Você está na página 1de 20

TROVADORISMO

MEDIEVO
REVISITADO

Strella do Dia

http://www.youtube.co
m/watch?v=Q3NH38jy-
U0
TROVADORISMO
CANTIGAS DE AMOR

Pois naci nunca vi amor


E ouço d'el sempre falar.
Pero sei que me quer matar
Mais rogarei a mia senhor
Que me mostr' aquel matador
Ou que m'ampare d'el melhor.

Nuno Fernandez Torneol (séc XIII)

Legião Urbana - Love Song (ao vivo).mp4


LITERATURA PORTUGUESA I

TROVADORISMO

CANTIGAS
SATÍRICAS

Prof. Stélio Furlan


TROVADORISMO 
Modalidade literária que consiste na crítica das
cantigas satíricas instituições ou pessoas, na censura dos males da
sociedade ou dos indivíduos

envolve uma atitude ofensiva, ainda quando
SÁTIRA dissimulada

o ataque é a sua marca distintiva, a insatisfação
perante o estabelecido a sua mola básica.
“riso malévolo”, “insolente”

(MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos


literários, p.412-413)
TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS

• Espaço para o
questionamento da hierarquia
e da ideologia feudal
• Compostas pelo trovador e
executadas pelo jogral e a
companheira.
• Abolição das formalidades e
etiquetas.

Grupos sociais - Século XIII


• Carnavalização do sério pelo
MARQUES, Marques; COSTA, Fátima. História e Geografia de Portugal - 5º Ano,
cômico, pelo (sor)riso.
Porto Editora.


TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS

Temas: problemas da época

•a sovinice dos homens ricos,


•os caloteiros,

•a miséria das crianças,

•o costume de casar as raparigas à força,

•as volúpias das damas da corte,

•as mulheres mal-maridadas,

•a infidelidade feminina e masculina,

•os viciados em jogo,

•os faladores, indiscretos,

•as visitas inoportunas...


TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS

Temas: pessoas
•a dona sandia;
•o covarde; o desertor da guerra;

•o trovador hiperbólico (as convenções do amor


cortês tal como é expresso nas cantigas de amor).
•um rei boêmio;

•o burguês unha de fome;

•o velho que pinta o cabelo e que se apaixona por


uma cortesã;
•a mãe que ensina a filha a saracotear e não a coser e
a fiar;
•um frade que se dizia impotente mas que era
arreytado;
•o namoro de uma freira e um tabelião..
TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS
Motivos:
Adultério, Agoiros/astrologia/superstições, Ambição/ganância,
Arte de trovar, Aspeto físico feminino, Aspeto físico masculino,
Avareza/pelintrice, Bajulação/interesse, Bebida, Caça,
Casamento/mancebia, Casamentos forçados, Cobardia,
Comportamentos políticos, Comportamentos sexuais,
Comportamentos sexuais dos religiosos, Defeitos físicos, Doenças
várias/tratamentos, Doenças venéreas, Duplicidade / mentira,
Entrada forçada para o convento, Estupidez, Exercícios/jogos militares,
Falta de escrúpulos/corrupção, Falta de palavra, Gravidez, Habitação,
Heranças/partilhas, Heresias/blasfémias, Homossexualidade, Impostos
, Impotência, Incesto, Incompetência profissional, Jogo, Maledicência,
Mau caráter, Maus jantares, Maus tratos domésticos, Modas/vestuário,
Nobreza recente, Pagamentos, Paródias ao amor cortês,
Peregrinações, Quotidiano feminino, Raptos,
Reações a cantigas anteriores, Recusa de hospedagem,
Relações vassálicas, Romarias, Roubo, Sexo e dinheiro,Traição,
Trovadores e jograis/pagamentos, Trovadores e jograis/ plágio,
Trovadores e jograis/ vida pessoal, Velhice, Vida religiosa

<http://cantigas.fcsh.unl.pt/temas.asp>
LITERATURA
PORTUGUESA
TROVADORISMO

COMPOSIÇÕES SATÍRICAS

ARTE DE TROVAR [SÉC.XIII]

Cantigas d'escarneo
e maldizer
CANTIGAS SATÍRICA MEDIEVAIS
ARTE DE TROVAR [SÉC.XIII]

