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SEMINÁRIO DE ESTÁGIO III

TEMA: ADOLESCENTES E O MERCADO DE TRABALHO

TÓPICO: MERCADO DE TRABALHO PARA O ADOLESCENTE INFRATOR

Uma reflexão sobre o trabalho e a ressocialização de jovens no Brasil do século XX

Então, inicialmente vamos fazer uma introdução sobre como o trabalho de ressocialização
do adolescente infrator, desde as primeiras décadas do século XX, esteve ligado a políticas
assistenciais voltadas a inserção do jovem no mercado de trabalho. Falando de maneira mais
específica, foi a partir da promulgação do Código de Menores de 1927 (Mello de Mattos, que foi
o juiz autor do projeto que se tornou a primeira legislação que buscava amparar a criança e o
adolescente em situação de vulnerabilidade), uma das primeiras estruturas de proteção aos
menores no Brasil.
O Código de menores esteve presente na legislação brasileira entre 1927 e 1990, e de
acordo com seus artigos, todos os jovens e crianças eram vistos como perigosos ou em situação
de vulnerabilidade, fosse por abandono, infrator, em situação de rua, ou mesmo ocioso, enfim,
qualquer um que apresentasse uma conduta antissocial deveria ser encaminhado às instituições
de acolhimento ou internação.

Artigos do código de menores sobre o trabalho

Como a gente sabe, no Estado novo foi criada a justiça do trabalho, que acarretou uma
série de mudanças na legislação trabalhista, como na jornada, regularização do salário mínimo,
investimentos na indústria, enfim, essas transformações também alcançaram as políticas sociais
voltadas aos menores.
Então, durante o Estado Novo, foi criado, em 1942, o Serviço de Assistência ao Menor –
SAM, que se era um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como algo, digamos que,
equivalente ao sistema penitenciário, mas destinado aos jovens. Sem entrar no mérito crítico
sobre o funcionamento repressivo desse sistema, a gente vai pontuar apenas a política
assistencial voltada à inserção do jovem no mercado de trabalho que foi sendo construída a partir
daqui.
Nesse sentido, dentro do espaço assistencial do SAM, foram criadas algumas entidades federais
e programas assistencialistas, que inclusive foram idealizados por Darcy Vargas, esposa de
Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, lembrando que ainda estamos no Estado novo.
Programas como:
- A Casa do Pequeno Jornaleiro: Programa de apoio a jovens de baixa renda baseado no
trabalho informal e no apio assistencial socioeducativo. Era um programa voltado, sobretudo
para os jovens em situação de vulnerabilidade ou recém-libertos das casas de internação para
infratores.
- Casa do Pequeno Lavrador: progrma de assistência e aprendizagem rural para crianças
e adolescentes filhos de agricultores.
- Casa do Pequeno trabalhador: programa de capacitação e encaminhamento ao trabalho de
crianças e adoelscentes de baixa renda que moravam na cidade, como forma de reduzir a
marginalidade e a ociosidade desses jovens nas ruas, que consequentemente ingressariam
na delinquência.
- Casa das meninas: que foi um programa assistencial e socioeducativo de adolescentes do
sexo feminino que tinham problemas envolvidas em atos infracionais.

É a partir desse momento que o trabalho passa a fazer parte do processo de ressocialização do
jovem infrator, ou seja, como parte da medida socioeducativa a ele infligida.

E essa associação entre trabalho e socioeducação vai se consolidar ainda mais com o fim
do Código de Menores na década de 1980 e a promulgação do Estatuto da Criança e do
adolescente – ECA, na década de 1990, já que até o código de menores vai vigorar uma
política da exclusão e marginalização de crianças e adolescentes. Nesse sentido, a gente pode
problematizar o código de menores (1927 a 1979) como um produto de matriz culturalmente
autoritária, patriarcal, cuja preocupação não era com o problema social do menor, ou seja,
entender o problema e resolvê-lo, mas com soluções paliativas, por assim dizer. Em relação à
inserção do jovem no trabalho, por exemplo, o principal objetivo no aprendizado de um ofício era
o de formar mão de obra para um Brasil que estava em desenvolvimento, além de funcionar como
uma medida higienista, já que “limpava” as ruas da chamada na época “delinquência juvenil e
ainda formava a força de trabalho assalariada, ou seja, tirava de circulação aquilo que
atrapalhava a ordem social.

