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Pós-graduação em Psicopedagogia

Trabalho apresentado à

Disciplina
Bases Psicogenéticas na Educação
Professora: Iandara David
Turma: ICA 20
Aluna: Josinete Matos Pereira

Niterói
2010
“Nos tempos atuais, falar de aprendizagem e negligenciar os mecanismos cerebrais
responsáveis pelo ato de aprender, conservar, recuperar e associar conhecimentos,
significa desconsiderar um dos principais componentes responsáveis pelo processo
evolutivo humano. Não há como negar a importância do funcionamento mental como
base para a aprendizagem.” (...)

“A aprendizagem pode ser vista como um processo pelo qual o cérebro reage a
estímulos ou demandas do ambiente, transformando-se e permitindo uma atuação do
indivíduo no mundo em que vive. Promover situações que facilitem a aprendizagem,
fornecer os estímulos adequados ao cérebro em formação, sempre considerando o seu
desenvolvimento e maturação, é função daqueles que se preocupam e atuam
diretamente com a aprendizagem.”

(Pantano e Zorzi, 2009)

"Neurociência aplicada à aprendizagem", organizada por Telma Pantano e Jaime

Luiz Zorzi
PERGUNTAS:

1 - A partir do texto sobre a forma de reflexão e sua influência na


construção do conhecimento, relacionar a importância desse contexto
articular em um fazer psicopedagógico

Texto: “A reflexão é dialética: o pensamento do indivíduo se forma por um


contexto social e cultural e este, por sua vez, são configurados pelo
pensamento e ação dos indivíduos”.

RESPOSTA:

As crianças já nascem sabendo. Antes, eles vinham até nós, hoje somos nós que vamos
até eles.

As responsabilidades por gerar valores, sentidos, significados, concepções de vida e do


mundo, vem do sentido amplo da palavra e da ação: EDUCAÇÃO

A função elementar da EDUCAÇÂO é o CONHECIMENTO, partindo do princípio


de estudo de que é, e como se dá esse processo de CONHECER.

O CONHECIMENTO do ponto de vista da Epistemologia Genética, é visto como algo


construído pelo sujeito/indivíduo, no contexto de suas interações com outras pessoas e
objetos.

As possibilidades da tríade - experiências/ relação/conhecimento, pelo qual o ser


humano passa, não acontecem só no âmbito intelectual. Estende-se para os lados
AFETIVOS, IMAGINÁRIOS, PERCEPTÍVEIS, SENSORIAIS, MNÊMICOS. Onde
abre um leque de possibilidades de vivências para o qual o ser humano se aprofunda em
um autoconhecimento.

O ser humano é o único animal que possui essa capacidade de buscar o


CONHECIMENTO, pois somos Racionais e temos o mecanismo do pensamento

Toda a construção deve passar pelo processo crítico, fazendo com que o
indivíduo/sujeito possa inovar, inventar, descobrir, transformar, onde se descobre com
novos conceitos e se transforma em sua totalidade, sendo um sujeito cognoscente. Sua
construção para a sociedade se dá de forma TRANSFORMADORA, pois o outro
aprende com a interação, com a troca com o outro.

“Quem olha para fora, APRENDE


Quem olha para dentro,ACORDA”
Jung

E nessa relação que se constrói um diálogo entre o ensinante e o aprendente. E essa


relação se dá através dos aspectos objetivantes e os aspectos subjetivantes.

Todo o processo de aprendizagem é interacional e a Psicopedagogia é a área do


conhecimento que estuda a aprendizagem humana, objetivando facilitar o processo de
aprendizagem não apenas no ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo,
afetivo, social e durante toda a vida. Compreendendo o sujeito como bio-psico-sexual-
social e cultural.

“Só se aprende aquele que se apropria do aprendizado, transformando-o em aprendido,


com o que pode por isso mesmo reinventá -lo. Aquele que é capaz de aplicar o
aprendido-apreendido a situações existenciais concretas”.
Paulo Freire

A APRENDIZAGEM é o modo como os seres adquirem novos conhecimentos,


desenvolvem competências e mudam o comportamento. A aprendizagem é a capacidade
de que quotidianamente necessitamos para responder adequadamente às diferentes
solicitações e desafios que se nos colocam na nossa interação com o meio.