►Capítulo Quinto

• Cantigas d'escarneo som aquelas que


os trobadores fazem querendo dizer
mal d'alguém em elas, e dizem-lho
per palavras cobertas que
hajam dous entendimentos, pera lhe-
lo nom entenderem ligeiramente;
• E estas cantigas se podem fazer
outrossi de meestria ou de refram.
• http://cantigas.fcsh.unl.pt/artedetrovar.asp
POESIA SATÍRICA MEDIEVAL
ARTE DE TROVAR [SÉC.XIII]

►Capítulo Sexto

• Cantigas de maldizer som aquela[s]


que fazem os trobadores
descobertamente e [em] elas entram
palavras e[m] que querem dizer mal e
nom haver[am] outro entendimento
senom aquel que querem dizer
chaam[ente].
http://cantigas.fcsh.unl.pt/artedetrovar.asp
CANTIGAS DE CANTIGAS
ESCÁRNIO DE MALDIZER

 sátiras indiretas:  sátiras diretas:


“a cantiga de escárnio “a cantiga de maldizer
conteria sátira, realizada encerraria sátira direta,
por intermédio do agressiva, contundente, e
sarcasmo, a zombaria e lançaria mão duma linguagem
uma linguagem de sentido objetiva, sem disfarce algum.
ambíguo” MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos
textos, p.27-31
TROVADORISMO
CANTIGAS DE ESCÁRNIO
E MALDIZER Ai, dona fea! foste-vos queixar
porque vos nunca louv'en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea, se Deus mi perdon!
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!

[Joan Garcia de Guilhade, séc. XIII]

 )

Cancioneiro da Vaticana, n 1097


TROVADORISMO
CANTIGAS DE ESCÁRNIO
E MALDIZER

• A linguagem em que eram vazadas admitia (...)


expressões licenciosas ou de baixo-calão: poesia
"forte", descambando para a pornografia ou o
mau gosto, possui escasso valor estético, mas
em contrapartida documenta os meios populares
do tempo, na sua linguagem e nos seus costumes,
com uma flagrância de reportagem viva. 

(MOISÉS, Massaud. A Literatura


Portuguesa, Editora Cultrix, São Paulo)
TROVADORISMO
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER “de refran”

• Dom Fulano tem fama de covarde Don Foão, que eu sei que há preço de livão,
• disso estou certo
Vedes que fez en guerra – daquesto sõo certão
sol que viu os genetes, come boi que fertavão,
• logo que viu os mouros, como boi aferroado
• levantou o rabo e fugiu para Portugal sacudiu-se e revolveu-se, al-
çou rab´ e foi sa via a Portugal

Don Foão, que eu sei que há preço de ligeiro,


• tem fama de leviano vedes que fez en a guerra – daquesto som verdadeiro:
sol que viu os genetes, come bezerro tenreiro,
sacudiu-se e revolveu-se, al-
• como bezerro novo çou rab´ e foi sa via a Portugal.

Don Foão, que eu sei que há prez de liveldade,


vedes que fez e na guerra – sabede-o per verdade:
• tem fama de medroso sol que viu os genetes, come cam que sal de grade,
sacudiu-se e revolveu-se, al-
• como cão que foge da corrente çou rab´ e foi sa via a Portugal.

D. Afonso Mendes de Besteiros
(sec.XIII)
TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS “de mestria”
PERO GARCIA BURGALÊS (Séc. XIII)

