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O que sabe quem erra?

A ambigüiclacle cio processo ele avaliação

Como afirma Bakhtin (1988) e Voloshinov (1976), toda pela dicotomia saber/não-saber, contribui para o silenciamento
relação interpessoal é dialógica sendo o diálogo constituído por daqueles cujas vozes não são ouvidas, reconhecidas e valorizadas
uma pluralidade de vozes, sempre imersas no contexto social. no processo pedagógico, revelando a presença da tensão
O enunciado reflete tanto a voz que o produz quanto as vozes a inclusão/exclusão social nos procedimentos escolares.
que se dirige; a compreensão de seu significado implica a A indagação do significado do erro no processo ensino/
possibilidade de contextualizá-lo, de colocá-lo em contato com aprendizagem na verdade amplifica e dá visibilidade a uma prática
outros enunciados e de confrontá-los. interpretativa que já tem seu lugar nas atuações docentes cotidianas,
A utilização do conceito de zona de desenvolvimentoprox1111al pois a objetividade pressuposta está impregnada de uma
se anuncia como uma possibilidade de materializar a dupla ruptuD1 subjetividade que a teoria prefere manter oculta. Ficando livre da
epútemológ-ica no âmbito das práticas escolares. Por um lado propõe exigência da objetividade a subjetividade pode sair das sombras e
uma análise fundamentada nos avanços do pensamento científico revelar a ambivalência da avaliação. Tomando, por exemplo, o
confrontado à dinâmica social, sem deixar de considerar também distanciamento entre erro e acerto, um dos movimentos centrais
os aspectos de senso comum, indispensáveis para a interpretação do processo avaliativo, vemos que, na sala de aula, nem todos os
que o/a professor/a faz do processo do/a aluno/a; por outro, erros possuem o mesmo valor e freqüentemente este valor
demanda para seu desenvolvimento uma mudança no próprio senso depende de quem erra e de quem avalia.
comum dos professores e professoras, ou seja, transformá-lo em Então cada palavra dessa aqui é um esforço para ela. É uma
senso comum renovado através do diilo,_[Jo com a produção científica, coisa que você realmente vê ela buscando, ela juntando...
também re-significada pela interação. Eu não posso olhar com os mesmos olhos.
Este processo indica a necessidade de reconciliação entre Uma palavra escrita errada pode ser interpretada como um
os conhecimentos científicos e de senso comum na construção descuido se está no texto de um/uma bom/boa aluno/a; como
do processo ensino/aprendizagem - em suas dimensões teórica um desconhecimento, se o/a aluno/a não é tão bom/boa; ou
e prática. Tal reconstrução denuncia uma redefinição valorativa, como uma aprendizagem, se o/a aluno/a é esforçado/a. O mesmo
necessária ao abandono da percepção das práticas cotidianas como podemos observar, algumas vezes, em relação aos maus
práticas carentes de teoria ou configuradas a partir de estudantes, para quem um bom resultado pode ser interpretado,
conhecimentos de menor relevância. por seu/sua professor/a, como sorte ou como cola. Também
Estabelecer esta nova dinâmica na prática foi um desafio pode haver alterações na atitude do/a professor/a frente a seus
assumido em nossa pesquisa. O trabalho nos foi indicando ser alunos e alunas no processo de avaliação, dando mais
indispensável questionar a noção de eJTo dominante na escola, oportunidades a alguns de aproximação à resposta correta do
pois este conceito representa um marco na configuração da que a outros. O que não significa que o/a professor/a facilite a
avaliação como um processo seletivo. A distinção entre respostas resposta para uns e não para outros, mas que há uma infinidade
certas e erradas organizada na perspectiva do/a professor/a, de atitudes, poderíamos dizer subliminares, que permitem
define sua classificação como saber ou nfo-sabe1; modelando a reforçar ou afastar uma idéia sem que se estabeleçam pautas rnais
vida escolar dos alunos e alunas. A oposição erro/acerto, marcada convencionais de diálogo. Nas atividades cotidianas o/a

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A ambigliiclacle do processo de avaliação

professor/a pode ir dando pistas da possibilidade, ou


impossibilidade, do aluno/a acertar (EsTEBAN, 1992a).
Além dos critérios chamados objetivos está o olhar de quem
avalia, está a reorganização que promove o/a professor/a de sua
interação com as crianças segundo a interpretação que faz do
significado das situações de que participam.
O que leva o/a professor/a a att11ar desta maneira? Sua suposta
capacidade para saber quais são os conhecimentos que seus
alunos/as possuem. Portanto, sua capacidade de interpretar os
resultados além do que está posto no exame. Von Foerster (1996)
nos ajuda a compreender como este olhar subjetivo - oculto?
conduz o exame objetivo ao mostrar que não se vê com os olhos,
mas através deles, usando um conjunto de conhecimentos que
já se possui anteriormente e que conduz o olhar, fazendo com
que haja situações nas quais o sujeito não vê que não vê, o que
lhe permite atuar sem perceber que sua análise sempre parte de
uma seleção em que não são considerados alguns aspectos e são
enfatizados outros.
Segundo Newman, Griffin e Cole (1991), a configuração
da hierarquia entre os erros tem como referência a possibilidade
do/a professor/a interpretar a resposta dada e definir uma
estratégia para conduzir a criança à resposta adequada. Se o/a
professor/a pode compreender o erro também pode propor
ações para corrigi-lo. Estes erros "compreensíveis" costumam
manter uma lógica semelhante à lógica docente.
Observemos estes exercícios:
A escrita deste aluno, apesar de errada, permite que sua
professora compreenda sua resposta e tenha claro o que lhe falta
para acertar. A escrita seguinte, entretanto, não oferece quase
nenhuma informação sobre o que o aluno sabe ou mio sabe.
Por sua distância da lógica convencional, não dá elementos
para a professora compreender sua resposta, identificar seus

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lhe foi ensinado, acerta, o que é avaliado como saber, por construção de conhecimentos, como um indício de que a lógica
oposição, quando a resposta dada se diferencia do padrão, o infrmtil tem perspectivas particulares que precisam ser consideradas.
estudante erra e sua resposta é classificada como n:zo-saber. As respostas somente são consideradas "erradas" quando
Valoriza-se o acerto e nega-se, ou tenta-se evitar e ocultar, o comparadas a um padrão pre_definido como acerto, abandonando
erro. A concepção hegemónica que dá ao erro um valor negativo os modelos a serem alcançados, o eJTo, como elemento negativo,
é um obstáculo para que os/as professores/as possam incorporar, deixa de existir. Cada resposta dada pode ser aprofundada,
no processo de avaliação, a compreensão dos/as alunos/as. discutida, ampliada, o que não a caracteriza como t'l1�1da.
A interpretação das respostas certas como comprovação da Sabemos ser difícil mudar práticas ancoradas em
capacidade de raciocínio e de aprendizagem dos alunos e alunas interpretações profundamente consolidadas, como a dicotomia
faz com que o fundamental seja responder corretamente, entre erro e acerto. O trabalho de Morin (1996; 1999) nos ajuda
deixando de ter importância as características da pergunta a compreender com maior profundidade a complexidade
formulada e os meios usados para chegar à resposta certa. presente nesta dicotomia. Para este autor, a definição primeira
Não são indagadas as características da aprendizagem realizada: de erro tem como referência a própria vida, é posterior seu
o/a aluno/a pode estar simplesmente repetindo o já sabido, pode vínculo com a questão da verdade. O organismo vivo trabalha
haver memorizado os elementos que permitem dar a resposta incessantemente sob o risco de que algum erro o conduza à
certa, ou pode ter aprendido a responder de acordo com as morte, seja por mecanismos internos ou pelas relações com seu
exigências do/a professor/a. Este procedimento ensina os entorno, muitas vezes perigoso.
estudantes a se comprometerem com a nota, não com o
conhecimento (SANTOS GUERRA, 1995a; BARRIGA, 1993). O erro está ligado à vida e, portanto, à morte. Em todos os níveis,
uma quantidade muito grande de erros provoca a morte. (...) Ternos
Nenhuma destas explicações para o acerto garante a aqui uma questão muito importante: vida e morte implicam sempre
compreensão, assimilação e aplicação dos conhecimentos. o erro (MOiuN, 1999: 143).
A aprendizagem mecânica, que pode gerar a resposta correta,
A relação entre erro e morte é bastante estreita, o que pode
não age no sentido de favorecer a organização do conhecimento
estar subjacente à interpretação do erro como um fato negativo
e sua participação na constituição de um pensamento
que deve ser evitado. Entretanto, os mecanismos de preservação
independente, crítico e criativo, no entanto, assinala formas de
da vida não atuam apenas no sentido de evitar o erro, também
organização da ação e de justificativa das práticas num contexto
podem ser encontrados procedimentos de utilização do erro que
de crenças compartilhadas, proporcionando um sentimento de
levam ao surgimento da diversidade e da possibilidade de evolução.
segurança no sujeito que atua.
Aparece a face positiva do erro; o erro contém a interação dialética
A perspectiva que define o erro no processo ensino/ entre vida e morte, entre positividade e negatividade.
aprendizagem como um resultado negativo é dominante na escola.
Com a possibilidade humana de construir um sistema de
Mesmo assim, trabalhamos desde um prisma que interpreta as
idéias sobre a realidade, surge o conceito de verdade, ao qual se
respostas consideradas erradas como as aproximações possíveis
conecta o de erro. É o conceito de verdade que mais contribui
para as crianças, num determinado momento de seu processo de

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para amplificar a imagem negativa do erro, pois toda contradição Tradicionalmente as diversas formulações teóricas e as
com a norma estabelecida como verdade é interpretada como propostas de ações práticas relativas à avaliação escolar têm
erro e rechaçada. indicado formas e valores distintos para classificar as respostas
dadas pelos/as alunos/as como certas ou erradas, o erro continua
O que se pode dizer é que nós, enquanto seres computantes e sendo interpretado predominantemente desde uma perspectiva
cogitantes, vivos, sociais e culturais, não podemos escapar à dupla negativa. Há mudanças nos modelos e manutenção do objetivo.
problemática do erro e da verdade: para nós, os elementos e os
Este movimento perpetua a valorização exclusiva da resposta
acontecimentos do universo são traduzidos em informações e em
mensagens; a palavra tradução é capital; a computação é também certa, colocando o foco sobre aspectos que não são os mais
urna tradução; é aí que chegam todos os riscos de erros; quanto relevantes para a solução dos problemas educacionais.
mais informação, mais comunicação, mais idéias e mais riscos de Não nos interessa pôr em debate formas mais precisas para
erro; mas também, quanto mais complexidade, mais possibilidade
identificar o erro ou o acerto dos estudantes. Nosso objetivo é
de transformar esses erros e torná-los criativos (MORIN, 1999: 154).
tratar o salxre o n/io-sabercomo situações inerentes ao processo
O trabalho de Morin (1995; 1999) nos indica a fecundidade ensino/aprendizagem. Queremos redefinir o sentido de erro ro
do erro na vida de um modo geral, trazendo indícios importantes e tentar desenvolver mecanismos para que os/as professores/
para pensarmos como a avaliação escolar da aprendizagem nega as possam identificar que o erro encarna também uma
sistematicamente o erro e suas conseqüências para o processo dimensão criativa e múltiplos conhecimentos, que o erro nos
de construção de conhecimentos, quando dificulta a exploração oferece pistas importantes, assinala trilhas não percebidas, que
de possibilidades originais. devem ser consideradas e exploradas. Este debate nos ajuda a
A zona de desenvolvimento proximal, como vimos buscar outros balizadores para a prática da avaliação. O conceito
anteriormente, além el e afirmar que a variabilidade é inerente de zona de desenvolvimento proximal é uma ferramenta
ao processo de construção de conhecimentos, demonstra que a relevante porque promove a incorporação da diversidade,
heterogeneidade é essencial para a criatividade e produtividade mostra a importância da heterogeneidade no processo ensino/
elo sistema interativo estabelecido na sala ele aula. O confronto aprendizagem e se conecta à idéia da avaliação como uma prática
entre a heterogeneidade produz estas zonas, indispensáveis para de inclusão, superando a idéia de classificação que vem
a aprendizagem e para o desenvolvimento. A diferença é sinal caracterizando a dinâmica atual.
de potência, não de deficiência; a diversidade é fonte de riqueza
para a aula que estimula a manifestação e o desenvolvimento do Vislumbrando práticas com nova qualidade
novo; erro e acerto são aspectos produtivos do processo ensino/
aprendizagem. Nesta perspectiva não importa classificar as Nosso debate privilegia as conseqüências e demandas, para
respostas em certas ou erradas, mas tomá-las como indícios dos o processo avaliativo, de um conceito que ressalta que a
caminhos percorridos pelas crianças e dos novos percursos que construção social do conhecimento gera descontinuidades
aparecem como necessidade e possibilidade no processo de evolutivas e variedade de representações e de perspectivas de
construção de conhecimentos. aproximação à realidade. Não ternos como objetivo criar
mecanismos para avaliar as zonas de dt'senvolvimento proximal.

