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Departamento de Letras

Campus Mata Norte

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE


CAMPUS MATA NORTE
LETRAS – PORTUGUÊS/ INGLÊS
LITERATURA BRASILEIRA I
JOSIVALDO CUSTÓDIO

A representação árcade do indígena: Uma


análise da obra O Uraguai de Basílio da Gama
Discentes: Danielson Venceslau Nunes, Jhonnathah Xavier de Melo,
Karoline Barbosa de Azevedo, Mateus Campos da Silva e Waallacy
Kennedy R. de Araujo Silva.
Sumário

01 Introdução 05 Metodologia
Análise e discussão
02 Justificativa 06 de dados
03 Objetivos 07 Considerações finais
04 Fundamentação teórica 08 Referências
Introdução
Neste trabalho, considerando os aspectos

01
sociais enquanto elementos externos, que se
inserem diretamente na obra, discutiremos
especificamente a forma como se apresenta na
obra O Uraguai, de Basílio da Gama, o
elemento indígena árcade, analisando como as
suas representações estariam vinculadas à
condição sociocultural e ao pensamento
predominante da escola arcádica.
2. Justificativa
A literatura é uma forma de conhecimento, de modo que as realidades abordadas no texto
literário servem não só como ficção mais como formas de pensar nas múltiplas
possibilidades que as relações inter-humanas produziram ao longo do tempo. Neste viés, o
texto literário apresenta simbolismos que implicam em algo além do seu significado
manifesto e imediato. Assim, o presente trabalho tem como justificativa a exposição da
representação indígena na obra “O Uraguai” de Basilio da Gama, e a partir desta
concepção buscaremos demonstrar, especificamente, como se constrói a representação do
índio no poema. Portanto, vale pontuar a dimensão que esta pesquisa possui, visto que,
apoiada no texto de Antônio Candido, “Literatura e Sociedade” (1965), pode-se notar os
aspectos sociais inerentes a esta representação, enquanto elemento externo, mas que se
insere diretamente na obra, apresentando uma interpretação dialética. Destacando-se
ainda, a relação do texto com as temáticas presenciadas no cotidiano e como a figura do
índio permanece em nossa cultura até hoje, com as heranças por ele nos deixada e além
de tudo, o seu impacto e relevância para todos os âmbitos do nosso país (social,
educacional e cultural).
3. Objetivos
Objetivo Geral

Analisar a representação indígena árcade, na obra “O Uraguai” de Basílio da Gama,


baseada no texto teórico de Antônio Candido, “Literatura e Sociedade” (1965).

Objetivos Específicos

Abordar a representação indígena, sob o viés sociológico, no poema “O Uraguai”.


Demonstrar a relação entre o texto literário e a sociedade.
Identificar e compreender se os aspectos sociais enquanto elemento externo, se
inserem diretamente na obra, possibilitando uma interpretação dialética.
Elucidar como a teoria definida para o norteio desta pesquisa se apresenta na obra,
assim como suas especificidades.
Apresentar o contexto no qual a obra de Basílio está inserida e como este interfere
diretamente na obra.
04. Fundamentação teórica
● Literatura e sociedade (1965) – Antônio Candido
● Relação entre o texto literário e sociedade, crítica e sociologia

● “Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma


dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e
contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho
ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado
pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam
como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda,
que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como
significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na
constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.” (CANDIDO, 2006,
p. 13-14)
• Fusão do texto e contexto: Organicidade interna
“Tomando o fator social, procuraríamos determinar se ele fornece
apenas matéria (ambiente, costumes, traços grupais, ideias), que
serve de veículo para conduzir a corrente criadora (nos termos de
Lukács, se apenas possibilita a realização do valor estético); ou se,
além disso, é elemento que atua na constituição do que há de
essencial na obra enquanto obra de arte (nos termos de Lukács, se
é determinante do valor estético).” (CANDIDO, 2006, p. 14-15)
• Crítica sociológica sob o viés literário
 
Ademais, é importante ressaltar que segundo o crítico é necessário
sair dos aspectos periféricos da sociologia ou da história, “para
chegar a uma interpretação estética que assimilou a dimensão social
como fator de arte” (CANDIDO, 2006, p. 14-15).

Assim, o crítico apresenta algumas modalidades mais comuns de


estudos de tipo sociológico em literatura:
 
 
1) Método tradicional na qual se procura relacionar o conjunto de uma
literatura/período com as condições sociais;

2) Método simples que busca verificar se a obra espelha ou representa a sociedade;

3) Método sociológico que estuda a relação entre a obra e o público;

4) Método que estuda a posição e a função social do escritor;

5) Método que investiga a função política da obra e o autor;

6) Método relacionado a investigação hipotética das origens do gênero/da obra.

