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Forca Muscular
Forca Muscular
Neurologia
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PREFÁCIO
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Exame do Sistema Motor
Introdução ao sistema motor
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Figura 1.
Força muscular
Como já foi dito a diminuição da força muscular é o sinal motor mais importante
e está quase sempre associada com doenças dos neurónios central (1º),
periférico (2º) ou dos músculos/junção neuromuscular.
De um modo geral, os doentes estão conscientes dessa debilidade, mas a
maneira de se referirem a ela e de se queixarem é muito diversa. Podem
descrevê-la como dificuldade em manipular objectos, impossibilidade de
levantar os membros superiores acima da cabeça, dificuldade em levantar-se
da cadeira ou da cama, cansaço fácil ou arrastamento dos membros inferiores
durante a marcha. Alguns doentes descrevem a debilidade em termos bem
menos precisos. Na maior parte dos casos as suas queixas sugerem
erradamente alterações de sensibilidade – “dormência”, “encortiçamento”,
“peso”.
O grau de fraqueza depende da intensidade e extensão da lesão: quando é
parcial diz-se que há “parésia”, e gradua-se de acordo com um código de
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adequado. A tabela que tem maior aceitação internacional foi proposta pelo
Medical Research Council em 1943 (fig. 2).
Figura 2.
É a distribuição dos defeitos motores que permite presumir a sua origem TL,
consoante os segmentos atingidos (a face, o membro superior e o membro
inferior) (1) e ainda determinados grupos musculares (2).
(1) A extensão dos deficites motores, por ordem de probabilidade decrescente,
podem indicar uma lesão da via piramidal, parésias que atinjam:
• a face, o membro superior e o membro inferior do mesmo lado
• a face e o membro superior do mesmo lado
• membro superior e inferior do mesmo lado
• os quatro membros (a face conservada)
• um só membro
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(2) A distribuição dos deficites pelos grupos musculares de cada um daqueles
segmentos (ie. flexores, extensores, pronadores, supinadores) pode ser
diferente e também com valor localizador. Este atingimento diferenciado dos
vários grupos musculares por uma lesão TL é mais pronunciado nos grupos
musculares que fazem a extensão do antebraço, mão e dedos e, no membro
inferior, nos grupos musculares flexores. Os grupos musculares mais
preservados (ie. os flexores no membro superior e os extensores no membro
inferior) são designados por “anti-gravitários” e, na verdade, este atingimento
diferenciado dos segmentos musculares em lesões TL parece ser
filogeneticamente determinado: permite uma posição com maior potencial de
uso funcional do membro superior e, sobretudo, assegura uma postura erecta,
uma conquista evolutiva dos primatas.
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• Um défice de força com um padrão segmentar mais restrito indica uma lesão
de uma raíz ou de um nervo periférico; por exemplo uma falta de força selectiva
na flexão do hallux e do pé pode corresponder a uma lesão da raíz de L5 ou do
nervo peroneal profundo, mas só a primeira compromete igualmente o
movimento de inversão do pé - um bom sinal localizador.
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• Nunca deixar de notar da existência de um estado doloroso ou defeito
mecânico (anquilose) que impeça o movimento.
• Não fazer, nem deixar que o doente faça, movimentos bruscos ou oscilantes.
Figura 3.
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periférica. No caso de ausência de paralisia facial os lábios elevam-se de modo
simétrico e descobrem, à direita e à esquerda, o mesmo número de dentes. De
igual modo o encerramento dos olhos e a elevação das sobrancelhas são
simétricos (videoclipe 2). No videoclipe 3, o doente apresenta uma parésia
facial esquerda central, evidente pelo apagamento do sulco nasolabial
esquerdo, e incapacidade em deixar a descoberto os dentes desse lado. O
doente consegue no entanto uma oclusão do olho do lado parético (que muits
vezes pode ser imperfeita, deixando ver as pestanas – o chamado “sinal da
pestana”) e eleva simetricamente as sobrancelhas. Caso se trate de uma
parésia facial periférica (do nervo facial), como exemplificado no videoclipe 4,
a sobrancelha do lado da parésia encontra-se numa posição inferior e/ou não é
elevada com a mesma amplitude que a sobrancelha contralateral.
Adicionalmente não existirá qualquer oclusão (a pálpebra permanece aberta) e
o esforço de cerrar os olhos poderá originar uma sincinésia muito característica
com um desvio superior do olho – o chamado “sinal de Bell”. A incapacidade em
deixar a descoberto os dentes desse lado é marcada.
