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Lista 1 Vinı́cius Névoa - Soluções

Gabriel Girão
Versão: 13 de Maio de 2024

1) Quiques periódicos

Inevitavelmente, há deslizamentos no chão a cada quique. É necessário assumir


que as perdas de energia nesses quiques são desprezı́veis.

No impacto, o momento transferido para cima é ∆py = 2mvy , e para o lado é


∆px = 2mvx .
Z Z
f ≤ µN ⇒ f dt ≤ µ N dt ⇒ ∆px ≤ µ∆py . (1)

∆px vx
Então µ deve ser maior ou igual a ∆py =
vy

Agora, seja I = βmR2 , com R o raio da esfera. Então a variação de momento


angular, em módulo, a cada quique deve ser ∆L = 2βmR2 ω.

vx
τ = Rf ⇒ ∆L = R∆px ⇒ ω = (2)
βR

Essa deve ser a velocidade angular de rotação da esfera durante os seus voos. Se
ela estiver se movendo para a direita, a velocidade angular deve estar no sentido
anti-horário, e, se estiver se movendo para a esquerda, a velocidade angular
deverá ser no sentido horário.

2) Um histograma relevante

Seja S’ o referencial da partı́cula-mãe e S o referencial do laboratório. Em S’,


as duas partı́culas-filha devem partir na mesma direção e sentidos opostos, pela
conservação do momento. Sendo p′ o momento linear de cada partı́cula-filha, a
conservação da energia em S’ nos diz:
q q
m21 c4 + p′2 c2 + m22 c4 + p′2 c2 = mc2 . (3)

1
Elevando a equação ao quadrado duas vezes, é possı́vel obter p′ :
c
q
p′ = m4 − 2m21 m2 − 2m22 m2 + m41 + m42 − 2m21 m22 . (4)
2m
Sendo θ′ o ângulo polar do espalhamento de uma das partı́culas em S’, temos
p′x = p′ cos(θ′ ). Além disso, como o decaimento é isotrópico em S’, todos os
ângulos sólidos devem ser equiprováveis. Sendo dP a probabilidade da partı́cula
filha se espalhar em um ângulo polar entre θ′ e θ′ + dθ′ :

2π sin(θ′ )dθ′
dP = ⇒ sin(θ′ )dθ′ = 2dP. (5)

Agora, usando uma transformação de Lorentz para o quadrivetor momento da
partı́cula-filha:

E = γ (E ′ + vp′x ) = γ (E ′ + vp′ cos(θ′ )) ⇒ dE = −γvp′ sin(θ′ )dθ′ . (6)

Usando a equação (5) obtemos então:

1 1
|dP | = dE ⇒ Ω(E) = (7)
2γvp′ 2γvp′

Curiosamente, a distribuição é uniforme.

3) Um barulho bem agudo

a) Indo para o referencial que gira com velocidade angular Ωẑ,temos, pela
condição de não-deslizamento da moeda, sendo ω sua velocidade angular nesse
referencial (igualando as velocidades escalares da mesa e do ponto da moeda em
contato com a mesa):

Figura 1: Esquema do problema. Leia α onde consta θ acima.

2
ω · R = Ω · R cos(α) ⇒ ω = Ω cos(α). (8)
Mais especificamente, ω ⃗ = −Ω cos(α) x̂3 , onde os eixos móveis x2 e x3 acom-
panham o movimento da moeda. Daı́, a velocidade angular total da moeda, no
referencial da mesa, é Ωẑ − Ω cos(α)x̂3 = Ω sin(α)x̂2 .
2
O momento de inércia da moeda com relação a x2 é I = mR 4 (use o teorema
⃗ mR2 Ω sin(α)
dos eixos perpendiculares), daı́ o seu momento angular é L = 4x̂2 .

