2 - Conceitos Basicos Mecanica Materiais 2020.2021 - 9exs

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Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais

Apontamentos Teóricos
de
Elementos de Máquinas I:

Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais


(Revisões)

Autoria:

Rosa Marat-Mendes

Atualizado por:

Mário Alberto Vieira

2020/2021
ESTSetúbal/IPS Página MM-1
Folhas de Apoio à unidade curricular Elementos de Máquinas I Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais

Índice
Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais .................................................................... 3
2.1. Conceito de tensão.............................................................................................................................. 3
2.1.1. Tração pura.................................................................................................................................................... 3
2.1.2. Flexão pura .................................................................................................................................................... 4
2.1.3. Torção pura ................................................................................................................................................... 5
2.2. Resistência ............................................................................................................................................ 7
2.3. Coeficiente de segurança ............................................................................................................... 10
2.4. Critérios de falha............................................................................................................................... 11
2.4.1. Critério da tensão de corte máxima (Tresca) ............................................................................... 11
2.4.2. Critério da energia de distorção (von Mises) ............................................................................... 12
2.5. Anexo: Tabelas de propriedade mecânicas de alguns aços ............................................... 13
2.6. Exercícios de Aplicação Propostos ............................................................................................. 16

ESTSetúbal/IPS Página MM-2


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Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais

2.1. Conceito de tensão


Segundo a teoria da mecânica dos sólidos, a tensão
mecânica é a medida que expressa a distribuição de forças
por unidade de área em torno de um volume infinitesimal
dentro de um corpo material. Desta forma, a distribuição de
forças que atuam num ponto da superfície desse volume
infinitesimal é única e terá componentes na direção normal e
tangencial, denominadas respetivamente por tensão normal e
tensão de corte, indicadas pelos símbolos gregos, 𝜎 e 𝜏,
respectivamente.
Figura 2.1 – Componentes tridimensionais
Desta forma, é possível escrever um tensor das tensões da tensão num volume infinitesimal.
que caracterize o estado de tensões num determinado volume:

𝜎11 𝜎12 𝜎13 𝜎𝑥 𝜏𝑥𝑦 𝜏𝑥𝑧


( 2.1 )
𝜎
𝝈 = [ 21 𝜎22 𝜎23 ] ≡ [𝜏𝑦𝑥 𝜎𝑦 𝜏𝑦𝑧 ]
𝜎31 𝜎32 𝜎33 𝜏𝑧𝑥 𝜏𝑧𝑦 𝜎𝑧

A unidade em SI para tensão é o pascal (Pa), que é uma medida de força por unidade de área. A unidade
da tensão é a mesma que a da pressão. Grandezas de engenharia são normalmente medidas em
megapascal (MPa) ou gigapascal (GPa).

Sendo as unidades de pascal = [Pa] = [N/m2 ], [MPa] = 106 [Pa] ou [MPa] = [N/mm2 ].

2.1.1. Tração pura

A hipótese de uma distribuição de tensões uniforme pode ser, por vezes, considerada em projeto. O
resultado é normalmente designada por tração pura, flexão pura ou torção pura, dependendo de como a
carga é aplicada ao corpo em estudo.

A hipótese de tensão uniforme significa que se cortarmos uma barra numa secção distante das
extremidades e eliminarmos um bocado, pode-se substituir o seu efeito pela aplicação de uma força
uniformemente distribuída de magnitude, 𝜎𝐴, à extremidade cortada (Figura 2.2).

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Figura 2.2 - Ensaio de Tração.

Diz-se então que a tensão é uniformemente distribuída e é dada por:

𝐹
𝜎= ( 2.2 )
𝐴

em que:

𝜎 – tensão normal ou nominal à tração (letra grega Sigma) [𝑃𝑎];

𝐹 – força aplicada [𝑁];

𝐴 – área da secção transversal [𝑚2 ].