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A discussão sobre o conceito de zona de desenvolvimento Este debate nos parece importante por mostrar como as
proximal como uma possibilidade de redefinição do sentido professoras vão recolhendo informações diversas das teorias,
da prática de avaliação, nos oferece a oportunidade de propor fazendo uma mistura que perpassa suas ações. Este episódio
um marco teórico que favoreça a atribuição de novos também demonstra a dificuldade de se assumir a avaliação como
significados para o processo de avaliação. O diálogo com o uma prática que implica classificação e exclusão. Dizer que uma
cotidiano escolar revela indícios que fortalecem nossa criança é a pior deixa mais evidente a dimensão de exclusão do
compreensão de que a redefinição do processo avaliativo está que dizer que ela é mais lenta. Também pode nos indicar que
conectada à sólida formação profissional, que supere a dimensão as professoras estão tentando realizar uma prática de nova
exclusivamente técnica. Simultaneamente confirma que a qualidade que consiga afastar-se do sentido de seleção que, em
reflexão sobre o processo de avaliação desenvolvido nas salas geral, caracteriza a avaliação.
de aula se constitui como um tema fecundo para o Apesar da resistência aos termos usados - melhor e pior -
aprofundamento da formação profissional. , quase todas trouxeram para a discussão trabalhos de seus alunos
Como parte da dinâmica instaurada em nossa pesquisa, de _e alunas com características distintas: uns apresentavam mais
reflexão sobre a ação, propusemos às professoras que trouxessem acertos e outros mais erros. A partir desses trabalhos passamos a
para nossos encontros alguns trabalho� de seu melhor aluno/a e indagar o que as crianças que erravam mais demonstravam sabe1;
alguns de seu/sua pior aluno/a. Com estas expressões tínhamos e o que as que acertavam mais revelavam n:10-saber. Em seguida,
o objetivo de fazer emergir a avaliação corno um cenário de nos dedicamos a investigar que conhecimentos estavam presentes
classificação. O pedido gerou um intenso debate. nas respostas en�1das e que dt·sconhecimentos nos indicavam as
repostas certas.
Eu vou ter muita dificuldade de fazer isso aí, sabia? Isso de
pior e melhor. Acho que cada ser humano é um universo. Esta atividade nos proporcionou uma vivência da avaliação
Tem coisas que você não consegue fazer mas eu tiro de como prática de investigação. Não trabalhávamos com a finalidade
letra, e tem coisas que... Dirigir é uma coisa fantástica... de classificar as respostas das crianças. Nosso interesse era
eu não me atrevo a dirigir. Então eu acho muito difícil identificar a relação dinâmica entre o saber e o n:10-saber implícita
definir: esse cara é o bom e esse cara é o ruim. nos exercícios e obter informações relevantes para o processo
Eu trabalho com uma turma em que cada criança apresenta ensino/aprendizagem, informações que pudessem dinamizar a
limites diferentes e vai ser difícil... ação compartilhada. O conceito de zona de desenvolvimento
prrx-cimal nos levava a refletir sobre a dinâmica individual/coletivo
Mas eu não tenho muito como tirar o melhor e o pior. na produção dos conhecimentos presentes/ausentes nos
Porque eles... Têm aqueles que assimilam mais rápido... trabalhos das crianças; freqüentemente um olhar mais atento sobre
As professoras não aceitaram classificar seus alunos e alunas os erros nos indicava a presença de lógicas e conhecimentos
em 111elhores ou piores, ainda que viessem a estabelecer outras diferentes daqueles apresentados pela escola, conhecimentos
hierarquias como os mais r:ípidos e... mais lentos, os pré-s1J:íbicos construídos pelos múltiplos diálogos e atividades dos quais a
e os allàbéticos. criança participa, portanto marcas das aprendizagens realizadas

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em seu cotidiano e da presença de outros interlocutores além da Tanto o que se classifica como o saber como o 11:10-sabt'T
professora. Os en-os mostravam que as trocas sociais produzem sao frutos de ensinos/aprendizagens diversos que estimulam
zonas de desenvolvimento proximal que precisam ser processos de desenvolvimento interior. A zona de
incorporadas nas atividades escolares como significativas para desenvolvimento proximal se revela urn instrumento de análise
o aprofundamento do processo de aprendizagem/ da prática pedagógica no sentido de organizar o ensino e explicar
desenvolvimento infantil. a aprendizagem. Portanto, o nfo-saber não é percebido como
Os saberes e nfo saberes das crianças iam sendo desvelados. um indicativo da não aprendizagem da criança. O mzo-saber
Num movimento simultâneo, também se apresentavam nossos é entendido como ainda n:zo-saber, pois revela novos
próprios conhecimentos e desconhecimentos sobre o processo conhecimentos que se fazem não só necessários como também
de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Nossos debates possíveis. Introduzíamos em nossa pesquisa a possibilidade de
estimulavam nossas zonas de desenvolvimento proxúnal, experimentar a prática de avaliação como uma investigação do
experimentávamos, na análise coletiva, a possibilidade de processo de construção de conhecimentos do/a aluno/a como
compartilhar questões e com a :�uda da outD? construir respostas. participante de um processo coletivo.
Muitas vezes uma questão nos conduzia a novas questões, porém O desconhecimento representa elementos através dos
mais complexas que a anterior. Sentíamos que o coletivo nos quais é possível ampliar o conhecimento que as crianças já possuem:
fazia avançar. o desconhecimento é o que elas necessitam aprender, indica
Para realizar esta análise e prosseguir em nossa atividade, o aprendizagens potenciais, e não o que definitivamente não sabem.
conceito de zona de desenvolvimento proximal foi bastante O que também é válido para o processo dos professores e
significativo. A idéia de uma ruptura epistemológica ia sendo professoras. Seu n/io-saber deixa de ser vivido como sinônimo
fortalecida, ensaiávamos a possibilidade de avaliar sem ter como de incompetência, pois a imagem de bom profissional se
referência a positividade ou negatividade da resposta do/a aluno/ desvincula da idéia de expert inlàlível, denunciada por Elliott
a. Na prática este conceito ressalta o ensino/aprendizagem como (1991), para associar-se à figura do profissional reflexivo proposta
um processo multidimensional e solidário, propõe uma ruptura por Schon (1992). Desenvolvendo um processo coletivo de
com o antagonismo erro/acerto e, pondo em diálogo a teoria e reflexão na e sobre a ação, encontra lugar também para seus
a prática, imprime mudanças no repertório de possibilidades de dilemas, dúvidas, desconhecimentos e para a construção coletiva
interpretação da atuação infantil. Cria novas bases para a atuação de novos conhecimentos.
docente.
Agora, se poderia ter outro objetivo essa questão da
Utilizando este conceito, podemos inferir que toda resposta avaliação? Poderia, como eu disse antes, o professor estar
dada resulta de uma construção coletiva de conhecimentos, realmente preocupado em estar acompanhando o processo
portanto ela pode revelar simultaneamente os saberes e os n:10- de desenvolvimento da criança, o processo de aprendizado,
saberes dos alunos e alunas. O conceito nos ajuda a sair da visão o que o aluno está aprendendo, o que ele ainda não
adultocêntrica que costuma demarcar as análises das produções aprendeu... Ser·ia esse o objetivo dele estar avaliando
constantemente ... a sua turma.
das crianças e a buscar uma melhor compreensão da lógica infantil.

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A discussão ela zona de desenvolvirnento proximal, eu acho previamente definidos, pois não há preocupação em rotular as
que nos leva a pensar nessa questão da discussão na sala respostas como erro ou acerto. Este conceito permite o
de aula ser mais coletiva, do professor trabalhar mais seus
deslocamento do eixo central da avaliação desde a classificação
alunos em grupo, não individualmente como se faz. Porque
das respostas, tendo como referência um modelo de acerto, para
a própria avaliação é um ato individual, aquela hora do
egoísmo, você não pode ensinar nada, você não pode fazer a indagação do conhecimento existente e em construção.
nada com o outro. E o aluno fica... A ausência de um sólido referencial que permita a
classificação e separação do erro e do acerto, que se desdobra
Você quando dá essa regra, você pode fazer isso e perceber
a reação, que eles ficam incomodados, querendo olhar o
em conhecimentos positivamente valorados e conhecimentos
cio outro, como fazem durante as aulas, querendo colar, desqualificados, retira da avaliação sua perspectiva
querendo ajudar, vem o outro perguntando, então eles unidimensional. Assim, abre-se a possibilidade de que a prática
querem ajudar. pedagógica convide os alunos e alunas, assim como os professores
e professoras, a trazer para a aula seus conhecimentos e
Tem aquele pedaço que fala que o que é proximal hoje desconhecimentos, em sua multiplicidade e complexidade.
pode ser real amanhã. Então acho que isso não é muito
pensado na escola. A interrogação provoca a interlocução e proporciona
meios para que sejam desenvolvidas soluções criativas. Põe em
Para a escola o que ele pode fazer sozinho ele aprendeu. movimento os conhecimentos já consolidados e exercita novos
O que ele faz com o outro, ele está colando, elenão aprendeu.
conhecimentos, pois a indagação parte do pressuposto de que
Como nos indicam as professoras, a perspectiva apresentada há mais informações além daquelas que o sujeito apreende
pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal coloca a imediatamente. A indagação revela o que a criança ainda nfo
prioridade do processo avaliativo na busca do que a criança pode sabe, assinalando a zona de desenvolvimento proximal, expõe
vir a saber, anunciando uma possibilidade concreta de indícios dos obstáculos encontrados no processo de
reconstrução do paradigma teórico da avaliação. Um aspecto aprendizagem e as estratégias usadas para conseguir superá­
central neste conceito é a ênfase no movimento solidário e los. O movimento de indagação do processo infantil também
coletivo. Os processos de construção de conhecimento e de estimula as zonas de desenvolvimento proximal do/a professor/
avaliação são entendidos como necessariamente dialógicos e a; há reciprocidade na relação entre alunos/as e professores/
compartilhados. No trabalho coletivo se tornam explícitos os as, de modo que um colabora com o processo de construção
conhecimentos que já estão sendo estruturados por cada um de conhecimentos do outro.
dos sujeitos dentro das atividades partilhadas. Estas mudanças permitem a criação, na sala de aula, de um
Efetivamente rompe com uma visão classificatória da avaliação ambiente interativo comprometido com a ampliação (e não com
- que privilegia o consolidado, a comparação da resposta dada a a negação) do saber já construído por cada um e por todo o
um padrão certo ou admissível - e assume uma perspectiva da grupo. A zona de desenvolvimento proximal indica os pontos
avaliação como parte do processo de construção de conhecimentos. em que a aprendizagem necessita de apoio, não a impossibilidade
Fundamenta-se no prospectivo, no vir a ser, sem modelos fechados do sujeito aprender.

