em
várias partes do país. O principal objetivo do PETI é

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identificar e retirar crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos de situações de trabalho, exceto na
condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. O programa também visa garantir direitos fundamentais às
crianças e aos adolescentes resgatados de situações de trabalho. As Principais Ações e Estratégias do PETI,
são:

Transferência de Renda: Famílias que aderem ao PETI comprometem-se a manter as crianças e os


adolescentes na escola e fora do trabalho. Em contrapartida, recebem um benefício financeiro mensal por
meio do Programa Bolsa Família.

Ações Complementares: Além da transferência direta de renda, o PETI promove ações socioeducativas
após o horário escolar para crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil ou em risco de ingressar.
Estas ações visam fortalecer o vínculo familiar, comunitário e auxiliar no desenvolvimento integral da
criança e do adolescente.

Fiscalização: Em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), são realizadas ações de
fiscalização para identificar e combater casos de trabalho infantil.

Sensibilização e Mobilização: São realizadas campanhas educativas e ações de mobilização para


sensibilizar a sociedade sobre os prejuízos do trabalho infantil e a importância de garantir os direitos das
crianças e dos adolescentes.

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Integração com a Rede de Proteção: O PETI atua de forma integrada com o Sistema Único de Assistência
Social (SUAS), garantindo o acompanhamento familiar e a oferta de serviços especializados para famílias
em situação de vulnerabilidade.

Capacitação: O programa também promove a capacitação de profissionais que atuam na rede de proteção
à criança e ao adolescente, visando melhor identificação e atendimento dos casos de trabalho infantil.
Desde sua criação, o PETI contribuiu significativamente para a redução do trabalho infantil no Brasil. No
entanto, ainda há desafios a serem enfrentados, especialmente em relação ao trabalho infantil em atividades
informais e em áreas rurais. Em síntese, o PETI é uma iniciativa fundamental no contexto brasileiro que busca,
por meio de múltiplas estratégias, assegurar os direitos de crianças e adolescentes, promovendo sua proteção
integral e combatendo o trabalho infantil em todas as suas formas.

Educação integral e profissionalização

A educação e a profissionalização estão intrinsecamente conectadas e são fundamentais para o


desenvolvimento socioeconômico de qualquer nação. No Brasil, essa relação é especialmente complexa
devido à história do país, às desigualdades socioeconômicas e às políticas educacionais e trabalhistas que
têm sido implementadas ao longo dos anos. A educação brasileira, especialmente no que se refere à
profissionalização, passou por diversos períodos. Durante boa parte do século XX, a educação

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profissionalizante foi vista como uma alternativa à educação regular, voltada para os segmentos mais pobres
da sociedade.
No início do século XX, o Brasil passava por um processo de urbanização e industrialização. Nesse
cenário, surgiu a necessidade de formar mão de obra qualificada para atender às demandas das novas
indústrias. No entanto, a educação profissional era frequentemente associada à formação de trabalhadores
manuais, enquanto a educação regular
(ensino médio e superior) estava mais ligada
à formação da elite e dos setores mais
favorecidos da população. Nas décadas de
1930 a 1960, durante o governo de Getúlio
Vargas e parte da Ditadura Militar, houve um
impulso significativo para a educação
profissional. Nesse período, foram criados
os "Liceus Industriais" e "Escolas Técnicas",
que eram voltados para a formação de
técnicos e artífices. Estas instituições, em
muitos casos, eram vistas como escolas
para os segmentos menos favorecidos da sociedade, que não teriam acesso à educação superior.
Nas décadas de 1970 e 1980, a Ditadura Militar (1964-1985) trouxe uma visão ainda mais utilitarista da
educação. A Lei nº 5.692/1971 determinou que o ensino de 1º e 2º graus (atual ensino fundamental e médio)

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deveria ser profissionalizante. Nesse período, a ideia era que todos deveriam adquirir uma formação técnica,
independentemente de continuarem os estudos em nível superior. A medida foi criticada por diversos setores
da sociedade, pois, na prática, não conseguiu atender às demandas de formação técnica e acabou
prejudicando a formação básica regular. Nas décadas de 1990 e 2000, com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) de 1996, a educação profissional passou por uma reestruturação, buscando maior
articulação com a educação regular. A LDB estabeleceu diferentes níveis para a educação profissional: básico,
técnico e tecnológico. A visão sobre a educação profissional começou a mudar, deixando de ser vista apenas
como uma alternativa à educação regular e passando a ser valorizada como um caminho legítimo e importante
para a formação de jovens e adultos.
A perspectiva histórica revela que a educação profissionalizante, por um longo período, foi delineada
como uma alternativa para aqueles que não teriam acesso à educação superior, refletindo as desigualdades
socioeconômicas do Brasil. Embora as reformas e transformações recentes buscaram ressignificar e valorizar
a educação profissional, reconhecendo sua importância estratégica para o desenvolvimento do país, não é
preciso ir muito longe para notarmos tentativas ainda atuais de profissionalização sem critério, a exemplo da
proposta do Novo Ensino Médio.
Tal proposta, instituída pela Lei nº 13.415/2017, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), propondo mudanças significativas na estrutura e nos objetivos dessa etapa da educação
básica. Algumas dessas mudanças, incluem: (i) destinação de 60% da carga horária total do Ensino Médio
aos conteúdos comuns definidos pela BNCC, enquanto os outros 40% serão destinados a itinerários
formativos, nos quais os estudantes poderiam aprofundar seus conhecimentos em áreas de seu interesse. A