Se a tensão normal tiver sinal positivo (+) → A tensão diz-se de tração

Se a tensão normal tiver sinal negativo (-) → A tensão diz-se de compressão

Exemplo 2.1

Sabendo que, uma barra retangular com 20𝑚𝑚 × 10𝑚𝑚 de lado, está a ser traccionada por uma força
de 50𝑘𝑁, a tensão normal de tração exercida na barra é de 25𝑀𝑃𝑎, i.e,

A tensão máxima que se está a exercer na barra é dada pela equação ( 2.2 ) e sabendo que a área é dada
por 𝐴 = 𝑙𝑎𝑑𝑜 × 𝑙𝑎𝑑𝑜, vem então:

𝐹 50 × 103
𝜎= = = 25 × 106 𝑃𝑎 = 25𝑀𝑃𝑎
𝐴 0.020 × 0.010

2.1.2. Flexão pura

Uma barra submetida à ação de dois conjugados iguais e de sentidos opostos que atuam no mesmo
plano longitudinal, está a ser sujeita à flexão pura. O eixo 𝑥 é coincidente com o eixo neutro da secção. O
plano 𝑥𝑧 coincide com o plano neutro. O eixo neutro coincide com o eixo centroidal da secção transversal
(Figura 2.3).

(a) (b)

Figura 2.3 - (a) Flexão pura numa viga; (b) Distribuição das tensões de flexão.

A tensão de flexão varia linearmente com a distância ao eixo neutro 𝑦 e é dada por:

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𝑀𝑦 ( 2.3 )
𝜎𝑥 = −
𝐼

em que 𝐼 é o segundo momento de área em torno de 𝑧.

A tensão é máxima quando 𝑦 tiver a maior distância ao eixo neutro, dessa forma, a tensão de flexão
máxima é dada por:

𝑀𝑐 ( 2.4 )
𝜎𝑚𝑎𝑥 =
𝐼

em que:

𝜎𝑚𝑎𝑥 – tensão normal máxima de flexão (letra grega Sigma) [𝑃𝑎];

𝑀 – Momento fletor aplicado [𝑁𝑚];

𝐼 – segundo momento de inércia de área [𝑚4 ];

𝑐 – distância máxima ao eixo neutro [𝑚] (para barras submetidas à flexão pura, com secção simétrica nos
dois eixos, a linha neutra passa pelo centro geométrico da secção enquanto as tensões permanecerem em
regime elástico).

Exemplo 2.2

Numa barra quadrangular com 10𝑚𝑚 de lado, sujeita a um momento fletor de 20𝑁𝑚, a tensão máxima
de flexão é de 1200𝑀𝑝𝑎, i.e,

A tensão máxima de flexão que se está a exercer na barra é dada pela equação ( 2.4) e sabendo que o
𝑏ℎ3 0.010×0.0103
momento de Inércia é da dado por 𝐼 = = = 8.33 × 10−10 𝑚4 (Tabela 2.1), vem então:
12 12

0.010
𝑀𝑐 20 ×
𝜎𝑚𝑎𝑥 = = 2 = 1200𝑀𝑃𝑎
𝐼 8.33 × 10−10

2.1.3. Torção pura

Torção refere-se à rotação de uma barra quando carregada por momentos (ou torques) que tendem a
produzir rotação sobre o eixo longitudinal da barra (Figura 2.4(a)). Num veio sujeito à ação de dois
momentos de torção ou torque representados por 𝑀𝑡 ou 𝑇, os dois momentos de torção têm sentidos
opostos e a mesma intensidade podendo ser representados por setas curvas ou setas de vetores de torção
ao longo dos eixos de torção da barra (Figura 2.4(b)). Os vetores são setas que obedecem à regra da mão
direita.

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Definições:
Torção se refere ao giro de uma barra retilínea quando carregada por momentos (ou
torques) que tendem a produzir rotação sobre o eixo longitudinal da barra.
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Veja a Figura 1.

Figura 1 – Torção de uma chave de fenda devido a um torque T aplicado no cabo.


(a) (b)à torção pelo torque T1 e T2.
Figura 2- Barra submetida
Figura 2.4 – (a) Torção de uma chave de fenda devido a um torque 𝑇 aplicado no cabo; (b) Modo de
Exemplos de barras em torção: Hastes, eixos, eixos propulsores, hastes de direção e
representação
brocas de furadeiras. Caso idealizado do carregamento de torção do Momento de torção ou Torque.
M omentos que produzem giro na barra, como os momentos T1 e T2 da F
A tensão de torção em veios é dadachamados
pela equação ( 2.5 ), ou
de torques sabendo que terá
momentos de obedecer às seguintes
torçores.
condições:

• Membros cilíndricos
todas as seções transversais permanecem submetidos
planas e circulares a torques
e todos e que
os raios transmitem
permanecem potência
retos; através
• o ângulo de rotação entre uma
sãoextremidade
chamados dedaeixos.
barra e outra é pequeno, nem o comprimento da
barra e nem o seu raio irão variar.

