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DOCUMENTO / MONUMENTO

REFERÊNCIAS
• KARNAL, Leandro; TATSCH, Flávia Galli. Documento e
História. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania de (Org.).
O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p.
9-27.
• LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. In: História e
Memória. Campinas: UNICAMP, 2004.
• LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos
periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes
históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 111-153.
• RODRIGUES, Ana Márcia Lutterbach. A teoria dos arquivos
e a gestão de documentos. In: Perspectivas da Ciência da
Informação. V. 11, n. 1, Belo Horizonte. Jan./abr. 2006.
“À memória coletiva e a sua forma científica, a
História, aplicam-se dois tipos de materiais: os
documentos e os monumentos”.

“O que sobrevive não é aquilo que existiu no


passado, mas uma escolha efetuada quer pelas
forças que operam no desenvolvimento
temporal do mundo e da humanidade, quer
pelos que se dedicam à ciência do passado e do
tempo que passa, os historiadores”.

(LE GOFF, 1996, p. 535)


Um exemplo
de como a
imagem era
alterada,
conforme o
regime
stalinista iria
expurgando e
eliminando
membros do
Partido
Comunista e
amigos de
Josef Stalin
Na versão original desta foto
(acima), Nikolai Yezhov, o
jovem passeando com Stalin
à sua esquerda, foi
assassinado em 1940. Na
versão modificada (abaixo),
a sua imagem foi removida
pelos censores soviéticos.
Fotografia original, em
1920, em frente ao
Bolshoi de Moscou,
Lenin discursa aos
soldados que vão
combater contra a
Polônia. Trotsky, ao seu
lado

Fotografia
retocada, em que
Trotsky foi
eliminado
Fotografia original,
tirada em 7 de
novembro de 1919,
durante a celebração
do segundo aniversário
da Revolução de
Outubro.

Fotografia retocada, em
que três pessoas:
Trotsky, Lev Kamenev e
Khalatov são retirados.
Foto de Joe Rosenthal em
que soldados comemoram
a vitória sobre os Japoneses
em Iwo Jima (1945).
Foto de Thomas Franklin
para o Jornal The Record. A
foto retrata bombeiros
colocando a bandeira dos
EUA sobre os escombros das
Torres Gêmeas.
• Monumento – herança do passado
• Documento – escolha do historiador
Final do Século XVII
• De Re Diplomática de Don Mabillon.
• Fundamento da História Científica que vai permitir
a utilização crítica do documento e de certa
maneira
• Jean criá-lo,
Mabillon, trata-setambém
chamado ainda de monumento.
Dom Mabillon, (Saint-Pierremont,
23 de novembro de 1632 — Saint-
Germain-des-Prés, 27 de dezembro
de 1707) foi um monge beneditino,
erudito e historiador francês
considerado o fundador da
paleografia e da diplomática,
disciplinas auxiliares da história.
De re diplomatica libri sex

• Em 1681 ele publicou De re diplomatica libri sex,


que investigava os diferentes tipos de escrita
medieval e manuscritos e agora é visto como o
trabalho fundador da paleografia e da diplomática.
O trabalho trouxe a ele a atenção de Jean-Baptiste
Colbert, que lhe ofereceu uma pensão (a qual ele
declinou), e Luís XIV da França. Ele começou a
viajar pela Europa, para Flanders, Suíça, Alemanha,
e Itália, na busca de manuscritos medievais e livros
para a biblioteca real.
Século XVIII
• Os monumentos (documentos) constituíam a origem
pura da explicação histórica.
• O termo “monumento” será ainda correntemente
usado no século XIX para grandes coleções de
documentos.
(LE GOFF, 1996, p. 537)
Ex: ainda hoje usamos a expressão “obra monumental”.
• “Na historiografia institucional de todos os países
europeus encontram-se, no século XVIII as duas séries
paralelas do monumentos (em declínio) e de
documentos (em plena ascensão)”.
(LE GOFF, 1996, p. 539)
Séc. XIX – Escola Histórica Positivista (ou
Metódica, na França)