O torque em relação ao centro de massa da moeda é τ = N R cos(α) = mgR cos(α),


e então:

dL
r
g
⃗ ⃗
= Ω × L = τ ⇒ ΩL cos(α) = mgR cos(α) ⇒ Ω = 2 (9)
dt R sin(α)

b) A energia potencial da moeda é U (α) = mgR sin(α), e sua energia cinética é


2 2 2 2
K(α) = L2I = mR Ω 8sin (α) = mgR
2 sin(α). Ou seja, sua energia é:

3mgR
E(α) = sin(α) (10)
2

É evidente que a energia da moeda diminui e tende a zero conforme α tende a


zero, apesar do fato de Ω tender a infinito!

4) Uma questão (quase) clássica

⃗ para o vetor posição do ponto da


Notação: usarei r para o raio da esfera e R
esfera em contato com a mesa.
3
A massa da esfera é M = m + 4πρr
3 . Como o lı́quido dentro dela não rotaciona,
2
seu momento de inércia é efetivamente I = 2mr 3 , isto é, o da casca. Seja
⃗ = Ωẑ a velocidade angular da mesa, ⃗r = −rẑ, ⃗v = dR/dt
Ω ⃗ a velocidade do
centro da esfera. A velocidade do ponto dela em contato com a mesa é:
⃗ × R,
⃗ × ⃗r = Ω
⃗v + ω ⃗ (11)

onde usamos a condição de não-deslizamento. Derivando os dois lados da


equação em relação ao tempo e definindo ⃗a = d⃗v /dt :

f⃗
 
⃗ × ⃗v − d⃗
ω
⃗a = Ω × ⃗r = , (12)
dt M

3
onde f⃗ é a força de atrito que age na esfera. Torque em relação ao CM:
   
⃗ d⃗
ω ⃗ dω I
⃗τ = ⃗r × f = I ⇒ ⃗r × Ω × ⃗v − × ⃗r = . (13)
dt dt M

Pela regra BAC-CAB:


 
⃗r × Ω⃗ × ⃗v = Ω(⃗r · ⃗v ) − ⃗v (⃗r · Ω)
⃗ = Ωr⃗v , (14)

ω /dt) × ⃗r] = r2 (d⃗


⃗r × [(d⃗ ω /dt) − ⃗r (⃗r · (d⃗
ω /dt)) . (15)
Como d⃗ ω 1
r × f⃗, ele é sempre perpendicular a ⃗r, de modo que o produto
dt = I ⃗
escalar acima é nulo. Substituindo esses resultados em (13):

I d⃗
ω 1
Ωr⃗v = = ⃗r × ⃗a ⇒ ⃗r × ⃗a = αΩr⃗v , (16)
αm dt α
I
onde α = M ⃗ e
+ r2 . Fazendo o produto vetorial dos dois lados de (16) com Ω
usando BAC-CAB do lado esquerdo:
⃗ × (⃗r × ⃗a) = αΩr(Ω
Ω ⃗ × ⃗v ) ⇒ ⃗a = α(Ω
⃗ × ⃗v ). (17)

Isso significa que a aceleração da esfera é sempre perpendicular à sua velocidade.


Então, curiosamente, ela sempre realiza um movimento circular uniforme, com
v2
aceleração centrı́peta a = αΩv0 . O raio da trajetória Rt satisfaz R0t = a ⇒ Rt =
v0
αΩ , e sendo Ω0 a frequência angular do movimento:

Ω20 Rt = a ⇒ Ω0 = αΩ (18)


a ⃗ v⃗0
Ω×
A direção da aceleração inicial é â = a = Ωv0 .
Ou seja, a trajetória é uma
v0 ⃗c = R ⃗ v⃗0
⃗ 0 + Rt â = R⃗0 + Ω×
circunferência de raio Rt = αΩ e centro em R αΩ2 .