Antes do ECA, as medidas que se aplicavam aos infratores visavam sobretudo tratar um
tipo de patologia social, e a inserção do jovem no mercado de trabalho era considerado uma
política social higienista direcionada aqueles que se encontravam na chamada “situação
irregular”. No código de menores, o as crianças e adolescentes não eram sujeitos de direitos,
mas sim considerados como um problema social, que exigia medidas que os tirassem das ruas,
da ociosidade, da delinquência e os colocassem para aprender algo os tornassem ferramentas
úteis ao Estado.

O objetivo não era ressocializar, mas pegar aquela massa de jovens e adolescentes em
situação de vulnerabilidade e transformar em mão de obra para o Estado.

É com o advento da constituição de 1988, que as crianças e adolescentes passam a ser


protegidos pelo Estado e não mais vistos como problemas, ou seja, a proteção de menor se torna
um dever social da família e do Estado. E a partir do ECA, em 1990, as crianças e os
adolescentes serão sujeitos de direito, considerados em condição peculiar de
desenvolvimento, e, por essa razão demandam uma proteção integral e prioritária por parte da
família e, sobretudo, pelo Estado Brasileiro.

No capítulo IV (Do direito à educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer), artigo 53 do ECA


traz garante à criança e ao adolescente o direito à educação, como parte do seu desenvolvimento
humano, como preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Ao passo
que no capítulo V, temos o Direito à profissionalização e à proteção no trabalho.

Artigo 60 proibe qualquer trabalho para menor de 14 anos, salvo como aprendiz, o 61
garante a proteção ao trabalho dos acolescentes pela legislação, o 62 e o 63 vão tratar sobre a
aprendizagem técnico-profissional e alguns princípios que garantem o desenvolvimento da
criança por meio do trabalho, mas como parte de um processo educativo na sua formação. O
trabalho aqui possui caráter educativo, isto é, não é uma medida higienista como foi considerado
no código de menores. O trabalho faz parte de um processo que visa o pleno desenvolvimento do
jovem, garantindo um espaço seguro, salubre e que contribua realmente para a sua formação
como cidadão. Não visa apenas colocá-lo como mão-de-obra massificada à disposição do
sistema.

Por sua vez, a lei 12594/2012, LEI DO SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO


SOCIOEDUCATIVO (SINASE), com o objetivo de regulamentar a execução das medidas
socioeducativas destinadas aos adolescentes que pratiquem atos infracionais, é promulgada em
2012 como uma disposição legislativa federal, mas que incluia, por adesão, estados, distrito
federal e municípios. O SINASE vai trazer a parte conceitual, as competências de cada ente
federativo (Estado, Df e municípios) e estrutural das unidades de atendimento, ou seja, vai
abarcar todo o trabalho socioeducativo.
No capítulo VIII – Da capacitação para o trabalho, são insituídas algumas parcerias de
cooperação estabelecidas entre as escolas do sistema S, como Senai e Senac, na oferta de
vagas destinadas a jovens que estão sendo atendidos pelo sistema socioeducativo.
No Estado da Paraíba, há inúmeras parcerias entre o governo do Estado e algumas
entidades do sistema S (Como o próprio Senai e Senac), como também com outros setores de
serviços. Nas próprias unidades são oferecidos cusos de informática básica e avançada,
confeitaria, padaria, secretariado, mecânica de autos, desiner de sobrancelhas, eletricista predial
entre vários outros.

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