Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MURILO DE MARCO
AVALIAÇÃO
NEUROLÓGICA DA
COLUNA LOMBAR
GUIA PRÁTICO PARA O FISIOTERAPEUTA
CONHEÇA O AUTOR
ENTRAR NO GRUPO
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
2. AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE ................................................................................. 4
3. AVALIAÇÃO DA FORÇA .............................................................................................. 6
4. AVALIAÇÃO DOS REFLEXOS ....................................................................................... 9
5. TESTES NEURODINÂMICOS ..................................................................................... 12
6. DICAS GERAIS PARA INTERPRETAÇÃO DO EXAME NEUROLÓGICO: ....................... 16
7. SÍNDROME DA CAUDA EQUINA .............................................................................. 17
8. QUANDO OS EXAMES DE IMAGEM SÃO REALMENTE NECESSÁRIOS? ................... 18
9. QUANDO A CIRURGIA É REALMENTE NECESSÁRIA? ............................................... 19
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 21
4
1. INTRODUÇÃO
Apesar de ser frequentemente negligenciado pelos Fisioterapeutas, o exame
neurológico é um passo indispensável da avaliação de pacientes com dor na coluna que
visa responder uma série de perguntas altamente relevantes, tais como: Qual é o status
neurológico do paciente? Existe algum sinal de perigo ou comprometimento
neurológico importante? Posso atender este paciente com segurança ou devo
encaminhá-lo para o médico? A dor relatada pelo paciente é de origem neural? A
cirurgia é realmente necessária?
Além disso, em pacientes com hérnia de disco ou radiculopatia sintomáticas, o
status neurológico é o principal parâmetro a ser monitorado durante o tratamento para
acompanhar a evolução do quadro clínico. Nestes pacientes, o primeiro objetivo do
tratamento é reverter ou evitar perdas neurológicas. Assim sendo, é fundamental que o
Fisioterapeuta esteja apto a realizar e interpretar uma avaliação neurológica completa
em seus pacientes com dores na coluna vertebral.
Um exame neurológico completo, deve ser composto por quatro etapas:
avaliação da sensibilidade, avaliação da força, avaliação dos reflexos e testes
neurodinâmicos. A seguir, detalharemos cada uma destas etapas.
2. AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE
Nosso sistema sensorial possui diferentes formas de sensibilidade: profunda,
superficial, térmica, dolorosa, etc. No exame neurológico de pacientes com dor na
coluna, a análise da sensibilidade superficial (tátil) costuma ser a mais utilizada.
Para avaliar a sensibilidade superficial, deve-se realizar estímulos táteis não
dolorosos sobre a pele na área de dor referida no membro inferior e/ou no dermátomo
que queremos avaliar. O estímulo tátil pode ser feito com um algodão, pincel ou mesmo
com a mão e o paciente deve manter os olhos fechados durante o teste.
3. AVALIAÇÃO DA FORÇA
A avaliação da força muscular é um passo importante do exame neurológico, que
nos informará se o paciente apresenta déficits motores. Um dos achados mais
importantes em pacientes com hérnia de disco ou radiculopatia e que deve ser
constantemente monitorado.
Para avaliar a força, iremos realizar testes manuais resistidos para cada um dos
miótomos do membro inferior. Miótomos, são os músculos inervados pelos nervos
7
oriundos de uma determinada raiz neural. Assim, quando testamos a força de um grupo
muscular, estamos testando a integridade das raízes que o inervam. Miótomos do
membro inferior:
• Flexores do Quadril (L1 e L2)
• Extensores do Joelho (L2, L3 e L4)
• Dorsiflexores (L4 e L5)
• Extensor do Hálux (L5)
• Plantiflexores (S1-S2)
O grau 4 pode ainda ser subdividido em: 4+ (contra forte resistência); 4 (contra
resistência moderada) e 4- (contra resistência leve).
Déficits motores podem ser causados tanto por disfunções do S.N.P, quanto do
S.N.C., mas, assim como para a sensibilidade, alterações isoladas costumam ser
consequência de disfunções do S.N.P.
Para avaliar estes reflexos é bastante simples, basta realizar uma percussão
diretamente no tendão patelar ou aquileu.
Os reflexos tendinosos podem ser graduados como: normal, arreflexia (ausência
de reflexo), hiporreflexia (reflexo diminuído), reflexo vivo (reflexo amplo e brusco,
obtido com facilidade) ou hiperreflexia (o reflexo é amplo e brusco, com uma percussão
ocorrem várias contrações e existe aumento da área reflexógena, ou seja, o reflexo é
10
Avaliação do clônus
Nota: Em minha prática clínica, por segurança, costumo realizar o teste de Hoffman e
clônus rotineiramente, mesmo na ausência de hiperreflexia. Quando existe maior
suspeita de envolvimento do S.N.C, complemento a avaliação com o teste de Babinski.
5. TESTES NEURODINÂMICOS
A última etapa do exame neurológico será composta pelos testes
neurodinâmicos. Estes testes avaliam a mecanosensibilidade do tecido neural, por meio
de manobras que induzem tensão no trajeto do nervo e nas raízes neurais. O principal
objetivo, é analisar se durante o teste os sintomas relatados pelo paciente são
reproduzidos de maneira clara. Quando isso ocorre, os testes neurodinâmicos são
considerados positivos e indicam que o sintoma é de origem neural (neurogênico).
Em alguns testes, também é possível realizar manobras de diferenciação
estrutural para tentar isolar a resposta neural e diminuir a influência das estruturas
musculoesqueléticas, que podem confundir a interpretação do teste. Assim, quando a
diferenciação estrutural é positiva, temos uma indicação ainda mais clara de que a dor
é, realmente, neurogênica.