• É o fundamento do fato histórico, ainda que


resulte da escolha, de uma decisão do
historiador, parece apresentar-se por si mesmo
como prova histórica. A sua objetividade parece
opor-se à intencionalidade do documento.
• O melhor historiador é aquele que se mantinha
o mais próximo possível dos textos.
(LE GOFF, 1996, p. 535)
• Samaran – “não há história sem
documentos”

• Lefebvre – “ não há notícia histórica sem


documentos”; e precisava: “Pois se os fatos
históricos não forem registrados em
documentos, ou gravados, ou escritos,
aqueles fatos perderam-se”

(LE GOFF, 1996, p. 539)


• A história faz-se com documentos escritos,
mas e se eles não existirem?
• O historiador utiliza palavras, signos,
paisagens, telhas, eclipses da lua, dados
climáticos, examina pedras e metais.
• “Numa palavra, com tudo o que,
pertencendo ao homem, demonstra a
presença, a atividade, os gostos e as
maneiras de ser do homem”
(LE GOFF, 1996, p. 540)
Cueva de las manos - Argentina
NEOLÍTICO – 7.000 a.C. a 3.000 a.C.
Cromeleque dos
Almendres,
Évora.
Cerâmica
cardial da
caverna de La
Sarsa, Valência

Anta de S.
Geraldo, 
Portugal.
MAMOA E DÓLMEN DE LAMALOU - FRANÇA

Estrutura do dólmen de
Castro do Laboreiro
ANTAS (OU MAMOAS) EM PORTUGAL

Anta da Aboboreira
Anta de Arca.
ou Anta de Chã de
Parada

Anta de Pavia /
Anta do Carapito.
Capela de S. Dinis

“Monumentum”

• Sinal do passado;
• Tudo aquilo que pode evocar o
passado;
• Perpetuar a recordação, os atos
escritos.
Monumento – desde a antiguidade
apresenta dois sentidos:
1- Uma obra comemorativa da arquitetura ou
de escultura: arcos do triunfo, coluna, troféu,
pórtico, etc.
2- Um monumento funerário destinado a
perpetuar a recordação de uma pessoa no
domínio em que a memória é
particularmente valorizada: a morte.
(LE GOFF, 1996, p. 535)
• Monumento – “tem como característica o ligar-
se ao poder de perpetuação, voluntária ou
involuntária, das sociedades históricas (é um
legado à memória coletiva) e o reenviar a
testemunhos que só numa parcela mínima são
testemunhos escritos”.
• Documentum
- Docere (ensinar) – “evoluiu para o significado
de prova e é amplamente usado no
vocabulário legislativo”.
(LE GOFF, 1996, p. 536)
Arco de Tito - Tito,
comandou as legiões
romanas que derrotaram a
capital da Judéia em 67 d.C.
Detalhe mostrando os
espólios de Jerusalém sendo
levados para Roma
O Altar de Pérgamo é uma magnífica estrutura dedicada a Zeus, originalmente
construída no século II a.C. na cidade grega de Pérgamo (atual Bergama, na Turquia).
Link para acessar lista de campos de concentração, extermínio
e outros:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_dos_campos_de_co
ncentra%C3%A7%C3%A3o_nazistas
ARTE CRISTÃ: AS REPRESENTAÇÕES
NAS CATACUMBAS
Catacumbas Romanas
• As catacumbas de São Calisto estão entre as
maiores e mais imponentes de Roma. Surgiram pela
metade do século segundo e fazem parte de um
complexo cemiterial que ocupa uma área de 15
hectares de terreno, com uma rede de galerias
longa quase 20 quilômetros, em diversos planos, e
atingem uma profundidade superior a 20 metros.
Nelas encontraram sepultura dezenas de mártires,
16 pontífices e muitíssimos cristãos.
A Cripta dos Papas

Aqui foram sepultados 9 papas e,


provavelmente 8 dignitários da Igreja
do 3º século. Ao longo das paredes
estão as inscrições originais em grego
de 6 papas. Em 4 lápides, ao lado do
nome do pontífice há o título de
"bispo", porque o Papa era
considerado o chefe da Igreja de
Roma, e, em duas lápides, há também
a abreviação grega "MPT" (mártir).
Os nomes dos papas, gravados nas
lápides são: Ponciano, Antero,
Fabiano, Lúcio e Eutiquiano. Na
parede de fundo foi também deposto
o papa Sisto II, vítima da perseguição
do imperador Valeriano.
Os cubículos dos sacramentos