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proposta também postula os chamados itinerários formativos: os estudantes poderiam escolher entre cinco
áreas para aprofundar seus estudos: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias,
Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, e a Formação Técnica e
Profissional.
A proposta prevê, ainda, uma ampliação progressiva da carga horária, alcançando 1.000 horas anuais,
com a possibilidade de os sistemas de ensino ampliarem essa carga horária para 1.400 horas, transformando
o Ensino Médio em tempo integral. Uma das propostas é a possibilidade de os estudantes optarem pela
formação técnica e profissional dentro da carga horária regular do Ensino Médio.
A proposta, contudo, configura-se como uma medida apressada e despreocupada com a educação, já
que foi tomada sem diálogo com a comunidade educacional. Muitos educadores e entidades ligadas à
educação criticam a maneira como a reforma foi proposta, especialmente por meio de uma Medida Provisória,
o que, segundo eles, limitou o debate público sobre as mudanças. Há críticas de que a flexibilização pode
aprofundar as desigualdades educacionais no país, já que escolas em regiões mais pobres poderiam não
oferecer todos os itinerários formativos, limitando as opções dos estudantes.
Além disso, a divisão em itinerários pode resultar em uma formação fragmentada, na qual os estudantes
não teriam uma formação holística e abrangente. Há preocupações sobre a capacidade dos sistemas de
ensino de implementar as mudanças, dada a necessidade de adaptação curricular, formação de professores,
infraestrutura, entre outros desafios. A flexibilização e a ausência de algumas disciplinas como obrigatórias
nos itinerários formativos levantam também preocupações sobre a desvalorização de certos campos do
conhecimento. Em resumo, a integração do ensino técnico ao Ensino Médio regular, da forma como foi

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proposta, pode canalizar estudantes de baixa renda para o mercado de trabalho em detrimento do ensino
superior, como faziam os cursos profissionalizantes da metade do século XX.
Por isso, a fim de finalizar o texto desta unidade, é importante que conheçamos, ainda, os documentos
que facilitam as dinâmicas de empoderamento dos jovens em relação ao trabalho – tais como o “Estatuto da
Criança e do Adolescente” e a “Lei da Aprendizagem (2000)”. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
instituído pela Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, estabelece diretrizes claras, baseadas no princípio da
proteção integral da criança e do adolescente. No que se refere ao trabalho, o ECA proíbe o trabalho a
menores de 14 anos: O artigo 60 do ECA proíbe qualquer trabalho a menores de 16 anos de idade, exceto na
condição de aprendiz, e ainda assim, apenas a partir dos 14 anos. Além disso, o artigo 67 veda qualquer
trabalho realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola. Proíbe o trabalho noturno
(considerado entre as 22h de um dia e as 5h do dia seguinte), perigoso, insalubre ou que demande esforços
físicos excessivos para menores de 18 anos (Brasil, 1990).
O ECA (1990) determina, em seu artigo 68, que a proteção ao trabalhador adolescente será garantida
por meio da observância das normas legais, regulamentares e contratuais, assim como das normas
internacionais ratificadas pelo Brasil no tocante à proteção ao adolescente trabalhador. Também prevê, no
artigo 105, que os estabelecimentos que não cumprirem o estabelecido em relação ao trabalho do adolescente
estarão sujeitos a multas de valor variável. O ECA (1990) apenas permite o trabalho infantil em atividades
artísticas, desde que haja autorização, condições adequadas e que a atividade não prejudique a condição de
pessoa em desenvolvimento e a dignidade da criança ou do adolescente.

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No que se refere à aprendizagem, o ECA (1990), em consonância com a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), permite o trabalho na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. No entanto, essa modalidade
deve ocorrer em programas de aprendizagem que garantam formação técnico-profissional e direitos
trabalhistas. O ECA (1990), portanto, procura garantir que crianças e adolescentes estejam protegidos contra
a exploração laboral, assegurando-lhes o direito à educação, ao lazer, à cultura e ao respeito, e reconhecendo
sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A legislação brasileira, em sintonia com tratados
internacionais, entende que o trabalho, quando realizado de maneira inadequada e precoce, pode trazer
prejuízos significativos ao desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.
Na mesma esteira do ECA está a chamada “Lei da Aprendizagem”, oficialmente denominada Lei nº
10.097/2000, que alterou dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e estabeleceu normas
sobre o trabalho do aprendiz. Esta legislação é fundamental para a regulamentação e garantia dos direitos de
jovens que ingressam no mercado de trabalho. Eis o que a lei estabelece em relação ao trabalho de crianças
e adolescentes:

Idade Mínima: A Lei da Aprendizagem estabelece que empresas de médio e grande porte estão obrigadas
a contratar adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos como aprendizes. No entanto, a idade máxima de 24
anos não se aplica a aprendizes com deficiência.