A COGNIÇÃO é a capacidade de processar informações. Em se tratando do homem, é


a capacidade de adaptação a situações absolutamente diferentes em curto espaço de
tempo. É a capacidade de construir conhecimentos.

Sempre que buscamos uma explicação científica para o processo de aprendizagem, a


neurociência, área da medicina que estuda o sistema nervoso, vem para contribuir e
esclarecer pontos chaves no mecanismo do cérebro humano, o seu funcionamento,
desde a sua formação até o envelhecimento. E a psicopedagogia, que é um campo que
nasce do conhecimento interdisciplinar, também utiliza os conhecimentos científicos
difundido pela neurociência, objetivando subsidiar o sujeito cada vez mais no processo
de aprendizagem, bem como as dificuldades dela decorrentes.

O processo de aprender e ensinar significa a possibilidade de aprender e não no


fracasso, quando abre esse processo de possibilidades para o Indivíduo/sujeito, fala
muito mais no aprender do que na dificuldade. Essas possibilidades levam o
indivíduo/sujeito a APRENDER e é mediada e eficiente ao CONHECIMENTO.

A aprendizagem é dinâmica e contínua. E se o sujeito indivíduo não for estimulado


suficientemente na sua infância, nada impede que o faça agora. Será difícil, mas ele
aprenderá com dedicação e esforço e principalmente também por estimulação dos pais e
professores.
Há uma interação de dois mecanismos, o aluno deve ter desejo de aprender e o educador
está na posição de facilitador desse aprendiz, motivando-o na aprendizagem. Tem que
haver o estabelecimento do VÍNCULO POSITIVO na capacidade de APRENDER do
aluno.

Para construir um saber, é importante que o sujeito /indivíduo passe por quatro passos:

1º passo – A INGENUIDADE – onde a pessoa nem sabe que não sabe, não tem
consciência do erro
2º passo – A DESCOBERTA – a pessoa sabe que não sabe e tem oportunidade de
aprender, busca meios de aprender, onde tem a curiosidade do novo. Associada a esses
dois atributos, a descoberta e a curiosidade, surge a criatividade.
3º passo – O APRENDIZADO – a pessoa são sabe que sabe. Adquiri conhecimento,
onde confere uma sensação de poder, alimentando, indiretamente, o orgulho natural de
saber.
4º passo – A SABEDORIA – a pessoa nem lembra que sabe. Seu saber é incorporado
como algo natural. Passando a pertencer ao seu comportamento. Agindo sem precisar
pensar.

Por fim, a escola tem um importante papel, que é aproveitar o potencial de inteligência
de seus alunos para a conquista do sucesso no processo de aprendizagem. Os
professores são os principais agentes, através do desenvolvimento de projetos de
interesse para a realização do ensino e aprendizagem. Quando Compreendem que a
aprendizagem envolve várias dimensões do cognitivo, social e afetivo adotam uma
ação mais competente, levando em conta a influência das emoções para o
desenvolvimento na construção do conhecimento.
“Educação é muito mais do que transmitir conhecimento e habilidades por meios dos
quais se atingem objetivos limitados. É também abrir os olhos das crianças para as
necessidades e direitos dos outros. Precisamos mostrar às crianças que suas ações têm
uma dimensão universal.
E precisamos encontrar uma forma de estimular seus sentimentos naturais de empatia
para que venham a ter uma noção de responsabilidade afetiva em relação aos outros.
Pois é isto que nos motiva a agir”.

( in Dalai Lama, O Caminho da Tranqüilidade)

"Ser educador é ser um poeta do amor. Educar é acreditar na vida e ter esperança no
futuro. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência."

Augusto Cury
(2) Selecionar 2 situações em que permita ser identificado o
processo de autonomia (moral e intelectual), em diferentes
momentos e em diferentes idades, identificando: Que tipo de
relação? Qual a hipótese?
No intuito de responder essa pergunta, recorro à obra O julgamento moral na criança
(Piaget, 1994) e a textos de quem difunde Piaget entre nós. E penso que, um bom
começo é deixar claro qual era o campo de estudo de Piaget. Sobre isso, ele próprio
afirma:

“Ora, eu pretendo que, precisando suficientemente a evolução biológica, chegar-se-á


a fundar uma moral da obrigação e uma moral única, sem tergiversação possível ”
(Piaget apud Freitas, 2003, p. 56).