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Estabelecendo esta dinâmica, o/ a professor/ a também no âmbito da avaliação escolar da aprendizagem dos alunos e
encontra elementos que o/a levam a interrogar sua prática e alunas. Entretanto, a reconstrução da prática, como já discutimos
seus conhecimentos. Algumas vezes é possível que a análise das anteriormente, requer um movimento que implica a redefinição
respostas dos alunos e alunas exponha realidades que ele/a não da teoria, transcendendo sua aplicação.
consiga explicar adequadamente, o que pode converter-se num Este processo, sem dúvidas, ultrapassa os muros escolares.
elemento de ampliação/reconstrução do conhecimento que já É um processo entretecido por um conceito radical de
possui. A avaliação se converte também num processo de democracia, que impregna a vida social como "uma espécie de
aprendizagem docente. prática de construção e de elaboração do sujeito social na
A escola se estrutura como um espaço de permanente cotidianidade (...), que coloca o poder das diferenças no centro
construção/desconstrução/ reconstrução individual e coletiva de de uma experiência comum a todos.(...) Deixa de ser fenômeno
conhecimentos por alunos/as e professores/as. A inten-ogação do estritamente político para ser senso comum" (SoDKÉ, 1995: 1-2).
processo ensino/aprendizagem oferece ao/à professor/a info1111ações O movimento em que vão sendo desenhadas novas
necessárias para o planejamento do ensino em consonância ao cartografias sociais assinala a possibilidade de que o cenário
desenvolvimento de seus alunos e alunas, ao contexto social e cultural escolar adquira novas características. Esta mudança é lenta, ainda
onde a prática pedagógica ocorre e a seus próprios conhecimentos. que nem sempre gradual, e muitas vezes imperceptível, mesmo
Sendo a zon,1 de desenvolvimento proximal a distância para as pessoas que participam dela. Há um movimento difuso e
entre os conhecimentos consolidados - o que se pode fazer pouco articulado que anuncia tensões, reconstruções, rupturas e
sozinho-, e os emergentes- o que se pode fazer compartilhando continuidade no interior das práticas pedagógicas. Há, também,
a tarefa com um companheiro mais capaz -, permite que a a compreensão por parte das professoras de que é preciso
avaliação busque as duas formas de conhecimento como transformar suas tentativas isoladas de reconstrução da prática
indicadores das sínteses entre o conhecimento científico, ou em ações orgânicas e coletivas.
escolar, ao qual se teve aceso e o conhecimento que já se possuía, Nos encontramos com professoras cheias de inquietações
mesmo que de senso comum. A síntese é um importante sinal e comprometidas com a construção de uma escola democrática
de como estão sendo relacionados os conhecimentos já e de uma sociedade democrática. Em nossos encontros, durante
consolidados com os novos, pondo ênfase não no conhecimento a pesquisa, pudemos percorrer uma pequena parte deste processo
individual (produto) isoladamente, mas no processo coletivo que elas realizam diariamente em suas salas de aula, processo
de conhecer, que abarca o ensino e a aprendizagem. que formula uma série de questões à teoria de que dispõem, à
prática que desenvolvem e ao modo como organizam o diálogo
A ação das professoras no processo prática/teoria/prática.
de redefinição teórica e reconstrução prática A interpretação de suas práticas e de suas reflexões sobre a
prática nos indica que o processo de transformação já começou e
Nos parece evidente, desde um ponto de vista teórico,
que elas atuam de modo coerente com a exigência de realizar seu
a possibilidade de romper com os conceitos e práticas dominantes
trabalho com as ferramentas de que dispõem no contexto dado,

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enquanto vão introduzindo novas questões que contribuem com E agora a gente está em plantas e a gente vai pesquisar mesmo
em casa as plantas que tem, vai pedir pra alguém ajudar a
a construção de novos instrumentos e com o desenho de um
registrar· isso aí e trazer pra escola. Então, esse dever de casa
novo cenário. Uma situação pode ilustrar concretamente esta busca, aí, né, eu costumo fazer sim. E tenho um retorno rnuito
por parte das professoras participantes da pesquisa, para dar novos legal, sabe. Envolvo a avó. Agora a gente já pensou, na escola
significados às práticas escolares comuns: a reflexão sobre a função onde eu trabalho, estudar as ervas medicinais que tem no
do dever de c:zsa e as alternativas propostas. entorno. Então já vou solicitar uma avó, alguém da família,
que conheça aquela região, para ir com a gente, para ir
Este exemplo é importante por mostrar como as mostrando, qual que pega. A gente vai registrando isso.
professoras incorporam aspectos de seu contexto, que quase
nunca são considerados, para transformá-los em eventos Eu sempre mando o dever que vai para o filho, para a mãe
pedagógicos. Através destes episódios cotidianos, elas deixam ou para o pai, e mais alguém da família também. A família
clara a interação entre as teorias/práticas já consolidadas, que faz o dever de casa.
atuam no sentido do distanciamento entre a teoria e a prática, Para ela, o dever de casa servia corno um instrumento ele
e as teorias/práticas emergentes, que buscam reconstruir o comunicação entre a escola e a família. Havia uma interação entre
diálogo negado. Nos parece igualmente importante assinalar os saberes presentes em ambos os lugares, os saberes não eram
que este movimento indica a relevância do trabalho coletivo organizados em uma escala de valores, o senso comum. dialogava
para alunos/as e professores/as, revela os limites da atual prática com os conhecimentos científicos, ou escolares. O dever de casa
de avaliação e demanda novos conhecimentos teóricos e era um meio para aceder aos fimdos de co11hec1111e11to que
práticos que contribuam para que o diálogo iniciado seja possuem as famílias das crianças, reconhecendo o valor dos
aprofundado e possa transformar-se em uma ruptura com os conhecimentos que não estão etiquetados como científicos,
antigos esquemas. escolares ou acadêmicos.
O dever de casa surgiu em nossa discussão como exemplo Segundo Moll e Greenberg, os fundos de conhecimento
de atividade sem sentido para os alunos e questionadas pelas são um "manual de funcionamento da informação e as
próprias professoras. Uma delas trouxe exemplos mostrando estratégias essenciais que necessitam os lares para manter seu
outras possibilidades para o dever de c:zsa, colocando este tema bem-estar" (MOLL, 1993: 379). As famílias estabelecem fimdos
no centro do debate. de conhecimentos diversos, de acordo com sua própria história.
São conhecimentos construídos na esfera das relações sociais,
É, olha só, sobre dever de casa, né. Essa coisa formal,
ensinados/aprendidos na atividade produtiva mediante os
também ... Eu estava vendo essa revista aqui ... Alice de la
Roque, não é isso? E ela faz um trabalho chamado "dever intercâmbios que produzem contextos onde a necessidade de
de casa de pesquisa"... e se agente está trabalhando dia das aplicação e aquisição dos conhecimentos facilita estruturas de
mães, aí vai pra casa, tem que trazer o nome da mamãe aprendizagem com ajuda. Participando destes intercâmbios
escrito, o nome completo, ou o lugar onde nasceu, o nome sociais, as crianças se encontram com um entorno que lhes
da rua ... Então esse tipo de atividade assim, eu faço pra proporciona urna grande quantidade de situações que geram
caramba. Estimulo mesmo, tenho essa prática. zonas de dese11volvi111e11to proxúnal.

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Envolvendo a família nas tarefas de casa, com o objetivo de a cozinha e para a sala de aula. É um encontro diário ao qual
que o contexto extra-escolar dos alunos e alunas fornecesse à ninguém costuma faltar.
escola novas informações, a professora não estava apenas Tudo isso no meio de muita gente (passa um ônibus a cada
solicitando a colaboração dos pais e mães, mais do que isso estava hora, sendo o único meio que a maioria da população local tem
envolvendo-os no processo aprendizagem/ desenvolvimento de para ir ao centro da cidade), sacos de verdura, bolsas de compras,
seus filhos e filhas; estava aproveitando para a atividade escolar muito ruído e muito calor. O que se anunciava como uma viagem
os recursos sociais, importante fonte de conhecimentos insuportável por uma estrada cheia de b11racos num velho e
freqüentemente negligenciados na escola. A professora colocava desconfortável ônibus se transforma em espaço-tempo de
em diálogo várias das culturas que circulam no contexto escolar encontros e de vida. O ônibus certamente constitui um
(PÉREZ GóMEZ, 1993). importante local de formação continuada das professoras.
O uso que ela fez de o que aqui estamos denominando Mesmo ocorrendo fora do âmbito escolar, constitui uma
fimdos de conhecimento é um indício de que as idéias que parte invúível da vida da escola. Em algum momento as
articulam o conceito de dupla ruptw�? epÍstemológica já se professoras se deram conta deste caráter pedagógico do ônibus
anunciam levemente no cotidiano escolar. A utilização de e encontraram urna maneira para potencializá-lo.
atividades escolares com novas estruturas é um movimento
significativo no sentido de operar as transformações substanciais Olha o dever de casa que as meninas estavam dando na
necessárias a uma real democratização do contexto escolar. escola. As crianças não se conhecem, usam o ônibus, né?
E a gente fez um correio. É o segundo ano que a gente faz,
Outra professora deu seqüência ao seu relato, narrando um o segundo ou o terceiro, e a gente expandiu. Esse ano a
episódio ocorrido em sua escola, que envolve o significado do gente expandiu. Vamos fazer um encontrão com as escolas,
trabalho pedagógico em um contexto de interação com a realidade para... Nem todas as escolas quiseram.
extra-escolar. Esta professora trabalha em uma zona rural e tem
A primeira idéia... primeiro a gente começou na escola, de
que se deslocar quase duas horas em ônibus para chegar à escola.
sala para sala, fizemos caixa postal, CEP, e depois de escola
Entre o centro da cidade e sua escola, a última do percurso feito pra escola.
por este ônibus, estão outras escolas, as professoras que trabalham
nelas têm que tomar o mesmo ônibus. Cruzam diversos bairros A primeira carta a criança dizia como ela era, de que ela
e, por tratar-se de uma área rural, o ônibus é um importante gostava e como é a escola. E depois... aí mandavam para a
elemento de ligação entre os lugares e as pessoas. outra escola. Então o ônibus era o carteiro. Aí ele chegava
lá, chegava uma criança, no princípio era uma só, pegava
É também um espaço de interação para as professoras. as cartas e distribuía.
Quando se encontram ali conversam sobre suas casas, namorados,
maridos e filhos; compartilham novidades e problemas; falam Aí depois, começou, mandava um pro outro e pro outro, e as
de suas escolas, dos alunos e alunas, das atividddes que realizam, crianças começaram a querer escrever na sala. As professoras
já não podiam mais trabalhar, aí elas resolveram passar
de suas dificuldades, de suas descobertas; trocam exemplos de
como dever pra casa.
exercícios e planejam atividades; há intercâmbio de receitas para

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O que sabe quem erra? A ambigliiclade do processo de avaliaç5o

