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Letras em dia, Português, 11.

º ano

Testes por sequência • Teste 5

Sequência 5 • Antero de Quental, Sonetos Completos

Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Parte A
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Noturno

Espírito que passas, quando o vento


Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo1 da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

5 Como um canto longínquo – triste e lento –


Que voga2 e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva


10 Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,


A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
QUENTAL, Antero de, 2016. Os Sonetos Completos.
Porto: Porto Editora (p. 56)

1. esquivo: fugidio;
2. voga: flutua.

1. Caracteriza o interlocutor do sujeito poético, destacando o seu papel junto do mesmo.

2. Explica em que consiste a «febre de Ideal» (v. 13) do «eu».

3. Justifica o «tormento» em que se encontra o sujeito poético, atendendo ao conteúdo dos tercetos.

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Parte B
Lê o texto

No mundo quis um tempo que se achasse


o bem que por acerto ou sorte vinha;
e, por exprimentar que dita1 tinha,
quis que a Fortuna2 em mim se exprimentasse.

5 Mas por que meu destino me mostrasse


que nem ter esperanças me convinha,
nunca nesta tão longa vida minha
cousa me deixou ver que desejasse.

Mudando andei costume, terra e estado,


10 por ver se se mudava a sorte dura;
a vida pus nas mãos de um leve lenho3.

Mas (segundo o que o Céu me tem mostrado)


já sei que deste meu buscar ventura4,
achado tenho já, que não a tenho.

CAMÕES, Luís de, 1994. Rimas (texto estabelecido, revisto


e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Almedina (p. 139)

1. dita: sucesso;
2. Fortuna: destino, sorte;
3. lenho: tronco, navio (figurado);
4. ventura: boa sorte, felicidade.

4. Interpreta as referências à mudança, no primeiro terceto, considerando o assunto do soneto.

5. Seleciona a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.


O soneto aborda o tema ______. Perante a realidade que perceciona, o sujeito poético
evidencia um sentimento de
(A) da reflexão sobre a vida pessoal … desilusão
(B) da reflexão sobre a vida pessoal … esperança
(C) do desconcerto … desilusão
(D) do desconcerto … esperança

6. Compara a situação emocional dos sujeitos poéticos dos sonetos de Antero de Quental (texto da
Parte A) e de Camões (texto da Parte B) e respetivas causas.

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Parte C
7. Escreve uma breve exposição sobre as configurações do Ideal nos sonetos de Antero de Quental.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual explicites, fundamentando, dois dos modos através dos quais o
Ideal se manifesta nos sonetos de Antero;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Lê o texto.

A ópera viaja o que deseja

«Maldita vida!». Assim começa O Homem dos Sonhos, ópera de António Chagas Rosa
baseada no conto com o mesmo nome de Mário de Sá-Carneiro. Vida de tédio, «lista de um
restaurante onde os pratos são os mesmos», como escreveu o escritor. Mário de Sá-
Carneiro via assim o «lugar-comum da vida» e procurava a fuga em todo o lado – na arte,
5 na viagem, no sonho. «Apenas o que não existe é belo», escreveu Mário de Sá-Carneiro em
O Homem dos Sonhos, uma novela, ou melhor, um «sonho» (como ele lhe começou por
chamar) escrito por Mário de Sá-Carneiro em março de 1913, em Paris. Um escritor que
pensou (até ao limite e ao seu suicídio) na possibilidade de uma existência diferente, toda do
lado «de lá».
10 Na ópera O Homem dos Sonhos, a viagem é literária, mas é sobretudo musical. São
sete partes («canções»), que começam em tom jazzístico, como se fosse uma orquestra de
bar de há cem anos atrás. No fosso de orquestra esteve uma dezena de músicos do
Ensemble mpmp (e o maestro Jan Wierzba), incluindo instrumentos como o acordeão, a
tuba ou o saxofone. E estiveram impecáveis na revelação da riqueza harmónica e da
15 orquestração empolgante de António Chagas Rosa. Uma música com grandes qualidades
dramáticas, isto é, música que sabe que é para teatro, carregando de ideias e emoções as
entrelinhas do texto cantado. A colorida e expressiva escrita orquestral de Chagas Rosa –
para nós o mais interessante de toda a ópera – não só foi muito bem entendida pelo
Ensemble mpmp, como foi fundamental para levar este libreto «filosófico» a uma outra
20 dimensão.
O Homem dos Sonhos tem uma força especial nas primeiras cenas, em que a música
de Chagas Rosa tem uma ironia violenta, quase expressionista, entre valsas invulgares
(«eu não sou como os outros») e idílios tonais manchados de dissonâncias. Mas perde

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essa força quando à escrita vocal parece faltar inventividade, repetindo maneiras e «pratos
da ementa». Felizmente recuperando-a mais à frente, nas duas últimas cenas.