O campo de estudo piagetiano circunscreve-se à esfera da biologia, da qual pretendia


extrair um fundamento para o conhecer e o julgar.
Com base nos estudos sobre a evolução biológica, Piaget pretendia fundamentar uma
moral universal, da qual nenhum ser racional pudesse fugir, dado que imperativa,
categórica, lógica, universal, absoluta. E, falando de como seria esse tipo de moral, ele
prossegue:

“Não será nem um utilitarismo nem um amoralismo nem uma ciência dos costumes,
no sentido estrito da palavra, mas uma moral do altruísmo, correspondendo às
aspirações mais altas da consciência humana” (Piaget apud Freitas, 2003, p. 56)

Que tipo de relação?


Como pude observar, algumas crianças são dependentes, tendo dificuldades de criticar e
mesmo de opinar.
O que realmente despertou meu interesse sobre o tema foi ver uma das crianças,
trabalhando com um desenho, sentir-se INCAPAZ de escolher o desenho que faria e as
cores que utilizaria.
Essa situação expressa à dependência intelectual da criança em relação ao adulto, a
incapacidade de tomar decisões, isso pode ter reflexos no seu comportamento adulto,
gerando comportamento totalmente obediente às estruturas sociais.

O trabalho dos professores e de um psicopedagogo deve ser de defender uma educação


que procure desenvolver a autonomia moral e Intelectual de seus alunos.
Nos textos bibliográficos, onde focaliza o desenvolvimento moral da criança em suas
relações sociais e na educação escolar, a partir de autores como Jean Piaget, Rubem
Alves e Contance Kamii, mostram a importância de que as crianças ajam corretamente
por escolha própria, e não pela pressão de castigos ou de recompensas. Que construam,
ou tenham respostas corretas, não por que alguém lhe mostrou, mas porque e as
encontrou.
Não podemos educar crianças como os ratos condicionados, em experiências de
laboratório.
As crianças precisam ter consciência de seus atos, que estejam cientes de suas
conseqüências e que reflitam sobre eles. Isso é de suma importância.
A educação quando autoritária reforça a heteronomia da criança e dificulta a formação
de pessoas livres, pois “é livre o indivíduo que sabe julgar, e cujo espírito crítico,
sentido da experiência e necessidade de coerência lógica se colocam ao serviço de uma
razão autônoma, comum a todos os indivíduos e que não depende de nenhuma
autoridade externa”. (PIAGET, 1998)
Com essas preocupações, a autonomia seria o objetivo da educação, sendo favorecida
com métodos que privilegiassem a cooperação, numa relação de respeito mútuo e de
investigação.
(3) Relato de uma intervenção educacional através do processo de
mediação, na estruturação de habilidades cognitivas do sujeito e a
atividade realizada.
 INTERVENÇÃO

Encaminhamento:
De: Serviço de Orientação Educacional da Escola Maria Zulmira Ferraz.
Aluna: Geovana Muniz
Motivo: Duas reprovações sucessivas e estar começando um novo ano
com notas muito baixas, sem perspectivas de melhora.
Dia da consulta – 10/07/2010

