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Ansiedade Conceitos Básicos 2024 Epokhé Ênio Brito Pinto
Ansiedade Conceitos Básicos 2024 Epokhé Ênio Brito Pinto
aspectos básicos
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“Vemos o comportamento das outras pessoas, mas não a sua experiência. Isto
levou alguns a insistirem em que a psicologia nada tem a ver com a experiência
do outro, e sim, exclusivamente, com o seu comportamento.
O comportamento do outro é uma experiência minha. O meu comportamento é
uma experiência do outro. É tarefa da fenomenologia social relacionar a minha
experiência do comportamento do outro com a experiência que o outro tem de
meu comportamento. Seu estudo é a relação entre experiência e experiência:
seu verdadeiro campo é a interexperiência.” )
(Laing, A política da Experiência e a Ave do Paraíso”
“Esses que me veem com essa calma de cemitério não imaginam que dentro de
mim há um terremoto” (Mário Quintana)
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A ansiedade é inerente ao ser humano.
A vivência dela é que vai variar segundo cada pessoa e segundo cada situação
O fator mais importante para que uma ansiedade seja vivida como saudável ou
não é a qualidade do contato que a pessoa tem consigo, com o ambiente e com
o fenômeno potencialmente gerador de ansiedade. 5
A vivência da ansiedade sofre também
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A ansiedade é uma vivência de sobressalto, ou, como a
define o Houaiss,
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A ansiedade sempre se manifesta primeiramente através da
corporeidade.
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Algumas manifestações corporais da ansiedade:
cada pessoa em cada época de sua vida tende a perceber sua ansiedade mais
claramente em um dado órgão corporal. Chamaremos aqui esse órgão de
“órgão mensageiro”.
Há a fantasia cultural de que se poderia viver sem ansiedade, e pior: que isso
seria bom!
Se ainda assim não é ouvida, fala mais alto, e mais alto, e mais alto,
até que alcance a polaridade da paralisação, fonte de intensos
sofrimentos. 28
Grosso modo, a ansiedade tem três raízes, as quais
podem ser combinadas:
Medo: há contato aqui e agora com um objeto que pode ser removido ou do qual se pode fugir.
Temos consciência do objeto e de nós mesmos, e, por isso, podemos escolher como nos
comportar.
A ansiedade não tem exatamente um objeto, mas se caracteriza mais por um vazio ou por uma
ameaça vaga à existência.
Há um pseudo-contato, apenas fantasiado, em que não percebemos (ou não temos como
perceber) nuances importantes de nós mesmos ou do ambiente no aqui e agora.
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critérios para a diferenciação (mais qualitativa que quantitativa) entre ansiedade e medo:
o medo é uma emoção ativa, nos impulsiona à ação, ao passo que a ansiedade
tende a gerar preparação, paralisação, impasse;
a ansiedade é mais primitiva que o medo, por isso uma das saídas dela é
alcançar o medo e então provocar ação;
Porque somos seres destinados à morte; porque todas as nossas habilidades não
têm a garantia de constância;
porque nosso ambiente sempre pode ser transtornado por fenômenos naturais
ou culturais;
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O tempo e a temporalidade
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A ansiedade e a temporalidade
Talvez o diálogo mais difícil entre Cronos e Kairós (Aión intermedeia os outros
dois deuses) em cada pessoa é aquele que se dá no dia a dia, que busca um bom
ritmo entre o tempo do ser e o tempo do fazer, as atividades que nos são
exigidas e o necessário tempo para contemplar, para deixar a vida fluir sem
obrigações, para o ócio criativo.
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A ansiedade e a temporalidade
Da mesma maneira, passado e futuro também não existem (santo Agostinho, 2015).
Por isso, penso que a ênfase nela deixa de lado uma das nossas melhores
qualidades, a possibilidade que temos de flutuar entre os tempos, indo do
presente para o passado, deste de volta para o presente ou em um salto indo
para o futuro, para depois voltar ao passado e de novo ao presente ou ao
futuro, num movimento sem fim que todos fazemos por toda a vida.
existenciais (futuro). 54
A ansiedade e a temporalidade
O que importa mesmo, então, é com que ritmo e com que sentido
transitamos pelos tempos, ou seja, como transitamos pelos tempos.
Dado que todo crescimento envolve uma perda e um risco, para que
haja crescimento é preciso que haja tensão, para que possamos nos
desenvolver a tensão é necessária.
Essa maneira varia de pessoa para pessoa, de época para época, de campo para campo, de
situação para situação e sempre será uma co-criação da pessoa com seu campo.
É sempre bom lembrar que o futuro não é uma boa morada, mas um ótimo lugar para se
visitar
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Nossa cultura atual é marcada pela pressa e pela tão
elogiada correria.