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• Independentemente de um músculo ser forte ou fraco a sua posição de maior
ou menor estiramento determina a quantidade de esforço que é capaz de
exercer. Um músculo em estado de estiramento máximo encontra-se
prejudicado e, pelo contrário, um músculo com as suas fibras em encurtamento
máximo está nas condições mais favoráveis. Em termos práticos tal significa que
um músculo fraco tem de ser avaliado em condições de algum favorecimento
relativamente a um músculo forte e que os membros do paciente devem ser
testados na posição correcta.
• O modo como o médico contraria o doente, nomeadamente o
comprimento da alavanca determina a vantagem que médico escolhe para si;
esta vantagem é máxima se avaliação de um movimento for feita num ponto tão
afastado quanto possível da articulação que está a ser mobilizada (um longo
braço de alavanca).
• A valorização crítica dos resultados obriga à ponderação das características
do doente em avaliação a qual deverá inevitavelmente atender ao género, idade
e estado de saúde geral do doente.
1. Extensão do antebraço
2. Extensão da mão
Os músculos extensores da mão são débeis e devem, por isso, ser colocados
na posição que lhes é mais favorável. A posição mais favorável é com a mão
em dorsiflexão forçada e, portanto, com os músculos em posição de
encurtamento máximo. A partir dessa posição o médico convida o doente a
sustentar a postura ao mesmo tempo que tenta, ele próprio, desfazer-lhe a
dorsiflexão da mão. É sobre o dorso da mão, e não sobre os dedos do doente,
que o médico deve exercer força, sendo o doente incentivado a manter a mão
“para trás”. Neste caso, o doente não faz um movimento contra resistência. Esse
tipo de técnica, em que o doente não faz um movimento mas sim a sustentação
da postura adquirida previamente com esse movimento, é usada na avaliação
de todos os músculos fracos.
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têm função antigravitária), e seriam os mais imediatamente atingidos no caso de
existir uma lesão TL; no caso de uma lesão TS seriam, obviamente, tão
afectados como os outros.
3. Flexão do antebraço
4. Flexão da mão
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1. Flexão da coxa
Os flexores da coxa são musculos relativamente fortes e por isso deve ser-lhes
proporcionado um pequeno grau de flexão inicial - 30° a partir do plano do leito.
O médico colocará uma das suas mãos por baixo do tendão de Aquiles, o que
evitará a flexão pelo joelho e ajudará à manutenção do ângulo desejável, e a
outra mão sobre a coxa, logo acima do joelho, com a função de contrariar o
movimento do doente. Assim dispostos, pede-se ao doente para flectir a coxa
exercendo a força de um modo contínuo ao mesmo tempo que o médico
contraria o movimento. Nos casos em que o doente tem uma compleição física
superior à do médico, este pode usar o peso do corpo para impedir o movimento
do doente.
2. Dorsiflexão do pé
3. Extensão da coxa
4. Flexão plantar do pé
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Os raciocínios a fazer e as conclusões a retirar do que for observado são
similares ao que foi exposto para o exame da força nos membros
superiores. A confirmação de um deficite nos extensores da coxa e
flexores plantares do pé, comparável ao deficite observado nos
movimentos opostos, favorece a possibilidade de uma lesão TS, ou seja,
de uma doença afectando o sistema nervoso periférico ou os músculos. A
ausência de fraqueza, ou uma fraqueza muito menos acentuada nos
extensores da coxa e flexores plantares do pé, favorece a possibilidade
uma lesão TL. Como já mencionado para o membro superior, este
raciocínio não se aplica na fase inicial de uma lesão aguda TL que promova
parésia grave ou paralisia.
O exame do sistema motor poderá ser guiado por algumas provas deficitárias
mais holísticas. Estas baseiam-se numa comparação entre os dois hemicorpos
(fraqueza assimétrica) e aproveitam o atingimento diferenciado que resulta de
uma lesão TL (uma fraqueza que poupa mais os músculos antigravitários e, no
membro superior, a pronação). Dissemos anteriormente que este padrão é
filogeneticamente determinado e por isso inesperado para o doente, pelo que
estas manobras poderão ainda ser úteis para revelar uma resposta manipulativa
do doente nos casos de somatização ou simulação. Trata-se de manobras muito
sensíveis e específicas, mas que como veremos só podem ser realizadas em
doentes com graus discretos de parésia (capacidade para vencer a gravidade,
ie. ≥ grau 3)
Prova de Barré:
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são que se mantém estendido na posição inicial. Ainda que a prova de Barré
seja uma prova sensível para a detecção de fraqueza de origem TL no membro
inferior, nem sempre é exequível em doentes menos colaborantes, pelo que as
provas das pernas estendidas ou a de Mingazzini (ver abaixo) são mais
frequentemente realizadas.