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Claro que os espectadores se fixam, antes de mais, no que acontece no palco e não
25 no fosso. E, nesse sentido, são os cantores as estrelas. Catarina Molder e Christian Luján
foram performers incansáveis, cantores hábeis e inteligentes (porque perceberam a
música toda e não apenas o seu papel específico) e atores capazes de segurar uma cena
difícil. Difícil porque, à primeira vista, pouco acontece entre as duas personagens centrais,
o Homem e o Narrador, duas faces de um mesmo pensamento, nesta ópera de idealismos
30 radicais. Só há isto, afinal: alguém que tenta entender o que o outro é.
Tudo se passa num restaurante imaginário onde dois figurantes (também
contrarregras) trazem imagens em grandes placas que vão constituindo um cenário
fragmentário de alusões. [...]
Uma das «viagens» da novela de Sá-Carneiro é a um mundo perfeito onde os sexos
35 não são só dois («labirintos de corpos entrelaçados...»). Com personagens não binárias,
com vontades de ser «só o que se quer», e de ser tudo o que se deseja. Um «segredo» de
Mário de Sá-Carneiro que parece estar muito atual. «Eu viajo o que desejo»: nesta ópera
todo o movimento é de ideias e vontades. Mas tudo o que a música realmente «diz» sobre
o desejo e o sonho está, no fim de contas, no original e colorido trabalho orquestral de
40 Chagas Rosa, ecoando as cores da novela de Mário de Sá-Carneiro. «Naquele país onde
se respirava música...».

BOLÉO, Pedro, 2022. «A Ópera viaja o que deseja». Público, 7 de fevereiro de 2022.
https://www.publico.pt/2022/02/07/culturaipsilon/critica/opera-viaja-deseja-1994470 (Consult. 2022-03-12)

1. O texto corresponde à apreciação crítica


(A) de uma ópera original de António Chagas Rosa.
(B) de um espetáculo musical baseado numa obra narrativa de Mário de Sá-Carneiro.
(C) da adaptação musical de uma obra de Mário de Sá-Carneiro pelo maestro Jan Wierza.
(D) de uma ópera construída a partir de um título poético de Mário de Sá-Carneiro.

2. Estão presentes no texto marcas de género específicas, nomeadamente,


(A) o carácter demonstrativo.
(B) o discurso pessoal e a dimensão narrativa.
(C) o tom humorístico e a multiplicidade de intervenientes.
(D) a dimensão expositiva, conjugada com passagens valorativas.

3. Com a citação de «lista de um restaurante onde os pratos são os mesmos» (ll. 2-3), o autor
(A) recorre a uma metáfora de Mário de Sá-Carneiro para introduzir o tema de O Homem dos
Sonhos.
(B) utiliza uma hipérbole de Mário de Sá-Carneiro para realçar a originalidade de O Homem dos
Sonhos.
(C) usa uma hipérbole de António Chagas Rosa para reforçar a ligação de O Homem dos Sonhos
à vida real.
(D) serve-se de uma metáfora de António Chagas Rosa para apresentar o tema de O Homem dos
Sonhos.

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4. Na apreciação de O Homem dos Sonhos, o autor valoriza significativamente


(A) os diálogos e a cenografia.
(B) o trabalho do encenador e a prestação da orquestra.
(C) a música e o desempenho dos cantores.
(D) a aproximação à realidade e a presença de figurantes.

5. As expressões «pelo Ensemble mpmp» (l. 17) e «os cantores» (l. 25) desempenham as
funções sintáticas
(A) de complemento oblíquo e de complemento direto, respetivamente.
(B) de complemento agente da passiva e de sujeito, respetivamente.
(C) de complemento do adjetivo e de predicativo do sujeito, respetivamente.
(D) de complemento agente da passiva e de complemento direto, respetivamente.

6. Classifica a oração subordinada introduzida por «onde», na linha 31, e refere a função sintática que
desempenha.

7. Indica a modalidade e o valor modal expressos em:


a. «E estiveram impecáveis na revelação da riqueza harmónica e da orquestração empolgante de
António Chagas Rosa.» (ll. 13-14);
b. «Claro que os espectadores se fixam, antes de mais, no que acontece no palco e não no
fosso.» (ll. 24-25).

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Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, faz a apreciação crítica da pintura O Império das Luzes, da autoria de René Magritte.
O teu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
– um comentário crítico, fundamentando a tua apreciação em, pelo menos, três aspetos relevantes e
utilizando um discurso valorativo;
– uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

René Magritte, O Império das Luzes, 1954. Musée Magritte, Bruxelas, Bélgica

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2022/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

Cotações
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 104
16 16 16 16 8 16 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
III Item único 40
TOTAL 200

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Matriz do Teste 5 • Antero de Quental, Sonetos Completos

Estrutura e cotação Domínios Aprendizagens Essenciais

Parte A  Interpretar obras literárias


portuguesas produzidas entre
1. 16 pontos os séculos XVII e XIX:
Sonetos Completos,
2. 16 pontos de Antero de Quental.