No dia seguinte, quando o motorista chegava, as crianças agiram no sentido de interrompê-la, fizeram o possível para
estavam todas lá. A gente tinha feito uma caixinha, uma integrá-la às demais exigências curriculares. Não conseguindo
maletinha, a diretora até queria fazer uns saquinhos, mas conectar o correio à totalidade das atividades escolares, repartibm
não, encapamos uma caixa, aí vinha e mandava. Mas a caixa
as atividades por lugares distintos: a sala de aula e a casa. Desta
vinha lotada. Um dia elas [as professoras] não agüentaram
mais, elas disseram: - Chega, chega, vai fazer em casa. maneira devolviam o correio, e com ele o ônibus, o motorista
e tudo mais, a seu lugar de origem: o espaço extra-escolar,
Cada dia eles queriam mais e mais e mais... o contexto social. Por outro lado, ao denominar a atividade como
Este relato mostra a complexidade da dinâmica da interação devt'r de casa a remetiam a urna prática exclusivamente escolar,
entre as práticas escolares e o contexto social. As professoras o que permitia manter conexões com o que acontecia na aula.
percebiam o ônibus como um "personagem" que estabelece vínculo Na tentativa de deixar mais clara esta dinâmica de
entre as pessoas das diversas comunidades que atravessa. Elas mesmas proximidade e distanciamento que a transformação da atividade
viviam esta experiência, o ônibus era parte de sua relação. do correio em dever de casa implicou, indagamos como as
Partindo de uma atividade desenvolvida na escola, o correio professoras se apropriavam na aula dos resultados deste dever
entre as salas de aula, propuseram usar o ônibus para ampliar o de casa. A professora que fez o relato nos respondeu:
correio, de modo que as crianças pudessem se comunicar com Não, eles [os alunos] explicavam para a professora, ela
as outras escolas. É interessante como vão ampliando as redes explorava, avaliava. Não a escrita, mas o potencial da
de relação, porque esta decisão incorporou um ator a mais, o criança, o conteúdo.
motorista do ônibus. Ele foi encarregado de recolher e distribuir
as cartas. Este senhor, aparentemente à margem do processo Vemos que a teoria sobre avaliação de que dispunham as
professoras não era suficiente para responder às informações
ensino/aprendizagem, passou a representar uma pessoa
dadas pelas crianças através de suas carias. Como avaliar as
fundamental para a continuidade da atividade pedagógica. cartas dentro dos padrões comuns? A solução, mais uma
O processo parecia caminhar bem. Talvez demasiadamente vez, foi distinguir entre o que não pode ser avaliado - a escrita
bem. Ao incorporar à prática pedagógica elementos alheios ao - e o que pode ser avaliado - o conteúdo. As professoras
contexto escolar as professoras criaram condições para que o não manejavam uma teoria sobre a avaliação ampla o bastante
para abarcar as diferenças que iam surgindo.
correio ultrapassasse as estreitas dimensões que costumam ter as
atividades ped1gôgicas. Começaram a perceber que o correio As professoras se encontraram diante do problema de
estava tomando todo o espaço da aula e tentaram uma solução: incorporar esta experiência à vida escolar cotidiana. O repertório
transfon11ara111-no e111 dever de casa. de teorias que possuíam não lhes ajudava a identificar as conexões
existentes entre a atividade que realizavam, o correio, e o conteúdo
Deste modo tentavam retornar ao que compreendiam como
escolar. Apesar de tudo, sua avaliação do processo foi positiva:
seu trabalho - as crianças começaram a querer escrever na sala.
As professoras já não podiam mais trabalhar-, que concluímos Pois é ... uma experiência incrível! E com isso, eles antes
ser a apresentação do conteúdo escolar. Reconheciam a não gostavam de escrever, foram desenvolvendo a escrita e
importância da atividade que estavam desenvolvendo e não eles escrevem muito bem.

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A ambigliidade cio processo ele avaliação
O que sabe quem erra?

A solução encontrada não permitiu uma real incorporação No início da discussão, falando da escola, a professora fez a
do correio à rotina escolar, porém, de alguma maneira, as seguinte afirmação:
professoras reservaram um cantinho da aula para o correio, Porque a criança já passa aquele tempo na escola, já está
especialmente porque o correio deu origem a um novo projeto: ali fazendo dever, aprendendo. Por que que quando vai pra
o encontro dos alunos e alunas (e também das professoras) de casa não pode ter o tempo dele?
algumas das escolas que estão umdas pelo ônibus.
Tem muito professor, está bem que é necessário às vezes
A elaboração da atividade e a solução encontrada revelam dar uma revisão, mas por que sempre tem que dar dever?
os limites da teoria presente cm sua prática, porém também Abarrota a criança de dever, até coisas difíceis, a criança
desvelam a existência de alguma teoria dissonante em seu fica: não sei, vai pedir a opinião de outro. E às vezes nem
conhecimento, que contribui para o questionamento da lógica o pai sabe. Então, isso vai de professora para professora.
dominante na escola. Subjacente ao dilema estão duas estruturas Mas são coisas que deveriam ser revistas.
teóricas diferentes, que se excluem, mas que as professoras Ela se colocou em urna perspectiva que vê as tarefas
tentara111 usar con10 c0111plementares. realizadas em casa como algo problemático. A outra professora
O trabalho que realizavam indicava que as teorias de que respondeu dando exemplos de atividades propostas, para que
dispunham não eram suficientes para explicar muitos dos fatos seus alunos e alunas fizessem em casa, que lhe pareciam
que se sucediam na sala de aula, tampouco serviam para orientar positivas. Imediatamente a professora que havia se colocado
satisfatoriamente a ação, especialmente no· que diz respeito à contra o dever de casa saiu do discurso genérico e recuperou
avaliação de atividades que se distanciam das práticas mais em sua experiência profissional um exemplo em que as tarefas
tradicionais que permitem o estabelecimento de um padrão de casa são apresentadas como um fato satisfatório. Mesmo
fixo de acerto. Sem perceber a profundidade das mudanças existindo análises que sirvam para as práticas escolares
necessárias para uma nova configuração da prática escolar, globalmente consideradas, o olhar para o espaço peculiar de
procuravam novas possibilidades de ação que pudessem suprir cada sala focalizava eventos que se diferenciam do que poderia
as limitações do conhecimento que rnanejavam. 9 A reflexão ser considerado como a prática típica.
sobre o dever de casa serviu também como exemplo da relação Podemos concluir que o diálogo levou a professora a
dialógica como um processo de reconstrução dos reconsiderar sua análise e encontrar em sua própria vivência
conhecimentos, das percepções, das análises, enfim, da forma situações que matizavam sua interpretação inicial dos fatos. O diálogo
de abordar a realidade. No diálogo, muitas vezes a voz do outro além de introduzir novos conhecimentos, aportou informações
gera o confronto entre várias perspectivas e proporciona urna que pe1111itiram urna releitura do conhecimento que ela possuía.
nova interpretação dos fatos e/ ou faz surgir situações cuja A análise coletiva da realidade escolar, neste caso, tornou possível
importância não havia sido percebida. que uma das professoras ampliasse seus conhecimentos sobre sua
própria prática, chegando a urna interpretação diferente da que
havia feito individualmente. Esta situação dá visibilidade à zona de
'' Quando uma das professoras fala de seu trabalho, faz referência a um artigo de
desenvolvimento proxúnal no âmbito da formação docente.
uma revista que indicava outras propostas para as tarefas escolares.

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O que sabe quem erra? A ambigüidacle cio processo ele avaliação

Avaliando os resultados e investigando os processos alunas, professores e professoras, assim como não contribuiu
com a produção de resultados escolares mais favoráveis às crianças,
Não só nos episódios a que terminamos de nos referir, mas
sobretudo aquelas pertencentes às classes populares. A perspectiva
durante toda a pesquisa, freqüentemente as professoras
técnica distanciou ao máximo a dimensão ética do processo.
indicavam situações ocorridas em suas aulas,como conseqüência
As questões apresentadas pelas professoras corroboram esta
da incorporação de novas propostas à dinâmica pedagógica, que
interpretação.
não podiam ser avaliadas: ou elas reconheciam não ter recursos
suficientes para fazê-lo, ou avaliavam com o que dispunham, As conseqüências sociais do processo de avaliação posto em
deixando em segundo plano diversos elementos. prática nas escolas não foi uma questão significativa no
desenvolvimento teórico do campo da avaliação dentro do
A distinção apresentada pela professora entre o que podia
paradigma positivista. A exclusão,justificada pelo resultado escolar,
e o que não podia ser avaliado nas cartas das crianças evidencia
não constitui um problema dentro deste paradigma epistemológico.
uma questão fi-eqüentemente encoberta nas práticas cotidianas.
O fracasso escolar representa um tema amplamente desenvolvido
Em diversos momentos em que as atividades realizadas pelas
corno fator de aceitação da exclusão, não como processo de
crianças não podem ser avaliadas desde uma perspectiva
interrogação de que a exclusão seja inexorável.
classificatória, uma solução encontrada é não pontuar aquela tarefa
e considerar que, como não está sendo pontuada, ela não está Esta lacuna no debate faz com que a avaliação permaneça
sendo avaliada. Atitude coerente com a compreensão da avaliação um objeto de estudo relevante. A avaliação dos alunos e alunas
como medida de resultados, limitando o objeto de análise às é um tema fundamental em nossa pesquisa por ser um processo
condutas que podem ser observadas e quantificadas. que materializa a construção do fracasso escolar das crianças de
classes populares. Esta constatação nos instiga a analisar seu
Na falta de uma formulação teórico/prática do processo de
potencial no sentido de ser um instrumento de atuação no
avaliação capaz de abarcar a multiplicidade de acões e
processo de construção do sucesso escolar de todas as crianças.
conhecimentos presentes nas atividades escolares se est;belece
A prática da avaliação está fortemente marcada pelas práticas de
uma dinâmica de trabalho em que nem todos os aspectos são
exclusão, o que nos desafia a interrogar seu papel na elaboração
incorporados à avaliação. Isto cria um vazio que instiga as
de uma pedagogia da inclusão.
professoras a encontrar urna nova, e mais potente, perspectiva
de avaliação. Os dados sobre a escolarização,bem como os dados sociais,
indicam a insuficiência do paradigma positivista para
Esta inquietação das professoras se entretece a nossas
proporcionar uma prática científica articulada às demandas da
próprias inquietações em relação a este tema. Recuperando a
sociedade. Não obstante, h á um desenvolvimento do
discussão feita neste trabalho, encontramos a indicação de que o
conhecimento que é valioso e que deve ser recuperado sob
paradigma positivista tornou possível o desenvolvimento de várias
outra perspectiva e posto em ação como parte dos dilemas
teorias e o aperfeiçoamento de diversas metodologias de
socialmente construídos. Se, como afirmava Bachelard (197 4),
avaliação escolar dos alunos e alunas. Não obstante, este avanço
para alcançar o desenvolvimento do conhecimento científico
teórico e técnico não foi suficiente para articular o processo de
havia que se opor a ciência ao senso comum, a acumulação de
avaliação ao processo de,construção de conhecimentos,de alunos,

