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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS E

PROCESSOS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

EAIAPCASDA 2201 679617 IMPACTOS AMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE


Avaliação individual

ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS

Coloque seu nome no início da prova.


Elabore respostas em formato de texto e, se necessário, pesquise sobre o tema, mas
lembre-se que as palavras devem ser as suas próprias. Se necessário utilizar-se de
conteúdo já publicado, referenciar adequadamente o autor ou agência responsável. A
prova deverá ser respondida em, no máximo, três páginas no total e será avaliada conforme
os critérios para avaliação apresentados a seguir.
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Leia a reportagem a seguir para responder às questões.

Pesquisa inédita indica que, mesmo a cerca de


300km dos garimpos ilegais do rio Tapajós, mais da
metade dos moradores da zona urbana de
Santarém apresenta níveis de contaminação por
mercúrio até quatro vezes superior ao limite
recomendado pela OMS. Entre os ribeirinhos, a
contaminação chega a 90%.
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O consumo de pescados contaminados pelos garimpos ilegais, do alto e médio rio


Tapajós, é apontado como origem da presença de altos índices de mercúrio no
sangue da população de cerca de 306 mil habitantes do município de Santarém, no
Pará. É o que revela o artigo publicado em 28 de fevereiro no International Journal
of Environmental Research and Public Health.

O estudo, realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em


parceria com a Fiocruz e o WWF Brasil, coletou o sangue de 462 pessoas entre
2015 e 2019 e concluiu que todos os participantes da pesquisa apresentam níveis
elevados de mercúrio no sangue, sendo que 75,6% deles apresentaram
concentrações do metal acima do limite de 10 μg/L (microgramas por litro)
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A média da
concentração na população santarena é quase quatro vezes superior ao limite
seguro da OMS.

Barcos no porto de Santarém

A estudante de nutrição Larissa Neves, moradora da cidade, se surpreendeu com


a pesquisa. “Eu sabia que a água estava contaminada, porque sempre que me
banho no Tapajós fico com coceira no corpo, mas eu não tinha me tocado da
contaminação dos peixes”, afirma.

A estudante trabalha com a venda de marmitas e afirma que seria difícil reduzir o
consumo praticamente diário de peixes. “Todo domingo na minha casa é sagrado
peixe assado, porque meu pai pesca, leva peixe para casa e a gente prepara nas
marmitas pelo menos outras duas vezes por semana, não tem como eu deixar de
comer”, pondera.
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Todo domingo na minha casa é sagrado peixe assado, porque meu pai pesca,
leva peixe para casa.
Larissa Neves, estudante de nutrição

Dos participantes do estudo, 203 são moradores da área urbana de Santarém e


259 vivem em oito comunidades ribeirinhas do município paraense, sete delas
localizadas nas margens do rio Tapajós e uma nas margens do rio Amazonas.
Entre a população ribeirinha, a alta exposição de mercúrio, usado na separação
de ouro pelos garimpos ilegais, chega a mais de 90%.

Mapa com a localização do centro urbano de Santarém e as 8 comunidades ribeirinhas


que participaram do estudo. Imagem: PMC

Outros estudos já tinham apontado a contaminação por mercúrio de populações


que vivem às margens do Tapajós, como o povo indígena Munduruku, que nos
últimos anos vêm travando uma crescente disputa contra garimpos clandestinos
em seu território. Agora, a pesquisa Mercury Contamination: A Growing Threat
to Riverine and Urban Communities in the Brazilian Amazon (em livre tradução,
Contaminação por mercúrio: uma ameaça crescente para comunidades ribeirinhas
e urbanas na Amazônia brasileira), apresenta dados da contaminação que atinge
também a população no centro urbano, a mais de 300km da região onde há
concentração de garimpos.

A investigação conclui que 57,1% dos participantes moradores da área urbana de


Santarém apresentam taxas de mercúrio no sangue acima do considerado seguro
pela OMS, e que a exposição ao mercúrio não se restringe às áreas dos garimpos,
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“mas pode ocorrer em grande parte da bacia hidrográfica que é bastante impactada
pela atividade garimpeira”.

Participantes da pesquisa que declararam consumo diário de pescados


apresentaram maiores taxas de mercúrio no sangue. Os dados indicam que este
hábito alimentar está relacionado a diferentes marcadores sociais, como local de
residência e escolaridade. O maior nível de mercúrio foi detectado no grupo
de analfabetos (45,8 a 50,9 μg/L) e o menor entre os com ensino superior (17,3 a
31,6 μg/L).

Segundo o artigo, a dependência dos pescados e falta de acesso a outras


variedades de proteína, acentuada pela crise econômica e social desencadeada
pela pandemia, além da preferência cultural por esse consumo, é um fator de maior
vulnerabilidade para a contaminação.

Homens apresentaram maiores concentrações de mercúrio do que mulheres, e


participantes com idade entre 41 e 60 anos apresentaram níveis mais elevados do
que o grupo mais jovem, composto por pessoas entre 21 e 40 anos.