5) Treinando para ser Sniper

a) Na aproximação de pequenos desvios, a força inercial centrı́fuga é desprezı́vel,


e devemos nos preocupar apenas com a força de Coriolis. Como método apro-
ximativo, considere que a velocidade vertical do objeto é dada por v(t) = gt, e
calculamos o desvio ao leste usando a força:
⃗ = 2mΩg cos(θ)t = mal ,
Fc = 2m|⃗v × Ω| (19)

onde a é a aceleração e o ı́ndice l se refere ao leste.

dvl = 2Ωg cos(θ)tdt ⇒ vl (t) = Ωg cos(θ)t2 . (20)

Ωg cos(θ) 3
dsl = Ωg cos(θ)t2 dt ⇒ sl (t) = t . (21)
3

4
q
A colisão com o solo ocorre em tc = 2H g , de modo que o desvio total ao leste
é:
 3/2
Ωg cos(θ) 2H
∆sl = (22)
3 g

b) Usando uma convenção comum de eixos, com Ω ⃗ = Ωẑ a velocidade angular da


Terra, a velocidade vl para o leste implica em uma força de Coriolis Fcx = 2mΩvl
no eixo x, e sua componente na direção sul local do objeto é 2mΩvl sin(θ).
dsl dvs
2mΩ sin(θ) = ⇒ vs = 2Ω sin(θ)sl . (23)
dt dt
Ωg cos(θ) 3 Ω2 g sin(θ) cos(θ) 4
dss = 2Ω sin(θ) t dt ⇒ ∆ss = tc . (24)
3 6
 1/3
Substituindo tc = Ωg3∆s l
cos(θ) vem:

 1/3
Ω sin(θ)∆sl 3∆sl
∆ss = (25)
2 Ωg cos(θ)

6) Rota de colisão

Devemos encontrar o maior parâmetro de impacto b para o qual um meteoro


atinge a superfı́cie da Terra, situação na qual ele a tangencia. Sendo V sua
velocidade na superfı́cie da Terra, a conservação do momento angular nos diz:
bv
mvb = mV R ⇒ V = . (26)
R
Conservação da energia:
r
mv 2 GM m mV 2 2GM R
=− + ⇒b= R2 + . (27)
2 R 2 v2
A velocidade V de chegada na Terra é igual para todos os meteoros, sendo
2 2
ϵ = mV
2 = mv2 +
GM m
R a energia cinética de cada um. Sendo n o número de
meteoros na chuva por unidade de área de seção transversal, o número total de
meteoros que atingem a Terra é N = nπb2 , e portanto a energia dissipada é:

v2
  
2GM GM
Q = N ϵ = πnmR R + + (28)
v2 2 R

7) Muito rápido para cair

5
Considere o desenho abaixo para o movimento do pião. O ângulo θ é a inclinação
com a vertical, ϕ é o ângulo de rotação em torno do eixo z e ψ é o ângulo de
rotação em torno do eixo de simetria (3) do pião:

Figura 2: Esquema para o problema 7. Leia s onde consta l acima.

A velocidade angular devida à variação de ψ é ψ̇ 3̂, a devida à variação de ϕ


é ϕ̇ẑ, que se decompõe em ϕ̇ cos(θ) na direção 3̂ e ϕ̇ sin(θ) em uma direção
perpendicular a 3̂, e a velocidade angular devida à variação de θ é θ̇ em uma
direção perpendicular à todas as direções previamente citadas. Com isso, a
energia cinética do pião é: 1
I3  2 I  
K= ψ̇ + ϕ̇ cos(θ) + θ̇2 + ϕ̇2 sin2 (θ) , (29)
2 2
e sua energia potencial é U = M gs cos(θ). A Lagrangiana é L = K − U, e
∂L
notando que ∂ψ = ∂L
∂ϕ = 0, temos as seguintes constantes do movimento:

I3 (ψ̇ + ϕ̇ cos(θ)) = cte. ≡ I3 ω3 , (30)


I3 ω3 (1 − cos(θ))
I3 ω3 cos(θ) + I ϕ̇ sin2 (θ) = cte. = I3 ω3 ⇒ ϕ̇ = . (31)
I sin2 (θ)
Conservação da energia:
I3 ω32 I 2 2 2 I3 ω32 4M gs sin2 (θ/2)
+ (θ̇ +ϕ̇ sin (θ))+M gs cos(θ) = +M gs ⇒ θ̇2 +ϕ̇2 sin2 θ = ,
2 2 2 I
(32)
onde usamos o fato de que θ̇ = 0 quando θ = 0 e a identidade 1 − cos(θ) =
2 sin2 (θ/2).