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O que sabe quem erra? A arnbigLiidade do processo de avaliação

crises no interior deste paradigma (Kur-IN, 1975), como aos problemas da c1encia como parte do processo de atuação
conseqüência da dinâmica social, nos indica a necessidade de sobre os dilemas da vida.
superar um paradigma que, segundo Santos:
A reconstrução dos resultados escolares, ou melhor, o
desconfia das aparências e das fachadas e procura a verd:ide nas compromisso com a construção do sucesso escolar de todas as
costas dos objectos, assim perdendo de vista a expressividade do crianças (um problema da vida) é um processo complexo que
face a face das pessoas e das coisas onde, no amor e no ódio, se envolve inúmeras questões (inclusive o conhecimento científico),
conquista a competência comunicativa; um paradigma que se como indicamos durante todo este trabalho. Neste capítulo, nos
assenta na distinção entre o relevante e o irrelevante e se arroga o centramos em uma destas questões, a avaliação, buscando os
direito de negligenciar (13ACHELARD) o que é irrelevante e, portanto,
fios que se entrecruzam neste território. A conclusão óbvia é
de não reconhecer nada do que não quer ou não pode conhecer;
um paradigma que se orienta pelos princípios da racionalidade formal
que não se pode mudar as práticas escolares sem que os
ou instrumental, irresponsabilizando-se da eventual irracionalidade professores e professoras participem desta mudança.
substantiva ou final das orientações ou das aplicações técnicas do Então, como se faz para que os professores e professoras
conhecimento que produz; finalmente um paradigma que produz
sejam sujeitos que participam ativamente em consonância às
um discurso que se pretende rigoroso, anti-literário, sem imagens
nem metáforas, analogias ou outras figuras de retórica mas que, com
transformações propostas?
isso corre o risco de se tornar, mesmo quando falha na pretensão, Se são múltiplos os modos de observar, interpretar e atuar
um discurso desencantado, triste e sem imaginação, incomensurável na realidade é possível construir um consenso que leve a todos
com os discursos normais que circulam na sociedade (1993: 37-38). e todas a atuar numa direção comum? Como responder, na vida
Portanto, o avanço do conhecimento exige o escolar cotidiana, aos conflitos que podem resultar desta
estabelecimento de novos vínculos entre estes pares, diversidade de pontos de vista?
circunstancialmente distanciados, vínculos que nos permitam
Insiste-se no conhecimento do "outro", não somente para celebrar
olhar além de suas fronteiras e incorporar a diferença, a hibridação
sua presença, mas também porque deve questionar-se criticamente as
e as mestiçagens. Esta possibilidade de construir novos ideologias que contém, os meios de representação que emprega, e as
horizontes, nos orientou no sentido de incorporar, como fio práticas sociais subjacentes que confirma. O importante é unir
condutor da análise que realizamos, a proposta de Santos (1993; teoricamente o conhecimento e o poder com a finalidade de dar aos
1995) de realizar uma ruptura com a ruptura epistemológica estudantes a oportunidade de entender mais criticamente quem são
bachelardiana, com a finalidade de permitir uma nova relação como parte de uma formação social mais ampla, e ajudá-los a que
tornem suas, de forma crítica, aquelas fo1111as de conhecimento que
entre ciência e senso comum.
tradicionahnente lhes foram negadas (GrRoux E McLAREN, 1990: 269s).
Esta segund1 ruptuD1 transcende a primeira (a bachelardiana)
porque propõe a transformação tanto da ciência quanto do senso Estas propostas desafiam aos que trabalham com formação
comum; a ciência constituída é a base para a transformação do docente e que estão comprometidos com a construção de uma
senso comum, cujo caráter pDítÍco e prudente transforma a pedagogi1 d, ÍnclusSo, verdadeiramente democrática, capaz de
ciência. A segunda nzptui:1 indica a possibilidade de se responder desenvolver ao máximo as possibilidades da escola como uma
zona Üonteiziça de cruzamento, como um espaço dialógico.

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O que sabe quem erra? A ambigliiclacle cio processo ele avaliação

Esta pesquisa forneceu fortes indícios de que o resultado escolar, Simultaneamente, apresenta aos professores e professoras
o fracasso real ou o sucesso desejado; o processo de formação uma ferramenta conceitual que atua no sentido de transformar a
docente, em seus conteúdos e métodos; e o processo teórico/ avaliação de uma prática de classificação em um processo de
prático de avaliação, estão vinculados entre si, articulados ao investigação. Esta perspectiva de avaliação oferece novas
cenário histórico e cultural de produção e socialização do possibilidades à pesquisa na ação, pois insere na prática
conhecimento e demarcados por urna determinada concepção/ pedagógica uma ação concreta que fomenta a ação coletiva e faz
ação de construção das formas de viver. do/a professor/ a um/ a pesquisador/ a de seu contexto, do
processo de aprendizagem/desenvolvimento de seus alunos e
No âmbito da escola, o processo de reconstrução só pode
alunas, de sua atuação profissional e de seu próprio processo de
desenvolver-se plenamente se os professores e professoras são
construção de conhecimentos.
convidados a participar desta redefinição das relações. O conceito
de profissÍonal reflexÍvo (ScHóN, 1992) nos parece aportar urna A análise da prática pedagógica assinala que classificar as
formulação relevante para articular a nova dinâmica que se mostra respostas dos/as alunos/as em enns ou aceitos não basta. Em vários
necessária, que não pode adquirir consistência sem que os momentos da pesquisa nos encontrávamos com a necessidade da
professores e professoras se assumam corno pesquisadores de sua professora de adaptar as atividades aos procedimentos de avaliação.
prática. A reflexão tem que gerar lentes mais potentes para a leitura A avaliação impregnada da idéia de investigação constitui uma
da realidade, ferramentas mais adequadas às demandas da prática. alternativa: o que significa a resposta do/a aluno/a? Que infomuções
pode dar ao/à professor/a sobre seu processo de aprendizagem/
Neste teni.tório que demarcamos para realizar nosso trabalho,
desenvolvimento? Quais conhecimentos estão presentes em sua
o conceito de zona de desenvolvÍmento proxÍmal nos ajuda a
resposta? Há diferenças entre sua produção individual e coletiva?
enfrentar nossos objetivos. Por estimular o surgimento dos saberes,
Que desconhecimentos demonstra? Que conhecimentos estão
novos e velhos, que expressam as várias vozes presentes no
sendo esboçados? Que tipo de ação deve ter o/a professor/a para
contexto esrr-lar facilita o reencontro entre pólos considerados
auxiliar a aprendizagem? Quais pontos do processo não estão claros
opostos na perspectiva apresentada pela ruptura epistemológica
para o/a professor/a? De que novos conhecinientos necessita?
bachelardiana: sujeito/ objeto, teoria/prática, quantidade/
qualidade, ciência/ética. É um conceito que articula a segunda A avaliação como processo de classificação está presa à
ruptura, essência do conceito de dupla ruptura epistemológica. homogeneidade, como prática de investigação abre espaço
para a heterogeneidade, para o múltiplo, para o desconhecido.
Portanto, o conceito de zona de desenvolvÍmento proximal
As respostas predeterminadas cedem lugar para as respostas em
constitui um instrumento significativo para explorar a diversidade
constante construção e reconstrução. As respostas deixam de
de conhecimento e a pluralidade de processos para sua
constituir o ponto final e passam a configurar o início de novos
construção, além de estabelecer mecanismos para a construção
questionamentos. As diferenças entre os/as alunos/as deixam
de conhecimentos novos e mais amplos que os anteriores.
de ser interpretadas corno deficiências que precisam ser colTigidas
Este conceito implica um professorado que reflete sobre sua
para serem assumidas como particularidades que devem ser
ação articulando um diálogo permanente em que se entretecem
exploradas e integradas à dinâmica coletiva.
a teoria e a prática.

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A arnbigüidade do processo de avaliação
O que sabe quem erra?

diálogo os sujeitos implicados na prática pedagógica, os territórios


A avaliação corno prática de classificação atua no sentido de
selecionar os que sabem e os que 11/io-sabe111, tratando saber e intra e extra-escolar, o saber e o 11/io-&1be1; encontrando no ainda
11/io-saber como pólos com valores opostos. Como prática de n/io-sabé'T os indícios da permanência do processo.
investigação, a avaliação encontra no saber e no 11.10-saber A prática indica as questões centrais, os conhecimentos
momentos que interagem na construção de conhecimentos. Na necessários são buscados, as pessoas se apropriam dos
perspectiva da investigação, prioriza o aind1 11/io-sabe1; que conhecimentos enquanto agem, num movimento que formula
envolve os saberes já consolidados e os n/io saberes, anunciando novas interrogações. É criado um movimento em espiral de
conhecimentos emergentes, em processo de construção ou novos diálogo entre teoria e prática em que ambas se constroem e
conhecimentos que se revelam necessários e/ou possíveis. reconstroen1 n1utua111ente.
A avaliação como prática de investigação não se limita à A teoria, não é o guia da ação; é paite da ação. O desenvolvimento
distinção entre saber e 11/io-saber, que redüz a dimensão teórico se entrelaça à prática e toma como objeto de reflexão as
processual da construção de conhecimentos, investe na busca conseqüências sociais de seus resultados, os modos de
do ainda 11/io-saber, que trabalha com a ampliação do desenvolvê-la, as demandas sociais prioritárias e as interpretações
conhecimento, movimento permanente em que há sempre possíveis. A teoria é aceita como prática social.
conhecimentos e desconhecimentos. O ainda nfo-saber abre Seu potencial se encontra na possibilidade de colaborar para
espaço para a multiplicidade sem colocar rótulos no sujeito que que todos e todas desenvolvam melhor compreensão da vida e
conhece e estimula a reflexão sobre os diversos percursos novas habilidades e possibilidades de ação, com a finalidade de
possíveis, valorizando a heterogeneidade e a produção do novo. se alcançar melhores condições de vida. À medida que as pessoas
A possibilidade de síntese implícita na avaliação faz com dialogam com o conhecimento científico, que serve como
que ela represente urna ocasião muito significativa para o processo instrumento de ação democrática sobre o mundo, ele renasce
de reconstrução do conhecimento profissional dos professores como senso co111u111 renovado, redefinindo o conhecimento
e professoras. Síntese entendida como possibilidade de cotidiano e a prática científica.
confrontação de pontos de vista, conhecimentos, perspectivas Este conjunto de fatores conduz o movimento no sentido
teóricas e processos de construção da prática, gerando conflitos, de que a prática social apresente as necessidades de
polêmicas e dilemas. Síntese vivida como espaço dialógico, desenvolvimento teórico e a produção científica responda com
polifónico e polimorfo. Síntese que busca compreender os novos conhecimentos, que são validados dentro de um processo
processos de sua constituição e encontrar as pistas dos eventos reflexivo sobre seus objetivos e suas conseqüências sociais.
que não chegaram a ser nela integrados. Síntese que reconhece
A dupla ruptura epistemológica não tem como finalidade
sua incompletude e provisoriedade, e não se esconde em falsos
negar o senso comum, mas realimentá-lo e reconstruí-lo
consensos. Síntese que assinala a complexidade do processo
permanentemente. Não se pretende negar os conhecimentos
ensino/aprendizagem e convida a não temer o desconhecido, a
que possuem os professores e professoras; o que se propõe é
construir e reconstruir os conheciinentos e a arnscar-se na
que eles e elas possam confrontar os conhecimentos que possuem
exploração de novas possibilidades. Síntese que coloca em

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O que sabe quem erra?

