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Obra

“Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no extenuante


trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou,
se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem,
e outras não menos arriscadas acrobacias(…)”
— Saramago, A Jangada de Pedra, 1986

José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de tradição oral
populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correcção
ortográfica de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral,
predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem
sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim,
utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não
convencional; os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os
antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação
das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a
confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas
frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos
escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam
capítulos inteiros de outros autores.[10]
Estas características tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea,
sendo considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Em
2003, o crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One
Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes
Criativas", tradução livre), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo
nos dias de hoje",[15] referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é
"um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".[10]
Obras publicadas
Romances

 Terra do Pecado, 1947


 Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
 Levantado do Chão, 1980
 Memorial do Convento, 1982
 O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
 A Jangada de Pedra, 1986
 História do Cerco de Lisboa, 1989
 O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
 Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
 Todos os Nomes, 1997
 A Caverna, 2000
 O Homem Duplicado, 2002
 Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
 As Intermitências da Morte, 2005
 A Viagem do Elefante, 2008
 Caim, 2009
 Claraboia, 2011
 Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, 2014
Crónicas

Deste Mundo e do Outro, 1971

A Bagagem do Viajante, 1973

As Opiniões que o DL Teve, 1974
Peças teatrais

 A Noite, 1979
 Que Farei com Este Livro?, 1980
 A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987
 In Nomine Dei, 1993
 Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005
Contos

 Objecto Quase, 1978


 Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
 O Conto da Ilha Desconhecida, 1997
Poesia


Os Poemas Possíveis, 1966

Provavelmente Alegria, 1970

O Ano de 1993, 1975
Diário e Memórias

 Cadernos de Lanzarote (I-V), 1994


 As Pequenas Memórias, 2006
 Último Caderno de Lanzarote, 2018
Infantil

 A Maior Flor do Mundo, 2001


 O Silêncio da Água, 2011
 O Lagarto, 2016
Viagens

 Viagem a Portugal, 1983


Outros

 O Caderno: textos escritos para o blog. Setembro 2008- Março 2009, 2009
Prémios
Entre as premiações destacam-se o Prémio Camões (1995) [16]– distinção máxima
oferecida aos escritores de língua portuguesa, e o Nobel de Literatura (1998), [17] o primeiro
concedido a um escritor de língua portuguesa.

Política

José Saramago numa iniciativa do PCP


Militante do Partido Comunista Português
José Saramago aderiu ao Partido Comunista Português em 1969,[18] pertencendo à
Organização dos Intelectuais de Lisboa do PCP, e tornando-se após a Revolução dos
Cravos membro da então criada Célula dos Escritores do Sector Intelectual de Lisboa.
Nas Eleições autárquicas portuguesas de 1989 é candidato pelo Partido Comunista na
lista da coligação Por Lisboa, sendo eleito Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.
Em todas as Eleições europeias desde 1987, quando Portugal integrou a União Europeia,
até 2009, última eleição antes do seu falecimento, José Saramago foi candidato a
deputado no Parlamento Europeu pela Coligação Democrática Unitária, ocupando, porém,
posições que tornavam virtualmente impossível a sua eleição.[19]
“"Marx nunca teve tanta razão como hoje."[20]”
— José Saramago, Público, 15/06/2008