A análise literária deve observar como os fatores sociais contribuem para a estética
e criação literária, assim, “o fator social é invocado para explicar a estrutura da obra
e o seu teor de ideias, fornecendo elementos para determinar a sua validade e o seu
efeito sobre nós.” (CANDIDO, 2006, p. 25).
05 Metodologia
Esta pesquisa configura-se como qualitativa
e explicativa de natureza básica e de caráter
exploratório, tendo sido realizada por meio de
procedimentos bibliográficos.
06
Análise e discussão
dos dados
6.1 Autor e obra
6.2 Contexto histórico
6.3 Análise geral
6.4 A representação
árcade dos indígenas
6.1 Autor e obra

José Basílio da Gama (1741 – 17950)


6.2 Breve contexto histórico da obra
6.2 Breve contexto histórico da obra
Cinco cantos.
Tema central o
descobrimento e também
a colonização dos países
do continente Americano.

6.3
Análise geral A sua estrutura é centrada
no uso de versos
Prefazem o Arcadismo decassílabos brancos, com
Clássico na Europa. ausência de rima. Ao todo,
são cinco cantos em estrofe
longa.
6.4 – A representação árcade dos indígenas
1. O encobrimento dos povos indígenas e a recusa do estranho

“Tudo em silêncio, e dá princípio Andrade: Se atravessassem no caminho aos nossos,


O nosso último rei e o rei de Espanha E que lhes disputassem o terreno!
Determinaram, por cortar de um golpe, Enfim não lhes dei ordens para a guerra:
Como sabeis, neste ângulo da terra, Frustrada a expedição, enfim voltaram.
As desordens de povos confinantes, Co’ vosso general me determino
Que mais certos sinais nos dividissem. A entrar no campo juntos, em chegando
Tirando a linha de onde a estéril costa, A doce volta da estação das flores.
E o cerro de Castilhos o mar lava Não sofrem tanto os índios atrevidos:
Ao monte mais vizinho, e que as vertentes Juntos um nosso forte entanto assaltam.”
Os termos do domínio assinalassem. (GAMA, 2018, p. 47)
Vossa fica a Colônia, e ficam nossos
Sete povos, que os Bárbaros habitam
Naquela oriental vasta campina
Que o fértil Uraguai discorre e banha.
Quem podia esperar que uns índios rudes,
Sem disciplina, sem valor, sem armas,
6.4 – A representação árcade dos indígenas
2. O direito a terra e o etnocídio indígena: A chegada dos índios Sapé e Cacambo.

“Já para o nosso campo vêm descendo, Eu, desarmado e só, buscar-te venho.
Por mandado dos seus, dous dos mais nobres. Tanto espero de ti. E enquanto as armas
Sem arcos, sem aljavas; mas as testas Dão lugar à razão, senhor, vejamos
De várias e altas penas coroadas, Se se pode salvar a vida e o sangue
E cercadas de penas as cinturas, De tantos desgraçados. Muito tempo
E os pés, e os braços e o pescoço. Entrara Pode ainda tardar-nos o recurso
Sem mostras nem sinal de cortesia Com o largo oceano de permeio,
Sepé no pavilhão. Porém Cacambo Em que os suspiros dos vexados povos
Fez, ao seu modo, cortesia estranha, Perdem o alento. O dilatar-se a entrega
E começou: Ó General famoso, Está nas nossas mãos, até que um dia
Tu tens à vista quanta gente bebe Informados os reis nos restituam
Do soberbo Uraguai a esquerda margem. A doce antiga paz. Se o rei de Espanha
Bem que os nossos avôs fossem despojo Ao teu rei quer dar terras com mão larga
Da perfídia de Europa, e daqui mesmo Que lhe dê Buenos Aires, e Correntes
Co’s não vingados ossos dos parentes E outras, que tem por estes vastos climas;”
Se vejam branquejar ao longe os vales, (GAMA, 2018, p. 57-59)
6.4 – A representação árcade dos indígenas
2.O direito a terra e o etnocídio indígena: A chegada dos índios Sapé e Cacambo.

“Prosseguia talvez; mas o interrompe


Sepé, que entra no meio, e diz: Cacambo
Fez mais do que devia; e todos sabem
Que estas terras, que pisas, o céu livres
Deu aos nossos avôs; nós também livres
As recebemos dos antepassados.
Livres as hão de herdar os nossos filhos.
Desconhecemos, detestamos jugo
Que não seja o do céu, por mão dos padres.
As frechas partirão nossas contendas
Dentro de pouco tempo: e o vosso Mundo,
Se nele um resto houver de humanidade,
Julgará entre nós; se defendemos
Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.
Enfim quereis a guerra, e tereis guerra.”
(GAMA, 2018, p. 69)
6.4 – A representação árcade dos indígenas
3. (RE)Existência: A valentia dos índios na luta pela sua terra e sua história