Substituindo (31) em (32), usando novamente a identidade 1−cos(θ) = 2 sin2 (θ/2),


e usando sin(θ/2) ≈ tan(θ/2) ≈ θ2 para pequenas perturbações da posição de
equilı́brio:
θ2 4M gs I32 ω32
 
θ̇2 = − 2 . (33)
4 I I
1 Caso o momento de inércia I tenha sido dado em direções passando pelo centro de massa,

basta substituir I por I + M s2 .

6
Derivando os dois lados da equação com relação ao tempo chegamos finalmente
em:
θ 4M gs I32 ω32
 
θ̈ = − 2 . (34)
4 I I
Para que o pião fique estável em pé, é necessário que θ̈ tenha o sinal oposto a
θ, daı́ podemos encontrar a velocidade angular mı́nima para a estabilidade:

4M gs I32 ω32 2 M gIs
− 2 = 0 ⇒ ω3 = (35)
I I I3

8) Um equilı́brio insólito

A aceleração do suporte é Ÿ = −λ2 A sin(λt). Isso implica que a gravidade efetiva


no referencial do suporte é ge = g − λ2 A sin(λt), daı́ a equação de movimento
para o ângulo:
ge 1
g − λ2 A sin(λt) sin(θ).

θ̈ = − sin(θ) = − (36)
L L

É possı́velpencontrar uma solução aproximada para essa equação no regime A ≪


L e λ ≫ g/L fazendo a separação θ(t) = θs (t) + θf (t), onde θf (t) é um termo
que oscila rapidamente e possui uma amplitude muito pequena, e θs (t) é um
termo que oscila lentamente e é o valor de θ(t) ao pegarmos a média ao longo de
um número significante de oscilações de θf (t). Para encontrarmos uma solução
para θf , usamos θ̈ ≈ θ¨f e sin(θ) ≈ sin(θs ). Plugando essas considerações em
(36):
λ2 A sin(θs ) A
θ̈f = sin(λt) ⇒ θf (t) = − sin(θs ) sin(λt). (37)
L L
Como θs oscila muito lentamente comparado a θf , a aproximação acima de
usar a solução da equação de um MHS funciona. Agora, plugando a expressão
completa para θ(t) em (36), usando sin(θ) = sin(θs ) cos(θf ) + sin(θf ) cos(θs ) ≈
sin(θs ) + cos(θs )θf :

λ2 A sin(θs )
 
¨ 1 2
 A sin(θs ) cos(θs )
θs + sin(λt) = − g − λ A sin(λt) sin(θs ) − sin(λt) .
L L L
(38)
A estratégia agora é tomar a média temporal de (38) ao longo das oscilações
rápidas do termo sin(λt). Usando ⟨sin(λt)⟩ = 0 e ⟨sin2 (λt)⟩ = 21 , chegamos na
equação para θs :

g λ2 A2
θ¨s = − sin(θs ) − sin(θs ) cos(θs ). (39)
L 2L2

7
Essa equação pode ser vista como o movimento em um potencial efetivo, θ¨s =
dU
− dθ s
. Temos então:

g λ 2 A2
U ′′ (θs ) = cos(θs ) + cos(2θs ). (40)
L 2L2
A condição para que a posição θs = π seja estável é:

λ 2 A2
U ′′ (π) > 0 ⇒ >1 (41)
2gL

9) Histerese em osciladores não lineares

Uma discussão detalhada sobre o sistema abordado nesse problema, que inclui
as respostas dos itens propostos, é encontrada em Landau, L.D. and Lifshitz,
E.M., Mechanics, pág. 78 (onde é discutido o problema do oscilador amortecido
e forçado) + págs. 87-93 (onde são abordados os efeitos da não linearidade).
Porém, estou em desacordo/desentendimento com alguns passos usados no de-
senvolvimento. Em uma versão futura do solucionário, constará a resolução
desse problema.

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