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Tema: Reflexão sobre a vida pessoal

A lírica camoniana centra-se na evocação de um itinerário pessoal, assinalado pelo


engano e desengano, pela carência e pela culpa, pelo amargurado desconcerto e pela
aspiração à plenitude do amor que nunca consegue concretizar. Em oposição à lírica
renascentista, a lírica camoniana mostra o homem diminuído, incapaz de lidar com as
suas frustrações, as suas insuficiências e as suas contradições. Nesta sua escrita
Camões recorre frequentemente à representação da busca inconseguida da natureza
e do amor, o amor que surge como valor absoluto e que leva muitas vezes o sujeito
poético à perdição. O lirismo de carácter autobiográfico é atravessado pelo
inconformismo, revolta e tragédia, pelo questionamento e resulta da perceção que
tem através da memória.

- Percurso vivencial do “eu” determinado pela força de um destino implacável


- A existência marcada por experiências de pendor negativo
- O presente caracterizado por sentimentos disfóricos motivados por causas diversas

Tema: Representação da mulher amada


A mulher tem, na poesia de Camões, uma presença extremamente intensa e marcante,
sendo por isso um dos temas principais da sua escrita.
Na sua lírica, as mulheres são retratadas como amadas e muitas das vezes
inalcançáveis ao sujeito poético, e, portanto, para a descrever, Camões inspira-se
frequentemente no modelo renascentista e no ideal da mulher petrarquista.
Posto isto, este paradigma de mulher é descrito, fisicamente, como tendo cabelos
louros, pele branca e rosto rosado, olhos claros e um sorriso angelical. Já
psicologicamente é na generosidade, discrição, serenidade, sensatez, simplicidade e
honestidade que residem as suas virtudes.
Em síntese, conclui-se que a mulher é vista por Camões como um símbolo de pureza e
amor, um ser superior e intocável, podendo a sua beleza celeste transformar o
pensamento de quem por ela sofre.

Tema: Reflexão sobre o amor e a experiência amorosa


Na lírica camoniana, sobressai a experiência amorosa e uma diversificada reflexão
sobre o amor, este que é fonte de contradições, intrínsecas à natureza do próprio
sentimento
O amor aparece nestes poemas sob uma dupla abordagem. Uma é a abordagem do
amor puro, de raiz neoplatónica, caracterizando-se como um amor espiritualizado,
onde a mulher amada é um ser sublime, comtempla com reverência como reflexo da
beleza divina. O seu retrato é um retrato psicológico da perfeição e da pureza que dela
emana. Mas o amor aparece também visto sob uma outra abordagem, o amor-paixão.
Este amor é aquele que revela uma tensão entre o amor espiritual e o amor sensual,
que o leva a experimentar sentimentos díspares. O desejo da pose física do objeto
amado, como fora de perpetuar o sentimento amoroso, revela conflitos interiores,
perplexidade, contradições e angústia de quem ama.
Tema: Natureza
Na lírica camoniana, a natureza aparece associada à expressão dos sentimentos
amorosos, (como acontecia nas cantigas trovadorescas).
A natureza aparece associada à poesia como expressão do estado de alma ou por
contraste entre o estado de espírito do sujeito poético. Apresenta-se como objeto de
contemplação, cenário ou pretexto para a reflexão do eu poético, é geralmente uma
paisagem diurna, natural, harmoniosa e agradável – locus amoenus – um espaço
propício ao amor.

- Locus amoenus
- Natureza ligada à expressão sentimental do sujeito poético

Tema: Desconcerto
O poeta constata o desconcerto moral, social e existencial, que revela:
na desordem do mundo exterior, entre homens: as injustiças sociais, a virtude
não recompensada e a desonestidade compensada, a mediocridade que tem sucesso.
no conflito interior de cada homem: o sujeito poético como vítima, a desilusão
amorosa, o mundo em tumulto igual ao eu em tumulto, a ação de destino cruel, o
fracasso do sonho e dos projetos, o absurdo da morte.

