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Simões Lopes Neto

(1865 – 1916)
João Simões Lopes Neto
• João Simões Lopes Neto é representante
de uma corrente da ficção brasileira que
fixa as diferentes zonas rurais do país.
Essa corrente, iniciada durante o
Romantismo, recebeu o nome de
regionalismo.
Simões Lopes Neto
• OBRAS:
• “Cancioneiro guasca (1910);
• “Contos gauchescos” (1912);
• “Lendas do Sul” (1913);
• “Casos do Romualdo (1952, edição
póstuma).
Simões Lopes Neto

• A pequena produção literária de Simões


Lopes Neto rompeu com a visão exótica da
vida rural, apresentada pelo Romantismo, e
revelou uma dimensão revolucionária, em
função de vários fatores:
A dimensão revolucionária

• Registro predominantemente realista do


universo gauchesco.
• Utilização artística da linguagem própria
da campanha sul-rio-grandense.
• Sentido universal dos contos.
O universo gauchesco
• O escritor pelotense captou um mundo que
se esboroava:
• Decadência de Pelotas como núcleo
econômico sul-rio-grandense = as
charqueadas.
• Causas: Abolição = queda rápida do
consumo de charque.
• Conseqüências = as concepções
aristocráticas da elite pastoril transformaram-
se em nostalgia do passado.
O universo gauchesco

• Todos os relatos de Simões Lopes Neto


transcorrem no passado, abrangendo um
período histórico que se inicia depois da
Independência e alcança o início do século
XIX.
O universo gauchesco
• Vários momentos significativos da formação
do Rio Grande do Sul são evocados como
pano de fundo de seus contos: a Revolução
Farroupilha, as Guerras Platinas, a Guerra do
Paraguai, etc.(há um silêncio constrangido
sobre a terrível e fratricida Guerra Civil de
1893, ainda muito próxima do escritor).
O universo gauchesco

• Atenção = Contudo = os contos de Simões


não são históricos, pois o interesse do
ficcionista é muito mais a tragédia humana
do que a pintura detalhada de um período.
O universo gauchesco

• Simões Lopes Neto possuía um amplo


domínio da matéria-prima de suas histórias.
Era, portanto, um conhecimento do mundo
gauchesco que se originava de duas fontes
básicas: a da cultura letrada e a de sua
própria observação pessoal.
O universo gauchesco

• Sua complexa percepção da realidade


social e humana da campanha sulina
resulta também do conhecimento direto da
vida de peões, vaqueanos, estancieiros,
etc.
A visão sobre o gaúcho

• Inovações técnicas de Simões Lopes Neto:


• Ceder a voz narrativa de sua principal obra –
Contos gauchescos – a um velho vaqueano,
Blau Nunes.
A visão sobre o gaúcho

• O narrador Blau Nunes = Depois de ser


apresentado pelo escritor, Blau põe-se a
relatar as 19 histórias (somadas a um
conjunto de adágios (sentença moral; ditado):
Artigos de fé do gaúcho) que integram os
Contos gauchescos.
O narrador Blau Nunes
• Narra histórias que ele viveu diretamente,
apenas presenciou ou simplesmente ouviu
e agora recupera, para recontá-las a seu
interlocutor. Registre-se, porém, que, mais
do que evocações líricas do passado e da
terra, essas lembranças do vaqueano são
uma tentativa de explicação do homem do
pampa.
A visão de Blau Nunes

• A visão de Blau Nunes em relação ao


gaúcho é ambígua. Por um lado,
celebra-lhe as virtudes: a hombridade, a
bravura, a honestidade, etc.(Ex. conto =
Trezentas onças).
A visão de Blau Nunes
• Por outro lado, Blau é essencialmente um
gaudério, um homem que tem de seu apenas o
cavalo e as habilidades campeiras e guerreiras.
Alguém que pertence ao núcleo dos “de baixo”
e que olha para os “de cima” com certa
desconfiança. Mais de uma vez, ele expressa
nostalgia de uma época em que a hierarquia
social não fora ainda totalmente estabelecida.
(Ex. conto = Correr eguada)
A visão sobre o gaúcho

• Flávio Loureiro Chaves observa que Blau


Nunes aparentemente subscreve todos os
princípios heróicos e machistas do
gaúcho, mas, no transcurso de suas
histórias, acaba por contestá-los.
A visão sobre o gaúcho
• De fato, nos contos em que a violência
impera, minuciosamente descrita, e o sangue
jorra aos borbotões, o narrador demonstra um
visível desconforto. Esse mal-estar é
acompanhado, por vezes, de um sentimento
de culpa moral. Isso contradiz a lógica
guerreira e sanguinária de uma civilização
forjada na conquista épica do território, na
defesa das fronteiras e nas lutas fratricidas.
Linguagem regional e expressão
artística
• Para não utilizar a norma urbana culta, que
soaria falsa e artificial, e para não utilizar
somente o linguajar do peão, que romperia a
convenção literária e se isolaria na condição
de folclore, Simões Lopes Neto fez largo uso
do léxico (vocabulário) e eventualmente da
sintaxe (construção gramatical) próprios da
linguagem da campanha, mas submetendo-os
à morfologia (estrutura) da referida norma
urbana culta.
Linguagem regional e expressão
artística

• Conclusão = Simões Lopes Neto pôde


manter a cor local sem romper com a
tradição literária brasileira.
Linguagem regional e expressão
artística

• A fala de Blau Nunes é saborosa,


sugestiva, em função de inúmeras e
criativas metáforas, e dá a impressão de
total naturalidade.
Linguagem regional e expressão
artística
• A fala de Blau Nunes:
• Espanholismos = despacito + entrevero...
• Arcaísmos = escuitar + peor ...
• Corruptelas (erro; engano) = vancê +
desgoto...
• Vários termos típicos = china + bagual +
chiru + entropigaitado (bêbado)
Sentido universal dos contos
• Simões Lopes Neto atinge, em inúmeros
relatos de Contos gauchescos e pelo menos
em A salamanca do Jarau, de Lendas do Sul,
uma grandeza literária ímpar. Contribuem para
isso, além do uso criativo da fala meridional,
dois fatores essenciais: o domínio da técnica
do conto; a revelação do drama humano que
permeia a vida rural da província.
A técnica do conto
• O modelo de conto empregado por Simões
Lopes Neto provém de Guy de Maupassant,
então o escritor (contista) mais lido no mundo.
E o chamado conto tradicional: curto, nervoso,
centrado em uma única ação, conduzindo o
leitor à surpresa de um desfecho inesperado e
freqüentemente trágico. A trama é, na verdade,
uma preparação para o clímax final.
O drama humano
• Os principais relatos do autor pelotense
são aqueles que Augusto Meyer arrolou
sob a denominação de contos de sangue
e paixão. Todos documentam os
costumes e as singularidades da região
pastoril e apresentam personagens
inseridos na “vida bárbara dos gaúchos”.
O drama humano
• Contudo, há neles um tão intenso turbilhão de
sentimentos elementares que o homem
histórica e geograficamente determinado cede
lugar ao homem universal, com sua cegueira e
seus desatinos.
• O homem universal = a natureza humana em
sua essência mais profunda e independente
das circunstâncias históricas.

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