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B. Cézar M.
1. Estudo Histórico
1.1 Conceito
Ele não é feito com base em apenas uma obra, mas num conjunto destas. Livros, artigos,
opiniões de especialistas. O conjunto de diversos artigos de pesquisa histórica dão formação
ao que chamamos de “história”. Como ciência humana, a história não é sólida, e sim, líquida e
volátil, afinal, nada é exato. Novas descobertas ou mesmo pontos de vistas diferentes de
pesquisas já feitas podem sugerir um novo direcionamento para aquele fato analisado,
alterando, em partes ou completamente uma verdade.
Tal como os sintomas são importantes para um médico descobrir uma doença, ou as pistas na
cena do crime são importantes para o detetive narrar a infração, o historiador trabalha com
vestígios, que são importantes para entender determinado contexto histórico.
Vestígio, do latim, vestigiu, significa pegada, marca humana. A história considera vestígio
cultura, isto é, o espaço geográfico: espaço natural modificado pelo homem para atender as
suas necessidades. Cultura, neste sentido, vem de fabricação, modificação. Quando um
ferreiro funde metal para forjar uma espada, ou quando um agricultor planta café em um
terreno, ambos estão fazendo cultura, modificando a natureza para próprio benefício. Isso, por
analogia, é vestígio. Ruínas de uma casa; uma bandeira fincada no alto de um morro; uma
espada enferrujada no fundo do mar; uma escritura talhada na pedra.
Documento, do latim, documentu, significa ensinar, mostrar. Muito embora meio ambíguo e
vago, podemos dizer que documento é um vestígio capaz de ensinar, um vestígio significativo
por si só, um vestígio mais específico. De um documento, seja ele escrito ou não, podemos
tirar diversas informações e interpretações de diferentes aspetos: religião, posição e
organização social, arquitetura, ritos e cultura em geral.
De forma geral, vestígios e documentos são marcas humanas na terra, ou ainda, cultura. Todo
documento é um vestígio, mas nem todo vestígio é um documento. Inicialmente, toda marca é
um vestígio, mas que, se comprovada a devida relevância, pode vir a ser um documento.
Ainda há a necessidade de interrogar esses vestígios e documentos. Os ditos, por si só, não
significam nada, apenas fatos isolados. Cabe ao pesquisador interrogar os vestígios e
documentos. No caso de uma tumba: de quem era essa tumba? Quando foi construída? Quem
a construiu? Onde se localiza? O que houve nesse local na época descrita? Há símbolos?
Quando o cadáver morreu? Era homem? Era mulher? Era pobre? Era sacerdote? Qual a
profissão? Quem são os pais do cadáver? Quais são os filhos?
Parafraseando Edmund Burke – filósofo, político e orador britânico – “Um povo que não
conhece sua História está fadado a repeti-la”. A importância de estudar história não se
encontra no passado, e sim no presente, no futuro. Através da análise de contextos e
acontecimentos do passado, pode-se descobrir mais sobre os povos que habitam o presente,
suas origens, sua constituição, sua genética, seus nomes. Através da história, compreendemos
a arquitetura atual, todo o processo que passamos para enfim chegar ao que temos hoje.
Literatura, pintura, música, medicina, filosofia, direito, pedagogia, ciência. Através da história
conhecemos as técnicas de artesanato do passado, as produções de tecnologias, os conflitos
que deram rumo a história da humanidade.
História pode ser sinônimo de passado, mas estudar história não se restringe a isso, mas sim, a
compreender o presente a partir de uma perspectiva pretérita. Sem olhar para trás, jamais
conseguiríamos avançar tanto. A história resgata conhecimentos perdidos, valores criados
tempos atrás, obras de arte. A história está presente em todos os cursos de graduação, dado o
reconhecimento de seu caráter esclarecedor e provedor de conhecimento. Excluindo a
história, jamais teríamos conhecimento da origem das estátuas gregas que hoje enfeitam
nossas avenidas, jamais teríamos noção da arquitetura que construímos, de onde viemos, de
onde veio nossa cultura, e sequer saberíamos tanto sobre filosofia, matemática, medicina,
engenharia, geografia, tecnologia e ciência em geral.
Um povo que conhece sua história conhece sua cultura, conhece seus direitos e deveres,
conhece suas capacidades, seus fortes e fracos, momentos de luta e glória. Literalmente,
respiramos história, e da mesma forma que ela bebe na fonte de todas as ciências, todas elas
bebem em seu rio.
Ao contrário do que a maioria pensa, o estudo histórico se inicia na História Antiga, período
compreendido entre 4000 a.C (surgimento da escrita) e 476 a.C (queda do império romano
ocidental). Antes disso, era pré-história, período deixado de lado pelos primeiros historiadores.
