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planejamento
Luciana Peixoto Cordeiro

( )

o planejamento é uma questão inerente às


pessoas. Planejamos o que vestir, o cardápio do jantar, a
compra de um imóvel etc. Temos sempre mais de um plano
em mente. Mas por que o ser humano planeja?
Como não pode prever o futuro, o ser humano pode pen-
sar e programar projetos de vida e ações, agindo no presente.
Planejar é, sem dúvida, uma estratégia para sobreviver.
Segundo Vasconsellos1, as escolas também planejam
pelas mesmas razões: antecipar mentalmente uma ação a
ser realizada e agir de acordo com o previsto.
A necessidade de aquisição de novas competências em
um ambiente de imprevisibilidades, de grandes e profun-
das mudanças, no qual vivemos hoje tem levado as esco-
las a darem uma atenção especial ao seu planejamento.
Planejar é uma tarefa complexa e exige visão estratégica e
sistêmica. O processo de planejamento deixa a escola mais
bem preparada para enfrentar as incertezas oriundas do
mundo globalizado.
Para melhor entender a natureza do planejamento,
faz-se mister conceituar três ter­mos importantes: planeja-
mento, tomada de decisão e plano.
O planejamento pode ser visto, segundo Lacombe e
Heilborn, “[...] como (a) a determinação da direção a ser seguida
para se alcançar um resultado desejado ou como (b) a deter-
minação consciente de cursos de ação, isto é, dos rumos”2.
Planejamento é, então, um processo de tomada de deci-
são. É, dessa forma, tomar a decisão antecipada do que fazer,
de como fazer, quando fazer, onde e quem deve fazer.
82 A tomada de decisão é uma atitude gerencial que ante-
cede o processo de planejamento como um todo. É uma
Didática: organização
do trabalho pedagógico

tentativa racional por parte da gestão da escola de atingir


os objetivos propostos pela organização.
Planejamento, segundo Vasconcellos “é o processo con-
tínuo e dinâmico, de reflexão, tomada de decisão, coloca-
ção em prática e acompanhamento”3. Plano, para o referido
autor, é a explicitação, na forma de registro, dessa reflexão
e tomada de decisão. É a apresentação sistematizada das
decisões tomadas.
Para Libâneo, “o planejamento é um processo de racio-
nalização, organização e coordenação da ação docente,
articulando a atividade escolar e a problemática do con-
texto social”4. O referido autor traz que tudo o que acon-
tece no ambiente escolar está permeado pelas influências
econômicas, políticas e culturais que caracterizam a socie-
dade de classes. Dessa forma, o planejamento precisa ser
uma ação de reflexão, a partir das opções e das ações que
desejamos realizar na escola. Quando se planeja, segundo
Vasconcellos, é preciso partir de dois pressupostos: “plane-
jar ajuda a concretizar aquilo que se almeja (relação Teoria-
Prática); aquele algo que planejamos é possível acontecer;
podemos, em certa medida, interferir na realidade”5.
O planejamento tem sentido quando tem uma intencio-
nalidade: “o planejamento é uma questão política, na medida
em que envolve posicionamentos, opções, jogos de poder,
compromisso com a reprodução ou com a transformação”6.
Planejar remete a ������������������������������������
querer mudar algo; acreditar na pos-
sibilidade de mudança de realidade; vislumbrar a possibi-
lidade de realizar aquela determinada ação.
O planejamento é um ato político-social, científico e
técnico. Político-social porque está comprometido com as
finalidades sociais e políticas, isto é, não se planeja sem ter
conhecimento da realidade. Científico, pois não se planeja 83

sem ter o conhecimento, e técnico, porque exige uma defi-

Planejamento
nição de meios eficientes para o alcance de resultados.
Quando se planeja, como mostra Vasconcellos, é pre-
ciso partir de dois pressupostos: “planejar ajuda a concre-
tizar aquilo que se almeja (relação teoria-prática); aquele
algo que planejamos é possível acontecer; podemos, em
certa medida, interferir na realidade”7.
O planejamento tem sentido quando tem uma intencio-
nalidade: “o planejamento é uma questão política, na medida
em que envolve posicionamentos, opções, jogos de poder,
compromisso com a reprodução ou com a transformação”8.
Planejar remete ��������������������������������������
querer mudar algo, acreditar na possi-
bilidade de mudança de realidade e vislumbrar a possibili-
dade de realizar aquela determinada ação.
Quadro 5.1 – Tarefas implicadas na re-significação do planejamento

Querer mudar a realidade, estar vivo,


em movimento.
Necessidade
Mudança
Ponto de partida para todo processo de
planejamento.

Sentir que precisa de mediação simbó-


Planejar
lica para alcançar o que deseja.

Acreditar na possibilidade de mudança


Possibilidade

Mudança (em geral e daquela determinada reali-


dade; esperança; abertura).

Ver condições de poder antecipar e rea-


Planejar
lizar a ação.

Fonte: VASCONCELLOS, 2000, p. 36.