Prova de Mingazzini:
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movimentos referidos no ponto anterior -, ou com características TS -
compromisso semelhante em todos os grupos musculares.
Vieira Barbosa
João lemos
Isabel Santana
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ANEXO 1
1. Pescoço e cabeça
Figura A1.
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após a sua emergência. Pela mesma razão, a sua dependência de um dos pares
craneanos, os movimentos cefálicos tendem a ficar preservados na
generalidade dos processos neuropáticos. Correlativamente, num doente com
diminuição da força muscular mais ou menos generalizada, a presença de
envolvimento dos movimentos da cabeça suporta a possibilidade de uma
doença muscular e/ou uma doença sistémica com envolvimento neurológico.
2. Ombro
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Figura A2.
21
Figura A3.
Figura A4.
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par transporta algumas fibras do sistema nervoso autónomo que acabarão por
ser distribuídas com o X par – daí o outro nome porque também é conhecido,
“acessório”.
3. Membro superior
Figura A5.
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nos membros inferiores. Objectivo: verificar se o sofrimento cervical se limita às
raízes ou existe também compressão medular.
Figura A6.
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Figura A7.
Figura A8.
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Figura A9.
Figura A10.
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4. Tronco
Figura A11-
5. Membro inferior
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Figura A12.
Figura A13.
Figura A14.
Figura A15.
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Este tipo de patologia é muito comum, quer lhe chamem radiculopatia
compressiva, “hérnia discal” ou “ciática”. Na maior parte dos casos o tratamento
é conservador, mas o aparecimento de compromisso funcional associado a uma
radiculopatia é um dos sinais de alarme para a necessidade de uma atitude
menos expectante – conforme será dito na altura adequada.
Figura A16.
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Este último movimento apresentado, a dorsiflexão de um dedo do pé, é um
pequeno movimento que as pessoas quase ignoram ser capazes de fazer
porque não entra na gama usual de acções motoras voluntárias. Não serve,
assim de repente, para coisa nenhuma. O 1º dedo, mesmo sendo o dedo grande
do pé, continua a ser uma estrutura pequena e quase dispensável… Apesar
disso a informação que se deduz do seu exame pode ser importante, e ilustra o
tipo de problemas a que o exame motor exaustivo se dirige. Na maioria dos
casos em que a dorsiflexão do hallux é testada a convicção de que o doente terá
uma localização TS é muito grande: a discussão já saiu da grande praça pública
onde se confrontam as localizações TL e TS, está confinada ao vão de escada
onde um raiz entre muitas se opõe a um nervo obscuro.
O quadro A1 resume os músculos e a enervação envolvidos nos principais
movimentos testados pelo exame neurológico, aqueles que foram explanados
neste capítulo, outros mais comuns que constam do capítulo anterior, e um ou
outro que não foi ainda citado.
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Quadro A1.
Figura A17.
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possa ser extraído um denominador comum – isto é, é identificar a única ou
únicas estruturas que aparecem sempre implicadas nos deficites encontrados.
O modo de interpretar os resultados de um exame deste tipo não anda muito
distante da resolução de um problema policial: identificar os movimento ou
acções que estão alterados e indagar qual é a estrutura, nervo(s) ou raíz(es)
que aparece(m) sempre relacionada(s) com os movimentos deficitários. Os
defeitos motores serão, como se imagina, os vários crimes, e a estrutura que
aparece sempre no local do crime deve ser o culpado.
Não é fácil muitas vezes resolver problemas desse género. Mesmo um
neurologista treinado pode ter dúvidas quanto às conclusões a que vai
chegando. A intenção deste capítulo é aproximar o médico não-neurologista da
realidade funcional do sistema nervoso, esclarecer um pouco mais a natureza
do método dedutivo em Neurologia, e permitir-lhe, se assim se atrever, chegar
a um diagnóstico brilhante. Recomenda-se neste caso ter à mão um bom livro
de semiologia (este) e anotar rigorosamente, num papel se necessário, os
achados do exame. Terá de se ver depois se todos esses elementos se
articulam como peças de um puzzle perfeito, e voltar a ver-se, para não haver
enganos.
Vieira Barbosa
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