A prevalência da exposição ao mercúrio também é maior entre os ribeirinhos que


vivem às margens do rio Tapajós (59,5%) em comparação aos moradores da
margem do rio Amazonas (40,5%).

“Independentemente do local de residência, a exposição humana ao mercúrio pode


ocorrer, pois depende dos hábitos alimentares, mas também das próprias
características individuais”, explica Heloisa do Nascimento Moura Menezes,
pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Ufopa e
coordenadora do estudo. “Todos aqueles que têm o hábito de consumir peixe
frequentemente estão sob risco de exposição ao mercúrio”, completa.

Independentemente do local de residência, todos aqueles que têm o hábito de


consumir peixe frequentemente estão sob risco de exposição ao mercúrio.
Heloisa do Nascimento Moura Menezes, pesquisadora Ufopa

De acordo com a pesquisadora, alguns participantes que vivem na região urbana do


município apresentam índices tão altos quanto os das populações ribeirinhas e o
crescimento desenfreado da atividade garimpeira pode piorar este quadro.

O artigo explica que o uso “generalizado, não regulamentado e descontrolado” do


mercúrio na atividade garimpeira já liberou milhares de toneladas de resíduos
contendo o metal tóxico no bioma amazônico. “Na Amazônia brasileira, o garimpo
foi considerado responsável pela contaminação ambiental, bem como pela
exposição da vida selvagem e humana ao longo dos anos; no entanto, a magnitude
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da exposição permanece incerta devido à ilegalidade do setor, dificultando dados


credíveis sobre a quantidade de mercúrio liberada no ambiente”.
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Consumidores compram peixe na orla de Santarém. A atividade garimpeira já liberou


milhares de toneladas do metal tóxico no Tapajós. Fotos: Julia Dolce

Riscos para a saúde

A pesquisa avaliou também alterações nos indicadores de saúde. O mercúrio é um


metal pesado tóxico, frequentemente associado a danos nos tecidos e
deficiências na saúde mental, além de alterações comportamentais, imunológicas,
hormonais e reprodutivas. Alterações nos rins e nos fígados foram registradas entre
os participantes santarenos, sendo que marcadores mais altos foram registrados
segundo a concentração de mercúrio.

Segundo a coordenadora do estudo, a literatura científica sobre a contaminação


por mercúrio mostra que, em geral, pessoas com níveis mais altos do metal
apresentam sintomas mais graves, mas sintomas são observados também desde
níveis baixos de contaminação. “Por isso é importante identificar precocemente a
exposição ao mercúrio, para que os sintomas não se agravem”, pondera.

Segundo o médico Fábio Tozzi, coordenador do Programa Saúde Comunitária do


Projeto Saúde e Alegria (PSA) em Santarém, estão aparecendo cada vez mais
pacientes que trabalham em garimpo ou que sofrem diretamente as consequências
do uso do mercúrio na atividade, apresentando sintomas neurológicos, digestivos,
psiquiátricos e respiratórios. No entanto, segundo ele, a contaminação por mercúrio
ainda é uma doença muito subnotificada. “O diagnóstico é pouco utilizado, mas pela
grande quantidade de garimpos da região isso começa sim a ser um alerta muito
grande e o sistema de saúde precisa ter resposta para as populações”.
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Incluir a testagem dos níveis de mercúrio nos exames da atenção básica de saúde
é uma medida apontada pelo médico para enfrentar o problema. “Os gestores
devem estar preparados para identificar e mitigar os efeitos da presença do
mercúrio na água e nos peixes”, afirma Tozzi, que atua no desenvolvimento de
modelos de atenção básica para populações ribeirinhas em uma parceria entre o
PSA, a Ufopa e a Secretaria Municipal de Saúde de Santarém.

Impacto socioeconômico

Um dos mais antigos feirantes de Santarém limpa o peixe antes de ser comercializado

Diante dos resultados da pesquisa, os vendedores de peixes no Mercadão 2000,


localizado na orla de Santarém, se apressam para afirmar que seus peixes não
estão contaminados. “Esse peixe aqui é de criação, não é do rio não”, afirmou o
vendedor Valdenir da Silva Lima, enquanto limpava um tambaqui. Ele destaca os
impactos econômicos que o setor teve com a preocupação da população
santarena em relação à doença da “urina preta”, nome popular da Doença de
Haff, que no segundo semestre de 2021 foi relacionada a uma toxina presente nos
peixes. “Atrapalhou muito, ficamos quase um mês vendendo pouco”, revela.

Outro vendedor, que preferiu não se identificar mas revela ser um dos mais antigos
do mercado, afirma que seus peixes vêm dos lagos da várzea do rio Amazonas e
também lembra os impactos das notícias sobre a “urina preta”. “Acabou para nós
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aqui, tivemos que jogar um monte de peixe fora, doamos, agora que estamos
voltando a vender”.

O motorista particular Ninito José Miranda de Souza tinha acabado de comprar uma
peça de pirarucu, quando conversou com a reportagem. “Se tiver, eu como peixe o
dia inteiro”, revela. No entanto, com o resultado da pesquisa, ele afirma que irá
reduzir o consumo. “Vou ter que dar um tempo, se tá fazendo mal não posso ficar
no erro”.