- O “desconcerto do mundo”: o desconcerto social e moral e a degradação de valores


numa sociedade em transformação
- O desconcerto individual, ligado à desilusão com a vida pessoal e ao destino
impiedoso.

Tema: Mudança
O tema da mudança aparece associado à temática do desconcerto e temática do
destino. O poeta reflete sobre a mudança na natureza e a mudança no ser humano.
A mudança é cíclica na Natureza e é linear no homem. A existência humana muda, mas
é imprevisível e marcada pela adversidade, com consequências negativas. O poeta
reflete ainda sobre a mudança na própria mudança.

- A mudança associada à renovação cíclica da Natureza e à passagem inexorável do


tempo
- Os efeitos da passagem do tempo (na Natureza, na sociedade e na vida pessoal)
- A mudança atuante nos domínios individual, social e moral.
Farsa de Inês Pereira
“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”
Obra dividida em três partes:
Inês antes do casamento
Inês casada com o escudeiro
Inês casada com Pêro Marques
A Farsa de Inês Pereira é uma representação do quotidiano:
- Ambiente familiar
- Casamentos negociados por meio de intermediários
- Relações conjugais e representação da submissão feminina
- Vida urbana e cortês (aparências)
- Mundo rural, simplicidade (Pêro Marques)
- Vida religiosa
- Corrupção moral
Todos estes, aspetos que faziam parte da vida quotidiana da época.

A obra em questão, assim como tantas outras obras do autor assumem uma sátira
recorrente, para criticar a e denunciar diversas situações sociais e morais.
- Recurso a personagens tipo e diferentes tipo de cómico
- Crise de valores
- Casamento por interesse e negociado
- Ambição de ascensão social/económica
- Artificialidade social
- Fascínio pelo universo cortês
- Corrupção e hipocrisia moral
- Diferenças entre o mundo da corte e o mundo rural

As personagens também elas com grande relevância no decorrer da obra, estão


agrupadas de acordo com o seu relevo na ação.
- Inês
- Mãe
- Pêro Marques
- Escudeiro
- Lianor Vaz
- Judeus
- Ermitão
- Moço

Resumo da obra
A peça tem início com a entrada de Inês Pereira cantando e fingindo que
trabalha em um bordado. Logo começa a reclamar do tédio deste serviço e da
vida que leva, sempre fechada em casa. A mãe, ouvindo suas reclamações,
aconselha-a a ter paciência. Inês é uma jovem solteira que sofre a pressão
constante do casamento. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo
tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o
que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor
Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é
que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está
apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.
Lianor Vaz aproxima-se contando que um padre a assediou no caminho. Depois
de contar suas aventuras, diz que veio trazer uma proposta de casamento
para Inês e lhe entrega uma carta de seu pretendente, Pero Marques, filho de
lavrador rico, o que satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe. Inês
aceita conhecê-lo apesar de não ter se interessado pela carta. Pessoalmente,
acha Pêro ainda mais desinteressante ainda e recusa o casamento. Sua
esperança agora está nos Judeus casamenteiros a quem encomendou o noivo
de seus sonhos.
Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e
Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado
pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe
apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que se mostra exatamente do jeito
que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe. Antes de vir
conhecê-la, porém, o tal Escudeiro, na verdade, pretensioso e falido, combina
com seu mal-humorado pajem as mentiras que dirá para enganar Inês.
O plano dá certo e eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás,
seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela.
Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês
de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta.
Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a
desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a
guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde.
Finalmente em liberdade, a moça não perde tempo. Viúva e mais experiente,
fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero
Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o
trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um
antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pêro,
seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada
em suas costas e levando Inês ao encontro do amante.
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um
asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube".
Brás da Mata: escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês. Interesseiro e
Fernando e Luzia: amigos e vizinhos da mãe de Inês.
Enredo

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