𝑀𝑡 𝑐
Ex:𝜏o girabrequim ( 2.5um
de um automóvel ou o eixo propulsor de ) navio. A m
=
𝑚𝑎𝑥
𝐽
eixos tem seções transversais circulares,sólidas ou tubulares
em que:
Salete Souza de Oliveira Buffoni 1

𝜏𝑚𝑎𝑥 – tensão de torção máxima (letraObjetivo:


grega Tau) [𝑃𝑎];

• Desenvolver
𝑀𝑡 ou 𝑇 – momento de torção ou torque aplicado [𝑁𝑚]; fórmulas para as deformações e tensões em barras
[𝑚4 ];
𝐽 – segundo momento polar de inércia de áreasubmetidas à torção.
𝑐 – distância máxima ao eixo neutro [𝑚] •(para
Analisar o estado de
veios submetidos tensãopura,
à torção conhecido como passa
a linha neutra cisalhamento
pelo puro e
centro geométrico da secção, logo 𝑐 = 𝑟𝑎𝑖𝑜). relaçào entre os módulos de elasticidade E e G em tração e cis

Exemplo 2.2 respectivamente.


• eAnálise
Num veio com um diâmetro de 10𝑚𝑚 de eixos
um momento de rotação
torçor aplicadoe de
determinação da potência
20𝑁𝑚, a tensão que
de corte eles trans
máxima aplicada ao veio é de 12.73𝑀𝑃𝑎, i.e.,

𝑀𝑡 𝑐
A tensão de corte máxima que está a ser exercido ao veio é dada pela equação ( 2.5 ), 𝜏𝑚𝑎𝑥 = ,e
𝐽
1 1
sabendo que o momento polar de Inércia é da dado por 𝐽 = 𝜋𝑟 4 = 𝜋 × (0.05)4 = 9.82 × 10−6 𝑚4 (Tabela
2 2

2.1), vem então:

0.010
𝑀Souza
𝑡𝑐
20 ×
Salete
𝜏𝑚𝑎𝑥 = = de 2 Buffoni
Oliveira = 10,18 𝑘𝑃𝑎
𝐽 9.82 × 10−6

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Retângulo Semicírculo

Triângulo Quarto de círculo

Circulo Elipse

Tabela 2.1 – Segundos momentos de área de superfícies com formas geométricas usuais.

2.2. Resistência
Resistência é uma propriedade de um material ou de um elemento mecânico. A resistência de um
elemento depende da escolha, do tratamento e do processo de fabrico do material. Tensão é algo que
acontece a uma peça devido à aplicação de uma força, mas resistência é uma propriedade inerente à peça
devido ao uso de certo material e determinado processo de fabrico.

Muitas das resistências estáticas dependem da informação obtida através de ensaios de tração
padronizados. Estes ensaios utilizam provetes maquinados segundo dimensões pré-estabelecidas (Figura
2.5). Traciona-se lentamente o provete enquanto se observam as cargas e as deformações
correspondentes. A força 𝐹 é convertida em tensão por meio da equação no final do ensaio obtém-se um
gráfico denominado diagrama tensão-extensão ou tensão-deformação.

𝐹 𝐹

Figura 2.5 – Provete típico para um ensaio de tração.

A deformação ou extensão normal é calculada por:

𝑙 − 𝑙0 ( 2.6 )
𝜀=
𝑙0
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Nestas folhas, por se basearem no livro de “Elementos de Máquinas de Shigley”, será usada a letra 𝑆
maiúscula para designar resistência (tensão como propriedade do material), com os subscritos para
designar o tipo de resistência. Consequentemente 𝑆𝑆 é a resistência ao corte, 𝑆𝑦 é a resistência à cedência,
𝑆𝑢 é a resistência à rotura e 𝑆𝑓 é a resistência final.