Segundo Vasconcellos, ”o fator decisivo para a significa-


ção do planejamento é a percepção por parte do sujeito da
necessidade de mudança”9. Esse pressuposto é de fundamen-
tal importância, pois quem não está comprometido não está
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querendo mudar nada e, dessa forma, não sente necessidade
de planejar. Assim, o que acontecerá em sala de aula é a mera
Didática: organização
do trabalho pedagógico

reprodução, e o que acontecerá na escola como um todo é a


manutenção do que vem acontecendo, sem possibilidades
de avaliação e redirecionamento de ações que venham ao
encontro das necessidades da comunidade escolar.
Para organizar e consolidar o processo de planeja-
mento em uma escola, Gandin10 propõe algumas etapas a
serem seguidas:

a. Preparação

Tem por objetivo analisar os pontos básicos de um processo


científico e participativo, visando que cresça a motivação
para o planejamento e para que se possibilite a eficiência
nas etapas que se seguirão. Essa preparação pode ser reali-
zada a partir de palestras e leituras de textos escolhidos.

Elaboração do plano global a médio prazoa

Refere-se ao plano norteador de qualquer instituição, de


modo a compreender o seu todo. A partir da participação
de todos os membros da instituição, valorizando e aco-
lhendo o que pensam, seguem os seguintes passos:
▪▪ elaboração do marco referencial – é a parte do plano na
qual uma instituição compreende-se como integrante
de uma realidade mais ampla; propõe-se como realiza-
dora de um processo técnico específico de seu campo
de ação, com vistas a ser parte na consecução de sua
proposta sociopolítica. O marco referencial subdivi-
de-se em outros três:
▪▪ marco situacional – a instituição entende-se como
parte do mundo;
▪▪ marco doutrinal – a instituição adota uma proposta 85
político-social e a fundamenta;

Planejamento
▪▪ marco operativo – a instituição firma o ideal de sua
prática, objetivando contribuir na construção da
sociedade com que se compromete.
▪▪ elaboração do diagnóstico – objetiva identificar a com-
paração de sua realidade presente com a realidade
desejada, a qual é concretizada no marco operativo.
▪▪ elaboração da programação – é uma proposta de ação
para diminuir a distância entre a realidade da institui-
ção planejada e o que estabelece o marco operativo.
▪▪ revisão geral – é uma revisão geral, que é efetuada

a. O plano global de médio prazo corresponde ao


projeto político-pedagógico que será abordado na
seqüência das aulas na escola.
após a conclusão da programação, visando ao apri-
moramento e a possíveis acertos nos textos, bem como
para possibilitar a apropriação maior do plano pelos
participantes.
▪▪ elaboração de planos globais a curto prazo – é a espe-
cificação operacional daquilo que no período curto de
tempo – um ano, por exemplo – se fará do conjunto da
programação que consta no plano a médio prazo;
▪▪ elaboração de planos setoriais – refere-se aos setores da
instituição – orientação educacional, supervisão, ges-
tão, sala de aula, biblioteca etc.
No âmbito da escola existem diferentes níveis de pla-
nejamento. Abordamos alguns deles, lembrando que cada
sistema de educação adota seus planos.

a. Projeto político-pedagógico (PPP) – define a política de


educação da escola. No próximo capítulo, abordaremos
com detalhamento esse tipo de planejamento.

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b. Plano global – expressa orientações gerais que sinteti-
zam as ligações da escola com o sistema escolar mais
Didática: organização
do trabalho pedagógico

amplo e as ligações do projeto pedagógico com os pla-


nos de ensino. O plano global compreende: os dados
de identificação da escola; os objetivos da escola; o qua-
dro demonstrativo de recursos humanos; a estrutura
organizacional: equipe diretiva e conselho escolar; os
serviços (orientação educacional, supervisão escolar,
secretaria, biblioteca, laboratório de informática, labo-
ratório de ciências, laboratório de aprendizagem etc), a
avaliação e o calendário escolar.
c. Planos de estudos – expressa os componentes curricula-
res em termos de conhecimentos, competências e habili-
dades. Segundo Fiss e Caldieraro, o Plano de Estudos é o
[...] plano de trabalho que, além dos aspectos de distribuição
do tempo, leva em conta os conteúdos programáticos de cada
componente curricular – em termos de conhecimentos, habi-
lidades e destrezas – sua relação com os demais componentes
curriculares e a maneira como, em conjunto, serão capazes de
contribuir para a saúde, a vida familiar e social, o trabalho, o
meio ambiente e outros aspectos da vida cidadã.11

Os planos de estudos para o ensino fundamental e o


ensino médio, conforme Fiss e Caldieraro12, são elabo-
rados, considerando-se:

▪▪ os componentes curriculares propostos nos PCN,


distribuídos por séries, ciclos ou etapas e respectiva
carga horária;
▪▪ os componentes curriculares de livre escolha da
escola, a partir da realidade local e regional da socie-
dade, da economia, da cultura, constituindo a parte
diversificada distribuída por série, ciclo ou etapa,
com a respectiva carga horária; 87

▪▪ explicitação dos objetivos e da amplitude e profun-

Planejamento
didade com que será desenvolvido cada componente
curricular.

d. Regimento escolar – é o instrumento formal e legal que


regula a organização e o funcionamento da instituição,
no que diz respeito aos aspectos pedagógicos, tendo
por base a legislação em vigor.
e. Plano de aula – é a previsão do desenvolvimento dos
diferentes conteúdos para uma aula ou conjunto de
aulas. Este será abordado com mais detalhes no decor-
rer desta obra.

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