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O POVO BRASILEIRO

A Formação e o Sentido do Brasil

Darcy Ribeiro
Agenda
• Darcy Ribeiro

• Introdução

• Capítulo I - O NOVO MUNDO

• Capítulo II - GESTAÇÃO ÉTNICA

• Capítulo III - PROCESSO SOCIOCULTURAL


DARCY RIBEIRO
• Nasceu em Montes Claros (MG) - 1922
• Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e
dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao
estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da
Amazônia
• Fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do
Xingu  escreveu uma vasta obra etnográfica e de
defesa da causa indígena.
• Nos anos seguintes (1955)  criou a Universidade de
Brasília e foi Ministro da Educação.
• Foi Ministro-Chefe da Casa Civil quando o golpe militar
de 64, que o lançou no exílio.
DARCY RIBEIRO
• Viveu em vários países da América Latina  foi assessor do
presidente Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado,
do Peru.
• Elegeu-se senador da República  defendeu uma lei dos
transplantes; uma lei contra o uso vicioso da cola de
sapateiro
• Combateu energicamente no Congresso para que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação fosse mais democrática e
mais eficaz.
• Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
• Mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne e das
Universidades de Montevidéu, Copenhague, da Venezuela
Central e Universidade de Brasília.
OBRAS DARCY RIBEIRO

Romances
Etnologia
Ensaios
Antropologia
Educação
INTRODUÇÃO
• Povo novo: porque é um novo modelo de estruturação
societária, que inaugura uma forma singular de
organização socioeconômica, fundada num tipo renovado
de escravismo e numa servidão continuada ao mercado
mundial.
• Novo inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa
vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que
alenta e comove a todos os brasileiros.
• A unidade étnica básica não significa nenhuma
uniformidade, pois 3 forças atuaram sobre ela:

Ecológica Econômica Imigração


INTRODUÇÃO
• Ecológica: fazendo surgir paisagens humanas distintas
onde as condições de meio ambiente obrigaram a
adaptações regionais.
• Econômica: criando formas diferenciadas de produção.
• Imigração: introduziu novos contingentes humanos,
dentre europeus, árabes, japoneses.

• Os brasileiros se sentem e se comportam como uma só


gente, pertencente a uma mesma etnia. Uma entidade
nacional distinta, que fala uma mesma língua, só
diferenciada por sotaques regionais.
INTRODUÇÃO
• Uniformidade cultural e a unidade nacional são a grande
resultante do processo de formação do povo brasileiro,
porém não deve nos cegar para as disparidades,
contradições e antagonismos que subsistem debaixo
delas.
• Há o distanciamento social entre as classes dominantes e
as subordinadas, agravando as oposições para acumular,
debaixo da uniformidade étnico-cultural e da unidade
nacional, tensões dissociativas de caráter traumático.
• Assim, as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois
luso-brasileiras, e afinal brasileiras, viveram e vivem sob
o pavor do alçamento das classes oprimidas.
INTRODUÇÃO
• Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde-se
uma profunda distância social, gerada pelo tipo de
estratificação que o próprio processo de formação
nacional produziu.

• O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social


como um sistema sagrado que privilegia uma minoria
contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e
concedido.
CAPÍTULO I

O Novo Mundo
MATRIZES ÉTNICAS
• A ILHA BRASIL:
• Costa Atlântica percorrida e ocupada por inumeráveis
povos indígenas.
• O que mudou radicalmente o destino deles: introdução de
um novo protagonista - europeu.
• Trouxe as pestes do branco; disputa por territórios, matas
e riquezas; escravização do índio.
• Dificuldade do autor: só existem testemunhos daquela
época por parte dos invasores; ele quem relata o que
sucedeu aos índios e negros, sem dar oportunidade de
registrar suas próprias falas.
MATRIZES ÉTNICAS
• MATRIZ TUPI:
• Na escala da evolução cultural, os povos Tupi davam os
primeiros passos da revolução agrícola
• Agricultura rudimentar e extrativismo.
• A escravidão de índios prevaleceu no século XVI e os
jesuítas passaram a usá-los como soldados de um
exército a lutar contra os invasores protestantes aqui no
Brasil.
• Quando muito dizimados e já incapazes de agredir ou de
defender-se, os sobreviventes fugiam para além das
fronteiras da civilização.
MATRIZES ÉTNICAS
• A LUSITANIDADE:
• O enxame de invasores era a presença local avançada
de uma vasta civilização urbana e classista.
• Corte x Igreja Católica = ativa competição.
• Depois da reforma protestante a Igreja católica perdeu
muitos fiéis, por isso ela autorizou o processo
colonizatório a partir de missões evangelizadoras.
• A Igreja (O tribunal do Sto. Ofício) regulamentava as
normas básica da ação colonizadora.
O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS
• AS OPOSTAS VISÕES:

Os índios aos Os europeus


olhos dos sob a visão do
europeus índio

Vadios, Trabalham
vivendo vida muito sem
sem prestança explicação

Acumulam
tanto para
Não produzem
deixar para os
outros
O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS
• RAZÕES DESENCONTRADAS:
• Cada tribo, lutando por si, foi vencida por um inimigo pouco
numeroso, mas superior em organização, tecnologia e
armas.
• Plano dos jesuítas: violência, intolerância, prepotência e
ganância -> compor programa de Nóbrega, aplicado a ferro e
fogo por Mem de Sá -> destruição + 300 aldeias.
• Conflitos entre jesuítas e colonos: redução missionária ou
escravidão.
• Triunfo dos colonos: guias, remadores, lenhadores,
pescadores, etc.
• Próprios jesuítas foram um dos principais fatores de
extermínio dos índios.
O PROCESSO CIVILIZATÓRIO
• Os iberos expulsaram os árabes e os judeus ao atravessar os
oceanos Atlântico, no entanto conquistaram, saquearam e
evangelizaram os povos da África, Ásia e Américas.
• Organização da vida social econômica
• Estratificação das classes (patronato)
• Introdução da escravatura
• O colono enriquecia e os trabalhadores se salvavam para a
vida eterna
• Aplicação de complexos procedimentos agrícolas, químicos, mecânicos
para a produção de açúcar, mineração do ouro e do diamante;
• Introdução do gado e outros animais como a galinha e o porco;
• Produção de tijolos, telhas
• Bases sobre as quais se edificou a sociedade e cultura
brasileira como uma implantação colonial européia.
CAPÍTULO II

Gestação Étnica
GESTAÇÃO ÉTNICA
• Cunhadismo: incorporar estranhos à sua comunidade.
• Função: surgir a numerosa camada de gente mestiça que
ocupou o Brasil.
• Defeito: acessível a qualquer europeu --> aumento do
movimento dos navios e incorporação da indiada ao
sistema mercantil de produção.
• Por fim, se teve que passar do cunhadismo às guerras de
captura de escravos, quando a necessidade de mão-de-
obra índigena se tornou grande demais.
GESTAÇÃO ÉTNICA
• Uma nova forma de administrar tantas terras e tantos
invasores: capitanias hereditárias.
• Embora tenha vigorado por pouco tempo, o sistema das
Capitanias Hereditárias deixou marcas profundas na
divisão de terra do Brasil.
• A distribuição desigual das terras gerou posteriormente os
latifúndios, causando uma desigualdade no campo.
• Na concepção de Darcy o Brasil tem sido, ao longo dos
séculos, um terrível moinho de gastar gentes. O fato é
que se gastaram milhões de índios, milhões de africanos
e milhões de europeus.
GESTAÇÃO ÉTNICA
• Comenta:

• Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro,


deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que
nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na
carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a
mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos
atenham a qualquer servidão, desafiado a florescer, finalmente,
como uma civilização nova, autônoma e melhor.
GESTAÇÃO ÉTNICA
• A condição de vida do negro: espantosa.
• Relata a violência permanente pela qual foram obrigados
a viver.
• Pergunta-se: como conseguiram permanecer humanos?
• Como sobreviver sobre tanta pressão, trabalhando
dezoito horas por dia todos os dias do ano?
• A triste conclusão é de que seu destino era morrer de
estafa que era sua morte natural.
• Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles
pretos e índios supliciados.
GESTAÇÃO ÉTNICA
• Somos a doçura mais terna e a crueldade mais atroz que
aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e
sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que
também somos.
• Descendentes de escravos e de senhores de escravos
seremos sempre servos da marginalidade destilada e
instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor
intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo
exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres,
sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria.
GESTAÇÃO ÉTNICA
Ano Brancos Escravos Total

1500 0 0 0 5.000.000 5.000.000

1600 50.000 30.000 120.000 4.000.000 4.200.000

1700 150.000 150.000 200.000 2.000.000 2.500.000

1800 2.000.000 1.500.000 500.000 1.000.000 5.000.000

a população integrada no empreendimento colonial e diminuiçãodos contingentes aborígine