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Cota: As empresas são obrigadas a contratar um número de aprendizes equivalente a um mínimo de 5%
e um máximo de 15% dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem
formação profissional.

Contrato de Trabalho Específico: O contrato de trabalho do aprendiz tem prazo determinado, que não
pode exceder dois anos, exceto para aprendizes com deficiência.
Formação Técnico-Profissional: A aprendizagem é assegurada por formação técnico-profissional
metódica, compatível com o desenvolvimento físico, moral e psicológico do jovem aprendiz. Esta formação
é realizada por meio de programas de aprendizagem, que combinam formação teórica e prática.

Jornada de Trabalho: A jornada de trabalho do aprendiz não pode exceder seis horas diárias para aqueles
que ainda não concluíram o ensino fundamental. Para os que já concluíram o ensino fundamental, a jornada
pode ser de até oito horas diárias, incluindo as horas destinadas às atividades teóricas.

Proteção Especial: A Lei da Aprendizagem estabelece que é proibido ao menor de 18 anos o trabalho
noturno, considerado entre as 22h de um dia e as 5h do dia seguinte, bem como o trabalho em condições
insalubres, perigosas ou que demande esforço físico intenso, a exemplo do que já propunha o ECA.

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Vínculo Educacional: Para ser contratado, o aprendiz deve estar matriculado e frequentando a escola,
caso não tenha concluído o ensino médio, e inscrito em programa de aprendizagem desenvolvido sob
orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.

Remuneração: O aprendiz tem direito a, pelo menos, salário-mínimo. Em alguns casos, como quando o
aprendiz é vinculado a sistemas de ensino que utilizam a alternância de atividades teóricas e práticas, a
remuneração pode variar.

A Lei da Aprendizagem (2000), portanto, estabelece uma série de diretrizes e proteções para garantir
que o trabalho do adolescente não prejudique seu desenvolvimento e sua formação educacional e profissional.
Ela visa a integração do jovem ao mercado de trabalho de forma segura e orientada, preparando-o para futuras
oportunidades profissionais.

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LEITURA COMPLEMENTAR

ABE, Stephanie Kim. 31 anos de ECA e a situação de crianças e adolescentes na pandemia: saiba como
a insegurança alimentar e o trabalho infantil se agravaram durante a crise sanitária e entenda como o ECA
garante os direitos das crianças e adolescentes. CENPEC, 2021. Disponível em: <
https://www.cenpec.org.br/noticias/31-eca-pandemia >. Acesso em: 27 set. 2023.

MARIANA, Fernando Bomfim. Autonomia social, direitos humanos e educação ambiental. In: XXIV
Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação / III Congresso Interamericano de Política e
Administração da Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, 2019. Disponível em:
https://www.anpae.org.br/simposio2009/112.pdf Acesso em: 27 set. 2023.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABE, Stephanie Kim. 31 anos de ECA e a situação de crianças e adolescentes na pandemia: saiba como
a insegurança alimentar e o trabalho infantil se agravaram durante a crise sanitária e entenda como o ECA
garante os direitos das crianças e adolescentes. CENPEC, 2021. Disponível em:
<https://www.cenpec.org.br/noticias/31-eca-pandemia>. Acesso em: 27 set. 2023.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em: 06/10/2023.

BRASIL. Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Lei da Aprendizagem. Brasília/DF, 2000. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10097.htm>. Acesso em: 27 set. 2023.

BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494 de 20 de junho 2007, que
regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT; e institui a Política de Fomento à
Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 17 fev. 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Lei/L13415.htm>. Acesso em: 06/10/2023.

BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus,
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Disponível em:

20
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-
pl.html. Acesso em: 06/10/2023.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília/DF, 1990.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 27 set. 2023.

BRASIL. Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente


Trabalhador. Brasília (DF), 2019. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2018/novembro/lancado-3o-plano-nacional-de-prevencao-e-erradicacao-do-trabalho-
infantil/copy_of_PlanoNacionalversosite.pdf. Acesso em: 06/10/2023.

MARIANA, Fernando Bomfim. Autonomia social, direitos humanos e educação ambiental. In: XXIV
Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação / III Congresso Interamericano de Política e
Administração da Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, 2019. Disponível em:
<https://www.anpae.org.br/simposio2009/112.pdf>. Acesso em: 27 set. 2023.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção nº 182 sobre a proibição das piores


formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação. Genebra, 1999. Disponível em:
<https://www.ilo.org/dyn/normlex/pt/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO::P12100_ILO_CODE:C182>. Acesso
em:06/10/2023.

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IMAGENS

Freepik

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