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GIL VICENTE

Farsa de Inês Pereira

Ilustração de
Victor Couto
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
Contexto sociocultural da peça
• Representada em 1523;

• A pedido de D. João III;

• Representação no Mosteiro de Tomar.


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
Uma das criações mais perfeitas de Gil Vicente.

Encenação do provérbio:
Mais vale asno que me leve
que cavalo que me derrube.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
Estrutura tripartida da intriga
• Exposição:
desejo de libertação de Inês através do casamento;

• Conflito:
proposta de Pero Marques, casamento com o Escudeiro
e casamento com Pero Marques;

• Desenlace:
concretização das aspirações de Inês.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
As personagens
Inês: preguiçosa, leviana, fantasiosa, inconsciente, idealista.
No final da peça, torna-se materialista, calculista, vingativa.

Personagem-tipo Personagem modelada


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
As personagens
Pero Marques: ingénuo, trabalhador, honesto, boçal.

Personagem cómica.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
As personagens
Escudeiro, Brás da Mata: elegante, mentiroso, desleal, preguiçoso,
pelintra, galanteador, cobarde.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
As personagens
Lianor Vaz:
alcoviteira, leviana, mentirosa.
Mãe:
boa conselheira, confidente, compreensiva, voz do bom senso.
Judeus casamenteiros, Latão e Vidal:
bajuladores, interesseiros, oportunistas.
Moço:
confidente, crítico, fiel ao amo.
Fernando e Luzia:
simples, amigos, cantam uma canção de desencanto e morte.
Pai:
ausente.
Ermitão:
falso religioso, parasita, mentiroso.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O cómico
Ridendo castigat mores
• Cómico de caráter

• Cómico de situação

• Cómico de linguagem
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O cómico
Cómico de caráter:
Pero Marques (desconhecimento da cultura da cortesia):

• «E que val aqui ũa destas?» (v. 275)

• «Cuido que lhe trago aqui / peras da


minha pereira… / Hão de estar na
derradeira / Tende ora, Inês, per i»
(vv. 300 - 303)

• «Pois, senhora, eu quero-m’ ir / antes


que venha o escuro» (vv. 337 - 338)
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O cómico
Cómico de situação:
Episódio final

• «Marido cuco me levades / E mais duas lousas» (vv. 1115 - 1116)


• «Bem sabedes vós marido / quanto vos amo / sempre fostes
percebido / pera gano. / Carregado ides, noss’amo, / com duas
lousas.» (vv. 1125 - 1130).
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O cómico
Cómico de linguagem:
Expressões provincianas de Pero, representante da cultura popular.

• «Fresco vinha aí o presente / com folhinhas borrifadas!»


(vv. 316 - 317)

• «Estas vos são elas a vós / anda homem a gastar calçado / e


quando cuida que é aviado, / escarnefucham de vós!»
(vv. 349 - 352)
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
A linguagem
• As falas das diversas figuras desta farsa acentuam a rusticidade
das personagens e realçam a importância do saber popular;

• A linguagem de cada personagem adequa-se ao seu estatuto


social e nível etário;

• A peça é bilingue;

• A linguagem contribui para os efeitos de cómico.


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
Recursos expressivos
• Comparação:
Moça de vila será ela/com sinalzinho postiço, / e sarnosa
no toutiço, / como burra de Castela (vv. 498 - 501)

• Interrogação retórica:
ou sam algum caramujo / oue não sai senão à porta? (vv. 32 - 33)

• Ironia:
Logo eu adivinhei / lá na missa onde eu estava, / como a minha Inês
lavrava (vv. 39 -41)

• Metáfora:
Deos vos salve, fresca rosa, / e vos dê por minha esposa (vv. 543 - 544)

• Metonímia:
Não sei se me vá a el rei, / se me vá ao Cardeal (vv. 80 - 81)
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O espaço
• Oscila entre o interior (casa de Inês) e exterior (percurso para
visitar o Ermitão).

• Mudança sem qualquer interrupção do diálogo iniciado dentro


da casa.

• Desconhecimento e / ou desprezo da lei das três unidades.


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
O tempo
• Passagem do tempo:
• Inês solteira / fantasiosa a ascensão
• Inês malcasada a queda
• Inês viúva a libertação
• Inês casada a vingança

• Tempo histórico: finais da Idade Média

• Tempo narrativo: desencontro com o tempo cronológico


(a passagem de três meses não é explicitamente percebida)

• Desconhecimento e/ou desprezo da lei das três unidades.


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
A crítica vicentina
• A ânsia de libertação da mulher de condição burguesa, através do
casamento (Inês);

• A ruína da baixa nobreza, decorrente da centralização das riquezas,


provindas da expansão, na corte (Escudeiro);

• Os velhos costumes morais de uma sociedade medieval e feudal,


em vias de extinção (Pero Marques);

• Degradação moral da conceção de família;

• O êxodo dos campos, o desenvolvimento das cidades e a atração


pela riqueza fácil.
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira
Considerações finais
Gil Vicente Sociedade do seu tempo

• corrupção;

• materialismo;

• ausência de verdadeiros valores humanos.


GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira

Antes quero parecer Vou casar segunda vez!


do que ser!!! Este mundo é dos espertos!!!
GIL VICENTE|Farsa de Inês Pereira

O teatro
é o escaparate de todas as artes
GIL VICENTE
Farsa de Inês Pereira

Ilustração de
Victor Couto

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