Em 1998, quando aterra em Lisboa regressado da cerimónia de atribuição do Prémio


Nobel da Literatura, José Saramago desloca-se diretamente ao Centro de Trabalho Vitória
do PCP na Avenida da Liberdade onde é recebido por uma homenagem e simbolicamente
segue com a comitiva deste partido para a ação de protesto no Terreiro do Paço contra as
medidas laborais anunciadas pelo Governo.[21] Participante regular das jornadas de
trabalho de construção da Festa do Avante! todos os verões, viria anos mais tarde neste
evento a ser protagonista das homenagens oficiais nos aniversários dos dez e dos vinte
anos da atribuição do prémio Nobel à sua obra.
Polémicas
Separar controvérsias numa se(c)ção específica pode não ser
a melhor maneira de se estruturar um artigo, pois pode
gerar peso indevido para pontos de vista negativos. Se
possível, integre o conteúdo ao corpo do texto. (Outubro de 2021)
Diretor-Adjunto do Diário de Notícias
Após a Revolução dos Cravos, no dia 25 de abril de 1974, José Saramago ingressa na
direcção do Diário de Notícias como adjunto do director Luís de Barros. Desde logo tornou
claro que pretendia utilizar o posto concedido como ferramenta política no intuito de tornar
Portugal um estado socialista: "O DN vai ser o instrumento, nas mãos do povo português,
para a construção do socialismo."[carece de fontes]
Com a nacionalização do jornal, após o 11 de Março de 1975, o jornal remodelou a sua
direcção. Saramago manteve o seu cargo, mas para efeitos práticos, as suas funções
assemelhavam-se mais ao cargo de director do que director-adjunto. Entre Abril e
Novembro do mesmo ano, redigiu cerca de 95 textos na primeira página sob o título de
"Apontamentos", que acabavam por funcionar como editoriais do jornal. Nestes textos era
possível denotar fortes críticas a Mário Soares, Freitas do Amaral, entre outros, e rasgados
elogios a dirigentes conotados com o ideário comunista dos quais se destacam Vasco
Gonçalves.[carece de fontes]
Estes textos não eram assinados, e por uma só vez surge a assinatura de José Saramago
junto com a de Luís de Barros, nas páginas do DN num texto intitulado "Uma Direcção
Nova" e publicado a 11 de Abril: "O DN é importante de mais para que os seus
trabalhadores aceitem vê-lo transformar-se em feudo de alguém. Esta Casa precisa de
todos e será obra de todos". Contrariando estas palavras, 22 jornalistas serão despedidos
a 27 de Agosto por delito de opinião. "Informação revolucionária não se faz com jornalistas
contra-revolucionários. Por isso, os que o eram foram afastados", explicará o DN, a 4 de
Setembro, em prosa não assinada.[carece de fontes]
Entre os vários textos que escreveu, nunca escondeu que acreditava na instauração de
regime socialista recorrendo à força das armas. São dele as afirmações: "Ou esta
Revolução se suicida (...) ou se recupera pela única via que lhe deixam aqueles que a
querem liquidar", "a violência revolucionária é uma legítima defesa quando está em causa
a vida e o futuro de um povo inteiro" e "O regresso aos quartéis, que alguns teimam em
preconizar, nada resolveria as Forças Armadas, tendo sido MFA no seu sector
progressista, não podem recuperar neutralidades utópicas: mais vale, portanto, que,
mesmo em conflito, continuem no primeiro plano da acção política. Mas cuidado, o tempo
não espera". Estas afirmações consistiam num apelo implícito ao golpe militar, que poderia
mergulhar o país na guerra civil como preço a pagar para que continuasse a ser o povo a
determinar os destinos do país. De facto, no dia seguinte à publicação destas afirmações,
25 de Novembro de 1975, sectores da esquerda radical levam a cabo uma tentativa de
golpe de estado falhada, assinalando também o fim da influência de Saramago no DN.[22]
Críticas a Israel e acusações de anti-semitismo
Um caso que tem tido alguma repercussão relacionou-se com a posição crítica do autor
em relação à posição de Israel no conflito contra os palestinianos. Por exemplo, a 13 de
Outubro de 2003, numa visita a São Paulo, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que
os sionistas não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante
o Holocausto… Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo
o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam
nada com o sofrimento dos seus pais e avós. A Anti-Defamation League (ADL) (Liga Anti-
Difamação), um grupo judaico de defesa dos direitos civis, caracterizou estes comentários
como sendo anti-semitas. Segundo as palavras de Abraham Foxman, director da ADL, "os
comentários de José Saramago são incendiários, profundamente ofensivos e mostram
uma ignorância destes assuntos, o que sugere um preconceito contra os judeus". [carece de fontes]
Em defesa de Saramago, diversos autores afirmam que ele não se insurgiu contra os
judeus, mas contra a política de Israel, como, por exemplo, num artigo publicado a 3 de
Maio de 2002 no jornal Público, onde, comparando o actual conflito com a cena bíblica de
Davi e Golias, o autor diz que Davi, representando Israel, "se tornou num novo Golias" e
que aquele "lírico Davi que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura
gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a "poética"
mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinianos para depois negociar
com o que deles restar".[carece de fontes]
Integração de Portugal numa Federação Ibérica
Em entrevista ao jornal Diário de Notícias em 15 de Julho de 2007, Saramago afirmou que
a integração entre Espanha e Portugal é uma forte probabilidade e que os portugueses só
teriam a ganhar se Portugal fosse integrado na Espanha, país no qual se auto-exilou (na
ilha de Lanzarote) e que viu como seu a atribuição do Nobel da Literatura.[carece de fontes]
Acerca do prémio Nobel
Em Setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo,
contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo
nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário
na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de
Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a
televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.[carece de fontes]
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano
Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de
1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de
1998, Saramago recebe em Estocolmo.[carece de fontes]
Segundo o Diário de Notícias, o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou:
"Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão
consistia em mudar essa situação".[carece de fontes]
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que
a decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos
ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".[carece de fontes]
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram
que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências
publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo
ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.[carece de fontes]
Religião
Oposição à Igreja Católica