De acordo com as práticas de engenharia, empregam-se as letras do alfabeto grego 𝜎 (sigma) e 𝜏 (tau)
para designar, respectivamente, tensões normais e de corte.

A Figura 2.6 representa diagramas de tensão-extensão típicos para materiais dúcteis e frágeis.
Materiais dúcteis deformam-se muito mais do que materiais frágeis.

Figura 2.6 – Diagrama tensão-extensão: (a) material dúctil; (b) material frágil.

𝑶 − 𝒑𝒍 → região linear elástica

Qualquer carregamento do material nesta região não altera as dimensões do provete. O ponto 𝑝𝑙 é o limite
de proporcionalidade, esse é o ponto em que a linha começa e deixa de ser reta. A relação tensão-extensão
uniaxial nessa região linear é dada pela lei de Hooke em que a inclinação da reta representa o módulo de
elasticidade ou módulo de Young:

𝜎 = 𝜀𝐸 ( 2.7 )

ponto 𝒆𝒍 → limite de elasticidade

É a maior tensão que o material pode suportar sem sofrer uma extensão permanente quando a carga for
retirada, ou seja, a partir desse ponto a deformação passa a ser plástica e o material apresentará
deformação permanente quando a carga for retirada. Entre o ponto 𝑝𝑙 e 𝑒𝑙 o diagrama não é uma linha reta
perfeita, no entanto ainda se considera regime elástico.

ponto 𝒚 → tensão de cedência (Yield Strength) (𝑺𝒚 ou 𝝈𝒄 )

Este ponto caracteriza o inicio da deformação plástica. É a tensão que produz uma pequena quantidade de
deformação permanente, ou seja de 0,2% (𝜀 = 0.002). Se o provete for descarregado neste ponto, este vai
sofrer um aumento de comprimento permanente definido por 𝑂𝑎.

ponto 𝒖 → tensão de rotura (Ultimate or Tensile Strength) (𝑺𝒖 𝒐𝒖 𝑺𝒖𝒕 ou 𝝈𝒓 )


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A tensão correspondente a esse ponto é a tensão de rotura ou de tração e é a maior tensão que o material
atinge no diagrama tensão-extensão.

ponto 𝒇 → tensão final (Fracture Strength) (𝑺𝒇 ou 𝝈𝒇 )

Alguns materiais, a partir da tensão de rotura a carga decresce dando-se finalmente a fratura no ponto 𝑓.
Há no entanto outros, tais como o ferro fundido e o aço de alta resistência, fraturam enquanto a curva ainda
está a subir (Figura 2.6 (b)) e a tensão de rotura é coincidente com a tensão final.

Desta forma, pode-se concluir que os materiais dúcteis, são materiais que permitem grandes
deformações plásticas antes da fratura. Quando o carregamento atinge um certo valor máximo (𝑆𝑢𝑡 ), o
diâmetro do provete começa a diminuir, devido à perda de resistência local. Após este valor, um
carregamento mais baixo é suficiente para manter o corpo a se deformar, até se dar a rotura (𝑆𝑓 ). Esta
rotura dá-se segundo uma superfície em forma de cone, que forma um ângulo aproximado de 45° com a
superfície perpendicular ao carregamento (Figura 2.7(a)). Materiais dúcteis são exemplo do cobre, do aço
macio e do alumínio.

Quanto aos materiais frágeis, são materiais que fraturam após uma pequena deformação plástica ou
nenhuma. Para os materiais com comportamento frágil, não existe diferença entre a tensão de rotura e a
tensão final (𝑆𝑢𝑡 =𝑆𝑓 ), além de que a deformação até à rotura é muito menor nos materiais frágeis do que nos
materiais dúcteis. A Figura 2.7(b) mostra que a rotura se dá numa superfície perpendicular ao
carregamento. Pode-se concluir daí que a rotura dos materiais frágeis se deve principalmente a tensões
normais. Um material frágil é um material que possui uma elevada dureza (> 500~600) e uma baixa
ductilidade (elongation) (< 5~8%) São exemplos desses materiais, os aços de alta resistência e os ferros
fundidos.

superfície de fratura com aspeto fibroso e baço superfície de fratura com aspeto granular e brilhante
(a) (b)

Figura 2.7 – (a) rotura de um material dúctil; (b) rotura de um material frágil.