a seu contexto prático, a suas demandas, verificando se seu saber Conclusão


é suficiente para uma atuação satisfatória e sempre que seja
necessário buscar novos conhecimentos e apresentar suas próprias
demandas para o desenvolvimento teórico. Portanto, avaliar é
interrogar e interrogar-se.
Novos caminhos a serem percorridos
A avaliação da aprendizagem dos alunos e alunas formulada
nos marcos teórico-epistemológicos determinados pelo conceito
de zona de desenvolvÍmento proxÍmal marca a possibilidade de
uma prática pedagógica comprometida com a inclusão, com a MÍnha espeD111ça é que as geD1ções fúturas
pluralidade, com o respeito às diferenças, com a construção aprenda111 a convÍvt'r co111 o espanto e c0111 a
coletiva. Atende às necessidades postas pela escola como ambÍgiúdade (P1ucoc1NE}.
território híbrido, marcado pelo cruzamento de culturas, pela
mestiçagem, pela multiplicidade de vozes, pela diferença. Põe o
diálogo no centro do processo ensino/aprendizagem. Muda a Refletir sobre a avaliação tem nos levado constantemente a
interpretação unívoca, de natureza excludente, para urna abrir novas portas. Encontrando algumas possíveis respostas
orientação dialógica, que implica inclusão e multiplicidade. também nos deparamos com novas perguntas ou com novos
Assume a ambivalência que o processo de avaliação carrega modos de organizar antigas questões, ou ainda com outras
enquanto atividade impregnada pelos valores sociais e incorpora possibilidades de percepção dos trajetos realizados e dos nós
essa ambivalência como um sinal de que as conclusões devem atados e desatados no percurso. Estabelece-se uma dinâmica em
ser relativizadas e continuamente interrogadas. que os caminhos ainda não trilhados, mas sinalizados, se mesclam
aos já percorridos, criando novas possibilidades de compreensão,
A avaliação como prática de interrogação se revela um
de formulação e de atuação.
instrumento importante para a prática dos professores e
professoras que, comprometidos com essa escola democrática, A exigência de redefinir o sentido da avaliação educacional
se encontram freqüentemente frente a dilemas para os quais nem vai adquirindo maior urgência conforme vamos aprofundando
sempre têm a resposta certa. Professores e professoras que nossa percepção de que vivemos num mundo plural, composto
necessitam se capacitar, cada dia mais, como pesquisadores de . por territórios híbridos, por sujeitos mestiços, por culturas
sua prática para que consigam encontrar respostas possíveú e múltiplas, por cartografias mutantes. A ruptura com urna
respostas adequad1s. dinâmica de avaliação baseada na exclusão é importante,
sobretudo quando acreditamos que o diálogo cria a
possibilidade de um movimento em que cada um/a dos
participantes encontra lugar para expor seus argumentos,
afirmando um modo, dentre os vários possíveis, de entender
o mundo. A possibilidade do diálogo é acompanhada da crítica,

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

da reflexão, do confronto e do questionamento, de modo que A epistemologia da complexidade nos sinaliza outras
todas e cada uma das propostas sejam consideradas no processo possibilidades de compreensão do processo de avaliação e novos
de construção dos consensos- sem negar os conflitos-, pontos percursos que se fazem necessários para aprofundar a reflexão
de partida para novas definições. Um diálogo que tem como sobre a avaliação e fortalecer o movimento de redefinição de
pressupostos fundamentais a superação dos preconceitos e a seu sentido na perspectiva democrática. Algumas proposições
construção coletiva da vida. são rascunhadas, nos convidando a revisitar a avaliação a partir
de novas pistas que precisam ser consideradas. Aqui vamos
Utopia. Certamente. Mas uma utopia que se desenha desde
esboçar algumas questões que nos parecem significativas para
a observação da realidade cotidiana, sem esquecer suas brechas,
ampliar nossa reflexão.
fissuras, fraturas, silêncios, vozes, sussurros que contêm/mantêm
palavras quase esquecidas como fraternidade, cumplicidade, Retomamos o conflito entre a idéia de que a sala de aula
solidariedade, criatividade, diferença, compreensão, partilha... está estruturada para conduzir à uniformidade, à convergência, à
Também é uma utopia propor a homogeneidade entre as pessoas linearidade, e a realidade caótica, imprevisível, dinâmica, que
e as culturas, mesmo assim a visão de mundo dominante não se revela no cotidiano. Voltamos a este aspecto porque
cessa de faze-lo e de tentar construir os processos necessários consideramos que a distância entre o que deveria ser- o processo
para alcançá-lo. e o resultado idealizados e os elementos considerados essenciais
para o estabelecimento de um processo ensino/aprendizagem
As ciência sociais e humanas sempre se valeram de metáforas
satisfatório - e o que a realidade revela - processos vividos,
newtonianas e este foi o contexto de produção teórico-prática
resultados alcançados e práticas possíveis - tem sido um
da avaliação educacional. Apesar da cientificidade das teorias que
componente importante na condução do processo de avaliação.
a sustentam, a vida escolar indica a insuficiência do conhecimento
A prática nos indica a necessidade de superar o conflito entre
hegemónico para estruturar a prática pedagógica como um
caos e ordem e assuniir a sala de aula como um local onde
processo essencialmente dialógico, sublinha a fragilidade
simultanearn.ente há caos e ordem, sendo possível atribuir
explicativa e propositiva do paradigma epistemológico
diversos sentidos tanto para caos quanto para ordem, sem que
hegemónico para as demandas, elaborações e limites sociais atuais.
um ou outro adquira exclusivamente o valor positivo ou
A necessidade de transformar a avaliação, portanto, é parte da
negativo.
exigência de se buscar outros paradigmas teórico­
epistemológicos para as próprias ciências sociais. Por este caminho Este é um percurso que se anuncia e nos desafia.
de aprofundamento dos estudos e de questionamento Assumindo a heterogeneidade, o movimento, a diferença, a
epistemológico, chegamos às ciências da complexidade que, sem imprevisibilidade, a complexidade, como marcas do cotidiano
propor uma redução das ciências humanas às chamadas áêncús escolar é preciso aprofundar nosso conhecimento nas teorias que
duras, podem oferecer metáforas mais potentes para a discussão trabalham para além do paradigma da simplificação. Talvez nossa
da dinâmica social, reconciliando o que vem sendo artificialmente constante tentativa de simplificação responda ao pressentimento
fragmentado e isolado. de que a complexidade, como afirma Morin, é palavra problema,
portanto traz em si inevitável e certamente um espaço para a
Este é um caminho que começamos a trilhar.

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

turbulência. A relação entre complexidade e turbulência pode embora tenha preparado sua aula com cuidado, nada dá certo, o
ser explicada por Driggs e Peat, a quem traduzimos: grupo se dispersa, as propostas não são satisfatoriamente
realizadas. Estes são alguns exemplos, freqüentes, banais, tão
A turbulência surge porque todos os componentes de um movimento
comuns que muitas vezes nem são percebidos ou não refletimos
estão conectados entre si, e cada um deles depende de todos os demais,
e a realimentação entre eles produz mais elementos (1994: 52).
sobre a sua profundidade.
' A compreensão de que na dinâmica ensino/aprendizagem
,. Importando esta análise para a sala de aula, encontramos
os diversos elementos estão conectados entre si produzindo
em sua composição como espaço fronteiriço a necessária conexão
novos elementos deixa evidente a dimensão coletiva do processo
entre processos, movimentos, dinâmicas, realidades, culturas,
de construção de conhecimentos e nos obriga a pensar a prática
conhecimentos que se realimentam e se reconstroem. Sendo
na ótica da interação. Mesmo quando há proposta de trabalho
um espaço plural, a sala de aula é composta por singularidades
individual sua realização tem uma forte presença e interferência
que também se constituem nos fluxos de pensamentos e
do coletivo e a turbulência é tão pertinente quanto a ordem.
sentimentos em que individual e coletivo criam correntes de
Não podemos continuar propondo a ptática pedagógica, e o
realimentação. A dinâmica da sala de aula produz novos
processo de avaliação como um de seus componentes, a partir
movimentos que possuem traços particulares dos elementos
de uma lógica que, apesar de falar em construção de
postos em interação e marcas do modo como ocorre o processo
conhecimentos, reafirma urna relação unidirecional e linear entre
de realimentação e de como se reconstroem. Esta compreensão
o sujeito que ensina e o sLtjeito que aprende, entre o sujeito
introduz novos aspectos na percepção do ensino, da
que aprende e o objeto de conhecimento ou entre sujeitos em
aprendizagem, da relação entre eles e da avaliação, corno uma
processo de aprendizagem.
prática que está entremeada a toda atuação escolar.
-' A complexidade do ser humano e de suas práticas traz
,,, Olhando para os fatos que compõem o dia-a-dia da sala de
inevitavelmente a turbulência corno um de seus aspectos centrais.
aula, vemos quanto urna pequena ação pode desorganizar,
Por muito que se tente isolar os sujeitos e disciplinar seus
reorganizar ou redefinir todo o processo. Algumas vezes urna
movimentos e processos há conexões, às vezes invisíveis,
palavra ou um gesto é suficiente para criar uma gD111de coníi1s.10:
interações, aparentemente silenciosas, e realimentação, para
alguén1 que tropeça e cai, provocando risos, movimento, conversa
alguns, imperceptível, que atuam na produção das respostas,
em voz alta, desatenção; um ruído que vem de fora da sala e que
gerando ordem e turbulência.
atrai a atenção de alguns, se tornando motivo de conversa,
estimulando a tentativa de sair da sala, levando ao abandono da • A avaliação freqüentemente atribui um valor negativo ao
tarefa que estava sendo realizada; aquele aluno que a professora que não pode compreender e nomear. As manifestações de
já conhece e que no dia em que algo vai mal em sua- casa não conhecin1entos, desenvolvimento, capacidades, habilidades,
deixa ninguém em paz na aula; o dia da prova, em que os alunos valores que se desmarcam do padrão e fazem emergir a
e alunas chegam à sala mais ansiosos do que de costume, fazendo turbulência, que nem sempre se traduz em movimentos e vozes
com que alguns não consigam realizar as mesmas atividades que fora da hora, são freqüentemente interpretados como não
fazem todos os dias; o dia em que a professora não "está bem" e aprendizagem e corno fracasso escolar. Os alunos e alunas que

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

não demonstram as habilidades e capacidades pretendidas, que espaço em que a heterogeneidade possa se expressar e se
não revelam saber o que foi ensinado, que se distanciam do potencializar num movimento simultaneamente individual e
padrão de desenvolvimento considerado normal, que não coletivo, interno e externo, singular e plural. Encontramos aqui
realizam as atividades vistas como produtivas, trazem a turbulência algumas pistas que pretendemos seguir com o objetivo de
para o processo ensino/aprendizagem. Um olhar que reconheça construir um processo de avaliação cada vez mais adequado à
a turbulência e que não a interprete como falta, impossibilidade, sala de aula real.
incapacidade, negação, pode indagar as conexões que
Mais uma vez, encontramos no interior da sala de aula muitas
efetivamente estão se estabelecendo no processo, os novos
situações que sinalizam a pertinência de estudarmos com maior
elementos que estão sendo configurados, identificando aspectos
profundidade os aspectos acima destacados. Pensando nos
que participam do processo, mas não estão sendo considerados.
procedimentos de avaliação, reconhecemos que algumas vezes
Esta indagação pode gerar uma compreensão mais ampla do
uma sutil modificação na formulação da questão pode produzir
processo ensino/aprendizagem, revelando facetas ainda não
resultados diferenciados; que a utilização de instrumentos mais
percebidas e exploradas.
abertos ou mais fechados podem alterar toda a dinâmica da sala
Sem dúvida a perspectiva da não linearidade traz aspectos de aula, bem como os resultados alcançados; que uma repreensão
fundamentais para pensar a prática de avaliação, aquela que temos pode romper os últimos fios que conectavam um/a
que realizar dentro de uma sala de aula que freqüentemente não determinado/a aluno/a à aula e por outras vezes pode trazer
obedece às normas e só pode ser descrita como o caos. A referência algum/a aluno/a "de volta"; o modo como escutamos o/a aluno/
às equações não lineares, ainda que numa perspectiva metafórica, o pode contribuir para que ele potencialize sua expressão ou se
nos ajuda a entender a realidade da sala de aula: cale; corrigir uma resposta errada pode ajudar o/a aluno/a a
aprender o que ainda não sabia, mas também pode paralisar seu
Numa equação não linear, uma pequena mudança numa variável
movimento em direção a novos conhecimentos. Pequenos atos,
pode gerar um efeito desproporcional e ainda catastrófico em outras
variáveis. (...) As soluções não lineares tendem a ser obstinadamente cotidianos, às vezes irrefletidos, mas que podem alterar
individualistas. ( ...) No mundo não linear- que inclui a maior parte significativamente a dinâmica do processo. Pequenos atos que
de nosso mundo real - a previsão exata é prática e teoricamente exigem decisões, implicam opções, requerem que diante das
impossível (BRIGGS E PEAT, 1994: 23-25). diferentes possibilidades que se apresentam uma seja escolhida,
abandonando todas as outras, deixando sempre a dúvida: e se a
Destacamos nesta citação três aspectos que nos parecem
opção fosse outra?
fundamentais para problematizar a avaliação: o papel das
pequenas mudanças, as soluções individualizadas e a Estas possibilidades levam necessariamente a compreender
impossibilidade de previsão exata. Aspectos que contribuem para o quanto cada decisão, constituída no processo coletivo, tem
a compreensão da insuficiência da avaliação fundamentada na que considerar a singularidade. Sabemos que uma mesma ação
ordem, na unificação de parâmetros e de instrumentos e na pode ter conseqüências diferentes para pessoas diferentes, ou
previsibilidade dos resultados e dos processos. É preciso pode ser assumida de modo diferente por uma mesma pessoa
aprofundar a compreensão e usá-la como meio para criar um dependendo das circunstâncias. A avaliação, portanto, precisa