Saramago por Bottelho


Saramago encontrou sempre fortes críticas e oposição na Igreja Católica, facto pelo qual
ele se refere a esta como "fascista" com frequência. Alguns protestantes (ou evangélicos)
já declararam publicamente apoiar a liberdade de expressão do autor.[23] E essa relação de
tensão com a Igreja Católica é agravada devido à origem portuguesa de Saramago, local
onde o catolicismo é muito forte e discuti-lo ainda é um tabu.[24]
Devido à sua origem portuguesa e a toda a influência cultural exercida pelo catolicismo em
tal contexto, Saramago sente a necessidade de abordar a Bíblia no seu trabalho de
escritor — esse texto faz parte do seu património cultural, ao contrário do corão, que
Saramago entende não ser a sua tarefa abordá-lo.[25]
A interpretação que Saramago faz da Bíblia é a de que ela é um "manual de maus
costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana", e que para
uma pessoa comum a decifrar, precisaria de ter "um teólogo ao lado". E cita para sustentar
isso os episódios de violência relatados na Bíblia, como sacrifício de Isaque, a destruição
de Sodoma ou a vida de Jó, por exemplo. Para Saramago, todos eles revelam que "Deus
não é de fiar". E Saramago diz, sobre a necessidade ou não da exegese, que tem que
"interpretar a letra" do texto — um processo que, na interpretação bíblica, é chamado de
literalista.[25] E isso de modo algum impede que outra pessoa tenha a sua interpretação, ou
que ele tente impor a sua interpretação como verdade absoluta. Muito pelo contrário, ele
até mesmo estimula a leitura bíblica: "Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a Bíblia e
perde a fé!", diz Saramago.[carece de fontes]
Porém, Saramago não deixa de reconhecer que a "Bíblia tem coisas admiráveis do ponto
de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler", estando, dentre elas, os salmos, com
páginas "belíssimas", o Cântico dos Cânticos, e a parábola do semeador contada por
Jesus.[25]
A relação de tensão de Saramago com a Igreja Católica cresceu fortemente após a
publicação do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo em 1991, que foi adaptado para o
teatro em 2001. O livro foi motivo de fortes críticas por parte de católicos que se
consideraram ofendidos pela leitura secular que Saramago faz da personagem Jesus. [26][27]
A Igreja Católica não gostou da atribuição do Prémio Nobel a Saramago e publicou no
diário do Vaticano, L'Osservatore Romano: "Saramago é, ideologicamente, um comunista
inveterado".[28]
O lançamento do livro Caim (2009) voltou a suscitar "incompreensões, resistência, ódios
velhos", conforme Saramago. "Desperto muitos anticorpos em certas pessoas",
acrescenta, acusando várias vezes responsáveis da Igreja Católica (mas
não protestantes ou judeus) de terem comentado o livro que ainda não leram — de facto,
as pessoas foram instadas a comentar as declarações sobre a Bíblia, feitas por Saramago.
[25]
E, realmente, após o lançamento de Caim, várias vozes católicas se insurgiram contra
Saramago. Ele foi acusado pelo padre José Tolentino Mendonça, director do Secretariado
Nacional da Pastoral da Cultura, de fazer uma leitura "ingénua, ideológica e manipuladora"
da Bíblia. O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, afirmou que José Saramago "revela uma
ingenuidade confrangedora quando faz incursões bíblicas" e, como "exigência intelectual,
deveria informar-se antes de escrever". Já o director da Faculdade de Teologia
da Universidade Católica de Lisboa, Peter Stilwell, considera que "seria espantoso" que
José Saramago encontrasse algo divino na Bíblia e sublinhou que o escritor escolheu o
fratricida Caim e não Abel, a vítima.[carece de fontes]
O teólogo Anselmo Borges inicialmente afirmou que Saramago fez uma leitura
"completamente unilateral" da Bíblia, que tem, como qualquer livro, de ser lida como um
todo.[29] Mais tarde, tal teólogo declarou ter opinião formada sobre Caim: "Gostei do livro e
até digo que é importante." Dá três razões para justificar a sua opinião: a "Bíblia é um livro
aberto; há liberdade de interpretação e obriga os crentes a reflectir". [24] Para o biblista
Fernando Ventura, José Saramago tinha a exigência intelectual de se informar antes de
escrever. O religioso capuchinho referiu que "a Bíblia pode ser lida por alguém que não
tem fé, mas supõe alguma honestidade intelectual de quem o lê", e acusou Saramago de
"uma falta gigantesca" dessa honestidade.[carece de fontes]
Sobre tais afirmações, Saramago, com sarcasmo, disse: "Dizem que li a Bíblia com
ingenuidade porque é necessário fazer uma interpretação simbólica, ou seja, aquilo que ali
está escrito não tem sentido por si. E levou mil anos a ser escrito!".[30] Ainda sobre a
alegação de "ingenuidade", respondeu: "Abençoada ingenuidade que me permitiu ler o que
lá está e não qualquer operação de prestidigitação, dessas em que a exegese é pródiga,
forçando as palavras a dizerem apenas o que interessa à Igreja. Leio e falo sobre o que
leio".[31]
É também por esses comentários que Saramago diz que os católicos "não leem a Bíblia".
[32]

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