Na sacola, o motorista particular Ninito José carrega sua peça de Pirarucu

Já a aposentada Noêmia Pereira Duarte, natural de Itaituba (PA) e moradora da


vila santarena de Alter do Chão, que também saía da feira do pescado após
comprar pacu e acará, desconfia da pesquisa. “Toda a vida eu comprei peixe, não
tem mercúrio nenhum, isso é mentira”, afirma.

Toda a vida eu comprei peixe, não tem mercúrio nenhum.


Noêmia Pereira, aposentada

A pesquisadora Heloisa do Nascimento Moura Menezes afirma que o estudo não


tem como objetivo trazer impacto negativo para pescadores e feirantes. “Somos
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solidários a todos aqueles que direta ou indiretamente dependem da pesca. Não


estou aqui para criar alarde, mas sim para trazer à tona uma discussão necessária
e urgente”, explica.

Segundo Menezes, o resultado não indica que a população deva deixar de


consumir peixe, uma vez que existem formas alternativas de se reduzir a exposição
ao mercúrio. “Nossa recomendação não é restringir o consumo de peixes, o que
sugerimos é uma mudança de hábitos alimentares, justamente porque temos a
preocupação com todos aqueles que dependem da pesca para sobreviver”,
explica.

De acordo com a pesquisadora, a população pode variar o tipo de peixe consumido,


uma vez que alguns peixes, como os carnívoros, têm mais mercúrio do que os
demais, reduzir as porções consumidas e a frequência de consumo e introduzir
mais frutas, legumes e alimentos antioxidantes na alimentação. “O conhecimento é
uma ferramenta preciosa quando se pensa em prevenção”, completa.

Menezes aponta também que o objetivo do estudo é promover uma discussão


sobre práticas mais sustentáveis para redução do mercúrio no ambiente. “A
redução da contaminação do rio e dos peixes pode levar anos, portanto,
precisamos não só acabar com as atividades que liberam mercúrio no ambiente,
como também buscar formas de proteger a saúde das populações que vivem na
região amazônica e que ainda irão conviver por muitos anos com as consequências
da exposição mercurial existente hoje”, conclui.

Desde que a fase de coleta das amostragens da pesquisa foi concluída, em 2019,
o garimpo ilegal no rio Tapajós cresceu significativamente. De acordo com
um levantamento do Instituto Socioambiental, apenas entre janeiro de 2019 e
maio de 2021, a área devastada pelo garimpo dentro da Terra Indígena Munduruku,
localizada no médio Tapajós, cresceu em 363%.”

Fonte: A reportagem de Julia Dolce encontra-se disponível para acesso em


https://infoamazonia.org/2022/03/17/75-da-populacao-de-santarem-esta-contaminada-
por-mercurio-do-garimpo/

Isto posto, responda:

Questão 1. Discorra sobre o Tratado de Minamata (o que é, para que serve) e relacione
com a reportagem.
Questão 2. Quais impactos foram mencionados na reportagem? Você considera que mais
algum impacto pode estar acontecendo e que não foi mencionado/explorado na
reportagem? De qual natureza? (Impacto social, ambiental etc.)
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Questão 3. Relacione ao menos 3 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),


com a questão relatada na reportagem e possíveis metas destes objetivos que possam
mitigar ou evitar os impactos mencionados.

CRITÉRIOS PARA
NÍVEIS DE DESEMPENHO
AVALIAÇÃO

Impreciso
Não Atende Atende Atende
DESCRIÇÃO ou
atende parcialmente satisfatoriamente plenamente
incorreto

Domínio conceitual (80%)


indicador que avalia o domínio
conceitual, sustentado pela
argumentação, ideias,
conceitos e outras referências 0,00 3,00 5,50 7,00 8,00
estudadas na disciplina
(contextualização,
exemplificação, análises, entre
outros)

- Questão 1: 33% 0,00 0,990 1,815 2,310 2,640

- Questão 2: 33% 0,00 0,990 1,815 2,310 2,640

- Questão 3: 34% 0,00 1,02 1,870 2,380 2,720

Coerência, coesão e
estruturação lógica (10%)
indicador que avalia a
coerência, coesão e clareza na 0 0,25 0,5 0,75 1
redação do texto

Ortografia, gramática e
aspectos formais (5%)
indicador que avalia a ortografia 0 0,125 0,25 0,375 0,5
e gramática, assim como a
norma culta de redação

Formatação (5%)
indicador que avalia a
formatação, conforme
orientação descrita no
enunciado

- caso haja citação, é 0 0,125 0,25 0,375 0,5


obrigatório referenciar
‐ fonte Arial ou Times New
Roman tamanho 12
‐ alinhamento justificado
‐ margem à esquerda e
superior de 3 cm e à direita e
inferior 2 cm
PONTUAÇÃO TOTAL 0 3,5 6,5 8,5 10,0

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colegas são considerados plágio e terão desconto de nota. A prova é individual e corresponde ao
conhecimento aplicado ao tema. A ferramenta SafeAssign é utilizada para identificação de cópias.

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