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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR WASHINGTON LUIS BEZERRA DE ARAUJO

Processo: 3001205-34.2024.8.06.0000
[Direito de Greve]
DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE (988)
Agravante: UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI URCA e outros
Agravado: SINDICATO DOS DOCENTES DA URCA - SINDURCA

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Tem-se ação ajuizada pelo Estado do Ceará e a Fundação Universidade Regional

do Cariri - Urca objetivando a declaração de ilegalidade de greve deflagrada pelo

Sindicato de Docentes da Universidade Regional do Cariri - Sindurca.

Em seu pedido, os promoventes argumentaram, em síntese, que o movimento

paredista é ilegal, uma vez que não houve frustração das negociações prévias.

Argumentaram também que o Sindurca não informou o percentual mínimo de

servidores que permanecerão em serviço, nem apresentou um plano de manutenção e

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funcionamento das atividades.

Arguiram ainda que a greve é ilegal, porque o sindicato não apresentou

documentação comprobatória da higidez da convocação da assembleia, bem como do

atendimento do quórum para deliberar sobre a matéria.

Requereram a concessão de tutela de urgência, determinando-se a suspensão do

movimento paredista, sob pena de multa; pediram, por fim, a declaração de ilegalidade da

greve.

É o relatório, no essencial.

Constata-se a plausibilidade da alegação de que as negociações não foram

totalmente frustradas, ao arrepio do disposto no art. 3º, da Lei Federal nº 7.783/89 (Lei de

Greve): “frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é

facultada a cessação coletiva do trabalho”.

Com efeito, o ofício nº 07/2024 do Sindurca (id 11603681) não fez menção ao

insucesso de negociações prévias, apresentando uma série de reivindicações que,

aparentemente, não constam nas atas das últimas reuniões havidas entre as Reitorias

das Universidades estaduais e a diretoria dos respectivos Sindicatos de docentes (id

11603682), a exemplo da reposição de perdas salariais no percentual de 37% (trinta e

sete por cento), equiparação salarial entre professores efetivos, substitutos e temporários

e políticas permanentes de assistência estudantil.

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A pauta atinente à convocação dos candidatos a cargos de professor até aparece

nas atas das reuniões; porém, tal reivindicação foi apresentada pelo Sinduece

perante a Uece, e não pelo Sindurca, ora promovido, que representa apenas os

servidores da Urca (id 11603682, p. 5 e 18).

Aliás, a divulgação do resultado final do concurso para professor efetivo da Urca

aconteceu no dia 22 de março último (Concurso Público para Magistério Superior (MAS) –

URCA – Publicações Após Decisão Judicial – Comissão Executiva do Vestibular

(CEV/URCA), de modo que, ainda que a convocação de candidatos houvesse sido

reivindicada pelo Sindurca, não consistiria, neste momento, salvo melhor juízo, motivo

plausível para deflagração de greve, na medida em que a postura da Administração não

sinaliza resistência de demora desarrazoada na admissão desses novos servidores.

Isto é, não haveria, ao que tudo indica, insucesso na negociação das

demandas relacionadas acima.

Por seu turno, a reivindicação atinente às ascensões funcionais consta na ata da

reunião de 9 de maio de 2023 (id 11603682, p. 6), mas, aparentemente, o atendimento

da reivindicação esbarra na necessidade de criação de vagas. Logo, haveria

necessidade de encaminhamento de projeto de lei, acompanhado de estimativa do

impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos

dois subsequentes (art. 16, I, da LRF).

De toda forma, a Administração não demonstra sinais de desídia, uma vez que,

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segundo consta na inicial, a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior -

Secitece, órgão da Administração direta às quais as autarquias universitárias são

vinculadas, articulou, com participação das Universidades e dos respectivos sindicatos, “a

elaboração de Projeto de Lei versando sobre o alcance dos efeitos financeiros, estando o

processo em análise na SEPLAG (NUP 31001.000493/2023-04) e que a reposição das

vagas também está em estágio de avaliação pela SEPLAG, conforme movimentação do

processo NUP 31032.001713/2024-22”.

Haja vista a necessidade de análise de viabilidade jurídica e orçamentário-

financeira do pedido, além das múltiplas prioridades do Estado, era altamente improvável

que as negociações caminhassem para um acatamento da demanda ainda no primeiro

trimestre deste ano.

O mesmo pode ser dito com relação à reivindicação de recomposição de perdas

salariais no percentual de 37% (trinta e sete por cento), apesar de, como dito acima, não

haver sinais de que o Sindurca tenha sequer esgotado as negociações sobre essa

demanda específica.

O estudo do impacto orçamentário-financeiro se faz, aliás, verdadeiramente

necessário, considerando que a documentação aponta que o Estado já ultrapassou os

limites de alerta de responsabilidade fiscal (documento de id 11603685, p. 3) e já se

aproxima, pois, dos limites prudenciais que entravam gastos governamentais.

O cenário sugere, portanto, que não houve frustração das negociações a ponto de

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justificar a medida drástica de paralisar as atividades da autarquia universitária.

Ainda, o ofício nº 07/2024 do Sindurca, aparentemente, não foi acompanhado de

documentação comprobatória da regularidade da convocação da assembleia e do

atendimento do quórum necessário para deliberar sobre a matéria, o que impede aferir a

observância do disposto no art. 4º, § 1º, da Lei de Greve: “o estatuto da entidade sindical

deverá prever as formalidades de convocação e o quórum para a deliberação, tanto da

deflagração quanto da cessação da greve”.

Por fim, há perigo de dano e risco ao resultado útil do processo, em razão do

prejuízo que a interrupção das atividades educacionais pode ocasionar à regularidade do

andamento e conclusão dos cursos mantidos pela instituição e os consequentes

transtornos na formação profissional dos alunos.

Encontram-se, pois, presentes os requisitos para a concessão da tutela de

urgência.

Assim, com base no art. 300 do CPC e art. 161 do RITJCE, determino a

suspensão do movimento paredista anunciado pelo Sindurca, sob pena de multa diária de

R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), direcionada ao ente sindical.

Rejeito, por ora, a aplicação da multa cominatória em face dos diretores do

Sindicato-réu, por não haver indícios de que a ordem de suspensão da greve será

descumprida.

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No ensejo, com base no art. 160, caput e parágrafo único, do RITJCE, designo

audiência de conciliação no dia 15 de abril de 2024, segunda-feira, às 15h30m, a ser

realizada presencialmente, no plenário da 3ª Câmara de Direito Público, sala 2 do Fórum

Clóvis Beviláqua.

Intime-se a Procuradoria Geral de Justiça para tomar ciência da decisão e também

da designação da audiência, na forma do art. 160, do RITJCE.

Além dos expedientes de máxima urgência a cargo da Secretaria Judiciária,

determino que cópia desta decisão seja enviada a algum endereço de e-mail de cada

litigante constante nos autos ou divulgado nos seus respectivos sites oficiais ou, na falta

disso, a outro canal de comunicação porventura informado.

Expedientes Necessários, com máxima urgência.

Fortaleza, data informada pelo sistema.

Desembargador Washington Luís Bezerra

Relator

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