“Poucos índios no campo mais famosos, Quantas setas da mão voar fazia
Servindo de reparo aos fugitivos, Tantas na nossa gente ensangüentava.
Sustentam todo o peso da batalha, Setas de novo agora recebia,
Apesar da fortuna. De uma parte Para dar outra vez princípio à guerra.
Tatu-Guaçu mais forte na desgraça Quando o ilustre espanhol que governava
Já banhado em seu sangue pertendia Montevidio, alegre, airoso e pronto
Por seu braço ele só pôr termo à guerra. As rédeas volta ao rápido cavalo
Caitutu de outra parte altivo e forte E por cima de mortos e feridos,
Opunha o peito à fúria do inimigo, Que lutavam co’a morte, o índio afronta.
E servia de muro à sua gente.
Sepé, que o viu, tinha tomado a lança
Fez proezas Sepé naquele dia.
E atrás deitando a um tempo o corpo e o braço
Conhecido de todos, no perigo
A despediu. Por entre o braço e o corpo
Mostrava descoberto o rosto e o peito
Ao ligeiro espanhol o ferro passa:
Forçando os seus co’ exemplo e co’as palavras.
Já tinha despejado a aljava toda, Rompe, sem fazer dano, a terra dura
E destro em atirar, e irado e forte E treme fora muito tempo a hástea.
Mas de um golpe a Sepé na testa e peito
6.4 – A representação árcade dos indígenas
3. (RE)Existência: A valentia dos índios na luta pela sua terra e sua história

Fere o governador, e as rédeas corta No corpo desarmado estrago horrendo.


Ao cavalo feroz. Foge o cavalo, Viam-se dentro pelas rotas costas
E leva involuntário e ardendo em ira Palpitar as entranhas. Quis três vezes
Por todo o campo a seu senhor; e ou fosse Levantar-se do chão: caiu três vezes,
Que regada de sangue aos pés cedia E os olhos já nadando em fria morte
A terra, ou que pusesse as mãos em falso, Lhe cobriu sombra escura e férreo sono.”
Rodou sobre si mesmo, e na caída (GAMA, 2018, p. 79-81)
Lançou longe a Sepé. Rende-te, ou morre,
Grita o governador; e o tape altivo,
Sem responder, encurva o arco, e a seta
Despede, e nela lhe prepara a morte.
Enganou-se esta vez. A seta um pouco
Declina, e açouta o rosto a leve pluma.
Não quis deixar o vencimento incerto
Por mais tempo o espanhol, e arrebatado
Com a pistola lhe fez tiro aos peitos.
Era pequeno o espaço, e fez o tiro
6.4 – A representação árcade dos indígenas
4. A Reciprocidade entre a natureza e os indígenas

“Acorda o índio valeroso, e salta A nova empresa na limosa gruta


Longe da curva rede, e sem demora O pátrio rio; e dando um jeito à urna
O arco e as setas arrebata, e fere Fez que as águas corressem mais serenas;
O chão com o pé: quer sobre o largo rio E o índio afortunado a praia oposta
Ir peito a peito a contrastar co’a morte. Tocou sem ser sentido. Aqui se aparta
Tem diante dos olhos a figura Da margem guarnecida e mansamente
Do caro amigo, e inda lhe escuta as vozes. Pelo silêncio vai da noite escura
Pendura a um verde tronco as várias penas, Buscando a parte donde vinha o vento.
E o arco, e as setas, e a sonora aljava; Lá, como é uso do país, roçando
E onde mais manso e mais quieto o rio Dous lenhos entre si, desperta a chama,
Se estende e espraia sobre a ruiva areia Que já se ateia nas ligeiras palhas,
Pensativo e turbado entra; e com água E velozmente se propaga. Ao vento
Já por cima do peito as mãos e os olhos Deixa Cacambo o resto e foge a tempo”
Levanta ao céu, que ele não via, e às ondas (GAMA, 2018, p. 87-89)
O corpo entrega. Já sabia entanto
7. Considerações finais

Este trabalho teve como principal objetivo mostrar a iniciação da valorização


literária do índio provinda do discurso àrcade, com o poema O Uraguai (1769)
de Basílio da Gama, no qual o indígena já aparece como nação, como povo
perseguido e extorquido. Diante do exposto, o poema Basílio da Gama exprime
os imprescindíveis valores incorporados pelos nativos e a poesia da vida e da
morte destes que, mesmo sendo obrigados a se curvarem aos pés da Coroa
lusa, permaneceram como criaturas dignas, e continuaram sua luta, sua fala,
sua poesia que canta a Natureza e a Liberdade.
8. Referências
 
CANDIDO, Antonio, “A dois séculos d’O Uraguai”, in Vários escritos, 2°. ed, São Paulo, Duas
Cidades, 1992, p. 161-185.

CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 9. ed. São
Paulo: Nacional, 2006.

GAMA, Basílio. O Uraguai. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2003

Costa, F. L. da, & Sílvio Augusto de Oliveira Holanda. (2019). A crítica sociológica e dialética
de Antonio Candido: entre o fato social e a expressão. Jangada: Crítica | Literatura |
Artes, 1(13), 22–31.

LIMA, Luiz Costa. A Análise sociológica da literatura. In: Teoria da literatura em suas fontes.
Organização, Seleção e Introdução de Luiz Costa Lima. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização
brasileira, 2002, pp. 659-687. 2.v.
Agradecemos sua
atenção!
Discentes: Danielson Venceslau Nunes,
Jhonnathah Xavier de Melo, Karoline
Barbosa de Azevedo, Mateus Campos da
Silva e Waallacy Kennedy R. de Araujo
Silva.
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