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

estar atenta ao movimento particular que cada sujeito realiza. sep o mesmo, sabemos que pode ser percorrido de muitas
Neste sentido, há que se questionar a avaliação feita através de maneiras, assim como sabemos ser possível chegar a um mesmo
procedimentos, instrumentos e padrões únicos que partem da lugar por caminhos diferentes. Há que se chegar a um mesmo
idéia de homogeneidade, produzem conclusões que generalizam lugar? Pergunta inevitável quando pretendemos nos inserir num
e definem soluções insensíveis às diferentes dinâmicas e processo que valorize a diferença, os diversos caminhos, as
características individuais que tecem o processo coletivo de inúmeras possibilidades, marcas de instabilidade e de potência.
ensinar e de aprender. O que significa afirmar que 60% da turma são B? Ou que
O trabalho a partir de padrões predefinidos, a partir de 30% da turma atingiram 40% dos objetivos propostos? Que
generalizações faz com que questões cotidianas sejam apreendidas contribuição pode dar ao processo de cada aluno/a a conclusão
como problemas de difícil solução. Para generalizar é preciso de que ele/a alcançou parcialmente os objetivos traçados? O que
apagar traços que imprimem a singularidade, traços que na significa parcialmente? O que significa atingir um objetivo?
verdade não chegam a ser apagados e se mantêm, mesmo que E não atingi-lo? Através de quais informações chegou-se a esta
ocultos, podendo reaparecer a qualquer momento e redefinir as conclusão? Mudando os instrumentos, os procedimentos, o
soluções construídas. referencial, a avaliação mudaria? Como generalizar o que só
adquire sentido quando tomado como caso particular? Como
Como avaliar aquela criança que avançou muito, mas não
construir procedimentos que amplifiquem a dimensão singular
atingiu os objetivos propostos para a série? Aprova-se ou reprova­
de processos que não podem secundarizar sua realidade coletiva?
se aquele/a menino/a que no final do ano deu uni estalo, aprendeu
muitas coisas, mas ainda não está no nível do resto da turma? A proposta da avaliação como prática de investigação se
Como traduzir em nota ou conceito o movimento de fortalece com esta perspectiva. Também se aprofunda o desafio,
aprendizagem/ desenvolvimento que é percebido pelo/a pois reconhecer a complexidade significa assumir a instabilidade
professor/a, embora ainda não se revele através das respostas certas? e a incompletude de cada conclusão construída.

Estas perguntas, comuns para quem está na sala de aula, A não linearidade, que permite um outro olhar para a
trazem aspectos fundamentais para a compreensão do processo dinâmica social, também ajuda a compreender o funcionamento
ensino/ aprendizagem que terminam sendo esvaziados pela de um sistema complexo como o humano. Ambas as percepções
discussão a respeito da atribuição de notas (ou conceitos). fortalecem a necessidade de reconsiderar a dinâmica estabelecida
Aspectos que negam a possibilidade de previsão que a avaliação para o processo ensino/aprendizagem no cotidiano escolar.
classificatória promete. Sendo o ensino/ aprendizagem um
É reconhecido que o coração tem que ser regular, do contrário
processo complexo, atravessado pela tensão individual/coletivo morremos. Mas o cérebro tem que ser irregular; do contrário temos
e conformado pelo que é explicitamente propostos pelos aspectos epilepsia. Isto mostra que a irregularidade, o caos, conduz a sistemas
não percebidos e pelos novos elementos constituídos na complexos. Não se trata de desordem. Pelo contrário, eu diria que
interação, não se pode pensar numa relação linear entre causa e o caos possibilita a vida e a inteligência. O cérebro foi selecionado
conseqüência em que se pode prever o caminho necessário para para tornar-se tão instável que o menor efeito pode conduzir à
formação da ordem (PRIGOCINE apudD1uccs E PEAT, 1994: 166).
se chegar a um determinado resultado. Ainda que o caminho

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

O funcionamento irregular do cérebro, a configuração dos É realmente a cornpet1çao que tem criado a vida,
pensamentos e sentimentos através de ondas de realimentação conduzido o processo evolutivo e as relações humanas? Olhar
em que dialogam individual e coletivo, fazendo da subjetividade de novo o espelho e o reflexo, buscar em outros contextos
urna produção simultaneamente singular e plural, reafirmam a instrumentos para a reflexão nos ajuda a repensar o cotidiano
impossibilidade de pensar, e a ineficácia de propor o ensino escolar e suas práticas. Os estudos de microbiologia realizados
corno um processo igual para todos, bem corno a insuficiência por Lynn Margulis (apud Bruccs E PEAT) trazem novas
de prever um único caminho de aprendizagem. Compreensão informações que podem nos ajudar a realizar novas leituras.
que atinge em cheio as propostas de avaliação corno mecanismo Segundo estes estudos, a base da vida está na cooperação, não
de controle e de classificação, pois fica cada vez mais claro que na competição pela sobrevivência do mais apto. Conclui que
se está avaliando processos que permitem diferentes caminhos, o fundamental é o processo de auto-organização como parte
atalhos e desvios e que podem tornar novos rumos segundo os de um quadro de dependência mútua, tecendo o conceito de
fluxos de pensamentos e sentimentos e de acordo com as co-evoluç:ão, em que há uma relação de realimentação em que
conexões realizadas. Aqui emergem novas pistas que precisam os envolvidos evoluem como resultado da cooperação
ser incorporadas ao processo de reconstrução da prática de estabelecida (Idem: 160).
avaliação, pois sendo a sala de aula, e os processos nela
A idéia de co-evoluç:ão desenha um novo cenário pafa a
estabelecidos, produção humana, a vida a invade, fazendo com
sala de aula e formula uma nova possibilidade para a prática de
que as contradições atuem, mesmo quando são ocultadas.
avaliação numa perspectiva de investigação do processo ensino/
A percepção da heterogeneidade, do caos, da turbulência, aprendizagem, torna mais clara a possibilidade de abandonar os
como componentes produtivos da prática pedagógica toca em parâmetros e objetivos pré-definidos sem perder sua função,
outro aspecto relevante na construção do pensar/fazer a avaliação: mas redefinindo sua esfera de ação. O processo de co-evolução
sua dimensão de competição, que reduz sua possibilidade de borra os pontos fixos de partida e de chegada, mas ressalta a
participar do processo ensino/aprendizagem por minimizar seu necessidade de configuração de esquemas mais potentes de
caráter pedagógico. apreensão da dinâmica que se mescla à relação ensino/
Competição, palavra que acompanha ordem e hierarquia aprendizagem. A avaliação, como prática de interrogar e
no pensar/fazer o cotidiano pedagógico. Freqüentemente é a interrogar-se, pode ser um aspecto significativo do processo.
competição que será estabelecida após o período escolar urna Esta avaliação só pode ser pensada, e talvez transformada
das principais justificativas para as práticas avaliativas cotidianas, em ação, com o abandono da perspectiva linear que a vem
que muitos reconhecem não ter qualquer sentido para o processo caracterizando e com a incorporação da diferença como categoria
ensino/aprendizagem. Numa sociedade como a nossa, marcada central, pois, como afirma Rodrigues, "aquilo que de mais
pelo discurso da meritocracia, hierarquia, justiça social e semelhante existe entre os homens é exatamente a diferença"
competição se complementam na construção do sentido da escola. (1989: 23). Os modelos não lineares podem nos dar pistas para
A competição guarda a imagem de motor das transformações e outros percursos na medida em que se fundamenta111 na
do aperfeiçoamento individual e social. impossibilidade da previsibilidade, na existência da realimentação

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

que redimensiona as pequenas alterações e na necessidade de O desafio reside na concepção do tempo e da ação e da compreensão
perceber a especificidade. políticas como descortinador de um espaço que pode aceitar e
regular a estrutura diferencial elo momento ela intervenção sem
Estas idéias, ainda que muito inicialmente, podem abrir apressar-se em produzir uma unidade elo antagonismo ou contradição
novas perspectivas para o processo de avaliação considerado como social. (...) Quando falo em negociaç/io em lugar de negaçizo, quero
parte de uma dinâmica ensino/aprendizagem que sublinha sua transmitir uma temporalidade que torna possível conceber a
complexidade, não podendo, portanto, ser controlada pela articulação de elementos antagônicos ou contraditórios. (... ) Com a
palavra negociação tento chamar a atenção para a estrutura de iteD1çiio
quantificação. A avaliação se anuncia como um movimento que
que embasa os movimentos políticos que tentam articular elementos
busca captar os processos e conhecimentos emergentes, os antagônicos e oposicionistas sem a racionalidade redentora da
momentos em que se a1ticulam os "anéis de realimentação" (Bruccs superação dialética ou da transcendência (BI-IAllHA, idem: 51-52
E PEAT, op. cit.), a riqueza da diversidade, a produção implicada grifos do autor).
na diversidade e vai se tornando um instrumento para afinar as
A avaliação classificatória, que pretende hierarquizar e
intuições da professora e dos alunos e alunas para que ambos
selecionar, por ter como fundamento a homogeneidade, a
possam ir percebendo seu processo individual e coletivo, e se
competição e a exclusão, atua essencialmente na ótica da negação:
inserindo com maior disponibilidade na dinâmica da co-evolução.
negação do outro, do diferente, de suas práticas, de seus saberes,
Numa perspectiva de co-evolução o próprio processo de de suas formas de vida, de seu contexto cultural, de sua realidade
coordenação dos diversos ritmos, a busca de sintonia, a social; negação do diálogo; negação das múltiplas possibilidades.
incorporação da lógica do outro, a ordenação do tempo e do A negação faz com que a diferença seja localizada numa estrutura
espaço, a composição com interesses e possibilidades diferentes hierárquica que atribui valores opostos aos elementos antagônicos
dos seus, a tentativa de superação dos limites individuais e ou contraditórios. Na avaliação educacional, um dos aspectos
coletivos, adquirem novo sentido já que a finalidade da ação é centrais é a compreensão do saber e do nfo-saber como pólos
utilizar ao máximo os momentos de realimentação para uma antagônicos, excludentes; o saber recebe o sinal positivo e o
constante ampliação das possibilidades instituídas. não-saber o negativo. Ao processo de avaliação cabe distinguir
A compreensão de que simplificar o processo de avaliação os que sabem dos que não-sabem.
é impedir que se manifestem suas reais potencialidades A negociação rompe com as dicotomias, busca articulações
pedagógicas continua nos levando a visitar territórios diferentes, entre elementos contraditórios e antagônicos e produz novos
que aportam novas perspectivas que vão tecendo nossa ação/ significados, desfiando as polarizações por ressaltar a natureza
reflexão. Na crítica pós-colonial, com sua abordagem sobre a histórica e discursiva da diferença e o fato de que os referentes e
configuração da subjetividade, sobre a produção dos contextos prioridades não refletem um objeto homogêneo, sendo marcados
culturais e sobre a formulação da política, também encontramos pelas tensões e entrecruzamentos de objetivos. A negoá1ção é
alguns fios que começamos a puxar. A perspectiva apresentada ato dialógico necessário ao movimento de aproximação ao
por Bhabha (1998) de substituir a negação pela negoázção na conhecimento considerado em sua complexidade. Contribui,
construção de um discurso crítico eficiente pode contribuir com portanto, para consolidação da perspectiva de avaliação como
a redefinição do sentido da avaliação. prática de investigação que encontra no saber e no não-saber