 Interpretar textos literários


3. 16 pontos
portugueses produzidos entre
Educação os séculos XII e XVI:
Parte B Literária Rimas, de Luís de Camões.
[Retoma]
Grupo I
104 pontos 4. 16 pontos
 Comparar textos de
diferentes épocas em função
5. 8 pontos dos temas, ideias, valores e
marcos históricos e culturais:
Sonetos Completos e
6. 16 pontos
Rimas.

Parte C  Escrever uma exposição


sobre um tema,
Escrita respeitando as marcas de
7. 16 pontos
género.

1. 8 pontos  Ler textos de diferentes


graus de complexidade
2. 8 pontos argumentativa: apreciação
crítica.

3. 8 pontos  Sistematizar o conhecimento


das diferentes funções
4. 8 pontos Leitura sintáticas.
Grupo II
 Explicitar o conhecimento
56 pontos
Gramática gramatical relacionado com
5. 8 pontos
a articulação entre
constituintes e entre frases
6. 8 pontos
(frase complexa).
 Reconhecer diferentes
7. 8 pontos valores modais, atendendo
à situação comunicativa.

 Escrever uma apreciação


Grupo III
Item único 40 pontos Escrita crítica, respeitando as
40 pontos
marcas de género.

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Sugestões de resolução do Teste 5


Grupo I – Parte C
Grupo I – Parte A 7. Resposta pessoal. Tópicos de resposta:
1. O sujeito poético dirige-se ao «Génio da Noite» o Ideal associado:
(v. 14), que coincide com um «Espírito» (v. 1), «Filho – ao desejo de Absoluto;
esquivo da noite» (v. 3), confidente e depositário único – à reflexão metafísica entusiástica;
da angústia e do «tormento» (v.4) do sujeito poético: – à procura de um sentido paraa existência humana;
«Tu só entendes bem o meu tormento...» (v. 4); «A ti – à crença na luta por uma sociedade melhor;
confio o sonho em que em leva / Um instinto de luz, – a uma atitude ativa e interventiva;
rompendo a treva»(vv. 9-10). É, pois, o seu amparo – à racionalidade otimista;
íntimo e o seu consolo (vv. 7-8 e 12-14). – à imaginação e ao sonho;
– à busca da perfeição e da plenitude das
2. O «tormento» do «eu» decorre da sua existência
realizações do «eu» (reais ou imaginárias).
angustiada (v. 7), na «treva» (v. 10), metáfora do
mundo real, em que se deixa dominar por um «mal sem
nome» (v. 12) e se dedica à busca do «eterno Bem» (v. Grupo II
11). 1. (B)
3. A «febre de Ideal» corresponde ao desejo 2. (D)
angustiado que «consome» (v. 13) o sujeito poético na 3. (A)
tentativa de encontrar o «eterno Bem» (v. 11). Coincide
com o «sonho» (v. 9) que o conduz a partir de «um 4. (C)
instinto de luz», entre as «visões» (v. 11) do mundo 5. (B)
real, na procura de um estado psicológico alternativo 6. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva com a
ao «mal sem nome»(v. 12) em que vive. função sintática de modificador restritivo do nome.
7. a) Modalidade apreciativa.
Grupo I – Parte B b) Modalidade epistémica com valor de certeza.
4. No primeiro terceto, o sujeito poético refere-se às
mudanças operadas na sua vida (alterou «costume, Grupo III
terra e estado») e explicita o motivo que as determinou: Resposta pessoal.
a tentativa de mudar «a sorte dura» (v. 10). Perante um
destino que, como descreve nas quadras, o impediu de
ter esperança e de alcançar o que desejava, a
mudança surge como estratégia para procurar inverter
o rumo da sua sorte. Contudo, no último terceto
reconhece que o seu investimento em «buscar
ventura» (v. 13) foi infrutífero, pois não conseguiu
atingir essa felicidade.

5. (A)

6. Em ambos os sonetos, o tom que perpassa é de


desânimo, associado à angústia e à frustração do
sujeito poético. O «eu» de cada um dos poemas
procura obter um bem (Parte A, v. 11; Parte B, vv. 2 e
13-14), a felicidade, que se lhe revela de difícil alcance,
por insatisfação ou incapacidade pessoal (soneto da
Parte A) ou por intervenção da força superior do
destino (soneto da Parte B). Dessa busca que não
produz os resultados desejados decorre, em ambos os
textos, o desalento perante a existência.

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