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Nostalgia da infância
Fernando Pessoa: poesia do ortónimo
“EU”
“dama”
• elemento feminino; alguém menos experiente (“Não sei”);“Filha”
• procura obter respostas ( “Porque era tudo meu?”)
• 5ª estrofe: o desejo de continuar a sonhar:
• Conta-me contos, ama… (“resistência ao conselho desesperançado
da ama”)
Conclusão:
Contos : evasão no tempo/espaço = felicidade.
Esquematizando
“TU”
ama
• inicialmente parece ser alguém mais experiente
• confidente ou voz da consciência (alter-ego)
• respostas entre parênteses:
não sabe responder (Filha, quem o soubera!...);
perplexidade (responde, por vezes, com perguntas: (Filha, quem o
adivinha?);
o que nos transcende, algo inalcançável
• a voz do bom senso, da razão
(Filha, os sonhos são dores…); (Filha, o resto é morrer…).
Conclusão
A ama, com o seu realismo, tenta refrear o entusiasmo da dama, trazendo à
baila o tema da morte (efemeridade da vida).
Na 5ª estrofe, a ama, com o seu tom de desalento, já não comparece.
Valor simbólico dos elementos referidos:
• “jardim”, “azul”, “céu”, “Primavera”, “flores”: o paraíso (Éden), a
infância, a felicidade perdida
• a “ama”: o aconchego, a segurança do passado
• o “sonho”: a fuga aos limites da realidade, a felicidade
Elementos que apontam para o mundo fantástico, do
lirismo popular:
• Contos de fadas, reis, rainhas
• O privilégio dado à imaginação, à fantasia
• Evasão no tempo e no espaço como percurso para a felicidade
• Infância como espaço de bem-estar
• …
Bernardo Soares
Eu nunca fiz senão sonhar.
Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da
minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida
interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo
a janela para dentro de mim, pude esquecer-me na visão do seu
movimento.
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver
nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao
que nunca pude ser. […] Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve
sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca
desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que
passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca
deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens
interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os
aquedutos que se esfumam — quase na distância das minhas paisagens
sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes de
paisagem — uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Lisboa: Tinta-da-China, 2014.
Fernando Pessoa
Nostalgia da infância