O comportamento dúctil vs frágil depende do material, da temperatura, do estado de tensão e da velocidade


de deformação.

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2.3. Coeficiente de segurança


Como já foi visto no capítulo da Introdução ao Projeto, as incertezas do projetista relativas a itens tais
como a Resistência do Material, o tipo de Carregamento e outros fatores aleatórios, são contabilizados num
coeficiente de segurança, fator de correção da tensão de Resistência numa tensão admissível.

Se o critério do projeto for o de evitar a deformação plástica do órgão, a tensão de Resistência é a tensão
de cedência e o componente deve ser projetado de tal forma que a tensão de cedência seja
consideravelmente maior que a tensão normal que essa peça ou elemento irá suportar em condições
normais de funcionamento. Se pelo contrário, o critério for o de evitar a rotura, a tensão de Resistência será
a tensão de rotura do material.

A tensão máxima a que o componente pode estar submetido é chamada de tensão admissível, 𝜎𝑎𝑑𝑚 e o
coeficiente de segurança é dado por:

𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑆
𝑛= ou 𝑛 = ( 2.8 )
𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 (𝜎 𝑜𝑢 𝜏)

De onde se depreende que a tensão admissível para esforços normais, vem dada por:

𝜎𝑐 𝑜𝑢 𝜎𝑟
𝜎𝑎𝑑𝑚 = ( 2.9 )
𝑛

A determinação do valor a ser adotado para o coeficiente de segurança, nas muitas aplicações possíveis, é
um dos mais importantes problemas de engenharia. A escolha de um coeficiente de segurança baixo pode
levar a uma possibilidade de rotura. Por outro lado, um coeficiente de segurança muito alto leva a projetos
antieconómicos e pouco funcionais. Deste modo, quando o coeficiente de segurança não é estabelecido à
partida por códigos de projeto ou por normas relativos ao tipo de órgão ou estrutura a dimensionar, este
será um parâmetro de difícil escolha.

A escolha do coeficiente de segurança não é assim uma tarefa fácil e o “grande segredo” prende-se com a
“boa experiência” do projetista.

A título ilustrativo, poder-se-á considerar alguns valores típicos de coeficiente de segurança relativos ao tipo
de material utilizado, ou seja, o coeficiente de segurança do material, e ao tipo de carregamento que esse
material está sujeito, ou seja, o coeficiente de segurança relativo ao carregamento (Tabela 2.2).

Tabela 2.2 – Parâmetros para o cálculo do coeficiente de segurança.

Coeficiente de segurança do material, 𝒏𝟏

Materiais dúcteis de estrutura uniforme, por ex.: Aço 1.5 − 2.0

Materiais frágeis, por ex.: Ferro Fundido 2.0 – 3.0

Madeira 3.0 – 4.0

Coeficiente de segurança relativo ao carregamento, 𝒏𝟐

Carga gradualmente aplicada 1

Carga subitamente aplicada (sem ser considerada ainda choque) 2

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Choques 3– 5

O coeficiente de segurança total será, deste modo dado por:

𝑛 = 𝑛1 × 𝑛2 ( 2.10 )

2.4. Critérios de falha


De forma a considerar estados combinados (biaxiais ou triaxiais) de tensão nos materiais, que são
aqueles mais comummente encontrados no mundo real, têm vindo a ser estudadas teorias ou critérios de
falha, que têm em conta as variáveis que determinam a falha de um material (de uma peça) que permita,
por meio do cálculo, proceder ao adequado dimensionamento ou verificação desse modo de falha. No
projeto mecânico, a falha dúctil (materiais dúcteis) é razoavelmente controlada pela Tensão de cedência e
pelo critério de Von-Mises (menos conservador que o de Tresca, mas com validação experimental
suficiente). A falha frágil (materiais frágeis) é razoavelmente controlada pela tensão de rotura do material,
desde que todas as tensões principais tenham o mesmo sinal. Quando alguma das tensões principais tiver
sinais contrários, sugere-se a aplicação de outros critérios mais apropriados (por exemplo o critério de
Mohr).

