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Valorização do corpo: a sociedade

do culto ao corpo perfeito


A sociedade
do culto ao corpo perfeito
Intensificação do culto à estética ao longo dos séculos
pode ter colaborado para a transformação do
indivíduo em objeto, dizem especialistas
Produtos de beleza cada vez mais sofisticados,
revistas que dão dicas para manter a boa forma,
clínicas de estética e de cirurgia plástica, salões de
cabeleireiros e academias de ginástica. Hoje o mundo
está cercado por serviços à disposição de quem deseja
cuidar da aparência ou moldá-la. A preocupação do
homem com o corpo, no entanto, não é recente. A
origem do culto ao corpo remonta à Antiguidade.
Os gregos acreditavam, há cerca de
2.500 anos a.C., que a estética e o
físico eram tão importantes quanto o
intelecto na busca pela perfeição –
pensamento traduzido na frase “mens
sana in corpore sano” (mente
saudável em corpo são) e na própria
história das Olimpíadas.
Após a Era Clássica, na Idade Média, as questões
estéticas e o físico ficaram relegados ao segundo plano.
Durante essa época, o corpo foi tratado pela sociedade de
forma discreta, com todo o decoro exigido pelas crenças
religiosas, e de acordo com as leis divinas.
Apenas no século 18, nos anos que se seguiram às
Revoluções Francesa e Industrial, o corpo voltou a ter
destaque no cotidiano do homem ocidental. De acordo com
o psicólogo Fernando de Almeida Silveira, doutor em
Filosofia e professor da Universidade Federal de São Paulo,
com a queda da aristocracia européia, a burguesia foi se
autoafirmando por meio de uma nova relação corpo-
essência. "Se os nobres tinham suas origens genealógicas
como diferencial, a burguesia passou a desenvolver a noção
de um corpo disciplinado, saudável e longevo para se
destacar tanto da aristocracia decadente quanto do
proletariado promíscuo e desregrado".
Além disso, a partir desse período, o corpo que
tinha condições de fornecer uma maior
produtividade passou a sermais valorizado devido
à ascensão do Capitalismo Industrial. "Pouco
tempo depois da primeira Revolução Industrial,
no fim do século 19, o mundo já assistiu ao
chamado 'movimento ginástico europeu', que
buscava 'construir' homens ideais para esse novo
modelo de sistema, mais fortes e saudáveis, por
meio da difusão de métodos de ginástica", ressalta
o professor de Educação Física da Universidade
Metodista de São Paulo, Wilson Alviano.
SÉCULO 21

Com a pressão dos ideais de beleza impostos pela indústria


da moda e alimentados pela mídia, a valorização do corpo
perfeito tornou-se uma obsessão global. Hoje cada vez
mais pessoas buscam formas de transformar o físico, em
busca da perfeição de acordo com os padrões. Segundo
Alviano, essa intensificação do culto à estética já traz
danos notórios para a sociedade. "Doenças como anorexia,
bulimia e vigorexia [transtorno caracterizado pela prática
de exercícios físicos em excesso] tomaram um vulto
assustador. Muitos colocam suas vidas em risco,
consumindo remédios para emagrecer e anabolizantes ou
até mesmo fazendo cirurgias desnecessárias."
Para o psicólogo Fernando de Almeida Silveira, o
maior prejuízo da valorização exagerada da boa
aparência é o fortalecimento da concepção de corpo-
objeto. "As pessoas passaram a enxergar o corpo hoje
como uma coisa moldável, conforme certos padrões
estéticos, fomentados por uma pressão social de
classe. Nesse sentido, o físico, os sentidos e a alma
são massificados por conta dessa ditadura de
idealização da beleza". Alviano completa: "Com essa
transformação do corpo em coisa, o próprio indivíduo
se reduziu a um objeto, que só possui valor como
ostentação dentro dos padrões preestabelecidos".

Renata Firace
Anorexia

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