A divisão quartipartite da história foi uma ideia francesa, elaborada sob uma perspectiva
eurocêntrica, tendo por principais marcos históricos – acontecimentos que separam os
períodos históricos – fatos ocorridos na Europa: queda de Roma, Renascimento, Revolução
Francesa. A única exceção à regra é o surgimento da escrita, que se deu no oriente próximo,
chamado de Crescente Fértil.
A ideia de dividir a história em partes possui duas funções: facilitar o estudo da história e
colocar em mesa a importância do continente europeu num contexto histórico mundial. Essa
divisão em quatro: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea não é à toa, e possui critérios,
os quais foram evidentemente citados no parágrafo acima. Em seu livro “As Palavras e as
Coisas”, Michael Foucault – sociólogo francês da idade contemporânea – afirma que todo
processo de diferenciação ou semelhança é feito com base em critérios prévios e bem
definidos, com um ou mais propósitos.
Pré-História Antiga Média Moderna Contemporânea
Invenção da escrita (4000 a.C) Queda de Roma (776) Renascimento (1600) Rev.Francesa (1789)
Há uma dificuldade compreensível nos estudos sobre a idade antiga, e ela se dá, sobretudo, pela
ausência de documentos escritos. O ato de escrever para recordar acontecimentos passados começou
na idade média, nos monastérios, com os monges copistas. Dada a falta de escrituras, até a existência
de alguns personagens, tais como Homero e Sócrates, são incertas e dignas de especulação por parte de
alguns estudiosos.
Se não há vestígios escritos, isto é, documentos, como são feitos os estudos desse período? O
historiador se vale, quase sempre, de vestígios menos significativos para construir sua pesquisa, o
unindo a vários outros vestígios para assegurar veracidade e credibilidade ao seu argumento. Mesmo
não havendo nada escrito, isto não invalida os documentos dessa época, pois, vestígios mais
significativos – como dito em tópicos anteriores – tais como tumbas e sarcófagos, servem de
documentos históricos dado a quantidade de suposições e deduções que podem ser tiradas. O mesmo
certamente há de ocorrer com a arquitetura, um dos maiores e mais ricos vestígios para a história, dado
seu caráter duradouro, na maioria dos casos.
2.2 Pré-História
Antecedendo o período em cheque, a Pré-História sequer faz parte da divisão quartipartite criada na era
Moderna. Por muito, o contexto antes da escrita foi descartado, irrelevante, até pela falta de vestígios e
documentos que atestassem sua existência.
A Pré-História é o período compreendido do surgimento do ser humano, por volta de 3 milhões a.C
(diversas divergências), e o surgimento da escrita, por volta de 4000 a.C. Pela ausência da escrita, a
impressão prevalecente é a que não há como pesquisar acontecimentos nessa faixa do tempo, ou
mesmo, que nada se produziu nessa época. Contrariando a maioria dos preconceitos, os povos nômades
e ágrafos apresentavam métodos educativos, técnicas de artesanato, religiosidade, organização “social”
e, o principal objeto de pesquisa, desenvolvimento de arquitetura.
O berço da arquitetura se dá num período onde sequer havia como desenhar plantas sofisticadas ou
escrever medidas. Arquitetura pode ser definida como “espaço geográfico”, isto é, o espaço natural que
foi modificado pelo homem com um propósito. A razão de tal modificação, no caso pré-histórico, é a
sobrevivência do bando.
A primeira manifestação arquitetônica e primeira revolução são os megálitos, pedras altas enfincadas no
chão, geralmente, postas em grupamentos, uma ao lado da outra. Variações mais conhecidas são os
menires – que vieram a originar os obeliscos egípcios – e os dolmens, construtos primitivos feitos por
três pedras altas: duas postas em paralelo (uma ao lado da outra) e uma colocada apoiada nas duas
primeiras, formando uma espécie de teto sustentado. Desenhos rupestres e gravados podiam ser
acoplados às pedras. Acredita-se que esses megálitos tinham funções de identificação de locais,
religiosas e de abrigo.
A posteriori, a segunda revolução arquitetônica são os abrigos. Originalmente, foram feitos com
diversos materiais diferentes, tais como: pedras, galhos e folhas e barro. A função principal era a
mesma: proteger os nômades do frio, dos animais e do tempo em geral, entretanto, a sua função
secundária mudava conforme o material. Por exemplo, cabanas feitas de galhos e folhas eram ótimas
para serem transportadas, ou mesmo facilmente descartadas, dada uma possível abundância do
material. Os abrigos de pedra, por sua vez, não eram transportáveis, mas protegiam mais contra o frio e
o tempo, possibilitando, inclusive, que a fogueira fosse acessa dentro da residência temporária.