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Ansiedade e espacialidade
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Espacialidade
A ansiedade tem relação com a insegurança quanto à
ocupação de espaços, e temor com relação a espaços
novos.
SER UM CORPO
SER NO MUNDO
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Espacialidade e corporeidade:
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Na vivência da ansiedade o ground fica
modificado.
O elogio ao cansaço. 67
O corpo a ser modelado em vez de aceitado.
a beleza
expectativas quanto ao corpo
o desempenho corporal na espacialidade
o corpo herdado
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Espacialidade e corporeidade:
percepção corporal :
Ao caminhar, por exemplo, o contato dos pés com o solo provoca a percepção consciente
exteroceptivamente das características da superfície tocada, e a interocepção relativa ao
conforto, ou não, desse toque para a pessoa que caminha. (Brownell, 2018 [em Robine])
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Espacialidade, corporeidade, ansiedade:
ground
pernas e joelhos
quadril e genitalidade
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Espacialidade, corporeidade, ansiedade:
vísceras
abdome
costas
braços e ombros
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Espacialidade, corporeidade, ansiedade:
pescoço
cabeça
voz
nariz
ouvidos
olhos 74
Espacialidade, corporeidade, ansiedade:
pele
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Espacialidade, corporeidade, ansiedade:
intuição
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Espacialidade, corporeidade, temporalidade, ansiedade:
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Awareness
A sexualidade desafetada.
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Ansiedade: tentativa de síntese em 16 aspectos
relevantes
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01. A ansiedade é inalienável. Transita entre as polaridades
atualizadoras e as paralisadoras.
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13. a ansiedade tem 3 raízes mais importantes: nossa condição
abissal, a ameaça a valores importantes, a possibilidade de não ter
competência para alguma tarefa importante.
Paradoxo: a obediência precisa ser um ato de liberdade para que seja integrada e
livre da ansiedade patológica. A obediência sadia precisa da desobediência.
Etimologia: obedecer quer dizer dar ouvidos, estar atento ao que o outro diz.
Isso permite sair do lugar comum e – quem sabe? – encontrar o lugar da verdadeira
obediência. Permite também compreender que a boa obediência precisa conviver
com a possibilidade da desobediência.
Lugar comum: obediência no sentido de que aquilo que o outro diz é para ser
cumprido.
Um preceito que dura há séculos tem que continuar a ser obedecido mesmo que haja novos conhecimentos ou outras
possibilidades hermenêuticas. É o lugar do tradicionalismo – mas não da tradição, pois esta se renova ao longo das gerações.
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A obediência acrítica tem muito espaço em nosso mundo, alimentando principalmente
religiões e autoritarismos que buscam principalmente o poder sobre, a possibilidade
de manter as outras pessoas submetidas e ansiosas.
a introjeção tende a gerar um dever. Em um movimento saudável, essa introjeção é seguida por uma
configuração e uma moldagem que possibilitará a apropriação dela ou de parte dela. A moldagem gera
a obediência autônoma.
O final deste processo é ditado pela confluência, a possibilidade da formação da vivência do nós (eu
mais outra ou outras pessoas) que traz a chance do compromisso e da lida com a ansiedade
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saudável.
Assim a desobediência mais madura parte da obediência, pois a pessoa ouve o
que se lhe pede, dá ouvidos a aquele que traz a ordem. E questiona. Pergunta e,
mais que isso, pergunta-se. Considera o que o outro lhe ordena, mas se orienta
principalmente pelo que lhe diz seu corpo, base de sua sabedoria.
Quando conseguimos realizar tarefas com compromisso (moldagem e sentido) nos tornamos mais
concentrados, mais harmônicos, vivendo, quando muito, a ansiedade saudável, e também a excitação
do crescimento criativo, a possibilidade de brincar. 99
diálogo entre ansiedade e liberdade: a obediência libertadora
quando a pessoa vive uma liberdade excessiva, quando não consegue reconhecer e
validar fronteiras de contato, quando não sente que tem suficiente suporte ambiental,
essa vivência pode levar a uma ansiedade patológica, que pode provocar condutas
invasivas, isolamento, agressões e até depressões.
previsibilidade.
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Esse ritmo entre mudança criativa e permanência asseguradora que percebemos em
grupos e em indivíduos produz ansiedade.
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Nosso mundo de hoje em dia é um mundo em que a pausa, a
solidão, a contemplação não têm espaço suficiente.
Horror ao silêncio.
A virtualização da vida.
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Nos meus apontamentos sobre essa relação entre ansiedade
patológica e pausa em meus clientes, não faltam exemplos.
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A boa liberdade, a liberdade livre da ansiedade patológica, é um rio que,
margeado por bons e autônomos valores, corre em direção a um
horizonte plausível e inalcançável.