CAPÍTULO III

Processo
Sociocultural
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• O processo de formação do povo brasileiro foi marcado
constantemente por situações de conflitos.
• Caracteriza o entendido entrechoque dos contingentes
índios, negros e brancos dentro do quadro de conflitos não
puros -->sempre ocorreu uma mescla entre uns e outros.
• As lutas são inevitavelmente sangrentas, porque só à força
se pode impor e manter a condição de escravos. Desde a
chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta
para fugir da inferioridade que lhes foi imposta
originalmente, e que é mantida através de toda a sorte de
opressões, dificultando extremamente sua integração na
condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou
de cidadãos com os mesmos direitos.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• No processo de formação sociocultural do Brasil, Darcy vê a
organização = empresas.
• A empresa escravista, como a principal, latifundiária e
monocultora que foi sempre altamente especializada e
essencialmente mercantil.
• Outra, já como forma alternativa de colonização, foi a
empresa jesuítica. Esta estava fundada na mão-de-obra
servil dos índios.
• Uma terceira, que tinha um alcance social bastante
considerável, foram as múltiplas microempresas de
produção de gêneros de subsistência e de criação de gado,
baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-
obra.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• Elabora uma visão de conjunto do processo de urbanização
brasileira. Segundo ele, o Brasil nasceu já como uma
civilização urbana, separada em conteúdos rurais e citadinos.
Comenta:
• Essas cidades e vilas, grandes e pequenas, constituíam
agências de uma civilização agrário-mercantil, cujo papel
fundamental era gerir a ordenação colonial da sociedade
brasileira, integrando-a no corpo de tradições religiosas e civis
da Europa pré-indústrial e fazendo-a render proventos à Coroa
portuguesa.
• Como tal, eram centros de imposição das idéias e das crenças
oficiais e de defesa do velho corpo de tradições ocidentais,
muito mais que núcleos criadores de uma tradição própria.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• Relaciona o temível êxodo rural com o inchaço das
cidades em consequência causando a miserabilização da
população urbana. Para Darcy formou-se um modelo
político-econômico que estratifica a população brasileira;
• Esse caráter intencional do empreendimento faz do
Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma
feitoria, porque não estrutura a população para o
prenchimento de suas condições de sobrevivência e de
progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial
voltada para atender às solicitações exógenas.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• A distância social entre ricos e pobres;
• Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde
encontra um ambiente de convivência social menos
hostil.
• Constituíram, originalmente, os chamados bairros
africanos, que deram lugar às favelas.
• Desde então, elas vêm se multiplicando, como a soluçào
que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre
debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e
expulsos.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• Para Darcy a característica distintiva do racismo brasileiro
é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas,
mas sobre a cor de sua pele.
• Para ele, a possibilidade de existência de uma
democracia racial está vinculada com a prática de uma
democracia social, onde negros e brancos partilhem das
mesmas oportunidades sem qualquer forma de
desigualdade.
• Composta como uma constelação de áreas culturais, a
configuração histórico-cultural brasileira conforma uma
cultura nacional com alto grau de homogeneidade;
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• Milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem
toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas
vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o
modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua
brasilidade.
• Constituem partes integrantes de uma sociedade maior, dentro
da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo
diverso do que o fariam em relação a estrangeiros.
• Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto
do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo
tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma
protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do
domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições
étnicas conflitivas.
PROCESSO SOCIOCULTURAL
• Para Darcy, os brasileiros são hoje, um dos povos mais
homogêneos linguística e culturalmente. Fala-se, como
diz, uma mesma língua, sem dialetos.
• Como mestiços "na carne e no espírito" temos o desafio
de firmar nosso potencial, nossos modos distintos entre
todos os povos. Devemos forjar um verdadeiro conceito
de povo que englobe a todos sem distinção, em todos os
direitos que devem assistir a cada cidadão brasileiro.
• Nesse país mestiço, o povo brasileiro segundo Darcy,
veio formando-se como uma nova Roma. A maior
presença neo-latina no mundo, ainda em ser, forja-se
como a grande presença do futuro.
CONCLUSÕES
• Sua obra surge como um espelho em que nós brasileiros
podemos nos identificar, nos reconhecer;
• De onde afinal vem esse povo tão sofridamente descrito no
livro de Darcy Ribeiro, de onde procede sua identidade?
• O autor propõe uma teoria baseada na condição de
“ninguendade”, com perdão do neologismo esquisito, do
fruto da miscigenação processada inicialmente entre o
colonizador português e a índia, mais tarde entre aquele e a
escrava negra.
• Darcy afirma que os filhos brotados desses acasalamentos,
origem da miscigenação generalizada que passou a
caracterizar a etnia brasileira, eram ninguém, já que nem
eram brancos, nem índios, nem negros.
CONCLUSÕES
• Eram produto de uma mistura rejeitada por qualquer das
etnias individuais das quais eram formados.
• Foi portanto dessa condição de zé ninguém que se forjou
a nossa identidade cultural.
• Darcy Ribeiro ressalta o fato de que o Brasil se formou
economicamente como um apêndice da Europa, como
colônia produtora de bens primários subordinada à
demanda do mercado europeu.
CONCLUSÕES
• Esse dado primário está na raiz da violência exercida pela
classe dominante ao longo da nossa história.
• Está também inscrito na condição de proletariado externo vivida
pelo povo brasileiro.
• Darcy Ribeiro usa repetidas vezes expressões cruas, mas
infelizmente verdadeiras, para denunciar os processos brutais
que ao longo da nossa formação histórica oprimiram nosso
povo.
• Quando usa expressões como moinhos de gastar gente, ou
gente usada como carvão, denuncia a opressão imposta pela
classe dominante ao povo, particularmente o povo escravizado,
o povo castigado por um regime de trabalho incompatível com o
ideário humanista e cristão nunca de fato estendido à maioria da
população.
OBRIGADA!

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