São apresentados de seguida, dois dos principais critérios de falha existentes na literatura para
materiais dúcteis.

2.4.1. Critério da tensão de corte máxima (Tresca)

O caso mais comum de corte de um material dúctil, como o aço carbono, é o deslizamento que ocorre
ao longo dos planos de contato dos cristais que, aleatoriamente ordenados, formam-se no próprio material.
Esse deslizamento deve-se à tensão de corte e, se fizermos um provete fino altamente polido e o
submetermos a um ensaio de tração simples poderá ser visto como a tensão provoca o corte do material
em que as linhas apresentadas mostram claramente os planos de deslizamento, que ocorrem a
aproximadamente 45° do eixo do provete - Figura 2.8. A cedência inicial está associada ao aparecimento da
primeira linha de deslizamento na superfície do provete e, conforme a deformação aumenta, mais linhas de
deslizamento aparecem até́ que todo o provete tenha cedido. Se este deslizamento for considerado o
mecanismo real de falha, então a tensão que melhor caracteriza esta falha é a tensão de corte nos planos
de deslizamento.

Este critério só é aplicável à falha por cedência, pois só nesta está implícito um mecanismo de corte. A falha
ocorre sempre que a tensão de corte máxima aplicada atinja a tensão de corte máxima que está presente
no provete de tração quando este entra em cedência.

𝑠𝑠𝑦
𝜏𝑚𝑎𝑥 ≥ ( 2.11 )
𝑛

Em que 𝑆𝑠𝑦 é a tensão de corte à cedência e é dada pela relação:

𝑆𝑦
𝑆𝑠𝑦 = ( 2.12 )
2

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O caso mais comum de escoamento de um material dúctil, como o aço, é o deslizamento que
ocorre ao longo dos planos de contato dos cristais que, aleatoriamente ordenados, formam o próprio
material. Esse deslizamento deve-se a tensão de cisalhamento e, se fizermos um corpo de prova
Folhas de Apoio à unidade
com curricular
uma tira Elementos de Máquinas
fina altamente polida eI a submetermos a um
Conceitos
ensaio Básicos de Mecânica
de tração dos Materiais
simples poderá ser visto
como a tensão provoca o escoamento do material como está no esboço da Figura 1.

Figura1 - Escoamento do aço.

Figura 2.8 – Linhas


As linhas de corte
apresentadas a 45º num
na Figura ensaio de
1 mostram tração de
claramente osum aço.de deslizamento, que
planos
ocorrem a aproximadamente 45º do eixo da tira.
2.4.2. Critério da energia de distorção (von Mises)

Embora a teoria da tensão de corte máxima (tresca) forneça uma hipótese razoável para a cedência
em materiais dúcteis, a teoria da energia de distorção máxima (von Mises) correlaciona-se melhor com os 1
dados experimentais e, deste modo, é geralmente preferida. Nesta teoria, considera-se que a cedência
ocorre quando a energia associada à mudança de forma de um corpo sob carregamento multiaxial for igual
à energia de distorção num provete de tração, quando a cedência ocorre na tensão de cedência uniaxial
(𝑆𝑦 ).

Este critério, tal como o anterior também só é aplicável à falha por cedência. A falha ocorre sempre que a
energia de distorção verificada num ponto qualquer da peça considerada, atinja o valor da energia de
distorção presente no provete de tração quando este entra em cedência.

Para um estado geral de tensões principais a falha ocorre se a tensão máxima atingir a tensão de cedência:
1
(𝜎1 − 𝜎2 )2 + (𝜎2 − 𝜎3 )2 + (𝜎3 − 𝜎1 )2 2 ( 2.13 )
[ ] ≥ 𝑆𝑦
2

A equação equivalente de von-Mises para um estado tridimensional genérico é dada por:


1
𝜎 ′ = [𝜎𝑥 2 + 𝜎𝑦 2 + 𝜎𝑧 2 − 𝜎𝑥 𝜎𝑦 − 𝜎𝑦 𝜎𝑧 − 𝜎𝑧 𝜎𝑥 + 3(𝜏𝑥𝑦 2 + 𝜏𝑦𝑧 2 + 𝜏𝑥𝑧 2 )]2 ( 2.14 )