180 181
--r··

Novos caminhos a serem percorridos


O que sabe quem erra?

elas tinham achado mais interessante. A partir de seus relatos,


momentos que dialogam na produção de novos e mais profundos produzimos um texto coletivo que foi escrito no quadro-negro.
conhecimentos e que, como alternativa ao antagonismo entre Após a leitura da "nossa história" foi proposto que cada criança
saber e não saber, propõe lançar seu olhar fundamentalmente d�senhasse o que havia gostado mais no jogo e que escrevesse o
para o ainda não-saber (ESTEl3AN, 1992a). O ainda não-saber que tinha desenhado.
pode aqui ser percebido como um entre-lugar (BHAl3HA, op. Edson fez um belo desenho e veio me mostrar.
cit.) por ser um espaço/tempo intervalar, fronteiriço, onde o
novo se configura. Lido sob esta ótica, o ainda-não saber revela
a negociação entre o saber e o não-saber, anunciando
ç
conhecimentos emergentes, em processo de construção e/ou <)

novos conhecimentos que se mostram possíveis e/ou necessários.


O aind1 não-saber representa este entre-lugar em que saber e
1úó-sabernegociam na produção do novo. S � ,�t9-
O trabalho que vimos realizando de interrogação e 0 N_::1D 0; ,yyWUj 'à»� elo., S.0\.o__
reconstrução do sentido do erro no processo ensino/
aprendizagem adquire maior consistência com a incorporação
do conceito de negocúção. Encontramos outra trilha que traz
novos fundamentos teóricos para entender o processo que vai
sendo apresentado pela criança e nem sempre pode ser
identificado pelo/a professor/a, pois, corno nos ensina Von
Foerster, só vemos o que compreendemos.
O paradigma simplificador, baseado na criação de pólos
antagônicos, portanto na negação, só permite ver na resposta ou
o erro ou o acerto. Reduz, portanto, nossa capacidade de
Propus que ele continuasse a atividade, agora com a escrita.
compreender os eventos e de ver suas diferentes manifestações.
Ele me perguntou várias vezes o que era para escrever e eu retomava
O cotidiano da sala de aula ressalta sua insuficiência ao nos
a explicação que foi dada inicialmente. Edson voltou para o seu
oferecer inúmeros exemplos de que a polarização gera conclusões
lugar e um pouco depois trouxe sua folha, onde estava escrito:
redutoras e de que a negociação nos permite ver mais do que
víamos antes. O vo Avo co meuo quejo da íàda
Narro uma situação observada numa turma de 1ª série. Pedi que ele lesse o que estava escrito e conversamos sobre
As crianças haviam assistido uma partida de basquete com a relação entre o desenho e o texto. Só neste momento ele
atletas paraplégicos. Ficaram bastante impressionadas com o jogo. p'areceu entender o que estava sendo proposto. Voltou para sua
Resolvemos trabalhar a produção de texto a partir deste fàto. carteira e escreveu:
Inicialmente conversamos sobre o que tinha acontecido e o que
183
182
O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

E boaôjoca b:yite A negociação considera as fronteiras já demarcadas e os


lugares e processos híbridos que, constituídos nos intervalos,
Pedi que Edson lesse. Ele leu: - "É bom jogar basquete".
denunciam e questionam os limites demandando novas
configurações. O emre-lug a1� impossível de ser circunscrito pela
Avaliar o processo de Edson buscando classificar suas
polarização, nesta perspectiva é assumido como local que
resposta como acerto ou erro contribui muito pouco com a
potencializa novas significações atravessadas pelo diálogo entre
percepção do processo de construção de conhecimentos que
permanência e ausência, não como um lugar ao qual falta algo
está sendo tecido pelo menino. Podemos classificar os dois
para igualar-se aos lugares solidamente demarcados e nomeados.
momentos como errados. Mas, dependendo do ponto de vista,
também podemos classificá-los como certos. A negociação A avaliação como prática de investigação pode ser uma
apresenta outras possibilidades. Negociando nossa compreensão alternativa às propostas excludentes por buscar uma ação coerente
sobre o proposto pudemos ambos apreender o ponto de vista com a concepção de conhecimento como processo dinâmico,
do outro. Eu pude perceber que Edson havia associado à dialógico, fronteiriço, constituído nos marcos das múltiplas
solicitação para que ele produzisse um texto escrito, a cópia. tensões sociais. Para esta avaliação, que se propõe a contribuir
Edson copiou do mural urna frase que estava sendo trabalhada para que os sujeitos, individual e coletivamente, possam instaurar
pela professora, portanto sendo usada em muitos exercícios. processos reflexivos sobre os diferentes lugares, pode ser bastante
significativo explorar o entre-lugar como local de produção e
O vovô comeu o quájo da fàda não tinha qualquer relação
experimentação de conhecimentos e de alternativas. Os entre­
com o jogo sobre o qual faláramos. Era uma resposta errada.
lugares se constituem com a diferença, oposição, contradição,
Porém tinha tudo a ver com a relação entre escrita' e cópia, relação
como entrelinhas das quais "emerge uma ambivalência que não
freqüentemente estabelecida pela prática pedagógica, sobretudo
é nem a contestação dos contraditórios nem o antagonismo da
aquelas que pretendem afastar, ou ao menos reduzir, o risco do
oposição dialética" (BHADHA, 1998: 188).
erro. O vovô comeu o quejjo da fàd1 poderia ser a resposta
certa; se outra fosse a pergunta, claro. A percepção do entre-lugar traz à luz a necessidade de
incorporar a discussão sobre a ambJ'valência na avaliação.
Compreendendo a proposta, Edson escreve: E boaéjjoca b,yite.
A avaliação tradicionalmente tem pretendido atribuir
Dizer que esta frase está certa ou errada não representa quase objetivamente valores aos processos desenvolvidos e resultados
nada. Mas o diálogo estabelecido e a possibilidade de negociação alcançados, no entanto, o cotidiano da sala de aula nos mostra
trazem importantes informações sobre o processo que está sendo quanto podem variar estes valores, como é impreciso o ato de
vivido por Edson, sobre seu saber/ainda não-saber, sobre os avaliar, como cada processo de avaliação comporta diferentes
conhecimentos e desconhecimentos que simultaneamente análises. O trabalho de Edson torna evidente a ambivalência,
configuram suas respostas. A negociação também contribui para deixa claro como a avaliação depende dos critérios estabelecidos,
que a professora possa ensinar melhor, não só a Edson, por uma definição que comporta diferentes possibilidades.
vislumbrar novos aspectos ainda não considerados. Com a
Introduzir a ambivalência nesta discussão nos parece
negociação a professora também pode intensificar seu próprio
importante quando queremos definir um sentido para a avaliação
processo de aprendizagem.

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O que sabe quem erra? Novos caminhos a serem percorridos

que ultrapasse seu caráter classificatório, que rompa com o Seguindo a idéia de Morin (l 999) de que toda tradução
dualismo, com a polarização. Nomear e categorizar, essenciais à comporta risco de erro, vemos que este trabalho se configura
avaliação classificatória, são atos que permitem a visibilidade e o através de um movimento que admite muitos erros: tradução da
controle. Abrir mão desta dinâmica implica em assumir um teoria, tradução da prática, tradução de idiomas, tradução de
contexto marcado pelos constantes deslizamentos, onde se vozes... A possibilidade de errar está na "alma" deste trabalho.
configuram discursos e práticas ambivalentes que vão se tornando Porém, Morin também afirma que do erro emergem
cada vez mais visíveis com o estabelecimento de uma avaliação possibilidades criativas, desde que não se cometa o erro maior,
que tem o sentido de investigação. que está na idéia de existência de uma verdade única, permanente
Estes são pontos sobre os quais começamos a refletir com o e inflexível. As "traições", os erros, as lacunas, elementos
objetivo de ampliar nossa compreensão sobre o processo de preciosos na perspectiva do paradigma indiciário, conformam
avaliação em sua complexidade, de modo a elaborar práticas territórios potenciais de novas construções, sublinhando a
cada vez mais favoráveis à produção do sucesso de todas as crianças. temporalidade e inconstância de toda verdade. Esperamos estar
Em especial das crianças das classes populares, as que exercitando a dimensão criativa do erro, proposta que se entretece
predominantemente são excluídas e fracassam na escola. Crianças a todo o texto, ouvindo o alerta que nos fazem Morin e
mestiças cujos corpos narram, pelos traços que os constituem, o Bachelard: não existe o simples, apenas simplificações.
entrecruzamento de raças e etnias na composição do "brasileiro"; Uma pergunta sublinha nossa reflexão: como seria a escola
cujos modos, gestos, comportamentos, expõem, como um se saísse do paradigma da homogeneidade? Mais do que indagar,
caleidoscópio, os movimentos de (re)criação da cultura; cttjos recolhemos indícios de um movimento, ainda incipiente, neste
conhecimentos, histórias, contos, superstições, resultado dos sentido. No interior da escola, nas atividades cotidianas da sala
encontros e desencontros de muitos povos, revelam os muitos de aula, algumas professoras ousam perguntar: por que 11/io?
caminhos percorridos, borrando a rigidez da noção de origem e Indagação que ajuda a reflexão sobre sua atuação e a desvelar
sublinhando a multiplicidade do conhecimento; cujas formas aspectos significativos do processo ensino/ aprendizagem.
de viver indaga1ü as noções de vida e de infância. Crianças sem Não acreditamos que a escola possa transformar a sociedade.
"eira ne111 beira", con10 se costmna dizer, brancas, negras, índias, Tampouco acreditamos que uma sociedade excludente como a
mulatas, cafuzas, nortistas, paraíbas, nordestinas, da roça, que nossa possa deixar de produzir fracasso escolar. No entanto
com suas identidades negadas denunciam a exclusão como um acreditamos, e nossa pesquisa demonstra, que é possível instaurar
projeto que nega o fazer-se humano. Crianças impossíveis de práticas que atuem no sentido da transformação da escola como
serem classificadas, pois nenhuma classificação é suficiente para parte do processo de transformação social.
envolver sua história, nenhum centro fixado pode apagar por
completo seu movimento que inclui as margens. Sujeitos Estas mudanças não podem ser impostas, precisam ser
híbridos, que vivendo o entre-lugar exigem uma escola construídas cotidianamente de modo que a perspectiva
democrática capaz de incorporar e potencializar a diferença, democrática vá impregnando as práticas, sendo incorporada pelo
contribuindo para uma nova configuração social. senso con1um, convencendo as pessoas e se constituindo con10
um consenso. Neste sentido, as transformações da prática escolar,

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O que sabe quem erra?

com a finalidade de torná-la mais democrática, têm que ser Bibliografia


resultado do diálogo, da comparação entre opiniões,
conhecimentos e cosmovisões diferentes. O diálogo tem que
estar enlaçado ao debate sobre a função social da escola e do
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