Roi Queymado morreu cõ amor


Foi Rui Queimado morrer de amor
en seus cãtares, par Sancta Maria, em seus cantares, ao que dizia,
por huña dona que grã ben queria; por uma dama e porque queria
e, por se meter por mays trobador, mostrar engenho de trovador.
por que lh' ela nõ quys o ben fazer, Como ela lhe não quis valer,
fezess-s' el en seus cantares morrer, fez-se ele em seus cantares morrer,
mais resurgiu depoys, ao tercer dia!
mas ressurgiu ao terceiro dia.
Esto fez ele por hûa ssa senhor
que quer grãn ben; e mays vus en diria: Demonstrar quis o seu fervor
por que cuyda que faz hi maestria, por uma dama, mas eu diria:
enos cantares que fez ha ssabor Preocupado com a mestria
de morrer y e des y d' ar viver; dos seus cantares, tem o pendor
esto faz el, que x' o pode fazer, de, embora morto, lograr viver.
mays outr' omem per rem nono faria. Isto só ele pode fazer
E nom ha ja de ssa morte pavor, porque outro homem não o faria.
senõ ssa morte mays la temeria,
mays sabe ben, per ssa sabedoria, E já da morte não tem pavor,
que viveraa, des quando morto for; Se não mil vezes a temeria.
e fazess' en sseu cantar morte prender, Próprio é da sua sabedoria
des y ar vive: vedes que poder Viver enquanto morto for.
que lhi Deus deu, mais que nõ cuydaria! Em seus cantares pode morrer
E, sse mi Deus a mi desse poder Estando vivo. Maior poder
qual oj' el ha, poys morrer, de viver, Obter de Deus não poderia.
ja mays morte nunca temeria.
Desse-me Deus igual poder
de, embora morto, poder viver,
e nunca a morte me assustaria
►TROVADORISMO
CANTIGAS SATÍRICAS
Roi Queymado morreu cõ amor
en seus cãtares, par Sancta Maria,
por huña dona que grã ben queria; ►Conteúdo semântico:
e, por se meter por mays trobador,  Roi Queimado é satirizado como
por que lh' ela nõ quys o ben fazer,
fezess-s' el en seus cantares morrer, trovador de pouca qualidade e
mais resurgiu depoys, ao tercer dia! ridiculariza-se o amor cortês:
Esto fez ele por hûa ssa senhor • 1ª: Roi Queimado, pretendendo-se melhor
que quer grãn ben; e mays vus en diria:
trovador e mais sincero amador, morreu de
por que cuyda que faz hi maestria,
enos cantares que fez ha ssabor amor por ela.
de morrer y e des y d' ar viver; • 2ª: Ele o fez porque acha que assim se
esto faz el, que x' o pode fazer,
mays outr' omem per rem nono faria. mostra mais engenhoso do que os demais.
• 3ª: Como se eleito de Deus, já não teme a
E nom ha ja de ssa morte pavor,
senõ ssa morte mays la temeria, morte. Se ao poeta lhe fosse dado esse
mays sabe ben, per ssa sabedoria, poder, também não a temeria e
que viveraa, des quando morto for;
ressuscitaria como Queimado.
e fazess' en sseu cantar morte prender,
des y ar vive: vedes que poder
que lhi Deus deu, mais que nõ cuydaria! ►Aspectos estruturantes:
E, sse mi Deus a mi desse poder  cantiga de mestria (sem refrão); fiinda;
qual oj' el ha, poys morrer, de viver,
ja mays morte nunca temeria. 
Esquema rímico: ABBACCB

Coblas uníssonas: única série de rimas
que se repetem
POESIA SATÍRICA
INTERTEXTO:

PARÓDIA
• étimo: do grego (paroidía):
canto ao lado de outro
• Composição literária que imita, • A paródia é um dos modos
cômica ou satiricamente, o tema maiores da construção formal e
ou/e a forma de uma obra séria. temática de textos.
• O intuito da paródia consiste em • A paródia é capaz de poder
ridicularizar uma tendência ou um transformador ao criar novas
estilo que se torna conhecido ou sínteses.
dominante. • Abordagem criativa/produtiva da
tradição.
• (Massaud Moisés. Dicionário de termos literários)

• (HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia)


INTERTEXTO
PARÓDIA

Lisa Gherardini (1479-1572)
por Leonardo da Vinci
AO GOSTO “MODERNISTA” AO GOSTO “CLÁSSICO”
Juó Bananère [séc.XX] Olavo Bilac [1865-1918]

NO MEIO DO CAMINHO
PRA MIGNA ANAMURADA
CHEGUEI. Chegaste. Vinhas fatigada
XINGUÊ, xisgaste! Vigna afatigada i triste E triste, e triste e fatigado eu vinha.
I tirste i afatigada io vigna; Tinhas a alma de sonhos povoada,
Tu tigna a arma povolada di sogno E a alma de sonhos povoada eu tinha.
I a arma povolada di sogno io tigna. E paramos de súbito na estrada
Ti amê, m'amasti! Bunitigno io éra Da vida: longos anos, presa à minha
I tu tambê era bunitigna; A tua māo, a vista deslumbrada,
Tu tigna uma garigna de féra Tive da luz que teu olhar continha.
E io di féra tigna uma garigna. Hoje, segues de novo... Na partida
Una veiz ti begiê a linda mó, Nem o pranto os teus olhos umedece,
I a migna tambê vucê begió. Nem te comove a dor da despedida.
Vucê mi apiso nu pé, e io non pisé no da signora. E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Moltos abbracio mi deu vucê, Vendo o teu vulto que desaparece
Moltos abbracio io tambê ti dê. Na extrema curva do caminho extremo.
U fóra vucê mi deu, e io tambê ti dê u fóra.

Você também pode gostar