Para compreender melhor a mecânica dos testes neurodinâmicos e das
manobras de diferenciação estrutural, é importante lembrar que o sistema nervoso
segue um continuum anatômico íntegro, desde sua parte central (cérebro e medula) até
os nervos periféricos mais distais (imagem 3). Desta forma, a tensão imposta em uma
extremidade do sistema neural, pode refletir em seu outro extremo.
Teste de Slump
No teste de Slump, todo o eixo central neuromeníngeo, as raízes lombares e o
trajeto do nervo ciático (principalmente o nervo tibial, que percorre posteriormente a
panturrilha) são tensionados. Assim, este teste pode ser utilizado tanto para avaliar
dores restritas à coluna lombar, como também dores referidas na face posterior de todo
o membro inferior, desde o glúteo até o pé.
Assim como nos demais testes, para melhor entendimento das respostas, é
importante comparar os achados do lado sintomático com o lado assintomático.
1º 2º
Teste de slump
Clique na imagem para reproduzir
defendem que o teste deve ser considerado positivo se os sintomas forem reproduzidos
nos primeiros 30° de elevação da perna, outros relatam que o sintoma deve ocorrer
entre 30-70° e, ainda, existem àqueles que não estabelecem nenhuma angulação
específica. Na prática clínica, mais importante do que seguir uma destas classificações,
é entender que quanto menor for a angulação em que os sintomas aparecem, maior é
a mecanosensibilidade da raiz nervosa.
O teste de Lasègue cruzado, em geral, é menos conhecido. Neste teste, deve-se
elevar a perna assintomática e analisar se os sintomas neurogênicos são reproduzidos
na coluna lombar e/ou no membro inferior do lado sintomático. Quando isso ocorre, o
teste é considerado positivo. Este teste, também avalia a mecanosensibilidade das raízes
do plexo lombossacral, porém, é um teste que costuma ser positivo apenas em casos
onde existe uma sensibilização mais importante das raízes neurais.
nas raízes lombares (L2-L3-L4) e segue inferiormente para fazer a inervação motora do
quadríceps e sensitiva da parte anterior e medial da coxa (imagem 4).
O teste de PKB, também avalia o nervo femoral, mas apenas em seu trajeto distal
na face anterior da coxa. Assim, o PKB é um teste menos completo e mais difícil de ser
interpretado, já que não permite a realização da diferenciação estrutural. Apesar disso,
em pacientes que não conseguem adotar o decúbito lateral por algum motivo, o PKB
pode ser uma alternativa para avaliar o nervo femoral.
É interessante notar que, além do nervo femoral, saem do plexo lombar uma
série de nervos que vão contribuir com a inervação sensitiva da face anterior e lateral
da coxa, do quadril, da região púbica e genital. Além disso, vale lembrar que os
dermátomos do plexo lombar também envolvem estas regiões. Assim, irritações neurais
das raízes lombares podem provocar dores irradiadas nestas áreas (imagem 5).
Este entendimento é importante, pois, muitas vezes, estas dores neurogênicas
podem ser erroneamente interpretadas como dores oriundas da articulação do quadril.
Dessa forma, conhecer esta anatomia neural e saber realizar um exame neurológico
completo é importante para fazer um diagnóstico assertivo.
• Dor radicular – Com maior suspeita quando existe dor bilateral ou que
alterna entre os membros inferiores
síndrome da cauda equina, infecção, etc.). Em pacientes com menor risco de patologias
graves ou com déficits neurológicos menos importantes, recomenda-se uma tentativa
inicial de tratamento conservador (pelo menos 1 mês) antes da solicitação do exame de
imagem. Caso o tratamento tenha sido satisfatório, não existe a necessidade do exame.
No entanto, caso o tratamento não tenha surtido o efeito desejado, a avaliação por
imagem passa a ser indicada 5.
Perceba que, em muitos casos, os achados neurológicos serão determinantes
para definir a necessidade do exame de imagem. Assim, saber realizar e interpretar um
exame neurológico é fundamental para a solicitação acertada destes exames. Perceba
também que, em pacientes com sintomas neurogênicos agudos (em crise de hérnia de
disco, por exemplo) que não possuem exame de imagem, a avaliação neurológica será
quem nos permitirá definir se o tratamento pode ser conduzido com segurança ou não.
Desta forma, mesmo naqueles pacientes em crises muito intensas, não nos tornamos
“reféns” dos exames de imagem.
REFERÊNCIAS
3. McAnany SJ, Rhee JM, Baird EO, et al. Observed patterns of cervical radiculopathy:
how often do they differ from a standard, “Netter diagram” distribution? The Spine
Journal. 2019;19(7):1137-1142. doi:10.1016/j.spinee.2018.08.002
4. Finucane LM, Downie A, Mercer C, et al. International Framework for Red Flags for
Potential Serious Spinal Pathologies. J Orthop Sports Phys Ther. 2020;50(7):350-372.
doi:10.2519/jospt.2020.9971
5. Chou R. Diagnostic Imaging for Low Back Pain: Advice for High-Value Health Care
From the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2011;154(3):181.
doi:10.7326/0003-4819-154-3-201102010-00008
6. Oliveira CB, Maher CG, Pinto RZ, et al. Clinical practice guidelines for the
management of non-specific low back pain in primary care: an updated overview.
Eur Spine J. 2018;27(11):2791-2803. doi:10.1007/s00586-018-5673-2
7. Deyo RA, Mirza SK. Herniated Lumbar Intervertebral Disk. Solomon CG, ed. N Engl J
Med. 2016;374(18):1763-1772. doi:10.1056/NEJMcp1512658