Para tensões planas a equação de von Mises vem dada por:


1 𝑆𝑦
𝜎 ′ = [𝜎𝑥 2 − 𝜎𝑥 𝜎𝑦 + 𝜎𝑦 2 + 3(𝜏𝑥𝑦 2 )]2 ≥ ( 2.15 )
𝑛

Para um estado de corte puro à cedência vem:

𝑆𝑦 𝑆𝑦
√3(𝜏𝑥𝑦 2 ) ≥ 𝑜𝑢 𝜏𝑥𝑦 ≥ ( 2.16 )
𝑛 √3𝑛

Onde a tensão de cedência ao corte é dada por:

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𝑆𝑦 𝑆𝑠𝑦
𝑆𝑠𝑦 = e 𝜏𝑥𝑦 ≥ ( 2.17 )
√3 𝑛

2.5. Anexo: Tabelas de propriedades mecânicas de alguns aços

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2.6. Exercícios de Aplicação Propostos

IP.1. Um veio de secção circular de alumínio 𝐴𝐼𝑆𝐼 2011 tem uma força 𝐹 axial aplicada ao longo
do eixo de 100𝑘𝑁.
Qual deve ser o diâmetro mínimo do veio, sabendo que o coeficiente de segurança pretendido é
de 2?

IP.2. Um veio de secção circular em aço AISI 1018 está sujeito à ação de uma força axial F de
22,5kN. Sabendo que o coeficiente de segurança é de 3. Qual deve ser o menor diâmetro, d, do
veio?
𝑭

IP.3. Um veio de secção circular de aço AISI 1144 está sujeito a uma força vertical F de 100kN
aplicada a 0,1m do encastramento. Qual deve ser o menor valor do raio do veio, r, sabendo que o
coeficiente de segurança é de 3 (despreze efeitos de concentração de tensões no
encastramento).

IP.4. Uma barra de aço AISI 1018 de secção rectangular 20 × 60mm está submetida a um
momento flector Mf . Sabendo que se pretende usar um coeficiente de segurança de 2, qual o
máximo momento flector que pode ser aplicado à barra?

𝑴𝒇 𝑴𝒇

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IP.5. Uma barra retangular oca em alumínio AISI 2011 está sujeita a um momento fletor numa
das extremidades e está encastrada na outra. Sabendo que se pretende usar um coeficiente de
segurança de 3, qual o valor do momento fletor máximo que pode ser aplicado? (despreze efeitos
de concentração de tensões no encastramento)
64

𝑴𝒇 104 120 𝑚𝑚

80

IP.6. Um veio de alumínio AISI 7075 está sujeito a um momento torsor de Mt = T = 5 Nm. O
coeficiente de segurança pretendido é de 3. Qual deve ser o diâmetro mínimo, D, do veio.

IP.7. Um veio oco de alumínio AISI 7075 está sujeito a um momento torsor, M𝑡 . O coeficiente de
segurança pretendido é de 3. Determinar qual o momento torsor máximo que pode ser aplicado:
a) Quando o veio tem um diâmetro exterior d𝑜 = 100mm, um diâmetro interior di = 50mm e
um comprimento 𝑙 = 250mm.
b) Quando o veio é maciço e do mesmo material com o mesmo peso e o mesmo
comprimento que o da alínea a).

𝑀𝑡
𝑀𝑡

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IP.8. Considere um veio de alumínio 7075, sujeito a um momento torsor de 5 N.m, tendo um
raio de 2 mm e um comprimento de 0.5 m. Sabendo que se pretende um coeficiente de segurança
de 3, verifique o veio através dos critérios de falha de Tresca e von Mises.

IP.9. A Máquina de ensaios biaxiais existente no IPS tem a capacidade de realizar ensaios a
provetes de materiais em duas direções distintas e perpendiculares. Assumindo que um provete
cruciforme (conforme figura) é tracionado na direção 1 com 20 kN, e na direção 2 com 10 kN,
determine a tensão de von Mises equivalente e a tensão de Tresca equivalente. Repita o exercício
com a força em 2 igual a 20 kN. A secção do provete é de 10 x 20 mm.

ESTSetúbal/IPS Página MM-18

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