Passando através de imponentes galerias de lóculos, chegamos a cinco


pequenas salas, verdadeiros jazigos familiares, chamadas cubículos dos
Sacramentos e particularmente importantes pelos seus afrescos. Eles
são datados como dos inícios do século 3º e representam
simbolicamente os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Aí encontra-
se representado também o profeta Jonas, símbolo de ressurreição.
Catacumba de Flávia Domitila
O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e
Presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, Dom
Gianfranco Ravasi apresentou em conferência de imprensa na
Basílica de São Paulo Extramuros os novos descobrimentos nas
catacumbas romanas da Santa Tecla, onde se descobriram os
ícones mais antigos, que se calculam dos últimos anos do
século IV, dos Apóstolos Pedro, Andrés e João. Noticiado em
23/07/2010.
Catacumba de Santa Domitila

O número dos Magos é variado, nas representações dos primeiros tempos.


Algumas imagens mostram apenas dois, mas na catacumba de Santa
Domitilla, em Roma, aparecem quatro e podem chegar a doze em
representações da Idade Média. Pensa-se que o número três terá a ver com
as prendas oferecidas: ouro, incenso e mirra, e também com o fato de se
ter estabelecido, talvez por razões populares, que cada um tivesse uma cor
de pele diferente. Quanto aos nomes de Gaspar, Melchior e Baltazar
aparecem, ao que se julga pela primeira vez, nos já mencionados mosaicos
da Basílica de San Apollinare Nuovo, em Ravena, e começam a ser referidos
numa série de fontes a partir do séc. VII.
Catacumba de Santa Domitila
Mapa da Catacumba de Santa Domitila,
com mais de 15 Km de galerias e
corredores. Em alguns locais há dois ou
três andares abaixo da superfície.
Via Ápia, onde podem ser encontradas entradas
para algumas catacumbas.
Pinturas em catacumbas
Catacumba de São
Calixto - Roma - galeria
com os lóculos,
pequenos locais
destinados ao
sepultamento individual
   Peixe eucarístico na
catacumba de São
Calixto - Roma
Pinturas em catacumbas
O Bom Pastor na
cripta de Lucina na
catacumba de São
Calixto

 Nossa Senhora
e o menino e o
profeta Balaam
na catacumba
de Priscila
Pinturas em catacumbas

Nossa Senhora e o
menino na
catacumba de
Comodila

Cripta dos
papas na
catacumba de
São Calixto
Pinturas em catacumbas

 Maria amamentando
o Menino Jesus.
Imagem do Século II,
Catacumba de
Priscila, Roma.
Pinturas em catacumbas

Batismo de São Calixto

Pão eucarístico

Virgem e o
menino
Pinturas em catacumbas

Jonas caindo no mar


Pinturas em catacumbas

Cristo como sol


Pinturas em catacumbas

Filósofo Paulo
Adão e Eva (apóstolo)
Pinturas em catacumbas

O Bom Pastor
O bom pastor. Catacumba de
Priscila.
ARTE PALEOCRISTÃ: pinturas em catacumbas

O Bom Pastor, Maria amamentando


mausoléu de Galla Jesus. Séc. II.
Placidia, Ravena, Catacumba de
Itália. Início do século Priscila. Roma
V d.C..
ARTE PALEOCRISTÃ: pinturas em
catacumbas

Catacumba de Domitilla. Séc. IV.