A adolescente chega com os pais ao consultório. Relata a razão da vinda


ao consultório e a queixa da escola, sua análise do fato e suas
expectativas, no seu ponto de visto.
No momento seguinte, o terapeuta, ouve a opinião dos pais e contestá-la,
caso discorde.
A presença do terapeuta possibilita ao adolescente ser mais autônomo
nesse diálogo.
RELATO
Geovana diz: “Quando eu peço ajuda no exercício, você sempre diz que
está cansado”.
“Quando você fica no meu pé, eu fico com raiva, aí é que eu
não estudo mesmo”.
“Se eu fico na média, você diz que tem que ser mais, se eu
fico só um pouco mais da média, você diz que poderia ser melhor”.
“Eu não gosto desta escola,e vocês não me tiram dela, e n ao
fazem nada”.
“Ai eu penso: se eu errar, já perdi a calça nova, o tênis, a
blusa...”
Terapeuta diz: “Você gosta de ler?”
Geovana diz: “Olha, eu não leio. As vezes, quero ler, mas não tenho saco
para ler”.
Terapeuta diz: “Como anda o ambiente do colégio?”
Geovana diz: “Tenho raiva de dois professores e de alguns colegas”
Terapeuta diz: “E o que você acha?”
Pai diz: “Quando se pergunta de estudo, ela diz que está tudo bem.Na
primeira reprovação, eu fiquei aborrecido com o colégio, porque nós
(pais), tínhamos sido alunos desse colégio. Ela me parecia alheia à
reprovação, era como se tivesse passado de ano.
Eu acho que, ano passado, dei pouca assistência a eles porque
estive envolvido em aperfeiçoamento profissional. Os dois perderam o ano.
Eu não gostei foi dela mentir para gente, dizer que ia ao cinema e ia para
danceteria. A coordenadora do colégio reclamou que ela não aceita
autoridade”.
Mãe diz: “´Nós deixamos ela ir à danceteria, mas tem que dizer com quem
vai e os horários. Acho que no estudo, ele (pai) tem razão”.
Geovana diz: “Ele(pai) quer que agente seja no estudo o que ele foi”
Pai diz: “Eu era levado, mas estudava. Hoje sou Arquiteto”.
Mãe diz: “ Eu estudei no colégio X. Trabalho em meio expediente, e me
sentia um pouco culpada. Sempre foram (Geovana e o Irmão)
independentes. Não queriam a minha participação. Não tive mãe. Não
precisei de professores particulares”.
Geovana diz: “Voces sabem que eu odeio os professores de Português e de
Matemática. Eu posso estudar sozinha, antes foi muita bobeira minha, por
isso fiquei reprovada”
Terapeuta diz: “ Geovana, o que você propõe para esse semestre como
experiência de estudo?”
Geovana diz: “Eu quero que eles me dêem o direito de fazer o meu horário
de estudo. Não quero que fiquem no meu pé, enchendo o saco. Só quero
poder resolver o meu domingo, e não estar todo domingo na casa da vovó!”
Terapeuta diz: “ Como vocês vêem a proposta da Geovana?”
Pai diz: “ Acho que a gente andou conduzindo mal esse problema de
estudo e saídas lá em casa”.
Geovana diz: “Vocês podiam só falar depois das minhas notas nos dois
próximos bimestres. Me deixa...”

No âmbito familiar, a jovem não sabia colocar toda sua postura, pois não era ouvida
pelos pais em uma situação espontânea.
No ponto de vista psicopedagógico, esse relato, representam diferentes pontos nas
relações da família com o trabalho escolar. Tais como: valorização, apoio e atenção à
execução de tarefas doméstica, nível de exigência e forma de cobrança do produto
escolar, sentimento da adolescente em relação a essa situação e a escolha da escola.
A partir desses pontos, discutiram-se o nível de competência dos pais em determinar
limites sociais gerais, a margem de liberdade de ação de Geovana, os horários
compatíveis com a sua idade, as culpas vivenciadas pelos pais, suas expectativas de
produção escolar dos filhos e de futuro profissional, a forma de se fazerem as cobranças
e as dificuldades da mãe.
Geovana analisou com bastante seriedade seu pouco investimento anterior na
aprendizagem escolar, seu desejo atual de assumir um novo compromisso com a escola,
suas reações agressivas com relação aos pais por meio da escola, seu desejo de dispor de
tempo para definir melhor suas responsabilidades nas diferentes situações de vida.
Encerrou-se o diagnostico assim, combinando-se um novo encontro para o final do
semestre escolar. Constatou-se, nesse segundo momento, que o desempenho escolar de
Geovana fora médio em relação à turma, satisfazendo suas próprias expectativas e as de
seus pais.
Este é um caso típico de adolescente SEM PROBLEMA DE APRENDIZAGEM, mas
com FRACASSO ESCOLAR que era motivo de preocupação. O fato de não querer
aprender e produzir prendia-se a uma relação á família e também à autoridade escolar.
Geovana expressava conflitos típicos do adolescente na busca de autonomia, mas com
medo da independência: “me olha” “me deixa”. Se isso não é compreendido pela
família e pela escola, corre-se o risco de um agravamento da situação, acarretando mais
reprovações com deterioração do vínculo com a aquisição do conhecimento.

A intervenção Psicopedagógica evitou que a situação se agravasse .


“Quando um impasse dificulta ou bloqueia a negociação, e um terceiro imparcial
(mediador) auxilia, através de um processo estruturado, a restabelecê-la, para que as
partes sejam autoras das decisões. Atuando na construção de um contexto colaborativo e
na desconstrução dos impasses, possibilita que um diálogo sobre as questões se
estabeleça e decisões consensuais possam ocorrer.”

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