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Prevenção de LER/DORT no trabalho de

caixa e ineficácia da norma

José Marçal Jackson Filho


FUNDACENTRO/RJ
Brasília, 25 de abril de 2012
Introdução
• Campo da ‘saúde, Trabalho e Direito’ (Vasconcelos e Oliveira,
2011)
– Relação entre trabalho de caixa e LER/DORT, como explicar o
adoecimento
– O que fazer para prevenir? Como proteger os trabalhadores de
determinantes organizacionais?
• Eficácia da norma que visa a proteção da saúde
– NR 17 e seu anexo I
– Não é eficaz, pois o adoecimento é inerente ao modo de produção? ou
porque sua elaboração final não contempla fatores essenciais para a
prevenção?
Os efeitos da reestruturação tecnológica nos
supermercados

• Setor passou por forte reestruturação: automação do


trabalho dos operadores de caixa (DIEESE, 1999).
Objetivo: aumentar o fluxo de produtos.
• Intensificação do trabalho com introdução do
“scanner”: 2 a 3 min por cliente, 1 artigo a cada 3s, 20
clientes por hora (INRS, 1994).
• Desenho do trabalho multi-tarefa: atendimento,
segurança, entrada de dados, cobrança, ensaque,
pagamentos diversos...
Contradição entre:

modelo industrial

prestação de serviço
Características da população e do estado de
saúde

• Alta prevalência de problemas músculo-


esqueléticos: 37,2% (Ryan, 1989) e 15% (INRS,
1994).
• A escanerização aumentou as queixas referidas
(INRS).
• População jovem (< 25 anos) baixo tempo de
serviço. Fenômeno de auto-exclusão.
Trabalho físico
• 20% dos objetos pesam de 1 a 7 kg.
• Trabalho de pé em boa parte da jornada.
• Postura imposta pela pressão das filas, clientes e
hierarquia.
• A tarefa de ensaque provoca aumento da taxa de
freqüência e de acidentes e maior número de dias
de afastamento. Deve ser proibida (INRS, 1994)
• Desenho do trabalho e dos ‘check-outs’.
Trabalho ‘sob pressão e sob tensão’: aspectos
emocionais e cognitivos

• Manipulação de valores, violência


• Injunções contraditórias: amáveis com clientes,
mas desconfiados; rapidez e qualidade.
• Pressão da fila, dos clientes e da hierarquia
• Recebem efeitos dos ‘disfuncionamentos’
• Atenção permanente (visão, escuta, etc),
memorização.
Embora aparentemente simples, o trabalho dos
operadores de caixa é complexo, além de:

duro fisicamente,

‘sob pressão e sob tensão’,

A margem de ação dos operadores é limitada.


Pode-se, então, compreender a relação entre
DORT e trabalho dos OC e, sobretudo, do peso
dos fatores organizacionais.

As DORT são efeito inevitáveldo sistema de


produção?
Análise Ergonômica do Trabalho (NR-17)

• Dirigida por um problema


• Atividade (trabalho real) é analisado a partir
das exigências colocadas pela empresa
(trabalho prescrito)
• Princípios metodológicos
• Diagnóstico e transformação
Determinantes

Trabalhar Saúde

Construção
hipóteses
demanda observações diagnóstico

Primeiras pistas: ensaque ou pesagem?


ou
Pesagem ensaque

Primeiras pistas: ensaque ou pesagem?


A tarefa segundo o supervisor
• Produtos pesados tais como leite, os operadores chamam
sempre os orientadores de caixa pra contar as mercadorias, pra
conferir
• Em relação ao acondicionamento do produto, a gerência
afirma que estaria a cargo do operador de caixa, e que há
pessoas no apoio mas que não cobrem a frente de caixa toda.
• Acha que os problemas de saúde dos operadores
são muito mais relacionadas a pulso do que a
ombro; na sua opinião estão mais relacionados
com a digitação do que com carregar os
produtos; mais digitação dependendo da forma
de pagamento
Loja SM, movimento

3%
8% 18%
escanear
digitar

5% pesar
ensacar
3%
interagir
pagamento
41%
19% preparar
esperar
3%
Loja SM

Diagnóstico

Mais tempo no ensaque


Gestos extremos no ensaque.
Observações
Compatível com perfil de
sistemáticas
morbidade.
Desenho dos check-outs
produtos clientes

Estado dos
equipamentos fila

Formas de pagamento
Loja SM

Diagnóstico

Mais tempo no ensaque


Gestos extremos no ensaque.
Observações
Desenho inibe ajuda dos
sistemáticas
clientes, bloqueia fluxo.
Poucos embaladores.
Conclusões baseadas na AET

Projeto organizacional
Adoecimento e dos equipamentos
O que fazer para prevenir?
Como proteger os trabalhadores da
intensidade do trabalho e dos riscos
biomecânicos?
Prevenção depende da limitação da ‘exposição’ e
‘controle’ das fontes de pressão.
Para prevenir é preciso ir ‘para além’ da norma
(anexo 1 da NR17)
Anexo 1 NR 17

A organização do trabalho
• Princípio: através de medidas organizacionais manter
nível de densidade de trabalho adequado e evitar
formas de avaliação de desempenho através de
estímulo à ”produção”..
• Medidas para garantir pausas
• Tarefas de “risco”: pesagem e ensaque (não é
recomendável)
É PRECISO PORTANTO

Proibir a realização do ensaque pelos operadores


de caixa

Pausas para diminuir a ‘exposição’ aos clientes,


permitir a recuperação diante da grande
manipulação
Após compreender a relação entre DORT e
trabalho dos OC e, sobretudo, do peso dos fatores
organizacionais pode-se dizer que:

A adoção de medidas normativas como as


As DORT são efeito INEVITÁVEL do sistema
propostas poderá diminiur substancialmente a de
produção?
prevalência das LER/DORT.
Obrigado a todos e a todas!

jose.jackson@fundacentro.gov.b
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