Catacumba de Domitilla. Séc. IV.
Cristo com uniforme de Legionário
Romano (detalhe). Museu do
Arcebispado. Ravena.
Que objeto é esse?
A roda dos expostos funcionou
até 1948 na Santa Casa de São
Paulo.
A “roda” do Rio de Janeiro, entre janeiro de 1738 e
janeiro de 1911, recebeu 43.750 crianças rejeitadas,
sendo algumas já mortas, conforme informação de D.
Zarur, citando Ubaldo Soares em noticia publicada no
Boletim Informativo da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia do Pará, no ano V nº18 de Jan/Março de
1992. Após os primeiros cuidados as crianças tinham
vários destinos; poderiam ser enviados às “criadeiras”,
depois chamadas educandários. Poderiam, também, em
virtude das dificuldades da Santa Casa, serem confiadas
sua criação e educação às famílias pobres, mediante a
mensalidade de 4$000 reis, conforme registrado nos
livros de Registro das Amas.
A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo foi fundada
por volta de 1560.
Museu e Capela da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo
• "Recebam-me. Chamo-me Antônio. Sou um orfãozinho de
pai, porque ele me abandonou, e também minha mãe. Ela é
muito boa e me quer muito bem, mas não pode tratar de
mim. Estou magrinho assim porque ela não tem leite, é
muito pobre, precisa trabalhar. Por isso, ela me pôs aqui
para a irmã Úrsula tratar de mim. Não me entreguem a
ninguém porque minha mamãe algum dia vem me buscar.
[...] Estou com sapinho e com fome. Minha mamãe não sabe
tratar de sapinho e não sabe o que me dar para eu ficar
gordinho. Minha mãe também agradece os bons tratos que
me derem."

Bilhete que acompanhava o recém nascido Antônio Moreira


de Carvalho, deixado na roda dos expostos em 27 de junho
de 1922. O bebê acabou morrendo pouco depois de
resgatado pelas freiras da Santa Casa de Misericórdia.
• Marc Bloch – “Seria uma grande ilusão imaginar
que a cada problema histórico corresponde um
tipo único de documentos, especializados para
esse uso ... Que historiador das religiões se
contentaria em consultar os tratados de teologia
ou as recolhas de hinos? Ele sabe bem que sobre
as crenças e as sensibilidades mortas, as imagens
pintadas ou esculpidas nas paredes dos
santuários, a disposição e o mobiliário das
tumbas, têm pelo menos tanto para lhe dizer
quanto muitos escritos”.
(LE GOFF, 1996, p. 540)
Crítica aos documentos
• Iniciada na Idade Média;
• Enunciada pelos grandes eruditos do século XVII;
• Aperfeiçoada pelos historiadores Positivistas do
século XIX;
• A crítica tradicional foi essencialmente uma
procura pela autenticidade;
• Persegue os falsos documentos e por
consequência atribui uma importância
fundamental à datação.
Século XX
• Escola dos Annales – documento passa a ser
usado no sentido amplo.

• História – antes era o “documento”, agora é o


“problema”
REVOLUÇÃO

QUALITATIVA QUALITATIVA

Nova Revolução
concepção de tecnológica -
documento e computador
de História
Revolução documental

• Valorização da memória coletiva


• Consolidação do conceito de patrimônio
cultural
Para Paul Zumthor
• O que transforma o documento em monumento
é a sua utilização pelo poder.
• Apesar disso, ele tinha dificuldade em admitir
que todo documento é um monumento.
• O documento não é qualquer coisa que fica por
conta do passado, é um produto da sociedade
que o fabricou segundo as relações de forças
que aí detinham o poder.
(LE GOFF, 1996, p. 545)
• Só a análise do documento enquanto
monumento permite à memória coletiva
recuperá-lo e ao historiador usá-lo
cientificamente, isto é, com pleno
conhecimento de causa.
(LE GOFF, 1996, p. 545)
Michel Foucault – é preciso questionar o
documento.
• Le Goff, citando Michel Foucault: O
documento não é o feliz instrumento de uma
história que seja, em si própria e com pleno
direito, memória: a história é uma certa
maneira de uma sociedade dar estatuto e
elaboração a uma massa documental de que
não se separa”.
(LE GOFF, 1996, p. 546)
• “O documento é monumento. Resulta
do esforço das sociedades históricas
para impor ao futuro – voluntária ou
involuntariamente – determinada
imagem de si próprias. No limite, não
cabe um documento-verdade. Todo o
documento é mentira. Cabe ao
historiador não fazer o papel de
ingênuo”.
(LE GOFF, 1996, p. 548)

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